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Relações entre Desenvolvimento da Gratidão e Tipos de Valores em Jovens

The Relations between the Development of Gratitude and Types of Values in Youth

Relaciones entre el Desarrollo de Gratitud y Tipos de Valores en Jóvenes

Resumo

Investigam-se relações entre o desenvolvimento da gratidão e tipos de valores. Trezentos e noventa e seis jovens de 7 a 14 anos responderam a Wishes and Gratitude Survey. Previu-se que, com o aumento da idade, haveria (a) uma diminuição de valores hedonistas; (b) uma diminuição de gratidão concreta e um aumento de gratidão conectiva. A terceira hipótese foi a de que seria mais provável que jovens com valores hedonistas expressassem gratidão concreta e aqueles com valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO) expressassem gratidão conectiva. Para testar essas hipóteses, utilizou-se análise de regressão (estimativa de curva e regressão logística). Com o aumento da idade, os valores hedonistas e a gratidão concreta diminuíram; não se verificou aumento de gratidão conectiva. Valores hedonistas relacionaram-se positivamente à gratidão concreta. Todavia, valores BEO não se associaram à gratidão conectiva.

Palavras-chave:
gratidão; valores; desenvolvimento moral; crianças; adolescentes

Abstract

We studied the relations between the development of gratitude and types of values. A total of 396 7- to 14-year-old youth group responded to the Wishes and Gratitude Survey. We expected that, with the increase in age, there would be (a) a decrease of hedonistic values and (b) a decrease of concrete gratitude and an increase in connective gratitude. Our third hypothesis was that it would be more likely for the young with hedonistic values express concrete gratitude and those with values related to the well-being of others (WBO) to express connective gratitude. To test these hypotheses we used regression analysis (curve estimation and logistic regression). With an increase in age, hedonistic values and concrete gratitude declined; there was no increase in connective gratitude. Hedonistic values were related positively to concrete gratitude. However WBO values were not related to connective gratitude.

Keywords:
gratitude; values; moral development; children; adolescents

Resumen

Se investigan las relaciones entre el desarrollo de gratitud y tipos de valores. Respondieron a la encuesta Wishes and Gratitude Survey 396 jóvenes de edades entre 7 y 14 años. Fue previsto que con el aumento de edad habría, (a) disminución de los valores hedonistas; (b) disminución de gratitud concreta y aumento de gratitud conectiva. La tercera hipótesis fue que sería más probable que jóvenes con valores hedonistas expresaran gratitud concreta y aquellos con valores relacionados al bienestar de otros (BEO) expresaran gratitud conectiva. Para testar estas hipótesis, se utilizó el análisis de regresión (estimación de curva y regresión logística). Con el aumento de edad, los valores hedonistas y la gratitud concreta disminuyen; no se verificó aumento de gratitud conectiva. Valores hedonistas se relacionaron positivamente con gratitud concreta. Aún los valores BEO no se asociaron a gratitud conectiva.

Palabras clave:
gratitud; valores; desarrollo moral; niños; adolescentes

No decurso do desenvolvimento, crianças e adolescentes assimilam os valores de sua cultura e aprendem a hierarquizá-los (Freitas, 2003Freitas, L. B. L. (2003). A moral na obra de Jean Piaget: Um projeto inacabadoSão Paulo: Cortez.). Em nossa sociedade, tem-se dado grande importância ao ganho imediato (hedonismo), aos bens materiais (materialismo) e ao bem-estar individual (individualismo) (La Taille & Menin, 2009La Taille, Y. de, & Menin, M. S. S. (Eds.). (2009). Crise de valores ou valores em crise? Porto Alegre: Artmed.; O'Dougherty, 2002O'Dougherty, M. (2002). Consumption intensified: The politics of middle-class daily life in Brazil Durham, NC: Duke University Press.). Todavia, resultados de pesquisa sugerem que esses valores trazem prejuízos à qualidade de vida dos jovens. Por exemplo, adolescentes mais materialistas têm pior desempenho escolar, são mais ansiosos e infelizes (Kasser, 2005Kasser, T. (2005). Frugality, generosity, and materialism in children and adolescents: In K. A. Moore & L. H. Lippman (Eds.), What do children need to flourish? Conceptualizing and measuring indicators of positive development (pp. 357-373). New York: Kluwer/Plenum.) e menos motivados a contribuir com a sociedade (Froh, Bono, & Emmons, 2010Froh, J. J., Bono, G., & Emmons, R. (2010). Being grateful is beyond good manners: Gratitude and motivation to contribute to society among early adolescents. Motivation and Emotion34(2), 144-157. doi: 10.1007/s11031-010-9163-z
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) que seus pares. Não há como nem por que educar os jovens de forma imune aos valores preponderantes na cultura contemporânea (Ferry, 2013Ferry, L. (2013). Do amor: Uma filosofia para o século XXI (R. Janowitzer, Trad.). Rio de Janeiro: Difel.). Cabe investigar, porém, como é possível contrapesar esses valores, que podem ser perniciosos à vida dos jovens.

Em estudos realizados com adultos, verificou-se uma relação negativa entre níveis de gratidão e de materialismo (e.g., Lambert, Fincham, Stilman, & Dean, 2009Lambert, N. M., Fincham, F. D., Stilman, T. F., Dean, L. R. (2009). More gratitude, less materialism: The mediating role of life satisfaction. The Journal of Positive Psychology4(1), 32-42. doi: 10.1080/17439760802216311
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; Polak & McCullough, 2006Polak, E. L., & McCullough, M. E. (2006). Is gratitude an alternative to materialism? Journal of Happiness Studies7, 343-360. doi: 10.1007/s10902-005-3649-5
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). Encontraram-se resultados similares com adolescentes entre 14 e 19 anos de idade (Froh, Emmons, Card, Bono, & Wilson, 2011Froh, J. J., Emmons, R. A., Card, N. A., Bono, G., & Wilson, J. A. (2011). Gratitude and the reduced costs of materialism in adolescents. Journal of Happiness Studies12, 289-302. doi: 10.1007/s10902-010-9195-9
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). Esses achados sugerem que a gratidão seria uma forma de contrabalançar o materialismo. Faz sentido pensar também que a gratidão pode contribuir para a redução do hedonismo, visto que requer a conservação de uma satisfação no tempo (e.g., Bonnie & de Waal, 2004Bonnie, K. E., & de Wall, F. B. M. (2004). Primate social reciprocity and the origin of gratitude. Em R. A. Emmons & M. E. McCullough (Eds.), The psychology of gratitude (pp. 213-229). New York: Oxford University Press.; Godbout, 1997Godbout, J. T. (1997). O espírito da dádiva (J. P. Cabrera, Trad.). Lisboa: Instituto Piaget.). Além disso, pode ser um antídoto ao individualismo, na medida em que implica uma valorização não apenas do benefício recebido, mas também do benfeitor (e.g., McConnell, 1993McConnell, T. (1993). Gratitude. Philadelphia: Temple University Press.; Piaget, 1965/1977Piaget, J. (1977). Études sociologiques, 3ª edição. Genève: Droz. (Texto original publicado em 1965).), dando visibilidade ao outro.

Os resultados desses estudos merecem atenção, pois sugerem um caminho possível para uma educação em valores capaz de forjar uma melhor qualidade de vida. Dessa forma, vale a pena investir em estudos que examinem relações entre valores. Conforme enfatizam duas diferentes teorias (e.g., Gouveia, Milfont, & Guerra, 2014Gouveia, V. V., Milfont, L. T., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its contente and structure. Personality and Individual Differences60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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; Schwartz, 2012Schwartz, S. H. (2012). An overview of the Schwartz Theory of Basic Values. Online Readings in Psychology and Culture2(1). doi: 10.9707/2307-0919.1116
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), os valores formam um contínuo e não um conjunto de motivações discretas. Isso significa que todo o sistema de valores se relaciona com qualquer outra variável de uma forma integrada. No entanto, quando se trata de crianças e adolescentes, é preciso considerar que são indivíduos em formação: aquilo que os jovens valorizam varia em função da idade, e há também evidências de que existe um desenvolvimento da gratidão (e.g., Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Freitas, Pieta, & Tudge, 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.; Nelson et al., 2013Nelson, J. A., Freitas, L. B. L., O'Brien, M., Calkins, S. D., Leerkes, E. M., & Marcovitch, S. (2013). Preschool-aged children's understanding of gratitude: Relations with emotion and mental state knowledge. British Journal of Developmental Psychology31, 42-56 doi:10.1111/j.2044-835X.2012.02077.x
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; Tudge, Vadehra, Wang, Stone, & Freitas, 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.; Rava & Freitas, 2013Rava, P. G. S., & Freitas, L. B. L. (2013). Gratidão e sentimento de obrigatoriedade na infância. Psico-USF18(3), 383-394. doi: 10.1590/S1413-82712013000300005
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). Assim, é importante que se considerem especificamente o desenvolvimento dos sistemas de valores e da gratidão durante a infância e a adolescência.

Sistemas de Valores na Infância e Adolescência

Toda conduta humana visa a um fim, o qual tem valor porque desejado. Uma forma, portanto, de se ter acesso àquilo que uma pessoa valoriza é investigar-se o que ela deseja. Neste artigo, define-se valor como um investimento afetivo que move a ação em determinada direção (Freitas, 2003Freitas, L. B. L. (2003). A moral na obra de Jean Piaget: Um projeto inacabadoSão Paulo: Cortez.; La Taille, 2006La Taille, Y. de (2006). Moral e ética: Dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artes Médicas.; Menin, Tavares, & Moro, 2013Menin, M. S. S., Tavares, M. R., & Moro, A. (2013). Mensurando valores morais: Uma pesquisa com alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Revista de Educação Pública22(49), 525-549. Recuperado de http://periodicoscientificos.ufmt.br/index.php/educacaopublica/article/view/931
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; Piaget, 1954Piaget, J. (1954). Les relations entre l'affectivité et l'intelligence. Paris: Sorbonne.).

Mesmo estando presentes desde o início da vida, os sistemas de valores de cada pessoa constroem-se paulatinamente. Os primeiros valores são lábeis, mas a partir do momento em que a criança é capaz de coordenar meios e fins (por volta dos oito meses de idade, em média), os valores já começam a se subordinar uns (meios) aos outros (fins), tendo início a formação de sistemas. Quando a criança adquire a função simbólica (Delval, 2013Delval, J. (2013). O desenvolvimento psicológico humano (R. A. Rosenbusch, Trad.) Petrópolis: Vozes.), o valor de um objeto torna-se mais durável no tempo: a satisfação suscitada por um objeto ou pessoa não se limita apenas ao momento imediato. A criança é agora capaz tanto de lembrar quanto de postergar uma satisfação. Assim, pouco a pouco, além dos valores hedonistas, que se restringem ao ganho imediato, somam-se os valores virtuais (Piaget, 1954Piaget, J. (1954). Les relations entre l'affectivité et l'intelligence. Paris: Sorbonne.; 1965/1977Piaget, J. (1977). Études sociologiques, 3ª edição. Genève: Droz. (Texto original publicado em 1965).), os quais têm uma durabilidade no tempo.

A assimilação pela criança dos valores de seu grupo cultural é mediada pelos adultos significativos para ela, notadamente, seus pais. Alguns pesquisadores encontraram, por exemplo, uma relação entre os níveis de materialismo das crianças e de seus pais (e.g., Carslon & Grossbart, 1988Carlson, L., & Grossbart, S. (1988). Parental style and consumer socialization of children. Journal of Consumer Research15(1), 77-94. http://dx.doi.org/10.1086/209147
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; Goldberg, Gorn, Peracchio, & Bammossy, 2003Goldberg, M. E., Gorn, G. J., Peracchio, L. A., & Bammossy, G. (2003). Understanding materialism among youth. Journal of Consumer Psychology13(3), 278-288. doi:10.1207/S15327663JCP1303_09
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), o mesmo ocorrendo com os níveis de hedonismo (Knafo & Schwartz, 2009Knafo, A., & Schwartz, S. (2009). Accounting for parent-child value congruence: Theoretical considerations and empirical evidence. In U. Schönpflug (Ed.), Cultural transmission: Psychological, developmental, social, and methodological aspects (pp. 269-295). New York: Cambridge University Press.). É graças também à interação com os adultos que a criança aprende que há valores que dizem respeito às ações humanas intencionais (Menin & Tavares, 2013Menin, M. S. S., & Tavares, M. R. (2013). Por que eleger o tema sobre avaliação de valores. Estudos em Avaliação Educacional24(56), 12-17.), os quais são denominados valores morais. Diversos estudos evidenciaram o impacto da socialização dos pais no desenvolvimento moral de seus filhos (e.g., Grusec, 2006Grusec, J. E. (2006). The development of moral behavior and conscience from a socialization perspective. In M. Killen & J. G. Smetana (Eds.), Handbook of moral development (pp. 243-265). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.; Thompson & Winer, 2014Thompson, R. A., & Winer, A. C. (2014). Moral development, conversation, and the development of internal working models. In C. Wainryb & H. E. Recchia (Eds.), Talking about right and wrong: Parent-child conversations as contexts for moral development (pp. 299-333). New York: Cambridge University Press. doi: 10.1017/CBO9781139207072
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; Wainryb & Recchia, 2014Wainryb, C., & Recchia, H. E. (2014). Parent-child conversations as contexts for moral development: Why conversations, and why conversations with parents? In C. Wainryb & H. E. Recchia (Eds.), Talking about right and wrong: Parent-child conversations as contexts for moral development (pp. 3-18). New York: Cambridge University Press. doi: 10.1017/CBO9781139207072
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; White & Matawie, 2004White, F. A., & Matawie, K. M. (2004). Parental morality and family processes as predictors of adolescent morality. Journal of Child and Family Studies13(2), 219-233. doi: 10.1023/B:JCFS.0000015709.81116.ce
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). Os próprios jovens reconhecem a influência de seus pais em seus valores. Em uma pesquisa com estudantes do ensino médio, 67,60% dos participantes consideraram que seus pais tinham muita influência em seus valores (La Taille, 2006La Taille, Y. de (2006). Moral e ética: Dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artes Médicas.). Além da relação com os adultos, as interações da criança com seus pares são importantes para a construção dos sistemas de valores. Por exemplo, Bannerjee e Dittmar (2008)Bannerjee, R., & Dittmar, H. (2008). Individual differences in children's materialism: The role of peer relations. Personality and Social Psychology Bulletin34(1), 17-31. doi: 10.1177/0146167207309196
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encontraram uma relação positiva entre os níveis de materialismo de crianças e de seus pares. Os amigos, porém, parecem ser menos influentes que os pais (La Taille, 2006La Taille, Y. de (2006). Moral e ética: Dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artes Médicas.).

Assim como a capacidade de operar liberta a criança e o adolescente das ilusões perceptivas, a vontade não os deixa à mercê da busca da satisfação de desejos imediatos, tornando o jovem capaz de definir quais são os fins prioritários para sua ação, ou seja, possibilita a hierarquização de valores e a construção de projetos de vida (Freitas, 2003Freitas, L. B. L. (2003). A moral na obra de Jean Piaget: Um projeto inacabadoSão Paulo: Cortez.; Damon, 2009Damon, W. (2009). O que o jovem quer da vida? Como pais e professores podem orientar e motivar os adolescentes(J. Valpassos, Trans.) São Paulo: Summus.). Com o início da adolescência, o jovem torna-se capaz de raciocinar sobre hipóteses e de refletir sobre valores (Piaget & Inhelder, 1955/1970Piaget, J., & Inhelder, B. (1970). De la logique de l'enfant à la logique de l'adolescent, 3ª edição. Paris: PUF (Texto original publicado em 1955).). Os valores predominantes na cultura não mais aparecem como os únicos corretos e possíveis; o adolescente questiona os valores aprendidos (e.g., Barni, Ranieri, Scabini, & Rosnati, 2011Barni, D., Ranieri, S., Scabini, E., & Rosnati, R. (2011). Value transmission in the family: Do adolescents accept the values their parents want to transmit? Jounal of Moral Education40(1), 105-121. doi: 10.1080/03057240.2011.553797
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; Vale & Alencar, 2012Vale, L. G., & Alencar, H. M. (2012). A generosidade em contraposição à obediência à autoridade: Juízos morais de crianças e adolescentes. In C. B. Rossetti & A. C. Ortega (Eds.), Cognição, afetividade e moralidade (pp. 215-235). São Paulo: Casa do Psicólogo.). Além disso, às relações interpessoais, somam-se os vínculos com grupos sociais mais amplos, tais como grupos políticos e religiosos. Assim, o adolescente entra em contato com valores ideais, tornando ainda mais complexos os seus sistemas de valores. Em um estudo que enfocou o desenvolvimento de quatro valores (obediência, cooperação, responsabilidade e criatividade) em jovens entre 5 e 14 anos de idade, verificou-se um crescente nível de descentração na forma como os participantes definiram esses valores (Andrade, Camino, & Dias, 2008Andrade, M. W. C. L., Camino, C., Dias, M. G. B. B. (2008). O desenvolvimento de valores humanos dos cinco aos 14 anos de idade: Um estudo exploratório. Revista Interamericana de Psicologia42(1), 19-27. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rip/v42n1/v42n1a03.pdf
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). As definições do tipo impessoal, que inclui sentimentos idealistas, mutualidade nas relações sociais e uma visão sistêmica, apareceram com maior frequência nos adolescentes. Encontraram-se resultados similares em uma pesquisa sobre a adesão ao valor justiça: os adolescentes (14 a 17 anos) escolheram mais respostas com maior nível de descentração, isto é, baseadas em princípios universalizáveis e contratos firmados democraticamente de acordo com procedimentos justos, que as crianças (10 a 13 anos) (Menin, Bataglia, & Moro 2013Menin, M. S. S., Bataglia, P. U. R., & Moro, A. (2013). Adesão ao valor justiça em crianças e adolescentes. Estudos em Avaliação Educacional24(56), 18-47. Recuperado de http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1866/1866.pdf
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).

Os valores ideais (por exemplo, a justiça, a generosidade, etc.) são muitas vezes encarnados por pessoas (Comte-Sponville, 2007Comte-Sponville, A. (2007). Pequeno tratado das grandes virtudes (E. Brandão, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.; Piaget & Inhelder, 1955/1970Piaget, J., & Inhelder, B. (1970). De la logique de l'enfant à la logique de l'adolescent, 3ª edição. Paris: PUF (Texto original publicado em 1955).), as quais são admiradas por suas qualidades de caráter ou virtudes morais. Esse é também o caso da gratidão, a qual é considerada uma virtude moral na maioria das culturas (McCullough, Kilpatrick, Emmons, & Larson, 2001McCullough, M. E., Kilpatrick, S. D., Emmons, R. A., & Larson, D. B. (2001). Is gratitude a moral affect? Psychological Bulletin, 127(2), 249-266. doi: 10.1037//0033-2909.127.2.249
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). A gratidão, contudo, não é inata; há evidências de que a gratidão se desenvolve durante a infância e a adolescência.

Desenvolvimento da Gratidão em Crianças e Adolescentes

A gratidão pode emergir quando uma pessoa - o benfeitor - presta um favor ou ajuda a outra - o beneficiário, o qual sente, por sua vez, que deve retribuir ao benfeitor prévio (e.g., Bonnie & de Waal, 2004Bonnie, K. E., & de Wall, F. B. M. (2004). Primate social reciprocity and the origin of gratitude. Em R. A. Emmons & M. E. McCullough (Eds.), The psychology of gratitude (pp. 213-229). New York: Oxford University Press.; Comte-Sponville, 2007Comte-Sponville, A. (2007). Pequeno tratado das grandes virtudes (E. Brandão, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.; McConnell, 1993McConnell, T. (1993). Gratitude. Philadelphia: Temple University Press.; Piaget, 1965/1977Piaget, J. (1977). Études sociologiques, 3ª edição. Genève: Droz. (Texto original publicado em 1965).) se for possível e quando surgir uma oportunidade. Diversos estudos indicam que a gratidão está presente na vida de crianças e adolescentes (e.g., Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Nelson et al., 2013Nelson, J. A., Freitas, L. B. L., O'Brien, M., Calkins, S. D., Leerkes, E. M., & Marcovitch, S. (2013). Preschool-aged children's understanding of gratitude: Relations with emotion and mental state knowledge. British Journal of Developmental Psychology31, 42-56 doi:10.1111/j.2044-835X.2012.02077.x
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; Paludo, 2014Paludo, S. S. (2014). As emoções no universo moral dos adolescentes. In L. F. Habigzang, Diniz, E. & Koller, S. H. (Eds.), Trabalhando com adolescentes: Teoria e intervenção psicológica (pp. 164-179). Porto Alegre: Artmed.; Rava & Freitas, 2013Rava, P. G. S., & Freitas, L. B. L. (2013). Gratidão e sentimento de obrigatoriedade na infância. Psico-USF18(3), 383-394. doi: 10.1590/S1413-82712013000300005
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).

No que diz respeito especificamente ao desenvolvimento da gratidão, destaca-se o estudo de Baumgarten-Tramer (1938)Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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, no qual mais de 1.000 crianças e adolescentes da cidade de Berna, na Suíça, responderam a duas perguntas: (a) O que tu mais queres? e (b) O que tu farias para a pessoa que te desse o que tu mais queres? As respostas dos jovens à segunda questão foram categorizadas em quatro formas de gratidão. A gratidão verbal (por exemplo, dizer "obrigado") foi encontrada com uma frequência semelhante em todas as idades (em média, entre 30% e 48% das respostas) e foi especialmente frequente nos jovens de 15 anos (72%). A gratidão concreta (ou egocêntrica), na qual o beneficiário retribui com alguma coisa que tem valor para ele e não para o benfeitor, foi mais frequente nas respostas das crianças menores e decresceu com a idade. Na gratidão conectiva, o beneficiário retribui o favor com algo que vá ao encontro de um desejo ou necessidade do benfeitor; essa forma de gratidão ocorreu com maior frequência nas respostas das crianças acima de 11 anos. Segundo Baumgarten-Tramer (1938)Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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, essas diferenças devem-se ao fato de que as crianças mais velhas e os adolescentes, sendo menos egocêntricos, são mais capazes de considerar o ponto de vista do outro. Por fim, a gratidão finalística é aquela em que o beneficiário retribui o favor seja com uma ação que auxilia o objeto desejado seja com uma ação que promova seu desenvolvimento pessoal. Por exemplo, o jovem diz que seu maior desejo é ser jogador de futebol e que retribuiria ao seu benfeitor fazendo muitos gols. Essa forma de gratidão foi ilustrada com respostas de adolescentes de 14 anos. Os resultados desse estudo pioneiro são importantes, porque indicam que há diversas formas de gratidão, as quais são mais ou menos sofisticadas. Mesmo as crianças e os adolescentes utilizam outras formas para expressar gratidão, além das formas de polidez (Comte-Sponville, 2007Comte-Sponville, A. (2007). Pequeno tratado das grandes virtudes (E. Brandão, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.) ensinadas pelos adultos.

Alguns pesquisadores dedicaram-se precisamente a examinar essas formas de polidez. Exemplo disso foi o trabalho de Gleason e Weintraub (1976)Gleason, J. B., & Weintraub, S. (1976). The acquisition of routines in child language. Language in Society, 5, 129-136. Recuperado de http://www.jstor.org/stable/4166866?seq=1#page_scan_tab_contents
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, no qual se observou que apenas 21% das crianças com menos de 6 anos agradeceram a um adulto que lhes deu balas no dia de Halloween e mais de 80% das crianças acima de 10 anos agradeceram nessa mesma situação. Em um estudo sobre o juízo de crianças de 6, 9 e 12 anos referente à reação que o beneficiário deve ter frente a um ato generoso, Vale (2012)Vale, L. G. (2012). Desenvolvimento moral: A generosidade relacionada à justiça e à gratidão sob a ótica das crianças (Tese de doutorado não publicada). Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo - SP. constatou, pelo contrário, que o emprego da fórmula verbal de agradecimento predominou entre as crianças de 6 anos (75% dos participantes) e diminuiu consideravelmente com o aumento da idade (30% das respostas das crianças de 9 anos e 35% daquelas de 12 anos).

A diferença entre polidez e gratidão foi considerada um desafio a ser enfrentado pelos pesquisadores em estudos com crianças (Bono & Froh, 2009Bono, G., & Froh, J. J. (2009). Gratitude in school: Benefits to students and schools. In R. Gilman, E. S. Huebner & M. Furlong (Eds.), Handbook of positive psychology in schools (pp. 77-88). New York: Routledge.; Gordon, Musher-Eizenman, Holub, & Dalrymple, 2004Gordon, A. K, Musher-Eizenman, D. R., Holub, S. C., & Dalrymple, J. (2004). What are children thankful for? An archival analysis of gratitude before and after the attacks of September 11. Journal of Applied Developmental Psychology, 25(5), 541-553. doi: 10.1016/j.appdev.2004.08.004
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). O método de Baumgarten-Tramer (1938)Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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trouxe resultados que contribuem para essa distinção. Assim, Freitas et al. (2011)Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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realizaram um estudo com 430 jovens de 7 a 14 anos de Porto Alegre - RS, utilizando as mesmas perguntas da pesquisadora suíça. Nessa amostra, verificou-se uma grande diminuição na frequência de gratidão concreta com o avanço da idade, e um aumento de gratidão conectiva na faixa dos 11 aos 14 anos de idade. Embora a frequência da gratidão verbal tenha aumentado um pouco com a idade, a relação entre grupo etário (7 a 10 anos e 11 a 14 anos) e essa forma de gratidão não foi estatisticamente significativa. A gratidão finalística apareceu em apenas duas respostas. Nesse estudo, não se encontraram diferenças significativas entre meninos e meninas. Esse é um aspecto que merece ser ainda investigado, visto que Gordon et al. (2004)Gordon, A. K, Musher-Eizenman, D. R., Holub, S. C., & Dalrymple, J. (2004). What are children thankful for? An archival analysis of gratitude before and after the attacks of September 11. Journal of Applied Developmental Psychology, 25(5), 541-553. doi: 10.1016/j.appdev.2004.08.004
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constataram diferenças na forma como meninos e meninas experienciam a gratidão: os primeiros são mais gratos a objetos materiais e as segundas, às pessoas. No entanto, outros pesquisadores (e.g., Freitas, O'Brien, Nelson, & Marcovitch, 2012Freitas, L. B. L., O'Brien, M., Nelson, J. A., Marcovitch, S. (2012). A compreensão da gratidão e teoria da mente em crianças de 5 anos. Psicologia: Reflexão e Crítica25(2), 330-338. doi: 10.1590/S0102-79722012000200015
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; Paludo, 2008Paludo, S. S. (2008). Emoções morais e gratidão: Uma nova perspectiva sobre o desenvolvimento de jovens que vivem em situação de risco pessoal e social (Tese de doutorado não publicada). Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS.) não encontraram suporte empírico para a hipótese de diferenças entre os sexos.

Em um estudo realizado com 284 jovens norte-americanos entre 7 e 14 anos de idade (Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.), analisaram-se também as respostas dos participantes à primeira pergunta inicialmente proposta por Baumgarten-Tramer (1938)Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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. Essas respostas foram categorizadas como valores: (a) hedonistas, (b) relativos ao bem-estar próprio (BEP) e (c) relacionados ao bem-estar de outros (BEO). Consideraram-se como valores hedonistas as respostas que expressavam a busca por um ganho imediato, tais como: a posse de objetos materiais, dinheiro, viagem de lazer ou turismo. Os valores relativos ao bem-estar próprio (BEP) encontraram-se em respostas que mencionaram benefícios pessoais a serem alcançados no futuro, por exemplo: viver em outro lugar visando melhorar sua vida, bem-estar psicológico, sucesso escolar, ambição profissional. Os valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO) abarcaram aquelas respostas que continham benefícios para outros: membros da família, amigos ou a sociedade como um todo. Além disso, examinaram-se relações entre esses tipos de valores e as três principais formas de gratidão (verbal, concreta e conectiva). Os resultados da análise de estimativa de curva (uma subcategoria da regressão linear) indicaram que os valores hedonistas predominaram entre as crianças de 7 a 11 anos, enquanto os adolescentes (12 a 14 anos) apresentaram com maior frequência valores relacionados ao bem-estar próprio (BEP) e de outros (BEO). Quanto aos tipos de gratidão, os dados foram similares aos dos estudos anteriores: (a) a gratidão verbal não variou significativamente com a idade, (b) as crianças expressaram com maior frequência gratidão concreta e (c) os adolescentes, gratidão conectiva. No que tange às relações entre tipos de valores e formas de gratidão, constatou-se que os valores hedonistas predominaram entre os jovens que expressaram gratidão concreta, enquanto os valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO) preponderaram entre aqueles que expressaram gratidão conectiva. Quanto aos valores relativos ao bem-estar próprio (BEP), não se encontrou uma relação estatisticamente significativa com nenhuma das formas de gratidão.

O estudo de Tudge et al. (2011)Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá. é importante, porque até onde se sabe foi a primeira tentativa de investigar sistematicamente as relações entre os tipos de valores e as formas de gratidão. Embora Baumgarten-Tramer (1938)Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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tenha mencionado que não haveria um padrão consistente entre os valores dos jovens e as formas de gratidão, ela não apresentou uma análise sistemática das respostas a sua primeira questão.

O Presente Estudo

Neste artigo, apresenta-se um estudo que visa investigar relações entre o desenvolvimento da gratidão e tipos de valores. Quando se considera que investigar o que uma pessoa deseja é uma maneira de se ter acesso aos seus valores, entende-se que vale a pena: (a) analisar as respostas à primeira questão proposta por Baumgarten-Tramer (1938)Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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, ou seja, aquilo que as crianças e adolescentes de hoje mais valorizam e (b) examinar relações entre os tipos de valores dos jovens e as formas de gratidão.

É importante que se examinem relações entre o desenvolvimento da gratidão e tipos de valores, pois há evidências de que a gratidão poderia contrabalançar valores que têm sido prejudiciais à qualidade de vida das pessoas, como é o caso do exacerbado apego aos valores materiais (Froh et al., 2011Froh, J. J., Emmons, R. A., Card, N. A., Bono, G., & Wilson, J. A. (2011). Gratitude and the reduced costs of materialism in adolescents. Journal of Happiness Studies12, 289-302. doi: 10.1007/s10902-010-9195-9
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; Lambert et al., 2009Lambert, N. M., Fincham, F. D., Stilman, T. F., Dean, L. R. (2009). More gratitude, less materialism: The mediating role of life satisfaction. The Journal of Positive Psychology4(1), 32-42. doi: 10.1080/17439760802216311
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; Polak & McCullough, 2006Polak, E. L., & McCullough, M. E. (2006). Is gratitude an alternative to materialism? Journal of Happiness Studies7, 343-360. doi: 10.1007/s10902-005-3649-5
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). No entanto, devem-se considerar os sistemas de valores e não apenas valores isolados (Gouveia et al., 2014Gouveia, V. V., Milfont, L. T., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its contente and structure. Personality and Individual Differences60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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; Schwartz, 2012Schwartz, S. H. (2012). An overview of the Schwartz Theory of Basic Values. Online Readings in Psychology and Culture2(1). doi: 10.9707/2307-0919.1116
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). Esta pesquisa amplia o conhecimento sobre o desenvolvimento da gratidão, porque busca compreender essas relações à luz de uma teoria e de resultados de estudos recentes que abordam o desenvolvimento dos sistemas de valores na infância e adolescência. A pesquisa de Tudge et al. (2011)Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá. não abarcou esse aspecto. Além disso, os resultados até agora encontrados precisam ser confirmados e testados em outros contextos. Para que possa ser considerado como parte do desenvolvimento humano, é necessário que um fenômeno se encontre em contextos culturais diferentes e não apenas nos Estados Unidos da América (e.g., Flavell, 1982Flavell, J. H. (1982). Structures, stages, and sequences in cognitive development. In W. Collins (Ed.), The concept of development (pp. 1-28). Hillsdale, New Jersey: Lawrence Erlbaum.; Lourenço, 1992Lourenço, O. M. (1992). Psicologia do desenvolvimento moral: teoria, dados e implicações. Coimbra: Almedina.; Tudge & Freitas, 2012Tudge, J. R. H., & Freitas, L. B. L. (2012). Internationalization, globalization and culture. Psicologia e Sociedade24(3), 547-556. doi: 10.1590/S0102-71822012000300008
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).

Duas foram as principais perguntas que nortearam este estudo transversal: (a) há diferenças de idade relacionadas ao que as crianças e adolescentes mais valorizam e as formas como expressam gratidão? e, em caso afirmativo, (b) como as diferenças nos tipos de valores se relacionam às formas de expressar gratidão (concreta ou conectiva)? Uma primeira expectativa é que, com o aumento da idade, haveria uma diminuição da valorização do ganho imediato (hedonismo), uma vez que, pouco a pouco, os valores virtuais passam também a integrar os sistemas de valores dos jovens. Uma segunda hipótese, baseada em resultados de estudos anteriores (Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Freitas et al., 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.) é a de que, com o aumento de idade, haveria uma diminuição na frequência de gratidão concreta e um aumento de gratidão conectiva. A relação entre gratidão verbal e idade é ainda uma questão de pesquisa em aberto, visto que alguns estudos sugerem que há um aumento de frequência com a idade (Gleason & Weintraub, 1976Gleason, J. B., & Weintraub, S. (1976). The acquisition of routines in child language. Language in Society, 5, 129-136. Recuperado de http://www.jstor.org/stable/4166866?seq=1#page_scan_tab_contents
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) e outros não (Freitas et al., 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.; Vale, 2012Vale, L. G. (2012). Desenvolvimento moral: A generosidade relacionada à justiça e à gratidão sob a ótica das crianças (Tese de doutorado não publicada). Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo - SP.). No texto de Baumgarten-Tramer (1938)Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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, há certa ambiguidade quanto ao resultado encontrado em sua amostra: pode-se ler que, em cada idade, a gratidão verbal esteve presente entre 30% e 40% das respostas e em 72%, no caso dos adolescentes de 15 anos. Não se sabe, porém, se houve ou não um aumento linear. A terceira hipótese refere-se à relação entre tipos de valores e formas de gratidão: é mais provável que os jovens com valores hedonistas expressem gratidão concreta e aqueles com valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO) expressem gratidão conectiva.

Método

Participantes

A amostra foi composta por 396 crianças e adolescentes de 7 a 14 anos, os quais frequentavam três escolas da rede pública (61,1%) e duas escolas da rede privada de Porto Alegre - RS, escolhidas por conveniência, isto é, de forma não aleatória. As meninas (M = 136,80 meses, DP = 24,10) compuseram 59% da amostra (n = 232) e os meninos (M = 130,10 meses, DP = 27,80) 41% (n = 164). O poder da amostra ficou em 72,22%. Excluíram-se nove participantes: (a) quatro, porque tinham 15 anos na ocasião da coleta de dados e (b) cinco, porque os dados (idade) estavam incompletos.

Instrumento e Procedimentos Gerais

Os participantes responderam por escrito a Wishes and Gratitude Survey - WAGS (Freitas, Tudge, & McConnell, 2008Freitas, L. B. L., Tudge, J. R. H., & McConnell, T. (2008). The wishes and gratitude survey. Greensboro, NC: Questionário não publicado (Adaptado e expandido a partir de Baumgarten-Tramer, 1938).), derivada de Baumgarten-Tramer (1938)Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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, composta por quatro questões, sendo as duas primeiras relevantes para este estudo: (a) O que tu mais queres? (b) O que tu farias para a pessoa que te desse o que tu mais queres? Realizou-se a coleta de dados em pequenos grupos, nas escolas, em uma sala indicada por cada instituição.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (protocolo n° 22485). A direção de cada instituição de ensino assinou um documento autorizando o estudo, e os pais ou responsáveis legais de todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Procedimentos de Análise dos Dados

Inicialmente, submeteram-se as respostas dos participantes a uma análise de conteúdo (Laville & Dione, 1999Laville, C., & Dionne, J. (1999). A construção do saber: Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas (L. M. Siman, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas.), sendo que as respostas à primeira pergunta foram analisadas de acordo com as categorias propostas por Tudge et al. (2011)Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá. e as respostas à segunda questão conforme as categorias utilizadas em estudos anteriores (Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Freitas al., 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.). Dois juízes codificaram independentemente as respostas: um juiz leu e classificou todas as respostas, e o outro, 25% delas. Em função de que o número de participantes, em cada idade, não foi igual e de que alguns participantes deram mais de um tipo de resposta, analisou-se a proporção de respostas em cada idade. Para testar as hipóteses, utilizou-se análise de regressão (estimativa de curva e regressão logística binária), em SPSS 20.

Resultados

Na codificação das respostas, houve um elevado acordo entre os juízes. O índice de concordância interjuízes, estimado pelo coeficiente Kappa, variou entre 0,93 e 0,96 quanto aos tipos de valores (respostas à primeira questão da WAGS) e entre 0,70 e 0,98 no que diz respeito às formas de gratidão (respostas à segunda questão da WAGS).

A primeira pergunta que norteou este estudo diz respeito a mudanças relacionadas à idade nos tipos de valores e nas formas de expressar gratidão de crianças e adolescentes. Na Tabela 1, apresenta-se a percentagem de jovens em cada idade que mencionaram valores hedonistas, relativos ao bem-estar próprio (BEP) e relacionados ao bem-estar de outros (BEO), bem como as percentagens relativas às principais formas de gratidão (verbal, concreta e conectiva). Os resultados das análises de estimativa de curva indicam que, com a idade, os valores hedonistas diminuíram significativamente (R2 = 0,52, p = 0,04, b = -3,84), os valores relativos ao bem-estar próprio aumentaram significativamente (R2 = 0,81, p < 0,01, b = 7,27) e os valores relacionados ao bem-estar de outros também aumentaram (R2 = 0,49, p = 0,05, b = 1,78). Assim, confirmou-se a expectativa sobre a diminuição dos valores hedonistas com o aumento da idade.

Tabela 1
Percentagens de Jovens por Idade que Escolheram os Tipos de Valores e as Formas de Gratidão

No que tange às formas de gratidão, a análise de estimativa de curva revelou que a expressão de gratidão concreta diminuiu com a idade (R2 = 0,74, p < 0,01, b = 3,83), conforme havia sido previsto. No entanto, não houve mudança em relação à gratidão conectiva (R2 = 0,003, p > 0,89, b = 0,16). Desta forma, a segunda hipótese foi apenas parcialmente confirmada, pois a expectativa de que, com o aumento da idade, haveria um aumento de gratidão conectiva não encontrou suporte empírico. Quanto à gratidão verbal, constatou-se um aumento significativo dessa forma de gratidão com a idade (R2 = 0,76, p < 0,01, b = 6,30).

A segunda questão de pesquisa refere-se à relação entre os tipos de valores e as formas de gratidão. Mais especificamente, formulou-se a hipótese de que seria mais provável que os jovens com valores hedonistas expressassem gratidão concreta e aqueles com valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO) expressassem gratidão conectiva. Para testar as associações entre tipos de valores e formas de gratidão, utilizou-se regressão logística binária, com cada uma das três formas de gratidão como variável dependente dicotômica, e cada um dos três tipos de valores como variável independente. Controlou-se a idade (expressa em meses), uma vez que idade está claramente associada com tipos de valores e formas de gratidão.

O modelo de regressão logística foi significativo (χ2 [2] = 18,44, p < 0,001), explicou 6,40% da variância (Nagelkerke R2) e classificou corretamente 68,9% dos casos. Conforme havia sido previsto, valores hedonistas relacionaram-se significativamente à gratidão concreta (B = 0,59, SE = 0,23 Wald χ2 [1] = 6,31, Exp (B) = 1,80, p = 0,012) após controlar-se a idade. Participantes com valores hedonistas tiveram 1,80 vezes mais probabilidade de expressar gratidão concreta que aqueles que não mencionaram esse tipo de valor, após controlar-se a idade. No caso da relação entre valores BEO e gratidão conectiva, contudo, o modelo não foi significativo (χ2 [2] = 3,34, p = 0,19) e explicou apenas 1,20% da variância (Nagelkerke R2), embora tenha classificado corretamente 69,90% dos casos (B = -0,58, SE = 0,32 Wald χ2 [1] = 3,55, Exp (B) = 1,79, p = 0,068). Participantes com valores BEO tiveram 1,79 vezes mais probabilidade de expressar gratidão conectiva que aqueles que não citaram esse tipo de valor, após controlar-se a idade. O pequeno tamanho do efeito (indicado pelo Nagelkerke R2) deveu-se ao pequeno número de participantes que mencionou valores BEO e gratidão conectiva, com um poder de 49,75%.

Não se levantou nenhuma hipótese específica sobre possíveis diferenças entre meninos e meninas, a partir da literatura. Todavia, uma vez que existe ainda certa controvérsia sobre o assunto, decidiu-se examinar se haveria alguma influência do sexo nos tipos de valores e nas formas de gratidão. Tendo em vista que as meninas (M = 136,80 meses, DP = 24,10) eram significativamente mais velhas que os meninos (M = 130,10 meses, DP = 27,80), F (1,394) = 6,49, p = 0,01, e que os resultados indicaram que tanto os tipos de valores quanto as formas de gratidão estavam relacionadas à idade, incluiu-se idade em meses como covariável na análise de regressão logística binária para acessar a possível influência do sexo. Constatou-se que sexo não estava relacionado nem a valores hedonistas nem a valores relativos ao bem-estar próprio (BEP), mas estavam significativamente associados a valores BEO (B = -0,90, SE = 0,36 Wald χ2 [1] = 6,20, Exp (B) = 0,405, p = 0,013) após controlar-se a idade, explicando 6,40% da variância. Especificamente, observou-se que 7% dos meninos e 16% das meninas escolheram valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO). Verificou-se ainda que sexo não estava associado a nenhuma das três formas de gratidão.

Discussão

Neste artigo, examinaram-se relações entre a gratidão e tipos de valores em crianças e adolescentes, a partir de uma perspectiva evolutiva (Delval, 2013Delval, J. (2013). O desenvolvimento psicológico humano (R. A. Rosenbusch, Trad.) Petrópolis: Vozes.), tendo em vista que estudos anteriores indicaram que os sistemas de valores (e.g., Andrade et al., 2008Andrade, M. W. C. L., Camino, C., Dias, M. G. B. B. (2008). O desenvolvimento de valores humanos dos cinco aos 14 anos de idade: Um estudo exploratório. Revista Interamericana de Psicologia42(1), 19-27. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rip/v42n1/v42n1a03.pdf
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; Vale & Alencar, 2012Vale, L. G., & Alencar, H. M. (2012). A generosidade em contraposição à obediência à autoridade: Juízos morais de crianças e adolescentes. In C. B. Rossetti & A. C. Ortega (Eds.), Cognição, afetividade e moralidade (pp. 215-235). São Paulo: Casa do Psicólogo.; Menin, Bataglia, et al., 2013Menin, M. S. S., Tavares, M. R., & Moro, A. (2013). Mensurando valores morais: Uma pesquisa com alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Revista de Educação Pública22(49), 525-549. Recuperado de http://periodicoscientificos.ufmt.br/index.php/educacaopublica/article/view/931
http://periodicoscientificos.ufmt.br/ind...
) e a gratidão (e.g., Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
https://doi.org/10.1080/08856559.1938.10...
; Freitas et al., 2012Freitas, L. B. L., O'Brien, M., Nelson, J. A., Marcovitch, S. (2012). A compreensão da gratidão e teoria da mente em crianças de 5 anos. Psicologia: Reflexão e Crítica25(2), 330-338. doi: 10.1590/S0102-79722012000200015
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; Nelson et al., 2013Nelson, J. A., Freitas, L. B. L., O'Brien, M., Calkins, S. D., Leerkes, E. M., & Marcovitch, S. (2013). Preschool-aged children's understanding of gratitude: Relations with emotion and mental state knowledge. British Journal of Developmental Psychology31, 42-56 doi:10.1111/j.2044-835X.2012.02077.x
https://doi.org/10.1111/j.2044-835X.2012...
; Rava & Freitas, 2013Rava, P. G. S., & Freitas, L. B. L. (2013). Gratidão e sentimento de obrigatoriedade na infância. Psico-USF18(3), 383-394. doi: 10.1590/S1413-82712013000300005
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) se desenvolvem desde a infância.

Em primeiro lugar, analisaram-se diferenças de idade relacionadas: (a) aos tipos de valores e (b) às formas de gratidão. Conforme previsto, verificou-se uma diminuição dos valores hedonistas com o aumento da idade. Além disso, constatou-se que os valores relativos ao bem-estar próprio (BEP) e relacionados ao bem-estar de outros (BEO) aumentaram. Esses resultados são congruentes com aqueles encontrados por Tudge et al. (2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.) com jovens norte-americanos. Assim, ganha suporte empírico a ideia de que, paulatinamente, além dos valores hedonistas, os valores virtuais (Piaget, 1954Piaget, J. (1954). Les relations entre l'affectivité et l'intelligence. Paris: Sorbonne.; 1965/1977Piaget, J. (1977). Études sociologiques, 3ª edição. Genève: Droz. (Texto original publicado em 1965).) passam a integrar os sistemas de valores dos jovens. Pode-se observar também um crescente nível de descentração nesse processo, conforme haviam indicado outros autores (Andrade et al., 2008Andrade, M. W. C. L., Camino, C., Dias, M. G. B. B. (2008). O desenvolvimento de valores humanos dos cinco aos 14 anos de idade: Um estudo exploratório. Revista Interamericana de Psicologia42(1), 19-27. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rip/v42n1/v42n1a03.pdf
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; Menin, Bataglia, et al., 2013Menin, M. S. S., Tavares, M. R., & Moro, A. (2013). Mensurando valores morais: Uma pesquisa com alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Revista de Educação Pública22(49), 525-549. Recuperado de http://periodicoscientificos.ufmt.br/index.php/educacaopublica/article/view/931
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). Chama atenção, entretanto, que mesmo entre os adolescentes (12 a 14 anos): (a) a percentagem de valores hedonistas é ainda relativamente grande, variando entre 50% e 60,70% e (b) a proporção de valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO) é pequena, variando entre 11,90% e 20% (ver Tabela 1). Esses resultados sugerem que os sistemas de valores dos jovens estão fortemente influenciados pelo hedonismo e o individualismo preponderantes na contemporaneidade (La Taille & Menin, 2009La Taille, Y. de, & Menin, M. S. S. (Eds.). (2009). Crise de valores ou valores em crise? Porto Alegre: Artmed.; O'Dougherty, 2002O'Dougherty, M. (2002). Consumption intensified: The politics of middle-class daily life in Brazil Durham, NC: Duke University Press.).

Quanto às formas de gratidão, os resultados confirmaram apenas parcialmente a hipótese levantada, visto que, como em estudos anteriores (Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Freitas et al., 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.), observou-se uma diminuição da gratidão concreta com a idade, mas não houve um aumento da gratidão conectiva. Esses resultados, contudo, são compatíveis com a ideia de que existem diversas formas de gratidão, as quais têm diferentes graus de complexidade. Na gratidão concreta, existe certa reciprocidade, visto que o beneficiário entende que deve retribuir ao seu benfeitor prévio; ele acredita, porém, que aquilo que ele valoriza é também valorizado por seu benfeitor. Trata-se de uma forma elementar de gratidão: é aquilo que se chama de recompensa. Diferentemente, a gratidão conectiva caracteriza-se por uma reciprocidade mais sofisticada, na medida em que o beneficiário considera que aquilo que para ele tem valor não é, necessariamente, valorizado pelo outro. Em outras palavras, a gratidão conectiva requer um maior nível de descentração que a gratidão concreta (Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Freitas et al. 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Piaget, 1954Piaget, J. (1954). Les relations entre l'affectivité et l'intelligence. Paris: Sorbonne.; Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.). A gratidão requer a retribuição do bem com o bem: um ato generoso é retribuído com generosidade e, portanto, busca-se satisfazer uma necessidade ou um desejo singular do benfeitor (McConnell, 1993McConnell, T. (1993). Gratitude. Philadelphia: Temple University Press.). Em síntese, quando se trata de desenvolvimento da gratidão, é importante considerar não apenas os níveis de gratidão, isto é, o quanto os jovens são gratos (e.g., Froh et al., 2014Froh, J. J., Bono, G., Fan, J., Emmons, R. A., Henderson, K., Harris, C., Leggio, H., & Wood, A. M. (2014). Nice thinking! An educational intervention that teaches children to think gratefully. School Psychology Review43(2), 132-152. Recuperado de http://www.academia.edu/6647891/Nice_Thinking_An_Educational_Intervention_That_Teaches_Children_to_Think_Gratefully
http://www.academia.edu/6647891/Nice_Thi...
; Froh et al., 2011Froh, J. J., Emmons, R. A., Card, N. A., Bono, G., & Wilson, J. A. (2011). Gratitude and the reduced costs of materialism in adolescents. Journal of Happiness Studies12, 289-302. doi: 10.1007/s10902-010-9195-9
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), mas também as diferentes formas de gratidão (Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Bonnie & de Waal, 2004Bonnie, K. E., & de Wall, F. B. M. (2004). Primate social reciprocity and the origin of gratitude. Em R. A. Emmons & M. E. McCullough (Eds.), The psychology of gratitude (pp. 213-229). New York: Oxford University Press.; Freitas et al., 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Piaget, 1954Piaget, J. (1954). Les relations entre l'affectivité et l'intelligence. Paris: Sorbonne.; Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.).

Neste estudo, verificou-se ainda um aumento estatisticamente significativo de gratidão verbal com a idade. Essa forma de gratidão é utilizada, muitas vezes, como uma forma de polidez (Comte-Sponville, 2007Comte-Sponville, A. (2007). Pequeno tratado das grandes virtudes (E. Brandão, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.) ensinada pelos adultos desde cedo às crianças quando recebem um presente ou algum tipo de ajuda. A gratidão verbal, contudo, pode ser usada para expressar um sentimento profundo de gratidão. Este seria o caso dos adolescentes, os quais podem ter dificuldade de falar a respeito de seus sentimentos e, por essa razão, recorreriam à gratidão verbal (Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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). Em síntese, subjacentes a uma mesma forma de gratidão, poderia haver processos psicológicos qualitativamente distintos. Nesse sentido, sugere-se a realização de uma pesquisa utilizando-se instrumentos que possibilitem acessar esses processos.

Pode-se pensar também que a forma como os jovens expressam gratidão é influenciada pela maneira como são educados. Os jovens aprendem com os adultos não apenas formas de polidez (Comte-Sponville, 2007Comte-Sponville, A. (2007). Pequeno tratado das grandes virtudes (E. Brandão, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.), mas também outras formas de expressar gratidão. Dado o impacto da socialização dos pais no desenvolvimento moral de seus filhos (e.g., Grusec, 2006Grusec, J. E. (2006). The development of moral behavior and conscience from a socialization perspective. In M. Killen & J. G. Smetana (Eds.), Handbook of moral development (pp. 243-265). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.; Wainryb & Recchia, 2014Wainryb, C., & Recchia, H. E. (2014). Parent-child conversations as contexts for moral development: Why conversations, and why conversations with parents? In C. Wainryb & H. E. Recchia (Eds.), Talking about right and wrong: Parent-child conversations as contexts for moral development (pp. 3-18). New York: Cambridge University Press. doi: 10.1017/CBO9781139207072
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; Thompson & Winer, 2014Thompson, R. A., & Winer, A. C. (2014). Moral development, conversation, and the development of internal working models. In C. Wainryb & H. E. Recchia (Eds.), Talking about right and wrong: Parent-child conversations as contexts for moral development (pp. 299-333). New York: Cambridge University Press. doi: 10.1017/CBO9781139207072
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; White & Matawie, 2004White, F. A., & Matawie, K. M. (2004). Parental morality and family processes as predictors of adolescent morality. Journal of Child and Family Studies13(2), 219-233. doi: 10.1023/B:JCFS.0000015709.81116.ce
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), faz sentido cogitar que pais com diferentes crenças e valores tenham maneiras distintas de educar os seus filhos sobre como demonstrar gratidão a um benfeitor prévio. Essa é outra questão que merece ainda ser investigada.

Em segundo lugar, examinaram-se relações entre os tipos de valores e as formas de gratidão. É importante que tenha sido confirmada a expectativa de que os jovens com valores hedonistas expressem mais provavelmente gratidão concreta, porque sugere a existência de uma relação entre o desenvolvimento da gratidão e os sistemas de valores dos jovens. Quando se trata de crianças e adolescentes, não basta se examinar apenas os níveis de gratidão (o quanto os jovens são gratos) (e.g., Froh, et al., 2014Froh, J. J., Bono, G., Fan, J., Emmons, R. A., Henderson, K., Harris, C., Leggio, H., & Wood, A. M. (2014). Nice thinking! An educational intervention that teaches children to think gratefully. School Psychology Review43(2), 132-152. Recuperado de http://www.academia.edu/6647891/Nice_Thinking_An_Educational_Intervention_That_Teaches_Children_to_Think_Gratefully
http://www.academia.edu/6647891/Nice_Thi...
; Froh, Kashdan, Ozimkowski, & Miller, 2009Froh, J. J., Kashdan, T. B., Ozimkowski, K. M., & Miller, N. (2009). Who benefits the most from a gratitude intervention in children and adolescents? Examining positive affect as a moderator. The Journal of Positive Psychology 4408-422. doi: 10.1080/17439760902992464
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), pois existem diferentes formas de gratidão (Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Bonnie & de Waal, 2004Bonnie, K. E., & de Wall, F. B. M. (2004). Primate social reciprocity and the origin of gratitude. Em R. A. Emmons & M. E. McCullough (Eds.), The psychology of gratitude (pp. 213-229). New York: Oxford University Press.; Freitas et al., 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Piaget, 1954Piaget, J. (1954). Les relations entre l'affectivité et l'intelligence. Paris: Sorbonne.; Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.) e cabe considerar-se os sistemas de valores (e.g., Gouveia et al., 2014Gouveia, V. V., Milfont, L. T., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its contente and structure. Personality and Individual Differences60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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; Schwartz, 2012Schwartz, S. H. (2012). An overview of the Schwartz Theory of Basic Values. Online Readings in Psychology and Culture2(1). doi: 10.9707/2307-0919.1116
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), e não apenas um tipo de valor (Froh et al., 2011Froh, J. J., Emmons, R. A., Card, N. A., Bono, G., & Wilson, J. A. (2011). Gratitude and the reduced costs of materialism in adolescents. Journal of Happiness Studies12, 289-302. doi: 10.1007/s10902-010-9195-9
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).

O fato de que não se tenha verificado uma relação estatisticamente significativa entre valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO) e gratidão conectiva deve ser examinada com cautela. Cabe notar que relativamente poucos jovens mencionaram valores BEO e gratidão conectiva. Isso limitou o poder de encontrar resultados estatisticamente significativos. Além disso, a baixa frequência tanto desse tipo de valor quanto dessa forma de gratidão, nessa amostra, leva a cogitar se, de fato, não existiria uma relação entre eles, uma vez que ambos requerem um maior nível de descentração (Andrade et al., 2008Andrade, M. W. C. L., Camino, C., Dias, M. G. B. B. (2008). O desenvolvimento de valores humanos dos cinco aos 14 anos de idade: Um estudo exploratório. Revista Interamericana de Psicologia42(1), 19-27. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rip/v42n1/v42n1a03.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rip/v42n1/...
; Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Freitas et al., 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Menin, Bataglia, et al., 2013Menin, M. S. S., Tavares, M. R., & Moro, A. (2013). Mensurando valores morais: Uma pesquisa com alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Revista de Educação Pública22(49), 525-549. Recuperado de http://periodicoscientificos.ufmt.br/index.php/educacaopublica/article/view/931
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; Piaget, 1954Piaget, J. (1954). Les relations entre l'affectivité et l'intelligence. Paris: Sorbonne.; Tudge et al., 2011Tudge, J., Vadehra, P., Wang, Y., Stone, K., Freitas, L. (2011, março/abril). From materialism to social well-being: Links with gratitude among children and adolescents. Trabalho apresentado em 2011 Biennial Meetings of the Society for Research in Child Development, Montréal, Canadá.). Neste sentido, vale a pena examinar essa possível relação em amostras maiores.

Quanto a diferenças entre os sexos, os dados encontrados são consistentes com aqueles de outros pesquisadores (Freitas et al., 2011Freitas, L. B. L., Pieta, M. A. M., & Tudge, J. R. H. (2011). Beyond politeness: The expression of gratitude in children and adolescents. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(4), 757-764. doi: 10.1590/S0102-79722011000400016
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; Freitas et al., 2012Freitas, L. B. L., O'Brien, M., Nelson, J. A., Marcovitch, S. (2012). A compreensão da gratidão e teoria da mente em crianças de 5 anos. Psicologia: Reflexão e Crítica25(2), 330-338. doi: 10.1590/S0102-79722012000200015
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; Froh et al., 2009Froh, J. J., Kashdan, T. B., Ozimkowski, K. M., & Miller, N. (2009). Who benefits the most from a gratitude intervention in children and adolescents? Examining positive affect as a moderator. The Journal of Positive Psychology 4408-422. doi: 10.1080/17439760902992464
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; Paludo, 2008Paludo, S. S. (2008). Emoções morais e gratidão: Uma nova perspectiva sobre o desenvolvimento de jovens que vivem em situação de risco pessoal e social (Tese de doutorado não publicada). Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS.), visto que não se verificaram diferenças significativas entre meninos e meninas no que diz respeito à gratidão. Esse é um aspecto que tem sido abordado na literatura sobre gratidão em jovens, desde que Gordon et al. (2004)Gordon, A. K, Musher-Eizenman, D. R., Holub, S. C., & Dalrymple, J. (2004). What are children thankful for? An archival analysis of gratitude before and after the attacks of September 11. Journal of Applied Developmental Psychology, 25(5), 541-553. doi: 10.1016/j.appdev.2004.08.004
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encontraram diferenças na maneira como meninos e meninas vivenciam a gratidão. Os resultados indicaram, porém, uma diferença entre os sexos no que diz respeito aos valores BEO: as meninas mencionaram esse tipo de valor com maior frequência que os meninos. Esse dado é congruente com estudos que sugerem que as meninas dão maior importância que os meninos às relações interpessoais e a outras pessoas (e.g., Bromnick & Swallow, 2001Bromnick, R. D., & Swallow, B. L. (2001). Parties, lads, friends, love and Newcastle united: A study of young people's values. Educational Studies, 27, 143-158. doi: 10.1080/03055690125235
https://doi.org/10.1080/03055690125235...
; Gordon et al., 2004Gordon, A. K, Musher-Eizenman, D. R., Holub, S. C., & Dalrymple, J. (2004). What are children thankful for? An archival analysis of gratitude before and after the attacks of September 11. Journal of Applied Developmental Psychology, 25(5), 541-553. doi: 10.1016/j.appdev.2004.08.004
https://doi.org/10.1016/j.appdev.2004.08...
). Pesquisas realizadas no Brasil sobre os sistemas de valores também têm evidenciado diferenças de gênero (e.g., Formiga, Santos, Viana, & Andrade, 2008Formiga, N. S., Santos, L. M. S., Viana, D. N. M., & Andrade, A. C. (2008). Valores humanos e gênero. Psicologia &m Foco1(1), 1-12. Recuperado de http://linux.alfamaweb.com.br/sgw/downloads/161_064132_3.pdf
http://linux.alfamaweb.com.br/sgw/downlo...
; Tamayo, 1988Tamayo, A. (1988). Influência do sexo e da idade sobre o sistema de valores. Arquivos Brasileiros de Psicologia38(3), 91-104. Recuperado de http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abp/article/view/21318
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/inde...
). Segundo Formiga et al., essas diferenças, provavelmente, devem-se aos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres.

Considerações Finais

Até onde se sabe, este é o primeiro estudo a explicitar a importância de se examinar relações entre o desenvolvimento da gratidão - uma virtude moral (Comte-Sponville, 2007Comte-Sponville, A. (2007). Pequeno tratado das grandes virtudes (E. Brandão, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.; McConnell, 1993McConnell, T. (1993). Gratitude. Philadelphia: Temple University Press.; McCullough et al., 2001McCullough, M. E., Kilpatrick, S. D., Emmons, R. A., & Larson, D. B. (2001). Is gratitude a moral affect? Psychological Bulletin, 127(2), 249-266. doi: 10.1037//0033-2909.127.2.249
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) - e diferentes tipos de valores em crianças e adolescentes (e.g., La Taille, 2006La Taille, Y. de (2006). Moral e ética: Dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artes Médicas.; Piaget, 1954Piaget, J. (1954). Les relations entre l'affectivité et l'intelligence. Paris: Sorbonne.; 1965/1977Piaget, J. (1977). Études sociologiques, 3ª edição. Genève: Droz. (Texto original publicado em 1965).), não se limitando somente aos valores materiais (Froh et al. 2011Froh, J. J., Emmons, R. A., Card, N. A., Bono, G., & Wilson, J. A. (2011). Gratitude and the reduced costs of materialism in adolescents. Journal of Happiness Studies12, 289-302. doi: 10.1007/s10902-010-9195-9
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).

É importante, porém, mencionar algumas limitações deste estudo. Em primeiro lugar, deve-se considerar o tamanho da amostra. Em futuras pesquisas, seria relevante examinar-se a associação entre valores relacionados ao bem-estar de outros (BEO) e gratidão conectiva em uma amostra maior. Neste estudo, a frequência desse tipo de valor foi relativamente pequena e pode ter sido responsável pela ausência de significância estatística. Por que valeria a pena se investigar novamente essa relação? Porque é a gratidão conectiva que cria ou fortalece os vínculos entre as pessoas (e.g., Baumgarten-Tramer, 1938Baumgarten-Tramer, F. (1938). "Gratefulness" in children and young people. Journal of Genetic Psychology, 53, 53-66. doi: 10.1080/08856559.1938.10533797
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; Bonnie & de Waal, 2004Bonnie, K. E., & de Wall, F. B. M. (2004). Primate social reciprocity and the origin of gratitude. Em R. A. Emmons & M. E. McCullough (Eds.), The psychology of gratitude (pp. 213-229). New York: Oxford University Press.; McCullough et al., 2001McCullough, M. E., Kilpatrick, S. D., Emmons, R. A., & Larson, D. B. (2001). Is gratitude a moral affect? Psychological Bulletin, 127(2), 249-266. doi: 10.1037//0033-2909.127.2.249
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) e poderia servir de antídoto a valores que têm trazido prejuízos à qualidade de vida das pessoas. Em segundo lugar, constatou-se, mais uma vez, que existem diversas formas de gratidão, as quais têm diferentes níveis de complexidade. Resta compreender melhor: (a) os processos psicológicos subjacentes a essas formas de gratidão e (b) como essas formas de expressar gratidão são influenciadas pela educação em valores que os jovens recebem dos adultos. Nesse sentido, caberia conduzirem-se estudos sobre: (a) os processos psicológicos envolvidos no desenvolvimento da gratidão e (b) a influência dos valores dos pais nos tipos de valores e nas formas de gratidão dos filhos.

Apesar disso, considera-se que este estudo traz resultados relevantes e contribuiu para ampliar o conhecimento sobre o desenvolvimento da gratidão em crianças e adolescentes, na medida em que chama a atenção para a importância de se considerar os sistemas de valores de maneira integrada, ao invés de valores isolados. Além disso, os resultados encontrados sugerem caminhos para uma educação em valores que contribua para a promoção do bem-estar dos jovens.

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  • Nota dos autores: Os autores agradecem o apoio financeiro do CNPq (Processo 301714/2012-6) e do Programa PIBIC UFRGS/CNPq. O segundo autor agradece ainda a CAPES pela bolsa de professor visitante sênior (Processo 18344-12-7).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2016

Histórico

  • Recebido
    25 Nov 2014
  • Revisado
    17 Mar 2015
  • Aceito
    15 Abr 2015
Universidade de São Francisco, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia R. Waldemar César da Silveira, 105, Vl. Cura D'Ars (SWIFT), Campinas - São Paulo, CEP 13045-510, Telefone: (19)3779-3771 - Campinas - SP - Brazil
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