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Valores Humanos e Atitudes Homofóbicas Flagrante e Sutil

Human Values and Manifest and Subtle Homophobic Attitudes

Valores Humanos y Actitudes Homofóbicas Flagrantes y Sutiles

Resumo

Esta pesquisa objetivou verificar em que medida os valores humanos estão relacionados com a homofobia flagrante e sutil. Para tanto, contou-se com a participação de 174 estudantes universitários, com idade variando de 17 a 56 anos (M = 22,3, DP = 4,60), a maioria do sexo feminino (57,6%). Estes responderam à Escala de Homofobia Explícita e Implícita, o Questionário dos Valores Básicos e perguntas demográficas. Realizaram-se regressões múltiplas, tendo os resultados indicado que valores normativos e de realização são melhores explicadores da homofobia sutil e geral, enquanto que apenas valores normativos se associaram com a homofobia flagrante. Esses construtos foram responsáveis por explicar aproximadamente 10% da variância em atitudes homofóbicas. Concluiu-se que os valores podem ser bons preditores da homofobia, principalmente aqueles materialistas, reforçando a adequação da teoria funcionalista para explicar atitudes socialmente desviantes.

Palavras-chaves:
homofobia; preconceito; homossexualidade; valores

Abstract

This study aimed to know to what extent human values are correlated with flagrant and subtle homophobia. The participants were 174 undergraduate students, with ages ranging from 17 to 56 years of age (M = 22.3, SD = 4.60), most of them female (57.6%). They answered the Explicit and Implicit Homophobia Scale, the Basic Values Survey and demographic questions. Multiple regressions were performed, indicating the predictive power of normative and promotion values for explaining subtle and general homophobia, whereas only normative values explained the flagrant homophobia. These constructs were responsible for accounting for approximately 10% of the variance in homophobic attitudes. In conclusion, values can be good predictors of homophobia, especially materialist values, enhancing the adequacy of the functional theory of values to explain socially deviant attitudes.

Keywords:
homophobia; prejudice; homosexuality; values

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo verificar en qué medida los valores humanos están relacionados con homofobia flagrante y sutil. Participaron 174 estudiantes universitarios, con edades entre 17 a 56 años (M = 22.3, DT = 4.60), la mayoría de sexo femenino (57.6%). Estos respondieron la Escala de Homofobia Explícita e Implícita, el Cuestionario de los Valores Básicos y preguntas demográficas. Se llevaron a cabo regresiones múltiples, indicando que los valores normativos y de realización han sido los mejores exponentes de homofobia sutil y general, mientras que sólo los valores normativos se han asociado con la homofobia flagrante. Estos constructos lograron explicar aproximadamente un 10% de la varianza en las actitudes homofóbicas. Se concluyó que los valores pueden ser buenos predictores de la homofobia, especialmente los materialistas, mejorando la capacidad de respuesta de la teoría funcionalista para explicar las actitudes socialmente desviadas.

Palabras clave:
homofobia; prejuicio; homosexualidad; valores

A partir da década de 1920, o estudo do preconceito despertou atenção no âmbito acadêmico, sobretudo atrelado a questões raciais. Nesse cenário, as teorias buscavam compreender possíveis inferioridades de determinadas raças, algo que se modificou na década de 1930, quando o preconceito passou a ser tratado como irracional ou injustificado, considerado como uma expressão de necessidades patológicas e fruto de processos sociais, contribuindo para a manifestação de respostas discriminatórias entre grupos (Rodrigues, Assmar, & Jablonski, 2012Rodrigues, A., Assmar, E. M. L., & Jablonski, B. (2012). Psicologia social. Petrópolis, RJ: Vozes.). Entretanto, naquelas décadas, os estudos não contavam com um marco teórico consistente e os achados denotavam apenas "pedaços de conhecimento".

Essa situação começou a mudar nas décadas subsequentes, tendo sido preponderantes as contribuições de Gordon W. Allport, que publicou nos anos 1950 obra que logo se tornaria um clássico, i.e. The nature of prejudice (Allport, 1954Allport, G. W. (1954). The nature of prejudice. Reading, Mass: Addison-Wesley.). Ele definiu o preconceito como uma atitude hostil e desfavorável, relacionada a um julgamento errôneo, prematuro ou precipitado, envolvendo uma aversão sentida ou expressa que pode ser direcionada a um grupo ou a um de seus membros. Essa definição não envolve unicamente sentimentos de antipatia e crenças distorcidas e negativas acerca de um determinado grupo, mas compreende as práticas e os comportamentos discriminatórios daí advindos (Lima-Nunes & Camino, 2011Lima-Nunes, A. V., & Camino, L. (2011). Atitude político-ideológica e inserção social: Fatores psicossociais do preconceito racial. Psicologia & Sociedade, 23, 135-143. doi: 10.1590/S0102-71822011000100015
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). Portanto, é plausível compreender o preconceito como um construto tridimensional, envolvendo componentes de ordem cognitiva, afetiva e comportamental (Santos, Gouveia, Navas, Pimentel, & Gusmão, 2006Santos, W. S., Gouveia, V. V., Navas, M. S., Pimentel, C. E., & Gusmão, E. E. S. (2006). Escala de racismo moderno: Adaptação ao contexto brasileiro. Psicologia em Estudo (Maringá), 11, 637-645. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a19.pdf
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).

Atualmente, tende-se a pensar que o preconceito diminuiu. Não obstante, observa-se que ele segue existindo, porém, sob uma nova forma de expressão, denominado como sutil ou moderno (Gouveia et al., 2011Gouveia, V. V., Souza, L. E. C. D., Vione, K. C., Cavalcanti, M. D. F. B., Santos, W. S. D., & Medeiros, E. D. D. (2011). Motivation to respond without prejudice: Evidences of a measure toward gays and lesbians. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24, 458-466. doi: 10.1590/S0102-79722011000300006
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; Pettigrew & Meertens, 1995Pettigrew, T. F., & Meertens, R. W. (1995). Subtle and blatant prejudice in Western Europe. European Journal of Social Psychology, 25, 57-75. doi: 10.1002/ejsp.2420250106
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; Santos et al., 2006Santos, W. S., Gouveia, V. V., Navas, M. S., Pimentel, C. E., & Gusmão, E. E. S. (2006). Escala de racismo moderno: Adaptação ao contexto brasileiro. Psicologia em Estudo (Maringá), 11, 637-645. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a19.pdf
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; Sears & Henry, 2005Sears, D. O., & Henry, P. J. (2005). Over thirty years later: A contemporary look at symbolic racism. Em M. Zanna (Ed.), Advances in experimental social psychology (vol. 37, pp. 95-150). San Diego, CA: Elsevier Academic Press.). Essa nova forma que o preconceito assume é não declarado, não manifesto abertamente, mas velado e indireto, sendo, consequentemente, mais difícil de ser diretamente percebido. A propósito, exemplificando a diferença entre os preconceitos flagrante e sutil, Huddy e Feldman (2009Huddy, L. & Feldman, S. (2009). On assessing the political effects of racial prejudice. Annual Review of Political Science, 12, 423-447. doi: 10.1146/annurev.polisci.11.062906.070752
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) afirmam que o primeiro envolve sentimentos negativos contra determinado grupo e crenças de que dito grupo é inferior a outro, enquanto o segundo se revela por meio de uma oposição às demandas do grupo objeto de preconceito, assim como um posicionamento contrário a políticas que lhe favoreçam. Mesmo atrelado a questões raciais (e.g., negros, índios), é possível verificar manifestações de preconceito em relação a outros grupos, como os obesos (Bessenoff & Sherman, 2000Bessenoff, G. R., & Sherman, J. W. (2000). Automatic and controlled components of prejudice toward fat people: Evaluation versus stereotype activation. Social Cognition, 18, 329-353.doi: 10.1521/soco.2000.18.4.329
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; Teachman, Gapinsky, Brownell, Rawlins, & Jeiharam, 2003Teachman, B. A., Gapinski, K. D., Brownell, K. D., Rawlins, M., & Jeyaram, S. (2003). Demonstrations of implicit anti-fat bias: The impact of providing causal information and evoking empathy. Health Psychology, 22, 68-78. Recuperado de http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12558204
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), os imigrantes (Curşeu, Stoop, & Schalk, 2007Curşeu, P. L., Stoop, R., & Schalk, R. (2007). Prejudice toward immigrant workers among Dutch employees: Integrated threat theory revisited. European Journal of Social Psychology, 37, 125-140. doi: 10.1002/ejsp.331
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) e os homossexuais (Poteat, O'Dwyer, & Mereish, 2011Poteat, V. P., O'Dwyer, L. M., & Mereish, E. H. (2011). Changes in how students use and are called homophobic epithets over time: Patterns predicted by gender, bullying, and victimization status. Journal of Educational Psychology, 104, 393-406. doi: 10.1037/a0026437
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). A propósito, esse grupo tem sido vítima, inclusive, de manifestações extremas, resultando em espancamentos e assassinatos noticiados cotidianamente na mídia, mas também de manifestações mais sutis (Herek, 2004Herek, G. M. (2004). Beyond "homphobia": Thinking about social prejudice and stigma in the twenty-first century. Sexual Research & Social Policy, 1, 6-24. doi: 10.1525/srsp.2004.1.2.6
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), que denunciam a homofobia ou preconceito sexual "camuflado".

No âmbito do preconceito sexual, demanda-se ter em conta o conceito de gênero, uma vez que este contribui para a formação do contexto social no qual a homofobia se desenvolve. Segundo Scott (1995Scott, J. (1995). Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, 2, 71-100. http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAnero-Joan%20Scott.pdf
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), o gênero pode ser definido como uma construção social das diferenças sexuais percebidas, que estabelecem significados para as distinções corporais, variando segundo fatores históricos e culturais. Nesse contexto, as normas sociais de gênero influenciam o comportamento dos indivíduos, contribuindo para definir seus papéis sociais e regulando as relações interpessoais, o que, associado a uma cultura patriarcal, pode favorecer o surgimento de desigualdades entre os gêneros (Guerra, Scarpati, Duarte, Silva, & Mota, 2014Guerra, V. M., Scarpati, A. S., Duarte, C. N. B., Silva, C. V. D., & Motta, T. A. (2014). Ser homem é...: Adaptação da escala de concepção da masculinidade. Psico-USF, 19, 155-165. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v19n1/a15v19n1.pdf
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). Tais desigualdades se manifestam, por exemplo, por meio do sexismo, ou seja, a concepção de que o masculino é superior ao feminino (Belo, Gouveia, Raymundo, & Marques, 2005Belo, R. P., Gouveia, V. V., Raymundo, J. da S., & Marques, C. M. C. (2005). Correlatos valorativos do sexismo ambivalente. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18, 7-15. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/prc/v18n1/24812.pdf
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). Ademais, esses preceitos propiciam a construção de identidades sexuais que tornam as diferenças entre os sexos algo natural e determinado, levando a institucionalização da heterossexualidade como uma norma social (Souza & Pereira, 2013Souza, E. M., & Pereira, S. J. N. (2013). Produção do heterossexismo e da heteronormatividade nas relações de trabalho: A discriminação de homossexuais por homossexuais. Revista de Administração Mackenzie, 14, 76-105. Recuperado de http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/RAM/article/view/3668/4439
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).

A não conformidade com a norma heterossexual leva à construção de estereótipos negativos, como doente e anormal, com o intuito de rebaixar e excluir aqueles que não se adequam aos papéis tradicionais de gênero (Guerra et al., 2014Guerra, V. M., Scarpati, A. S., Duarte, C. N. B., Silva, C. V. D., & Motta, T. A. (2014). Ser homem é...: Adaptação da escala de concepção da masculinidade. Psico-USF, 19, 155-165. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v19n1/a15v19n1.pdf
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). Nesse ínterim, surgem atitudes negativas e de rechaço à orientação homossexual, levando à homofobia. A propósito, esta última pode ser definida como atitudes negativas baseadas na orientação sexual (Herek, 2000Herek, G. M. (2000). Gender gaps in public opinion about lesbians and gay men. Public Opinion Quarterly, 66, 40-66. Recuperado de http://psc.dss.ucdavis.edu/rainbow/html/poq_2002.pdf
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), e como as demais definições de preconceito, este envolve três elementos-chave (Herek, 2004Herek, G. M. (2004). Beyond "homphobia": Thinking about social prejudice and stigma in the twenty-first century. Sexual Research & Social Policy, 1, 6-24. doi: 10.1525/srsp.2004.1.2.6
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): (1) é uma atitude, o que predispõe a uma avaliação negativa ou positiva, que se pauta em informações emocionais, cognitivas e comportamentais; (2) é direcionado a um grupo ou a seus membros, isto é, gays e lésbicas; e (3) frequentemente envolve hostilidade ou aversão.

Pesquisas considerando o preconceito frente a gays e lésbicas têm ganhado espaço no âmbito acadêmico, sendo conduzidas a partir de diferentes prismas e em diversos contextos. Considerando uma perspectiva correlacional, os estudos têm apontado o sexo como forte preditor da homofobia; especificamente, sua expressão flagrante é maior por parte dos homens heterossexuais, ao passo que não foram encontradas diferenças quanto à forma sutil de sua expressão (Cárdenas & Barrientos, 2008Cárdenas, M., & Barrientos, J. (2008). Actitudes explícitas e implícitas hacia los hombres homosexuales en una muestra de estudiantes universitarios en Chile. Psykhe, 17, 17-25. doi: 10.4067/S0718-22282008000200002
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). Entretanto, em contexto brasileiro Marinho, Marques, Almeida, Menezes e Guerra (2004Marinho, C. de A., Marques, E. F. M., Almeida, D. R. de Menezes, A. R. B. de, & Guerra, V. M. (2004). Adaptação da escala de homofobia explícita e implícita ao contexto brasileiro. Paideia, 14, 371-379. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/paideia/v14n29/12.pdf
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) não observaram diferença quanto à manifestação da homofobia flagrante entre os sexos, mas verificaram diferença no que tange à manifestação sutil, sendo maior entre os homens. Corroborando esses dados, Poteat, O'Dwyer e Mereish (2011Poteat, V. P., O'Dwyer, L. M., & Mereish, E. H. (2011). Changes in how students use and are called homophobic epithets over time: Patterns predicted by gender, bullying, and victimization status. Journal of Educational Psychology, 104, 393-406. doi: 10.1037/a0026437
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) constataram, por meio de estudo longitudinal, que a manifestação da homofobia por jovens é maior entre adolescentes do sexo masculino do que feminino, assim como foi observado que jovens homossexuais do sexo masculino sofrem mais com o preconceito.

Ainda quanto à influência do gênero no entendimento da homofobia, Zeichner e Reidy (2009Zeichner, A., & Reidy, D. E. (2009). Are homophobic men attracted to or repulsed by homosexual men? Effects of gay male erotica on anger, fear, happiness, and disgust. Psychology of Men and Masculinity, 10, 231-236. doi: 10.1037/a0014955
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) procuraram conhecer as emoções experimentadas por homens homofóbicos ao serem expostos a material homossexual. Seus achados indicaram que sentimentos como felicidade se correlacionam negativamente com atitudes homofóbicas, enquanto que sentimentos de medo e raiva o fizeram positivamente, isto é, as pessoas que possuíam atitudes homofóbicas experimentaram sentimentos negativos ao serem expostas a material homossexual. Por outro lado, considerando os afetos dos próprios homossexuais, Weiss e Hope (2011Weiss, B. J., & Hope, D. A. (2011). A preliminary investigation of worry content in sexual minorities. Journal of Anxiety Disorders, 25, 244-250. doi: 10.1016/j.janxdis.2010.09.009
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) verificaram que a preocupação relacionada com a orientação sexual sentida por gays, lésbicas e bissexuais se correlacionou com sentimentos negativos, sintomas depressivos e diminuição da qualidade de vida. Em outro estudo, Frost e Meyer (2009Frost, D. M., & Meyer, I. H. (2009). Internalized homophobia and relationships quality among lesbians, gay men, and bisexuals. Journal of Counseling Psychology, 56, 97-109. Recuperado de http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20047016
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) observaram que a homofobia internalizada se correlacionou com maiores problemas nos relacionamentos, sendo essa relação mediada por sintomas depressivos. Segundo Parrot, Adams e Zeichner (2002Parrot, D. J., Adams, H. E., & Zeichner, A. (2002). Homophobia: Personality and attitudinal correlates. Personality and Individual Differences, 32, 1269-1278. doi: 10.1016/S0191-8869(01)00117-9
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), a homofobia se relaciona, ainda, com níveis elevados de masculinidade autopercebida, podendo ser desenvolvida por homens que se sentem ameaçados por indivíduos com atributos femininos. Portanto, a manifestação da homofobia está relacionada tanto ao nível de masculinidade, como a ameaças a ela (Stotzer & Shin, 2012Stotzer, R. L., & Shin, M. (2012). The Relationship between masculinity and sexual prejudice in factor associated with violence against gay man. Psychology of Men and Masculinity, 13, 136-142.). Buscando outros correlatos homofóbicos, Parrot e Zeichner (2005Parrot, D. J., & Zeichner, A. (2005). Effects of sexual prejudice and anger on physical aggression toward gay and heterosexual men. Psychology of Men & Masculinity, 6, 3-17. doi: 10.1037/1524-9220.6.1.3
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) encontram relações positivas desse preconceito com sentimentos de raiva e agressão física. Desse modo, conclui-se que tais práticas discriminatórias são nocivas a essas minorias, atingindo, inclusive, manifestações extremas, como agressões físicas.

De acordo com o anteriormente descrito, a homofobia vem se constituindo como um dos temas mais estudados na atualidade, algo endossado por busca feita em 03 de dezembro de 2014, na base de dados PsycInfo, da American Psychological Association. No caso, entrou-se com o descritor "homophobia", resultando em cerca de 2.600 registros, entre artigos, livros, capítulos e teses, com diferentes tipos de delineamentos. O interesse pela temática pode ser explicado não só em função do número crescente de crimes contra homossexuais, motivados pelo preconceito, mas também por conta das atitudes homofóbicas ocasionarem depressão, ansiedade e abuso de substância entre os gays e lésbicas (Farhan & Shakir, 2014Farhan, H. M. & Shakir, A. S. (2014). The prevalence of mental disorders among lesbian, gay, bisexual and transgender (LGBT) in Baghdad. American Journal of BioMedicine, 2, 1219-1228. http://ajbm.net/wp-content/uploads/2014/12/The-prevalence-of-mental-disorders-among-lesbian-gay-bisexual-and-transgender-LGBT-in-Baghdad.pdf
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).

Tendo em vista a minimização de tais consequências, há interesse em conhecer os preditores do preconceito sexual. Dentre as variáveis estudadas, destacam-se o sexo (Marinho Marques, Almeida, Menezes, & Guerra 2004Marinho, C. de A., Marques, E. F. M., Almeida, D. R. de Menezes, A. R. B. de, & Guerra, V. M. (2004). Adaptação da escala de homofobia explícita e implícita ao contexto brasileiro. Paideia, 14, 371-379. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/paideia/v14n29/12.pdf
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; Poteat et al., 2011Poteat, V. P., O'Dwyer, L. M., & Mereish, E. H. (2011). Changes in how students use and are called homophobic epithets over time: Patterns predicted by gender, bullying, and victimization status. Journal of Educational Psychology, 104, 393-406. doi: 10.1037/a0026437
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), a orientação à dominância social (O'Brien, Shovelton, & Latner, 2013O'Brien, K. S., Shovelton, H., & Latner, J. D. (2013). Homophobia in physical education and sport: The role of physical/sporting identity and attributes, authoritarian aggression, and social dominance orientation. International Journal of Psychology, 48, 891-899. doi: 10.1080/00207594.2012.713107
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) e o autoritarismo (Cramer, Miller, Amacker, & Burks, 2013Cramer, R. J., Miller, A. K., Amacker, A. M., & Burks, A. C. (2013). Openness, right-wing authoritarianism, and antigay prejudice in college students: A mediational model. Journal of Counseling Psychology, 60, 64-71. doi: 10.1037/a0031090
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). No entanto, é possível que as atitudes homofóbicas possam variar também em função de outras características individuais ou mesmo de princípios-guias assumidos pelos indivíduos. Nesse âmbito, os valores humanos podem se configurar como relevantes (Bardi & Schwartz, 2003Bardi, A. & Schwartz, S. H. (2003). Values and behavior: Strength and structure of relations. Personality and Social Psychology Bulletin, 29, 1207-1220. doi: 10.1177/0146167203254602
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). Esse construto foi utilizado, por exemplo, por Gouveia, Souza Filho, Araújo, Guerra e Souza (2006Gouveia, V. V., Souza Filho, M. L. D., Araújo, A. G. T. D., Guerra, V. M., & Sousa, D. F. M. D. (2006). Correlatos valorativos das motivações para responder sem preconceito. Psicologia: Reflexão e Crítica, 19, 422-432. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/prc/v19n3/a11v19n3.pdf
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) para conhecer as motivações interna e externa para responder sem preconceito frente a negros. Nessa direção, a presente pesquisa ora descrita foca precisamente nos valores humanos, considerados como um elemento-chave do sistema cognitivo das pessoas, exercendo influência em atitudes, opiniões e comportamentos (Rokeach, 1973Rokeach, M. (1973). The nature of human values. New York: Free Press.). Porém, diferentemente do estudo anteriormente citado, que considerou motivações para responder sem preconceito, neste se procura conhecer em que medida os valores se correlacionam com a homofobia. A propósito, considera-se uma perspectiva funcionalista dos valores, como descrita a seguir.

Uma Abordagem Funcionalista dos Valores Humanos

Considerando o papel dos valores como princípios que guiam os seres humanos, influenciando seus comportamentos e atitudes, a psicologia social tem contribuído com alguns modelos teóricos a respeito (Gouveia, 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Maio, 2010Maio, G. R. (2010). Mental representations of social values. Em M. Zanna (Ed.), Advances in experimental social psychology (vol. 42, pp. 1-43). San Diego, CA: Elsevier Academic Press). Apesar das diversas abordagens, a teoria Funcionalista dos Valores Humanos vem se configurando como uma solução parcimoniosa e promissora (Gouveia, Milfont, & Guerra, 2014Gouveia, V. V., Milfont, T. L., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its content and structure hypotheses. Personality and Individual Differences, 60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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), permitindo explicar diversos construtos (Gouveia, 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Gouveia, Fonseca, Milfont, & Fischer, 2011Gouveia, V. V., Fonseca, P. N., Milfont, T. L., & Fischer, R. (2011). Valores humanos: Contribuições e perspectivas teóricas. Em C. V., Torres & E. R., Neiva (Eds.), Psicologia social: Principais temas e vertentes (pp. 296-313). Porto Alegre, RS: ArtMed.). Essa teoria assume a natureza benevolente do ser humano, admitindo-se apenas valores positivos, que são tidos como princípios-guia individuais que servem como padrões gerais de orientação que tomam como base as necessidades humanas. Coerente com a literatura, admite seis características dos valores humanos: (a) são conceitos ou categorias; (b) referem-se a estados desejáveis de existência; (c) transcendem situações específicas; (d) admitem diferentes graus de importância; (e) orientam a seleção ou avaliação de comportamentos e eventos; e (f) representam cognitivamente as necessidades humanas (Gouveia et al., 2011Gouveia, V. V., Fonseca, P. N., Milfont, T. L., & Fischer, R. (2011). Valores humanos: Contribuições e perspectivas teóricas. Em C. V., Torres & E. R., Neiva (Eds.), Psicologia social: Principais temas e vertentes (pp. 296-313). Porto Alegre, RS: ArtMed.).

Essa teoria admite duas funções principais dos valores humanos (Gouveia et al., 2011Gouveia, V. V., Souza, L. E. C. D., Vione, K. C., Cavalcanti, M. D. F. B., Santos, W. S. D., & Medeiros, E. D. D. (2011). Motivation to respond without prejudice: Evidences of a measure toward gays and lesbians. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24, 458-466. doi: 10.1590/S0102-79722011000300006
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, 2014Gouveia, V. V., Milfont, T. L., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its content and structure hypotheses. Personality and Individual Differences, 60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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; Gouveia, Milfont, Fischer, & Santos, 2008Gouveia, V. V., Milfont, T. L., Fischer, R., & Santos, W. S. (2008). Teoria funcionalista dos valores humanos. Em M. L. M., Teixeira (Ed.), Valores humanos e gestão: Novas perspectivas (pp. 47-80). São Paulo: Editora Senac.): (1) guiar os comportamentos humanos e (2) dar expressão às necessidades humanas. A primeira função pode ser denominada como o tipo de orientação, admitindo três critérios de orientação: pessoal, social e central. Pessoas guiadas por valores pessoais procuram alcançar seus próprios benefícios ou assegurar as condições em que estes possam ser alcançados; pessoas que assumem os valores sociais priorizam a convivência com os demais; e, por fim, aquelas que se guiam por valores centrais não se limitam a essa dicotomia; os valores centrais expressam as necessidades mais básicas e as elevadas, que são coerentes com as orientações pessoal e social. A segunda função se refere ao tipo de motivador, estabelecendo que os valores podem ser considerados como materialistas (pragmáticos) ou humanitários (idealistas). Os primeiros dizem respeito a ideias práticas, a orientação para metas específicas e regras normativas, enquanto os segundos se referem a ideias e princípios mais abstratos, expressando uma orientação universal (Gouveia, 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Gouveia et al., 2008Gouveia, V. V., Milfont, T. L., Fischer, R., & Santos, W. S. (2008). Teoria funcionalista dos valores humanos. Em M. L. M., Teixeira (Ed.), Valores humanos e gestão: Novas perspectivas (pp. 47-80). São Paulo: Editora Senac.). Os valores humanitários, diferentemente dos materialistas, não são dirigidos a metas concretas, e geralmente são não específicos.

Portanto, de acordo com essa teoria, os valores possuem duas dimensões funcionais principais: tipo de orientação (social, central e pessoal) e tipo de motivador (materialista e humanitário), correspondendo aos eixos horizontal e vertical do espaço bidimensional. A função de guiar os comportamentos ocupa o eixo horizontal, enquanto que o eixo vertical corresponde à função de dar expressão às necessidades humanas (Gouveia et al., 2008Gouveia, V. V., Milfont, T. L., Fischer, R., & Santos, W. S. (2008). Teoria funcionalista dos valores humanos. Em M. L. M., Teixeira (Ed.), Valores humanos e gestão: Novas perspectivas (pp. 47-80). São Paulo: Editora Senac.). Ao se cruzarem essas duas dimensões, tem lugar um modelo 3x2 dos valores, originando seis subfunções valorativas: experimentação, realização, existência, suprapessoal, interativa e normativa (Gouveia et al., 2014Gouveia, V. V., Milfont, T. L., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its content and structure hypotheses. Personality and Individual Differences, 60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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; Medeiros, Gouveia, Gusmão, Milfont, & Aquino, 2012Medeiros, E. D., Gouveia, V. V., Gusmão, E. E. da S., Milfont, T. L., & Aquino, T. A. A. (2012). Teoria Funcionalista dos valores humanos: Evidência e sua adequação ao contexto paraibano. Revista de Administração Mackenzie, 13, 18-44. doi: 10.1590/S1678-69712012000300003.
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). Segundo Gouveia (2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.), essa teoria não admite conflito entre os valores; apesar de alguns valores serem mais desejáveis que outros, todos são positivos. Desse modo, esses autores ressaltam que a correlação entre as seis subfunções dos valores é eminentemente positiva, sendo as correlações médias mais altas entre pessoas mais maduras e autorrealizadas.

Em suma, a teoria funcionalista contempla as hipóteses de conteúdo e estrutura, testadas no contexto brasileiro e em países diversos (e.g., Alemanha, Colômbia, Espanha, Nova Zelândia), reunindo evidências acerca de sua adequação (Ardila, Gouveia, & Medeiros, 2012Ardila, R., Gouveia, V. V., & Medeiros, E. D. (2012). Human values of Colombian people: Evidence for the functionalist theory of values. Revista Latinoamericana de Psicología, 44, 105-117. Recuperado de http://www.scielo.org.co/pdf/rlps/v44n3/v44n3a09.pdf
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; Gouveia et al., 2010Gouveia, V. V., Santos, W. S., Milfont, T. L., Fischer, R., Clemente, M., & Espinosa, P. (2010). Teoría funcionalista de los valores humanos en España: Comprobación de las hipótesis de contenido y estructura. Interamerican Journal of Psychology, 44, 213-224.; 2014Gouveia, V. V., Milfont, T. L., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its content and structure hypotheses. Personality and Individual Differences, 60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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; Medeiros et al., 2012Medeiros, E. D., Gouveia, V. V., Gusmão, E. E. da S., Milfont, T. L., & Aquino, T. A. A. (2012). Teoria Funcionalista dos valores humanos: Evidência e sua adequação ao contexto paraibano. Revista de Administração Mackenzie, 13, 18-44. doi: 10.1590/S1678-69712012000300003.
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). Comparada com modelos prévios, essa teoria se destaca por ser integradora, reunindo duas funções principais capazes de abarcar o universo dos valores básicos. Portanto, parece razoável empregá-la para conhecer o preconceito sexual; antes, contudo, parece pertinente conhecer o que se sabe a respeito dos correlatos valorativos desse tipo de preconceito.

Valores Humanos e Homofobia

É possível encontrar estudos que relacionam os valores com a homofobia. Por exemplo, Licciardello, Castiglione e Rampullo (2011Licciardello, O., Castiglione, C., & Rampullo, A. (2011). Intergroup contact, value system and the representation of homosexuality. Procedia - Social and Behavior Sciences, 30, 1467- 1471. doi: 10.1016/j.sbspro.2011.10.284
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) pesquisaram os valores humanos, os contatos entre grupos e a representações da sexualidade. Utilizando o Questionário de Perfis de Valores (PVQ), eles constataram que a autotranscendência e a abertura à mudança se correlacionaram negativamente com a reprovação da homossexualidade, a orientação moral a respeito dos homossexuais, a percepção da distância social em relação a eles e a representação estereotipada destes; a conformidade o fez positivamente com essas variáveis. Portanto, valores voltados a orientações pró-sociais e abertura à mudança refletem uma representação positiva da homossexualidade. Acrescenta-se que tais autores observaram que as pessoas que afirmaram conhecer mais que dez homossexuais apresentaram atitudes mais positivas em relação a eles, tendo atitudes menos estereotipadas, além de maior prontidão para o contato com homossexuais do mesmo sexo e um sistema de valores que enfocava a abertura à mudança e a orientação pró-social, sendo menor o apego à tradição.

Castillo, Rodríguez, Torres, Pérez e Martel (2003Castillo, M. N. Q. del, Rodríguez, V. B., Torres, R. R., Pérez, A.R., & Martel, E. C. (2003). La medida de la homofobia manifiesta y sutil. Psicothema, 15, 197-204. Recuperado de http://www.psicothema.com/pdf/1045.pdf
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) observaram que a manifestação dos tipos flagrante e sutil da homofobia difere segundo a prioridade dada aos tipos motivacionais prazer, tradição e poder. Especificamente, a homofobia flagrante foi diretamente explicada pelos valores citados, ao passo que apenas o valor tradição possui poder preditivo (+) em relação à homofobia sutil. A partir desses achados, concluiu-se que os valores se configuraram como preditores da homofobia quando esta se manifesta de maneira aberta (flagrante), porém não parece tão preponderante para a predição de sua faceta mais sutil ou menos declarada, uma vez que apenas o valor tradição se correlacionou a essa dimensão do preconceito homofóbico. Entretanto, parecem necessários mais estudos para dirimir essa questão.

No contexto brasileiro, os estudos sobre valores humanos e preconceito sexual ainda são escassos, embora existam algumas evidências. Por exemplo, Bonfim-Duarte, Duarte, Guerra, Cintra e Scarpati (2011Bonfim-Duarte, C. N., Duarte, L. C. B., Guerra, V. M., Cintra, C. L., & Scarpati, A. S. (2011). O poder preditivo dos valores humanos na explicação da homofobia. Anais do 3º Simpósio Internacional de Valores Humanos e Gestão, 6 e 7 de outubro de 2011, Instituto Presbiteriano Mackenzie, São Paulo.) apontaram o poder preditivo dos valores unicamente no que se refere à homofobia sutil. Concretamente, semelhante ao verificado por Castillo et al. (2003Castillo, M. N. Q. del, Rodríguez, V. B., Torres, R. R., Pérez, A.R., & Martel, E. C. (2003). La medida de la homofobia manifiesta y sutil. Psicothema, 15, 197-204. Recuperado de http://www.psicothema.com/pdf/1045.pdf
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), tais autores verificaram que valores normativos (e.g., tradição) possuem um poder preditivo (+) em relação a manifestação sutil da homofobia. Nesse marco, há que se indicar que tais achados relativos à homofobia têm seguido a mesma direção daqueles referentes aos estudos que relacionam os valores com o preconceito em relação a outros grupos, como os negros. A propósito, Vasconcelos, Gouveia, Souza Filho, Sousa e Ribeiro (2004Vasconcelos, T. C., Gouveia, V. V., Souza Filho, M. L. de, Sousa, D. M. F. de, & Ribeiro, G. R. de (2004). Preconceito e intenção em manter contato social: Evidências acerca dos valores humanos. Psico-USF, 9, 147-154. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v9n2/v9n2a05.pdf
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) observaram uma correlação positiva entre atitudes preconceituosas e o valor poder, tendo tal correlação sido negativa com os valores suprapessoais (conhecimento, justiça social e maturidade).

Embora não diretamente relacionado com a questão da homofobia, a pesquisa de Martínez, Paterna e Gouveia (2006Martínez, M. C., Paterna, C., & Gouveia, V. V. (2006). Relevancia del modelo dual de valores en relación con el prejuicio y la intención de contacto hacia exogrupos. Anales de Psicología, 22, 243-250. Recuperado de http://www.um.es/analesps/v22/v22_2/09-22_2.pdf
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) pode proporcionar um direcionamento acerca da relação entre as atitudes homofóbicas e os valores humanos. Eles estudaram em que medida os valores, desde a perspectiva funcionalista (Gouveia, 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.), poderiam se correlacionar com o preconceito e a intenção de manter contato social com ciganos, considerando uma amostra de 209 pessoas da população geral da Espanha. Seus achados foram apoiados no modelo dual dos valores (p < 0,01), que acentua a dicotomia igualitarismo (ênfase na justiça social, na harmonia, benevolência) - individualismo (vertical, ênfase na realização, na ética protestante). Especificamente, eles observaram que as pessoas que deram importância aos valores suprapessoais (igualitarismo) endossaram atitudes mais favoráveis e mostraram mais disposição para o contato social com os ciganos (r = 0,27 e 0,29, respectivamente), enquanto um padrão inverso foi constatado para os que se guiavam por valores de realização (individualismo) (r = -0,19 e -0,24, respectivamente). Destaca-se que a Espanha é uma cultura mais individualista horizontal (prima a privacidade, a autodireção) do que o Brasil, claramente mais individualista ou coletivista vertical (poder e obediência, respectivamente, são atributos mais endossados) (Gouveia, Albuquerque, Clemente, & Espinosa, 2002Gouveia, V. V., Albuquerque, F. J. B., Clemente, M., & Espinosa, P. (2002). Human values and social identities: A study in two collectivist cultures. International Journal of Psychology, 37, 333-342. doi: 10.1080/00207590244000179
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).

Em resumo, parece evidente que os valores podem ter um papel preponderante na explicação do preconceito, especificamente de atitudes homofóbicas. Seguindo a fundamentação de Martínez et al. (2006Martínez, M. C., Paterna, C., & Gouveia, V. V. (2006). Relevancia del modelo dual de valores en relación con el prejuicio y la intención de contacto hacia exogrupos. Anales de Psicología, 22, 243-250. Recuperado de http://www.um.es/analesps/v22/v22_2/09-22_2.pdf
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), esperar-se-ia que o endosso de valores de realização promovesse atitudes mais homofóbicas, enquanto que as pessoas guiadas por aqueles suprapessoais se mostrariam menos homofóbicas. Concretamente, o presente estudo foi pensado com o fim de conhecer se esse pode ser o padrão esperado em um contexto mais normativo, como pode ser uma cidade do interior do Nordeste (Gouveia et al., 2002Gouveia, V. V., Albuquerque, F. J. B., Clemente, M., & Espinosa, P. (2002). Human values and social identities: A study in two collectivist cultures. International Journal of Psychology, 37, 333-342. doi: 10.1080/00207590244000179
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). Portanto, objetivou-se conhecer o papel dos valores humanos para explicar as atitudes homofóbicas, mas também se estas variam em razão do sexo do respondente.

Método

Participantes

Contou-se com a participação de 174 estudantes universitários de uma cidade do interior do Nordeste, apresentando idades de 17 a 56 anos (M = 22,3; DP = 4,60), a maioria mulher (57,6%) e solteira (94,7%), percebendo-se como de classe média (68%) e medianamente religiosa (53,3%); destes, 94,2% se declararam ter orientação heterossexual, 3,5% bissexual e 2,3% homossexual. Tratou-se de amostra de conveniência, tendo participado as pessoas que, presentes em sala de aula, concordaram em colaborar voluntariamente.

Instrumentos

Os participantes receberam um livreto contendo os seguintes instrumentos, além de informações demográficas perguntadas ao final (classe social, estado civil, idade, orientação sexual, religiosidade e sexo):

Escala de Homofobia Explícita e Implícita. Desenvolvida por Castillo et al. (2003Castillo, M. N. Q. del, Rodríguez, V. B., Torres, R. R., Pérez, A.R., & Martel, E. C. (2003). La medida de la homofobia manifiesta y sutil. Psicothema, 15, 197-204. Recuperado de http://www.psicothema.com/pdf/1045.pdf
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) e adaptada ao contexto brasileiro por Marinho et al. (2004Marinho, C. de A., Marques, E. F. M., Almeida, D. R. de Menezes, A. R. B. de, & Guerra, V. M. (2004). Adaptação da escala de homofobia explícita e implícita ao contexto brasileiro. Paideia, 14, 371-379. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/paideia/v14n29/12.pdf
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), reúne 17 itens respondidos em escala de sete pontos, variando de 1 (Discordo totalmente) a 7 (Concordo totalmente), cobrindo dois fatores: homofobia explícita [10 itens; e.g., Por sua própria condição, os(as) homossexuais nunca alcançarão o mesmo nível de desenvolvimento pessoal que os heterossexuais] e homofobia implícita [7 itens; e.g., Acredito que os valores religiosos e éticos dos(as) homossexuais são diferentes dos heterossexuais]. Esses fatores apresentaram alfas de Cronbach de 0,79 e 0,74, respectivamente, na versão adaptada. Apesar de os autores denominarem os fatores de homofobia explícita e implícita, não se trata, neste último caso, de medidas de associação implícita (Gouveia, Athayde, Mendes, & Freire, 2012Gouveia, V. V., Athayde, R. A., Mendes, L. A. C., & Freire, S. E. (2012). Introdução às medidas implícitas: Conceitos, técnicas e contribuições. Diaphora, 11, 80-92. Recuperado de http://www.sprgs.org.br/diaphora/ojs/index.php/diaphora/article/view/50/0
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). Desse modo, entende-se que ambas são medidas explícitas que procuram avaliar a homofobia em suas manifestações flagrante e sutil, respectivamente. Prefere-se, pois, com o fim de evitar confusões entre os termos, adotar estas nomenclaturas no presente estudo, isto é, homofobia flagrante para denominar a manifestação explícita e homofobia sutil para a forma implícita.

Questionário dos Valores Básicos (Gouveia et al., 2008Gouveia, V. V., Milfont, T. L., Fischer, R., & Santos, W. S. (2008). Teoria funcionalista dos valores humanos. Em M. L. M., Teixeira (Ed.), Valores humanos e gestão: Novas perspectivas (pp. 47-80). São Paulo: Editora Senac.). Compreende um conjunto de 18 valores específicos, três para representar cada uma das seis subfunções: experimentação (emoção, prazer e sexualidade), realização (êxito, poder e prestígio), existência (estabilidade pessoal, saúde e sobrevivência), suprapessoal (beleza, conhecimento e maturidade), interativa (afetividade, apoio social e convivência) e normativa (obediência, religiosidade e tradição). Com o fim de respondê-los, a pessoa tem em conta cada valor e o avalia, em escala de sete pontos, variando de 1 (Decididamente não importante) a 7 (Extremamente importante), o quão importante ele é como um princípio-guia em sua vida. Evidências sobre seus parâmetros psicométricos estão disponíveis na literatura (Gouveia, 2003Gouveia, V. V. (2003). A natureza motivacional dos valores humanos: Evidências acerca de uma nova tipologia. Estudos de Psicologia (Natal), 8, 431-433. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n3/19965
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, 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Gouveia et al., 2014Gouveia, V. V., Milfont, T. L., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its content and structure hypotheses. Personality and Individual Differences, 60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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).

Procedimento

Os participantes foram abordados em instituições de ensino superior públicas e particulares. Inicialmente, todos foram informados a respeito da pesquisa, considerando seus objetivos, riscos e benefícios, e, posteriormente, aqueles que concordaram em participar voluntariamente tiveram que assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, resguardando seus direitos, inclusive de deixar o estudo a qualquer momento, sem penalização, se o desejassem. Finalmente, deu-se início a aplicação dos questionários, que eram autoaplicáveis, embora um dos pesquisadores se fizesse presente para dirimir eventuais dúvidas. Em média, as pessoas concluíram sua participação em 20 minutos. Destaca-se que foram cumpridos os preceitos éticos exigidos no tocante a pesquisa com seres humanos, tendo esta pesquisa recebido parecer favorável do Comitê de Ética.

Análise de Dados

Para a tabulação e análise de dados, utilizou-se o pacote estatístico PASW (Predictive Analytics Software; versão 18). Calcularam-se estatísticas descritivas (média e desvio-padrão) e inferenciais, como correlação, regressão linear múltipla e Manova.

Resultados

Como primeiro passo, calcularam-se as correlações entre os valores e suas subfunções com as diferentes manifestações da homofobia, isto é, considerando suas pontuações flagrante (explícita) e sutil (implícita), mas também tendo em conta a pontuação total das atitudes homofóbicas, reunindo todos os itens da medida respectiva. Os resultados são mostrados na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1
Correlatos Valorativos da Homofobia

Homofobia flagrante. Suas pontuações se correlacionaram com as subfunções normativa (r = 0,35, p < 0,01), realização (r = 0,26, p < 0,01) e existência (r = 0,20, p < 0,05). Em termos dos valores específicos, tais correlações foram as que se descrevem: religiosidade (r = 0,34, p < 0,01), obediência (r = 0,22, p < 0,01), poder (r = 0,21, p < 0,01), estabilidade pessoal (r = 0,19, p < 0,05), prestígio (r = 0,18, p < 0,05), êxito (r = 0,17, p < 0,05), tradição (r = 0,16, p < 0,01), conhecimento e saúde (r = 0,15, p < 0,05 para ambos).

Homofobia sutil. Correlacionou-se com duas subfunções valorativas: realização e normativa (r = 0,26, p < 0,01 para ambas). Entretanto, no caso dos valores específicos, observou-se que tais atitudes se correlacionaram também com o valor da subfunção suprapessoal (conhecimento, r = 0,19, p < 0,05); os demais valores foram como seguem: êxito (r = 0,21, p < 0,01), obediência (r = 0,22, p < 0,01), poder (r = 0,26, p < 0,01) e religiosidade (r = 0,22, p < 0,01).

Homofobia geral. Quando a pontuação total da medida de atitudes homofóbicas foi considerada, quatro subfunções valorativas se correlacionaram com ela: realização (r = 0,28, p < 0,01), normativa (r = 0,32, p < 0,01), existência e suprapessoal (r = 0,16, p < 0,05 para ambas). No que tange aos valores específicos, os seguintes foram aqueles com os quais essa pontuação geral mais se correlacionou: religiosidade (r = 0,30, p < 0,01), obediência (r = 0,23, p < 0,01), poder (r = 0,25, p < 0,01), êxito (r = 0,20, p < 0,05), conhecimento (r = 0,19, p < 0,05), estabilidade pessoal e prestígio (r = 0,18, p < 0,05 para ambos).

Parece claro, portanto, que os valores se correlacionam com as atitudes homofóbicas. Entretanto, em razão de os valores serem intercorrelacionados (Gouveia, 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.), é complexo estabelecer em que medida eles explicam a variabilidade em tais atitudes. Nesse caso, como segundo passo, decidiu-se avaliar o poder explicativo dos valores na homofobia, realizando três análises de regressão múltipla (uma para cada dimensão da homofobia - flagrante e sutil - e outra para a pontuação geral, tomando-se conjuntamente todos os itens da escala), adotando o método de estimação stepwise, que minimiza o efeito de multicolinearidade. Essa técnica fornece um meio objetivo para a seleção de variáveis, maximizando a previsão ao mesmo tempo em que considera o menor número de variáveis, sendo mais adequada em estudos exploratórios, como o realizado (Abbad & Torres, 2002Abbad, G., & Torres, C. V. (2002). Regressão múltipla stepwise e hierárquica em psicologia organizacional: Aplicações, problemas e soluções. Estudos de Psicologia, 7, 19-29. Recuperado de http://scielo.br/pdf/%0D/epsic/v7nspe/a04v7esp.pdf
http://scielo.br/pdf/%0D/epsic/v7nspe/a0...
; Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados. Porto Alegre, RS: Bookman.). Esclarece-se que apenas as subfunções valorativas com correlações significativas foram incluídas como variáveis antecedentes, tendo como variáveis-critério as dimensões de homofobia. Os resultados são mostrados na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2
Regressão Linear da Homofobia (Geral, Flagrante e Sutil), Tendo os Valores como Preditores

No que diz respeito à homofobia flagrante, ou seja, aquela que é expressa abertamente, apenas a subfunção normativa (β = 0,35, p < 0,001) a explicou satisfatoriamente, dando conta de 11% da variância (R² ajustado). Portanto, pessoas guiadas por tradição, que valorizam a obediência e a religiosidade, tendem a manifestar atitudes homofóbicas de modo mais aberto. Resultado relativamente similar foi observado para a manifestação sutil da homofobia, uma vez que foi verificado que sua explicação decorreu da importância atribuída às subfunções normativa (β = 0,26, p < 0,001) e realização (β = 0,20, p < 0,05), responsáveis conjuntamente por 9% da variância observada (R² ajustado). Desse modo, pessoas que endossam o tipo motivador materialista, seguindo normas sociais e princípios hierárquicos tendem a manifestar a homofobia de maneira mascarada. Por fim, os achados para a pontuação total das atitudes homofóbicas corroboram o anteriormente descrito. Concretamente, verificou-se que as subfunções realização (β = 0,32, p < 0,001) e normativa (β = 0,19, p < 0,05) explicaram, conjuntamente, 12% da variância total do fator geral de homofobia (R² ajustado).

Por último, efetuou-se uma Manova tendo como variável antecedente o sexo dos participantes e variáveis-critério as dimensões sutil e flagrante, assim como o fator geral da homofobia. No caso, constataram-se diferenças na homofobia expressa por homens e mulheres [Lambda de Wilks = 0,90, F (2, 165) = 8,86, p < 0,001, η² = 0,95]. Especificamente, observaram-se diferenças apenas entre as médias de manifestação da homofobia sutil, em que os homens obtiveram maior média (M = 3,7, DP = 0,13) do que as mulheres (M = 3,1, DP = 0,11) [F (1, 166) = 12,81, p < 0,001].

Discussão

O presente estudo procurou explicar a homofobia a partir dos valores humanos, tomando em conta a teoria funcionalista dos valores (Gouveia, 2003Gouveia, V. V. (2003). A natureza motivacional dos valores humanos: Evidências acerca de uma nova tipologia. Estudos de Psicologia (Natal), 8, 431-433. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n3/19965
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; 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Gouveia et al., 2014Gouveia, V. V., Milfont, T. L., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its content and structure hypotheses. Personality and Individual Differences, 60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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), assim como saber se tais atitudes variavam em razão do sexo do respondente. Estima-se que esses objetivos tenham sido alcançados. Concretamente, observou-se que as subfunções normativa e realização permitiram explicar as atitudes homofóbicas, sendo sua dimensão sutil variável em razão do sexo do respondente. Ademais, verificou-se uma convergência com estudos prévios, e isso permite pensar na natureza heurística do presente estudo, que foca tema ainda escassamente tratado no Brasil, como as atitudes homofóbicas.

Estudos têm apontado que o preconceito contra homossexuais se encontra atrelado ao desejo dos heterossexuais de manter as tradições relativas ao gênero, de modo que a homossexualidade seria percebida como uma transgressão de padrões esperados no âmbito da sexualidade desde a tradição judaico-cristã (Pereira, Torres, Pereira, & Falcão, 2011Pereira, C. R., Torres, A. R. R., Pereira, A., & Falcão, L. C. (2011). Preconceito contra homossexuais e representações sociais da homossexualidade em seminaristas católicos e evangélicos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 27, 73-82. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n1/a10v27n1
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). Os resultados do presente estudo em certa medida corroboram essa perspectiva, uma vez que foi verificado poder preditivo consistente da subfunção normativa (religiosidade, obediência e tradição) na manifestação de atitudes homofóbicas. Pessoas que se pautam por essa subfunção se apegam mais às tradições, prendendo-se a ideias concretas, orientando seu comportamento para o aqui e agora (Gouveia, 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Gouveia et al., 2014Gouveia, V. V., Milfont, T. L., & Guerra, V. M. (2014). Functional theory of human values: Testing its content and structure hypotheses. Personality and Individual Differences, 60, 41-47. doi: 10.1016/j.paid.2013.12.012
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). Dessa forma, seu preconceito frente aos homossexuais parece coerente, expressando uma repulsa ao diferente, procurando preservar os padrões nos quais foram educados.

Essa associação entre valores normativos e preconceito homofóbico foi observada em Bonfim-Duarte et al. (2011Bonfim-Duarte, C. N., Duarte, L. C. B., Guerra, V. M., Cintra, C. L., & Scarpati, A. S. (2011). O poder preditivo dos valores humanos na explicação da homofobia. Anais do 3º Simpósio Internacional de Valores Humanos e Gestão, 6 e 7 de outubro de 2011, Instituto Presbiteriano Mackenzie, São Paulo.), encontrando reflexo no estudo de Belo, Gouveia, Raymundo e Marques (2005Belo, R. P., Gouveia, V. V., Raymundo, J. da S., & Marques, C. M. C. (2005). Correlatos valorativos do sexismo ambivalente. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18, 7-15. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/prc/v18n1/24812.pdf
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), que, embora não tenham estudado homofobia, perceberam que o sexismo (prática que endossa a visão tradicional de superioridade masculina) também se associou com valores normativos. Coerente com esses achados, constata-se que pessoas que endossam valores normativos tendem a uma visão mais conservadora das experiências sexuais (Guerra, Gouveia, Sousa, Lima, & Freires, 2012Guerra, V. M., Gouveia, V. V., Sousa, D. M., Lima, T. J., & Freires, L. A. (2012). Sexual liberalism - conservatism: The effect of human values, gender, and previous sexual experience. Archives of Sexual Behavior, 37, 855-990. doi: 10.1007/s10508-012-9936-4
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). Desse modo, elas apresentam um olhar mais preconceituoso e estereotipado das relações sexuais e afetivas desviantes dos padrões tradicionais, o que é demonstrado em julgamento moral de comportamentos de gays e lésbicas, embasando uma postura homofóbica. Conclusões similares foram extraídas em estudos prévios (Castillo et al. 2003Castillo, M. N. Q. del, Rodríguez, V. B., Torres, R. R., Pérez, A.R., & Martel, E. C. (2003). La medida de la homofobia manifiesta y sutil. Psicothema, 15, 197-204. Recuperado de http://www.psicothema.com/pdf/1045.pdf
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; Licciardelo et al., 2011Licciardello, O., Castiglione, C., & Rampullo, A. (2011). Intergroup contact, value system and the representation of homosexuality. Procedia - Social and Behavior Sciences, 30, 1467- 1471. doi: 10.1016/j.sbspro.2011.10.284
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).

A literatura tem apontado também que os indivíduos que priorizam valores de realização, ou seja, aqueles que tendem a apreciar o êxito e o prestígio, enfatizando necessidades de autoestima (Gouveia et al., 2008Gouveia, V. V., Milfont, T. L., Fischer, R., & Santos, W. S. (2008). Teoria funcionalista dos valores humanos. Em M. L. M., Teixeira (Ed.), Valores humanos e gestão: Novas perspectivas (pp. 47-80). São Paulo: Editora Senac.), tendem a ser mais preconceituosas (Castillo et al., 2003Castillo, M. N. Q. del, Rodríguez, V. B., Torres, R. R., Pérez, A.R., & Martel, E. C. (2003). La medida de la homofobia manifiesta y sutil. Psicothema, 15, 197-204. Recuperado de http://www.psicothema.com/pdf/1045.pdf
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; Martínez et al., 2006Martínez, M. C., Paterna, C., & Gouveia, V. V. (2006). Relevancia del modelo dual de valores en relación con el prejuicio y la intención de contacto hacia exogrupos. Anales de Psicología, 22, 243-250. Recuperado de http://www.um.es/analesps/v22/v22_2/09-22_2.pdf
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; Vasconcelos et al., 2004Vasconcelos, T. C., Gouveia, V. V., Souza Filho, M. L. de, Sousa, D. M. F. de, & Ribeiro, G. R. de (2004). Preconceito e intenção em manter contato social: Evidências acerca dos valores humanos. Psico-USF, 9, 147-154. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v9n2/v9n2a05.pdf
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). De fato, como apontando por Vasconcelos et al. (2004Vasconcelos, T. C., Gouveia, V. V., Souza Filho, M. L. de, Sousa, D. M. F. de, & Ribeiro, G. R. de (2004). Preconceito e intenção em manter contato social: Evidências acerca dos valores humanos. Psico-USF, 9, 147-154. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v9n2/v9n2a05.pdf
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), o endosso da subfunção realização indica uma pessoa que prioriza seus próprios interesses em detrimento daqueles dos demais, apreciando os sentimentos de ser importante e poderoso, buscando manter relações desiguais que lhe favoreçam. Nesse âmbito, a combinação dessa subfunção com a normativa subsidia uma postura conservadora voltada para o apoio à hierarquia e conservação da ordem, de modo que uma prática como a homossexualidade é percebida como uma ameaça à manutenção da estrutura social e preservação da desigualdade, "justificando" a manifestação da homofobia como uma forma de conter essa transgressão.

Um achado não esperado foi a correlação positiva da subfunção suprapessoal com a pontuação total de homofobia, sobretudo influenciada pelo valor conhecimento. Na literatura, tem sido observado que valores relativos a essa subfunção promovem atitudes não preconceituosas, ao menos frente aos ciganos (Martínez et al., 2006Martínez, M. C., Paterna, C., & Gouveia, V. V. (2006). Relevancia del modelo dual de valores en relación con el prejuicio y la intención de contacto hacia exogrupos. Anales de Psicología, 22, 243-250. Recuperado de http://www.um.es/analesps/v22/v22_2/09-22_2.pdf
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) e negros (Vasconcelos et al., 2004Vasconcelos, T. C., Gouveia, V. V., Souza Filho, M. L. de, Sousa, D. M. F. de, & Ribeiro, G. R. de (2004). Preconceito e intenção em manter contato social: Evidências acerca dos valores humanos. Psico-USF, 9, 147-154. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v9n2/v9n2a05.pdf
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). Uma explicação pode ser dada em termos do grupo-alvo do presente estudo (homossexuais), da cultura tradicional do interior do Piauí (Parnaíba) e o conteúdo desse valor ("procurar notícias atualizadas sobre assuntos pouco conhecidos" e "tentar descobrir coisas novas sobre o mundo"). Quiçá para pessoas mais tradicionais, quando envolve um grupo que implica em questões morais, como a sexualidade, a ideia de se atualizar implica buscar fundamentos (noticiais) que justifiquem seu preconceito. Portanto, o modelo dual encontra apenas respaldo parcial neste estudo, reforçando o papel dos valores de realização como promotores do preconceito (Martínez et al., 2006Martínez, M. C., Paterna, C., & Gouveia, V. V. (2006). Relevancia del modelo dual de valores en relación con el prejuicio y la intención de contacto hacia exogrupos. Anales de Psicología, 22, 243-250. Recuperado de http://www.um.es/analesps/v22/v22_2/09-22_2.pdf
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).

Nesse cenário, é importante destacar a consistência dos achados com a teoria Funcionalista dos Valores (Gouveia, 2013Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valores humanos: Fundamentos, aplicações e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.). Especificamente, constata-se que pessoas que se pautam por valores materialistas, independentemente do tipo de orientação, costumam ser mais preconceituosas, apresentando nível mais elevado de homofobia. Isso se explica em razão da menor abertura à mudança dessas pessoas, apegando-se mais a padrões culturais rígidos, priorizando sua sobrevivência e/ou a de seu grupo mais imediato.

No tocante às diferenças entre os níveis de homofobia manifesta entre os sexos, observou-se que os homens são mais homofóbicos que as mulheres, como já apontando na literatura (Cárdenas & Barrientos, 2008Cárdenas, M., & Barrientos, J. (2008). Actitudes explícitas e implícitas hacia los hombres homosexuales en una muestra de estudiantes universitarios en Chile. Psykhe, 17, 17-25. doi: 10.4067/S0718-22282008000200002
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; Marinho et al., 2004Marinho, C. de A., Marques, E. F. M., Almeida, D. R. de Menezes, A. R. B. de, & Guerra, V. M. (2004). Adaptação da escala de homofobia explícita e implícita ao contexto brasileiro. Paideia, 14, 371-379. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/paideia/v14n29/12.pdf
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; Poteat et al., 2011Poteat, V. P., O'Dwyer, L. M., & Mereish, E. H. (2011). Changes in how students use and are called homophobic epithets over time: Patterns predicted by gender, bullying, and victimization status. Journal of Educational Psychology, 104, 393-406. doi: 10.1037/a0026437
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). Especificamente, na mesma direção de Marinho et al. (2004Marinho, C. de A., Marques, E. F. M., Almeida, D. R. de Menezes, A. R. B. de, & Guerra, V. M. (2004). Adaptação da escala de homofobia explícita e implícita ao contexto brasileiro. Paideia, 14, 371-379. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/paideia/v14n29/12.pdf
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), constatou-se que indivíduos do sexo masculino, quando comparados com os do sexo feminino, apresentaram maior homofobia sutil, o que também pareceu evidente em estudos prévios (Gouveia et al., 2011Gouveia, V. V., Souza, L. E. C. D., Vione, K. C., Cavalcanti, M. D. F. B., Santos, W. S. D., & Medeiros, E. D. D. (2011). Motivation to respond without prejudice: Evidences of a measure toward gays and lesbians. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24, 458-466. doi: 10.1590/S0102-79722011000300006
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; Pettigrew & Meertens, 1995Pettigrew, T. F., & Meertens, R. W. (1995). Subtle and blatant prejudice in Western Europe. European Journal of Social Psychology, 25, 57-75. doi: 10.1002/ejsp.2420250106
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; Sears & Henry, 2005Sears, D. O., & Henry, P. J. (2005). Over thirty years later: A contemporary look at symbolic racism. Em M. Zanna (Ed.), Advances in experimental social psychology (vol. 37, pp. 95-150). San Diego, CA: Elsevier Academic Press.).

Considerações Finais

Por meio dos achados apresentados, confia-se que o presente estudo tenha contribuído para a ampliação da literatura no âmbito do preconceito sexual, demonstrando sua relação com os valores humanos. Não obstante, é possível que o número reduzido de participantes e o compartilhamento da cultura universitária, resultando em uma baixa variabilidade das respostas, constituam vieses deste estudo. Pode-se citar, ainda, enquanto limitação, o uso exclusivo de medidas de autorrelato, visto que as respostas dos indivíduos a esse tipo de instrumento podem ser falseadas ou mascaradas, especialmente no se refere ao preconceito e aos valores, construtos afetados pela desejabilidade social. Todavia, tais limitações não invalidam os achados previamente descritos, que foram, no geral, na direção do que tem sido observado na literatura.

Por fim, espera-se que este estudo possa fomentar pesquisas futuras nesse campo. Nessa direção, demandam-se estudos para compreender de maneira mais aprofundada os fatores precipitantes e mantenedores da homofobia, incluindo amostras maiores e mais diversas. No caso, quiçá fosse interessante considerar diferentes grupos, incluindo aqueles que evocam conteúdo moral (e.g., homossexuais, prostitutas) e os mais neutros (e.g., negro, obesos), assim como de diversas regiões do Brasil, evidenciando níveis diferentes de adesão a normas sociais tradicionais (Gouveia et al., 2002Gouveia, V. V., Albuquerque, F. J. B., Clemente, M., & Espinosa, P. (2002). Human values and social identities: A study in two collectivist cultures. International Journal of Psychology, 37, 333-342. doi: 10.1080/00207590244000179
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). Sugere-se, ainda, o uso de medidas implícitas com o intuito de controlar o viés atrelado à desejabilidade social presente em medidas de autorrelato (Gouveia et al., 2012Gouveia, V. V., Athayde, R. A., Mendes, L. A. C., & Freire, S. E. (2012). Introdução às medidas implícitas: Conceitos, técnicas e contribuições. Diaphora, 11, 80-92. Recuperado de http://www.sprgs.org.br/diaphora/ojs/index.php/diaphora/article/view/50/0
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2016

Histórico

  • Recebido
    16 Fev 2015
  • Revisado
    24 Jun 2015
  • Aceito
    21 Ago 2015
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