Acessibilidade / Reportar erro

Análise da Produção Científica Brasileira em Orientação Profissional: Um Convite a Novos Rumos

Analysis of the Brazilian Scientific Production in Vocational Guidance: An Invitation to New Directions

Análisis de la Producción Científica Brasileña en Orientación Profesional: una invitación a nuevas direcciones

Resumo

Este artigo apresenta uma avaliação da produção científica brasileira na área de orientação profissional no período de 2011 a 2015, dando prosseguimento a trabalhos realizados previamente por diversos pesquisadores. Paras as buscas nas bases BVS-Psi e Index-Psi, foram utilizados os termos “orientação vocacional”, “escolha profissional”, “desenvolvimento profissional” e “escolha de carreira” e o corpus de análise final foi de 70 artigos. Dentre os achados, destacam-se: uma tendência incipiente de redução do número de publicações anuais sobre o tema, redução do número de publicações teóricas ao longo do período pesquisado, bem como de estudos a respeito da qualidade de técnicas de OP; permanência de estudantes de Ensino Médio e universitários como públicos-alvo mais estudados. A agenda de pesquisas proposta em trabalhos de revisão prévios não foi plenamente atendida. Reforçam-se sugestões anteriores, acrescentando-se um convite a outras possibilidades ainda não focadas pelos pesquisadores da área.

Palavras-chave:
orientação vocacional; pesquisa científica; revisão de literatura

Abstract

This article presents an evaluation of the scientific production in vocational guidance in the period from 2011 to 2015, continuing the work previously performed by several researchers. The search was performed in Brazilian database BVS-Psi and Index-Psi using the terms Vocational Guidance, Professional Choice, Professional development and Career Choice, and the last analysis corpus was composed of 70 papers. Among the findings are: an incipient trend of reduction in the number of annual publications on the subject; reduction in the number of theoretical publications over analyzed period, as well as reduction of studies about the quality of counseling techniques; maintenance of high school and college students as the most studied target audiences. The research agenda proposed in previous reviews has not been fully met. This study reinforces earlier suggestions and adds an invitation to other possibilities not yet focused by researchers.

Keywords:
vocational guidance; scientific research; literature review

Resumen

Este artículo presenta una evaluación de la producción científica brasileña en el área de orientación profesional en el período de 2011 a abril de 2015, continuando el trabajo previamente realizado por diversos investigadores. Para las búsquedas en la bases de datos BVS-Psi e Index-Psi, los términos que se utilizaron fueron Orientación Vocacional, Elección Profesional, Desarrollo Profesional y Elección de Carrera siendo el resultado final fue de 70 artículos, destacándose: a) una tendencia incipiente de reducción del número de publicaciones anuales sobre el tema; b)reducción del número de publicaciones teóricas a lo largo del período investigado, así como de estudios referentes a la calidad de técnicas de orientación profesional; c)permanencia de estudiantes de secundaria y universitarios como el público más estudiado. La agenda de investigaciones propuestas en trabajos anteriores de revisión no fue plenamente atendida y se reforzaron sugerencias anteriores, añadiendo una invitación a otras posibilidades aún no consideradas por los investigadores del área.

Palabras-clave:
orientación vocacional; investigación científica; revisión de literatura

Introdução

A economia moderna surgiu com a revolução industrial na Inglaterra no século XVIII e, a partir das demandas surgidas das relações laborais estabelecidas nesse contexto, dois séculos depois emergiu a Orientação Profissional (OP) como um meio de auxiliar o indivíduo em suas escolhas ocupacionais (Lassance & Sparta, 2003Lassance, M. C., & Sparta, M. (2003) A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2),13-19. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902003000100003
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
). As autoras constataram na literatura que a história da OP está ligada ao modo de trabalho estabelecido na chamada Terceira Revolução Industrial, cujo objetivo estava diretamente ligado ao aumento da eficiência produtiva para atender às demandas de consumo em massa que surgia.

Diante da necessidade de resolver problemas práticos sob uma nova ordem social envolta no modo capitalista de produção, Frank Parsons, considerado por estudiosos da OP como o precursor da área (Ribeiro & Uvaldo, 2007Ribeiro, M. A., & Uvaldo, M. C. C. (2007). Frank Parsons: Trajetória do pioneiro da orientação vocacional, profissional e de carreira. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 8(1), 19-31. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902007000100003&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
), propôs a busca pela harmonia das aptidões, habilidades e interesses do indivíduo com as exigências do trabalho. Isso ocorreu em 1907 quando, sob a responsabilidade de Parsons, a OP foi oficialmente consolidada, com a criação do primeiro centro de orientação profissional norte-americano, o Vocational Bureau of Boston e com a posterior publicação do livro Choosing a Vocation (Lassance & Sparta, 2003Lassance, M. C., & Sparta, M. (2003) A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2),13-19. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902003000100003
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
).

Ao longo da primeira metade do Século XX, os modelos de orientação profissional baseados nos modelos de Traço e Fator foram predominantes e tiveram sua raiz nas ideias de Parson, especialmente no que se refere às noções de ajustamento entre características pessoais e ambientais ou das ocupações (Sparta, Bardagi, & Teixeira, 2006Sparta, M., Bardagi, M. P., & Teixeira, M. A. P.. (2006). Modelos e instrumentos de avaliação em orientação profissional: Perspectiva histórica e situação no Brasil. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 19-32. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902006000200004&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
). Posteriormente, na década de 1950, Super propôs sua teoria de desenvolvimento de carreira, que teve grande impacto até o final do século (Ambiel, 2014Ambiel, R. A. M. (2014). Adaptabilidade de carreira: Uma abordagem histórica de conceitos, modelos e teorias. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(1), 15-24. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902014000100004
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
).

Mais recentemente, novas perspectivas de orientação profissional e de carreira surgiram, impulsionadas por mudanças na relação entre as pessoas e suas carreiras (Guichard, 2015Guichard, J. (2015). From vocational guidance and career counseling to life design dialogues. Em L. Nota & J. Rossier (orgs.), Handbook of Life Design: From practice do theory and from theory to practice (pp. 11-25). Göttingen: Hogrefe.). Um exemplo disso é o paradigma Life Design (Savickas et al., 2009Savickas, M., Nota, L., Rossier, J., Dauwalder, J-P., Duarte, M. E., Guichard, J., Soresi, S., Van Esbroeck, R., & Van Vianen, A. (2009). Life designing: A paradigm for career construction in the 21st Century. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 239-250. doi: 10.1016/j.jvb.2009.04.004
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.04.00...
), que preconiza que a orientação para a carreira no Século XXI deve levar em conta a conjuntura atual do mundo trabalho, caracterizado por mudanças constantes, instabilidade, transições ocupacionais e criatividade, visando que o trabalhador possa estabelecer novos padrões de relação para oferta de seus serviços (Ribeiro et al., 2016Ribeiro, M. A., Uvaldo, M. C. C., Fonçatti, G., Audi, D. A., Agostinho, M. L., & Malki, Y. (2016). Ser adolescente no século XXI. Em R. S. Levenfus (Ed.), Orientação Vocacional e de Carreira em contextos clínicos e educativos (pp. 13-23). Porto Alegre: Artmed.; Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). Career counseling. Washington: APA.; Wright, Silva, & Spers, 2010Wright, J. T. C., Silva, A. T. B., & Spers, R. G. (2010). O mercado de trabalho no futuro: Uma discussão sobre profissões inovadoras, empreendedorismo e tendências para 2020. Revista de Administração e Inovação, 7(3), 174-197. doi: 10.5585/RAI.2010505
https://doi.org/10.5585/RAI.2010505...
). De acordo com Duarte e Cardoso (2015Duarte, M. E., & Cardoso, P. (2015). The life design paradigm: From practice to theory. Em L. Nota & J. Rossier (Eds.), Handbook of Life Design: From practice do theory and from theory to practice (pp. 41-57). Göttingen: Hogrefe.), esse paradigma visa estabelecer padrões de intervenção no contexto das decisões profissionais do ponto de vista de construção de projetos de vida, o que, segundo Watson e McMahon (2015Watson, M., & McMahon, M. (2015). An introduction to career assessment. Em M. McMahon & M. Watson (Eds.), Career assessment: qualitative approach (pp. 3-11). Rotterdam: Sense.), pode ser facilitado por técnicas de avaliação mais qualitativas, tais como entrevistas e outros tipos de técnicas não padronizadas.

No cenário brasileiro, Sparta (2003Sparta, M. (2003). A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2), 13-19. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902003000100003&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
) e Melo-Silva, Lassance e Soares (2004Melo-Silva, L. Leal, L., Pacheco, M. C., & Soares, D. H. P. (2004) A orientação profissional no contexto da educação e trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 5(2), 31-52. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902004000200005
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
) ressaltam que a área de OP foi constituída inicialmente como uma modalidade estritamente psicométrica e, por isso, mostrou-se profícua no desenvolvimento e aperfeiçoamento de instrumentos psicológicos e outros recursos técnicos, embora ainda se faça necessária a ampliação das possibilidades da avaliação psicológica no âmbito vocacional brasileiro (Abade, 2005Abade, F. L. (2005) Orientação profissional no Brasil: Uma revisão histórica da produção científica. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 6(1), 15-24. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902005000100003&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
; Sparta et al., 2006Sparta, M., Bardagi, M. P., & Teixeira, M. A. P.. (2006). Modelos e instrumentos de avaliação em orientação profissional: Perspectiva histórica e situação no Brasil. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 19-32. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902006000200004&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
). Além disso, Noronha et al. (2014Noronha, A. P. P., Ventura, C. D., Cecilio-Fernandes, D., Nery, J. C. S., Bueno, J. M. de P., Luca, L., Baroncelli Neto, I., Silva, M. A. P. (2014) Análise de Produções da Revista Brasileira de Orientação Profissional. Psico. 45(1), 26-34. Recuperado de http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/12416/11414
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/...
) demonstram que, no cenário brasileiro e ao longo da segunda metade do século XX, a OP baseou-se em práticas nem sempre submetidas à validação científica e sugerem que isso indica a necessidade de mais estudos na área, incluindo o desenvolvimento e aprimoramento de instrumentos de avaliação, bem como outras técnicas e procedimentos de intervenção utilizados.

Mediante a necessidade de unir esforços e experiências de profissionais e pesquisadores no intuito de estimular o aprimoramento da OP no Brasil, foi criada em 1993 a Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP). Desde sua criação, a ABOP tem influenciado de modo positivo o crescimento da produção cientifica no país, não apenas em quantidade, como também em qualidade, tanto por meio dos eventos científicos promovidos, quanto pela publicação da Revista Brasileira de Orientação Profissional (RBOP). Contudo, quando comparada a outras áreas da Psicologia no Brasil, Noronha et al. (2006Noronha, A. P. P., Andrade, R. G., Miguel, F. K., Nascimento, M. M., Nunes, M. F. O., Pacanaro, S. V., Ferruzzi, A. H., Sartori, F. A., Takahashi, L. T., & Cozza, H. F. P. (2006) Análise de teses e dissertações em orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 1-10. doi: 10.1590/S1413-82712006000100009
https://doi.org/10.1590/S1413-8271200600...
) afirmam que a OP desenvolveu-se pouco, mostrando-se ainda incipiente com relação aos instrumentos facilitadores da escolha profissional. Faz-se importante esclarecer que, embora a OP ainda precise de maior investimento, estudos têm constatado um aumento da produção na área a partir da década de 1990, período que coincide com a criação da ABOP (Lassance & Sparta, 2003Lassance, M. C., & Sparta, M. (2003) A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2),13-19. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902003000100003
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Noronha et al., 2006Noronha, A. P. P., Andrade, R. G., Miguel, F. K., Nascimento, M. M., Nunes, M. F. O., Pacanaro, S. V., Ferruzzi, A. H., Sartori, F. A., Takahashi, L. T., & Cozza, H. F. P. (2006) Análise de teses e dissertações em orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 1-10. doi: 10.1590/S1413-82712006000100009
https://doi.org/10.1590/S1413-8271200600...
). Considerando o crescimento significativo nas últimas décadas, importa relatar alguns estudos de levantamento de literatura sobre a temática abarcada, a fim de apresentar um panorama abrangente quanto à produção científica na área.

Noronha et al. (2006Noronha, A. P. P., Andrade, R. G., Miguel, F. K., Nascimento, M. M., Nunes, M. F. O., Pacanaro, S. V., Ferruzzi, A. H., Sartori, F. A., Takahashi, L. T., & Cozza, H. F. P. (2006) Análise de teses e dissertações em orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 1-10. doi: 10.1590/S1413-82712006000100009
https://doi.org/10.1590/S1413-8271200600...
) analisaram a produção em formato de teses e dissertações relacionadas à área de orientação profissional e vocacional (OP/OV), disponíveis nos bancos da CAPES e BVS-Psi. Foram encontrados 100 trabalhos, publicados entre 1969 e 2005 e que tiveram seus títulos, autoria, resumos e palavras-chaves analisados. Os resultados indicaram que a maior parte dos trabalhos era referente à área de Psicologia, mas também as áreas de Saúde Pública, Enfermagem e Administração estavam representadas. Observou-se um pequeno número de trabalhos financiados por órgãos de fomento, com maior volume desenvolvido em universidades públicas do que nas particulares. Por fim, os autores observaram que houve um aumento de mestrados e doutorados defendidos sobre orientação profissional ao longo das décadas, especialmente a partir da década de 1990.

Ivatiuk e Yoshida (2010Ivatiuk, A. & Yoshida, M. (2010) Orientação profissional de pessoas com deficiências: revisão da literatura (2000- 2009). Revista Brasileira de Orientação Profissional, 11(1), 95-106. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902010000100010&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
) fizeram uma revisão de artigos publicados no período de 2000 a 2009 sobre OP de pessoas com deficiências (deficiências múltiplas, físicas, mentais, visuais e auditivas) a partir de 55 referências selecionadas em bases de dados eletrônicas. Nos resultados, as autoras identificaram predomínio de artigos das áreas de Psicologia e Educação, relatando pesquisas principalmente de levantamento sobre atendimentos individuais a jovens adultos, com abordagem comportamental ou psicanalítica e com pouca ênfase na descrição dos processos. Em relação às pesquisas, notou-se que não há uma continuidade delas, o que pode sugerir pouco interesse dos pesquisadores pela área.

Em outro estudo, Ambiel e Polli (2011Ambiel, R. M., & Polli, M. F. (2011) Análise da produção cientifica brasileira sobre avaliação psicológica em orientação profissional. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 2(1),103-121. doi: 10.5433/2236-6407.2011v2n1p103
https://doi.org/10.5433/2236-6407.2011v2...
) realizaram um levantamento da literatura científica brasileira a respeito da avaliação psicológica no contexto da OP nas bases PePSIC e SciELO em agosto de 2011. Como escopo de análise, somam-se 24 artigos. Quanto aos resultados encontrados, os autores expõem algumas características das publicações encontradas e identificam aspectos, como: a predominância de autoria múltipla, com média de 2,9 autores por artigo; o termo “orientação profissional” como o mais utilizado na área; a base de dados científicos com mais artigos publicados no período entre 2000 e 2011 foi a PePSIC; quanto aos quesitos metodológicos adotados, encontrou-se que a maioria dos estudos tem o objetivo de verificar as correlações entre construtos e, por fim, observaram que dentre os testes mais utilizados, três são de avaliação de interesses profissionais e com parecer favorável do SATEPSI.

Para além da busca de artigos disponíveis em bases de dados digitais, outra estratégia utilizada para se conhecer a literatura científica de determinada área diz respeito à análise de periódicos específicos. Com o objetivo de analisar a produção científica sobre a orientação profissional e de carreira de um periódico com alto índice de impacto, Ambiel, Pinto, Lamas, Ottati e Joly (2014Ambiel, R. A. M., Pinto, L. P., Lamas, K. C. A., Ottati, F., & Joly, M. C. R. A. (2014) Orientação profissional e de carreira: Análise de um periódico internacional. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 14(4), 407-416. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1984-66572014000400007&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
) analisaram um total de 403 artigos publicados no Journal of Vocational Behavior. Os dados mostraram o predomínio de publicações estadunidenses e ausência de estudos oriundos da América do Sul. Os autores discutem as diferenças de perspectivas na orientação profissional e de carreira e a necessidade da internacionalização de estudos brasileiros.

No Brasil, foram identificados três artigos que buscaram analisar a produção específica da RBOP em diferentes períodos. No primeiro, Teixeira, Lassance, Silva e Bardagi (2007Teixeira, M. A. P., Lassance, M. C., Silva, B. M. B., & Bardagi, M. P. (2007). Produção Científica em orientação profissional: Uma análise da revista brasileira de orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 8(2), 25-40. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902007000200004
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
) encontraram resultados mostrando que a proporção de estudos empíricos aumentou entre 2003 e 2006 em comparação com o período 1997 a 1999 e que, embora a colaboração entre pesquisadores e diferentes centros de pesquisa ainda tenha sido pequena, a produção científica publicada indicou que as parcerias na produção do conhecimento aumentaram com o tempo. Quanto aos temas estudados, houve uma grande dispersão, com destaque para estudos de conceituação e história da OP e sobre modelos teóricos.

No segundo artigo, Rueda (2009Rueda, F. J. M. (2009). Produção científica da Revista Brasileira de Orientação Profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(2), 129-139. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902009000200013
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
) avaliou o mesmo periódico no período de 2003 a 2008. Os dados encontrados mostraram que a revista prezou pela homogeneidade na quantidade de publicações ao longo do tempo, com um aumento no ano de 2008, constatando-se para esse período o maior número de publicações (n = 19; M = 9,5). Quanto à análise por tipo de trabalho, o autor verificou que o relato de pesquisa foi a categoria de estudo mais utilizada (n = 56; 69%). Quanto à distribuição da produção por origem, identificou que o Sudeste foi a região que mais publicou no período. Houve ainda a predominância da autoria múltipla e um maior número de mulheres como autores principais. Foram identificados diversos testes, inventários e escalas utilizadas (nacionais, internacionais ou traduzidos para o português) e a maior parte dos trabalhos fundamentou-se em livros ou capítulos de livros e artigos de periódicos científicos.

No terceiro artigo, Noronha et al. (2014Noronha, A. P. P., Ventura, C. D., Cecilio-Fernandes, D., Nery, J. C. S., Bueno, J. M. de P., Luca, L., Baroncelli Neto, I., Silva, M. A. P. (2014) Análise de Produções da Revista Brasileira de Orientação Profissional. Psico. 45(1), 26-34. Recuperado de http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/12416/11414
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/...
) analisaram 68 artigos publicados entre 2007 e 2011, sendo 78% de relatos de pesquisa e 22% teóricos. Para os resultados, os artigos foram organizados em categorias temáticas, com maior quantidade de artigos concernentes à relação entre construtos e variáveis (n = 32; 47%). Em relação às amostras estudadas, 41% dos estudos foram desenvolvidos com adolescentes, indicando que esse público foi o mais pesquisado. Foi observada uma grande variedade de instrumentos e de técnicas utilizados nos estudos, com predominância da entrevista semiestruturada. Dentre as referências, artigos publicados a partir de 2000 foram os mais citados, com prevalência de autores estrangeiros.

Ao considerar a importância da investigação concernente à produção científica e seu benefício para a comunidade de pesquisa, o presente estudo teve como objetivo realizar um amplo mapeamento das publicações realizadas em periódicos brasileiros, referente à OP, indexados nas bases BVS e IndexPsi, no período de janeiro de 2011 a abril de 2015, a fim de identificar tendências de produção na área. Trata-se, intencionalmente, da continuidade de outros dois estudos (Noronha & Ambiel, 2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
; Aguiar & Conceição, 2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
), os quais usaram as mesmas bases eletrônicas e tema, porém investigaram períodos distintos. Tais estudos serão descritos a seguir.

Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
) analisaram a produção científica brasileira na área de OP no período compreendido entre a década de 1950 até o ano de 2005. No trabalho foram descartadas teses, dissertações, ensaios e artigos de outras áreas que não a Psicologia. Para a investigação, foram usados os termos: “orientação profissional”, “orientação vocacional”, “interesses profissionais”, “escolha profissional” e “testes de interesse”. A busca na base de dados permitiu recuperar 191 artigos com as palavras-chave descritas no método. Desses, aproximadamente 50% foram produzidos até a década de 1980 e, a partir da década de 1990, nota-se crescimento do número de publicações na área. Os principais públicos-alvo dos trabalhos foram professores, orientadores, pais e adolescentes. Os autores observam que a construção e validação de instrumentos foram assuntos pouco abordados e que existe uma confusão conceitual na área, uma vez que muitos termos são usados para definir a orientação vocacional, realçando a necessidade de organização e definição clara dos termos utilizados, além de maior aprofundamento teórico e metodológico. Quanto ao número de autores, a predominância é de pesquisas de autoria única, mas com uma tendência à coautoria.

Dando continuidade ao estudo realizado por Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
) em termos de período estudado e alguns procedimentos adotados, Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
) abrangeram os anos de 2006 a 2010. Os autores analisaram as tendências científicas apontadas pela publicação em periódicos nacionais sobre o tema Orientação Vocacional. Para a investigação, foram usados os termos: “orientação”, “escolha”, “aconselhamento”, “profissional”, “vocacional”, “carreira” e “aposentadoria”. Teses, dissertações, ensaios e resenhas não foram selecionados para análise. Considerou-se toda publicação em periódico nacional, mesmo quando se tratava de artigo com autoria internacional. Foram encontrados 108 artigos que se adequavam aos critérios estabelecidos. Verificou-se em que medida a produção em orientação vocacional tem atendido às agendas de pesquisa sugeridas por revisões anteriores, sendo constatado que estas foram atendidas parcialmente. Investigou-se também se a nomenclatura utilizada para a área (por exemplo, orientação profissional ou vocacional) tornou-se mais concisa e homogênea, o que não foi observado.

Dentre os resultados quanto à nomenclatura, percebeu-se um uso de muitos termos para descrever processos semelhantes, sem haver o cuidado dos autores de apresentar sustentação teórica adequada, sendo que a heterogeneidade parece acontecer principalmente por conta do uso dos termos “vocacional”, “profissional” e “carreira”. Identificou-se que o número de artigos na área dobrou em relação aos cinco anos anteriores. Também foi possível averiguar maior interação entre pesquisadores e mais estudos com populações diversas, como aposentados e pessoas de baixa renda, além do avanço no contexto de testes psicológicos.

Na mesma linha de Ambiel e Noronha (2006Noronha, A. P. P., Andrade, R. G., Miguel, F. K., Nascimento, M. M., Nunes, M. F. O., Pacanaro, S. V., Ferruzzi, A. H., Sartori, F. A., Takahashi, L. T., & Cozza, H. F. P. (2006) Análise de teses e dissertações em orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 1-10. doi: 10.1590/S1413-82712006000100009
https://doi.org/10.1590/S1413-8271200600...
) e de Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
), na presente pesquisa, realizou-se um mapeamento quanto à produção científica publicada em periódicos brasileiros, concernente à OP. Em uma perspectiva mais ampla, este trabalho buscou utilizar critérios semelhantes aos utilizados pelos autores citados anteriormente sem, contudo, desconsiderar o desenvolvimento científico quanto à temática explorada. Pretende-se com isso, que esta investigação da produção científica, colabore em pesquisas pertinentes à área ao identificar lacunas na produção e indicar temas que receberam pouco investimento por parte dos pesquisadores e profissionais e que possam ser explorados em futuras investigações.

Método

O primeiro passo realizado foi uma consulta à lista de terminologias em Psicologia constante na BVS-Psi para verificar os termos recomendados para uso, resultantes das múltiplas combinações possíveis com as palavras “orientação”, “escolha”, “aconselhamento”, “profissional”, “vocacional” e “carreira”, termos estes que representam parte central das seleções utilizadas por Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
) e por Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
). Percebeu-se que as combinações possíveis, quando existentes na base, são direcionadas para o uso de orientação vocacional e escolha profissional. Por esse motivo, esses foram os termos utilizados para a pesquisa nas bases de dados BVS-Psi e Index-Psi.

A pesquisa teve por foco artigos publicados em periódicos brasileiros, de 2011 até o mês de abril de 2015, sem restrições quanto à nacionalidade dos autores, ou à língua de publicação. Não foram consideradas dissertações, teses, livros e capítulos de livro. A escolha do período deveu-se aos fatos de já haver revisões similares para períodos anteriores (Noronha & Ambiel, 2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
, Aguiar e Conceição, 2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
) e de a pesquisa ter sido realizada no início de maio de 2015.

Procedeu-se, na sequência, a uma revisão das palavras-chave utilizadas nos artigos encontrados, com o intuito de verificar se a decisão tomada quanto aos termos de pesquisa era abrangente o suficiente para representar todos os artigos publicados sob o tema da OP. Foi possível identificar o uso de dois outros termos que não haviam sido considerados anteriormente e que foram também investigados neste estudo, quais sejam, desenvolvimento profissional e escolha de carreira. Nova pesquisa foi realizada com esses termos, para o mesmo período. A partir disso, iniciou-se a próxima etapa, de análise, com os artigos que atenderam aos critérios descritos.

A análise foi realizada, inicialmente, por meio da leitura dos resumos e posteriormente, se necessário para extrair as informações de interesse deste estudo, pela leitura de outras partes dos artigos. Os dados foram tabulados em uma planilha, de acordo com as categorias selecionadas, que tomaram por base os trabalhos de Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
) e de Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
). De cada artigo, foram extraídos os seguintes dados: número de autores, nome dos autores, título, ano de publicação, periódico, afiliação institucional (o que possibilita entender também a colaboração existente entre autores de diversas instituições), tipo de artigo (empírico, teórico, relato de experiência) e palavras-chave. Para os artigos do tipo empírico, foram também tabulados os seguinte dados: delineamento (quantitativo, qualitativo, misto), instrumentos utilizados e população-alvo dos estudos.

Ainda, para a análise temática, adotou-se o conjunto das categorias utilizadas por Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
) e por Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
), num total de dez categorias. São elas: 1) qualidade do processo (investigações sobre a eficácia ou análise do processo de OP); 2) qualidade da técnica (apresentação ou análise de técnicas de OP); 3) qualidade do instrumento (construção, validação ou normatização de instrumento); 4) OP para população ou situação específica (estudos com público-alvo específico, tal como aposentados, empreendedores, etc.); 5) caracterização (análise de populações específicas com relação aos interesses ou processos de escolha profissional); 6) histórico (revisões históricas de OP); 7) revisão teórica (revisões com foco na discussão teórica de um determinado conteúdo); 8) correlacional (estudos que apresentaram correlações de OP com outros construtos); 9) descritivo (descrição ou caracterização de algo relacionado ao trabalho ou carreira, como transição, estresse relativo a uma profissão); e 10) reflexão teórica (discussão sobre modelos teóricos).

Resultados e Discussão

Com os termos “orientação vocacional” e “escolha profissional” foram encontradas, inicialmente, 80 publicações. Destas, 11 não eram artigos científicos, mas editoriais (cinco), relatórios periódicos de gestão (quatro) e sínteses temáticas (duas), publicados pela RBOP. A pesquisa com os termos “desenvolvimento profissional” e “escolha de carreira” resultou em apenas dois artigos não detectados anteriormente, sendo que o objetivo de um deles, que utilizou o termo “desenvolvimento profissional” como palavra-chave, não se inseria no contexto da orientação vocacional, mas no de comprometimento de carreira e a pesquisa em questão era voltada para a área da Psicologia Organizacional. Acrescentou-se ao conjunto anterior, portanto, o artigo encontrado por meio da busca com o termo “escolha de carreira”. Assim, 70 foi o número resultante de artigos que atenderam aos critérios da pesquisa.

Dos 70 artigos, nenhum teve sua publicação em 2015. Em 2011 foram publicados 23 (33%) dos artigos e, em 2012, 20 (29%). Os anos de 2013 e 2014 contaram com a publicação de 14 (20%) e 13 (19%) artigos, respectivamente. É necessário considerar que no momento da realização da pesquisa nem todos os números de 2014 encontravam-se publicados. Por consequência, não é possível afirmar se o número de publicações relativas ao ano de 2014 encontrava-se totalizado para o tema. A despeito disso, observa-se uma queda na frequência dos artigos, sendo que os números encontrados para os anos de 2011 e 2012 mostram-se condizentes com o período anterior pesquisado por Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
).

Analisou-se, ainda, o número de autores participantes da elaboração de cada artigo. A Tabela 1 apresenta os resultados encontrados, totalizados por ano e pelo período.

Tabela 1
Número de Autores por Artigo

Nota-se que predominam os artigos elaborados por dois autores, representando 56% do total. Um maior número de artigos de dois autores também foi encontrado por Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
), que observaram a diminuição da dominância de autoria única encontrada por Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
). Mais uma vez os artigos de um único autor ocuparam a segunda posição na distribuição das publicações, com 20% do total, sendo seguidos pelos artigos escritos por 3 autores, com 17%.

Analisando-se o total de artigos elaborados por mais de um autor (56) em contraste com o número total é possível observar que, embora a parcela total do período seja alta (80%), sua proporção anual vem diminuindo, tendo atingido 57% em 2013 e apresentado certo crescimento (69%) em 2014. Esse número permaneceu, porém, abaixo dos anos anteriores, para os quais a proporção atingiu o patamar de 90%.

Foram verificadas, também, as instituições às quais os autores eram afiliados, com o intuito de identificar artigos escritos em coautoria e foram encontrados 22 artigos (31%) escritos por autores ligados a diferentes instituições. Em conjunto, as porcentagens totais de artigos elaborados por mais que um autor e de autores oriundos de diversas instituições confirmam a tendência do crescimento de trabalho em rede entre os que publicam na área de OP no Brasil, conforme também encontrado por Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
).

Analisaram-se, na sequência, as afiliações institucionais com o objetivo de verificar o número de artigos por instituição. A Tabela 2 apresenta o número de autores afiliados por instituição, que publicaram sobre o tema pesquisado no período. Instituições com 3 ou menos autores foram agrupadas em “Outras” e instituições de outros países em “Internacional”.

Tabela 2
Autores por Afiliação Institucional

Reproduzindo os achados de Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
), observa-se que o maior número de autores engajados em publicações na área de orientação vocacional era afiliado à Universidade São Francisco - USF, com 19% do total, nacionalmente seguidos pela Universidade de São Paulo - USP de Ribeirão Preto, com 9%. A somatória da autoria internacional ocupou o segundo lugar na distribuição, com 16%, mostrando predominância de trabalhos de autores de Portugal.

Avaliaram-se, ainda, os dados com relação à produtividade por autor. O número bruto de autores que publicaram sobre o tema ao menos uma vez no período foi 105. Desses, 82 (78%) participaram da elaboração de um único artigo. Os três autores que apresentaram maior produtividade na área participaram da elaboração de nove, oito e cinco artigos, representando conjuntamente pouco menos de 3% de todos os autores publicados. Observa-se que os três são afiliados às duas instituições que apresentaram o maior número de publicações no total, o que indica que a produtividade das instituições contou com a dedicação de seus afiliados ao tema de forma assídua.

A distribuição da publicação dos artigos por periódicos também foi analisada. A Tabela 3 apresenta essas informações.

Tabela 3
Frequência e Porcentagem de Publicações por Periódico

A RBOP, sendo uma publicação dedicada à área, ocupou o primeiro lugar em número de artigos publicados, alcançando 47% do total no período. Observa-se, ainda, que dos 20 periódicos que publicaram na área de OP, 13 deles contaram com a publicação de apenas um artigo. Essa parece ser uma tendência natural de distribuição, devido à existência de um periódico dedicado. Analisou-se também a qualidade da produção, de acordo com a classificação Qualis dos periódicos, segundo referência de 2014. Dos 70 artigos, quatro foram publicados em periódicos classificados como A1, 14 em A2, 45 em B1 e sete em B2.

Com relação ao tipo de artigos, foram encontrados trabalhos empíricos, teóricos e relatos de experiência. Os artigos do tipo empírico apareceram em maior número (45), representando 64% do total publicado. Com relação ao delineamento das pesquisas, predominaram as do tipo quantitativo, com 60% das publicações de cunho empírico (27 artigos), seguidas pelo qualitativo com 33% (15) e pelo misto com 7% (3). Os de tipo teórico contaram com 16 publicações, representando 23% do total e a menor participação ficou para os do tipo relato de experiências, contando com nove artigos que representaram 13% do total.

Essa distribuição difere do primeiro levantamento, visto que Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
) encontraram uma predominância de artigos teóricos, seguidos pelos empíricos, depois relatos e ainda comunicação oral. Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
), por sua vez, encontraram predominância dos artigos empíricos, seguidos pelo de cunho teórico e os relatos vinham em terceiro lugar, o que é condizente com os achados desta pesquisa. Considerando as porcentagens de distribuição, os resultados das três pesquisas, analisados em conjunto, indicam uma redução na publicação de artigos de cunho teórico na área de OP.

Os temas (objetivos) dos artigos foram também considerados. A Tabela 4 apresenta a distribuição encontrada.

Tabela 4
Distribuição dos Temas Publicados

Diferentemente do encontrado por Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
), os artigos do tipo correlacional corresponderam ao maior número de publicações (19%), mostrando um crescimento com relação ao encontrado no estudo anterior, que apontava 7% para artigos com esse tema. Na sequência, os temas qualidade do instrumento e revisão teórica obtiveram um empate, com 16% de participação cada um. Isso é condizente com o estudo de 2012, que apontou 15% na distribuição para os artigos que objetivaram verificar a qualidade do instrumento, e reproduz a redução do foco no que diz respeito aos achados de Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
), que encontraram uma distribuição de 23% para esse tipo de artigo.

Também condizente com os achados de Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
), observa-se que apenas dois estudos miraram a qualidade da técnica, o que representa que a presença desse tema perante a distribuição geral mostrou-se menor em cada estudo, desde os achados de Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
). Outra mudança observada diz respeito à categoria OP voltada para público específico, que havia representado 7% em 2006, 10% em 2012 e no período analisado contou apenas com 1% da distribuição.

Esses dados permitem algumas considerações. Por exemplo, em relação à categoria Qualidade da Técnica, deve-se ressaltar que esta é composta por estudos que visaram à análise de técnicas de avaliação ou intervenção não padronizadas, muitas vezes sem uma base teórica clara e desenvolvida para um projeto específico, sem desdobramentos ou continuidade. Assim, a queda observada nesse quesito pode representar a existência de um maior rigor por parte das revistas que, face às exigências impostas pelos sistemas de avaliação da produção científica e ao aumento da própria produção, acabam por não aceitar estudos inadequados quanto às exigências do âmbito científico. Deve-se ressaltar que o artigo de Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
) abrangeu publicações desde a década de 1950, sendo que dessa época até meados dos anos 2000 deu-se um período em que a produção científica ainda era incipiente. Por outro lado, os anos iniciais de 2000 configuraram-se como um período fértil para estudos com testes e instrumentos padronizados, por conta do surgimento do SATEPSI em 2003, entrando em relativa estabilidade posteriormente a 2005 (Conceição & Aguiar, 2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
).

Contudo, um dado para o qual se deve voltar a atenção dos pesquisadores é a queda brusca de artigos categorizados como OP para públicos específicos. Nessa categoria, foram agrupados estudos que abordaram intervenções ou avaliações com pessoas de grupos minoritários, tais como pessoas com deficiência. Esses resultados, que encontram ressonância nos achados de Ivatiuk e Yoshida (2010Ivatiuk, A. & Yoshida, M. (2010) Orientação profissional de pessoas com deficiências: revisão da literatura (2000- 2009). Revista Brasileira de Orientação Profissional, 11(1), 95-106. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902010000100010&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
) devem ser levados em conta para que novos instrumentos e novas intervenções, abrangendo necessidades específicas de tais grupos, sejam levadas em consideração e sejam foco de desenvolvimento científico.

Para a análise dos instrumentos utilizados, decidiu-se focar nos instrumentos específicos da área de orientação profissional utilizados no Brasil (por exemplo, o Questionário de Busca Autodirigida - SDS). Instrumentos internacionais (por exemplo, a Escala de Atribuições de Carreira - EAC, de Portugal) e instrumentos que medem construtos não específicos da área (por exemplo, Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp - ISSL) foram categorizados como Outros. As entrevistas foram também consideradas como uma categoria. A Tabela 5 apresenta os resultados encontrados.

Tabela 5
Instrumentos Utilizados nas Pesquisas

Das informações da Tabela 5 extrai-se que os estudos empíricos publicados no período analisado fizeram uso de 36 instrumentos distintos, considerando cada uma das entrevistas como um instrumento diferente. O instrumento brasileiro mais utilizado nas pesquisas no período foi a Escala de Aconselhamento Profissional (EAP), com 9% de participação, seguida pelos instrumentos Escala de Maturidade para Escolha Profissional e Questionário de Busca Autodirigida (SDS), com 6% de participação cada. Esses resultados revelam alguns aspectos interessantes que podem ser analisados à luz da história e outros que deverão ser compreendidos com os desenvolvimentos futuros.

A grande quantidade de instrumentos, por um lado, e a relativamente baixa concentração de estudos, mesmo com os testes mais estudados, por outro, revelam que parece haver um esforço de inserção de novos construtos (ou ao menos de instrumentos) nas avaliações em OP no Brasil, ainda que os estudos não prossigam. Contudo, os três instrumentos mais utilizados detêm parecer favorável para uso profissional por parte do psicólogo, o que não parece ser coincidência. Dessa forma, no futuro, poderá ser observado se alguns dos testes que têm sido estudados, mas ainda sem grande repercussão ou recorrência, terão impacto como instrumentos de utilização na prática da OP.

Algumas das pesquisas analisadas trabalharam com mais de um público-alvo (por exemplo, Ensino Médio e ensino universitário). Essas ocorrências foram consideradas duas vezes na contagem dos públicos-alvo. A Tabela 6 apresenta os achados relativos a essa categoria.

Tabela 6
População-Alvo dos Estudos Empíricos

Novamente condizente com os achados de Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
) as populações-alvo Ensino Médio e universitários apareceram em primeiro (45%) e segundo (17%) lugares com relação à distribuição encontrada. Esses públicos foram seguidos por adolescentes (10%) e orientadores profissionais (5%). Todas as outras 10 populações-alvo apareceram em um único estudo. De certa forma, a aparição de alguns desses públicos-alvo, como advogados e empresários júniores, lembra que o desenvolvimento da OP pode vir a se beneficiar de investigações que utilizem recortes de populações mais frequentemente investigadas (e.g., adolescentes, adultos, Ensino Médio, ensino universitário).

Considerações Finais

Em função da relevância do acompanhamento contínuo da produção científica escalonada por suas distintas áreas, com vistas a compreender o caminho percorrido pela ciência e identificar eventuais lacunas a serem preenchidas, este artigo teve o propósito de avaliar a produção científica brasileira na área de orientação profissional de 2011 a 2015. Deu-se prosseguimento ao trabalho realizado previamente por Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
) e por Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
).

Os achados indicaram continuidade nas pesquisas na área de OP. É relevante, no entanto, que se destaquem alguns pontos, para que possam ser considerados em conjunto: 1) foi encontrada uma tendência, ainda que incipiente, de redução do número de publicações anuais sobre OP; 2) o número de publicações de cunho teórico teve sua proporção reduzida, desde o levantamento realizado por Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
); 3) também o número de estudos a respeito da qualidade da técnica apresentou redução contínua desde o estudo de 2006; 4) os públicos-alvo mais estudados continuam sendo estudantes de Ensino Médio e universitários.

Dadas essas características, indicadas pelo presente estudo, torna-se importante destacar algumas lacunas no contexto da pesquisa nacional, começando pelos apontamentos de Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
) que ainda não foram atendidos pela agenda do pesquisador brasileiro. Essas lacunas referem-se à necessidade de ampliação de estudos que abordem populações diversas, avaliações de eficácia dos serviços de orientação profissional e políticas públicas para a orientação vocacional.

Para estudos que abordem populações diversas, além do destaque dado por Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
) àquelas que se encontrem em desvantagem socioeconômica, mostra-se também relevante que se estudem populações com maior vivência profissional que a apresentada por estudantes de Ensino Médio e universitários. Tal seleção possibilitaria acompanhar as tendências internacionais de pesquisas na área de orientação vocacional e de carreira, conforme Ambiel et al. (2014Ambiel, R. A. M., Pinto, L. P., Lamas, K. C. A., Ottati, F., & Joly, M. C. R. A. (2014) Orientação profissional e de carreira: Análise de um periódico internacional. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 14(4), 407-416. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1984-66572014000400007&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
).

Nesse sentido, parece que a área de orientação profissional e de carreira no Brasil ainda se encontra altamente associada ao contexto educativo apenas, ignorando, ou ao menos, não dando a devida atenção à intersecção dessa área com a da Psicologia do trabalho e mesmo com a clínica. Um fato que ajuda a manter esse problema possivelmente tem relação com o que Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
) relataram sobre as diferentes nomenclaturas utilizadas para a área. Além de um problema de identidade, isso resvala em questões técnicas, já que pode limitar a atuação de profissionais que acabam não oferecendo o serviço em contextos nos quais o ganho potencial é iminente.

Nessa direção, a modernização da área é urgente e nesse sentido, a consideração de novos paradigmas e teorias (Guichard, 2015Guichard, J. (2015). From vocational guidance and career counseling to life design dialogues. Em L. Nota & J. Rossier (orgs.), Handbook of Life Design: From practice do theory and from theory to practice (pp. 11-25). Göttingen: Hogrefe.; Savickas et al., 2009Savickas, M., Nota, L., Rossier, J., Dauwalder, J-P., Duarte, M. E., Guichard, J., Soresi, S., Van Esbroeck, R., & Van Vianen, A. (2009). Life designing: A paradigm for career construction in the 21st Century. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 239-250. doi: 10.1016/j.jvb.2009.04.004
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.04.00...
), amplamente estudados no exterior, é essencial para que as devidas aproximações e adaptações técnicas possam ser implementadas. Esse é o primeiro convite para novos rumos apresentado neste artigo: o estudo de novas tendências observadas ao redor do mundo deverá ser amplificado no Brasil para que a visão sobre a área possa ser ampliada. Isso, obviamente, será decorrente de uma melhoria emergencial na formação da área.

Outro ponto com o qual pesquisadores em OP podem contribuir em termos de desenvolvimento, se decidirem estudar recortes de públicos conforme sugerido anteriormente, é a consideração do empreendedorismo como opção de carreira. Esse tema foi abordado, ainda que de forma indireta, por Campos, Abbad, Ferreira e Negreiros (2014Campos, E. B. D., Abbad, G. D. S., Ferreira, C. Z., & Negreiros, J. L. X. M. D. (2014). Empresas juniores como espaços de apoio à formação profissional de estudantes universitários brasileiros. Revista Psicologia, 14(4), 452-463. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1984-66572014000400010&script=sci_arttext
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid...
) em um dos estudos publicados no período coberto por esta pesquisa. Esse estudo, que lembrou que um dos objetivos de uma empresa júnior é fomentar o espírito empreendedor de seus associados, contou com empresários e ex-empresários júniores como público-alvo e foi o único dos achados que mostrou alguma ligação com o empreendedorismo como opção de carreira. Trata-se, no entanto, de um tema potencial para investigações em OP, dado o estímulo que surge do trabalho de Wright, Silva e Spers (2010Wright, J. T. C., Silva, A. T. B., & Spers, R. G. (2010). O mercado de trabalho no futuro: Uma discussão sobre profissões inovadoras, empreendedorismo e tendências para 2020. Revista de Administração e Inovação, 7(3), 174-197. doi: 10.5585/RAI.2010505
https://doi.org/10.5585/RAI.2010505...
). Esses autores indicaram uma projeção, realizada por especialistas, do empreendedorismo como tendo uma participação no mercado de trabalho de 2020 de 17% da população economicamente ativa.

Ainda, outro ponto importante a ser considerado é que, historicamente, as técnicas não estruturadas ou padronizadas, ou ainda as metodologias qualitativas de avaliação, têm sido parte das atuações em psicologia de forma geral e, em específico, na área da OP, como revelou principalmente o estudo de Noronha e Ambiel (2006Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n...
). Dessa forma, em concordância com Watson e McMahon (2015Watson, M., & McMahon, M. (2015). An introduction to career assessment. Em M. McMahon & M. Watson (Eds.), Career assessment: qualitative approach (pp. 3-11). Rotterdam: Sense.) e em contraponto com o que os dados deste e do estudo de Aguiar e Conceição (2012Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
https://doi.org/10.1590/S1413-8271201200...
) revelaram, sugere-se fortemente que os pesquisadores da área estudem mais tais modalidades, de forma teoricamente embasada e metodologicamente rigorosa, visando a disponibilização de técnicas confiáveis para a utilização na prática.

Por meio desses achados e considerações, espera-se estimular os pesquisadores brasileiros a darem continuidade nas pesquisas em OP uma vez que, como as lacunas não cobertas desde as revisões de literatura anteriores indicam, de forma alguma houve esgotamento do tema. Faz-se importante para o delineamento de futuras pesquisas no âmbito nacional, que possam efetivamente contribuir para o avanço da ciência, a identificação e seleção cuidadosa de novas populações e de novos temas, tais como populações específicas de risco, ou o desenvolvimento de novas carreiras que surgem com a evolução tecnológica e científica. Essa seleção deve levar em consideração tanto as necessidades nacionais, quanto a agenda internacional de pesquisa em conjunto com o futuro previsto para o mercado de trabalho.

Referências

  • Abade, F. L. (2005) Orientação profissional no Brasil: Uma revisão histórica da produção científica. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 6(1), 15-24. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902005000100003&script=sci_arttext
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902005000100003&script=sci_arttext
  • Aguiar, F. H. R, & Conceição, M. I. G. (2012) Análise da produção científica em orientação profissional: Tendências e velhos problemas. Psico-USF, 17(1), 97-107. doi: 10.1590/S1413-82712012000100011
    » https://doi.org/10.1590/S1413-82712012000100011
  • Ambiel, R. A. M. (2014). Adaptabilidade de carreira: Uma abordagem histórica de conceitos, modelos e teorias. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(1), 15-24. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902014000100004
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902014000100004
  • Ambiel, R. A. M., Pinto, L. P., Lamas, K. C. A., Ottati, F., & Joly, M. C. R. A. (2014) Orientação profissional e de carreira: Análise de um periódico internacional. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 14(4), 407-416. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1984-66572014000400007&script=sci_arttext
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1984-66572014000400007&script=sci_arttext
  • Ambiel, R. M., & Polli, M. F. (2011) Análise da produção cientifica brasileira sobre avaliação psicológica em orientação profissional. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 2(1),103-121. doi: 10.5433/2236-6407.2011v2n1p103
    » https://doi.org/10.5433/2236-6407.2011v2n1p103
  • Campos, E. B. D., Abbad, G. D. S., Ferreira, C. Z., & Negreiros, J. L. X. M. D. (2014). Empresas juniores como espaços de apoio à formação profissional de estudantes universitários brasileiros. Revista Psicologia, 14(4), 452-463. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1984-66572014000400010&script=sci_arttext
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1984-66572014000400010&script=sci_arttext
  • Duarte, M. E., & Cardoso, P. (2015). The life design paradigm: From practice to theory. Em L. Nota & J. Rossier (Eds.), Handbook of Life Design: From practice do theory and from theory to practice (pp. 41-57). Göttingen: Hogrefe.
  • Guichard, J. (2015). From vocational guidance and career counseling to life design dialogues. Em L. Nota & J. Rossier (orgs.), Handbook of Life Design: From practice do theory and from theory to practice (pp. 11-25). Göttingen: Hogrefe.
  • Ivatiuk, A. & Yoshida, M. (2010) Orientação profissional de pessoas com deficiências: revisão da literatura (2000- 2009). Revista Brasileira de Orientação Profissional, 11(1), 95-106. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902010000100010&script=sci_arttext
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902010000100010&script=sci_arttext
  • Lassance, M. C., & Sparta, M. (2003) A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2),13-19. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902003000100003
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902003000100003
  • Melo-Silva, L. Leal, L., Pacheco, M. C., & Soares, D. H. P. (2004) A orientação profissional no contexto da educação e trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 5(2), 31-52. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902004000200005
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902004000200005
  • Noronha, A. P. P., & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/pusf/v11n1/v11n1a09.pdf
  • Noronha, A. P. P., Andrade, R. G., Miguel, F. K., Nascimento, M. M., Nunes, M. F. O., Pacanaro, S. V., Ferruzzi, A. H., Sartori, F. A., Takahashi, L. T., & Cozza, H. F. P. (2006) Análise de teses e dissertações em orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 1-10. doi: 10.1590/S1413-82712006000100009
    » https://doi.org/10.1590/S1413-82712006000100009
  • Noronha, A. P. P., Ventura, C. D., Cecilio-Fernandes, D., Nery, J. C. S., Bueno, J. M. de P., Luca, L., Baroncelli Neto, I., Silva, M. A. P. (2014) Análise de Produções da Revista Brasileira de Orientação Profissional. Psico. 45(1), 26-34. Recuperado de http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/12416/11414
    » http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/12416/11414
  • Ribeiro, M. A., & Uvaldo, M. C. C. (2007). Frank Parsons: Trajetória do pioneiro da orientação vocacional, profissional e de carreira. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 8(1), 19-31. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902007000100003&script=sci_arttext
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902007000100003&script=sci_arttext
  • Ribeiro, M. A., Uvaldo, M. C. C., Fonçatti, G., Audi, D. A., Agostinho, M. L., & Malki, Y. (2016). Ser adolescente no século XXI. Em R. S. Levenfus (Ed.), Orientação Vocacional e de Carreira em contextos clínicos e educativos (pp. 13-23). Porto Alegre: Artmed.
  • Rueda, F. J. M. (2009). Produção científica da Revista Brasileira de Orientação Profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10(2), 129-139. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902009000200013
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902009000200013
  • Savickas, M. L. (2013). Career counseling. Washington: APA.
  • Savickas, M., Nota, L., Rossier, J., Dauwalder, J-P., Duarte, M. E., Guichard, J., Soresi, S., Van Esbroeck, R., & Van Vianen, A. (2009). Life designing: A paradigm for career construction in the 21st Century. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 239-250. doi: 10.1016/j.jvb.2009.04.004
    » https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.04.004
  • Sparta, M. (2003). A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2), 13-19. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902003000100003&script=sci_arttext
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902003000100003&script=sci_arttext
  • Sparta, M., Bardagi, M. P., & Teixeira, M. A. P.. (2006). Modelos e instrumentos de avaliação em orientação profissional: Perspectiva histórica e situação no Brasil. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7(2), 19-32. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902006000200004&script=sci_arttext
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902006000200004&script=sci_arttext
  • Teixeira, M. A. P., Lassance, M. C., Silva, B. M. B., & Bardagi, M. P. (2007). Produção Científica em orientação profissional: Uma análise da revista brasileira de orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 8(2), 25-40. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902007000200004
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902007000200004
  • Watson, M., & McMahon, M. (2015). An introduction to career assessment. Em M. McMahon & M. Watson (Eds.), Career assessment: qualitative approach (pp. 3-11). Rotterdam: Sense.
  • Wright, J. T. C., Silva, A. T. B., & Spers, R. G. (2010). O mercado de trabalho no futuro: Uma discussão sobre profissões inovadoras, empreendedorismo e tendências para 2020. Revista de Administração e Inovação, 7(3), 174-197. doi: 10.5585/RAI.2010505
    » https://doi.org/10.5585/RAI.2010505

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2017

Histórico

  • Recebido
    08 Out 2015
  • Revisado
    01 Fev 2016
  • Aceito
    02 Fev 2016
Universidade de São Francisco, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia R. Waldemar César da Silveira, 105, Vl. Cura D'Ars (SWIFT), Campinas - São Paulo, CEP 13045-510, Telefone: (19)3779-3771 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: revistapsico@usf.edu.br