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Propriedades Psicométricas do Attitudes to Moral Decision-making Young Sport Questionnarie (AMDYSQ) para o Contexto Esportivo Brasileiro

Psychometric Properties of Attitudes to Moral Decision-making Young Sport Questionnaire (AMDYSQ) for the Brazilian Sports Context

Propiedades Psicométricas de Attitudes to Moral Decision-Making Young Sport Questionnaire (AMDYSQ) para el Contexto Deportivo Brasileño

Resumo

Esta pesquisa teve o objetivo de validar para o contexto brasileiro o Attitudes to Moral Decision-making Young Sport Questionnarie (AMDYSQ) por meio de dois estudos: No Estudo 1, contando com a participação de 181 jovens atletas, foi realizada uma análise fatorial exploratória, com a qual identificou-se três fatores condizentes com o estudo original. Os índices de consistência interna (alfa de Cronbach) foram aceitáveis para dois fatores (Trapaça: α = 0,72; Antidesportivismo: α = 0,74), no fator Vitória Justa esse índice ficou abaixo do aceitável (α = 0,55). No Estudo 2, buscou-se comprovar a estrutura fatorial contando com uma nova amostra de 242 jovens atletas. Foi realizada uma análise fatorial confirmatória, onde os resultados demonstraram indicadores de ajuste ao modelo de acordo com o recomendado pela literatura: χ2(62) = 99,820, p < 0,005, χ2/gl = 1,61, GFI = 0,94, AGFI = 0,91, TLI = 0,96; CFI = 0,97 e RMSEA = 0,05 (IC 90% = 0,03 - 0,06). Dessa forma, o AMDYSQ apresentou evidências de validade para o contexto brasileiro, porém novas pesquisas de validade deverão ser realizadas com esse instrumento.

Palavras-chave:
moralidade; psicometria; escala; esporte

Abstract

This research aimed to validate the Attitudes to Moral Decision-making in Youth Sport Questionnaire (AMDYSQ) for the Brazilian context using 2 studies. In Study 1, whose participants included 181 young athletes; an Exploratory Factor Analysis identified 3 factors consistent with the original study. Internal consistency indexes (Cronbach’s alpha) were acceptable for 2 factors (Cheating: α = 0.72; Unsportsmanlike conduct: α = 0.74), in the Fair victory factor this index was slightly below the acceptable (α =0.55). In Study 2, we sought to prove the factorial structure of AMDYSQ, with a new sample of 242 young athletes. We performed a Confirmatory Factor Analysis, where the results showed indicators of fit of the model according to the recommended in the literature: χ2 (62) = 99.820, p < 0.005, χ2/gl = 1.61, GFI = 0.94, AGFI = 0.91, TLI = 0.96; CFI = 0.97 and RMSEA = 0.05 (90% CI, 0.03 - 0.06). Thus, the study showed evidence of validity for the AMDYSQ for the Brazilian context; however, new validity studies should be performed with this instrument.

Keywords:
morality; psychometrics; scale; sport

Resumen

Esta investigación tuvo como objetivo principal validar, para el contexto brasileño, Attitudes to Moral Decision-Making Young Sport Questionnaire (AMDYSQ) por medio de dos estudios. En el Estudio 1, contando con la participación de 181 jóvenes atletas, se realizó un Análisis Factorial Exploratorio, con que se identificaron tres factores condecentes con el estudio original. Los índices de consistencia interna (alfa de Cronbach) fueron aceptables para dos factores (Fraude: α = 0,72; Anti deportismo: α = 0,74), para el factor Victoria Justa, este índice fue debajo de lo aceptable α = 0,55). En el Estudio 2, se buscó comprobar la estructura factorial del AMDYSQ, contando con una nueva muestra de 242 jóvenes deportistas. Se realizó un análisis factorial confirmatorio, donde los resultados mostraron indicadores de ajuste del modelo de acuerdo con lo recomendado por la literatura: χ2 (62) = 99,820, p < 0,005, χ2 /gl = 1,61, GFI =0,94, AGFI = 0,91, TLI = 0,96; CFI = 0,97 y RMSEA = 0,05 (IC 90% = 0,03 - 0,06). De esta forma, el estudio presentó evidencias de validez del AMDYSQ para el contexto brasileño, pero nuevas investigaciones deben ser hechas con este instrumento.

Palabras clave:
moralidad; psicometría; escala; deporte

Introdução

O esporte tem sido considerado uma importante ferramenta social para a promoção de saúde, lazer, socialização, reinserção social e construção de valores humanos como honestidade, solidariedade, cooperação, amizade, respeito, dentre outros (Sanches & Rubio, 2011’Sanches, S. M., & Rubio, K. (2011). A prática esportiva como ferramenta educacional: Trabalhando valores e a resiliência. Educação E Pesquisa, 37(4), 825-842. doi:10.1590/S1517-97022011000400010
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). Além disso, a atividade esportiva está presente no cotidiano de milhares de pessoas, de diferentes idades, nacionalidades e classes sociais, sendo considerada, portanto, um dos fenômenos sociais mais presentes e mais importantes da atualidade (Gonçalves, Nascimento, & Mariano, 2017Gonçalves, M. P., Nascimento, A. M., & Mariano, T. E. (2017). A Psicologia social do esporte. Em C. A. Lima & C. E. Pimentel (Eds.), Revisitando a Psicologia Social (pp. 259-280). Curitiba: Editora Juruá.; Pujals & Vieira, 2008Pujals, C., & Vieira, L. F. (2008). Análise dos fatores psicológicos que interferem no comportamento dos atletas de futebol de campo. Revista Da Educação Física/UEM, 13(1), 89-97. Recuperado de http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/3756
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). No Brasil, onde recentemente foi sediada pela primeira vez uma Olimpíada, competição internacional de principal destaque no cenário esportivo, fica evidente a influência e o fator mobilizador que o esporte exerce na vida das pessoas, principalmente na vida de jovens atletas (Reppold Filho, 2016Reppold Filho, A. R. (2016). Apresentação: Jogos olímpicos Rio de Janeiro 2016. Cienc. Cult., 68(2), 22-26. doi:10.21800/2317-66602016000200010
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).

Para investigar os comportamentos envolvidos no esporte e seus possíveis benefícios sociais e psicológicos, a Psicologia do Esporte se ocupa com o estudo de temas, como, por exemplo, ansiedade, motivação, personalidade, liderança, estresse, coesão grupal, agressividade e moralidade (Rubio, 1999Rubio, K. (1999). A psicologia do esporte: Histórico e áreas de atuação e pesquisa. Psicologia: Ciência E Profissão, 19(3), 60-69. doi:10.1590/S1414-98931999000300007
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). Recentemente, o tema moralidade tem ganhado atenção especial da Psicologia e das demais áreas envolvidas nas ciências do esporte, isso devido às frequentes discussões acerca da formação moral do esporte e, ao grande número de comportamentos antissociais observados nas mais variadas modalidades esportivas (Estrada, González-Mesa, & Montero, 2007Estrada, J. A., González-Mesa, J. A., & Méndez, J. (2007). Participación en el deporte y fair play. Psicothema, 19(1), 57-64. Recuperado de redalyc.org/pdf/727/72719109.pdf
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).

Segundo Shields e Bredemeier (2007Shields, D. L., & Bredemeier, B. L. (2007). Advances in sport mortality research. Em G. Tenenbaum & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 662-684). New York: John Wiley.), o desenvolvimento moral no esporte ocorre a partir das interações estabelecidas com os outros. Essas interações podem desenvolver empatia, autocontrole, disciplina, capacidade para lidar com a derrota e apoio social. Para Evangelista (2011Evangelista, P. H. M. (2011). As atitudes morais no esporte de competição: Um estudo descritivo-exploratório com atletas dos jogos coletivos de invasão (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.), as práticas esportivas, por serem regidas por meio de regras e normas, são importantes para o desenvolvimento de condutas como as atitudes morais, por exemplo. Dessa forma, além das relações interpessoais, outro fator que facilita o desenvolvimento da moralidade no esporte, são as regras existentes.

Por outro lado, algumas modalidades esportivas, geralmente as mais competitivas e profissionais, geram um clima de rivalidade extrema, o que pode levar o atleta a adotar comportamentos negativos. Nessas modalidades, a competição pode passar a ser vista como uma batalha, a vitória é almejada a qualquer custo, os participantes trapaceiam com o uso de substâncias estimulantes proibidas (doping), desrespeitando as regras, os adversários e o espírito esportivo (Fair Play) (Dodge & Robertson, 2004Dodge, A., & Robertson, B. (2004). Justifications for unethical behavior in sport: The Role of the Coach. Coaching Association of Canada, 4(4).; Hodge & Lonsdale, 2011Hodge, K., & Lonsdale, C. (2011). Prosocial and antisocial behavior in sport: The role of coaching style, autonomous vs. controlled motivation, and moral disengagement. Journal of Sport & Exercise Psychology, 33(4), 527-547. doi:10.1123/jsep.33.4.527
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), por exemplo. Essa contradição leva alguns autores a afirmarem que o esporte em si não desenvolve o espírito esportivo, pois este é influenciado pelas atitudes dos colegas de equipe, familiares, técnicos, treinadores, pelas crenças e valores pessoais de cada atleta (Cullen, Letessa, & Byrne, 1990Cullen, F. T., Latessa, E. J., & Byrne, J. P. (1990). Scandal and reform collegiate athletics: Implications from a national survey of head football coaches. Journal of Higher Education, 61(1), 374-405. doi:10.1080/00221546.1990.11775091
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; Dodge & Robertson, 2004Dodge, A., & Robertson, B. (2004). Justifications for unethical behavior in sport: The Role of the Coach. Coaching Association of Canada, 4(4).; Hodge & Lonsdale, 2011Hodge, K., & Lonsdale, C. (2011). Prosocial and antisocial behavior in sport: The role of coaching style, autonomous vs. controlled motivation, and moral disengagement. Journal of Sport & Exercise Psychology, 33(4), 527-547. doi:10.1123/jsep.33.4.527
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).

Para entender os comportamentos dos atletas no ambiente esportivo, o estudo acerca das atitudes morais é fundamental. No entanto, a partir de pesquisas realizadas em sites de busca, foi possível observar que poucos estudos foram realizados no Brasil acerca dessa temática, sendo que a maioria das pesquisas encontradas na literatura é de origem estrangeira. Com relação a instrumentos psicométricos que mensurem atitudes no esporte, há uma escassez ainda maior de pesquisas, o que justifica a realização de estudos dessa natureza. Assim, o presente estudo teve o objetivo principal de traduzir, adaptar e levantar evidências psicométricas do Attitudes to Moral Decision-making Young Sport Questionnaire (AMDYSQ) para o contexto brasileiro. A seguir, será realizado um breve levantamento da literatura acerca dos conceitos envolvidos na pesquisa: Atitudes morais e Fair Play.

Atitudes Morais

As atitudes são definidas por Rodrigues, Leal e Jablonski (2012Rodrigues, A., Leal, E. M., & Jablonski, B. (2012). Psicologia Social (32st ed.). Petrópolis, Vozes. ) como uma organização duradoura de crenças e cognições gerais, carregadas de afetos contrários ou a favor de algum objeto social definido. Essa organização induz comportamentos coerentes com as cognições e afetos que a pessoa carrega acerca dos objetos e situações sociais. Dessa forma, as atitudes envolvem componentes cognitivos, afetivos e comportamentais. Rokeach (1981Rokeach, M. (1981). Crenças, attitudes e valores. Rio de Janeiro: Interciência. ) traz uma definição semelhante, dizendo que as atitudes são como “uma organização de crenças, relativamente duradouras, em torno de um objeto ou situação que predispõe que se responda de alguma forma preferencial” (p. 91).

Percebe-se que nas duas definições citadas anteriormente, as atitudes são vistas como preditoras de comportamentos, assim elas devem determinar respostas (comportamentos) quando seus componentes estão coerentes. No contexto esportivo, fala-se muito acerca das atitudes frente ao Fair Play, também chamada de atitudes morais, já que o atleta poderá responder de maneira particular diante de situações que envolvem a moralidade como o uso do doping, do respeito pelos adversários ou uso da agressividade, por exemplo. Essa resposta pode ser positiva, indo ao encontro do Fair Play, ou negativa dependendo dos componentes cognitivos e emocionais envolvidos na situação (Maio & Haddock, 2016Maio, G., & Haddock, G. (2016). The Psychology of atitudes and atitudes change (2st ed.). Los angeles: Sage Publications.; Rodrigues, Leal, & Jablonski, 2012Rodrigues, A., Leal, E. M., & Jablonski, B. (2012). Psicologia Social (32st ed.). Petrópolis, Vozes. ; Rokeach, 1981Rokeach, M. (1981). Crenças, attitudes e valores. Rio de Janeiro: Interciência. ).

O Fair Play, também conhecido como Jogo Limpo, Jogo Justo, Espírito Esportivo, Sportspersonship ou Sportsmanship ainda não possui uma definição universalmente aceita (Santos, 2005Santos, A. R. (2005). Espírito Esportivo - fair play e a prática de esportes. Revista Mackenzie de Educacao Fisica e Esporte, 4(4), 13-28. Recuperado de http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/remef/article/view/1306/1012
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; Weinberg & Gould, 2017Weinberg, & Gould. (2017). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. (6th ed.) Porto Alegre: Artmed .). Nesta pesquisa, ele será definido como o conjunto de comportamentos que vão ao encontro da moralidade dentro do contexto esportivo, como, por exemplo, respeitar às regras do jogo; ter um bom relacionamento com os adversários; não almejar a vitória a qualquer custo; saber perder; respeitar o técnico, torcedores, colegas de equipe e adversários (Boixadós & Cruz, 1995Boixadós, M., & Cruz, J. (1995). Construction of a fair play attitude scale in soccer. Em R. Vanfraeehem-Raway & Y. Vanden Auweele (Eds.), Proceedings of the IX European Congress on Sport Psychology (pp 4-11). Brussels: Belgian Federation of Sport Psychology.).

O Código de Ética Desportivo elaborado pelo Conselho da Europa (1992Conselho da Europa. (1992). Código de Ética Esportiva. Recuperado de http://www.idesporto.pt/DATA/DOCS/LEGISLACAO/Doc121.pdf
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) defende que o Fair Play transcende às regras do jogo, pois vai além das normas estabelecidas nas modalidades esportivas. Ele abrange as noções de amizade, igualdade, respeito mútuo e comprometimento com os jogos; é um modo de pensar e de agir que favorece o jogo limpo e as boas relações dentro do esporte. Weinberg e Gould (2017Weinberg, & Gould. (2017). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. (6th ed.) Porto Alegre: Artmed .) afirmam que o espírito esportivo deve ser adotado, mesmo quando isso significa derrota, ou seja, o atleta que prioriza o Fair Play deve, por exemplo, ajudar um adversário lesionado mesmo quando estiver prestes a pontuar/ganhar uma partida. Dessa forma, as boas ações dentro do ambiente esportivo estão acima das regras, e devem ir além desse ambiente, fazendo com que os atletas ajam da mesma forma na sociedade em que vivem (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura [UNESCO], 2013Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO. (2013). Valores no esporte. Recuperado de http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002250/225003POR.pdf
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).

Infelizmente, atitudes e comportamentos contrários ao espírito esportivo, ainda são muito frequentes em jogos, treinos e competições. Atitudes antidesportivas, como trapacear, usar doping, chantagear, desrespeitar os adversários e colegas de equipe, desobedecem ao jogo limpo e fazem com que o esporte seja visto de forma negativa (Boixadós & Cruz, 1995Boixadós, M., & Cruz, J. (1995). Construction of a fair play attitude scale in soccer. Em R. Vanfraeehem-Raway & Y. Vanden Auweele (Eds.), Proceedings of the IX European Congress on Sport Psychology (pp 4-11). Brussels: Belgian Federation of Sport Psychology.).

Alguns autores argumentam que as atitudes negativas podem ser influenciadas por diversos fatores. É possível citar, como exemplo, a pressão dos técnicos, dos patrocinadores, dos familiares e dos amigos, as quais podem atuar de forma negativa sobre os componentes cognitivos e afetivos da atitude. Todas essas pressões externas tendem a gerar condutas morais antiéticas, na medida em que influenciam os atletas a almejarem a vitória a todo custo, não importando os meios utilizados para isso. Além disso, fatores internos, como a personalidade, valores e crenças pessoais também podem exercer influência sobre as atitudes (Dodge, 1998Dodge, A. (1998). Varsity athletes’ justifications for unethical behaviour in sport ( Dissertação de mestrado). University of New Brunswick, Fredericton, New Brunswick, Canada .; Dodge & Robertson, 2004Dodge, A., & Robertson, B. (2004). Justifications for unethical behavior in sport: The Role of the Coach. Coaching Association of Canada, 4(4).; Rokeach, 1981Rokeach, M. (1981). Crenças, attitudes e valores. Rio de Janeiro: Interciência. ).

Assim, verifica-se que existe uma contradição entre as atitudes morais desenvolvidas e encontradas no ambiente esportivo, pois, de um lado são observados atitudes e comportamentos pró-sociais que valorizam o Fair Play, e do outro, atitudes e comportamentos antidesportivos, os quais vão totalmente contra o espírito esportivo. Segundo Cullen, Letessa e Byrne (1990Cullen, F. T., Latessa, E. J., & Byrne, J. P. (1990). Scandal and reform collegiate athletics: Implications from a national survey of head football coaches. Journal of Higher Education, 61(1), 374-405. doi:10.1080/00221546.1990.11775091
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), a simples prática esportiva não pode ser considerada nem boa nem má. A mera participação em esportes não garante o desenvolvimento de aspectos morais positivos ou negativos, pois eles serão desenvolvidos a partir da experiência de cada atleta.

Hodge e Lonsdale (2011Hodge, K., & Lonsdale, C. (2011). Prosocial and antisocial behavior in sport: The role of coaching style, autonomous vs. controlled motivation, and moral disengagement. Journal of Sport & Exercise Psychology, 33(4), 527-547. doi:10.1123/jsep.33.4.527
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) apontam que há poucas evidências científicas que apoiem a relação entre a prática de esporte e o desenvolvimento moral. Segundo esses autores, a maneira como o esporte é praticado nas sociedades ocidentais pode contribuir ou não para a construção da moralidade. Weinberg e Gould (2017Weinberg, & Gould. (2017). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. (6th ed.) Porto Alegre: Artmed .) dizem que a construção do caráter, liderança, espírito esportivo e demais aspectos morais e sociais do esporte não aparecem de forma mágica. Esses são produtos de uma supervisão competente, capaz de estruturar atividades e experiências que garantam aprendizagens positivas.

Segundo Vala e Monteiro (2013Vala, B. & Monteiro, M. B. (2013) Psicologia social (9th ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.), é possível mensurar atitudes a partir da autodescrição do sujeito acerca do seu posicionamento diante de situações e objetos específicos. Assim, segundo eles, é possível acessar crenças, opiniões e avaliações dos sujeitos por meio de modelos de medida do tipo lápis e papel.

No contexto esportivo, algumas escalas já foram desenvolvidas com o objetivo de mensurar atitudes morais (ou de Fair Play) de atletas. Stephens, Bredemeier e Shilds (1997Stephens, D. E., Bredemeier, B. J. L., & Shields, D. L. L. (1997). Construction of a measure designed to assess players’ descriptions and prescriptions for moral behavior in youth sport soccer. International journal of sport psychology, 28(4), 370-390.), por exemplo, desenvolveram o Judgments about Moral Behavior in Youth Sport Questionnaire (JAMBYSQ), questionário criado para mensurar atitudes de jovens atletas futebolistas frente a comportamentos morais no esporte (trapaça, agressão e mentira). O instrumento é composto de dilemas morais hipotéticos, sobre os quais os atletas de futebol devem fazer escolhas.

Por sua vez, Lee, Whitehead, Ntoumanis e Hatzigeorgiadis (2001Lee, M., Whitehead, J., Ntoumanis, N., & Hatzigeorgiadis, H. (2001). Development of the Sport Attitudes Questionnaire (SAQ). In A. Papaioannou, M. Goudas & Y. Theodorakis. (Eds.). In the dawn of a new millennium: 10th World Congress of Sport Psychology (pp. 191-192). Hellas, Skiathos, ) desenvolveram o Sports Attitudes Questionnaire (SAQ), questionário com 26 itens desenvolvido para mensurar atitudes no contexto esportivo a partir de quatro diferentes fatores: Trapaça, Antidesportivismo, Vitória a todo preço e A vitória não é mais importante. Evangelista (2011Evangelista, P. H. M. (2011). As atitudes morais no esporte de competição: Um estudo descritivo-exploratório com atletas dos jogos coletivos de invasão (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.) traduziu e adaptou o SAQ para o contexto brasileiro.

Em 2007, no Reino Unido, foi desenvolvida a Moral Disengagement in Sport Scale (MDSS) para mensurar o desenvolvimento moral no esporte (Boardley & Kavussanu, 2007Boardley, I. D., & Kavussanu, M. (2007). Development and validation of the Moral Disengagement in Sport Scale. Journal of Sport and Exercise Psychology, 29(5), 608-628. doi:10.1123/jsep.29.5.608
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). A escala é composta por 32 itens que medem os oito mecanismos de desenvolvimento moral propostos por Bandura (1991Bandura, A. (1991). Social cognitive theory of self-regulation. Organizational behavior and human decision processes, 50(2), 248-287. doi:10.1016/0749-5978(91)90022-L
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). Em estudos posteriores Boardley, Kavussanu e Ring (2008Boardley, I. D., Kavussanu, M., & Ring, C. (2008). Athletes’ perceptions of coaching effectiveness and athlete-related outcomes in rugby union: An investigation based on the coaching efficacy model. The sport psychologist, 22(3), 269-287. doi:10.1123/tsp.22.3.269
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)produziram e validaram a versão curta da escala (MDSS-S) composta por oito itens.

Também em 2007, Lee, Whitehead e Ntoumanis desenvolveram o AMDYSQ com base no SAQ (Lee, Whitehead, & Ntoumanis, 2001Lee, M., Whitehead, J., Ntoumanis, N., & Hatzigeorgiadis, H. (2001). Development of the Sport Attitudes Questionnaire (SAQ). In A. Papaioannou, M. Goudas & Y. Theodorakis. (Eds.). In the dawn of a new millennium: 10th World Congress of Sport Psychology (pp. 191-192). Hellas, Skiathos, ). A AMDYSQ mensura atitudes morais no esporte, levando em conta a tomada de decisão de atletas diante de situações que envolvem a moralidade. A escala possui 14 itens e três fatores (Aceitação da trapaça, Aceitação do antidesportivismo e Vitória justa).

Nos últimos anos, esse instrumento tem sido bastante utilizado na realização de pesquisas (Arslan, Ziyagil, & Bastik, 2018Arslan, F., Ziyagil, M. A., & Bastik, C. (2018). Examination of moral decision-making attitudes of elite male basketball players and wrestlers according to variables of sport experience and mother, father education. Universal Journal of Educational Research, 6(3), 378-385. doi:10.13189/ujer.2018.060303
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; Gürpınar, 2014aGürpinar, B. (2014a). Attitudes to moral decision making of the student athletes in secondary and high school level according to sport variables. Egitim ve Bilim, 39(176), 413-424. doi:10.15390/EB.2014.3645
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; Lucidi et al., 2017Lucidi, F., Zelli, A., Mallia, L., Nicolais, G., Lazuras, L., & Hagger, M. S. (2017). Moral attitudes predict cheating and gamesmanship behaviors among competitive tennis players. Frontiers in Psychology, 8. doi:10.3389/fpsyg.2017.00571
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; Mallia et al., 2018Mallia, L., Chirico, A., Galli, F., Zelli, A., Jaenes Sánchez, J. C., Garcia Mas, A., & Lucidi, F. (2018). The role of achievement goals and moral disengagement in explaining moral attitudes and behaviours in sport. Revista de psicología del deporte, 27(3), 0065-69. Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/322146874_The_role_of_achievement_goals_and_moral_disengagement_in_explaining_moral_attitudes_and_behaviours_in_sport
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; Moura, 2014Moura, M. A. R. (2014). Atitudes morais, agressividade e empatia: Um estudo com atletas que participam de competições (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil.; Ponseti et al., 2012Ponseti, F. J., Palou, P., Antoni Borràs, P., Vidal, J., Cantallops, J., Ortega, F., & Garcia-Mas, A. (2012). El cuestionario de disposición al engaño en el desporte (CDED): su aplicación a jóvenes deportistas. Revista de psicología del deporte , 21(1). Recuperado de https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=235124455010
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; Verdaguer, Ramón, Rotger, & Garcia-Mas, 2017Verdaguer, F. J. P., Ramón, J. C., Rotger, P. A. B., & Garcia-Mas, A. (2017). Does cheating and gamesmanship to be reconsidered regarding fair-play in grassroots sports?. Revista de psicología del deporte , 26(3), 28-32.; Wagnsson, Stenling, Gustafsson e Augustsson, 2016Wagnsson, S., Stenling, A., Gustafsson, H., & Augustsson, C. (2016). Swedish youth football players’ attitudes towards moral decision in sport as predicted by the parent-initiated motivational climate. Psychology of Sport and Exercise , 25, 110-114. doi:0.1016/j.psychsport.2016.05.003
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) já possuindo evidências de validade em Portugal (Viães, 2016Viães, J. R. G. (2016). O Desportivismo dos atletas olímpicos determinantes da tomada de decisão moral em desporto: Comparação entre atletas olímpicos e não olímpicos (Dissertação de mestrado). Universidade de Lisboa, Portugal.), Turquia (Gürpınar, 2014Gürpinar, B. (2014). Adaptation of the attitudes to moral decision-making in youth sport questionnaire into turkish culture: A validity and reliability study in a turkish sample. egitim ve bilim. education and science, 39(176), 405-412. doi:10.15390/EB.2014.3643
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) e no Reino Unido, local onde o questionário foi desenvolvido (Lee, Whitehead & Ntoumanis, 2007Lee, M. J., Whitehead, J., & Ntoumanis, N. (2007). Development of the attitudes to moral decision-making in youth Sport questionnaire (AMDYSQ). Psychology of Sport and Exercise, 8(3), 369-92. doi:10.1016/j.psychsport.2006.12.002
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). Em todos os contextos anteriormente citados, a AMDYSQ apresenta índices psicométricos adequados, demostrando-se como uma escala adequada para a mensuração de atitudes morais dentro do contexto esportivo, sendo, portanto, essa medida a escolhida para ser validada para o contexto brasileiro com o intuito de mensurar atitudes morais de atletas nesse contexto.

Método

Para responder aos objetivos de validação do Atittudes to Moral Decision Making Youth Sport Questionnarie, foram realizados dois estudos empíricos. Ambos serão descritos a seguir.

Estudo 1 - Tradução, Adaptação e Validade Fatorial do AMDYSQ

O instrumento foi adaptado por meio do método de tradução dupla (reversa e independente - back translation). Primeiramente, três tradutores de língua materna portuguesa, selecionados de forma independente, traduziram para o português a AMDYSQ. Em um segundo momento, dois outros tradutores converteram para o inglês as versões traduzidas para o português. As versões em língua portuguesa foram unificadas, resultando na versão final do instrumento (International Test Commission [ITC], 2017International Test Commission - ITC. (2017). The ITC Guidelines for Translating and Adapting Tests (Second edition). [www.InTestCom.org]
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; Pasquali, 2010Pasquali, L. (2010). Instrumentação psicológica: Fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed.) por meio de discussão e consenso de um comitê de pesquisadores. Esse comitê foi composto por professores doutores não participantes do estudo, contatados por e-mail ou pessoalmente. Entre as atividades do comitê, correções dos termos técnicos utilizados na tradução e a adequação dos itens foram realizadas. Discordâncias foram sanadas pelos autores do estudo. O instrumento traduzido para o português foi intitulado Questionário de Atitudes Morais para Jovens Atletas.

Após a tradução e adaptação cultural dos itens do instrumento, foi realizada uma análise semântica com o objetivo de verificar se os itens traduzidos estariam compreensíveis para a população-alvo do instrumento (jovens atletas) (ITC, 2017International Test Commission - ITC. (2017). The ITC Guidelines for Translating and Adapting Tests (Second edition). [www.InTestCom.org]
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; Pasquali, 2010Pasquali, L. (2010). Instrumentação psicológica: Fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed.). Para tanto, foram solicitados a 10 jovens com idades de 11 anos, a cinco adultos que praticavam esporte há mais de 20 anos e a cinco pessoas com nível superior de escolaridade que respondessem ao instrumento apontando possíveis incompreensões ou dubiedades e sugerindo possíveis modificações.

Finalmente foi realizada uma análise de juízes com o objetivo de avaliar se os itens da escala estariam pertinentes para medir o construto em questão (Atitudes). Os itens foram enviados a pesquisadores peritos na área do instrumento (esporte, atitudes), os quais puderam avaliar se os itens estavam realmente relacionados aos fatores e construto correspondentes. Como os juízes afirmaram que todos os itens do instrumento estavam pertinentes e adequados aos fatores e construtos correspondentes, nenhum resultado dessa etapa será descrito.

Participantes

A amostra desse estudo foi selecionada por conveniência (não probabilística), sendo incluídos apenas atletas que praticassem esporte com finalidade competitiva e com idade entre 12 e 26 anos. Assim, contou-se com a participação de 181 jovens atletas de diversas modalidades esportivas (individuais e coletivas) provenientes da região do Vale do São Francisco, sendo 63% (n = 114) do sexo feminino e 37% (n = 67) do sexo masculino, com média de idade de 16,54 anos (DP = 3,53). Os sujeitos praticavam as seguintes modalidades: vôlei (44,19%; n = 80), handebol (21,55%; n = 39), futsal (13,81%; n = 25), basquete (7,18%; n = 13), atletismo (7,73%; n = 14), futebol (4,41%; n = 8), judô (0,55%; n = 1) e natação (0,55%; n = 1).

Instrumentos

Attitudes to Moral Decision-making in Youth Sport Questionnaire (AMDYSQ). É uma medida que mensura atitudes de atletas frente a conflitos morais no esporte. Foi desenvolvida por Lee et al. (2007Lee, M. J., Whitehead, J., & Ntoumanis, N. (2007). Development of the attitudes to moral decision-making in youth Sport questionnaire (AMDYSQ). Psychology of Sport and Exercise, 8(3), 369-92. doi:10.1016/j.psychsport.2006.12.002
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), sendo composta por 14 itens, distribuídos em três fatores (aceitação da trapaça, aceitação do antidesportivismo e aceitação da vitória justa). Foi utilizada a versão traduzida e adaptada nesta pesquisa, a qual deve ser respondida por meio de uma escala Likert de 5 pontos que varia de 1 = Discordo totalmente (DT) a 5 = Concordo totalmente (CT).

Questões Sociodemográficas. Os participantes também responderam informações, como idade, sexo, tipo de modalidade esportiva praticada, experiência no esporte, títulos esportivos conquistados, dentre outras. Esse levantamento de informações teve a finalidade de caracterizar a amostra do estudo.

Procedimentos

Foi utilizado um procedimento padrão para a aplicação dos questionários. Inicialmente, entrou-se em contato com treinadores e escolas, a fim de apresentar a pesquisa e pedir autorização para a aplicação dos questionários. Em seguida, após realizar agendamentos com treinadores e escolas, pesquisadores treinados se dirigiram até o ambiente de treino dos atletas (escola, clube e outras instituições esportivas) para que estes respondessem aos questionários, mediante permissão e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para maiores de 18 anos ou Termo de Assentimento livre e Esclarecido (TALE) para menores de 18 anos (nesse caso, os responsáveis pelos atletas com idades inferiores a 18 anos deveriam assinar o TCLE). A pesquisa foi aprovada por Comitê de Ética local, através do parecer 1244985.

Análise dos Dados

Os dados relativos à caracterização da amostra foram analisados de forma descritiva (média e desvio padrão) para dados contínuos e percentuais para dados categóricos. Para a análise da consistência interna da escala, foi analisada a confiabilidade dos itens por meio do alfa de Cronbach e confiabilidade composta. Como se trata da primeira tradução e adaptação do instrumento para a realidade brasileira, procurou-se estudar as propriedades psicométricas da escala a partir de evidências de validade de conteúdo e de estrutura interna.

Dessa forma, empregou-se inicialmente a avaliação de conteúdo pelos juízes, junto ao processo de tradução e adaptação do instrumento. Em sequência, aplicou-se a análise fatorial exploratória (AFE) para verificar como os itens se comportariam a partir da estrutura dos dados. Os dados foram analisados por meio do SPSS 20, onde foram realizadas estatísticas descritivas, análise fatorial exploratória e análises dos índices de consistência interna (alfa de Cronbach).

Resultados e Discussão do Estudo 1

A confiabilidade do modelo exploratório foi obtida por meio do coeficiente KMO (0,75) e a análise de esfericidade de Bartlett com qui-quadrado significativo: χ2(91) = 502,752; p < 0,001. Foi utilizado o método de extração dos Mínimos Quadrados Não Ponderados, uma vez que suporta que os itens não tenham distribuição normal, com rotação oblíqua direta. A análise da medida de adequação da amostra de cada item foi realizada por meio da matriz de anti-imagem (MAS > 0,70 e r < 0,09).

Para serem efetuadas as interpretações dos fatores de cada instrumento, foram desconsiderados os itens que obtiveram saturações acima de 0,30 em mais de um fator e cargas fatoriais menores que 0,30. Dessa forma, consideraram-se apenas os itens com cargas fatoriais acima de 0,30 em um único fator, como recomenda a literatura (Pasquali, 2005Pasquali, L. (2005). Análise fatorial para pesquisadores. Brasília: Labpam. ).

Apesar da escala sugerir um modelo de três fatores, incialmente foi testado um modelo com a extração livre de fatores afim de verificar como os itens se distribuiriam pelas dimensões. Apesar da análise dos eigenvalues pelo critério de Kaiser (> 1,0) sugerir a retenção de quatro fatores, a análise paralela e o critério de Cattel (scree plot) não deixaram totalmente clara essa extração. Dessa forma, optou-se por testar dois modelos exploratórios (três e quatro fatores), como uma medida de sensibilidade da estrutura fatorial dos itens.

Inicialmente, foi testado o modelo de quatro fatores (seguindo o critério de Kaiser), o qual explicou 44% da variância dos dados. No entanto, verificou-se que o fator 4 foi saturado por apenas dois itens (10 e 14), indicando uma instabilidade no modelo de quatro fatores. Dessa forma, foi testado um modelo de três fatores (Trapaça, Antidesportivismo e Vitória Justa), o qual apresentou melhor ajuste e distribuição dos itens pelos fatores, explicando 45% da variância total dos dados. Contudo, o item 14 apresentou carga fatorial acima de 0,30 em mais de um fator, sendo excluído do modelo.

A partir desses resultados exploratórios, optou-se por testar um terceiro modelo sem o item 14 (Tabela 1). Este apresentou adequado ajuste (KMO = 0,77/Bartlett, p < 0,001) e todos os indicadores para a quantidade de fatores a extrair concordaram em três dimensões, explicando 45,15% da variância total dos dados.

Tabela 1
Estrutura fatorial do Attitudes to Moral Decision-making in Youth Sport Questionnaire - AMDSQY

Assim, dos quatorze itens que compõem a escala, só um deles não se mostrou adequado, o item 14, pois este não apresentou saturações significativas em nenhum dos fatores, podendo ser considerado como item ambíguo. Portanto, sugere-se que, em estudos futuros, esse item seja reformulado ou não considerado em análises posteriores. Os três fatores resultantes da análise fatorial são descritos a seguir:

Fator I - Trapaça: este ficou composto pelos itens 1, 5, 8 e 12 (quatro itens), representando atitudes favoráveis à prática da “trapaça” em busca de vitória no esporte. Sua consistência interna (alfa de Cronbach) foi 0,72. Fator II - Antidesportivismo: este foi formado pelos itens 2, 4, 6, 11 e 13 (cinco itens), representando práticas negativas de desconcentração do adversário para favorecimento próprio e sua consistência interna (alfa de Cronbach) foi 0,74.

O Fator III - Vitória Justa: por último, este fator foi formado pelos itens 3, 7, 9 e 10 (quatro itens) representando atitudes que procuram a vitória de forma justa, respeitando os adversários e as regras do jogo, sendo coerente com os princípios do Fair Play, e sua consistência interna (alfa de Cronbach) foi de 0,55, sendo a menor entre os fatores da escala. O estudo de desenvolvimento da AMDYSQ (Lee et al., 2007Lee, M. J., Whitehead, J., & Ntoumanis, N. (2007). Development of the attitudes to moral decision-making in youth Sport questionnaire (AMDYSQ). Psychology of Sport and Exercise, 8(3), 369-92. doi:10.1016/j.psychsport.2006.12.002
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) também evidenciou uma baixa consistência interna nesse fator (α = 0,60), assim como o estudo de adaptação da escala para a Turquia (Gürpınar, 2014b), no qual o fator correspondente obteve um alfa de 0,59.

Em resumo, essa escala oferece modelo multifatorial para verificar atitudes morais no contexto esportivo (Fair Play), assegurando parâmetros psicométricos aceitáveis com o fim de pesquisa (Clark & Watson, 1995Clark, L. A., & Watson, D. (1995). Constructing validity: Basic issues in objective scale development. Psychological Assessment, 7(3), 309. doi:10.1037/1040-3590.7.3.309
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). Com o objetivo de prosseguir com o estudo de validade da escala para o contexto brasileiro, foi realizado um segundo estudo para comprovar a estrutura fatorial aqui encontrada.

Estudo 2 - Comprovação da Estrutura Fatorial do AMDYSQ

Amostra

Participaram do segundo estudo 242 atletas da região do vale do São Francisco, sendo 44,21% do sexo feminino (n = 107) e 55,81% do sexo masculino (n = 135); estes indicaram praticar diferentes modalidades esportivas (a exemplo de: atletismo, handebol, jiu-jitsu, judô, ginástica rítmica/artística, futebol, futebol americano, canoagem, basquete, polo aquático, natação, ciclismo, futsal, dentre outras). A idade dos participantes variou entre 13 e 26 anos (M = 18,77; DP = 3,64). A maioria destes atletas indicou ter participado de competições em nível nacional (28,11%; n = 68) e estadual (23,63%; n = 57). Os demais participantes relataram ter competido em nível internacional (8,74%; n = 21), regional (12,00%; n = 29), municipal (13,62%; n = 33) e jogos escolares (14,00%; n = 34). Como critérios de inclusão na amostra, o sujeito deveria participar ou já ter participado de competições esportivas, fossem estas de qualquer nível (escolares, municipais, regionais, nacionais, internacionais). Além disso, o sujeito deveria ser alfabetizado, para que fosse possível responder ao questionário.

Instrumentos

Para a coleta de dados, foi utilizado o Attitudes to Moral Decision-making in Youth Sport Questionnaire (AMDYSQ), traduzido e adaptado no Estudo 1. Além dele, foram utilizadas questões sociodemográficas, com a finalidade de caracterizar a amostra do estudo.

Procedimento

A coleta de dados foi realizada tanto presencialmente quanto por meio da rede mundial de computadores. A coleta presencial foi realizada em escolas, clubes, centros de treinamento e competições esportivas, onde foram aplicados os instrumentos impressos em 130 competidores, mediante prévia autorização dos responsáveis pelas instituições e também com a autorização do treinador ou professor dos atletas, com o intuito de não interferir nos treinos e competições. Os atletas levavam cerca de 20 minutos para responder aos questionários.

Já a coleta on-line foi realizada a partir de um questionário criado pela ferramenta Google Formulários, onde se obteve a participação de 112 atletas. Para essa coleta on-line, inicialmente, foram realizados contatos com atletas, clubes, grupos esportivos, treinadores e confederações de vários lugares do país e de várias modalidades esportivas. Os contatos foram realizados por meio de e-mail, telefone e redes sociais. Para facilitar o contato com esses atletas, foi criado ainda um e-mail, na plataforma Gmail, e um perfil no site de rede social Facebook. Por meio dessas ferramentas, foram passadas informações necessárias e o link do questionário on-line. Em ambas as coletas, foi exigido o consentimento de cada participante a partir do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Análise dos Dados

Os dados foram tabulados e analisados por meio do Pacote Estatístico para as Ciências Sociais (SPSS/PASW e AMOS, ambos na versão 20). Foi testado o modelo conceitual proposto pelo estudo de criação da escala com os dados da amostra brasileira por meio da análise fatorial confirmatória/AFC, analisando a variância extraída média para verificar a validade convergente (Hair et al., 2014Hair, J. F. Jr. et al. (2014), Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Ed Bookman.; Kline, 2012Kline, S. J. (2012). Similitude and approximation theory. Springer Science & Business Media.).

AFC foi conduzida inicialmente por meio de uma análise preliminar a fim de constatar a adequação dos dados à análise. Foi verificada a existência de casos aberrantes (outliers), visto que a AFC exige a inexistência destes. Os outliers foram avaliados por meio da distância de Mahanalobis, a qual não evidenciou a existência deles, permitindo o uso da AFC. Verificou-se também a normalidade, tendo-se estudado, não só a distribuição univariada dos dados por meio da assimetria (Sk) e da curtose (Ku), mas também a distribuição multivariada (coeficiente de Mardia para a curtose multivariada) (ISkI < 3,0 e IKuI < 10,0) (Hair et al., 2014Hair, J. F. Jr. et al. (2014), Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Ed Bookman.).

A adequação do modelo fatorial confirmatório foi testada com o uso do método de estimação de Máxima verossimilhança, que é o mais indicado em grandes amostras (Marôco, 2014Marôco, J. (2014). Análise de equações estruturais: Fundamentos teóricos, software & aplicações. ReportNumber, Lda.). Para verificar a estabilidade e significância da carga fatorial de cada item com seu respectivo fator, foi utilizada a técnica de Bootstrapping (Cheung & Lau, 2008Cheung, G. W., & Lau, R. S. (2008). Testing mediation and suppression effects of latent variables: Bootstrapping with structural equation models. Organizational research methods, 11(2), 296-325. doi:10.1177/1094428107300343
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). O modelo final da escala foi testado por meio dos índices de ajuste mais recomendados na literatura (Hair et al., 2014Hair, J. F. Jr. et al. (2014), Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Ed Bookman.; Kline, 2012Kline, S. J. (2012). Similitude and approximation theory. Springer Science & Business Media.): Qui-Quadrado ( e p-valor), Índice de Qualidade do Ajuste (GFI > 0.90), Raiz do Erro Quadrático Médio de Aproximação (RMSEA < 0,08, I.C. 90%, p-value [H0: RMSEA ≤ 0,05]), Índice Tucker-Lewis (TLI > 0,90), Índice de Qualidade de Ajuste Calibrado (AGFI > 0,90), Qui-Quadrado Normalizado (X 2 /grau de liberdade, recomendado entre 1,0 e 3,0) e Índice de Ajuste Comparativo (CFI > 0,90).

Para avaliar a validade convergente, empregou-se a análise da Variância Extraída Média (VEM), conforme sugerido por Fornell e Larcker (1981Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Structural equation models with unobservable variables and measurement error: Algebra and statistics. Journal of marketing research, 382-388. doi:10.2307/3150980
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), e valores próximos ou superiores a 0,50 foram considerados indicadores de adequada validade convergente. Também foi calculada a Confiabilidade Composta (CC) por meio dos resultados da AFC, sendo que valores superiores a 0,70 foram considerados indicadores adequados (Hair et al., 2014Hair, J. F. Jr. et al. (2014), Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Ed Bookman.).

Resultados e Discussão do Estudo 2

Confirmação da Estrutura Fatorial da AMDYSQ

Foi realizada uma análise fatorial confirmatória (AFC) a fim de comprovar a estrutura fatorial do Attitudes to Moral Desicion-making Sport Questionnarie, adotando para isso o método de estimação Maximum Likelihood (ML). Distribuindo os 13 itens da escala em três fatores (Antidesportivismo, Trapaça e Vitória Justa), foram obtidos os seguintes indicadores de ajuste: χ2(62) = 99,820, p < 0,005, χ2/gl = 1,61, GFI = 0,94, AGFI = 0,91, TLI = 0,96; CFI = 0,97 e RMSEA = 0,05 (IC 90% = 0,03 - 0,06).

Ressalta-se ainda que todos os itens do questionário apresentaram saturações (lambdas) estatisticamente diferente de zero ≠ 0; p < 0,001), com valores variando de 0,29 (item 10) a 0,92 (item 7), indicando estabilidade de estimativas fatoriais e ajuste do modelo para os dados. Ressalta-se que os itens 9 e 10 necessitam de uma atenção especial em estudos futuros, já que apresentaram uma saturação de 0,30 e 0,29 respectivamente, estando abaixo do recomendado pela literatura (Cheung & Lau, 2008Cheung, G. W., & Lau, R. S. (2008). Testing mediation and suppression effects of latent variables: Bootstrapping with structural equation models. Organizational research methods, 11(2), 296-325. doi:10.1177/1094428107300343
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). A Figura 1 apresenta a estrutura fatorial da AMDYSQ sugerida pelos resultados:

Figura 1
Análise fatorial confirmatória do AMDYSQ.

Pode-se dizer que os resultados obtidos foram adequados, na medida em que os índices de ajuste encontrados estão de acordo com o recomendado pela literatura (Blunch, 2008Blunch, N. (2008). Introduction to Structural Equation Modelling using IBM SPSS and Statistics and EQS. London: Sage Publications. doi:10.4135/9781446249345
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; Byrne, 2016Byrne, B. M. (2016). Structural equation modeling with Amos: Basic concepts, applications and programming (3th ed.). New York: Routledge.; Brown, 2003Brown, T. A. (2003). Confirmatory fator analysis of the Penn State Worry Questionnaire: Multiple factors or method effects? Behaviour Research and Therapy, 41(12), 1411-1426. doi:10.1016/S0005-7967(03)00059-7
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; Garson, 2003Garson, G. D. (2003). PA 765 Statnotes: An online textbook. Recuperado de https://faculty.chass.ncsu.edu/garson/PA765/statnote.htm
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; Hair et al., 2014Hair, J. F. Jr. et al. (2014), Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Ed Bookman.; Pasquali, 2005Pasquali, L. (2005). Análise fatorial para pesquisadores. Brasília: Labpam. ; Pasquali, 2009Pasquali, L. (2009). Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação (3th ed.). Petrópolis: Vozes.; Tabachnick & Fidell, 2012Tabachnick, B. G. & Fidel, L. S. (2012). Using multivariate statistics (6th ed.). New York: Prentice Hall.). O qui-quadrado sobre os graus de liberdade (x²/gl), o qual avalia a probabilidade do modelo teórico se ajustar aos dados, teve o valor de 1,61 sendo considerado aceitável, já que a literatura recomenda índices menores que 3 (Byrne, 2016Byrne, B. M. (2016). Structural equation modeling with Amos: Basic concepts, applications and programming (3th ed.). New York: Routledge.).

O GFI (Goodness of Fit Index) e o AGFI (Adjusted Goodness of Fit Index), os quais mensuram a proporção de variância-covariância nos dados explicada pelo modelo, tiveram valores em torno de 0,94 e 0,91, respectivamente, sendo aceitáveis pela literatura, já que afirma que valores iguais ou maiores que 0,90 são considerados indicativos de elevada adequação ao modelo (Hair et al., 2014Hair, J. F. Jr. et al. (2014), Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Ed Bookman.).

O TLI (Tucker-Lewis coeficiente), considerado um indicador global de adequação ao modelo, com índice de 0,96 está de acordo com o que recomenda a literatura (valores acima de 0,90) (Hair et al., 2014Hair, J. F. Jr. et al. (2014), Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Ed Bookman.). Com relação ao CFI (Comparative Fit Index), índice de comparação adicional de ajuste ao modelo, a literatura recomenda valores superiores a 0,95, sendo que o índice encontrado nessa estrutura fatorial foi de 0,97 (Blunch, 2008Blunch, N. (2008). Introduction to Structural Equation Modelling using IBM SPSS and Statistics and EQS. London: Sage Publications. doi:10.4135/9781446249345
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). Já o RMSEA (Root-Mean-Square Error of Approximation), indicador de “maldade” de ajuste, obteve o valor de 0,05, com intervalo de confiança de 90%. Segundo Thompson (2004Thompson, B. (2004). Exploratory and confirmatory factor analysis. Washington, DC: American Psychological Association.), o RMSEA aceita valores menores que 0,08, sendo que valores maiores que o aceitável indicam desajuste do modelo.

Os valores da VEM para cada fator da escala foram os seguintes: Trapaça = 0,56; Antidesportivismo = 0,68; Vitória Justa = 0,35 (Valor recomendado: VEM > 0,50). Os valores da CC foram satisfatórios para avaliação da consistência interna (Trapaça = 0,90; Antidesportivismo = 0,95; Vitória Justa = 0,71).

Com relação aos alfas de Cronbach obtidos pelos fatores da escala neste estudo, foi possível observar que Trapaça (α = 0,83) e Antidesportivismo (α = 0,91) obtiveram índices adequados, já o fator Vitória Justa (α = 0,57) obteve um valor abaixo do recomendado pela literatura (α = 0,70; Pasquali, 2005Pasquali, L. (2005). Análise fatorial para pesquisadores. Brasília: Labpam. ), podendo ser considerado aceitável apenas para fins de pesquisa. Comparando-se os valores dos alfas encontrados neste estudo, com os valores encontrados no primeiro estudo (0,74; 0,72 e 0,55 respectivamente), observa-se que os alfas atuais estão com melhores índices psicométricos. Dessa forma, o AMDYSQ apresentou indicadores que apoiam a adequação psicométrica da estrutura fatorial sugerida (três fatores), sendo semelhante ao estudo original de Lee et al. (2007Lee, M. J., Whitehead, J., & Ntoumanis, N. (2007). Development of the attitudes to moral decision-making in youth Sport questionnaire (AMDYSQ). Psychology of Sport and Exercise, 8(3), 369-92. doi:10.1016/j.psychsport.2006.12.002
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).

Considerações Finais

A disponibilização de um instrumento psicométrico com evidências de validade para o contexto brasileiro, pode ser considerada de fundamental importância, já que existem poucos instrumentos que mensurem atitudes morais de atletas no país, assim como também existem poucos estudos acerca das atitudes no contexto esportivo.

No entanto, apesar das contribuições, algumas limitações da pesquisa podem ser citadas. Parte da amostra utilizada, por exemplo, preencheu os instrumentos por meio da rede mundial de computadores, o que impossibilitou o controle de algumas variáveis (os sujeitos podem ter respondido a pesquisa com a ajuda amigos, poderiam estar em locais inapropriados para o preenchimento dos questionários ou não tiveram a oportunidade de sanar possíveis dúvidas relacionadas a forma correta de responder aos questionários). Outra limitação diz respeito à qualidade psicométrica do instrumento, já que o fator Vitória Justa apresentou baixa consistência interna (alfa de Cronbach) e os itens 9 e 10 desse fator, apresentaram saturações abaixo do recomendado pela literatura.

Por se tratar de um estudo de adaptação, os autores mantiveram os itens do estudo original, fato que pode ter ocasionado baixos índices psicométricos decorrentes de uma possível dificuldade de compreensão ou interpretação por parte dos atletas brasileiros. Dessa forma, em futuros estudos, os itens poderão ser melhorados com o objetivo de aumentar seus índices psicométricos. Todavia, tais limitações não invalidam os resultados encontrados nesta pesquisa.

Estudos futuros podem ser desenvolvidos com a aplicação presencial dos questionários, com novas amostras, buscando sempre abranger uma maior quantidade de participantes e outras regiões do país. O AMDYSQ deve ser utilizado em outros estudos com o objetivo de aumentar suas evidências de validade para o contexto brasileiro, sobretudo, por meio de novas análises convergente-discriminante e concorrente-preditivas.

Por fim, acredita-se que os resultados obtidos por meio desta pesquisa poderão servir de base para futuras investigações acerca das atitudes morais e da moralidade esportiva no Brasil, podendo também ser utilizados em intervenções guiadas por técnicos, treinadores, educadores físicos ou psicólogos do esporte, contribuindo para a promoção do Fair Play.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Fev 2021
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    21 Ago 2018
  • Revisado
    27 Set 2019
  • Aceito
    10 Fev 2020
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