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Escala de Manejo do Dinheiro na Conjugalidade (EMDC): Construção e Evidências de Validade

Conjugality Money Managment Scale (EMDC): Construction and Validity Evidence

Escala de Gestión del Dinero en la Conyugalidad (EMDC): Construcción y Evidencias de Validez

Resumo

O dinheiro pode ser um fator positivo e/ou negativo na conjugalidade, e a maneira como o casal gerencia os recursos influencia em diferentes aspectos da relação. Este estudo visa apresentar a construção e as propriedades psicométricas da Escala de Manejo do Dinheiro na Conjugalidade (EMDC), elaborada para avaliar os estilos de manejo de dinheiro adotado por indivíduos em relacionamentos estáveis de coabitação: Manejo Independente ou Compartilhado. Participaram 280 homens e mulheres, brasileiros, em relacionamentos estáveis coabitando há, no mínimo, seis meses, sendo 76,4% (N = 214) residentes no estado do Rio Grande do Sul. A partir das análises fatoriais confirmatórias, a escala resultou em 18 itens agrupados em quatro dimensões: Coesão financeira, Intimidade financeira, Infidelidade financeira e Partilha de bens. As análises permitiram identificar estrutura fatorial adequada e evidências de validade. A escala possui potencial para ser utilizada em pesquisa e na prática clínica no âmbito da conjugalidade.

Palavras-chave:
relações conjugais; finanças; construção do teste; análise fatorial

Abstract

The approach couples take to managing financial resources influences different aspects of the marital relationship, and this may correspond to a positive and/or negative factor in conjugality. This study aims to present the construction process and psychometric properties of the Conjugality Money Management Scale (CMMS), designed to evaluate the two possible approaches to money management that can be adopted by individuals in marital cohabitation relationships: Independent or Shared Management approaches. The sample size was 280 participants, including Brazilian men and women, 76.4% (N = 214) living in the state of Rio Grande do Sul. The confirmatory factorial analyzes resulted in a scale of 18 items, classified into four dimensions: Financial Cohesion, Financial Intimacy, Financial Infidelity, and Asset Sharing. The analyses indicated adequate factorial structure and validity evidence. The scale presents the potential of applicability in research and clinical practice in the context of marital relationships.

Keywords:
marital relations; money; test construction; factor analyses

Resumen

El dinero puede ser un factor positivo y / o negativo en la conyugalidad, y la manera en que una pareja administra sus recursos influye en distintos aspectos de la relación. En este estudio se buscó presentar la construcción y las propiedades psicométricas de la Escala de Gestión del Dinero en la Conyugalidad (EMDC), diseñadas para evaluar los posibles estilos de administración del dinero adoptados por individuos en relaciones estables de convivencia: Gestión Independiente o Compartida. Participaron de la muestra 280 hombres y mujeres de Brasil, en relaciones estables con un mínimo de seis meses de convivencia, con 76.4% (N = 214) con residencia en la provincia de Rio Grande do Sul. Los 18 ítems resultantes de los análisis factoriales confirmatorios fueron agrupados en cuatro dimensiones: cohesión financiera, intimidad financiera, infidelidad financiera y distribución de activos. Los análisis permitieron identificar una estructura factorial adecuada y evidencias de validez. La escala presenta potencial de aplicabilidad para ser utilizada en investigaciones y prácticas clínicas en el ámbito de las relaciones matrimoniales.

Palabras clave:
relaciones conyugales; finanzas; construcción de test; análisis factorial

Introdução

Em uma relação conjugal, há a união de duas individualidades, onde cada casal cria sua forma de ser, coexistindo diferentes maneiras de ver o mundo, histórias e projetos de vida (Fères-Carneiro, 1998Fères-Carneiro, T. (1998). Casamento contemporâneo: O difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11(2), 379-394. doi:10.1590/S0102-79721998000200014
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). A forma como a conjugalidade irá se constituir conecta-se às questões de ordem pessoal, interpessoal, cultural, social e transgeracional (Diniz, 2011Diniz, G. (2011) Conjugalidade e violência: Reflexões sobre uma ótica de gênero. Em T. Féres-Carneiro (Eds.). Casal e Família: Conjugalidade, parentalidade e psicoterapia (pp 11-26). Porto Alegre, RS: Casa do Psicólogo.). O processo de desenvolvimento humano e os relacionamentos são complexos, o que aponta para a importância de compreender os fenômenos que envolvem esse contexto.

Um dos aspectos que perpassa diferentes esferas da vida e está presente no cotidiano é o dinheiro, que vem sendo explorado na literatura a partir de distintas perspectivas teóricas e implicações no contexto individual e social (Barros, Borges, & Estramiana, 2017Barros, S. C., Borges, L. O., & Estramiana, J. L. A. (2017). Níveis de análise nos estudos sobre os significados do dinheiro. Athenea Digital, 17(3), 131-148. doi:10.5565/rev/athenea.1858
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). Nas relações conjugais, ele pode atuar como um fator positivo e/ou negativo, sendo a forma de gerenciamento um dos aspectos a serem considerados nessa esfera (Garbin, Mara, Cenci, & Luz, 2015Garbin, A. D. S., Mara, C., Cenci, B., & Luz, S. K. (2015). Dinheiro e conjugalidade, 7(1), 72-78. Recuperado de http://www.bibliotekevirtual.org/index.php/2013-02-07-03-02-35/2013-02-07-03-03-11/1187-psico-imed/v07n01/12200-dinheiro-e-conjugalidade.htm
http://www.bibliotekevirtual.org/index.p...
).

A forma como um casal estabelece o manejo dos recursos financeiros tem relação com os níveis de satisfação conjugal, comunicação, confiança e respeito (Harth & Falcke, 2017Harth, J., & Falcke, D. (2017). Manejo do dinheiro e qualidade conjugal. Interação em Psicologia, 21(1), 9-18. doi: 10.5380/psi.v21i1.32215
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), bem como sentimentos positivos ou negativos em relação ao cônjuge e à união (Papp, Cummings, & Goeke-Morey, 2009Papp, L. M., Cummings, E. M., & Goeke-Morey, M. C. (2009). For richer, for poorer: Money as a topic of marital conflict in the home. Family Relations, 58(1), 91-103. doi:10.1111/j.1741-3729.2008.00537.x
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). As formas como os casais gerenciam os recursos financeiros vem sendo estudadas, considerando seu impacto em diferentes aspectos da vida conjugal, como ajustamento, qualidade e conflitos (Cenci, Bona, Crestani, & Habigzang, 2017Cenci, C. M. B., Bona, C. S., Crestani, P., & Habigzang, L. F. (2017). Dinheiro e conjugalidade: Uma revisão sistemática da literatura. Temas Em Psicologia, 25(1), 385-399. doi:10.9788/TP2017.1-20
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).

Em um sistema de gestão independente, cada um dos membros do casal irá gerenciar e controlar individualmente sua renda e suas obrigações individuais com as despesas, e os cônjuges não têm acesso ao dinheiro um do outro. Já em um sistema de gestão compartilhada, tanto o acesso aos recursos quanto as decisões financeiras são compartilhadas por ambos os cônjuges (Pahl, 1989Pahl, J. (1989), Money and Marriage. London: Macmillan.).

A literatura aponta relações entre os estilos de manejo e a qualidade conjugal (Harth & Falcke, 2017Harth, J., & Falcke, D. (2017). Manejo do dinheiro e qualidade conjugal. Interação em Psicologia, 21(1), 9-18. doi: 10.5380/psi.v21i1.32215
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; Razera, Cenci, & Falcke, 2015Razera, J., Cenci, C. M., & Falcke, D. (2015). Manejo de dinheiro: Possíveis relações com o ajustamento e a violência em casais. Perspectivas em Psicologia, 19(2), 3-17 Recuperado de http://www.seer.ufu.br/index.php/perspectivasempsicologia/article/view/32492
http://www.seer.ufu.br/index.php/perspec...
; Papp et al., 2009Papp, L. M., Cummings, E. M., & Goeke-Morey, M. C. (2009). For richer, for poorer: Money as a topic of marital conflict in the home. Family Relations, 58(1), 91-103. doi:10.1111/j.1741-3729.2008.00537.x
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), sendo que estilos de manejo em conjunto apontam para maior qualidade conjugal (Cenci et al., 2017Cenci, C. M. B., Bona, C. S., Crestani, P., & Habigzang, L. F. (2017). Dinheiro e conjugalidade: Uma revisão sistemática da literatura. Temas Em Psicologia, 25(1), 385-399. doi:10.9788/TP2017.1-20
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). Sistemas de gerenciamento individuais aparecem associados com a diminuição de sentimentos de intimidade, satisfação sexual e satisfação em relação à resolução de conflitos por parte das mulheres (Addo & Sassler, 2010Addo, F. R., & Sassler, S. (2010). Financial arrangements and relationship quality in low-income couples. Family Relations, 59(4), 408-423. doi:10.1111/j.1741-3729.2010.00612.x
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). Ainda, nos casais onde o manejo do dinheiro é compartilhado, é favorecida a afirmação da união conjugal, da intimidade e da afetividade (Archuleta, 2013Archuleta, K. L. (2013). Couples, money, and expectations: Negotiating financial management roles to increase relationship satisfaction. Marriage and Family Review, 49(5), 391-411. doi:10.1080/01494929.2013.766296
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).

Apesar das relações apontadas na literatura, percebe-se uma carência instrumental para mensurar o fenômeno, uma vez que diferentes pesquisas nas últimas décadas se utilizam de entrevistas e questionários sem contar com um instrumento específico para avaliação. Na década de 1980, a partir de dados da Iniciativa de Mudança Social e Econômica do Reino Unido, foi analisada a relação entre dinheiro, poder e desigualdade no casamento constatando questões sobre o gerenciamento das finanças. Entretanto, os dados foram levantados por meio de entrevistas individuais e questionários (Vogler & Pahl, 1993Vogler, C., & Pahl, Jan. (1993). Social and economic change and the organisation of money within marriage. Work Employment and Society, 7(1), 71-95. doi: 10.1177/0950017093007001005
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).

Na década de 1990, uma análise do perfil de gastos familiares de 3.676 casais britânicos envolveu sete grupos focais com 59 indivíduos e a condução de entrevistas presenciais com 40 casais residentes na Inglaterra. Tal método visou compreender a forma que indivíduos e casais manejam suas finanças (Pahl, 2000Pahl, J. (2000). Couples and their money: Patterns of accounting and accountability in the domestic economy. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 13(4), 502-517. doi: 10.1108/09513570010338078
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). Burgoyne, Clarke, Reibstein e Edmunds (2006Burgoyne, C. B., Clarke, V., Reibstein, J., & Edmunds, A. (2006). “All my wordly goods I share with you: Managing Money at the transition to heterossexual marriage. The Sociological Review, 54(4), 619-637. doi: 10.1111/j.1467-954X.2006.00663.x
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), ao estudarem aspectos financeiros de 42 casais heterossexuais no sul da Inglaterra, levantaram dados por meio de entrevistas semiestruturadas. Percebe-se a valorização da temática na Europa, em destaque no Reino Unido, ainda que o acesso seja qualitativo.

Outras pesquisas conduzidas sobre manejo do dinheiro na conjugalidade mensuram o fenômeno por meio de uma única questão, a partir da qual os indivíduos respondem de que forma o dinheiro é gerenciado, se apenas por um ou por ambos (Cardoso & Bucher-Maluschke, 2017Cardoso, L. B. S. A, & Bucher-Maluschke, J. S. N. F. (2017). O casal face as finanças: Revisão da literatura. Rev. Nufen: Phenom. Interd, 9(3), 177-187 doi: 10.26823/RevistadoNUFEN.vol09.n03revir22
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; Cenci & Habigzang, 2019Cenci, C. M. B, & Habigzang, L. F. (2019). Dinheiro e conjugalidade: Posicionamentos e estratégias conjugais para resolução de dilemas financeiros. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 12(1), 159-174. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1983-82202019000100012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Cenci, Pauli, & Folle, 2018Cenci, C. M. B, Pauli, J., & Folle, P. D. (2018). Conjugalidade negociada: Elementos para compreensão do significado que casais atribuem ao dinheiro. Actualidades en Psicología, 32(124), 76-91. doi:10.15517/ap.v32i124.28392
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; Cenci et al., 2017Cenci, C. M. B., Bona, C. S., Crestani, P., & Habigzang, L. F. (2017). Dinheiro e conjugalidade: Uma revisão sistemática da literatura. Temas Em Psicologia, 25(1), 385-399. doi:10.9788/TP2017.1-20
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; Harth, Mosmann, & Falcke, 2016Harth, J., Mosmann, C. P., & Falcke, D. (2016). Manejo do dinheiro pelo casal e infidelidade financeira. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 16(1), 260-276. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-­42812016000100015
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Yodanis & Lauer, 2007Yodanis, C., & Lauer, S. (2007). Economic inequality in and outside of marriage: Individual resources and institutional context. European Sociological Review, 23(5), 573-583. doi: 10.1093/esr/jcm021
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). No Brasil, são recentes os estudos que abarcam a temática dos estilos de manejo do dinheiro.

Archuleta (2008Archuleta, K. L. (2008). The impact of dyadic processes and financial management roles on farm couples. (Tese de doutorado) Kansas State University, Manhattan, Kansas, Estados Unidos da América. doi:10.1080/01494929.2013.766296
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) desenvolveu um instrumento com propriedades psicométricas para verificar o envolvimento de cada cônjuge no gerenciamento das finanças dentro de um contexto rural entre casais residentes em estados do oeste dos Estados Unidos. A Financial Managment Roles (FMR) foi composta por 19 itens avaliados em uma escala Likert de 1 a 7, que mensurava a responsabilidade pessoal, conjunta ou do cônjuge em relação ao gerenciamento das finanças na propriedade rural e obteve alfa de Cronbach de 0,930. Contudo, a FMR é voltada para a conjugalidade e a administração financeira especificamente no meio rural. Os respondentes devem indicar sua responsabilidade na execução de tarefas, como bookkeeper, employee wages, farm related insurance e livestock purchase/sales (contabilidade, salário dos funcionários, seguro da fazenda e compra/venda de gado, em tradução livre), não sendo passível de replicação em diferentes cenários.

O estilo de manejo do dinheiro adotado por um casal abarca questões complexas e envolve diferentes aspectos de ordem individual, transgeracional, conjugal e social (Barros et al., 2017Barros, S. C., Borges, L. O., & Estramiana, J. L. A. (2017). Níveis de análise nos estudos sobre os significados do dinheiro. Athenea Digital, 17(3), 131-148. doi:10.5565/rev/athenea.1858
https://doi.org/10.5565/rev/athenea.1858...
; Pahl, 2005Pahl, J. (2005). Individualisation in couple finances: Who pays for the children? Social Policy and Society, 4(04), 381. doi:10.1017/S1474746405002575
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). A compreensão do fenômeno requer o entendimento de como o casal estabelece e divide as responsabilidades em relação às finanças, qual o nível de intimidade financeira que compartilham, se ocorre a infidelidade financeira e como se dá a partilha dos bens (Cenci et al., 2017Cenci, C. M. B., Bona, C. S., Crestani, P., & Habigzang, L. F. (2017). Dinheiro e conjugalidade: Uma revisão sistemática da literatura. Temas Em Psicologia, 25(1), 385-399. doi:10.9788/TP2017.1-20
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; Hart et al., 2016; Archuleta, 2013Archuleta, K. L. (2013). Couples, money, and expectations: Negotiating financial management roles to increase relationship satisfaction. Marriage and Family Review, 49(5), 391-411. doi:10.1080/01494929.2013.766296
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; Pahl, 2005Pahl, J. (2005). Individualisation in couple finances: Who pays for the children? Social Policy and Society, 4(04), 381. doi:10.1017/S1474746405002575
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).

A temática vem sendo estudada de forma estruturada há pelo menos três décadas e o cenário apresentado denota a carência instrumental para mensurar o fenômeno. Medidas de avaliação servem como importantes ferramentas para pesquisadores e profissionais, pois possibilitam maior precisão, previsão e possibilidades de estimativas. A possibilidade de replicação de estudos é valorizada na Psicologia (Reppold et al., 2015Reppold, C. T., Gomes, C. M. A., Seabra, A. G., Muniz, M., Valentini, F., & Laros, J. A. (2015). Contribuições da psicometria para os estudos em neuropsicologia cognitiva.Psicologia: teoria e prática,17(2), 94-106.). Assim, o objetivo deste estudo foi construir e verificar evidências de validade de uma escala para identificar os estilos de manejo do dinheiro na conjugalidade para a população brasileira, a EMDC (Escala de Manejo do Dinheiro na Conjugalidade).

Método

Elaboração do Instrumento

A partir de uma revisão teórica da literatura sobre o manejo financeiro e o fenômeno do dinheiro na conjugalidade, procedeu-se com a elaboração da Escala de Manejo do Dinheiro na Conjugalidade (EMDC). O processo de construção dos itens e definição das quatro dimensões emergiu da literatura especializada na área (Archuleta, 2013Archuleta, K. L. (2013). Couples, money, and expectations: Negotiating financial management roles to increase relationship satisfaction. Marriage and Family Review, 49(5), 391-411. doi:10.1080/01494929.2013.766296
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; Barros et al., 2017Barros, S. C., Borges, L. O., & Estramiana, J. L. A. (2017). Níveis de análise nos estudos sobre os significados do dinheiro. Athenea Digital, 17(3), 131-148. doi:10.5565/rev/athenea.1858
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; Cardoso & Bucher-Maluschke, 2017Cardoso, L. B. S. A, & Bucher-Maluschke, J. S. N. F. (2017). O casal face as finanças: Revisão da literatura. Rev. Nufen: Phenom. Interd, 9(3), 177-187 doi: 10.26823/RevistadoNUFEN.vol09.n03revir22
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; Cenci & Habigzang, 2019Cenci, C. M. B, & Habigzang, L. F. (2019). Dinheiro e conjugalidade: Posicionamentos e estratégias conjugais para resolução de dilemas financeiros. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 12(1), 159-174. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1983-82202019000100012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Cenci et al., 2018Cenci, C. M. B, Pauli, J., & Folle, P. D. (2018). Conjugalidade negociada: Elementos para compreensão do significado que casais atribuem ao dinheiro. Actualidades en Psicología, 32(124), 76-91. doi:10.15517/ap.v32i124.28392
https://doi.org/10.15517/ap.v32i124.2839...
; Cenci et al., 2017Cenci, C. M. B., Bona, C. S., Crestani, P., & Habigzang, L. F. (2017). Dinheiro e conjugalidade: Uma revisão sistemática da literatura. Temas Em Psicologia, 25(1), 385-399. doi:10.9788/TP2017.1-20
https://doi.org/10.9788/TP2017.1-20...
; Garbin et al., 2015Garbin, A. D. S., Mara, C., Cenci, B., & Luz, S. K. (2015). Dinheiro e conjugalidade, 7(1), 72-78. Recuperado de http://www.bibliotekevirtual.org/index.php/2013-02-07-03-02-35/2013-02-07-03-03-11/1187-psico-imed/v07n01/12200-dinheiro-e-conjugalidade.htm
http://www.bibliotekevirtual.org/index.p...
; Hart et al., 2016; Pahl, 2005Pahl, J. (2005). Individualisation in couple finances: Who pays for the children? Social Policy and Society, 4(04), 381. doi:10.1017/S1474746405002575
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; 1989Pahl, J. (1989), Money and Marriage. London: Macmillan.; Yodanis e Lauer, 2007Yodanis, C., & Lauer, S. (2007). Economic inequality in and outside of marriage: Individual resources and institutional context. European Sociological Review, 23(5), 573-583. doi: 10.1093/esr/jcm021
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) e discussão com juiz especialista em conjugalidade: Coesão financeira tange à responsabilidades compartilhadas em relação às finanças, considerando as despesas, a tomada de decisão e as ações envolvendo o uso do dinheiro; Intimidade financeira abrange a partilha de informações, valores, planejamento financeiro e opinião em relação ao dinheiro; Infidelidade financeira abarca atitudes de esconder do(a) parceiro(a) ações e informações referentes a gastos, ganhos e/ou investimentos financeiros; Partilha de bens, por fim, refere-se a como o casal percebe e gerencia a propriedade dos recursos financeiros.

Foram utilizados os procedimentos para análise da qualidade dos itens desenvolvidos de acordo com critérios de pertinência prática (se o item pertence ao fenômeno estudado) e clareza de linguagem (se a forma como o item está escrito é clara, compreensível e apropriada) (Pasquali, 2011Pasquali L. (2011) Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis: Vozes.), os quais foram submetidos à análise de cinco juízes especialistas em terapia de casal. A avaliação foi feita por meio de uma escala Likert de 5 pontos, sendo que uma pontuação 0 representou nenhuma pertinência e linguagem inapropriada e 4 representou um item pertinente expresso por meio de uma linguagem precisa. Os itens receberam concordância em relação à pertinência prática (CVC = 0,990). No que tange à clareza de linguagem (CVC = 0,830), após análise dos juízes, foram feitas as adequações semânticas.

A escala resultou em 19 itens em uma escala Likert de 7 pontos, de Não aplicável a Muito aplicável, contendo afirmações como “Eu e meu parceiro partilhamos a responsabilidade pelas despesas domésticas” e “Eu e meu parceiro planejamos nossos gastos em conjunto”. Os itens resultantes foram submetidos à análise de compreensão por três pessoas que estavam em um relacionamento estável no momento. As idades variaram entre 29 e 62 anos (M = 43; DP = 17,06), sendo duas pessoas com escolaridade de ensino superior e uma pessoa com nível médio. Os 19 itens foram bem compreendidos e compuseram então a versão preliminar da escala a ser testada empiricamente.

Para identificar o estilo de manejo do dinheiro, foi utilizado o ponto de corte de 76. Escore inferior a 76 pontos caracterizaria estilo de manejo independente e escore superior a 76 pontos denotaria estilo de manejo do dinheiro compartilhado.

Participantes

Participaram do estudo 280 homens e mulheres, brasileiros, que estavam em um relacionamento e coabitando há, no mínimo, seis meses, sendo 76,4% (N = 214) residentes no estado do Rio Grande do Sul. O tempo total de relacionamento variou de 12 meses a 51,08 anos (M = 14,22 anos; DP = 11,43 anos) e o de coabitação variou de 6 meses a 47,08 anos (M = 10,84 anos; DP = 11,04 anos). Dentre os participantes, 94,6% (N = 265) declararam ter a ocupação profissional como fonte de renda. A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas da amostra.

Tabela 1
Caracterização Sociodemográfica dos Participantes

Cabe ressaltar que essa amostra é composta majoritariamente por indivíduos residentes na Região Sul, que exercem atividade remunerada e cursaram graduação. A amostra possui nível socioeconômico superior à média nacional, uma vez que, em 2015, 13,5% da população maior de 25 anos de idade possuía ensino superior completo e o rendimento médio brasileiro foi de 2,35 salários mínimos mensais (IBGE, 2015Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]. (2015.). Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios. Recuperado de https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2015/default.shtm
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). É importante considerar o perfil específico dessa amostra.

Instrumentos

Além da versão preliminar da EMDC, foi utilizado um instrumento para avaliar o ajustamento conjugal, um para comunicação conjugal, e os participantes responderam a um questionário sociodemográfico. Este foi utilizado para fins de caraterização da amostra e continha questões, como idade, sexo, situação conjugal, filhos, situação laboral, escolaridade, renda, tempo de relacionamento e filhos.

A R-DAS (Hollist et al., 2012Hollist, C. S., Falceto, O. G., Ferreira, L. M., Miller, R. B., Springer, P. R., Fernandes, C. L., & Nunes, N. A. (2012). Portuguese translation and validation of the Revised Dyadic Adjustment Scale. Journal of Marital and Family Therapy, 38(s1), 348-358. doi: 10.1111/j.1752-0606.2012.00296.x
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) é uma versão reduzida da DAS - Dyadic Adjustment Scale, questionário de autorrelato dirigido à avaliação da satisfação com a relação, a sua coesão e expressão de afeto (Rosado & Wagner, 2015Rosado, J. S., & Wagner, A. (2015). Qualidade, ajustamento e satisfação conjugal: Revisão sistemática da literatura. Pensando Famílias, 19(2), 21-33. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2015000200003&lng=pt&tlng=pt
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). A R-DAS contêm 14 itens que avaliam a percepção de ajustamento diádico do indivíduo e, neste estudo, foi utilizada a dimensão Coesão para verificar evidências de validade concorrente com a Coesão financeira. Apresenta bons índices de consistência interna, com alfa de Cronbach de 0,800 para coesão. Esses resultados indicam qualidade psicométrica. Destaca-se que esse é um dos instrumentos mais utilizados para avaliação da satisfação conjugal, inclusive no contexto brasileiro (Pereira-Silva, 2015Pereira-Silva, N. L. (2015). Estresse e ajustamento conjugal de casais com filho (a) com Síndrome de Down. Interação em Psicologia, 19(2), 297-308. doi: 10.5380/psi.v19i2.32747
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; Peruchi, Donelli, & Marin, 2016Peruchi, R. C., Donelli, T. M. S., & Marin, A. H. (2016). Ajustamento conjugal, relação mãe-bebê e sintomas psicofuncionais no primeiro ano de vida. Quaderns de Psicología, 18(3), 55-67. doi:10.5565/rev/qpsicologia.1363
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). Neste estudo, verificou-se alfa de Cronbach de 0,872 para a escala total e 0,824 para a dimensão Coesão.

Para avaliar a comunicação conjugal, utilizou-se a escala Dutch Marital Satisfaction e Communication Questionnaire - DMSCQ (Troost, Vermulst, Gerris, & Matthjis, 2005Troost, A., Vermulst, A. A., Gerris, J. R. M., & Matthijs, K. (2005). The Dutch Marital Satisfaction and Communication Questionnaire: A Validation Study. Psychological Belgica, 45(3), 185-206. doi:10.5334/pb-45-3-185
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), a qual objetiva mensurar satisfação e comunicação conjugal por meio de três dimensões: Satisfação conjugal, Comunicação negativa e Comunicação aberta. Neste estudo, foram utilizadas as duas dimensões referentes à comunicação, as quais consistem em 15 itens pontuados em escala Likert de 7 pontos, variando de Não aplicável a Muito aplicável.

Luz e Mosmann (2018Luz, S. K.., & e Mosmann, C. P. (2018) Funcionalidade e comunicação conjugal em diferentes etapas do ciclo de vida. Revista da SPAGESP, 19(1), 21-34. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1677-29702018000100003&lng=pt&nrm=iso
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) procederam com a tradução da escala para a língua portuguesa, por meio do processo de back translation realizado por especialistas, para garantir a qualidade semântica, equivalência cultural entre as fontes e equivalência normativa com a pesquisa. A dimensão Comunicação negativa é composta por nove itens que mensuram em que grau o indivíduo relata a experiência de comunicação na relação conjugal como negativa. Já a dimensão Comunicação Aberta afere o nível em que o respondente relata troca de experiências pessoais com o parceiro conjugal, por meio de seis itens. No processo de adaptação, o instrumento apresentou com alfa de Cronbach para comunicação negativa de 0,740 e, para a comunicação aberta, de 0,700.

O DMSCQ foi utilizado para verificar evidências de validade concorrente da dimensão de intimidade financeira da escala, uma vez que a comunicação exerce influência direta na intimidade conjugal (Bereza, Martins, Moresco, & Zanoni, 2005Bereza, E., Martins, J. P., Moresco, L., & Zanoni, S. H. M. S. (2005) A influência da comunicação no relacionamento conjugal. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, 9(1), 31-0. doi: 10.25110/arqsaude.v91l.2005.216
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). O instrumento foi aplicado por se tratar de uma escala adaptada para a população brasileira. Neste estudo, a dimensão Comunicação Aberta apresentou índices consistência interna com alfa de Cronbach 0,834.

Procedimentos Éticos e de Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada pela internet, por meio de questionário on-line hospedado na plataforma Google Forms. A divulgação se deu por meio de um flyer compartilhado em redes sociais convidando as pessoas a participarem, bem como enviado por e-mail e aplicativos de mensagens a grupos de diferentes locais do Brasil. A divulgação da pesquisa foi incentivada entre os participantes. Ao acessar o formulário, eles tiveram acesso ao Termo de Consentimento Livre Esclarecido, contendo os termos e objetivos da pesquisa, bem como os procedimentos éticos adotados. Para acessar o questionário, era necessário que os sujeitos consentissem sua participação de forma livre e voluntária. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (CAAE 03878618.2.0000.5344), atendendo às normas do Conselho Nacional de Saúde para pesquisa envolvendo seres humanos (Brasil, 2016Brasil, Conselho Nacional de Saúde. (2016). Resolução no 510 de 07 de abril de 2016, Brasília, 2016. Recuperado de http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/...
; Brasil 2012Brasil, Conselho Nacional de Saúde. (2012) Resolução no 466 de 12 de dezembro de 2012, Brasília, 2012. Recuperado de http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/reso466.pdf
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/...
). O questionário permaneceu ativo durante os meses de janeiro e fevereiro do ano de 2019.

Análise dos Dados

Antes de conduzir a análise fatorial da escala, foram verificados os critérios de normalidade da amostra no software Statistical Package for Social Sciences 22.0 (IBM SPSS) por meio do teste de Shapiro-Wilk, recomendado para tamanhos amostrais maiores do que 100 (Torman, Coster, & Riboldi, 2012Torman, V., Coster, R., & Riboldi, J. (2012). Normalidade de variáveis: Métodos de verificação e comparação de alguns testes não paramétricos por simulação. Clinical & Biomedical Research, 32(2). Recuperado de https://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/29874
https://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/...
). Verificou-se que a distribuição dos dados é assimétrica, requerendo então o cálculo do escore Z referente aos resultados da escala.

Adicionalmente, foram conduzidas análises de associação entre os itens da escala visando identificar a existência de correlações fortes (> 0,800). Foram verificadas duas correlações fortes e estatisticamente significativas entre itens: “Meu/minha parceiro(a) tem acesso às informações referentes aos meus gastos” e “Eu tenho acesso às informações referentes aos gatos do meu/minha parceiro(a)” (r = 0,825) ; “Eu e meu/minha parceiro(a) mantemos uma conta conjunta para gastos específicos (despesas domésticas, lazer, viagens, gastos com filhos etc.)” e “Eu e meu/minha parceiro(a) mantemos uma conta conjunta para todos os nossos gastos” (r = 0,842). Procedeu-se com análise de conteúdo dos itens e optou-se por mantê-los na escala por avaliarem fenômenos diferentes: o primeiro item diz respeito ao cônjuge, e o segundo item se refere especificamente ao respondente. A existência de reciprocidade dentro de uma relação conjugal pode justificar essa correlação forte, porém, ainda assim, trata-se de questões distintas. Já a manutenção das contas conjuntas pode ocorrer para objetivos diferentes dentro da relação, de forma total ou parcial (Pahl, 1989Pahl, J. (1989), Money and Marriage. London: Macmillan.). Dessa forma, visando contemplar o manejo do dinheiro na conjugalidade de forma ampla, não se justifica a exclusão dos itens.

Posteriormente, foi realizada uma análise fatorial confirmatória (AFC) em Modelagem de Equações Estruturais (SEM) com os 19 itens propostos, considerando as dimensões geradas a partir da revisão de literatura: Coesão Financeira, Intimidade Financeira, Infidelidade Financeira e Partilha de Bens. Sendo a AFC um método rigoroso e restritivo que analisa as relações entre um conjunto de variáveis observadas e variáveis latentes, requer sustentação teórica do modelo proposto e relação entre os fatores (Byrne, 2010Byrne, B. M. (2010). Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications, and programming. Nova Iorque: Routledge, Taylor & Francis). Esse procedimento visa a confirmação de quais variáveis definem os construtos, sendo que na AFC o modelo é derivado da teoria e, então, testado para indicar a consistência dos dados observados (Raykov & Marcoulides 2000Raykov, T., & Marcoulides, G. A. (2000). A first course in structural equation modeling. Mahwah, NJ, US: Lawrence Erlbaum Associates Publishers.).

Brown (2006Brown, T. A. (2006). Confirmatory Factor Analysis for Applied Research, New York: The Guilford Press.) sustenta sua utilização no processo de desenvolvimento de uma escala para testar a adequação do modelo teoricamente proposto e o padrão de interação entre os itens e os fatores. A abordagem confirmatória leva os pesquisadores a otimizar o processo de elaboração de um instrumento e a proporciona maior confiabilidade e validade em relação às abordagens exploratórias e ao índice alfa de Cronbach (Batista-Foguet, Coenders, & Alonso, 2004Batista-Foguet, J. M., Coenders, G., & Alonso J. (2004). Análisis fatorial confirmatória: Su utilidad em la validación de cuestionarios relacionados a la salud. MedClin(Barc), 122, 21-27.; Brown, 2006Brown, T. A. (2006). Confirmatory Factor Analysis for Applied Research, New York: The Guilford Press.).

Para fins de estimação, foi utilizado o método de Maximum Likelihood. A AFC foi realizada por meio do software Statistical Package for Social Sciences Analysis of Moment Structures 2.0 (IBM SPSS AMOS). Os índices de ajuste considerados para a adequação do modelo foram a razão do qui-quadrado em relação aos graus de liberdade (x²/gl), o Comparative Fit Index (CFI), o Tucker-Lewis Index (TLI) e o Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA). Em relação à x²/gl, valores entre 1 e 3 são indicadores de bom ajuste do modelo (Kline, 2005Kline, R. B. (2005). Principles and practice of structural equation modeling (2a ed.). New York: The Guilford Press). O CFI e o TLI requerem valores superiores a 0,900 e o RMSEA, valor inferior a 0,080 (Byrne, 2010Byrne, B. M. (2010). Structural equation modeling with AMOS: Basic concepts, applications, and programming. Nova Iorque: Routledge, Taylor & Francis; Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados. Porto Alegre, RS: Bookman Editora).

Para verificar evidências de validade concorrente, foi utilizada a correlação de Spearman entre os itens da dimensão Coesão Financeira e a R-DAS, procedimento repetido entre a dimensão Intimidade Financeira e a DMSCQ, uma vez que são construtos teoricamente relacionados (Pasquali, 2011Pasquali L. (2011) Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis: Vozes.). Não foram verificadas na literatura a disponibilidade de instrumentos validados que avaliam construtos correlatos à Infidelidade Financeira e Partilha de Bens a partir de uma perspectiva da conjugalidade, de forma que não foi possível verificar evidências de validade concorrente para essas dimensões.

Resultados

Foram testados dois modelos: um unidimensional e outro com a estrutura fatorial proposta. O modelo de quatro fatores foi testado com e sem a possibilidade de variância entre os itens. A Tabela 2 apresenta os índices de ajuste apurados para cada um dos modelos testados.

Tabela 2
Comparação entre os Índices de Ajuste e Resíduo dos Modelos Testados

Conforme os índices x²/gl, CFI, TLI e RMSEA, verifica-se que o modelo unidimensional não se ajustou aos dados. Porém, a análise do peso de regressão dos itens (< 0,500) indicou a exclusão dos itens que, no modelo de quatro fatores, diziam respeito à dimensão Infidelidade Financeira - o que poderia favorecer o ajuste. A utilização de SEM requer que os modelos sejam compreendidos à luz da teoria que os fundamenta (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados. Porto Alegre, RS: Bookman Editora), de forma que se entende a infidelidade financeira como um fenômeno importante (Cenci & Habigzang, 2019Cenci, C. M. B, & Habigzang, L. F. (2019). Dinheiro e conjugalidade: Posicionamentos e estratégias conjugais para resolução de dilemas financeiros. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 12(1), 159-174. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1983-82202019000100012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
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) ao considerar as práticas de manejo do dinheiro na conjugalidade, o que inviabiliza o procedimento. Não havendo sustentação teórica para a exclusão das práticas de infidelidade financeira ao mensurar o manejo do dinheiro na conjugalidade, o modelo unidimensional não se adequou aos dados.

O modelo de quatro fatores relacionados apresentou o índice de ajuste CFI adequado, e os índices x²/df, TLI e RMSEA situaram-se próximos ao limite dos pontos de corte. Em análise do peso de regressão dos itens em relação às dimensões, observou-se que o item 13 (“Fazemos investimento financeiros juntos”), apesar de possuir significância estatística (p < 0,001), apresentou coeficiente padronizado (0,491) inferior ao limite mínimo de 0,500 (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados. Porto Alegre, RS: Bookman Editora). Considerando a hipótese de o item estar interferindo na adequação do modelo, foi conduzida nova análise após a exclusão deste, resultando em valores de ajustamento satisfatórios no que tange aos índices x²/df (2,671), CFI (0,933) TLI (0,915) e RMSEA (0,077) - com intervalo de confiança de 90% (0,067-0,088). Com a exclusão do item, o ponto de corte da escala passou a ser 72 pontos. Um escore inferior a 72 pontos representa Manejo Independente, e um escore superior a 72 pontos refere-se à adoção de um sistema de Manejo Compartilhado.

A Tabela 3 mostra os coeficientes padronizados dos itens e as estimativas dos parâmetros do modelo. Os resultados dos coeficientes apresentaram valores satisfatórios acima de 0,500, indicando associação dos itens aos fatores. Tais resultados corroboram a designação teórica dos itens às respectivas dimensões. A Figura 1 mostra o modelo final da Escala de Manejo do Dinheiro na Conjugalidade.

Tabela 3
Estatísticas Descritivas dos Itens e Estimativas dos Parâmetros do Modelo

Figura 1
Modelo final EMDC.

A análise de validade concorrente da dimensão Coesão Financeira apresentou correlação positiva com a dimensão Coesão da R-DAS (r = 0,468), com valor de p < 0,001. A correlação é moderada e estatisticamente significativa.

Já a dimensão Intimidade Financeira da EMDC correlacionou, no sentido esperado, com as duas dimensões da DMSCQ: Comunicação Negativa (r = -0,278) e Comunicação Aberta (r = 0,354) com valor de p < 0,001. As associações são estatisticamente significativas, porém são correlações fracas. É importante considerar que, apesar de ambas avaliarem a comunicação na conjugalidade, a DMSCQ avalia como o indivíduo percebe a experiência da comunicação na relação conjugal (Luz e Mosmann, 2018Luz, S. K.., & e Mosmann, C. P. (2018) Funcionalidade e comunicação conjugal em diferentes etapas do ciclo de vida. Revista da SPAGESP, 19(1), 21-34. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1677-29702018000100003&lng=pt&nrm=iso
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). A EMDC avalia a intimidade dentro do contexto específico do manejo do dinheiro, construto que possui correlação forte com a dimensão Coesão Financeira (r = 0,704) e moderada com as dimensões Partilha de Bens (r = 0,540) e Infidelidade Financeira (r = -0,495), indicando que fatores correlatos às outras dimensões perpassam os processos de comunicação referentes ao manejo financeiro na relação conjugal. Dessa forma, os resultados apontam para validade concorrente das dimensões avaliadas.

Discussão

Este estudo objetivou a construção de uma escala de avaliação do manejo do dinheiro na conjugalidade para a população brasileira, considerando os estilos de manejo individual e compartilhado (Pahl, 1989Pahl, J. (1989), Money and Marriage. London: Macmillan.). O processo de construção da EMDC resultou inicialmente em uma escala com 19 itens distribuídos em quatro dimensões: Coesão Financeira, Intimidade Financeira, Infidelidade Financeira e Partilha de Bens. Foram conduzidas análises fatoriais confirmatórias e de correlação, que forneceram evidências de validade de construto para estrutura da escala com 18 itens agrupados nas dimensões correspondentes.

A análise fatorial confirmatória do modelo proposto requereu a exclusão do item “Fazemos investimento financeiros juntos”, fato que aponta para as características sociodemográficas e práticas culturais da população brasileira. Segundo o Indicador de Reserva Financeira do Brasileiro, a partir de estudo realizado em 12 capitais do país no ano de 2018, apenas 16,2% dos participantes conseguiram efetuar alguma reserva financeira nesse período. No ano de 2017, esse índice foi de 21% (SPC Brasil & CNDL, 2018Serviço de Proteção ao Crédito Brasil [SPC], & Comissão Nacional dos Dirigentes Lojistas [CDL] (2018). Indicador de Reserva Financeira. Recuperado de https://www.spcbrasil.org.br/wpimprensa/wp-content/uploads/2018/08/An%C3%A1lise_-Indicador-de-Reserva-Financeira-jul_18.pdf
https://www.spcbrasil.org.br/wpimprensa/...
; SPC Brasil & CNDL, 2017Serviço de Proteção ao Crédito Brasil [SPC], & Comissão Nacional dos Dirigentes Lojistas [CDL]. (2017). Indicador de Reserva Financeira. Recuperado de https://www.spcbrasil.org.br/.../wp.../Indicador-de-Reserva-Financeira-mar_18v7.pdf
https://www.spcbrasil.org.br/.../wp.../I...
). Esse cenário é corroborado pelo relatório da Comissão de Valores Mobiliários, autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, o qual aponta que também no ano de 2018 apenas 27% dos brasileiros possuíam como hábito a realização de investimentos financeiros (CVM, 2018Comissão de Valores Mobiliários, CVM (2018). Cenário da poupança e dos investimentos brasileiros. Recuperado de http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/menu/investidor/estudos/pesquisas/20181002_estudo_spc_cenario_da_poupanca_e_dos_investimentos_dos_brasileiros.pdf
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).

Cabe ressaltar ainda que a realização de investimentos financeiros não é prática comum entre a população brasileira, uma vez que, no ano de 2017, apenas 9% da população possuía capital investido em algum nível (Anbima, 2018Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais, Anbima (2018). O raio-x do investidos brasileiro. Recuperado de https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-2018.htm
https://www.anbima.com.br/pt_br/especial...
). Os relatórios citados apontam que a prática de guardar dinheiro na caderneta de poupança é considerada uma forma de investimento, sendo a mais utilizada pelos brasileiros.

Entende-se que fatores culturais, a conjuntura socioeconômica e a relação entre o poder aquisitivo médio e a demanda de gastos necessários para subsistência das famílias brasileiras são fatores que contribuem para esse cenário onde a prática de investimentos financeiros não é um hábito recorrente ou, em muitos casos, possível: o percentual de famílias brasileiras que possuem algum nível de endividamento atingiu o nível de 60,5% no mês de fevereiro do corrente ano (CNC, 2019Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, CNC (2019). Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor - PEIC. Recuperado de http://www.cnc.org.br/editorias/economia/pesquisas/pesquisa-de-endividamento-e-inadimplencia-do-consumidor-peic-maio-de
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). Em tempo, são compreendidas como investimentos financeiros também a aquisição de imóveis e demais bens a fim de aumentar o patrimônio familiar. O perfil socioeconômico da amostra acessada no presente estudo pode ter contribuído para a prática de investimentos financeiros, o que explicaria o valor tão aproximado ao ponto de corte para a regressão do item. Diante do exposto, justifica-se a exclusão deste.

A maneira como os casais dividem as responsabilidades envolvendo o dinheiro é um dos determinantes do estilo de manejo adotado. Aqui, entende-se que as responsabilidades abrangem não só os compromissos financeiros, mas também a tomada de decisões (Addo & Sassler, 2010Addo, F. R., & Sassler, S. (2010). Financial arrangements and relationship quality in low-income couples. Family Relations, 59(4), 408-423. doi:10.1111/j.1741-3729.2010.00612.x
https://doi.org/10.1111/j.1741-3729.2010...
; Cenci et al., 2017Cenci, C. M. B., Bona, C. S., Crestani, P., & Habigzang, L. F. (2017). Dinheiro e conjugalidade: Uma revisão sistemática da literatura. Temas Em Psicologia, 25(1), 385-399. doi:10.9788/TP2017.1-20
https://doi.org/10.9788/TP2017.1-20...
). A dimensão Coesão Financeira (CF) mensura qual o nível de coesão dos casais em relação a essas questões. Olson (2000Olson, D. H. (2000). Circumplex model of marital and family systems. Journal of Family Therapy, 22(4), 144-167 doi:10.1111/1467-6427.00144
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) postula que a coesão diz respeito ao vínculo emocional existente entre os indivíduos, mas consiste também em como um sistema equilibra a sua separação e união ao mesmo tempo. Dentro desses processos, ressalta-se a tomada de decisões e o estabelecimento de limites.

Em relação às finanças, a forma como um casal partilha as responsabilidades e estabelece os limites denota o quanto ambos compartilham um vínculo frente à administração do dinheiro. Estudo com 1.292 pessoas em relacionamentos estáveis de coabitação na Grã-Bretanha verificou que aqueles que tomavam decisões financeiras de forma individual demonstravam maior insatisfação em relação a sua vida familiar do que aqueles que o faziam de forma conjunta (Vogler, Lyonette, & Wiggings, 2008Vogler, C., Lyonette, C., & Wiggins, R. D. (2008). Money, power and spending decisions inintimate relantionships. The Sociological Review, 56(1), doi:10.1111/j.1467-954X.2008.00779.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.2008...
). Os níveis de CF apontam como se dá a conexão da díade diante das experiências envolvendo as finanças, e a análise fatorial dos itens demonstrou que tanto a conversa sobre o uso do dinheiro quanto o compartilhamento das responsabilidades e da tomada de decisões contribuem positivamente para o desfecho desse construto.

A intimidade conjugal é um dos aspectos mais valiosos de uma relação, ocupando espaço de grande importância para a conexão de um casal (Prager, 2014Prager, K. J. (2014). The dilemas of intimacy: Conceptualization, assessment and treatment. New York and London: Routledge.), promovendo a continuidade da relação (Crespo, Narciso, Ribeiro, & Costa, 2006Crespo, C., Narciso, I., Ribeiro, M., & Costa, M. (2006). Desenvolvimento da escala de dimensões da intimidade: Primeiro estudo empírico. Psychologica, 41, 45-63. Recuperado de https://hdl.handle.net/1021696730
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). O nível de compromisso entre duas pessoas, a proximidade cognitiva, física e os afetos positivos irão determinar o nível de intimidade (Moss & Shwebel, 1993Moss, B. F., & Schwebel, A. I. (1993). Defining intimacy in romantic relationships. Family Relations: An Interdisciplinary Journal of Applied Family Studies, 42(1), 31-37. doi: 10.2307/584918
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). O compartilhamento de algo íntimo de si e a percepção de que isso é recebido, compreendido e valorizado pelo outro irão definir a intimidade (Levine, 1992Levine, S. B. (1992). Sexual life: A clinician guide. New York: Plenum Press). Dentre diferentes acepções teóricas, o que existe em comum é o ato de dividir com o outro algo privado e particular.

A Intimidade Financeira contempla a partilha de informações e recursos financeiros entre os cônjuges, possibilitando proximidade e conexão diante de algo que é considerado privado e particular como o dinheiro (Barros et al., 2017Barros, S. C., Borges, L. O., & Estramiana, J. L. A. (2017). Níveis de análise nos estudos sobre os significados do dinheiro. Athenea Digital, 17(3), 131-148. doi:10.5565/rev/athenea.1858
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). Na EMDC, os itens de acesso às informações financeiras e compartilhamento de valores apresentaram valores satisfatórios para medir a dimensão.

A infidelidade é um fenômeno complexo nas relações conjugais. Caracterizada pela mentira, omissão ou envolvimento físico/emocional com terceiros pode estar relacionada a diferentes fatores, como desequilíbrio conjugal ou perda de interesse sexual e diminuição da intimidade (Haack & Falcke, 2013Haack, K. R., & Falcke, D. (2013). Infidelid@ade.com: Infidelidade em relacionamentos amorosos mediados e não mediados pela internet. Psicologia em Revista, 19(2), 305-327. doi: 10.5752/P.1678-9563.2013v19n2p305
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). Esse fenômeno ocorre de formas distintas, dentre elas a infidelidade financeira entre os cônjuges: quando um (ou ambos) omitem ou alteram informações referentes a gastos, investimentos ou dívidas (Hart et al., 2016).

A dimensão Infidelidade Financeira apresentou relevância estatística na mensuração do construto Manejo do Dinheiro, pois tem consequências diretas tanto na manutenção quanto nos possíveis desfechos da relação. Pode contribuir para o surgimento de importantes conflitos conjugais (Cenci & Habigzang, 2019Cenci, C. M. B, & Habigzang, L. F. (2019). Dinheiro e conjugalidade: Posicionamentos e estratégias conjugais para resolução de dilemas financeiros. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 12(1), 159-174. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1983-82202019000100012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
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; Cenci et al., 2017Cenci, C. M. B., Bona, C. S., Crestani, P., & Habigzang, L. F. (2017). Dinheiro e conjugalidade: Uma revisão sistemática da literatura. Temas Em Psicologia, 25(1), 385-399. doi:10.9788/TP2017.1-20
https://doi.org/10.9788/TP2017.1-20...
; Hart et al., 2016; Sattler, Tavares, & Silva, 2017Sattler, M. K., Tavares, A. C. C. N., & Silva, I. M. da. (2017). A infidelidade no relacionamento amoroso: Possibilidades no trabalho clínico com casais. Pensando Famílias, 21(1), 162-175 Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2017000100013&lng=pt&tlng=pt.
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). A correlação negativa verificada entre essa dimensão e as demais denota o quanto tais comportamentos impactam negativamente no manejo financeiro na conjugalidade.

Ao dinheiro pode ser atribuído um significado de poder, assumindo características de dominação (Rosa & Milani, 2014Rosa, I. R., & Milani, B. (2014). Significado do dinheiro: Um estudo sobre o comportamento de estudantes de nível superior. Revista de Administração IMED, 4(3), 369-380. doi: 10.18256/2237-7956/raimed.v4n3p369-380
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). O estabelecimento e a divisão de poder nas relações são aspectos que interferem na construção, manutenção e dissolução da conjugalidade (Fères-Carneiro & Diniz Neto, 2010Fères-Carneiro, T; & Diniz Neto, O. (2010). Construção e dissolução da conjugalidade: Padrões relacionais. Paidéia (Ribeirão Preto), 20(46), 269-278. doi: 10.1590/S0103-863X2010000200014
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). Diante disso, é necessário compreender como se organiza a partilha dos recursos financeiros (Archuleta, 2013Archuleta, K. L. (2013). Couples, money, and expectations: Negotiating financial management roles to increase relationship satisfaction. Marriage and Family Review, 49(5), 391-411. doi:10.1080/01494929.2013.766296
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; Pahl, 2005Pahl, J. (2005). Individualisation in couple finances: Who pays for the children? Social Policy and Society, 4(04), 381. doi:10.1017/S1474746405002575
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). A análise fatorial da EMDC demonstrou que a manutenção de contas conjuntas, seja para todos os gastos ou gastos específicos, bem como o uso em comum de cartões de crédito ou débito entre o casal, são ações que determinam maiores ou menores níveis de compartilhamento dos recursos.

Dentre as limitações deste estudo, as características da amostra não são representativas da população nacional, tanto em relação à distribuição geográfica e escolaridade, quanto ao nível socioeconômico e à situação conjugal. A população que participou deste estudo foi majoritariamente residente do Sul do Brasil, com alto poder aquisitivo, em uma relação oficializada a nível civil e/ou religioso, com ensino superior e/ou pós-graduação. Essas características podem ter sido um viés de seleção para o engajamento na pesquisa, conforme o esclarecimento e interesse em relação ao tema. Em segundo lugar, o que caracteriza a inovação deste estudo também constitui uma limitação, pois a indisponibilidade de instrumentos que avaliem os construtos aqui trabalhados não permite que seja verificada a validade concorrente das dimensões em sua totalidade.

Ademais, verificou-se que a EMDC apresentou evidências de validade de construto e precisão para avaliar os estilos de manejo de dinheiro individual ou compartilhado na conjugalidade. Os resultados expressos justificam a sua utilização para investigar a forma como os casais lidam com os recursos financeiros, significando uma importante contribuição para o estudo das relações conjugais no contexto nacional. Sugere-se futuras pesquisas, visando a padronização da escala por meio de amostra representativa da população brasileira.

Referências

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    22 Jul 2019
  • Revisado
    01 Maio 2020
  • Aceito
    15 Jun 2020
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