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Contextos e Desafios da Avaliação Psicológica: teoria, prática e pesquisa

O Grupo de Trabalho (GT) de nº 35 registrado no Diretório dos Grupos de Trabalho (GTs) Thereza Mettel e intitulado “Pesquisa em Avaliação Psicológica”, da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP) teve sua criação no ano de 1998. Trata-se do primeiro grupo e, portanto, mais antigo dos seis grupos de trabalho da área de Avaliação Psicológica (AP) existentes na ANPEPP até este ano de 2021. O GT foi constituído em um momento histórico, do qual a Sociedade Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos (ASBro) era recém-criada (1993), assim como o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP), criado em 1997. Foi uma época na qual os pesquisadores brasileiros da área de AP se organizaram em um movimento de reestruturação da área, diante de um cenário que impelia a regulação da mesma (Nakano & Roama-Alves, 2019Nakano, T. C., Roama-Alves, R. J., (2019). A avaliação Psicológica no Brasil. Em M. N. Baptista, M. Muniz, C. T. Reppold., C. H. S. S. Nunes, L. F. Carvalho, R. Primi, A. P. P. Noronha, A. G. Seabra, S. M. Wechsler, C. S. Hutz, & L. Pasquali (Orgs.), Compêndio de Avaliação Psicológica. (pp.122-132). Vozes.).

Esse avanço se fez sentir no início dos anos 2001 com a publicação da Resolução nº 25/2001 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), seguida pela publicação da Resolução nº 03/2002 do CFP na qual houve a idealização e implantação do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos - SATEPSI (Baptista et al., 2019Baptista, M. N, Muniz, M., Reppold, C. T., Nunes, C. H. S. S., Carvalho, L. F., Primi, R. Noronha, A. P. P., Seabra, A. G., Wechsler, S. M., Hutz, C. S., & Pasquali, L. (Orgs.) (2019). Compêndio de avaliação psicológica. 1ª ed. Petrópolis: Vozes.). O SATEPSI foi um divisor para o avanço da área que teve um crescimento exponencial nos últimos 20 anos (Alves et al., 2021; Andrade et al., 2019Andrade, J. M., Valentini, F., & Laros, J. A. (2019). Os testes psicológicos aprovados no Satepsi. Em M. N. Baptista, M. Muniz, C. T. Reppold., C. H. S. S. Nunes, L. F. Carvalho, R. Primi, A. P. P. Noronha, A. G. Seabra, S. M. Wechsler, C. S. Hutz, & L. Pasquali (Orgs.), Compêndio de Avaliação Psicológica (pp.140-151). Vozes.; Oliveira et al., 2021Oliveira, K. L., Muniz, M., Lima, T. H, Zanini, D. S., & Santos, A. A. A. (Eds.) (2021). Formação e estratégias de ensino em avaliação psicológica. Vozes.). Em uma análise de duas décadas desse movimento é possível observar que a AP brasileira segue o mesmo padrão de qualidade em relação ao desenvolvimento da área, quando comparada a diferentes países que seguem as diretrizes da American Psychological Association e também do Internation Testing Commission (Faiad et al., 2019Faiad, C., Pasquali, L., & Oliveira, K. L. (2019). Em M. N. Baptista, M. Muniz, C. T. Reppold., C. H. S. S. Nunes, L. F. Carvalho, R. Primi, A. P. P. Noronha, A. G. Seabra, S. M. Wechsler, C. S. Hutz, & L. Pasquali (Orgs.), Compêndio de Avaliação Psicológica (pp.111-121). Vozes.).

Além do GT de Pesquisa em Avaliação Psicológica ter se originado com atuação de alguns dos principais pesquisadores e pesquisadoras da área de AP, sendo alguns ainda membros permanentes e ativos do GT, também teve seu papel primordial na contribuição da criação de distintos GTs da área de AP, sendo eles GT 06, GT 29, GT 31, GT 82 e o recém criado GT 93. Assim sendo, os pesquisadores das várias regiões da país e do exterior compõem um seleto grupo de pesquisadores que tem por missão trazer transformações e desenvolvimento científico por meio das pesquisas desenvolvidas em âmbito do desenvolvimento de instrumentos psicológicos, da cientificidade da prática psicológica e também das reflexões teóricas e epistêmicas acerca da Avaliação Psicológica no Brasil.

Com essa perspectiva e com a bagagem acumulada de 23 anos à serviço da AP brasileira, o GT Pesquisa em Avaliação Psicológica vem reafirmar seu compromisso em prol do crescimento científico da AP. Dessa forma, importantes contribuições acerca dos ‘Contextos e Desafios da Avaliação Psicológica: teoria, prática e pesquisa’ são apresentados nos trezes artigos que compõem esse número especial. De forma colaborativa, essa proposta traz a articulação entre pesquisadores do GT e parcerias nacionais e internacionais de pesquisas na área de AP em diferentes contextos.

O primeiro artigo intitulado ‘Desafios do ensino de Avaliação Psicológica no Brasil: adaptando ações’ traz a discussão sobre a formação em AP no contexto do Ensino Remoto Emergencial, implementado como uma medida de garantir a continuidade do ensino, durante a vivência da pandemia da Covid-19. Na sequência, também visando uma problematização acerca da prática da AP mediada pelas Tecnologias de Informação e Desenvolvimento da Comunicação foi escrito o artigo ‘Desafios da Avaliação Psicológica para a prática diante da atuação profissional mediada pela tecnologia de informação’.

‘Técnicas gráficas na predição do rendimento escolar infantil’ é um assunto tratado no terceiro artigo, com a finalidade identificar o potencial preditivo de algumas habilidades como percepção visual, planejamento e memória imediata e da inteligência não verbal para o rendimento escolar de crianças do Ensino Fundamental. Na sequência são apresentados estudos para ‘Learning Strategies Assessment Scale for High School (EAVAP-EM)’, com o resgate de aspectos epistêmicos do conceito da avaliação das estratégias de aprendizagem e com a contribuição de estudo de evidência de validade e precisão da versão adaptada da Escala de Avaliação das Estratégias de Aprendizagem para o Ensino Médio. Na mesma ordem lógica de trazer contribuições sobre os aspectos de desempenho, o manuscrito ‘Motivation scale for learning with the use of DICT (EMA - TDIC)’ vem contribuir com uma escala que avalia a qualidade motivacional para aprender com o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação para estudantes do ensino médio e superior e o manuscrito ‘Implications of motivation in the application of technologists’ learning strategies’ identifica quais as estratégias de aprendizagem cognitivas e metacognitivas utilizadas por estudantes de curso tecnólogos, associadas à motivação intrínseca e extrínseca. O assunto ‘Adaptation of the Teacher Emotions Scales (TES) to the Brazilian context’ é abordado tanto do ponto de vista do modelo teórico, quanto dos aspectos metodológicos acerca da adaptação de uma medida para avaliação de emoções de professores.

Em seguida, o artigo ‘Análise das qualidades psicométricas da versão portuguesa do Inventário de Avaliação da Espontaneidade (SAI-R)’ é desenvolvido com base no modelo dinâmico da avaliação da espontaneidade de pessoas adultas no contexto de Portugal. Já o artigo ‘Psychometric Properties of the Personality Inventory for DSM-5 (PID-5) in Brazilian Samples’ vem contribuir com estudos no contexto da saúde mental em amostras clínicas e comunitárias brasileiras.

O artigo ‘Psychometric properties of the Dysexecutive Questionnaire (DEX): a study with Brazilian older adults’ e ‘Relationship between loneliness and mental health indicators in the elderly during the COVID-19 pandemic’ são estruturados de modo a trazer aspectos tanto de conceitos teóricos sobre a terceira idade quanto da construção de instrumentos para esse público alvo.

Em fechamento estão os artigos ‘¿Puede ser evaluado el pensamiento crítico de forma breve?’ que traz inquietações sobre a avaliação do pensamento crítico, apresentando um modelo de avaliação para esse constructo tão pouco explorado e o artigo ‘How effective are 3D anaglyph stimuli? An analysis in emotional recognition’ que traz conceituações relevantes e atuais acerca do ambiente virtual e do uso da tecnologia e a discussão de um modelo de avaliação, considerando os estímulos anáglifos 3D.

Face as contribuições apresentadas ao longo dos artigos que refletem a qualidade do trabalho do GT Pesquisa em Avaliação Psicológica, vimos concluir que a AP é uma área densa e complexa e que ainda há assuntos áridos que temos muito a desbravar. De forma contributiva, alguns desses temas são apresentados neste número especial. Importante ressaltar que, apesar dos percalços que a ciência vem enfrentando no Brasil, os bravos pesquisadores do mais antigo GT da AP permanecem aguerridos, pois apesar dos poucos recursos e dos muitos cortes de financiamentos de suas pesquisas, eles continuam a desenvolver estudos com exímia excelência na área da AP. Por essa razão, dedicamos esse número especial a todos os pesquisadores e pesquisadoras das diferentes áreas e GTs da AP que continuam fazendo da ciência psicológica e da área de AP uma das mais respeitáveis no cenário científico brasileiro. Em especial, dedicamos também este número a uma pesquisadora que foi fundamental para que nossa área chegasse até aqui, com todo reconhecimento e qualidade na produção científica: professora Dra Acácia Aparecida Angeli dos Santos. Que apesar dos percalços enfrentados por todos nós, enquanto docentes e pesquisadores neste país, não nos esqueçamos de honrar quem fez parte da construção de nossa história.

Referências

  • Andrade, J. M., Valentini, F., & Laros, J. A. (2019). Os testes psicológicos aprovados no Satepsi. Em M. N. Baptista, M. Muniz, C. T. Reppold., C. H. S. S. Nunes, L. F. Carvalho, R. Primi, A. P. P. Noronha, A. G. Seabra, S. M. Wechsler, C. S. Hutz, & L. Pasquali (Orgs.), Compêndio de Avaliação Psicológica (pp.140-151). Vozes.
  • Baptista, M. N, Muniz, M., Reppold, C. T., Nunes, C. H. S. S., Carvalho, L. F., Primi, R. Noronha, A. P. P., Seabra, A. G., Wechsler, S. M., Hutz, C. S., & Pasquali, L. (Orgs.) (2019). Compêndio de avaliação psicológica. 1ª ed. Petrópolis: Vozes.
  • Faiad, C., Pasquali, L., & Oliveira, K. L. (2019). Em M. N. Baptista, M. Muniz, C. T. Reppold., C. H. S. S. Nunes, L. F. Carvalho, R. Primi, A. P. P. Noronha, A. G. Seabra, S. M. Wechsler, C. S. Hutz, & L. Pasquali (Orgs.), Compêndio de Avaliação Psicológica (pp.111-121). Vozes.
  • Mansur-Alves, M., Muniz, M. Zanini, D. S., & Baptista, M. N. (Eds.) (2021). Avaliação Psicológica na infância e adolescência. Vozes.
  • Nakano, T. C., Roama-Alves, R. J., (2019). A avaliação Psicológica no Brasil. Em M. N. Baptista, M. Muniz, C. T. Reppold., C. H. S. S. Nunes, L. F. Carvalho, R. Primi, A. P. P. Noronha, A. G. Seabra, S. M. Wechsler, C. S. Hutz, & L. Pasquali (Orgs.), Compêndio de Avaliação Psicológica. (pp.122-132). Vozes.
  • Oliveira, K. L., Muniz, M., Lima, T. H, Zanini, D. S., & Santos, A. A. A. (Eds.) (2021). Formação e estratégias de ensino em avaliação psicológica. Vozes.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    Dez 2021
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