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Análise das Qualidades Psicométricas da Versão Portuguesa do Inventário de Avaliação da Espontaneidade (SAI-R)

Analysis of the psychometric qualities of the Portuguese version of the Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R)

Análisis de las cualidades psicométricas de la versión portuguesa del Inventario de Evaluación de la Espontaneidad (SAI-R)

Resumo

A espontaneidade e as suas ligações à saúde mental e ao bem-estar são uma componente central quer na teoria quer na prática do psicodrama, e a literatura especializada associa a presença de patologia à falta de espontaneidade. Neste artigo, elencam-se alguns dos resultados obtidos em estudos em língua inglesa do SAI-R e apresentam-se os estudos da sua validação para a população portuguesa. Na validação do SAI-R para o contexto português, foi confirmada a estrutura fatorial com 719 sujeitos, distribuídos em duas amostras independentes. Os participantes tinham idades entre os 18 e os 69 anos. Por fim, foram testadas a fiabilidade compósita e a validade convergente, bem como a validade do tipo critério em duas amostras independentes (n 1ªamostra =348 e n 2ªamostra =371). Apesar de serem necessários mais estudos com populações clínicas, o SAI-R apresenta-se como um instrumento curto e válido para aplicar em contextos clínicos e não clínicos quando se pretende avaliar a espontaneidade.

Palavras-chave:
psicodrama; espontaneidade; sintomas afetivos; testes psicológicos

Abstract

Spontaneity and its connections to mental health and wellbeing are a central theme in both the theory and practice of psychodrama, and the specialized literature sometimes even associates the presence of pathology with a lack of spontaneity. In this article, we list some of the results obtained in studies with the English-language version of the spontaneity scale and present its validation studies for the Portuguese population. We verified a factorial structure with 719 subjects, divided into two independent samples in the validation of the SAI-R for the Portuguese context. Participants had an age range of 18 to 69 years old. Furthermore, composite reliability, convergent validity, and cross validity were tested in two other independent samples (n sample1 =348 and n sample2 =371). Although further studies with clinical samples are needed, the SAI-R presents itself as a short and valid instrument to apply in clinical and non-clinical settings when assessing spontaneity.

Keywords:
psychodrama, spontaneity, affective symptoms; psychological tests

Resumen

La espontaneidad y sus vínculos con la salud mental y el bienestar son una componente central tanto en la teoría como en la práctica del psicodrama, y la literatura especializada asocia la presencia de patología con la falta de espontaneidad. En este artículo se enumeran resultados obtenidos con la versión inglesa del SAI-R y se presentan estudios para su aplicación en la población portuguesa. En la validación del SAI-R para el contexto portugués, se confirmó la estructura factorial con 719 sujetos, distribuidos en dos muestras independientes. Los participantes tenían entre 18 y 69 años. Finalmente, se probaron la confiabilidad compuesta y la validez convergente, así como la validez cruzada en las dos muestras independientes (n muestra 1 = 348 y n muestra2 = 371). Aunque son necesarios más estudios con poblaciones clínicas, el SAI-R se presenta como un instrumento breve y válido para ser aplicado en contextos clínicos y no clínicos en la evaluación de la espontaneidad.

Palabras clave:
psicodrama; espontaneidad; síntomas afectivos; pruebas psicológicas

Introdução

O lugar da espontaneidade na teoria e prática psicodramáticas é reconhecido como central pela generalidade dos psicodramatistas e pela maioria dos autores de referência da área (Abreu, 2002Abreu, J. L. (2002). O Modelo do Psicodrama Moreniano. Quarteto.; Fox, 2002Fox, J. (2002). O Essencial de Moreno: Textos sobre psicodrama, terapia de grupo e espontaneidade. Ágora.; Moreno, 1975Moreno, J. L. (1975). Psicodrama. Cultrix., 1983Moreno, J. L. (1983). Fundamentos do Psicodrama. Summus., 1999Moreno, J. L. (1999). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Livro Pleno., 2008Moreno, J. L. (2008). Quem sobreviverá? Fundamentos da sociometria, da psicoterapia de grupo e do psicodrama. Daimon.; Moreno, 2006Moreno, Z. T. (2006). The Quintessential Zerka. Writings by Zerka Toeman Moreno on Psychodrama, Sociometry and Group Psychotherapy (T. Horvatin & E. Schreiber Eds.). Routledge.). Não obstante, esse reconhecimento, que acompanha essa comunidade desde os tempos de Jacob Levy Moreno, só na transição para o século XXI a investigação científica tentou confirmar, com estudos psicométricos, algumas das afirmações feitas pelo fundador do psicodrama. Nesse sentido, surgiram esforços para operacionalizar a mensuração desse constructo.

Nos anos 90, Collins et al. (Collins, Kumar, Treadwell, & Leach, 1997Collins, L. A., Kumar, V. K., Treadwell, T. W., & Leach, E. (1997). The Personal Attitude Scale: A scale to measure spontaneity. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama and Sociometry, 49(4), 147-156.) desenvolveram o Personal Attitude Scale (PAS), um inventário de 58 itens que, na sua versão revista (PAS-II,) passaram a 66 (Kellar, Treadwell, Kumar, & Leach, 2002Kellar, H., Treadwell, T. W., Kumar, V. K., & Leach, E. S. (2002). The Personal Attitude Scale-II: A Revised Measure of Spontaneity. Group Psychotherapy, 55(1), 35-46. doi: 10.3200/JGPP.55.1.35-46
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) e que demonstrou propriedades psicométricas satisfatórias. Mais recentemente, foram desenvolvidos o Spontaneity Assessment Inventory (SAI) (Christoforou & Kipper, 2006Christoforou, A., & Kipper, D. A. (2006). The Spontaneity Assessment Inventory (SAI), Anxiety, Obsessive-Compulsive Tendency, and Temporal Orientation. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry, 59(1), 23-34. doi: 10.3200/JGPP.59.1.23-34
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; Kipper, 2006Kipper, D. A. (2006). The Canon of Spontaneity - Creativity Revisited: The Effect of Empirical Findings. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama and Sociometry , 59(3), 117-126. doi: 10.3200/JGPP.59.3.117-126
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; Kipper & Hundal, 2005Kipper, D., & Hundal, J. (2005). The spontaneity assessment inventory: the relationship between spontaneity and Nonspontaneity. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama, & Sociometry, 58(3), 119-129. doi: 10.3200/JGPP.58.3.119-129
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) e a sua versão revista (SAI-R), mais curta, mas mantendo validade e fiabilidade adequadas (Davelaar, Araujo, & Kipper, 2008Davelaar, P. M., Araujo, F. S., & Kipper, D. A. (2008). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Relationship to goal orientation, motivation, perceived self-efficacy, and self-esteem. The Arts in Psychotherapy, 35(2), 117-117-128. doi: 10.1016/j.aip.2008.01.003
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; Kipper & Shemer, 2006Kipper, D. A., & Shemer, H. (2006). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Spontaneity, well-being, and stress. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry , 59(3), 127-137. doi: 10.3200/jgpp.59.3.127-136
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). Os estudos de tipo correlacional possibilitados por esse instrumento, inauguraram uma nova era na pesquisa científica sobre a espontaneidade e as variáveis a ela associadas.

Fundamentação Teórica

A Espontaneidade na Teoria de Moreno

Quem consulta as obras de Jacob Levy Moreno encontra inúmeras referências ao termo “espontaneidade”, a que o autor também chamava “fator e”. São várias as definições e afirmações em torno do papel da espontaneidade feitas por Moreno, sendo talvez a mais comum a que se pode encontrar em sua obra “Quem sobreviverá?” (Moreno, 2008Moreno, J. L. (2008). Quem sobreviverá? Fundamentos da sociometria, da psicoterapia de grupo e do psicodrama. Daimon.), em que o autor escreve sobre a espontaneidade como algo que “impulsiona o indivíduo na direção de uma resposta adequada a uma nova situação, ou a uma nova resposta a uma velha situação” (p. 54). Ainda na mesma página, Moreno afirma poder atribuir-se “boa parte da psicopatologia e da sociopatologia humanas ao insuficiente desenvolvimento da espontaneidade, cujo treino é a melhor habilidade a ser ensinada aos terapeutas (...) e é tarefa deles ensinar seus clientes a serem mais espontâneos sem se tornarem excessivos”. Essa última expressão, “sem se tornarem excessivos”, remete para a habitual confusão entre espontaneidade e impulsividade, que Moreno por diversas vezes tentou clarificar. Assim, na sua obra “Psicodrama” (1975, p. 163), refere que “o comportamento desordenado e os emocionalismos resultantes da acção impulsiva estão longe de constituir desideratos do trabalho de espontaneidade. Pertencem, pelo contrário, ao domínio da patologia da espontaneidade” (ver também Cukier, 2002Cukier, R. (2002). Palavras de Jacob Levy Moreno: vocabulário de citações do Psicodrama, da Psicoterapia de Grupo, do Sociodrama e da Sociometria. Ágora.; Fox, 2002Fox, J. (2002). O Essencial de Moreno: Textos sobre psicodrama, terapia de grupo e espontaneidade. Ágora.; Kipper, Green e Prorak 2010Kipper, D., A., Green, D., J., & Prorak, A. (2010). The relationship among spontaneity, impulsivity, and creativity. Journal of Creativity in Mental Health, 5(1), 39-39-53. doi: 10.1080/15401381003640866
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). Moreno sugere inclusivamente um esquema chamado “Cânone da Espontaneidade - Criatividade” (Moreno, 2008Moreno, J. L. (2008). Quem sobreviverá? Fundamentos da sociometria, da psicoterapia de grupo e do psicodrama. Daimon., p. 60), onde relaciona a criatividade com a espontaneidade, que seria o seu catalisador, por meio do aquecimento. O produto final desse processo seriam as conservas culturais, ou seja, os objetos culturais criados, dos quais o livro poderia ser o arquétipo, “a conserva cultural por excelência” (Moreno, 1975Moreno, J. L. (1975). Psicodrama. Cultrix., p. 158).

Moreno afirma ter descoberto que “o princípio comum produtor de catarse é a espontaneidade” (1975Moreno, J. L. (1975). Psicodrama. Cultrix., p. 20), ou seja, lhe dá um papel estratégico e dinâmico tanto no psicodrama como em outras formas de psicoterapia (ibidem, p. 37). Para além disso, tem em conta não apenas a espontaneidade do indivíduo como também a do grupo terapêutico: “o fundamento do psicodrama é o princípio da espontaneidade criadora, a participação desinibida de todos os membros do grupo na produção dramática e na catarse ativa” (Moreno, 1999Moreno, J. L. (1999). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Livro Pleno., p. 32). Refere também à utilização da espontaneidade dos elementos do grupo como um importante critério diagnóstico.

A Avaliação da Espontaneidade

Moreno usava situações tipificadas, in loco, para medir a espontaneidade das respostas dos sujeitos em diversas situações de avaliação, quer em contexto de grupo terapêutico quer em situações de seleção, formação ou treino. Importa dizer que esses testes eram usados simultaneamente como avaliação e treino do fator e. Uma das suas primeiras e mais importantes obras - O teatro da espontaneidade -, publicada originalmente em alemão em 1924, coloca a espontaneidade no centro das preocupações do autor, não apenas na área do desenvolvimento dos atores, mas acima de tudo no tratamento das doenças mentais (Moreno, 2010Moreno, J. L. (2010). The Theatre of Spontaneity (4th ed.). The North-West Psychodrama Association.). Moreno dedica um capítulo dessa obra ao teste da espontaneidade, onde se refere a situações propostas aos atores, de forma inesperada, que permitem observar o nível de adequação das diferentes respostas (Moreno, 2010Moreno, J. L. (2010). The Theatre of Spontaneity (4th ed.). The North-West Psychodrama Association., p. 53 e seguintes). Nesse capítulo, refere-se a um quociente de espontaneidade que permitiria comparar diferentes indivíduos e que não seria equivalente aos seus resultados em outras aptidões psicológicas, como a inteligência ou a memória.

No livro “Psicodrama”, Moreno (1975Moreno, J. L. (1975). Psicodrama. Cultrix.) é mais detalhado em relação à forma de avaliar a espontaneidade, agora já não apenas de atores. Refere ser preferível ter um cenário adequado para realizar os testes de espontaneidade, onde se possa proceder a simulações de situações de emergência e observar as respostas dos indivíduos avaliados. Dá o exemplo de uma situação em que a pessoa testada finge estar numa casa onde há crianças e ela é o único adulto. É informada que um incêndio deflagrou numa das divisões da casa e, em função das respostas dadas, as situações e constrangimentos vão-se sucedendo, com um carácter cada vez mais complexo e difícil de resolver. Os comportamentos são anotados e avaliados pelo(s) observador(es), segundo um quadro de referência onde a velocidade, originalidade e adequação das respostas eram tidas em conta (Moreno, 1975Moreno, J. L. (1975). Psicodrama. Cultrix., p. 151; Kipper & Shemer, 2006Kipper, D. A., & Shemer, H. (2006). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Spontaneity, well-being, and stress. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry , 59(3), 127-137. doi: 10.3200/jgpp.59.3.127-136
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, p. 128).

Esse tipo de avaliação possibilitou a Moreno o estudo sistemático de fenômenos ligados à espontaneidade e o desenvolvimento das suas teses sobre o tema. No entanto, a sua utilização é sem dúvida pouco econômica, e muitos dos procedimentos e critérios usados na classificação das respostas são difíceis de replicar, já que não estão estandardizados. Como refere Kipper (2006Kipper, D. A. (2006). The Canon of Spontaneity - Creativity Revisited: The Effect of Empirical Findings. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama and Sociometry , 59(3), 117-126. doi: 10.3200/JGPP.59.3.117-126
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), quando as ideias de Moreno foram lançadas nos anos 30 e 40, esses formatos de pesquisa eram relativamente bem aceites, mas a evolução das ciências sociais e humanas foi percorrendo outros caminhos e formulando outros tipos de exigência.

Para tentar lançar sobre o conceito da espontaneidade uma perspectiva epistêmica e metodologicamente diferente, foram desenvolvidos vários testes psicométricos, isso após a morte de Moreno (PAS: Personal Attitude Scale, Collins et al., 1997Collins, L. A., Kumar, V. K., Treadwell, T. W., & Leach, E. (1997). The Personal Attitude Scale: A scale to measure spontaneity. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama and Sociometry, 49(4), 147-156.; PAS-II, Kellar et al., 2002Kellar, H., Treadwell, T. W., Kumar, V. K., & Leach, E. S. (2002). The Personal Attitude Scale-II: A Revised Measure of Spontaneity. Group Psychotherapy, 55(1), 35-46. doi: 10.3200/JGPP.55.1.35-46
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; SAI-R: Spontaneity Assessment Inventory, Davelaar et al., 2008Davelaar, P. M., Araujo, F. S., & Kipper, D. A. (2008). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Relationship to goal orientation, motivation, perceived self-efficacy, and self-esteem. The Arts in Psychotherapy, 35(2), 117-117-128. doi: 10.1016/j.aip.2008.01.003
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; Kipper & Shemer, 2006Kipper, D. A., & Shemer, H. (2006). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Spontaneity, well-being, and stress. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry , 59(3), 127-137. doi: 10.3200/jgpp.59.3.127-136
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); APTS: Adult Playfulness Trait Scale, Shen, Chick, & Zinn, 2014Shen, X. S., Chick, G., & Zinn, H. (2014). Playfulness in adulthood as a personality trait: a reconceptualization and a new measurement. Journal of Leisure Research, 46(1), 58-83. doi: 10.1080/00222216.2014.11950313
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, com uma subescala de espontaneidade). Entre a comunidade psicodramática, o SAI-R é o teste mais utilizado, e esse foi um dos principais motivos na decisão da sua adaptação para a população portuguesa.

O Spontaneity Assessment Inventory (SAI) e a sua versão revista, o SAI-R, foram desenvolvidos no início do séc. XXI por David Kipper, da Universidade de Roosevelt, em Chicago (Kipper & Hundal, 2005Kipper, D., & Hundal, J. (2005). The spontaneity assessment inventory: the relationship between spontaneity and Nonspontaneity. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama, & Sociometry, 58(3), 119-129. doi: 10.3200/JGPP.58.3.119-129
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). Para a construção do questionário, foram consultados 20 especialistas europeus e americanos em espontaneidade e(m) psicodrama, com pelo menos 25 anos de experiência, a quem foram pedidas listas de adjetivos que descrevessem a sensação de estar num estado espontâneo. A partir desse material, foi construído um inventário que, após sucessivos estudos e melhoramentos, deu origem ao SAI-R (Kipper & Hundal, 2005Kipper, D., & Hundal, J. (2005). The spontaneity assessment inventory: the relationship between spontaneity and Nonspontaneity. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama, & Sociometry, 58(3), 119-129. doi: 10.3200/JGPP.58.3.119-129
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; Kipper, 2006Kipper, D. A. (2006). The Canon of Spontaneity - Creativity Revisited: The Effect of Empirical Findings. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama and Sociometry , 59(3), 117-126. doi: 10.3200/JGPP.59.3.117-126
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; Kipper & Shemer, 2009).

Vários estudos correlacionais foram desenvolvidos a partir das duas versões desse instrumento (SAI e SAI-R), que permitiram caracterizar demograficamente a espontaneidade e as suas relações com outras variáveis. Por exemplo, o valor médio da espontaneidade medida pelo SAI em 37 homens (M = 85,05) foi significativamente superior (t [104] = 2,18, p > 0,03) ao das mulheres (M = 78,54; n = 69) num estudo (Kipper & Hundal, 2005Kipper, D., & Hundal, J. (2005). The spontaneity assessment inventory: the relationship between spontaneity and Nonspontaneity. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama, & Sociometry, 58(3), 119-129. doi: 10.3200/JGPP.58.3.119-129
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), mas esses valores não se confirmaram num segundo estudo, onde as diferenças entre géneros não foram significativas (Christoforou & Kipper, 2006Christoforou, A., & Kipper, D. A. (2006). The Spontaneity Assessment Inventory (SAI), Anxiety, Obsessive-Compulsive Tendency, and Temporal Orientation. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry, 59(1), 23-34. doi: 10.3200/JGPP.59.1.23-34
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). Para além disso, no primeiro estudo referido, as correlações entre o SAI e todas as subescalas da escala de Bem-Estar de Friedman se mostraram positivas e significativas.

Usando ainda a mesma escala (SAI), Christoforou e Kipper (2006Christoforou, A., & Kipper, D. A. (2006). The Spontaneity Assessment Inventory (SAI), Anxiety, Obsessive-Compulsive Tendency, and Temporal Orientation. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry, 59(1), 23-34. doi: 10.3200/JGPP.59.1.23-34
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) encontraram, numa amostra com 85 estudantes universitários, de idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos, correlações negativas e significativas entre as pontuações em espontaneidade e os resultados nas escalas de ansiedade-traço (r = -0,67) e ansiedade-estado (r = -0,44) medidas com a State-Trait Anxiety Inventory (STAI, de Spielberger, Gorsuch, Lushene, Vagg, & Jacobs, 1983Spielberger, C. D., Gorsuch, R. L., Lushene, R., Vagg, P. R., & Jacobs, G. A. (1983). State-Trait Anxiety Inventory for Adults: Manual, test, and scoring key. Mind Garden.). No mesmo estudo, encontraram ainda correlações negativas significativas entre os resultados no SAI e os resultados no Obsessive-Compulsive Inventory - Revised (OCI-R, de Foa, et al., 2002Foa, E. B., Huppert, J. D., Leiberg, S., Langner, R., Kichic, R., Hajcak, G., & Salkovskis, P. M. (2002). The Obsessive-Compulsive Inventory: development and validation of a short version. [Validation Study]. Psychol Assess, 14(4), 485-496.), que mede a presença de sintomas de desordem obsessivo-compulsiva. Por fim, foram encontradas correlações positivas e significativas com apenas uma das três subescalas da Temporal Orientation Scale (TOS, Jones, Banicky, Pomar, & Lasane, 2004Jones, J. M., Banicky, L., Pomar, M., & Lasane, T. P. (2004). A Temporal Orientation Scale: Focusing attention on the past, present and future. [Unpublished Manuscript] University of Delaware, Newark.), a que que assinala a orientação temporal para o presente.

De modo geral, os resultados dessas pesquisas parecem ir ao encontro das sugestões teóricas de Moreno, ao associar pontuações altas em espontaneidade com resultados baixos em estados e traços de ansiedade e com tendências obsessivo-compulsivas, bem como uma maior probabilidade de pessoas mais espontâneas estarem mais focadas no presente.

Já trabalhando com a versão revista da escala (SAI-R), Kipper e Shemer (2006Kipper, D. A., & Shemer, H. (2006). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Spontaneity, well-being, and stress. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry , 59(3), 127-137. doi: 10.3200/jgpp.59.3.127-136
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) confirmaram as correlações positivas significativas entre espontaneidade e bem-estar (Friedman Well Being Scale, Friedman, 1994Friedman, P. H. (1994). Friedman Well Being Scale and professional manual. Mind Garden.), e negativas com o stress percebido (Perceived Stress Scale, de Cohen, Kamarck, & Mermelstein, 1983Cohen, S., Kamarck, T., & Mermelstein, R. (1983). A global measure of perceived stress. Journal of Health and Social Behavior, 24(4), 385-396. doi: 10.2307/2136404
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), enquanto Davelaar, Araujo e Kipper (2008Davelaar, P. M., Araujo, F. S., & Kipper, D. A. (2008). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Relationship to goal orientation, motivation, perceived self-efficacy, and self-esteem. The Arts in Psychotherapy, 35(2), 117-117-128. doi: 10.1016/j.aip.2008.01.003
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) encontraram correlações positivas entre os resultados do SAI-R e a motivação intrínseca (mas não com a motivação extrínseca) (medidas com o Work Preference Inventory, de Amabile, Hill, Hennessey, & Tighe, 1994Amabile, T. M., Hill, K. G., Hennessey, B. A., & Tighe, E. M. (1994). The Work Preference Inventory: Assessing intrinsic and extrinsic motivational orientations. Journal of Personality and Social Psychology, 66(5), 950-967.) e correlações positivas entre a espontaneidade, a auto-eficácia percebida (medida com a Perceived General Self-Efficacy Scale, de Luszczynska, Scholz, & Schwarzer, 2005Luszczynska, A., Scholz, U., & Schwarzer, R. (2005). The General Self-Efficacy Scale: Multicultural Validation Studies. The Journal of Psychology, 139(5), 439-457. doi: 10.3200/jrlp.139.5.439-457
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) e a auto-estima (medida com a Rosenberg Self-Esteem Scale, de Rosenberg, 2006Rosenberg, M. (2006). Rosenberg Self-Esteem Scale (RSE). Em D. J. Ciarrochi & L. Bilich (Eds.), Acceptance and Commitment Therapy. Measures Package (pp. 61-62). School of Psychology, University of Wollongong). Em estudos usando metodologias que combinam medidas de processo e de produto, tem vindo a ser demonstrada a possibilidade de aumentar a espontaneidade, medida com o SAI-R, por meio da intervenção psicodramática (Gonzalez, Martins, & Lima, 2018Gonzalez, A. J., Martins, P., & Lima M. P. (2018). Studying the efficacy of psychodrama with the Hermeneutic Single Case Efficacy Design: results from a longitudinal study. Frontiers in Psychology, 9, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2018.01662
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).

No entanto, diversos autores sugeriram a realização de futuras pesquisas utilizando o SAI-R em diferentes contextos culturais, visto que diferenças culturais podem limitar a interpretação dos itens e o conteúdo dos fatores. Além disso, o foco em instrumentos psicológicos confiáveis que analisem os níveis de espontaneidade dos sujeitos é um pré-requisito na literatura relacionada com a saúde mental e em contexto psicodramático (Gonzalez et al., 2018Gonzalez, A. J., Martins, P., & Lima M. P. (2018). Studying the efficacy of psychodrama with the Hermeneutic Single Case Efficacy Design: results from a longitudinal study. Frontiers in Psychology, 9, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2018.01662
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; Kipper & Shemer, 2006Kipper, D. A., & Shemer, H. (2006). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Spontaneity, well-being, and stress. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry , 59(3), 127-137. doi: 10.3200/jgpp.59.3.127-136
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). Assim, considerando as pesquisas anteriores, o objetivo desse estudo foi testar o SAI-R no contexto português. Pretende-se, portanto, validar o instrumento SAI-R para a língua portuguesa, contribuindo igualmente para a consumação da sua validade nomotética que, como já visto, reveste-se de um importante valor teórico (Kipper & Beasley, 2016Kipper, D. A., & Beasley, C. R. (2016). Factor analysis of the Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R). Zeitschrift für Psychodrama und Soziometrie, 15(1), 5-10. doi: 10.1007/s11620-015-0301-1
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). Nessa medida, essa validação pode ser um auxílio importante tanto para investigadores como para psicólogos e terapeutas.

Método

Participantes

A amostra consistiu em dois grupos de conveniência, e os participantes foram selecionados em diferentes regiões de Portugal. O número total de participantes foi de 719 sujeitos. Para efeitos de verificação da validade concorrente, a base de dados foi dividida em duas amostras. Na primeira amostra foram considerados 348 questionários para a análise dos dados. A média de idade foi de 27,78 anos (DP = 7,86), onde 179 eram do sexo feminino (51,4 %) e 169 eram do sexo masculino (48,6%). Em relação à segunda amostra, foram considerados 371 questionários para a análise dos dados, com uma média de idade dos participantes de 28,46 anos (DP = 7,47), dos quais 223 eram do sexo feminino (60,1%) e 148 do sexo masculino (39,9%). É importante notar que em ambas as recolhas de dados, os tamanhos das amostras excederam o mínimo (n = 200) recomendado para modelagem de equações estruturais com estimativa de máxima verossimilhança (Hair, Black, Babin, & Anderson, 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B., & Anderson, R. E. (2009). Multivariate data analyses (7th ed.). Prentice Hall.).

Instrumento

Foi utilizada uma versão em língua portuguesa (ver Anexo ANEXO SAI-Rp O inventário seguinte foi elaborado para ajudar a entender os sentimentos e pensamentos que as pessoas vivenciam em diferentes situações durante um dia típico. Gostaríamos que partilhasse connosco as suas experiências relativamente a esse aspeto. Instruções: Os 18 diferentes sentimentos e pensamentos apresentados abaixo referem-se à questão em negrito. Deverão ser avaliados nas escalas ordenadas de 1 = Muito Fraco (nunca/raramente) até 5 = Muito Forte (frequentemente/sempre), que aparecem à direita de cada item. Por favor leia cada item cuidadosamente e assinale com um círculo ou cruz o número que melhor descreve a intensidade dos seus sentimentos ou pensamentos. É importante que não deixe em branco nenhum dos itens. Não há respostas certas ou erradas. Muito Fraca Fraca Nem Fraca nem Forte Forte Muito Forte 1 2 3 4 5 Com que intensidade tem estes sentimentos ou pensamentos durante um dia típico? 01. Criativo/a 1 2 3 4 5 02. Feliz 1 2 3 4 5 03. Desinibido/a 1 2 3 4 5 04. As coisas parecem fluir 1 2 3 4 5 05. Vivo/a 1 2 3 4 5 06. Livre para criar 1 2 3 4 5 07. Eufórico/a 1 2 3 4 5 08. Livre para agir, até exageradamente 1 2 3 4 5 09. Vivendo plenamente com equilíbrio 1 2 3 4 5 10. Com energia 1 2 3 4 5 11. Com controlo 1 2 3 4 5 12. Leve e amorosamente 1 2 3 4 5 13. Completo/a 1 2 3 4 5 14. Prazer 1 2 3 4 5 15. Poderoso /a 1 2 3 4 5 16. Bem sucedido/a 1 2 3 4 5 17. Capaz de fazer qualquer coisa, dentro dos limites 1 2 3 4 5 18. Alegre 1 2 3 4 5 - SAI-Rp) obtida depois de traduzida a partir da versão americana do SAI-R (ver acima), sob autorização direta de David Kipper, retro-traduzida para o inglês por uma outra tradutora, tendo sido discutida a sua equivalência por um painel de três especialistas portugueses em psicodrama. A comparação das duas formas levou à conclusão de que os dois instrumentos eram conceitualmente equivalentes.

O Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R) original é composto por dezoito itens (ver Anexo ANEXO SAI-Rp O inventário seguinte foi elaborado para ajudar a entender os sentimentos e pensamentos que as pessoas vivenciam em diferentes situações durante um dia típico. Gostaríamos que partilhasse connosco as suas experiências relativamente a esse aspeto. Instruções: Os 18 diferentes sentimentos e pensamentos apresentados abaixo referem-se à questão em negrito. Deverão ser avaliados nas escalas ordenadas de 1 = Muito Fraco (nunca/raramente) até 5 = Muito Forte (frequentemente/sempre), que aparecem à direita de cada item. Por favor leia cada item cuidadosamente e assinale com um círculo ou cruz o número que melhor descreve a intensidade dos seus sentimentos ou pensamentos. É importante que não deixe em branco nenhum dos itens. Não há respostas certas ou erradas. Muito Fraca Fraca Nem Fraca nem Forte Forte Muito Forte 1 2 3 4 5 Com que intensidade tem estes sentimentos ou pensamentos durante um dia típico? 01. Criativo/a 1 2 3 4 5 02. Feliz 1 2 3 4 5 03. Desinibido/a 1 2 3 4 5 04. As coisas parecem fluir 1 2 3 4 5 05. Vivo/a 1 2 3 4 5 06. Livre para criar 1 2 3 4 5 07. Eufórico/a 1 2 3 4 5 08. Livre para agir, até exageradamente 1 2 3 4 5 09. Vivendo plenamente com equilíbrio 1 2 3 4 5 10. Com energia 1 2 3 4 5 11. Com controlo 1 2 3 4 5 12. Leve e amorosamente 1 2 3 4 5 13. Completo/a 1 2 3 4 5 14. Prazer 1 2 3 4 5 15. Poderoso /a 1 2 3 4 5 16. Bem sucedido/a 1 2 3 4 5 17. Capaz de fazer qualquer coisa, dentro dos limites 1 2 3 4 5 18. Alegre 1 2 3 4 5 ). Os respondentes são solicitados a indicar como descrevem a intensidade dos seus sentimentos ou pensamentos num dia típico, utilizando uma escala do tipo Likert de 5 pontos que varia de 1 (muito fraca) a 5 (muito forte). Os itens da amostra incluem, por exemplo: “1. Criativo; 2. Feliz; 8. Livre para agir, até exageradamente; 9. Vivendo plenamente com equilíbrio; 17. Capaz de fazer qualquer coisa, dentro dos limites; 18. Alegre.” Os primeiros estudos com esse instrumento mostraram um alfa de Cronbach variando entre 0,84 e 0,92 (Davelaar et al., 2008Davelaar, P. M., Araujo, F. S., & Kipper, D. A. (2008). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Relationship to goal orientation, motivation, perceived self-efficacy, and self-esteem. The Arts in Psychotherapy, 35(2), 117-117-128. doi: 10.1016/j.aip.2008.01.003
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).

Procedimentos

Os dados foram recolhidos por meio de uma base de dados online de uma empresa reconhecida de estudos de mercado. Os questionários foram auto-administrados e o seu preenchimento durou aproximadamente 20 minutos (foram incluídos outros instrumentos, para além dos usados neste trabalho). Todos os participantes foram instruídos sobre o objetivo e procedimentos do estudo antes de preencherem um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi enfatizada a importância do estudo, bem como da participação, tendo todos os sujeitos aceitado participar voluntariamente, sob garantia do anonimato e da confidencialidade das respostas. Foram também dadas instruções sobre o modo de preenchimento.

Análise de Dados

Para analisar os dados, foi usado o software AMOS 24.0 (SPSS Inc, Chicago, IL). Para examinar as propriedades psicométricas do modelo foi realizada uma análise fatorial confirmatória (AFC) com o método de máxima verossimilhança (Bentler, 2007Bentler, P. M. (2007). On tests and indices for evaluating structural models. Personality and Individual Differences, 42(5), 825-829. doi: 10.1016/j.paid.2006.09.024
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).

Os pressupostos do modelo fatorial confirmatório, nomeadamente a normalidade dos itens multivariados e a inexistência de outliers foram avaliados pelos coeficientes de forma (assimetria e achatamento) e pela distância quadrada de Mahalanobis (D2), respetivamente (Arbuckle, 2009Arbuckle, J. L. (2009). Amos 18 Reference Guide (Version 18) [Computer Software]. SPSS Inc.).

Para avaliar a qualidade do ajustamento global do modelo, são considerados diversos indicadores, nomeadamente: Estatística de teste qui-Quadrado (χ2); Razão do qui-quadrado pelos graus de liberdade (χ2/gl) considerando-se que χ2/gl com valor inferior a 5,0 indica um ajustamento do modelo aos dados aceitável, e um valor inferior a 3.0 indica um bom ajustamento do modelo aos dados (Arbuckle, 2009Arbuckle, J. L. (2009). Amos 18 Reference Guide (Version 18) [Computer Software]. SPSS Inc.; Kline, 2004Kline, R. B. (2004). Beyond Significance Testing: Reforming Data Analysis Methods in Behavioral Research. American Psychological Association.).

Depois foram testados diversos índices, nomeadamente, Índices Comparative Fit Index (CFI), Goodness Fit Index (GFI), e Tucker-Lewis Index (TLI), em que valores superiores a 0,90 e superiores 0,95 indicam bom e muito bom ajustamento, respetivamente (Marôco, 2010Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software & aplicações. Report Number.); Índices de parcimónia, Parsimony Comparative of Fit Index (PCFI) e Parsimony goodness of Fit Index (PGFI), em que valores a variar entre 0,60 e 0,80 indicam bom ajustamento e valores superiores a 0,80 indicam muito bom ajustamento.

Finalmente foi verificado o Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA) em que quando o índice é inferior a 0,06 com uma probabilidade P[RMSEA ≤ 0,05] não significativa, indica um bom ajustamento do modelo (Schumacker & Lomax, 2015Schumacker, R. E., & Lomax, R. G. (2015). A beginner’s guide to structural equation modelling (4th ed.). Routledge Taylor & Francis Group.).

O significado dos pesos estruturais foi avaliado usando os testes-Z produzidos pelo AMOS para adequação do modelo estrutural e de modo a testar as relações entre os constructos propostos, considerando-se Z ≥ 1,96 e significância estatística quando p ≤ 0,05 (Marôco, 2010Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software & aplicações. Report Number.).

A consistência interna do constructo foi avaliada por meio da confiabilidade compósita (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B., & Anderson, R. E. (2009). Multivariate data analyses (7th ed.). Prentice Hall.), enquanto os valores da variância média extraída (VME) foram estimados para avaliar a validade convergente (Fornell & Larker, 1981Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Structural equation models with unobserved variables and measurement error: Algebra and statistics. Journal of Marketing Research, 18(3), 382-388. doi: 10.2307/3150980
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). Considera-se que uma confiabilidade compósita superior ou igual a 0,7, uma VME superior ou igual a 0,5 são indicadores de constructos confiáveis e válidos (Fornell & Larker, 1981Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Structural equation models with unobserved variables and measurement error: Algebra and statistics. Journal of Marketing Research, 18(3), 382-388. doi: 10.2307/3150980
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).

Além disso, a fim de avaliar a validade do tipo critério, foi realizada uma análise multigrupos para comparar a primeira amostra com uma segunda amostra. A invariância do modelo em ambas as amostras foi testada comparando o modelo livre com os modelos restritos (cargas fatoriais fixas e variâncias /covariâncias fixas). A invariância fatorial foi aceite quando os modelos não diferiram significativamente (p > 0,05), de acordo com a estatística χ2 (Loehlin, 2003Loehlin, J. C. (2003). Latent variable models: An introduction to factor, path, and structural equation analysis (4th ed.). Lawrence Erlbaum Associates.; Marôco, 2010Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software & aplicações. Report Number.).

Resultados

Os resultados confirmam os pressupostos de normalidade univariados, (ver Tabela 1) tendo em consideração que os valores absolutos de assimetria e curtose estão abaixo de 3 e 7, respetivamente (Kline, 2004Kline, R. B. (2004). Beyond Significance Testing: Reforming Data Analysis Methods in Behavioral Research. American Psychological Association.). No entanto, o coeficiente de Mardia (Coeficiente = 46,328) indicou ausência de distribuição multivariada (Bentler & Wu, 1993Bentler, P. M., & Wu, E. J. C. (1993). EQS/windows user’s guide. BMDP Statistical Software.). Assim, foi utilizado o procedimento de bootstrapping (B-S) de Bollen e Stine para ajustar o valor p da estatística qui-quadrado.

Tabela 1.
Estatísticas Descritivas do SAI-Rp

A avaliação global do modelo estrutural (χ2[135] = 608,319, B-S p < 0,001; χ2/df = 4,51; PCFI = 0,74; PGFI = 0,65; CFI = 0,84; GFI = 0,82; TLI = 0,81; RMSEA = 0,10; 90% CI [0,093 - 0,110]) indica um ajustamento aceitável do modelo aos dados, apesar de nem todas as cargas fatoriais estimadas terem excedido o ponto de corte de 0,50 (Loehlin, 2003Loehlin, J. C. (2003). Latent variable models: An introduction to factor, path, and structural equation analysis (4th ed.). Lawrence Erlbaum Associates.), variando entre 0,44 e 0,78. Os valores de CFI, GFI e TLI cumprem o critério recomendado para bom ajustamento (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B., & Anderson, R. E. (2009). Multivariate data analyses (7th ed.). Prentice Hall.). Além disso, o RMSEA mostrou também a existência de bom ajustamento (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B., & Anderson, R. E. (2009). Multivariate data analyses (7th ed.). Prentice Hall.; Marôco, 2010Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software & aplicações. Report Number.) indicando, portanto, que os valores dos índices CFI, GFI e TLI estavam de acordo com o critério (> 0,80) para uma boa adequação do modelo aos dados, enquanto a RMSEA variou entre 0,05 e 0,10 sugerindo também bom ajustamento (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B., & Anderson, R. E. (2009). Multivariate data analyses (7th ed.). Prentice Hall.).

De acordo com os resultados, nem todos os itens do modelo original atingiram o valor de corte recomendado. No entanto, foi decidido manter esses itens, uma vez que são teoricamente sustentáveis e necessários (Kipper & Shemer, 2006Kipper, D. A., & Shemer, H. (2006). The Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R): Spontaneity, well-being, and stress. Journal of Group Psychotherapy, Psychodrama & Sociometry , 59(3), 127-137. doi: 10.3200/jgpp.59.3.127-136
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; Kipper & Beasley, 2016Kipper, D. A., & Beasley, C. R. (2016). Factor analysis of the Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R). Zeitschrift für Psychodrama und Soziometrie, 15(1), 5-10. doi: 10.1007/s11620-015-0301-1
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). Além disso, os índices de modificação (IM) sugeriram algumas correlações de erro que melhoram o ajustamento do modelo. Assim, as covariâncias de erro entre os itens 1 - “Criativo” e 6 - “Livre para criar” (IM = 71,802, EPC = 0,30), entre os itens 7 - “Eufórico” e 8 - “Livre para agir, até exageradamente” (IM = 65,882, EPC = 0,29), entre os itens 2 - “Feliz” e 18 - “Alegre” (IM = 46,244) foram assinaladas, confirmando que os dois erros quando correlacionados melhoram significativamente o ajustamento do modelo. Ainda, examinando o conteúdo dos itens, ficou expressa a possibilidade que eles podem ter um grau de redundância e por isso foi decidido correlacionar os erros de medida correspondentes. Conforme relatado na Tabela 2, os índices de ajustamento indicaram melhorias ligeiras no modelo.

Tabela 2
Modelo Re-especificado do SAI-Rp

Assim, o índice global do modelo estrutural permaneceu aceitável (χ2[132] = 410,404 B-S p < 0,001; χ2/df = 3,109; CFI = 0,90; GFI = 0,87; TLI = 0,89; PCFI = 0,78; PGFI = 0,68; RMSEA = 0,09; p = 0,001; 90% CI [0,069 - 0,87]) e os índices de parcimónia PCFI e PGFI permaneceram qualitativamente inalterados. No entanto, os valores de adequação dos CFI, GFI e TLI elevaram-se para valores qualitativos de muito bom ajustamento. De assinalar que nem todos os itens apresentaram confiabilidades individuais adequadas (R 2 ≥ 0,25), variando entre 0,17 e 0,61, enquanto os valores do teste-Z indicaram significância estatística variando entre 10,27 e 21,80 (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B., & Anderson, R. E. (2009). Multivariate data analyses (7th ed.). Prentice Hall.). As cargas fatoriais do modelo reespecificado e as correlações quadradas dos itens são apresentadas na Figura 1.

Figura 1
Cargas Fatoriais e Correlações Quadradas dos Itens do SAI-Rp

A confiabilidade compósita foi garantida (FC = 0,95), ultrapassando largamente o mínimo recomendado de 0,70 (Bagozzi & Kimmel, 1995Bagozzi, R. P., & Kimmel, S. K. (1995). A comparison of leading theories for the prediction of goal-directed behaviours. British Journal of Social Psychology, 34(4), 437-461. doi: 10.1111/j.2044-8309.1995.tb01076.x
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). O alfa de Cronbach revelou também a boa consistência interna da escala (α = 0,91). As evidências de validade convergente também foram confirmadas, uma vez que o valor da VME foi de 0,50, que é o valor de corte recomendado para este índice (Anderson & Gerbing, 1981Anderson, J. C., & Gerbing, D. W. (1988). Structural equation modeling in practice: A review and recommended two-step approach. Psychological Bulletin, 103(3), 411-423. doi: 10.1037/0033-2909.103.3.411
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; Fornell & Larker, 1981Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Structural equation models with unobserved variables and measurement error: Algebra and statistics. Journal of Marketing Research, 18(3), 382-388. doi: 10.2307/3150980
https://doi.org/10.2307/3150980...
).

Adicionalmente, os valores da média (e desvio padrão) da espontaneidade obtidos em função do género na amostra recolhida foram de 61,22 (10,56) para as mulheres e de 62.96 (10,21) para os homens e essa diferença não foi significativa.

A fim de estudar a estabilidade do modelo, procedeu-se à verificação da validade cruzada. Mais especificamente, foi realizada uma análise multi-grupos, utilizando duas amostras equivalentes, i.e., os participantes apresentaram características demográficas semelhantes (Amostra 1 = 348; Amostra 2 = 371). Como se pode verificar na Tabela 3, o ajustamento do modelo livre (Modelo 1: χ2[264] = 862,13; PCFI = 0,77; PGFI = 0,67; CFI = 0,90; GFI = 0,87; RMSEA = 0,06) revelou-se aceitável (Marôco, 2010Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software & aplicações. Report Number.). Do mesmo modo, foram testados os modelos com variâncias fixas (Modelo 2: χ2 [282] = 889,90 [B-S p < 0,66]; PCFI = 0,83; PGFI = 0,72; GFI = 0,87; CFI = 0,90; RMSEA = 0,06) e o modelo com resíduos fixos (Modelo 3: χ2 [303] = 917,23 [B-S p < 0,60]; PCFI = 0,86; PGFI = 0,77; GFI = 0,87; CFI = 0,89; RMSEA = 0,05), que mostraram um ajustamento também aceitável. A estatística do χ2 não mostrou diferenças significativas entre o Modelo 1 e o Modelo 2 (χ2 dif [18] = 72,23; [B-S p = 0,66]) ou o Modelo 1 e o Modelo 3 (χ2dif [39] = 27,38; [B-S p = 0,160]). Assim, os resultados demonstraram a invariância do modelo em ambas as amostras, mostrando que a estrutura fatorial de SAI-Rp é estável em duas amostras independentes (Loehlin, 2003Loehlin, J. C. (2003). Latent variable models: An introduction to factor, path, and structural equation analysis (4th ed.). Lawrence Erlbaum Associates.; Marôco, 2010Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software & aplicações. Report Number.) e, nessa medida, indicando validade critério.

Tabela 3
Resultados da Análise Multi-grupos da AFC do SAI-Rp

Discussão e Conclusões

O principal objetivo do presente estudo foi contribuir para o desenvolvimento da investigação sobre espontaneidade por meio da validação do SAI-R para o contexto português. Especificamente, os resultados revelaram que a estrutura originalmente proposta a um fator com 18 itens mostrou validade de constructo e validade de conteúdo, tal como boa confiabilidade da escala. A análise fatorial confirmatória revelou que existe um ajustamento aceitável do modelo aos dados. A confiabilidade compósita e a validade convergente foram também verificadas (Marôco, 2011Marôco, J. (2011). Análise Estatística com o SPSS statistics. Report Number.). Adicionalmente, devido ao facto de terem sido encontradas sobreposições entre os itens 1 - “Criativo” e 6 - “Livre para criar”, entre os itens 7 - “Eufórico” e 8 - “Livre para agir, até exageradamente” e entre os itens 2 - “Feliz” e 18 - “Alegre”, é recomendado um uso prudente na interpretação dos resultados da escala, especialmente em contexto profissional de avaliação psicológica de clientes.

Complementarmente, embora a Espontaneidade esteja relacionada com a criatividade e com o estabelecer de novas conexões, pensamento divergente e aprendizagem implícita, não foi inicialmente concebida como estado de euforia, que aliás é, segundo Moreno, mais próximo da impulsividade. Como anteriormente afirmado, a espontaneidade é uma habilidade que permite o encontro sem se tornarem excessivos, e o seu contrário pertence ao domínio da patologia da espontaneidade (Cukier, 2002Cukier, R. (2002). Palavras de Jacob Levy Moreno: vocabulário de citações do Psicodrama, da Psicoterapia de Grupo, do Sociodrama e da Sociometria. Ágora.; Fox, 2002Fox, J. (2002). O Essencial de Moreno: Textos sobre psicodrama, terapia de grupo e espontaneidade. Ágora.; Kipper et al., 2010Kipper, D., A., Green, D., J., & Prorak, A. (2010). The relationship among spontaneity, impulsivity, and creativity. Journal of Creativity in Mental Health, 5(1), 39-39-53. doi: 10.1080/15401381003640866
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).

Peterson e Seligman (2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. American Psychological Association.) designaram a criatividade como uma das 24 forças de carácter consideradas a coluna vertebral da Psicologia Positiva (Mayerson, 2020Mayerson, N. H. (2020). The character strengths response: an urgent call to action. Frontiers in Psychology, 11(2106), 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2020.02106
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). Incluída na virtude Sabedoria e Conhecimento, a Criatividade é um traço positivo de personalidade moralmente valorizado em todas as culturas (Peterson & Seligman, 2004; Shen et al., 2014Shen, X. S., Chick, G., & Zinn, H. (2014). Playfulness in adulthood as a personality trait: a reconceptualization and a new measurement. Journal of Leisure Research, 46(1), 58-83. doi: 10.1080/00222216.2014.11950313
https://doi.org/10.1080/00222216.2014.11...
). Além disso, a utilização da medida de espontaneidade, beneficia a própria teoria do psicodrama, já que a sua utilização poderá ser uma oportunidade de o reinventar atendendo às novas demandas provenientes dos contextos onde é utilizada (Fernandes, Cenci, & Gaspodini, 2021Fernandes, V. A., Cenci, C. M. B., & Gaspodini, I. B. (2021). Intervenções em psicodrama: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Psicodrama, 29(1), 4-15. doi: 10.15329/2318-0498.21992
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). Por outro lado, na categoria da avaliação do processo terapêutico, o emprego da medida da espontaneidade pode ajudar a inovar na intervenção baseada no psicodrama (López-González, Morales-Landazábal, & Topa, 2021López-González, M. A., Morales-Landazábal, P., & Topa, G. (2021). Psychodrama Group Therapy for Social Issues: A Systematic Review of Controlled Clinical Trials. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18(9), 4442. doi: 10.3390/ijerph18094442
https://doi.org/10.3390/ijerph18094442...
). Finalmente, com a medida agora apresentada, é possível correlacionar a espontaneidade com a adaptabilidade criativa em contextos de língua portuguesa e realizar uma comparação com outros contextos culturais, por exemplo, no caso do surto pandémico da COVID-19 (Orkibi, 2021Orkibi, H. (2021). Creative Adaptability: Conceptual framework, measurement, and outcomes in times of crisis. Frontiers in Psychology, 11(3695), 1-13. doi: 10.3389/fpsyg.2020.588172
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; Testoni et al., 2021Testoni, I., Azzola, C., Tribbia, N., Biancalani, G., Iacona, E., Orkibi, H., & Azoulay, B. (2021). The COVID-19 Disappeared: From Traumatic to Ambiguous Loss and the Role of the Internet for the Bereaved in Italy. Frontiers in Psychiatry, 12(564), 1-11. doi: 10.3389/fpsyt.2021.620583
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).

Ressalta-se que são necessárias maiores investigações para compreender os mecanismos envolvidos e os contornos e especificidades da relação entre Espontaneidade e Disponibilidade para agir ou mesmo Abertura à experiência.

Embora se recomende o seu uso prudente, o SAI-R surge como um instrumento curto, versátil e válido quando se pretende avaliar a espontaneidade. Essa validação é também um passo importante e necessário não apenas para os estudos feitos pela comunidade lusófona de psicodramatistas, mas também para os investigadores interessados no tema da espontaneidade em geral. É uma ferramenta útil na avaliação da espontaneidade em vários contextos, mas também, uma contribuição para a missão urgente da cientificação dos procedimentos terapêuticos, especialmente no caso do Psicodrama, psicoterapia cujo modelo teórico coloca a espontaneidade como variável central na promoção da saúde mental.

Como limitações decorrentes desse conjunto de estudos, salienta-se, em primeiro lugar, que a amostra, apesar de corresponder à dimensão necessária para proceder à análise fatorial confirmatória, foi recolhida em contexto não clínico, impossibilitando por isso um certo grau de precisão da medida nesse contexto, sendo, portanto, necessário prosseguir os estudos com outras amostras clínicas e não clínicas representativas. Em segundo lugar, não foi verificada a validade concorrente, nem a validade referida ao critério. Essas duas verificações possibilitarão respetivamente, a comparação da espontaneidade com outras escalas teoricamente associadas e verificar até que ponto os valores obtidos pelo instrumento estão relacionados com uma medida de critério, como por exemplo, abertura à experiência. Não obstante, pensa-se ter alcançado um nível de validade que permite garantir, tanto a psicodramatistas como a psicólogos, terapeutas e pesquisadores, que os resultados obtidos no SAI-R são válidos e fiáveis.

Finalmente, o poder de interpretação é outra direção a seguir em estudos futuros, pois não basta garantir que o instrumento mede o que deve medir é, também, necessário saber qual o significado dos valores encontrados que implicará a revisão dos itens já enunciados como sobrepostos. Por fim, é importante abrir o campo de reflexão para uma reconceitualização da espontaneidade, quem sabe encontrando outras variáveis de primeira ordem e que explicam a espontaneidade como um fator geral de segunda ordem como parecem sugerir Kipper e Beasley (2016Kipper, D. A., & Beasley, C. R. (2016). Factor analysis of the Revised Spontaneity Assessment Inventory (SAI-R). Zeitschrift für Psychodrama und Soziometrie, 15(1), 5-10. doi: 10.1007/s11620-015-0301-1
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    » https://doi.org/10.3389/fpsyt.2021.620583

ANEXO

SAI-Rp

O inventário seguinte foi elaborado para ajudar a entender os sentimentos e pensamentos que as pessoas vivenciam em diferentes situações durante um dia típico. Gostaríamos que partilhasse connosco as suas experiências relativamente a esse aspeto.

Instruções: Os 18 diferentes sentimentos e pensamentos apresentados abaixo referem-se à questão em negrito. Deverão ser avaliados nas escalas ordenadas de 1 = Muito Fraco (nunca/raramente) até 5 = Muito Forte (frequentemente/sempre), que aparecem à direita de cada item. Por favor leia cada item cuidadosamente e assinale com um círculo ou cruz o número que melhor descreve a intensidade dos seus sentimentos ou pensamentos. É importante que não deixe em branco nenhum dos itens. Não há respostas certas ou erradas.

Muito Fraca Fraca Nem Fraca nem Forte Forte Muito Forte 1 2 3 4 5


Com que intensidade tem estes sentimentos ou pensamentos durante um dia típico?

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    Dez 2021

Histórico

  • Recebido
    07 Maio 2021
  • Revisado
    22 Jun 2021
  • Aceito
    28 Jun 2021
Universidade de São Francisco, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia R. Waldemar César da Silveira, 105, Vl. Cura D'Ars (SWIFT), Campinas - São Paulo, CEP 13045-510, Telefone: (19)3779-3771 - Campinas - SP - Brazil
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