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Career Adapt-Abilities Scale (CAAS-Brasil): Propriedades Psicométricas, Diferenças em Função de Variáveis Sociodemográficas e Padrões Normativos

Career Adapt-Abilities Scale (CAAS-Brazil): Psychometric properties, differences as a function of sociodemographic variables and normative standards

Career Adapt-Abilities Scale (CAAS-Brasil): Propiedades psicométricas, diferencias en función de variables sociodemográficas y estándares normativos

Resumo

O objetivo deste artigo foi propor padrões normativos para a Career Adapt-Abilities Scale (CAAS-Brasil) considerando diferenças em função das variáveis sociodemográficas: sexo, estado civil, faixa etária, escolaridade e faixa de rendimento. A amostra foi composta por 2.999 indivíduos, idades variando de 14 a 77 anos, maioria do sexo feminino (63%) e representantes de 21 estados brasileiros. As propriedades psicométricas da CAAS-Brasil foram investigadas por meio de Teoria de Resposta ao Item e coeficiente ômega. Os resultados evidenciaram invariância para a CAAS-Brasil e maiores diferenças de médias nas variáveis faixa etária, escolaridade e faixa de rendimento. A partir disso, foram apresentados padrões normativos para a amostra geral e dividida, considerando as variáveis que apresentaram diferenças. Os padrões normativos apresentados neste artigo possibilitarão que profissionais de orientação profissional e de carreira interpretem, com base em normas, os escores de adaptabilidade de carreira de seus orientandos, tornando a avaliação mais substantiva.

Palavras-chave:
avaliação psicológica; desenvolvimento profissional; interpretação do teste; orientação vocacional; psicometria

Abstract

This article aimed to propose normative standards for the Career Adapt-Abilities Scale (CAAS-Brazil) considering differences in terms of sociodemographic variables: gender, marital status, age group, education level, and income. The sample consisted of 2999 individuals, within the age range of 14 to 77 years, mostly women (63%) from 21 Brazilian states. The psychometric properties of CAAS-Brazil were investigated using Item Response Theory and the Omega coefficient. Results showed invariance for the CAAS-Brazil and greater mean differences in the variables age group, education, and income. From this, normative standards for the overall sample were presented and divided considering the variables that showed differences. The normative standards presented in this article will enable career guidance professionals to interpret the career adaptability scores of their students, making the assessment more robust.

Keywords:
psychological assessment; professional development; test interpretation; vocational guidance; psychometry

Resumen

El objetivo de este artículo fue proponer estándares normativos para la Career Adapt-Abilities Scale (CAAS-Brasil) considerando diferencias en términos de variables sociodemográficas: género, estado civil, grupo de edad, escolaridad y rango de ingresos. La muestra estuvo constituida por 2.999 individuos, con edades comprendidas entre 14 y 77 años, en su mayoría mujeres (63%) y representantes de 21 estados brasileños. Las propiedades psicométricas de CAAS-Brasil se investigaron mediante la Teoría de Respuesta al Ítem y el coeficiente Omega. Los resultados mostraron invarianza para el CAAS-Brasil y mayores diferencias de medias en las variables edad, escolaridad e ingresos. A partir de esto, se presentaron estándares normativos para la muestra general y se dividieron considerando las variables que manifestaron diferencias. Los estándares normativos presentados en este artículo permitirán a los profesionales de la orientación profesional interpretar y la orientación interpretar, basándose en normas, las puntuaciones de adaptabilidad profesional de sus alumnos, haciendo que la evaluación sea más sustantiva.

Palabras clave:
evaluación psicológica; desarrollo profesional; interpretación de pruebas; orientación vocacional; psicometría

Introdução

O Século XXI é caracterizado pela globalização e pela Revolução Tecnológica, que influenciaram de maneira significativa o modo como os indivíduos percebem e exercem seus trabalhos (Nota, Ginevra, & Soresi, 2012Nota, L., Ginevra, M. C., & Soresi, S. (2012). The Career and Work Adaptability Questionnaire (CWAQ): A first contribution to its validation. Journal of Adolescence, 35(6), 1557-1569. doi: 10.1016/j.adolescence.2012.06.004
https://doi.org/10.1016/j.adolescence.20...
; Savickas et al., 2009Savickas, M. L., Nota, L., Rossier, J., Dauwalder, J. P., Duarte, M. E., Guichard, J., Soresi, S., Esbroeck, R. V., & van Vianen, A. E. M. (2009). Life designing: A paradigm for career construction in the 21st century. Journal of Vocational Behavior, 75(3), 239-250. doi: 10.1016/j.jvb.2009.04.004.
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2009.04.00...
). Os trabalhadores são desafiados pela imprevisibilidade, transições constantes e instabilidade que o mercado de trabalho oferece (Ribeiro, 2014Ribeiro, M. A. (2014). Carreiras: Novo olhar socioconstrutivista para um mundo flexibilizado. Curitiba: Juruá.). Dessa maneira, os indivíduos precisam desenvolver competências específicas para enfrentar as mudanças do mundo do trabalho. Dentre elas, a adaptabilidade de carreira tem se destacado, e diversos estudos têm sido desenvolvidos para melhor compreender esse construto (Fiorini, Bardagi, & Silva, 2016Fiorini, M. C., Bardagi, M. P., & Silva, N. (2016). Adaptabilidade de carreira: Paradigmas do conceito no mundo do trabalho contemporâneo. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 16(3), 236-247. doi: 10.17652/rpot/2016.3.676
https://doi.org/10.17652/rpot/2016.3.676...
; Rudolph, Lavigne, & Zacher, 2017Rudolph, C. W., Lavigne, K. N., & Zacher, H. (2017). Career adaptability: A meta-analysis of relationships with measures of adaptivity, adapting responses, and adaptation results. Journal of Vocational Behavior, 98, 17-34. doi: 10.1016/j.jvb.2016.09.002
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).

Savickas (2013Savickas, M. L. (2013). Career construction theory and practice. In R. W. Lent & S. D. Brown (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2nd ed., pp. 147-183). Hoboken: John Wiley & Sons.) conceituou a adaptabilidade de carreira como um construto psicossocial que indica a prontidão de recursos autorregulatórios que o indivíduo possui para desempenhar com sucesso tarefas atuais e imprevisíveis de desenvolvimento de carreira, transições de carreira e traumas pessoais. A adaptabilidade de carreira é representada por quatro dimensões que podem auxiliar o indivíduo a entender e lidar de forma assertiva com determinadas circunstâncias da sua carreira. As dimensões são: Preocupação (concern), Controle (control), Curiosidade (curiosity) e Confiança (confidence), conhecidos na literatura internacional por “4c’s” (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown & R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (pp. 42-70). Hoboken: Wiley).

Preocupação refere-se às atitudes de planejamento, antecipação e preparação acerca da inquietação quanto ao próprio futuro vocacional. Controle diz respeito ao quanto o indivíduo sente-se responsável e ativo na construção da própria carreira, por meio de uma postura assertiva ao fazer escolhas e determinando a direção que sua carreira irá seguir. Curiosidade remete ao autoconhecimento e ao conhecimento sobre o mundo do trabalho, além disso, acarreta disposição para o engajamento em novas atividades de trabalho, fazer descobertas e buscar aprendizados. Por fim, Confiança refere-se à convicção que o indivíduo possui em relação à carreira. Essa competência sugere o quanto o indivíduo se sente eficaz para empregar os esforços necessários a fim de atingir seus objetivos, mesmo quando se depara com dificuldades (Savickas, 2005Savickas, M. L. (2005). The theory and practice of career construction. In S. D. Brown & R. W. Lent (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (pp. 42-70). Hoboken: Wiley).

Dessa forma, entende-se que indivíduos com altos níveis de adaptabilidade de carreira apresentam mais recursos e competências que os permitirão resolver com sucesso as situações que envolvem transições e experiências passadas (Savickas, 1997Savickas, M. L. (1997). Career adaptability: An integrative construct for life-span, lifespace theory. The Career Development Quarterly, 45(3), 247-259. doi: 10.1002/j.2161-0045.1997.tb00469.x
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). O propósito da adaptabilidade é o nivelamento das necessidades pessoais do trabalhador com as cobranças e oportunidades que o contexto laboral oferece. Bons níveis de adaptabilidade de carreira podem indicar que o trabalhador tende a ter mais satisfação, comprometimento, desenvolvimento e sucesso em seu trabalho (Savickas, 2013Savickas, M. L. (2013). Career construction theory and practice. In R. W. Lent & S. D. Brown (Eds.), Career development and counselling: Putting theory and research to work (2nd ed., pp. 147-183). Hoboken: John Wiley & Sons.; Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L., & Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: Construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 661-673. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.011.
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; Zacher, 2014bZacher, H. (2014). Individual difference predictors of change in career adaptability over time. Journal of Vocational Behavior, 84(2), 188-198. doi: 10.1016/j.jvb.2014.01.001
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).

A Career Adapt-Abilities Scale (CAAS) foi desenvolvida para avaliar a adaptabilidade de carreira, fruto do trabalho de um grupo de pesquisa intercultural. O estudo de Savickas e Porfeli (2012Savickas, M. L., & Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: Construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 661-673. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.011.
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) indicou que a CAAS é capaz de avaliar as quatro dimensões que foram propostas teoricamente, com propriedades psicométricas adequadas. A partir dos dados compilados de diversos países, os resultados indicaram índices de consistência interna adequados, a saber, Preocupação: α=0,83, Controle: α=0,74, Curiosidade: α=0,79 e Confiança: α=0,85.

No Brasil, foram desenvolvidos dois estudos para verificar as propriedades psicométricas da CAAS-Brasil e sua adequação para o contexto nacional (Audibert & Teixeira, 2015Audibert, A., & Teixeira, M. A. P. (2015). Escala de adaptabilidade de carreira: Evidências de validade em universitários brasileiros. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 16(1). Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v16n1/09.pdf
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; Teixeira et al., 2012Teixeira, M. A. P., Bardagi, M. P., Lassance, M. C. P., Magalhães, M. de O., & Duarte, M. E. (2012). Career Adapt-Abilities Scale-Brazilian Form: Psychometric properties and relationships to personality. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 680-685. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.007.
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). Inicialmente Teixeira et al. (2012Teixeira, M. A. P., Bardagi, M. P., Lassance, M. C. P., Magalhães, M. de O., & Duarte, M. E. (2012). Career Adapt-Abilities Scale-Brazilian Form: Psychometric properties and relationships to personality. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 680-685. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.007.
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) realizaram a tradução e adaptação da CAAS-Brasil em uma amostra de 908 adultos. Os autores evidenciaram que a estrutura hierárquica, formada por quatro dimensões (i.e., Preocupação, Controle, Curiosidade e Confiança) e uma dimensão geral (i.e., Adaptabilidade), foi adequada para representar estrutura interna da CAAS no Brasil.

Alguns anos depois, Audibert e Teixeira (2015Audibert, A., & Teixeira, M. A. P. (2015). Escala de adaptabilidade de carreira: Evidências de validade em universitários brasileiros. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 16(1). Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v16n1/09.pdf
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) revisaram a versão brasileira da escala e buscaram evidências de validade e estimativas de precisão. A amostra foi composta por 990 estudantes universitários, provenientes de 61 cursos de ensino superior. Os autores realizaram uma nova tradução da versão em inglês da CAAS (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L., & Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: Construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 661-673. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.011.
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). Após os procedimentos de tradução, os autores sugeriram modificações na instrução e chave de resposta. O índice de consistência interna foi avaliado por meio do alfa, sendo considerados adequados: 0,88 (Preocupação), 0,83 (Controle), 0,88 (Curiosidade), 0,89 (Confiança) e 0,94 (escore geral de Adaptabilidade). Ainda, os resultados das análises realizadas indicaram uma estrutura similar para a CAAS-Brasil independentemente do formato de aplicação (i.e., presencial ou on-line).

Após a publicação da CAAS, diversos estudos nacionais e internacionais foram realizados para verificar as propriedades psicométricas, relacionar com outros construtos, analisar a capacidade preditiva e comparar diferenças em relação a variáveis sociodemográficas (Rudolph et al., 2017Rudolph, C. W., Lavigne, K. N., & Zacher, H. (2017). Career adaptability: A meta-analysis of relationships with measures of adaptivity, adapting responses, and adaptation results. Journal of Vocational Behavior, 98, 17-34. doi: 10.1016/j.jvb.2016.09.002
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). Sobre variáveis sociodemográficas, o estudo de Ambiel, Carvalho, Martins e Tofoli (2016Ambiel, R. A. M., Carvalho, L. de F., Martins, G. H., & Tofoli, L. (2016). Comparing the adaptabilities of Brazilian adolescent students and adult workers. Journal of Vocational Behavior, 94, 20-27. doi: 10.1016/j.jvb.2016.02.005
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) evidenciou que adolescentes e adultos endossam de maneira diferente os itens da CAAS-Brasil. Os adolescentes demonstraram mais recursos relacionados às preocupações futuras. Por outro lado, os adultos possuem uma percepção mais realista, baseadas nas experiências com o mundo do trabalho, o que possibilita escolhas assertivas, eficientes e responsáveis. Cammarosano, Melo-Silva e Oliveira (2019Cammarosano, M., Melo-Silva, L. L., & Oliveira, J. E. B. (2019). Validity Evidence of the CAAS in Brazilians with Higher Education. Psico-USF, 24(2), 287-298. doi: 10.1590/1413-82712019240206
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) testaram a invariância e as diferenças em relação ao sexo na CAAS-Brasil. Os resultados indicaram invariância para a CAAS-Brasil em relação ao sexo, não sendo obtidas diferenças significativas entre homens e mulheres em relação às dimensões da escala.

Zacher (2014bZacher, H. (2014b). Career adaptability predicts subjective career success above and beyond personality traits and core self-evaluations. Journal of Vocational Behavior, 84(1), 21-30. doi: 10.1016/j.jvb.2013.10.002
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) buscou investigar os efeitos de características demográficas e variáveis individuais, tais como traços de personalidade e foco temporal, nas mudanças ao longo do tempo na adaptabilidade de carreira. Os resultados apontaram que diferenças individuais estimulam mudanças na adaptabilidade de carreira de indivíduos ao longo do tempo. Dentre as variáveis analisadas, salienta-se que a idade e a escolaridade são importantes características para predizer as dimensões da CAAS. A partir dos dados publicados em 90 estudos que utilizaram a CAAS, uma metanálise relacionou o escore geral de Adaptabilidade com sexo, idade, renda e escolaridade. Os autores evidenciaram relação significativa somente na variável escolaridade, sendo essa relação positiva (Rudolph et al., 2017Rudolph, C. W., Lavigne, K. N., & Zacher, H. (2017). Career adaptability: A meta-analysis of relationships with measures of adaptivity, adapting responses, and adaptation results. Journal of Vocational Behavior, 98, 17-34. doi: 10.1016/j.jvb.2016.09.002
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).

Apesar de alguns estudos constatarem diferenças nos níveis de adaptabilidade em relação às variáveis sociodemográficas, são escassas as pesquisas que indicam padrões normativos para interpretação dos resultados considerando essas variáveis. No Brasil, não há instrumentos que avaliem a adaptabilidade de carreira aprovados pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) para uso profissional dos psicólogos. Ainda, não há relatos científicos de padrões normativos para a CAAS-Brasil, o que dificulta a utilização desse instrumento em contextos práticos, por exemplo, em processos de orientação profissional e de carreira.

Os padrões normativos indicam como interpretar os escores de um teste e oferecem uma estimativa do nível de um indivíduo em relação ao construto avaliado (Pasquali, 2016Pasquali, L. (2016). Técnicas de Exame Psicológico-TEP: Manual. Vetor.; Santos et al., 2010Santos, A. A. A., Anache, A. A., Villemor-Amaral, A. E., Werlang, B. S. G., Reppold, C. T., Nunes, C. H. S. S., Tavares, M., Ferreira, M. C. & Primi, R. (2010). Avaliação psicológica: Diretrizes na regulamentação da profissão. Conselho Federal de Psicologia.). Essa estimativa permite que o nível de adaptabilidade de carreira de um indivíduo seja comparável com o de uma amostra normativa. Uma forma de fornecer padrão normativo de um instrumento é por meio de percentis. Contudo, as normas de um instrumento não são absolutas, universais ou permanentes e a amostra normativa deve ter um perfil representativo da população alvo do instrumento (Anastasi & Urbina, 2000Anastasi, A., & Urbina, S. (2000). Testagem psicológica. Porto Alegre: ArtMed Editora.).

Em contextos de avaliação, os padrões normativos ampliam as possibilidades de interpretação do teste para além do que pode ser fornecido somente pelo escore bruto. A partir do exposto, este estudo tem como objetivo estabelecer padrões normativos para a CAAS-Brasil com base em diferenças sociodemográficas. Para tanto, serão verificadas as propriedades psicométricas do instrumento e diferenças entre as variáveis sociodemográficas: sexo, estado civil, faixa etária, escolaridade e faixa de rendimentos mensais. As variáveis sociodemográficas foram selecionadas a partir da metanálise de Rudolph, Lavigne e Zacher (2017Rudolph, C. W., Lavigne, K. N., & Zacher, H. (2017). Career adaptability: A meta-analysis of relationships with measures of adaptivity, adapting responses, and adaptation results. Journal of Vocational Behavior, 98, 17-34. doi: 10.1016/j.jvb.2016.09.002
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), porém, visando ampliar as variáveis selecionadas, também foi incluído o estado civil.

Método

Participantes

A amostra foi composta a partir de diferentes bancos de dados, totalizando 2.999 participantes com idades entre 14 anos e 77 anos (M=24,94 anos; DP=11,64 anos). Todos os participantes que integravam seus bancos originais foram incluídos na amostra deste estudo. Aproximadamente 63% dos participantes (n=1884) eram do sexo feminino e 37%, do sexo masculino (n=1115). Cerca de 12% da amostra (n=364) não informaram qual o estado que residiam, os demais participantes representaram 21 estados brasileiros, sendo que a maioria residia no estado de São Paulo (57%, n=1729).

As variáveis estado civil, faixa de rendimentos mensais e escolaridade não foram informadas por parte da amostra. Dessa forma, 659 participantes se declararam solteiros, 400 estavam em união estável ou casados e 51 eram divorciados/desquitados/separados e cinco informaram ser viúvos. No que diz respeito à faixa de rendimentos mensais, 312 participantes declaram receber até três salários mínimos (SM), 260 disseram que recebem de quatro a seis SM e 225 recebiam sete SM ou mais.

Em relação ao nível de escolaridade, 60,4% declararam ter ensino básico (n=1618), que contempla os ensinos fundamental e médio (cursando ou completo) e técnico (cursando). O nível ensino superior foi composto pelo ensino tecnólogo e superior (cursando ou completo), representando 20,3% da amostra (n=544). Por fim, 19% dos participantes (n=517) relataram possuir pós-graduação Lato Sensu ou Stricto Sensu (cursando ou completo).

Instrumentos

Questionário Sociodemográfico

Composto por questões que caracterizaram a amostra. As variáveis selecionadas nos bancos de dados foram sexo, estado civil, idade, escolaridade e faixa de rendimentos mensais.

Career Adapt-Abilities Scale - Brasil ( Audibert & Teixeira, 2015Audibert, A., & Teixeira, M. A. P. (2015). Escala de adaptabilidade de carreira: Evidências de validade em universitários brasileiros. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 16(1). Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v16n1/09.pdf
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)

Composta por 24 itens que avaliam as quatro dimensões da adaptabilidade de carreira. Cada dimensão possui seis itens, seguindo os exemplos: “Pensar sobre como será o meu futuro” (Preocupação); “Manter-me entusiasmado (a) e otimista” (Controle); “Explorar o ambiente ao meu redor” (Curiosidade); “Realizar as tarefas de forma eficiente” (Confiança). Audibert e Teixeira (2015Audibert, A., & Teixeira, M. A. P. (2015). Escala de adaptabilidade de carreira: Evidências de validade em universitários brasileiros. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 16(1). Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v16n1/09.pdf
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) encontraram um índice de fidedignidade satisfatório para o escore geral de Adaptabilidade (α=0,94) e o alfa das dimensões variaram de 0,83 para Controle à 0,89 para Confiança. As respostas estão no formato Likert de cinco pontos, sendo 1 para “desenvolvi pouco” ou “nada” e 5 para “desenvolvi extremamente bem”.

Procedimentos

A amostra foi composta a partir de cinco bancos de dados coletados anteriormente sob a supervisão do mesmo orientador. As coletas aconteceram entre os anos de 2017 e 2018, obtendo as seguintes quantidades de participantes: (1) 1518; (2) 446; (3) 364; (4) 351 e (5) 320. Todas as coletas foram realizadas de forma on-line, para tanto, foram criados protocolos na plataforma Google Formulários. Ressalta-se que em todas as coletas foram respeitados os preceitos éticos e obtiveram aprovação pelo comitê de ética em pesquisa (CAAE: 76732217.5.0000.5374).

Análise de Dados

Inicialmente analisaram-se os parâmetros dos itens da CAAS-Brasil por meio de Teoria de Resposta ao Item (TRI) unidimensional, com modelagem de itens de dois parâmetros por meio de Graded Response Model (Samejima, 1969Samejima, F. (1969). Estimation of latent ability using a response pattern of graded scores. Psychometrika Monograph Supplement, 34(4), 1-97. Recuperado de https://psycnet.apa.org/record/1972-04809-001
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). Os thetas dos participantes foram estimados a partir do método Estimated A Posteriori (EAP). A partir dos parâmetros dos itens calibrados, geramos gráficos com os mapas de itens, distribuições de theta dos sujeitos e curvas de informação para cada dimensão da CAAS-Brasil. As consistências internas das dimensões da CAAS-Brasil foram analisadas por meio do coeficiente ômega. Reise, Bonifay e Haviland (2013Reise, S. P., Bonifay, W. E., & Haviland, M. G. (2013). Scoring and modeling psychological measures in the presence of multidimensionality. Journal of Personality Assessment, 95, 129-140. doi: 10.1080/00223891.2012.725437
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) sugerem que valores de ômega acima de 0,75 são considerados satisfatórios.

Em seguida, testamos a invariância da CAAS-Brasil por meio de Análise Fatorial Confirmatória Multigrupo (AFCMG) para dados ordinais, seguindo o modelo de identificação proposto por Wu e Estabrook (2016Wu, H., & Estabrook, R. (2016). Identification of confirmatory factor analysis models of different levels of invariance for ordered categorical outcomes. Psychometrika, 81(4), 1014-1045. doi: 10.1007/s11336-016-9506-0
https://doi.org/10.1007/s11336-016-9506-...
). As variáveis de agrupamento utilizados nessa análise foram: sexo, estado civil, faixa etária, escolaridade e faixa de rendimento. Utilizamos na AFCMG o estimador Weighted Least Square Mean and Variance adjusted (WLSMV). Os modelos de invariância testados foram: configural, threshold, métrica e escalar. Um instrumento é considerado não invariante se atender aos seguintes critérios de variação (Δ) nos índices de ajuste de um modelo para outro, seguindo uma ordem hierárquica de restrições (i.e., configural, threshold, métrica e escalar): ΔConfirmatory Fit Index (CFI)≤-0,010, ΔRoot Mean Square Error of Approximation (RMSEA)≥0,015, ΔStandardized Root Mean Squared Residual (SRMR)≥0,010, ΔNon-centrality Index (McDonald’s NCI)≤-0,020 e ΔGamma hat≤0,008 (Chen, 2007Chen, F. F. (2007). Sensitivity of goodness of fit indexes to lack of measurement invariance. Structural Equation Modeling: A Multidisciplinary Journal, 14(3), 464-504. doi: 10.1080/10705510701301834
https://doi.org/10.1080/1070551070130183...
; Cheung & Rensvold, 2002Cheung, G. W., & Rensvold, R. B. (2002). Evaluating goodness-of-fit indexes for testing measurement invariance. Structural Equation Modeling, 9(2), 233-255. doi: 10.1207/S15328007SEM0902_5
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).

Posteriormente realizamos análises de variância (ANOVA) e teste t de Student para verificar as diferenças de média entre grupos formados pelas variáveis sociodemográficas selecionadas neste artigo. Nas análises de Post-Hoc das ANOVAs, utilizamos o teste de Tukey. Para analisar o tamanho de efeito das diferenças, foi utilizado a estatística d de Cohen. A interpretação dos tamanhos de efeito foi realizada com base em Cohen (1988Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioral sciences (2ªed.). Lawrence Erlbaum Associates.), sendo valores entre 0,20 e 0,49 considerados pequenos, entre 0,50 e 0,79 médios e acima de 0,80 são considerados grandes. Por fim, calculamos os percentis das dimensões da CAAS-Brasil considerando a amostra completa e dividida a partir das variáveis sociodemográficas que apresentaram diferenças significativas. As análises de AFCMG e TRI foram realizadas em ambiente R 4.0.4 (R Core Team, 2021R Core Team (2021). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing. Recuperado de https://www.R-project.org/
https://www.R-project.org/...
) utilizando os pacotes semTools (v0.5-4; Jorgensen, Pornprasertmanit, Schoemann, & Rosseel, 2021Jorgensen, T. D., Pornprasertmanit, S., Schoemann, A. M., & Rosseel, Y. (2021). semTools: Useful tools for structural equation modeling. R package version 0.5-4. Recuperado de https://CRAN.R-project.org/package=semTools
https://CRAN.R-project.org/package=semTo...
) mirt (1.33.2; Chalmers, 2012Chalmers, R. P. (2012). mirt: A multidimensional item response theory package for the R environment. Journal of statistical Software, 48, 1-29. doi: 10.18637/jss.v048.i06
https://doi.org/10.18637/jss.v048.i06...
) e ggplot2 (3.3.4; Wickham, 2016Wickham, H. (2016). ggplot2: Elegant Graphics for Data Analysis. Springer.). As demais análises foram realizadas por meio do software JASP 0.14.1.0.

Resultados

Propriedades Psicométricas

Inicialmente analisamos os parâmetros dos itens da CAAS-Brasil por meio de TRI. Os parâmetros dos itens podem são apresentados na Tabela 1. Na Figura 1, encontram-se os mapas de itens, distribuição dos thetas e curvas de informação de cada dimensão da CAAS-Brasil. A distribuição dos thetas da amostra apresentou as seguintes médias e desvios padrões: Preocupação (M=-0,34; DP=0,85); Controle (M=-0,45; DP=0,79); Curiosidade (M=-0,30; DP=0,86); Confiança (M=-0,49; DP=0,80); escore geral de Adaptabilidade (M=-0,03; DP=0,93).

Figura 1
Mapa de itens, theta dos sujeitos e curva de informação das dimensões da CAAS-Brasil

Tabela 1
Parâmetros de discriminação (a) e dificuldade (b) dos itens da CAAS-Brasil

Ao analisar a Figura 1, é possível notar que em todas as dimensões da CAAS-Brasil os itens apresentaram um valor de b próximo a -1. Esse resultado indica que os itens da CAAS-Brasil foram considerados fáceis pela amostra deste artigo, a qual demonstrou ter uma média de theta próxima a 0. Notou-se também que as curvas de informação foram mais elevadas na região entre -3 e 1, demonstrando que a CAAS-Brasil tende a ter estimativas de theta mais precisas nessa região. As consistências internas das dimensões da CAAS-Brasil foram todas satisfatórias: Preocupação (ω=0,88), Controle (ω=0,84), Curiosidade (ω=0,87), Confiança (ω=0,88) e escore geral de Adaptabilidade (ω=0,95). Em seguida, testamos a invariância da CAAS-Brasil em relação às variáveis sociodemográficas utilizadas neste estudo (ver Tabela 2). As baixas variações dos índices de ajuste indicaram que a CAAS-Brasil apresentou parâmetros psicométricos semelhantes para os grupos formados por sexo, estado civil, faixa etária, escolaridade e faixa de rendimento.

Tabela 2
Índices de ajuste da AFCMG da CAAS-Brasil

Diferenças em Função de Variáveis Sociodemográficas

Testamos a normalidade das dimensões da CAAS-Brasil por meio do teste Shapiro-Wilk, o qual apresentou significância estatística (p<0,001) para todos as dimensões. Esse resultado sugere que os dados da CAAS-Brasil não seguiram uma distribuição normal. Portanto, adotamos o método Bootstrap (IC=95%; 1000 re-amostragens) para corrigir o pressuposto de normalidade dos dados nas análises de teste t e ANOVA.

Foram realizadas análises de comparação de média, por meio do teste t de Student para as variáveis sexo e estado civil. Para a análise da diferença de média em relação ao estado civil, foram consideradas apenas duas categorias, solteiro e casado/união estável, devido a pequena quantidade de participantes nas outras categorias, estas não foram analisadas. Os resultados podem ser observados na Tabela 3.

Tabela 3
Teste t das dimensões da CAAS-Brasil em relação às variáveis sexo e estado civil

Na variável sexo, foram evidenciadas diferenças significativas nas dimensões Controle, Curiosidade, Confiança e escore geral de Adaptabilidade, com os homens pontuando mais que as mulheres. Entretanto, os tamanhos de efeito das diferenças foram em todos os casos nulos. Ao passo que na variável estado civil foram obtidas diferenças significativas nas dimensões Preocupação, Controle e Confiança, com os solteiros pontuando mais em Preocupação e os casados pontuando mais em Controle e Confiança, apenas a dimensão Confiança apresentou um tamanho de efeito pequeno, sendo os demais nulos. Em seguida, foram comparadas diferenças nas dimensões da CAAS-Brasil entre indivíduos de diferentes faixas etárias, escolaridade e faixa de rendimento mensal, por meio de ANOVA. A variável idade foi classificada em três faixas etárias: adolescentes (de 14 a 17 anos), jovens adultos (de 18 a 24 anos) e adultos (25 anos ou mais; Tabela 4).

Tabela 4
ANOVA e Post-Hoc das dimensões da CAAS-Brasil em relação à faixa etária

Os resultados da Tabela 4 evidenciaram diferenças significativas em todas as dimensões da CAAS-Brasil. Os três grupos diferenciaram-se significativamente entre si, sobretudo o grupo de adultos quando comparado com os demais, com tamanhos de efeito variando entre pequeno e médio. Ainda, em todas as dimensões da CAAS-Brasil, o grupo de adultos apresentou maiores médias. A seguir, serão apresentados os resultados da ANOVA da variável escolaridade (Tabela 5).

Tabela 5
ANOVA e Post-Hoc das dimensões da CAAS-Brasil em relação à escolaridade

Foram evidenciadas diferenças significativas em todas as dimensões da CAAS-Brasil. Os três grupos diferenciaram entre si significativamente nas dimensões Controle, Curiosidade e no escore geral de Adaptabilidade, sobretudo o grupo pós-graduação quando comparado com os demais, com tamanhos de efeito variando entre pequeno e grande. Em todas as dimensões da CAAS-Brasil, o grupo de pós-graduação apresentou maiores médias. A seguir, serão apresentados os resultados da ANOVA na variável faixa de rendimento mensal (Tabela 6).

Tabela 6
ANOVA e Post-Hoc das dimensões da CAAS-Brasil em relação à faixa de rendimentos

Os resultados indicaram diferenças significativas nas dimensões Controle, Curiosidade, Confiança e escore geral da Adaptabilidade. Nessas dimensões, os grupos até três salários mínimos e sete ou mais salários mínimos diferenciaram entre si significativamente, com tamanhos de efeito considerados pequenos. Em todas as dimensões da CAAS-Brasil, o grupo de sete ou mais salários mínimos apresentou maiores médias.

Padrões Normativos

Por meio de percentil, foram estabelecidos padrões normativos para as dimensões e o escore geral da CAAS-Brasil. Para tanto, consideramos a amostra geral e dividida por faixa etária, escolaridade e faixa de rendimentos mensais, devido às diferenças evidenciadas nessas variáveis (Tabela 7).

Tabela 7
Percentis das dimensões da CAAS-Brasil considerando a amostra geral e dividida por faixa etária, escolaridade e faixa de rendimento

Discussão

O objetivo deste artigo foi estabelecer padrões normativos para a CAAS-Brasil, para tanto, analisamos as propriedades psicométricas do instrumento por meio dos parâmetros da TRI e da análise de invariância. Os resultados indicaram que a escala possui itens que são facilmente endossados, o que explica o efeito teto da CAAS, ou seja, elevadas pontuações (Audibert & Teixeira, 2015Audibert, A., & Teixeira, M. A. P. (2015). Escala de adaptabilidade de carreira: Evidências de validade em universitários brasileiros. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 16(1). Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v16n1/09.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v16n1...
; Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L., & Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: Construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 661-673. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.011.
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.01...
). Foi evidenciado que a CAAS-Brasil possui o pico da curva de informação entre pontuações baixas e médias, indicando que a escala é adequada para avaliar de forma mais precisa indivíduos com baixos ou médios níveis de adaptabilidade de carreira.

Em contextos de avaliação, como os processos de orientação profissional e de carreira, os indivíduos que tendem a procurar auxílio são aqueles que estão com dificuldades em questões relacionadas à carreira, sendo que o instrumento se mostrou mais adequado para essas situações. Os resultados também indicaram que a escala tende a avaliar com menor precisão pessoas com altos níveis de adaptabilidade de carreira. Portanto, sugerimos que novos instrumentos para a avaliação desse construto sejam formados também por itens com maior grau de dificuldade, para avaliar de forma precisa um escopo maior do traço latente.

Em relação ao teste da invariância, a CAAS-Brasil indicou que avalia de forma similar todos os grupos analisados. A invariância da escala em relação ao sexo também foi evidenciada por Cammarosano et al. (2019Cammarosano, M., Melo-Silva, L. L., & Oliveira, J. E. B. (2019). Validity Evidence of the CAAS in Brazilians with Higher Education. Psico-USF, 24(2), 287-298. doi: 10.1590/1413-82712019240206
https://doi.org/10.1590/1413-82712019240...
). Entende-se que o instrumento é capaz de avaliar uma ampla diversidade de indivíduos de forma semelhante, o que perpassa pelo princípio de equidade dos testes (American Educational Research Association, American Psychological Association, & National Council on Measurement in Education, 2014American Educational Research Association, American Psychological Association, & National Council on Measurement in Education (2014). Standards for educational and psychological testing. American Educational Research Association.). Nesse sentido, para a realização dos padrões normativos, fez-se necessário avaliar se há diferenças nas pontuações entre os grupos, pois, apesar de avaliar os indivíduos de forma semelhante, pode haver diferenças de médias que devem ser consideradas.

Os resultados indicaram que as variáveis sexo, estado civil, faixa etária, escolaridade e faixa de rendimentos mensais tiveram diferenças de médias em pelo menos uma dimensão da CAAS-Brasil. Ou seja, essas características podem ser variável disposicionais que impactam nos recursos de adaptabilidade de carreira dos indivíduos. Em relação ao sexo, os homens tendem a apresentar maiores médias que as mulheres em todas as dimensões da CAAS-Brasil, exceto Preocupação, que não apresentou diferenças significativas. No entanto, o tamanho de efeito de todas as dimensões foi considerado nulo, ou seja, apesar de existir diferença significativa, ela representa uma diferença prática muito pequena.

As diferenças na variável estado civil sugerem que indivíduos solteiros tendem a ter mais atitudes de planejamento e preparação que indivíduos casados. Já os casados tendem a se sentir mais ativos e autoconfiantes na construção de suas carreiras, quando comparados com indivíduos solteiros (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L., & Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: Construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 661-673. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.011.
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.01...
). Todos os tamanhos de efeito dessas diferenças foram considerados nulos, apenas a dimensão Confiança que teve tamanho de efeito pequeno. Ressaltamos que apesar de haver diferenças significativas, estas apresentam poucas implicações práticas, evidenciada pelos baixos tamanhos de efeito. Por esse motivo, essas variáveis não foram consideradas para os padrões normativos.

No que diz respeito à faixa etária, ao nível de escolaridade e à faixa de rendimentos, indivíduos adultos que possuem maiores graus de instrução e maior faixa salarial obtiveram maiores médias de adaptabilidade de carreira. Esse resultado sugere que indivíduos com essas características tendem a planejar e a se preparar mais para o futuro profissional. Além de serem mais ativos e buscar por autoconhecimento e conhecimento acerca do mundo do trabalho. Esses indivíduos, também, tendem a não desistir de seus objetivos profissionais mesmo perante obstáculos (Savickas & Porfeli, 2012Savickas, M. L., & Porfeli, E. J. (2012). Career Adapt-Abilities Scale: Construction, reliability, and measurement equivalence across 13 countries. Journal of Vocational Behavior, 80(3), 661-673. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.011.
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2012.01.01...
). Resultados semelhantes foram encontrados nos estudos de Ambiel et al. (2016Ambiel, R. A. M., Carvalho, L. de F., Martins, G. H., & Tofoli, L. (2016). Comparing the adaptabilities of Brazilian adolescent students and adult workers. Journal of Vocational Behavior, 94, 20-27. doi: 10.1016/j.jvb.2016.02.005
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2016.02.00...
), Rudolph et al. (2017Rudolph, C. W., Lavigne, K. N., & Zacher, H. (2017). Career adaptability: A meta-analysis of relationships with measures of adaptivity, adapting responses, and adaptation results. Journal of Vocational Behavior, 98, 17-34. doi: 10.1016/j.jvb.2016.09.002
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2016.09.00...
) e Zacher (2014bZacher, H. (2014b). Career adaptability predicts subjective career success above and beyond personality traits and core self-evaluations. Journal of Vocational Behavior, 84(1), 21-30. doi: 10.1016/j.jvb.2013.10.002
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2013.10.00...
).

Para estabelecer os padrões normativos, foram consideradas as variáveis que apresentaram diferenças de média e tamanhos de efeito que variaram de pequeno a grande. Para além dos grupos, também foram estabelecidos padrões para a amostra geral. A partir dos percentis e quartis, entende-se que pontuações referentes ao percentil 25 podem ser interpretadas como baixa adaptabilidade de carreira, tanto no escore geral quanto nas dimensões da CAAS-Brasil. Por sua vez, pontuações entre os percentis 25 e 50 diz respeito à indivíduos com média-baixa adaptabilidade, entre os percentis 50 e 75 média-alta adaptabilidade e, por fim, pontuações acima do percentil 75 sugerem alta adaptabilidade de carreira.

Em suma, este artigo atinge seu objetivo ao estabelecer padrão normativo considerando a amostra geral e dividida pelas variáveis sociodemográficas. Além disso, este artigo amplia a compreensão dos parâmetros psicométricos da CAAS-Brasil ao analisar os itens por meio de TRI e AFCMG, sendo evidenciados satisfatórias propriedades psicométricas para o instrumento. Na Tabela 1 deste artigo, também são fornecidos os parâmetros TRI dos itens da CAAS-Brasil, o que possibilita que o theta do respondente seja estimado e interpretado com base na amostra deste estudo. Tudo isso possibilitará a instrumentalização de profissionais em processos de orientação profissional e de carreira que visem avaliar a adaptabilidade de carreira.

As variáveis que evidenciaram diferenças neste artigo podem impactar nos níveis de adaptabilidade de carreira das pessoas, devido a isso devem ser consideradas em pesquisas futuras e em contextos práticos de intervenção. Além disso, sugere-se que estudos futuros ampliem a análise de diferenças de adaptabilidade de carreira em diferentes tipos de vínculos de trabalho e entre instituições de ensino pública e privada. Ainda, avaliar indivíduos em diferentes transições de carreira, a saber, ensino médio-mercado de trabalho/ensino superior, ensino superior-mercado de trabalho, mercado de trabalho-aposentadoria, entre outros.

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  • Nota dos autores: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2023

Histórico

  • Recebido
    31 Jul 2020
  • Revisado
    30 Ago 2021
  • Aceito
    30 Ago 2021
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