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Escala de Estratégias de Resolução de Conflitos Familiares: Adaptação e Evidências Psicométricas

Family Conflict Resolution Strategies Scale: Adaptation and Psychometric Evidence

Escala de Estrategias de Resolución de Conflictos Familiares: Adaptación y Evidencias Psicométricas

Resumo

Este estudo teve o objetivo de adaptar o Conflict Resolution Styles Inventory (CRSI) para o contexto brasileiro e investigar se este apresenta evidências de adequabilidade psicométrica. No Estudo 1 foi desenvolvida a versão brasileira e, posteriormente, foram analisadas evidências de validade de conteúdo por meio da análise de juízes (N = 4 avaliadores especialistas) e adequação semântica em um estudo piloto com adolescentes (N = 15). No Estudo 2, verificamos as propriedades psicométricas do CRSI em uma amostra de adolescentes (N = 276), reunindo evidências de validade de estrutura interna e precisão. Finalmente, no Estudo 3, foram investigadas evidências adicionais de estrutura interna e precisão do CRSI em uma nova amostra (N = 224). Os resultados demonstraram que o CRSI reúne evidências de validade com base no conteúdo, na estrutura interna e de precisão, podendo ser usado para avaliar as estratégias de resolução de conflitos que adolescentes brasileiros utilizam nas discordâncias com seus pais, possibilitando seu uso em pesquisas sobre esse tema.

Palavras-chave:
conflito; relações familiares; adolescentes; validade do teste

Abstract

This study adapted the Conflict Resolution Styles Inventory (CRSI) for the Brazilian context and assessed its psychometric adequacy. In Study 1, the Brazilian version was developed and content validity was analyzed by experts (N = 4) with semantic adequacy assessed in a pilot study with adolescents (N = 15). In Study 2, psychometric properties were examined in a sample of adolescents (N = 276), providing evidence of internal validity and reliability. Study 3 further investigated evidence of internal validity and reliability in a new sample (N = 224). Results indicated that the CRSI exhibits content validity, internal validity, and reliability, making it suitable for assessing conflict resolution strategies employed by Brazilian adolescents in disagreements with their parents, enabling its use in related research.

Keywords:
Conflict; Family relations; Adolescents; Test validity

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo adaptar el Conflict Resolution Styles Inventory (CRSI) al contexto brasileño y verificar si presenta evidencias de adecuación psicométrica. En el Estudio 1, se desarrolló la versión brasileña y, posteriormente, se analizaron las evidencias de validez de contenido a través del análisis de jueces (N = 4 evaluadores expertos) y de adecuación semántica en un estudio piloto con adolescentes (N = 15). En el Estudio 2, verificamos las propiedades psicométricas del CRSI en una muestra de adolescentes (N = 276), recogiendo evidencias de validez interna y precisión. Finalmente, en el Estudio 3, se investigó evidencias adicionales de la validez interna y precisión del CRSI en una nueva muestra (N = 224). Los resultados mostraron que el CRSI reúne evidencias de validez de contenido, validez interna y precisión, y puede ser utilizado para evaluar las estrategias de resolución de conflictos utilizadas por adolescentes brasileños en desacuerdos con sus padres, lo que permite su uso en investigaciones sobre este tema.

Palabras clave:
conflicto; relaciones familiares; adolescentes; validación de test

O conflito interpessoal constitui um elemento inerente às relações humanas e pode ser definido como uma situação de interação social em que ocorre o choque entre forças opostas causando, muitas vezes, desacordo e frustração (Laursen & Collins, 1994Laursen, B., & Collins, W. (1994). Interpersonal conflict during adolescence. Psychological Bulletin, 115(2), 197-209. https://doi.org/10.1037/0033-2909.115.2.197
https://doi.org/https://doi.org/10.1037/...
). Estudiosos sobre esse fenômeno têm dado suporte à noção de que o conflito tem um potencial construtivo. Piaget (1932Piaget, J. (1932). O Juízo Moral na Criança. São Paulo: Summus.) foi um dos primeiros autores a descrever esse potencial, argumentando que mudanças no desenvolvimento se originavam a partir de desequilíbrios cognitivos decorrentes do conflito. Ainda, no contexto das relações entre pais e filhos durante a adolescência, o conflito funciona como um veículo de renegociação de papeis, de defesa da autonomia e identidade pessoal dos filhos e de transformação de relações hierárquicas em relações mais igualitárias (Branje, 2018Branje, S. J. T. (2018). Development of Parent-Adolescent Relationships: Conflict Interactions as a Mechanism of Change. Child Development Perspectives, 12(3), 171-176. https://doi.org/10.1111/cdep.12278
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
; Chen-Galdini et al., 2020Chen-Galdini, M.; Liu, J.; Nucci, L. (2020). “It’s My Own Business!”: Parental Control Over Personal Issues in the Context of Everyday Adolescent-Parent Conflicts and Internalizing Disorders Among Urban Chinese Adolescents. Developmental Psychology, 56(9), 1775-1786. https://doi.org/10.1037/dev0001053
https://doi.org/https://doi.org/10.1037/...
).

Apesar do seu potencial positivo, há evidências consideráveis de que os conflitos, quando ocorrem de forma frequente e hostil, funcionam como um marcador do desajustamento de adolescentes (para uma revisão, ver Weymouth et al. 2016Weymouth, B., Buehler, C., Zhou, N. & Hanson, R. (2016). A Meta-Analysis of Parent-Adolescent Conflict: Disagreement, Hostility, and Youth Maladjustment. Journal of Family Theory & Review, 8(1), 95-112. https://doi.org/10.1007/s10964-015-0348-3
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
). Assim, a existência de conflitos, por si só, não é indicativa de resultados negativos ou positivos: o tipo de comportamento adotado para lidar com a situação conflituosa parece ser mais importante para determinar suas consequências do que a frequência de conflitos (Adams & Laursen, 2007Adams, R. E., & Laursen, B. (2007). The correlates of conflict: disagreement is not necessarily detrimental. Journal of Family Psychology, 21, 445-458. https://doi.org/10.1037/0893-3200.21.3.445
https://doi.org/https://doi.org/10.1037/...
). A comunidade científica tem se interessado por esses padrões de relacionamento, e tem definido como estilos de resolução de conflito os comportamentos que as pessoas adotam para sua resolução (Choi et al., 2020Choi, D. W., Han, K. T., Jeon, J., Ju, Y. J., & Park, E. C. (2020). Association between family conflict resolution methods and depressive symptoms in South Korea: a longitudinal study. Archives of women’s mental health, 23(1), 123-129. https://doi.org/10.1007/s00737-019-00957-5
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
; Heinze et al., 2020Heinze, J. E., Hsieh, H. F., Aiyer, S. M., Buu, A., & Zimmerman, M. A. (2020). Adolescent family conflict as a predictor of relationship quality in emerging adulthood. Family Relations, 69(5), 996-1011. https://doi.org/10.1111/fare.12493
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
; Missotten et al., 2018Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., & Van Petegem, S. (2018). Adolescents’ Conflict Management Styles with Mothers: Longitudinal Associations with Parenting and Reactance. Journal of Youth and Adolescence, 47(2), 260-274. https://doi.org/10.1007/s10964-017-0634-3
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
).

Os comportamentos que as pessoas adotam durante os conflitos são definidos como estilos de resolução de conflito (Missotten et al., 2018Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., & Van Petegem, S. (2018). Adolescents’ Conflict Management Styles with Mothers: Longitudinal Associations with Parenting and Reactance. Journal of Youth and Adolescence, 47(2), 260-274. https://doi.org/10.1007/s10964-017-0634-3
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
). A literatura tem apontado quatro comportamentos diferentes que adolescentes e pais podem usar quando ocorrem os conflitos (Branje et al., 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
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): (a) Resolução Positiva, que envolve a tentativa de entender a perspectiva do outro e utilizar táticas de raciocínio para resolver a situação; (b) Resolução Agressiva, que diz respeito a comportamentos abusivos, irritadiços, defensivos ou ainda de perda de autocontrole; (c) Afastamento, que trata dos comportamentos referentes à evitação do problema como, por exemplo, quando o indivíduo recusa-se a discutir o assunto e afasta-se do outro parceiro; (d) Conformidade, que se refere à aceitação da resolução do outro sem afirmar a própria posição.

No contexto familiar, a adoção de uma forma de resolução de conflito em detrimento de outras tem sido explicada por alguns fatores, como a estratégia utilizada pelos pais para resolverem seus conflitos conjugais (Van Doorn et al., 2007Van Doorn, M. D., Branje, S. J. T., & Meeus, W. H. J. (2007). Longitudinal transmission of conflict resolution styles from marital relationships to adolescent-parent relationships. Journal of Family Psychology , 21(3), 426-434. https://doi.org/10.1037/0893-3200.21.3.426
https://doi.org/https://doi.org/10.1037/...
) e o impacto de algumas características dos pais - como os estilos de apego, práticas parentais e a reatância (García-Ruiz et al., 2013García-Ruiz, M., Rodrigo, M. J., Hernández-Cabrera, J. A., & Máiquez, M. L. (2013). Contribution of parents’ adult attachment and separation attitudes to parent-adolescent conflict resolution. Scandinavian Journal of Psychology, 54(6), 459-467. https://doi.org/10.1111/sjop.12077
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
; Missotten et al., 2018Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., & Van Petegem, S. (2018). Adolescents’ Conflict Management Styles with Mothers: Longitudinal Associations with Parenting and Reactance. Journal of Youth and Adolescence, 47(2), 260-274. https://doi.org/10.1007/s10964-017-0634-3
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
).

As estratégias de resolução de conflitos entre pais e filhos estão associadas ao desenvolvimento saudável do adolescente. Estudos empíricos revelaram que formas negativas de resolução, como o Afastamento e a Resolução Agressiva, estavam relacionadas ao desajustamento nos adolescentes, como sintomas depressivos, agressão, delinquência, baixa autoestima e qualidade de relacionamento (Branje et al., 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
; Peterson, 2017Peterson, C. C. (2017). Conflict-resolution strategies and adolescent identity development. Social Behavior and Personality: An International Journal, 2(2), 67-76. https://doi.org/10.2224/sbp.6428
https://doi.org/https://doi.org/10.2224/...
). Por sua vez, o uso da Conformidade foi associado positivamente com a satisfação com a vida (Dost-Gözkan (2019Dost-Gözkan, A. (2019). Adolescents’ conflict resolution with their parents and best friends: Links to life satisfaction. Journal of Child and Family Studies, 28(10), 2854-2866. https://doi.org/10.1007/s10826-019-01465-x
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
), e a Resolução Positiva foi associada a altos níveis de desempenho acadêmico, alta autoestima e baixos níveis de depressão e comportamento de risco (Tucker et al., 2003Tucker, C. J., McHale, S. M., & Crouter, A. C. (2003). Conflict resolution: Links with adolescents’ family relationships and individual well-being. Journal of Family Issues, 24(6), 715-736. https://doi.org/10.1177/0192513X03251181
https://doi.org/https://doi.org/10.1177/...
). Esses resultados revelam que aprender a resolver conflitos de forma positiva constitui uma importante tarefa de desenvolvimento para os adolescentes. De fato, gerenciar adequadamente os conflitos do dia-a-dia é fundamental para o estabelecimento de relações românticas e de amizade saudáveis (Simon & Furman, 2010Simon, V. A., & Furman, W. (2010). Interparental conflict and adolescents intimate relationship conflict. Journal of Research on Adolescence , 20(1), 188-209. https://doi.org/10.1111/j.1532-7795.2009.00635.x
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
; Van Doorn et al., 2011Van Doorn, M. D., Branje, S. J. T., & Meeus, W. H. J. (2011). Developmental Changes in Conflict Resolution Styles in Parent-Adolescent Relationships: A Four-Wave Longitudinal Study. Journal of Youth and Adolescence , 40(1), 97-107. https://doi.org/10.1007/s10964-010-9516-7).

A família é o principal ambiente para os adolescentes aprenderem formas eficazes de resolução de conflitos (Parke & Buriel, 2006Parke, R. D., & Buriel, R. (2006). Socialization in the family: Ethnic and ecological perspectives. In N. Eisenberg (Ed.), Handbook of child psychology: Social, emotional, and personality development (pp. 429-504). Wiley.). Um estudo longitudinal revelou que os filhos transmitem o estilo de gestão de conflitos usado em conflitos com os pais para seus conflitos com amigos e parceiros românticos (Staats et al., 2018Staats, S., Van der Valk, I. E., Meeus, W. H. J., & Branje, S. J. T. (2018). Longitudinal Transmission of Conflict Management Styles Across Inter-Parental and Adolescent Relationships. Journal of Research on Adolescence , 28(1), 169-185. https://doi.org/10.1111/jora.12324
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
). Além disso, a análise das interações envolvendo o conflito entre pais e adolescentes fornecem um contexto particularmente valioso para a compreensão das perspectivas de ambos (Smetana, 2018Smetana, J. G. (2018). The development of autonomy during adolescence: A social-cognitive domain theory view. In Autonomy in adolescent development (pp. 53-73). Psychology Press.). Tendo em vista o impacto das resoluções de conflito familiar para o desenvolvimento social dos filhos, é importante a realização de estudos que se proponham a avaliar de forma válida e precisa as estratégias de resolução de conflito entre pais e filhos.

A literatura internacional conta com alguns instrumentos para avaliação desse tipo de conflito (Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
; Marceau et. al, 2015Marceau, K., Zahn-Waxler, C., Shirtcliff, E. A., Schreiber, J. E., Hastings, P., & Klimes-dougan, B. (2015). Adolescents’, mothers’, and fathers’ gendered coping strategies during conflict: Youth and parent influences on conflict resolution and psychopathology. Development and Psychopathology, 27(4), 1025-1044. https://doi.org/10.1017/S0954579415000668
https://doi.org/https://doi.org/10.1017/...
; Rodrigo et al., 2008Rodrigo, M. J., García, M., Máiquez, M. L., Rodríguez, B., & Padrón, I. (2008). Estrategias y metas en la resolución de conflictos cotidianos entre adolescentes, padres y madres. Infancia y Aprendizaje, 31(3), 347-362. https://doi.org/10.1174/021037008785702965
https://doi.org/https://doi.org/10.1174/...
; Rubenstein & Feldman, 1993Rubenstein, J. L., & Feldman, S. S. (1993). Conflict-resolution behavior in adolescent boys: Antecedents and adaptational correlates. Journal of Research on Adolescence, 3(1), 41-66. https://doi.org/10.1207/s15327795jra0301_3
https://doi.org/https://doi.org/10.1207/...
). Apesar da quantidade de instrumentos utilizados fora do país, no Brasil, as possibilidades de avaliação de tais estratégias são escassas. Numa busca realizada nas plataformas Index Psi, LILACS e SciELO, foram encontrados quatro instrumentos. A Children’s Action Tendency Scale (CATS; Deluty, 1981Deluty, R. H. (1981). Alternative thinking ability of aggressive, assertive, and submissive children. Cognitive Therapy and Research, 5(3), 309-312. http://dx.doi.org/10.1007/BF01193414
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.100...
); o Parent-Child Conflict Tactics Scales (CTSPC; Straus, et al., 1998Straus, M. A., Hamby, S. L., Finkelhor, D., Moore, D. W., & Runyan, D. (1998). Identification of child maltreatment with the parentchild conflict tactics scales: Development and psychometric data for a national sample of american parents. Child Abuse & Neglect, 22(4), 239-336. https://doi.org/10.1016/s0145-2134(97)00174-9
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
) o Conflict-Resolution Behavior Questionnaire (CRBQ; Rubenstein & Feldman, 1993Rubenstein, J. L., & Feldman, S. S. (1993). Conflict-resolution behavior in adolescent boys: Antecedents and adaptational correlates. Journal of Research on Adolescence, 3(1), 41-66. https://doi.org/10.1207/s15327795jra0301_3
https://doi.org/https://doi.org/10.1207/...
) e o Conflict Resolution Style Inventory (CRSI; Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
).

A CATS (Deluty, 1981Deluty, R. H. (1981). Alternative thinking ability of aggressive, assertive, and submissive children. Cognitive Therapy and Research, 5(3), 309-312. http://dx.doi.org/10.1007/BF01193414
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.100...
) avalia três tipos de estratégias para resolução de conflitos: agressiva, assertiva e submissa. Inicialmente, o instrumento foi criado para avaliar resoluções de conflitos em crianças e em situações hipotéticas específicas - conflitos com amigos, colegas da escola e pais - não sendo, portanto, um questionário que avalia resoluções de conflitos entre pais e filhos adolescentes. O CTSPC (Straus, et al., 1998Straus, M. A., Hamby, S. L., Finkelhor, D., Moore, D. W., & Runyan, D. (1998). Identification of child maltreatment with the parentchild conflict tactics scales: Development and psychometric data for a national sample of american parents. Child Abuse & Neglect, 22(4), 239-336. https://doi.org/10.1016/s0145-2134(97)00174-9
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
) se concentra em avaliar a violência e maus tratos dentro da família, sendo mais adequada para avaliar famílias disfuncionais. O CRBQ (Rubenstein & Feldman, 1993Rubenstein, J. L., & Feldman, S. S. (1993). Conflict-resolution behavior in adolescent boys: Antecedents and adaptational correlates. Journal of Research on Adolescence, 3(1), 41-66. https://doi.org/10.1207/s15327795jra0301_3
https://doi.org/https://doi.org/10.1207/...
) e o CRSI (Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
) avaliam estratégias de resolução de conflito entre pais e filhos, contudo, no Brasil, as evidências de validade foram encontradas apenas em estudos com casais, para avaliar a resolução de conflito conjugal (Delatorre & Wagner, 2014Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2015). Estratégias de resolução de conflitos conjugais: evidências de validade do CRBQ. Avaliação Psicológica, 14(2), 233-242. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=s1677-04712015000200009&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Delatorre et al. (2017Delatorre, M. Z., Scheeren, P., & Wagner, A. (2017). Conflito conjugal: evidências de validade de uma escala de resolução de conflitos em casais do sul do Brasil. Avances en Psicología Latinoamericana, 35(1), 79-94. http://dx.doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.3742
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.128...
).

O CRSI é composto por 16 itens, que avaliam quatro estratégias de resolução de conflito: Resolução Positiva (ex. Encontro alternativas que sejam aceitáveis para ambos); Engajamento no Conflito (ex.: “Explodo e perco o controle”); Retirada (ex.: “Me afasto, agindo de forma distante e desinteressada”) e Conformidade (ex.: “Não defendo minha posição”). Cada dimensão da escala é composta por quatro itens. Os participantes são convidados a indicar, por meio de uma escala Likert de cinco pontos, com que frequência seu companheiro(a) utiliza cada um dos estilos para lidar com situações de desentendimentos. Este instrumento foi adaptado para o contexto pais-filhos num estudo holandês (Branje et al. 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
) com 1313 adolescentes, que buscou verificar se estes reconheciam diferentes estratégias de resolução de conflito com seus pais, e se esses tipos de resolução moderavam a relação entre conflito entre pais-filhos e o ajustamento do adolescente. Os resultados confirmaram a distinção das estratégias de resolução de conflito, bem como a hipótese do seu papel moderador na relação dos conflitos parentais com o ajustamento do adolescente. Evidências de validade foram demonstradas em vários países (por exemplo, Missotten et al., 2011Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., Vanhalst, J., & Goossens, L. (2011). Identity Styles and Conflict Resolution Styles: Associations in Mother-Adolescent Dyads. Journal of Youth and Adolescence , 40(8), 972-982. https://doi.org/10.1007/s10964-010-9607-5
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
; Van Doorn et al., 2008Van Doorn, M. D., Branje, S. J. T., & Meeus, W. H. J. (2008). Conflict Resolution in Parent-Adolescent Relationships and Adolescent Delinquency. Journal of Early Adolescence, 28(4), 503-525. https://doi.org/10.2753/res1060-9393371023
https://doi.org/https://doi.org/10.2753/...
).

O CRSI é particularmente pertinente para avaliação das estratégias de resolução de conflito não apenas porque tem se mostrado adequado em diversas culturas (Van Doorn et al, 2011Van Doorn, M. D., Branje, S. J. T., & Meeus, W. H. J. (2011). Developmental Changes in Conflict Resolution Styles in Parent-Adolescent Relationships: A Four-Wave Longitudinal Study. Journal of Youth and Adolescence , 40(1), 97-107. https://doi.org/10.1007/s10964-010-9516-7; Missoten et al., 2011; Missotten et al., 2018Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., & Van Petegem, S. (2018). Adolescents’ Conflict Management Styles with Mothers: Longitudinal Associations with Parenting and Reactance. Journal of Youth and Adolescence, 47(2), 260-274. https://doi.org/10.1007/s10964-017-0634-3
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
; Branje et al., 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
), mas também porque permite abordar um amplo espectro de estratégias de resolução de conflitos típicos do ambiente familiar, em detrimento daquelas que abordam estratégias potencialmente mais graves de resolução de conflitos, tais como maus tratos e violência (Straus, et al., 1998Straus, M. A., Hamby, S. L., Finkelhor, D., Moore, D. W., & Runyan, D. (1998). Identification of child maltreatment with the parentchild conflict tactics scales: Development and psychometric data for a national sample of american parents. Child Abuse & Neglect, 22(4), 239-336. https://doi.org/10.1016/s0145-2134(97)00174-9
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
). Dada a necessidade de instrumentos que avaliem a maneira como filhos adolescentes resolvem seus conflitos com os pais no Brasil, o objetivo do presente estudo é adaptar o CRSI (Branje et al, 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
) para o contexto brasileiro e investigar se este apresenta evidências de adequabilidade psicométrica. Assim, pretende-se contribuir para os estudos sobre resolução de conflitos entre pais e filhos, reunindo evidência empírica de validade e precisão de um instrumento de medida que faz essa avaliação. Especificamente, buscou-se observar se o instrumento apresenta evidências de validade com base no conteúdo, na estrutura interna, e de precisão por consistência interna. Nossa hipótese é a de que a estrutura da escala, como no instrumento original (Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
), será composta por quatro fatores. Além disso, hipotetizamos que, como demonstrado em outros estudos (Branje et al., 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
; Missotten et al., 2011Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., Vanhalst, J., & Goossens, L. (2011). Identity Styles and Conflict Resolution Styles: Associations in Mother-Adolescent Dyads. Journal of Youth and Adolescence , 40(8), 972-982. https://doi.org/10.1007/s10964-010-9607-5
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
; Van Doorn et al. 2011Van Doorn, M. D., Branje, S. J. T., & Meeus, W. H. J. (2011). Developmental Changes in Conflict Resolution Styles in Parent-Adolescent Relationships: A Four-Wave Longitudinal Study. Journal of Youth and Adolescence , 40(1), 97-107. https://doi.org/10.1007/s10964-010-9516-7), com o avanço da idade dos adolescentes, haverá um aumento do uso da Resolução Positiva.

Panorama dos Estudos

Para efetuar a adaptação do CRSI e verificar se este apresenta evidências de validade e precisão, foram realizados três estudos. No Estudo 1, buscou-se reunir evidências da validade com base no conteúdo do CRSI, desenvolvendo uma versão brasileira do instrumento a partir da versão em inglês de Branje et al. (2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
) por meio da tradução e retrotradução e, posteriormente submetendo-a avaliação de juízes e investigando a adequação semântica numa amostra piloto de adolescentes. No Estudo 2, examinamos a estrutura fatorial do CRSI numa amostra de adolescentes brasileiros. Por fim, no Estudo 3, realizamos um conjunto de análises fatoriais confirmatórias para testar a hipótese de que o CRSI avalia uma estrutura tetrafatorial (composta por quatro fatores) da resolução do conflito. Em todos os estudos, os participantes foram informados sobre os aspectos éticos de sua colaboração antes de começarem a preencher o questionário. Garantimos seu anonimato, privacidade e sigilo, de acordo com as normas e procedimentos éticos para pesquisa com seres humanos (Brasil, 2016Brasil. Resolução 510/2016. (2016). Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Ministério da Saúde/Conselho Nacional de Saúde, Brasília, 07 de abril.). Os critérios de inclusão dos adolescentes foram: ser brasileiro, ter idade entre 11 e 18 anos e morar com pelo menos um dos pais. Todos os procedimentos utilizados foram aprovados por um Comitê de Ética em Pesquisa, tendo recebido parecer favorável (CAAE: 34353320.8.0000.5188).

Método do Estudo 1: Adaptação Transcultural e Evidências de Validade de Conteúdo do CRSI

Inicialmente, contatamos os autores da escala original (Branje et al., 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
; Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
) para solicitar os itens e sua permissão para a adaptação do instrumento ao contexto brasileiro. Após o consentimento dos autores, seguimos três etapas para a sua adaptação: a primeira etapa consistiu na tradução dos itens da escala para o português brasileiro e na subsequente retrotradução para o inglês. Na segunda etapa, conduzimos uma análise de juízes especialistas. A terceira etapa teve por objetivo a realização de um estudo piloto com uma pequena amostra de participantes para verificar a compreensão dos itens do instrumento traduzido.

Etapa 1

Para a realização dos procedimentos de tradução e retrotradução da escala, convidamos três doutores em Psicologia, bilíngues e com experiência em tradução de instrumentos psicológicos. Os participantes foram convidados por e-mail e, após o aceite, eles receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o questionário online para tradução da escala. Cada especialista produziu, independentemente, uma versão traduzida do instrumento. As três versões foram comparadas e foi realizada uma discussão entre os tradutores, que resultou na produção de uma única versão do instrumento. Esta versão foi traduzida de volta para o inglês por um quarto especialista, também bilíngue e doutor em Psicologia, para que as duas versões do CRSI fossem comparadas. O processo de tradução e retrotradução deu origem à versão final da escala, intitulada Escala de Estratégias de Resolução de Conflitos - EERC, que foi aplicada na presente pesquisa.

Etapa 2

Após a realização dos procedimentos de tradução e retrotradução, os itens foram submetidos à avaliação de especialistas da área, que atuaram como juízes da adaptação proposta. Participaram três doutores em Psicologia, vinculados a diferentes instituições de ensino, com experiência tanto na área da Psicologia do Desenvolvimento como também em Psicometria. Os especialistas foram convidados a avaliar três aspectos de qualidade dos itens, a saber: a pertinência, a relevância, a clareza e a similaridade das adaptações propostas. Para a análise desses parâmetros, os juízes receberam a primeira versão dos itens adaptadas organizados em uma tabela contendo a definição operacional do construto, os itens originalmente propostos para a língua inglesa, os itens adaptados para o contexto brasileiro e espaços para a avaliação dos aspectos mencionados.

Os juízes indicaram o quanto consideravam que cada item mensurava adequadamente cada item mensurava cada categoria de análise por meio de uma escala que variava 0 (ausência de pertinência; relevância; clareza; similaridade) a 5 (total pertinência; relevância; clareza; similaridade), de modo que quanto mais altas as pontuações, mais pertinentes, relevantes, claros e similares os itens eram considerados para a avaliação do construto. Analisamos a concordância entre os juízes por meio do cálculo do coeficiente de validade de conteúdo (CVC, Aiken, 1980). Especificamente, calculamos o CVC para cada item (CVCi), para cada juíz (CVCj) e para a escala total (CVCt). Em todos os casos, utilizamos como critério de validade de conteúdo valores de CVC ≥ 0,80 (Aiken, 1985).

Em relação aos resultados, todos os coeficientes de CVCi foram maiores que 0,80: os valores de CVCs para a pertinência, relevância, clareza e similaridade foram 0,99, 0,99, 0,97 e 0,95, respectivamente. Acerca da avaliação global de cada especialista a respeito da qualidade dos itens adaptados, observamos que todos os CVCj foram superiores a 0,80 (CVCj1 = 0,98; CVCj2 = 0,97; CVCj3 = 0,97). O CVCt foi igual a 0,93, o que permitiu considerar que a escala reúne evidências de validade de conteúdo.

Etapa 3

Nesta etapa, conduzimos entrevistas-piloto para verificar a compreensão da linguagem dos itens da EERC por parte da população-alvo. A relevância desta etapa reside no fato de se obter maior garantia de que os itens foram elaborados de maneira clara e abrangente para os participantes.

Participantes

Participaram deste estudo piloto 15 adolescentes da população geral, estudantes de uma escola da rede privada, sendo 7 do sexo masculino e 8 do sexo feminino, com idades variando de 11 a 17 anos (M = 13,00; DP = 1,89).

Instrumentos

Administramos a versão traduzida da Escala de Estratégias de Resolução de Conflitos - EERC.

Procedimentos

Foram conduzidas entrevistas individuais, de forma online, com 10 participantes. Cada participante foi solicitado a ler os 20 itens e explicar com suas palavras o que havia entendido sobre cada item. Quando um participante não entendia um item, o pesquisador solicitava que o mesmo indicasse que palavra ou expressão ele não havia entendido. Concluído esse processo, um especialista doutor em Letras foi convidado a colaborar no estudo e solicitado a realizar alterações na linguagem, de forma a torná-la mais compreensível. Finalizada esta etapa, foram realizadas entrevistas individuais, de forma online, com os 5 participantes restantes, para verificar novamente a compreensão de cada item.

Resultados do Estudo 1

Dos 20 itens que compõem a escala, 6 itens geraram dúvidas nos participantes mais novos e sofreram modificações: o item 1, “Ataco-o pessoalmente”, foi substituído por “Digo ofensas contra ele(a)”; o item 2, “Foco no problema em questão”, foi modificado para “Insisto no problema em questão”; o item 4, “Não tenho disposição para me defender” passou a ser “Não tenho ânimo para me defender”; o item 8, “Cedo à vontade dele(a)” foi substituído para “Aceito a vontade dele(a)”; o item 14, “Uso da negociação e do comprometimento” foi modificado para “Uso da negociação e do compromisso”; e o item 20, “Deixo-o seguir suas próprias decisões” passou a ser “Deixo-o tomar suas próprias decisões”. Após as modificações realizadas, os 5 participantes que ainda não haviam participado do estudo foram entrevistados a posteriori, e revelaram a compreensão total dos itens.

Discussão do Estudo 1

Neste estudo, realizamos a tradução da EERC por meio do back-translation e, em seguida, analisamos a validade com base no conteúdo por meio de uma pesquisa-piloto com adolescentes de 11 a 17 anos. As entrevistas revelaram a não compreensão de 6 itens, que foram modificados e novamente submetidos à apreciação por uma nova amostra de adolescentes. Após a compreensão total de todos os itens, garantiu-se a validade de conteúdo da EERC. O próximo passo foi analisar a estrutura fatorial da escala através de uma amostra mais ampla e diversificada.

Método do Estudo 2: Análise Fatorial Exploratória da EERC

O objetivo deste estudo foi verificar as propriedades psicométricas da EERC em uma amostra de adolescentes. Para isso, buscou-se evidências da validade com base na estrutura interna e precisão da medida.

Participantes

Participaram do estudo 224 adolescentes, 93 do sexo masculino e 131 do sexo feminino. A idade dos participantes variou de 11 a 18 anos (M = 14,74; DP = 1,98). Os adolescentes eram estudantes de uma escola da rede privada, com nível de escolaridade variando do Ensino Fundamental II ao Ensino Médio. Com relação ao estado civil dos pais, participaram filhos de pais casados (70,1%), filhos de pais divorciados (25,9%) ou que tinham outra configuração familiar (4%). Quanto ao número de irmãos, a maioria tinha pelo menos um irmão (46,4%), outros tinham 2 ou mais (38,4%) e a minoria não tinha irmãos (15,2%). Todos os participantes residiam na cidade de João Pessoa - PB.

Instrumentos

Além de um questionário sociodemográfico, aplicamos a versão da EERC adaptada no Estudo 1. Os participantes indicaram, por meio de uma escala de 5 pontos (1 = Nunca e 5 = Sempre), o quanto cada item refletiu o seu comportamento em relação aos seus pais.

Procedimentos

A pesquisa foi realizada numa escola da cidade de João Pessoa - PB. Após entrar em contato com a Direção da instituição de ensino e da aprovação do projeto pesquisa, os pesquisadores contataram os participantes em sala de aula, de forma online - em razão da pandemia do novo Coronavírus, e esclareceram os objetivos da pesquisa, solicitando a colaboração dos estudantes. Foi enviado aos pais, via e-mail, um TCLE, apresentando os objetivos do estudo e solicitando a autorização dos responsáveis para que seu(sua) filha participe da pesquisa. Após o consentimento dos pais, os estudantes que desejaram colaborar com a pesquisa assinaram um termo de assentimento e, posteriormente, responderam ao instrumento. Todos os documentos foram enviados através de um questionário online, por meio da plataforma Google Forms.

Análise de Dados

Os dados foram analisados por meio do software R (versão 4.0, R Core Team, 2020). Foram realizadas estatísticas descritivas e coeficientes de correlação bivariados entre os estilos de resolução de conflitos e características sociodemográficas, como idade, sexo, situação conjugal dos pais e quantidade de irmãos. Para verificar a estrutura fatorial da escala, executamos uma Análise Fatorial Exploratória usando o método de extração de Fatoração do Eixo Principal. Foi executada uma análise paralela (Dobriban & Owen, 2019Dobriban, E., & Owen, A. B. (2019). Deterministic parallel analysis: An improved method for selecting factors and principal components. Journal of the Royal Statistical Society Series B, 81(1), 163-183. http://dx.doi.org/10.1111 / rssb.12301
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) para decidir o número de fatores a ser retido. Esta análise foi executada através do pacote Psych (Revelle & Revelle, 2015Revelle, W., & Revelle, M. W. (2015). Package ‘psych’. The comprehensive R archive network, 337, 338.). Nesta análise foram simulados bancos de dados randômicos com o mesmo número amostral e de itens do banco de dados empírico, calculando a média dos parâmetros estimados. Para ser retido, o autovalor do fator deveria ser maior no banco de dados empírico do que a média do autovalor dos bancos de dados randômicos. A retenção do item na escala ocorreu quando o fator de carregamento foi igual ou superior a 0,30 (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados. 6a. Ed. Bookman editora.). Para análise de confiabilidade, calculamos os coeficientes alfa (a) de Cronbach e ômega (ω) de McDonald, assumindo valores iguais ou superiores a 0,70 como aceitáveis (Reise, Bonifay, & Haviland, 2013Reise, S. P., Bonifay, W. E., & Haviland, M. G. (2013). Scoring and modeling psychological measures in the presence of multidimensionality. Journal of personality assessment, 95(2), 129-140.). Finalmente, analisamos a matriz de correlação e os resultados de testes de comparação entre médias para averiguarmos se o uso de distintos estilos de resolução de conflitos variou em função de características sociodemográficas, como idade, sexo, situação conjugal dos pais e quantidade de irmãos.

Resultados do Estudo 2

Inicialmente, foi testado se a matriz de correlações do banco de dados era passível de fatoração. Os resultados do teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO = 0,82) e do teste de esfericidade de Bartlett [χ2 (19) = 176,74, p< 0,001] deram suporte à possibilidade de realização da Análise Fatorial Exploratória (AFE). O resultado da análise paralela recomendou a extração de quatro fatores, com autovalores de 2,24, 1,93, 1,68 e 1,49, os quais explicaram conjuntamente 36,7% da variância. Foi executada uma nova AFE, fixando o número de fatores em quatro e usando a rotação não ortogonal Oblimin. A Tabela 1 sumariza as cargas fatoriais dos itens obtidas para cada fator.

Tabela 1
Estrutura Fatorial da Escala de Estratégias de Resolução de Conflitos

O primeiro fator foi composto por 4 itens, com cargas fatoriais variando de 0,58 a 0,87 e índice de consistência acima do recomendado (a = 0,81; ω = 0,83). O fator foi nomeado Resolução Positiva. O segundo fator foi composto por 4 itens, com cargas fatoriais variando de 0,32 a 0,78 e índice de consistência acima do recomendado (a = 0,76; ω = 0,79). O fator foi nomeado Resolução Agressiva. O terceiro fator foi composto por 4 itens, com cargas fatoriais variando de 0,45 a 0,56 e índice de consistência acima do recomendado (a = 0,69; ω = 0,75), sendo nomeado Afastamento. Por fim, o quarto fator foi composto por 5 itens, com cargas fatoriais variando de 0,37 a 0,50 e índice de consistência inferiores ao recomendado (a = 0,58; ω = 0,66). O fator foi nomeado Conformidade. Optou-se por excluir o item 2 por apresentar carga fatorial negativa dentro do quarto fator, retendo apenas itens que medissem a conformidade na mesma direção. Os itens 3 e 13 foram excluídos por apresentarem cargas fatoriais acima do ponto de corte em mais de um fator.

Adicionalmente, foi verificado se os níveis de uso de diferentes estratégias de resolução de conflitos variavam em função de características sociodemográficas. Foi encontrada uma correlação significativa negativa entre a idade dos adolescentes e o uso da estratégia de Resolução Positiva (r = -0,17, p = 0,02), e uma correlação positiva entre a idade e as estratégias de Resolução Agressiva (r =0,48, p = 0,001) e Afastamento (r =0,27, p = 0,001). Não foi encontrada relação significativa entre as estratégias de resolução de conflito e a quantidade de irmãos dos participantes. Também não foi encontrada diferença significativa em qualquer das estratégias de resolução em conflito em função do gênero dos adolescentes e situação conjugal dos pais.

Discussão do Estudo 2

Neste estudo, as análises revelaram evidências preliminares de validade interna da EERC, indicando uma estrutura tetrafatorial semelhante ao instrumento original, com índices psicométricos satisfatórios (por exemplo, as cargas fatoriais). Além disso, os coeficientes de confiabilidade observados indicaram uma consistência interna adequada, exceto para o Fator 4, denominado Conformidade.

Apesar da estabilidade da estrutura com quatro dimensões, o item 2 (“Insisto no problema em questão”) carregou em uma dimensão diferente da do instrumento original, com carga fatorial negativa. O fato do item ter carga negativa é coerente com a definição do fator Conformidade, pois no momento em que o participante não insiste num tema, ele pode ter uma tendência a se conformar. Contudo, esperava-se que o item carregasse na dimensão Resolução Positiva, tal como na versão proposta por Delatorre et al., (2017Delatorre, M. Z., Scheeren, P., & Wagner, A. (2017). Conflito conjugal: evidências de validade de uma escala de resolução de conflitos em casais do sul do Brasil. Avances en Psicología Latinoamericana, 35(1), 79-94. http://dx.doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.3742
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). Acredita-se que, apesar da validade de conteúdo ter se mostrado satisfatória em relação à compreensão do item, ele não foi bem compreendido pelos participantes. A escolha do verbo “insistir” pode não ter sido a mais apropriada, uma vez que poderia indicar tanto uma característica assertiva como coercitiva. Assim, optou-se por excluir o item, uma vez que outros itens representaram o fator.

Os itens 3 e 13 saturaram em mais de um fator e, por esta razão, foram excluídos. O item 3 (“Permaneço em silêncio por longos períodos de tempo”) carregou no fator Afastamento, conforme esperado, mas também carregou no fator Conformidade, o que pode indicar que, para os adolescentes, ficar em silêncio é uma forma de se conformar com a posição do outro. Por fim, esperava-se que o item 13 (“Falo insultos e piadas/ironias”) tivesse carregado no fator Resolução Agressiva, tal como na versão original (Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
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), mas carregou tanto no fator Afastamento como no fator Conformidade, porém de maneira negativa.

De certo modo, tanto a Resolução Agressiva como o Afastamento são maneiras prejudiciais de resolver o conflito (Branje et. al, 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
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). Neste sentido, uma hipótese provável, e que poderá ser explorada em futuras investigações, é a de que os adolescentes brasileiros, ao dizerem piadas ou ironias, expressam verbalmente a sua agressividade face aos pais, o que poderá ser uma forma evitar solucionar o conflito por meio da negociação, mostrando apenas incômodo. Esse achado parece receber suporte do estudo realizado por Erickson e Feldstein (2007Erickson, S. J., & Feldstein, S. W. (2007). Adolescent humor and its relationship to coping, defense strategies, psychological distress, and well-being. Child Psychiatry and Human Development, 37, 255-271. https://doi.org/10.1007/s10578-006-0034-5
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), em que se verificou uma associação positiva do uso do humor agressivo (como o sarcasmo) para afetar as relações pessoais com a adoção de estratégias de defesa imaturas na adolescência, que resultam na negação e distorção dos conflitos.

Em relação à consistência da escala, apenas a dimensão Conformidade apresentou um índice abaixo do ponto de corte. Delatorre et al. (2017Delatorre, M. Z., Scheeren, P., & Wagner, A. (2017). Conflito conjugal: evidências de validade de uma escala de resolução de conflitos em casais do sul do Brasil. Avances en Psicología Latinoamericana, 35(1), 79-94. http://dx.doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.3742
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), em seu estudo de validação com casais, também encontrou o alfa de Cronbach abaixo do ponto de corte para esta mesma dimensão, o que sugere que esta seja uma limitação do fator, evidenciando a necessidade de reformulação de alguns itens desde a redação original. Assim, os estudos em que a Conformidade seja utilizada como variável dependente devem ser interpretados com cautela.

De maneira geral, os resultados apresentados dão suporte à proposta do instrumento de medir diferentes maneiras de se resolver conflitos no contexto das relações com os pais. Contudo, as análises relatadas são de caráter exploratório e com dados correlacionais. Além disso, dado que a adequação da estrutura fatorial de qualquer instrumento psicológico é melhor avaliada quando comparando com outras estruturas alternativas (e.g., Eid et al., 2017Eid, M., Geiser, C., Koch, T., & Heene, M. (2017). Anomalous results in G-factor models: Explanations and alternatives. Psychological Methods, 22(3), 541-562. https://doi.org/10.1037/met0000083
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; Judd et al., 2009Judd, C. M., McClelland, G. H., & Ryan, C. S. (2009). Data analysis: A model comparison approach (2nd ed.). Routledge.), é importante saber se o modelo tetrafatorial é o mais adequado para a EERC face a outras hipóteses alternativas. Assim, testamos a qualidade do modelo proposto em comparação com modelos de medida alternativos.

Método do Estudo 3: Análise Fatorial Confirmatória da EERC

Este estudo teve como objetivo verificar o ajuste da estrutura de quatro fatores da EERC encontrada no estudo 2 e de modelos fatoriais alternativos.

Participantes

Participaram do estudo 276 adolescentes, 121 do sexo masculino e 155 do sexo feminino. A idade dos participantes variou de 11 a 18 anos (M = 13,99; DP = 1,98). Os adolescentes eram estudantes de uma escola da rede privada, com nível de escolaridade variando do Ensino Fundamental II ao Ensino Médio. Em relação à configuração familiar, 69,6% eram filhos de pais casados, 24,6% filhos de pais divorciados e 5,8% tinham outra configuração familiar. Em relação ao número de irmãos, 47,8% tinham pelo menos um irmão, 27,2% tinham 2 ou mais e 25% não tinham irmãos. Todos os participantes residiam na cidade de João Pessoa - PB.

Instrumentos

Escala de Estratégias de Resolução de Conflitos - EERC. Os participantes responderam aos 17 itens da escala indicando o quanto cada item refletiu o seu comportamento com seus pais. A escala de resposta variou de 1 = Nunca a 5 = Sempre.

Procedimentos

Para a coleta de dados, procedemos de forma igual ao Estudo 2.

Análise dos Dados

Para melhor avaliar a estrutura fatorial da EERC, levando em consideração os modelos testados no estudo de validação da escala (Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
), estabelecemos três modelos alternativos: o modelo unifatorial (i.e., o modelo mais simples na análise de dados; Judd et al., 2009Judd, C. M., McClelland, G. H., & Ryan, C. S. (2009). Data analysis: A model comparison approach (2nd ed.). Routledge.), o modelo tetrafatorial com os fatores não-relacionados (utilizados no estudo de validação original para testar a invariância entre grupos), e o modelo hierárquico com um fator de segunda ordem, utilizado neste estudo para testar a consistência do modelo proposto, fornecendo suporte empírico à teoria que estabelece o construto como uma estrutura organizada em quatro fatores relacionados, mesmo que tenha sido encontrado índices adequados para o modelo unifatorial na validação original da escala (Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
).

Realizamos uma análise fatorial confirmatória (AFC) usando o software R (R core Team, 2020R Core Team (2020). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. Recuperado de https://www.R-project.org/
https://www.R-project.org/...
) e o pacote Lavaan (Rosseel et al., 2017Rosseel, Y., Oberski, D., Byrnes, J., Vanbrabant, L., Savalei, V., Merkle, E., Hallquist, M., Rhemtulla, M., Katsikatsou, M., Barendse, M., & Chow, M. (2017). Pacote ‘lavaan’. Recuperado de https://cran.r-project.org/web/packages/lavaan/lavaan.pdf
https://cran.r-project.org/web/packages/...
). Utilizamos o método de estimação WLSMV (Weighted Least Squares Mean-and-variance Adjusted), dado que este estimador é recomendado para lidar com dados categóricos, sendo relativamente estável em diferentes tamanhos amostrais (Finney et al., 2016Finney, S., DiStefano, C., & Koop, J. P. (2016). Overview of estimation methods and preconditions for their application with structural equation modeling. In K. Schewizer & C. DiStefano (Eds.). Principles and Methods of Test Construction (pp. 135-165). Hogrefe.). Os pontos de corte para os indicadores de ajuste foram índice menor que 5 para o qui-quadrado dividido pelos graus de liberdade (∆x2/gl), acima de 0,90 para CFI (Comparative Fit Index) e TLI (Tucker-Lewis coeficiente) (Hu & Bentler, 1999Hu, L. T., & Bentler, P. M. (1999). Cutoff criteria for fit indexes in covariance structure analysis: Conventional criteria versus new alternatives. Structural equation modeling: a multidisciplinary journal, 6(1), 1-55. https://doi.org/10.1080/10705519909540118
https://doi.org/https://doi.org/10.1080/...
), valores iguais ou inferiores a 0,10 para o RMSEA (Root Mean Square Error of Approximation) e SRMR (Standardized Root Mean Square Residual) (Kline, 2015Kline, R. B. (2015). Principles and practice of structural equation modeling. Guilford publications.). O ponto de corte adotado para reter o item no fator foi de 0,30. A precisão foi avaliada a partir da consistência interna, usando os índices alfa (a) e ômega (ω), com ponto de corte de 0,70.

Resultados do Estudo 3

A Tabela 2 mostra os índices de ajuste encontrados para cada modelo.

Tabela 2
Índices de Ajuste para os Diferentes Modelos da Escala de Estratégias de Resolução de Conflitos

Os resultados da análise fatorial confirmatória mostraram que o modelo proposto (quatro fatores correlacionados) apresentou os melhores índices de ajuste. O fator 1 apresentou índices de confiabilidade acima do ponto de corte recomendado (a = 0,87; ω = 0,88) e cargas fatoriais variando de 0,67 a 0,92. Por sua vez, o fator 2 também apresentou índices de confiabilidade acima do ponto de corte recomendado (a = 0,74; ω = 0,77) e cargas fatoriais variando de 0,57 a 0,84. O mesmo ocorreu com o fator 3, que apresentou confiabilidade acima do recomendado (a = 0,74; ω = 0,79), apresentando cargas fatoriais variando de 0,55 a 0,80. O fator 4 também apresentou índices de confiabilidade aceitáveis (a = 0,70; ω = 0,77) e cargas fatoriais variando de 0,47 a 0,82. A Figura 1 mostra a representação gráfica do modelo os pesos fatoriais dos itens em cada fator.

Figura 1
Modelo tetrafatorial da Escala de Estratégias de Resolução de Conflitos.

Nota: Todos os pesos fatoriais dos itens foram significativos ao nível de 0,001 e todas as correlações entre os fatores foram significativos ao nível de 0,05.


Discussão do Estudo 3

Os resultados deste último estudo mostraram evidências adicionais da validade da estrutura tetrafatorial da EERC. As estimativas de consistência interna também confirmaram a boa confiabilidade da versão de 17 itens. No que se refere ao ajuste do modelo, a estrutura tetrafatorial - quatro fatores - apresentou melhores índices em relação aos outros modelos testados. Além do suporte empírico há também suporte teórico para a estrutura encontrada (Kurdek, 1994Kurdek, L. (1994). Conflict Resolution Style in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and Family, 56(3), 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
), o que reforça a premissa de que modelos testados a partir de modelagem por equações estruturais devem vir acompanhados de embasamento teórico (Kline, 2015Kline, R. B. (2015). Principles and practice of structural equation modeling. Guilford publications.). Apesar dessas conclusões, faz-se necessário que a escala seja testada futuramente considerando uma amostra maior, uma uma vez que alguns dos indicadores de ajuste foram insatisfatórios e estes podem sofrer variações em diferentes tamanhos amostrais (Wolf et al., 2013Wolf, E. J., Harrington, K. M., Clark, S. L., & Miller, M. W. (2013). Sample size requirements for structural equation models: An evaluation of power, bias, and solution propriety. Educational and psychological measurement, 73(6), 913-934. https://doi.org/10.1177/0013164413495237
https://doi.org/https://doi.org/10.1177/...
).

Discussão Geral

O objetivo deste programa de pesquisa foi adaptar o CRSI para o contexto brasileiro e investigar se este apresenta evidências de adequabilidade psicométrica, dada a importância das estratégias de resolução de conflito para o ajustamento do adolescente e a escassez de medidas de avaliação dessas estratégias para a realidade brasileira. No Estudo 1 foi feita a adaptação transcultural do CRSI e foram avaliadas evidências de validade de conteúdo da medida; o Estudo 2 explorou sua estrutura tetrafatorial; e o Estudo 3 confirmou que a estrutura tetrafatorial da medida é a mais adequada. Diante dos resultados apresentados, considera-se que o objetivo do estudo tenha sido alcançado.

No que se refere à evidência de validade de conteúdo, a versão traduzida e adaptada demonstrou que a EERC é adequada para mensurar o que pretende avaliar, ou seja, seus itens são consistentes com a definição operacional de resolução de conflitos. Também coletamos evidências sobre a validade do fator (Nunnally & Bernstein, 1994) da EERC, comprovando que se trata de uma medida tetradimensional com boa consistência interna, isto é, o estudo forneceu suporte adicional de que Resolução Positiva, Resolução Agressiva, Afastamento e Conformidade são fenômenos distintos. A compreensão da resolução de conflito como um construto tetradimensional tem prevalecido na literatura psicológica (Missotten et. al, 2018Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., & Van Petegem, S. (2018). Adolescents’ Conflict Management Styles with Mothers: Longitudinal Associations with Parenting and Reactance. Journal of Youth and Adolescence, 47(2), 260-274. https://doi.org/10.1007/s10964-017-0634-3
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
; Van Lissa et. al, 2016Van Lissa, C. J., Hawk, S. T., Branje, S., Koot, H. M., & Meeus, W. H. J. (2016). Common and unique associations of adolescents’ affective and cognitive empathy development with conflict behavior towards parents. Journal of Adolescence, 47, 60-70. https://doi.org/10.1016/j.adolescence.2015.12.005
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
). Por fim, essa estrutura foi a mais adequada em comparação com outros modelos fatoriais, dando suporte a uma avaliação positiva da qualidade da EERC.

Foram encontradas correlações entre idade e as estratégias de resolução de conflito, indicando que a EERC é sensível o suficiente para detectar diferenças nessas estratégias experimentadas em diferentes etapas da adolescência. Verificou-se que, quando a idade dos adolescentes aumenta, diminui o uso de Resolução Positiva e aumenta o uso de Resolução Agressiva e Afastamento. Uma possível explicação para esse resultado é de que, com o aumento da idade, há um declínio das crenças de legitimidade da autoridade parental (Darling et al., 2008Darling, N., Cumsille, P., & Martínez, M. L. (2008). Individual differences in adolescents’ beliefs about the legitimacy of parental authority and their own obligation to obey: A longitudinal investigation. Child Development, 79(4), 1103-1118. https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2008.01178.x
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), isto é, um número crescente de questões são vistas pelos adolescentes como pertencentes à sua legislação, o que parece ser um terreno fértil para disputas calorosas entre pais e filhos. Esse dado contraria nossa hipótese e os resultados de um estudo realizado na Holanda (Branje et. al, 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
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), em que se verificou que os adolescentes mais velhos, em comparação com os mais jovens, utilizavam mais Resolução Positiva nos conflitos com os pais. Uma possível explicação para essa diferença pode ser o contexto da pandemia do novo coronavírus, que trouxe mudanças consideráveis na vida diária das famílias (Costa et al. 2023Costa, L. B. de S., Abreu, E. L. de, Nascimento, A. M. do, & Melo, R. L. P. D. (2023). Psychological impact of the COVID-19 pandemic and mothers’ conflict resolution styles: The mediating role of well-being. Marriage & Family Review, 59(2), 182-201.), culminando em maiores conflitos tanto conjugais quanto parentais e em mais uso de técnicas punitivas pelos pais (Chung et al., 2020Chung, G., Lanier, P., & Wong, P. Y. J. (2020). Mediating effects of parental stress on harsh parenting and parent-child relationship during coronavirus (Covid-19) pandemic in Singapore. Journal of Family Violence, 35(7), 1-12. https://doi.org/10.1007/s10896-020-00200-1
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). Diante dessas mudanças, os adolescentes de idade mais avançada podem ter sentido maior privação em sua liberdade de decisão, uma vez que, da metade para o fim da adolescência, os jovens conseguem mais independência para tomar suas decisões (Wray-Lake et al., 2010Wray-Lake, L., Crouter, A. C., & McHale, S. M. (2010). Developmental patterns in decision-making autonomy across middle childhood and adolescence: European american parents’ perspectives. Child Development , 81(2), 636-651. https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2009.01420.x
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).

As correlações entre os fatores apresentadas na Figura 1 são coerentes do ponto de vista teórico. A Resolução Positiva não apresentou correlação positiva com nenhuma outra estratégia de resolução de conflito. De fato, as outras estratégias não são associadas a um ajuste saudável do indivíduo (Branje et al., 2009Branje, S. J. T., van Doorn, M., van der Valk, I., & Meeus, W. (2009). Parent-adolescent conflicts, conflict resolution types, and adolescent adjustment. Journal of Applied Developmental Psychology, 30(2), 195-204. https://doi.org/10.1016/j.appdev.2008.12.004
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). Conformidade e Afastamento correlacionaram-se positivamente, o que faz sentido, já que ambas se caracterizam pela tentativa de evitar encarar o problema/conflito. A Resolução Agressiva relacionou-se de maneira positiva com o Afastamento. Essas três correlações encontradas recebem suporte empírico de estudos que encontraram resultados semelhantes (Missotten et al., 2016Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., Vanhalst, J., & Goossens, L. (2011). Identity Styles and Conflict Resolution Styles: Associations in Mother-Adolescent Dyads. Journal of Youth and Adolescence , 40(8), 972-982. https://doi.org/10.1007/s10964-010-9607-5
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; Missotten et al., 2018Missotten, L. C., Luyckx, K., Branje, S., & Van Petegem, S. (2018). Adolescents’ Conflict Management Styles with Mothers: Longitudinal Associations with Parenting and Reactance. Journal of Youth and Adolescence, 47(2), 260-274. https://doi.org/10.1007/s10964-017-0634-3
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). Acredita-se que essa relação tenha ocorrido pelo fato de que ambos podem ser interpretados como um comportamento hostil. Também ocorreu uma correlação negativa entre a Resolução Agressiva e a Conformidade. Julga-se que essa relação faz sentido, uma vez que seria difícil encontrar alguém que se envolva em uma forma agressiva e conformista simultaneamente ou alternadamente.

Conclusões

A versão brasileira da Escala de Estratégias de Resolução de Conflitos mostrou-se adequada para a avaliação de quatro estratégias de resolução de conflitos e, com base nos resultados encontrados, trata-se de uma medida que pode ser utilizada para fins de pesquisa. Ter uma medida psicométrica adaptada para o Brasil, que verifique a forma como os adolescentes estão enfrentando situações conflituosas com seus pais, é de suma importância para a literatura psicológica, uma vez que possibilitará a realização de estudos que contribuirão para a implementação de estratégias de intervenção no campo da educação, com vistas a atenuar conflitos existentes na relação pai-mãe-filho e proporcionar uma melhora na qualidade do vínculo.

Embora o presente estudo apresente contribuições importantes para a área do desenvolvimento psicossocial, ele não está isento de limitações. Em primeiro lugar, participaram do estudo apenas adolescentes estudantes de escola privada, residentes na região Nordeste do Brasil, o que restringe a generalização destes achados ao contexto de estudo. Sugere-se, portanto, a realização de estudos similares que contemplem outras regiões do Brasil. Também, os escores aqui obtidos são ex-post-facto, ou seja, as estratégias de resolução de conflitos já haviam sido impactadas por outros fatores antes do momento da coleta de dados como, por exemplo, a pandemia do novo coronavírus. Por fim, não foi possível analisar demais fontes de evidência de validade da escala, como por exemplo aquelas baseadas na relação com variáveis externas, seja na relação da escala com outras com as quais deveria ou não se relacionar (validade convergente e discriminante), seja na capacidade da escala de predizer o desempenho em uma tarefa específica (validade de critério). Sugere-se que tal limitação seja superada em estudos futuros.

Apesar das limitações, julga-se que os resultados encontrados são suficientemente consistentes para evidenciar a validade de conteúdo e interna da EERC, garantindo seu uso em pesquisas que avaliem os estilos de resolução de conflitos utilizados por adolescentes. Destaca-se que, no Brasil, este é o primeiro instrumento com evidências de validade adequadas que tem como objetivo avaliar a forma como adolescentes resolvem seus conflitos com os pais, o que facilita o avanço de estudos que favoreçam a compreensão de processos de resolução de conflitos pelos adolescentes durante o seu desenvolvimento.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    09 Jul 2021
  • Revisado
    24 Maio 2023
  • Aceito
    04 Jun 2023
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