Acessibilidade / Reportar erro

Leitura: formação e concepções de alunos de direito e medicina

Reading: formation and conceptions of law and of medicine students

Resumos

O objetivo da pesquisa foi estudar as lembranças de alunos de medicina e direito sobre suas histórias como leitores. Eles responderam a um questionário aplicado em sala de aula. Os resultados mostraram que família e escola são variáveis relevantes mas consideraram que liam como o faziam devido a suas características pessoais.

História pessoal como leitor; Comportamento de leitor; Formação do leitor


The aim of research was to study the recalls of medicine and law students concerning their stories as readers. They answered to a questionary applyed in the classroom situation. The results showed family and school are relevant variables but they considered they read as they do because their personal characteristics. The subjects did not consider they do the best in relation to reading behavior.

Reading personal history; Reading behavior; Readers formation


ARTIGOS

Leitura: formação e concepções de alunos de direito e medicina

Reading: formation and conceptions of law and of medicine students

Regina Coeli Bezerra de Meio Nassri1 1 A Autora agradece a colaboração do Dr. Marcelo de A. Buriti, na coleta e análise de dados e à Profª Dra. G. P. Witter pela orientação.

Universidade de Mogi das Cruzes

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Regina Coeli Bezerra de Melo Nassr Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200 08780-911 Mogi das Cruzes - SP fone: (011) 4798-7056 / 4798-7052 fax: (011) 4798-7198 e-mail: dora@umc.br

Endereço para correspondência Regina Coeli Bezerra de Melo Nassr Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200 08780-911 Mogi das Cruzes - SP fone: (011) 4798-7056 / 4798-7052 fax: (011) 4798-7198 e-mail: dora@umc.br

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi estudar as lembranças de alunos de medicina e direito sobre suas histórias como leitores. Eles responderam a um questionário aplicado em sala de aula. Os resultados mostraram que família e escola são variáveis relevantes mas consideraram que liam como o faziam devido a suas características pessoais.

Palavras-chave: História pessoal como leitor, Comportamento de leitor, Formação do leitor.

ABSTRACT

The aim of research was to study the recalls of medicine and law students concerning their stories as readers. They answered to a questionary applyed in the classroom situation. The results showed family and school are relevant variables but they considered they read as they do because their personal characteristics. The subjects did not consider they do the best in relation to reading behavior.

Keywords: Reading personal history, Reading behavior, Readers formation.

A leitura é um instrumento de extrema importância no ensino em geral e constitui, segundo Silva (1998), um instrumento de trabalho essencial em determinadas áreas profissionais, além de representar uma necessidade fundamental para todas as pessoas que vivem nas sociedades modernas e pós-modernas.

O ato de ler deve ser visto como uma forma de prazer onde, segundo Barbosa (1992), a informação e a compreensão estão ligadas ao indivíduo, à estrutura cognitiva e dependem tanto do que se conhece quanto do que se procura saber. Esta condição também deve estar implícita ao caldo cultural da Universidade.

Todavia grande parte dela se estabelece já na formação do leitor indo até a sua formação universitária. Vale lembrar que tanto docentes como discentes são personagens importantes no que concerne ao caldo cultural da universidade. Certamente, como lembra Giacometti (1989), por serem modelos de leitores e orientadores de trabalho acadêmico, os professores têm um papel de grande valor no desenvolvimento do aluno enquanto leitor. Todavia, no contexto do presente estudo a atenção voltou-se para o aluno.

Santos (1990) diz que a leitura de um estudante universitário pressupõe algumas habilidades como compreensão, ritmo, concentração, flexibilidade, criticidade, interesse, hábitos, motivação, entre outras. Isto é, pressupõe-se que o estudante universitário seja um bom leitor, assíduo, bem informado e com hábitos anteriormente adquiridos.

Andraus Júnior e Santos (1999) lembram que o processo de leitura é complexo e ativo, implica em muitas habilidades metacognitivas. Para formação do leitor pleno há um longo percurso e requer o apoio de muitos para que se concretize e a Universidade tem ai um papel relevante especialmente no que concerne ao profissional leitor.

Witter (1999) destaca que a Universidade tem o duplo papel de produtora de conhecimento sobre a leitura e de capacitação do profissional que seja um leitor competente para que possa contribuir significativamente para a melhoria da profissão, das pessoas a que atende e da qualidade de vida da sociedade.

Realmente, a formação do hábito da leitura deve ser constituída desde a primeira infância, quando os pais lêem para seus filhos e posteriormente no ensino fundamental quando no inicio da alfabetização, sendo que o ambiente universitário deve consolidar este aspecto do comportamento do estudante.

Carvalho et al (1997) estudaram a leitura entre adultos de diferentes áreas de atuação enfocando: vivência, escolarização, material com o qual foram alfabetizados e opiniões sobre o que foi relevante na sua formação como leitores. Constataram a maioria (60%) aprendeu a ler usando a Cartilha Caminho Suave e 30% não lembrava como havia aprendido. A principal variável para os sujeitos foi a motivação e o processo ensino-aprendizagem vindo a seguir escola e família.

Considerando relevante o possível impacto das vivências pré-universitárias e o próprio conceito de si enquanto leitores e das variáveis que influiram na forma pela qual desenvolveram sua competência como leitores é que foi realizada a presente pesquisa. Seus objetivos específicos foram: (a) verificar as lembranças de estudantes de Medicina e de Direito quanto à sua formação como leitores; (b) que material foi usado em seu processo de alfabetização; (c) verificar a que causas atribuem seu atual desempenho como leitores (d) verificar o efeito da escolaridade (18 vs 58 série universitária) nas variáveis anteriores.

MÉTODO

Sujeitos

Serviram como sujeitos dois grupos de estudantes na graduação de uma Universidade Privada, situada na grande São Paulo, matriculados regularmente em cursos de duas áreas distintas: Direito e Medicina.

A formação de bons leitores é uma das metas da Instituição de Ensino Superior pesquisada.

Grupo de Direito (GD):

O Grupo de Direito foi dividido em dois sub grupos: alunos do 1º ano e alunos do 5º e último anos do curso. Ambos os cursos funcionando no período matutino.

Ao todo, no 1º ano de Direito responderam a pesquisa 62 alunos, entre os quais um foi eliminado por ter deixado muitas respostas em branco. Em vista disto, o sub grupo ficou com um total de 61 alunos.

A média de idade deste sub grupo era de 20,2 anos, tendo o mais jovem 17 anos, o mais velho, 46 anos e, a amplitude de variação foi de até 29 anos.

Dos 61 alunos, a maioria é do sexo feminino com 59,1% e 40,9% do sexo masculino.

Com relação à tipologia da escola em que os alunos do curso de 1º Direito estudaram, 49,1% fizeram o ensino fundamental em escolas públicas, 34,4% em escola particular e 16,4% em escolas pública e particular. Já no ensino médio, os números com relação aqueles alunos que cursaram escola pública ou particular praticamente empatam. São 44,2% que cursaram escola pública e 40,9%, escola particular e 14,7% que cursaram escola particular e pública.

No sub grupo do 5º ano de Direito, responderam 47 estudantes, com uma média de idade de 25,9 anos, sendo a idade mais baixa de 21 anos, e a maior 44 anos, uma amplitude da variação de 23 anos.

Entre os 47 alunos, a predominância é do sexo feminino, com 57,4%. Os estudantes do sexo masculino correspondem a 42,5%.

Quanto à tipologia da escola em que os alunos do 5º ano do curso de Direito estudaram, a grande maioria fez o ensino fundamental em escola pública (48,9%), em escola particular, 31,9% e apenas 19,1 % cursaram em escola particular e pública. No ensino médio, a maioria dos estudantes também cursou em escola pública, 44,6%; parte do restante (36,1 %) o fez em escola particular e 10,6% em escolas pública e particular. Uma porcentagem de 8,5% de alunos não respondeu a esta questão.

Grupo de Medicina (GM):

O grupo de Medicina foi dividido em dois sub grupos, o primeiro com alunos do 1º ano de curso e o segundo com alunos do 5º ano de Medicina, ambos de período integral.

No 1º ano, responderam ao questionário 32 estudantes. A média de idade do sub grupo do 1º ano foi de 19,4 anos, sendo a menor idade de 18 anos e a maior idade de 23 anos. A amplitude de variação foi de 5 anos.

O curso de Medicina no seu 1º ano possui a maioria dos alunos do sexo feminino, com percentual de 71,8%. Os estudantes do sexo masculino representaram 28,1%.

Quanto à tipologia da escola que estes alunos freqüentaram, a maioria absoluta estudou em escolas particulares. No ensino fundamental, 84,3% estudou em escolas privadas, 9,3% em escolas públicas e 6,2% em escolas particulares e públicas.

No ensino médio, o maior percentual foi de estudantes provenientes de escolas particulares, com 90,6%, e apenas 6,25% estudaram em instituições públicas. Nesta pergunta, 1 (um) aluno não respondeu.

No 5º ano do curso de Medicina, responderam ao questionário 25 alunos.

A média de idade deste sub grupo foi de 24,1 anos. O sujeito mais jovem tinha 21 anos, e o mais velho, 28 anos. Houve uma amplitude de variação de 7 anos.

Os alunos do 5º ano também eram predominantemente do sexo feminino, com percentual de 60% enquanto que os masculinos somaram 40%.

Com relação à tipologia da escola em que estudaram, 76% freqüentaram o ensino fundamental em escolas particulares. Um percentual igual (12%) foi composto por estudantes que freqüentaram o ensino fundamental em escolas públicas e em escolas públicas e particulares.

Já no ensino médio, todos os alunos, isto é, 100%, estudaram em escolas particulares.

Material

Para a coleta de dados de pesquisa foi usado o instrumento descrito a seguir:

Questionário informativo pessoal. Este instrumento foi constituído a partir da tradução e adaptação do instrumento de Hansel e Voelker (1992), reelaborado pela profª Dra. Geraldina Porto Witter e por ela adaptado.

O material utilizado na pesquisa constou primeiramente de um questionário simples onde o aluno deveria identificar sua idade, sexo, série, curso, que tipo de escola cursou no ensino fundamental e médio bem como e sua profissão, quando já fosse integrante do mercado de trabalho.

Na mesma página, constaram informações garantindo o anonimato do sujeito, além de algumas instruções que os estudantes deveriam seguir para o preenchimento do restante dos itens do instrumento.

Os sujeitos foram solicitados a responder sobre suas vivências de escolarização e leitura. Responderam com sim ou não a sentenças sobre "o que lembro quando era criança" de questões sobre sua formação como leitor e logo após, "como me sinto como adulto" novamente enquanto leitor. Na página posterior, completou as orações: "eu penso que leio como faço porque..." e "aprendi a ler usando a cartilha ou material...."

Procedimento

A coleta dos dados foi feita em uma única sessão para cada turma dos cursos de Direito e Medicina, em horários distintos, estabelecidos de acordo com os coordenadores dos cursos.

Reunidos os alunos em sala de aula, foi explicado o objetivo da pesquisa e a importância de colaboração de todos, não se fixando o tempo e garantido o sigilo.

No sub grupo de 1º ano de Direito o primeiro estudante entregou a pesquisa com um tempo de 25 minutos, e o último levou 40 minutos para concluir o trabalho.

Os alunos do 5º ano de Direito, com relação ao tempo de entrega do término da atividade, consumiram: o 1º aluno a devolver a tarefa levou 10 minutos, e o último 30 minutos.

No sub-grupo de Medicina do 1º ano a aplicação levou 40 minutos e para o 5º ano de 25 minutos. No primeiro caso o aluno mais rápido cumpriu a tarefa em 15 minutos e no segundo subgrupo em 12 minutos.

Foi apresentado aos alunos o questionário informativo.

RESULTADOS

Os dados referentes aos resultados dos alunos do curso de Direito constam da Tabela 1: lembranças sobre a aquisição de leitura quando criança e sentimento, divididos pelos sub grupos de 10 e 50 ano, com o total. Constam também da Tabela 1 os devidos percentuais e respostas sim e não.

As sentenças da Tabela 1 são distribuídas em 20 categorias: meus pais queriam que eu me saísse bem na escola; alguém da minha família lia para mim; meus professores gostavam de mim e achavam que eu podia me sair bem; eu gostava de ir à escola; eu me esforçava para fazer bem meu trabalho de casa; alguém me ajudava quando a lição de casa era muito difícil; meus amigos queriam sair-se bem na escola; via televisão; ficava cansado e sonolento na escola; faltava muito a escola; os outros alunos aprendiam mais depressa do que eu; ficava muito na escola; havia muitos livros para eu ler na escola; ler em voz alta me fazia sentir nervoso e embaraçado; os livros eram difíceis e aborrecidos; as palavras escritas nos livros e no quadro de giz eram difíceis de ver; achava difícil ouvir o professor; era difícil entender as palavras quando estava falando; leio tão bem quanto gostaria; quero ler melhor de que o faço.

Na parte das lembranças sobre a aquisição de leitura quando criança, os alunos do 1º ano do curso de Direito na sua maioria indicou sim para as perguntas: os seus pais queriam que eles saíssem bem na escola (98,3%) e os professores gostavam deles e achavam que eles podiam se sair bem (98,3%) Estes mesmos estudantes disseram não às questões de que as palavras escritas nos livros e no quadro de giz eram difíceis de ver (96,8%) e que era difícil ouvir o professor (98,3%).

Os estudantes do 5º ano de Direito na sua maioria absoluta responderam sim à questão: pais queriam que eles se saíssem bem na escola (1 00%). Também responderam sim ao item se faltou muito na escola (93,6%). As respostas negativas com maior percentual foram que era difícil entender as palavras quando estava falando (95,8%) e as palavras escritas nos livros e no quadro de giz eram difíceis de ver (93,7%).

No total do curso de Direito, o maior percentual positivo encontrado foi dos pais queriam que eles saíssem bem na escola (99%) e os professores gostavam deles e achavam que eles podiam se sair bem (92,5%). Em termos de percentuais negativos, o maior encontrado (empate) foram das palavras escritas nos livros e no quadro de giz eram difíceis de ver (95,3%) e que era difícil ouvir o professor (95,3%).

Na parte das sentenças referentes ao sentimento, os alunos do 1º ano de Direito responderam sim sobre o querer ler melhor do que o fazem (93,4%). Os do 5º ano de Direito também disseram sim à pergunta, com percentual de 85,1 %. O total global do curso apontou 89,9% de estudantes que querem ler melhor do que o fazem.

Com relação aos alunos do curso de Medicina, os dados referentes às lembranças sobre aquisição de leitura quando criança e sentimento constam da Tabela 2.

Na 1ª parte, os alunos do 1º ano de Medicina na sua maioria responderam sim com percentual igual de 96,8% nas questões: seus pais queriam que eles se saíssem bem na escola e os seus professores gostavam deles e achavam que eles podiam se sair bem. Quanto às respostas não, houve também um empate com relação ao maior percentual, de 98,8% nas questões: faltavam muito a escola, achavam difícil ouvir o professor e era difícil entender as palavras quando estavam falando.

Os alunos do 5º ano do mesmo curso apresentaram um perfil semelhante nas respostas.

A maioria identificada de respostas positivas foi dos professores gostavam deles e acharam que eles podiam se sair bem (100%). Logo em seguida os pais queriam que eles se saíssem bem na escola (96%).

Quanto às respostas negativas, houve um empate de 96%, isto é, a maioria, nas seguintes questões: faltavam muito na escola, achavam difícil ouvir o professor e era difícil entender as palavras quando estavam falando.

O total geral do curso de Medicina apontou a maioria de respostas positivas no item dos professores que gostavam deles e achavam que eles podiam se sair bem (98,2%). A seguir, os pais queriam que eles se saíssem bem na escola (96,4%). Com relação às respostas negativas, um empate de 96,4% foi a maioria nas questões: faltavam muito na escola, achavam difícil ouvir o professor e era difícil entender as palavras quando falavam.

Na parte de sentimento, os alunos do 1º ano de Medicina querem ler melhor do que o fazem (75%), e os do 5º ano de Medicina também responderam 68% positivamente à mesma pergunta. No total geral, a maioria dos estudantes do curso querem ler melhor do que o fazem (71,9%). O estudo correlacional das lembranças dos sujeitos quanto à freqüência com que foram mencionadas pelos sujeitos (Siegel, 1954) mostrou (N= 20, n.sig. 0,05 e rc= 0,42) serem similares as lembranças dos alunos de 18 e 58 séries de Direito, uma vez que, foi obtida uma correlação de 0,44; esta correlação foi mais forte entre os alunos de 1ª e 5ª séries de Medicina que foi de 0,95, indicando maior homogeinedade entre os alunos do último curso que do primeiro. A correlação entre 1ª de Direito e 1ª de Medicina foi de 0,96 e entre 1ª de Direito e 1ª de Medicina foi de 0,96 e entre os 5° anos foi de 0,43, ou seja, as lembranças em ambos os casos são estatisticamente similares, embora mais próximas entre si no caso dos primeiranistas.

A parte das questões abertas é referente ao Entendimento de leitura (Tabela 3) e ao Material usado no processo de alfabetização do sujeito (Tabela 4). As categorias são descritas e distribuídas por ano, com os percentuais e as freqüências respectivas.

A Tabela 3 apresenta como o aluno vê sua própria leitura em termos de aspectos (categorias) específicos. A partir de respostas abertas, foram elaboradas categorias, que aparecem descritas a seguir.

Em todos os casos a resposta pode ter uma conotação positiva ou negativa.

1 - Características pessoais gerais - nesta categoria foram incluídas respostas que fazem referências às características da pessoa de uma forma geral. Ex: "meu raciocínio é lento"; " pela inteligência por ser necessário ao trabalho",

2 - Características pessoais como leitor são respostas que mencionam características do aluno enquanto leitor. Ex: "leio rápido, como penso"; "não leio com muita freqüência"; "leio lentamente"; "tenho que ler várias vezes"; "não me dedico muito em voz alta"; "minha forma de escrever está diretamente ligada à minha forma de ler"; "me dediquei para isto"; "gosto muito de ler"; "não leio o suficiente"; "me esforço"; "facilita minha compreensão do livro".

3 - Características de processo ensino-prendizagem: são menções feitas à maneira pela qual aprendem a ler. Ex: "me ensinaram muito bem"; "porque foi assim que aprendi"; "procuro aprimorar o modo de ler".

4 - Influências de pessoas - são afirmações que dizem respeito às pessoas que influenciaram o aluno enquanto leitor: Ex: "tive boa professora"; ''tive ótimas professoras": "tive muito incentivo de minha mãe",

5 - Influências do ambiente - são respostas que se referem às contingências ambientais relativas ao processo de leitura: Ex: "vivências"; "necessidade de se adaptar ao meio em que vivemos",

6 - Não respondeu - categoria usada para respostas em branco.

Os dados expressos na Tabela 3 mostram que os alunos de um modo geral consideram que a forma pela qual lêem é decorrente de suas características pessoais (38,5%), vindo & seguir as características pessoais gerais (22,5%) e o processo ensino-aprendizagem (20,3%). São raras as menções a influências de pessoas e do ambiente. Um percentual considerável não respondeu (13,2%). Esta tendência só não se manteve no 5º ano de Medicina, em que características do leitor ficou ligeiramente (14,7%) abaixo das características pessoais.

Quanto às correlações entre os sub grupos de 1º e 5º ano do curso de Direito e 1º e 5º ano do curso de Medicina, trabalhou-se com uma margem de erro de 0,05 e um rc= 0,75.

O 1º ano de Medicina versus o 5º ano do mesmo curso apresentou uma correlação de 0,43. Isto mostra que as lembranças são hierarquicamente diferentes e não significantes, ou seja, o comportamento dos dois anos são distintos.

Já no 1º ano de Direito versus o 5º ano de Direito, o resultado foi oposto. A correlação encontrada foi de 0,98, mostrando que as lembranças são bastante parecidas e significantes.

O 1º ano de Medicina versus o 1º ano de Direito apresentou uma correlação significante de 0,90 indicando similaridade na hierarquia estabelecida.

No 5º ano de Medicina versus o 5º ano de Direito foi obtida uma correlação não significante de 0,33, que significa que as lembranças são hierarquicamente diferentes. Verificou-se que os alunos do 5º ano de Medicina são diferentes dos demais. Os estudantes do 1º e 5º ano de Direito e do 1º ano de Medicina se correlacionam entre si.

A Tabela 4 apresenta o tipo de material usado pelos alunos no processo de alfabetização, em termos de categorias especificas. A partir das respostas abertas, foram elaboradas categorias, que estão descritas a seguir:

Categorias da Questão: aprendi a ler usando a cartilha ou material (especificar).

1 - Cartilha - a resposta menciona cartilha mas não especifica o nome. Ex: cartilha, que usava B a Ba.

2 - Caminho Suave - explicitava o referida cartilha.

3 - Apostila do Professor – menciona material elaborado pelo professor.

4 - Livros Didáticos - diz que foi livro didático, mas sem especificar qual.

5 - Revistas/Histórias em quadrinhos foram os materiais usados:

6 - Não lembro - menciona não lembrar qual material foi usado.

7 - Outras - variação muito ampla, mas com freqüência única.

8 - Não respondeu.

Os dados da Tabela 4 mostram que a maioria dos estudantes utilizou a cartilha como instrumento de aprendizado na escola (23,8%). Em seguida, os materiais explicitados foram os livros didáticos (19,1 %), as revistas e histórias em quadrinhos (15,1 %) e apostila do professor (13,7%). As respostas foram semelhantes em todos os anos, com exceção do 1º ano de Medicina, que apontou o material mais utilizado como sendo os livros didáticos (19,2%).

A análise correlacional em relação à hierarquia de materiais usados na alfabetização dos sujeitos (N=9, n. sigo 0,05 e rc= 0,60) mostrou não haver similaridade entre 1º e 5º Ano de Medicina (rc= 0,30) mas semelhança entre 1º e 5º Ano de Direito (ro= 0,91). Os alunos de 1º Ano dos dois cursos também relataram vivências diferentes em termos de material de alfabetização (rc= 0,51) o mesmo ocorrendo entre os quintanistas dos dois cursos (ro= 0,50). A correlação entre as respostas de 1º Ano de Medicina e do 5º Ano de Direito foi de 0,53, portanto, não significante. A única correlação significante (ro= 0,67) ocorreu entre a vivência relatada pelo 5º Ano de Medicina e 1º ano de Direito. De um modo geral, as experiências dos grupos com os materiais com que foram alfabetizados tenderam a ser estatisticamente diferentes.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

É importante salientar que a maioria dos estudantes indicou que a forma pela qual lêem é responsabilidade deles próprios. Isto se deve talvez a uma falta de estíulo em casa, em decorrência da escolaridade dos pais (maioria possui apenas o 10 grau), a um nível econômico baixo (não tinham condições financeiras de comprar livros) e especialmente a falta de professores na escola que incentivassem a leitura.

Um outro aspecto seria que parte destes alunos possivelmente tenham estudado em escolas que trabalham com o construtivismo. Esta teoria reforça a responsabilidade do aprendizado no aluno e muitas vezes se ignora a atuação docente, da famf1ia e dos meios instrucionais. Aqui ocorre uma distorção em relação ao disponível na literatura que mostra um complexo de variáveis atuando no processo e que não se pode atribuir apenas ao aluno a construção desta habilidades e competências (Woten, 2000).

Os resultados, de um modo geral, fazem relembrar que é necessário, ao se enfocar o leitor universitário ter em consideração a sua formação anterior e as experiências vivenciadas na própria universidade (Perotti, 1998; Rodrigues, 2000; Joly, 1999).

Na opinião da maioria dos sujeitos, tanto de Direito como de Medicina, as contingências ambientais tanto no lar como na escola tenderam a ser favoráveis à formação de leitores. Os sujeitos perceberam como positivas as espectativas dos pais e a intervenção dos mesmos o que é considerado adequado para que se constituam em leitores ativos e com boa probabilidade de êxito (Auerbach, 1995; Paratore, 1995; Graves e Wendorf, 1995). O mesmo se pode dizer do contexto educacional e sua interação com o empenho da família. Nestas circunstancias, os resultados apoiam os de Iracey (1995), de Edwards (1995), de Newman (1995) e de Carvalho et al (1997).

A maioria foi alfabetizada com cartilha o que é consoante com trabalhos como o de Carvalho et al (1997) e indica que este material era o prevalecente quando da alfabetização dos sujeitos, isto é , a cerca de 15 anos.

Entretanto, a grande maioria, de todos os sujeitos, não está satisfeita com o desempenho que alcançaram em leitura. Isto evidencia um autoconhecimento critico de suas capacidades. Ao mesmo tempo sugere que a Universidade deve desenvolver programas que os capacitem a ler melhor, especialmente o discurso científico e tecnológico cujo domínio é imprescindível para o êxito profissional e uma atuação atualizada e socialmente responsável.

Também é necessário verificar quanto, em que nível estão realmente lendo e que funções estão cumprindo a leitura feita por eles. Isto sugere a necessidade de estudos como os Oliveira (1999). Considerando o compromisso social da IES e o que dela é esperado em termos de formação do leitor e produção de conhecimentos sobre a leitura, há que se cuidar destes aspectos.

Estes resultados estão de acordo com os obtidos por Carvalho et al (1997).

Nestas circunstâncias é recomendável realizar pesquisas tanto de avaliação do desempenho destes alunos enquanto leitores, como também promover programas específicos de desenvolvimento destas competências.

  • Andraus Júnior, S. & Santos, A A A Importância do desenvolvimento da leitura na formação profissional. In-G. P. Witter..-Leitura: textos e pesquisas. Cap: 3. Campinas: Alínea, 1999.
  • Auerbach, C. R. Which way for family literacy: intervention or empowerment? In L. M. Morrow, Family literacy: connections in schools and communities. New Brunswick: Rutgers University, 1995.
  • Barbosa, J.1. Alfabetização e Leitura. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1992.
  • Carvalho, A P. C.; Pavani, C. G. C.; Leal; G. C. & Branbilla, L. H. Escolarização e leitura em adultos. In G. P. Witter (org.) Psicologia, Leitura e Universidade Campinas: Alínea, 1997.
  • Edwards, P. A Combining parents' and teachers' throughts about storybook reading at home and school. In L.M. Morrow, Family literacy: connections in schools and communities. New Brunswick: Rutgers University, 1995.
  • Giacometti, M. M. Motivação e busca da informação: comportamento de docentes - pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Dissertação de Mestrado. Campinas: PUC, 1989.
  • Graves, R & Wendorf, 1. H. The reading is fundamental motivational approach to family literacy. In L. M. Morrow, Family literacy: connections in schools and communities. New Brunswick: Rutgers University, 1995.
  • Joly, M. C. R A Leitura: o que sabemos, o que precisamos saber (influência da família na alfabetização). In G. P. Witter. Leitura: textos e pesquisas. Capo 2. Campinas: Alínea, 1999.
  • Newman, S. B. Enhancing adolescent mothers' guided participation in literacy. In L. M. Morrow, Family literacy: connections in schools and communities. New Brunswick: Rutgers University, 1995.
  • Oliveira, M. H. M. A Comportamento de leitura do estudante universitário. In G. P. Witter. Leitura: textos e pesquisas. Capo 7. Campinas: Alínea, 1999.
  • Paratore, J. R. Implementing an intergenerational litercy project: lessons learned. In M. L. M. Morrow, Family literacy: connections ins schools and communities. Neu Brunswick: Rutgers University, 1995.
  • Perotti, C. L. E. Reflexões acerca da formação de leitores: um estudo com universitários. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC/SP, 1998.
  • Rodrigues, A N. Reflexões sobre o ensino da leitura em cursos universitários. Caderno UniABC de Letras 1:7-13,2000.
  • Santos, AAA Compreensão em Leitura na Universidade: um estudo comparativo entre dois procedimentos de treino. Estudos de Psicologia, 7 (2), 54 - 72, 1990.
  • Silva, E.M. T. Compreensão da leitura em estudantes de Direito Dissertação de Mestrado. Campinas: Instituto de Psicologia da PUCCAMP, 1998.
  • Tracey, D. H. Children practicing reading at home: what we know about how parents help. In L. M. Morrow, Family literacy: connections in schools and communities. New Brunswick: Rutgers University, 1995.
  • Witter, G. P. Metaciência e leitura. In G. P. Witter Leitura: textos e pesquisas. Capo 1. Campinas: Alínea, 1999.
  • Wooten, D. A Valued voices: an interdisciplinary approach to teaching and learning. Nework: IRA, 2000.
  • Endereço para correspondência
    Regina Coeli Bezerra de Melo Nassr
    Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200 08780-911
    Mogi das Cruzes - SP
    fone: (011) 4798-7056 / 4798-7052
    fax: (011) 4798-7198
    e-mail:
  • 1
    A Autora agradece a colaboração do Dr. Marcelo de A. Buriti, na coleta e análise de dados e à Profª Dra. G. P. Witter pela orientação.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Out 2011
    • Data do Fascículo
      2000
    Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), Rua Mirassol, 46 - Vila Mariana , CEP 04044-010 São Paulo - SP - Brasil , Fone/Fax (11) 96900-6678 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista@abrapee.psc.br