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Convite à leitura

Invitation to the reading

Invitación a leer

RESENHAS

Convite à leitura

Invitation to the reading

Invitación a leer

Geraldina Porto Witter

Universidade Camilo Castelo Branco, São Paulo - SP

Wooten, D. A., & Cullinan, B. E. (Orgs.). (2009). Children’s literature in the reading program: an invitation to read. Newark, DE: IRA, xx + 180 p..

Motivar para a leitura nunca foi tarefa fácil. Hoje, com a concorrência da TV, da Internet e dos jogos eletrônicos, tornou-se uma tarefa ainda mais complexa. Entretanto vem crescendo o número de programas, procedimentos e estratégias para se obter o esperado interesse pela atividade. Boas sugestões são encontradas no livro aqui resenhado e a maioria delas parece desconhecida nos meios educacionais brasileiros.

As organizadoras, a Doutora Deborah A. Wooten, que trabalha na University of Tennessee e tem longa experiência (23 anos) no Ensino Fundamental, e Bernice E. Cullinan, professora emérita da New York University com muita experiência e produção na área, aglutinaram os esforços de notáveis produtores neste campo. A Apresentação do livro é da lavra de Richard L. Allington, da University of Tennessee, o qual enfoca a importância de se cuidar, bem cedo, do problema tratado no livro e a importância de equilibrar o tempo gasto com a leitura propriamente dita com o tempo consumido em ensinar o aluno a ler. Este equilíbrio parece estar longe de ocorrer na maioria das escolas brasileiras. O Prefácio é assinado pelas duas autoras que tecem breves considerações sobre suas vivências docentes e dão orientação para uso do livro.

Os capítulos foram organizados em três sessões. A primeira é dedicada aos estudos de gênero e foi composta por sete capítulos. O primeiro deles foi redigido por Giorgis e trata da exploração visual de imagens em livros de figuras, que, para muitas crianças, é o primeiro contato com a arte e a leitura. Destaca a importância de preparar pais e professores para trabalhar e mesmo criar este tipo de material. Destaca também a necessidade de pesquisar os vários aspectos e usos deste tipo de livro.

O capítulo seguinte trata do uso de novelas, gráficos e quadrinhos como recursos para se trabalhar a compreensão e o conhecimento do conteúdo. Foi Botzakis quem o redigiu. O autor justifica e explica muito bem o uso destes recursos e demonstra como usá-los em sala de aula inclusive para ensinar Ciências e Análise de conteúdo, que a criança também precisa começar a aprender de forma sistemática no Ensino Fundamental.

O capítulo 3 trata do uso dos livros de pintura pós-moderna e dá as características comuns a este tipo de livro: não linearidade, ambiguidade, uso da paródia e da intertextualidade. Mostra a relevância de usar este tipo de material no currículo de leitura e oferece estratégias para contornar eventuais problemas.

Giblin escreveu o quarto capítulo, no qual enfoca o uso de livros de não ficção como instrumento para levar à leitura e apresenta estratégias para a leitura de informação técnica e científica, imprescindíveis na atualidade.

Harrison trata do uso da poesia como um recurso nem sempre usado e, quando isto ocorre, nem sempre é feito de maneira eficiente. Lembra a importância de serem feitas escolhas compatíveis com o tipo de poemas que as crianças gostam: que elas entendam, sejam narrativos, tenham ritmo sonoro e que se relacionem com suas vivências pessoais. Oferece boas pistas de como fazer uso adequado deste tipo de texto.

As coleções de livros que apresentam textos sequenciais, hoje, como no passado, constituem elemento de impacto entre as crianças que tendem a considerá-los de leitura agradável e podem servir ao desenvolvimento da competência em leitura. É o que McGil- Franzen discute no capítulo 6, em que também apresenta exemplos e estratégias para uso de tais materiais.

Yokota escreveu o último capítulo da primeira parte e retoma a importância de recorrer a textos literários de culturas diferentes, sendo importante relacioná-los tendo em vista a possibilidade de intercâmbio cultural. Isto pode facilitar a inclusão social das pessoas culturalmente diferentes. Faz alertas e sugestões importantes para se alcançar bons resultados, não apenas na leitura, como na inclusão social.

A segunda parte do livro enfoca o papel da literatura na sala de aula e engloba seis capítulos. O de número oito foi redigido por Roser, Roach e Horsey, os quais relatam suas vivências bem sucedidas no uso de textos literários em sala de aula. Tiveram experiência com crianças de risco (pobres, imigrantes aprendendo inglês como segunda língua, latinos e alunos origem africana), mas que evoluíram muito bem no programa. Descrevem a sequência das atividades, os recursos e estratégias, destacando a aprendizagem de valores culturais, éticos e espirituais, ao mesmo tempo que aprendiam a ler e a gostar da atividade.

No capítulo seguinte, Hansen trata da escrita em decorrência de textos lidos previamente que servem de suporte para orientar a escrita de crianças, o que nem sempre é devidamente concretizado em sala de aula para ampliar o domínio vocabular, perceber as diferenças entre os vários tipos de textos, compreender as intenções do autor e as escolhas redacionais que fez. Também é importante prever tempo e espaço para que os alunos conversem sobre os textos lidos. É imprescindível que tenham contato com textos científicos, conheçam suas características e aprendam a usá-los em seus trabalhos respeitando a ética e as normas do discurso científico, o que o docente precisa saber como fazer. Apresenta sugestões de fácil aplicação em qualquer sala de aula.

Liang e Galda enfocam, no capítulo 10, a questão da compreensão, imprescindível para uma leitura prazerosa. Consideram que os esforços de entidades científicas e do governo (USA, UK), na última década, parecem ter tornado os professores mais cientes da necessidade de ensinar os alunos a usarem estratégias de compreensão. Apresentam técnicas de baixo custo e alta eficiência, como: aprender a responder; práticas de previsão textual que devem ter início na pré-escola; técnica de visualização de texto, entre outras.

A seguir, o leitor encontra o texto de Rhodes e Smith sobre o desenvolvimento da aprendizagem de áreas de conteúdo em crianças e jovens usando a literatura, incluindo textos e ilustrações que oferecem exemplos em Ciências, Matemática e Estudos Sociais.

O capítulo 12 é de Wooten e White e fornece boas orientações para ensinar os alunos a buscarem e a fazerem correções entre a leitura e a escrita. Descreve, sucintamente, uma estratégia de seis passos para a qual há várias demonstrações de eficiência. Gradativamente, o aluno aprende a fazer as conexões dando significado ao ler-escrever.

Gilrans escreveu o último capítulo da segunda parte que trata do aprender a escolher livros protegendo-se dos apelos de autores e editores sobre as crianças e os professores, sem que muitas vezes nada acrescentem ou mesmo sejam negativos. Discute a importância de se pesquisar cientificamente os livros e divulgar os resultados junto a pais, professores e bibliotecários. De qualquer forma, sempre é necessário que o professor conheça estratégias para que os alunos tornem-se leitores/escritores de textos literários e informativos e saibam avaliar o material lido ou a ser lido.

A última parte do livro é composta por dois capítulos que tratam da leitura além das paredes da sala de aula, para a qual os bibliotecários, pais e professores precisam estar atentos e ativos. O primeiro capítulo foi elaborado por Bush e trata da colaboração estreita entre professores e bibliotecários. Descreve um modelo de colaboração muito interessante e produtivo, mas que requer a presença de um bibliotecário escolar competente, produtivo, motivado e cooperativo. No Brasil, a presença de um bibliotecário na escola é uma raridade.

O capítulo final é um texto de Degener que trata do uso da literatura para estabelecer a conexão escola-família. Descreve algumas possibilidades fáceis de concretizar em qualquer contexto socioeconômico e cultural, desde que se saiba como fazer, caso contrário corre-se o risco de afastamento, o que é certamente um prejuízo inestimável para as crianças, os jovens, as famílias, as escolas e os países.

Completam a obra índices que facilitam a consulta de tópicos específicos. A bibliografia de suporte é de qualidade e o texto é de interesse para pesquisadores, docentes e pais. No que concerne aos pesquisadores e docentes, vale destacar que o livro é de interesse não apenas para os preocupados com o domínio da língua. Professores de Ciências e de Matemática muito podem melhorar seu desempenho lendo o referido texto.

Recebido em: 23/03/2010

Aprovado em: 02/06/2010

Geraldina Porto Witter (gwitter@uol.com.br)

Universidade Camilo Castelo Branco, São Paulo - SP

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Out 2010
  • Data do Fascículo
    Jun 2010
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