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Histórias de educação: viagens e “viagens”

Education Stories: trips and “trips”

Historias de educación: viajes y viajes

Souza, B. P. . (2017) Histórias de educação: Viagens e “viagens”.São Paulo: Belo Dia editora, 59 p.

A obra da qual se trata esta resenha mostra o olhar sensível, ético e estético da autora sobre questões educacionais, mas mais do que isto, oferece ao leitor a chance de ampliar o seu campo de visão não apenas por meio do texto escrito, mas também através de fotografias. Além disso, a autora teve o cuidado de deixar páginas em branco, nomeadas de “espaço livre” para que o leitor também tivesse oportunidade de devanear sobre suas “viagens”.

O livroSouza, B. P . (2017) Histórias de educação: Viagens e “viagens”. São Paulo: Belo Dia editora, 59 p. “Histórias de educação: viagens e “viagens” é composto por sete emocionantes histórias, a saber: “O condor”; “Cleide e Cleusa: mulheres no espelho”; “Alice e a internet”; “O frio do quente, o quente do frio”; “Siri na lata: três histórias de candidatos a TDAH”; “O caçador” e, por último, “Calisto e o pé de caju”.

A primeira história que compõe a obra é “O condor”. Condor é uma ave de rapina, de grande porte e com hábito diurno. A fotografia que ilustra a narrativa foi registrada pela própria autora e possibilita uma viagem até a Patagônia, evidenciando uma paisagem gélida. No entanto, o que existe por detrás do gelo e do frio? A autora narra o que aprendeu com Leo, nativo do local acima descrito. Leo aproveita intensamente a imensidão de seu lar para aprender mais sobre o mundo e sobre si mesmo. Ao apresentar a trajetória, o engajamento político e a paixão por aprender de Leo, a autora evidencia a necessidade de apreender o mundo além das quatro paredes de uma sala de aula.

“Cleide e Cleusa: mulheres no espelho” é a segunda história contada pela autora e a fotografia que a ilustra é da Chapada Diamantina, localizada no estado baiano. A narrativa é protagonizada por Cleide e Cleusa, duas mulheres com origens e histórias semelhantes, mas que a “roda viva” da vida proporcionou somente a uma dela a chance de saber ler e escrever: Cleusa. O foi condutor desta narrativa escancara a realidade de um mundo letrado, no qual é preciso saber ler e escrever para ser aceito na sociedade. A autora evidencia a necessidade de proporcionar “o contato com as letras em uma situação que tem sentido, conectadas com a vida. Tudo envolto de terna amorosidade” (p. 23).

Na terceira história “Alice e a internet” é mostrada, de um jeito peculiar e inusitado, a relação que os seres humanos têm desenvolvido com a internet e a tecnologia, que exerce ao mesmo tempo um movimento de afastamento e aproximação entre as pessoas. Outro desdobramento dessa relação gira em torno do entendimento dos conceitos de tempo e espaço. A fotografia que compõe o cenário da narrativa é a Nova Zelândia, dando chance ao leitor de viajar pela longa estrada representada na imagem.

“O frio do quente, o quente do frio” é a quarta história da obra, ilustrada por uma fotografia da Finlândia, pelas lentes da própria autora, mostrando uma paisagem glacial, árvores cobertas por neve. A autora narra a necessidade de aprender com as crianças e de legitimar a voz delas em todos os espaços, inclusive no ambiente escolar.

Na quinta narrativa, “Siri na lata: três histórias de candidatos a TDAH”, os personagens, inspirados em pessoas reais: Guillermo Beatón (presidente da Cátedra Vigotsky da Faculdad de Psicologia da Universidad de la Havana) e Silvério Nery (fundador da ex-presidente da Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo e da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada), vivenciam situações, dentro da escola e no consultório médico, que não legitimam o status de ser criança: que pula, brinca, corre, conversa e descobre o mundo por meio da imaginação e da criatividade. Três personagens que são candidatos a ganhar uma marca profunda em suas histórias, o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A autora chama a atenção do leitor sobre a medicalização da vida como uma estratégia de controle biopolítico em que há o “impedimento de novos e melhores mundos” (p.41).

“O caçador” é a sexta história da obra e é ilustrada por uma fotografia do Rio Negro, no Amazonas. Calungão é o personagem principal, um homem simples e humilde, que navega pelo rio para caçar e garantir a subsistência de sua família. Armado com uma espingarda, o seu intuito é abater uma anta. Seu objetivo é alcançado; no entanto, Calungão fica paralisado, sente dor e culpa, ao ver o filhote de sua caça aparecendo logo em seguida ao abatimento. Neste conto, a autora convida o leitor a levar em consideração e compreender o contexto de determinada situação, uma vez que a “experiência da integralidade é favorecida em conteúdo e forma” (p.47).

O cenário da sétima e última história da obra, “Calisto e o pé de caju”, está localizado na Província de Niassa, em Moçambique, e foi fotografado pelas lentes da autora. O professor Calisto, personagem principal da narrativa, ministra aulas para 82 crianças de 06 anos e ensina ao leitor que sala de aula vai muito além de quatro paredes, pode ser, por exemplo, sob a sombra de um pé de caju. Calisto tem uma postura sensível no sentido de que é necessário também aprender e não apenas ensinar, é possível reinventar outros modos de ser e estar no mundo. A autora instiga o leitor a pensar sobre o seu papel na transformação social.

A leitura deste livro é uma experiência reflexiva incrível e um convite para a reinvenção de si mesmo e dos modos de se pensar Educação! A autora oferece o bilhete da passagem, mas quem escolhe o destino é o próprio leitor!

  • Souza, B. P . (2017) Histórias de educação: Viagens e “viagens” São Paulo: Belo Dia editora, 59 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2018

Histórico

  • Recebido
    08 Abr 2018
  • Aceito
    25 Abr 2018
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