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“Na essência somos iguais, na diferença nos respeitamos”: Estágio em Psicologia Escolar

“In essence we are equal, in the difference we respect each other”: internship in School Psychology

“En la esencia somos iguales, en la diferencia nos respetamos”: Pasantía en Psicología Escolar

Resumo

Este artigo relata uma experiência de estágio em Psicologia Escolar, envolvendo alunos de Educação Infantil em uma escola da rede privada de ensino da cidade de Teresina, Piauí. A partir das observações participantes e escuta ativa dos atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem, percebeu-se a necessidade de trabalhar - em uma perspectiva de promoção de saúde e orientação - a temática da educação inclusiva e diferenças individuais. Para tanto, foram realizadas quatro atividades de caráter lúdico, juntamente a roda de conversa, preconizando pela linguagem adequada à idade destas. Ao final foi possível perceber uma produção de sentidos e troca de experiências a partir das potencialidades e conhecimentos trazidos pelos alunos.

Palavras-chave:
Inclusão escolar; educação infantil; psicologia escolar

Abstract

This article reports an internship experience in School Psychology, involving students of Early Childhood Education in a private school in the city of Teresina, Piauí. From the participant observations and active listening to the actors involved in the teaching-learning process, It was noticed that the need to work - from a perspective of health promotion and orientation - the theme of inclusive education and individual. In order to do so, four activities of playful character have carried out, together with the talk wheel, advocating for language appropriate to their age. At the end it was possible to perceive a production of meanings and exchange of experiences from the potentialities and knowledge brought by the students.

Keywords:
School inclusión; child education; school psychology

Resumen

En este artículose relata una experiencia de pasantía en Psicología Escolar, abarcando alumnos de Enseñanza Infantil en una escuela de la red privada de enseñanza dela ciudad de Teresina, Piauí. A partir de las observaciones participantes y escucha activa de los actores involucrados en el proceso enseñanza-aprendizaje, se percibióla necesidad de trabajar - en una perspectiva de promoción de salud y orientación - la temática de la educación inclusiva y diferencias individuales. Para tanto, se realizaron cuatro actividades de carácter lúdico, juntamente la rueda de charla, preconizando por el lenguaje adecuado a la edad de estas. Al final fue posible percibir una producción de sentidos y cambio de experiencias a partir de las potencialidades y conocimientos traídos por los alumnos.

Palabras clave:
Inclusión escolar; educación infantil; psicología escolar

A educação infantil da forma como conhecemos é, na verdade, algo muito recente, pois por muito tempo a família e os grupos sociais foram os únicos meios de educar uma criança, prezando, em especial, as questões relacionadas às tradições e ao tornar-se adulto (Craidy & Kaercher, 2009Craidy, C. M.; Kaercher, G. E. P. S. (2009). Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora.).

A entrada das mulheres no mercado de trabalho, atrelada à crescente urbanização tornou necessário um espaço em que as crianças, sem a presença constante dos pais, pudessem passar por esse processo de educação (Ulup & Barbosa, 2012Ulup, L.; Barbosa, R. B. (2012). A formação profissional e a ressignificação do papel do Psicólogo no cenário escolar: uma proposta de atuação - de estagiários a psicólogos escolares. Psicologia, ciência e profissão, 32(1), 250-263.). O caráter pedagógico que passou a apresentar trouxe à tona inúmeras questões, como a discussão acerca do cuidado em partir de uma realidade própria do alunado, com atividades que englobem e repercutam significativamente nessa vivência singular.

A LDB caracteriza a educação infantil como uma etapa em que acontece o desenvolvimento integral da criança, sendo um período crítico para ascrianças com deficiência (Lei nº 9394/96LeiLei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996 (1996, 20 de dezembro). Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC. Recuperado: 12 jan. 2017. Disponível:Disponível:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm .
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, 1996). É um momento ainda de inserção em grupos para além do familiar. A criança tem contato com novas realidades, novos desafios, exigências, normas e regras, bem como com diversas outras pessoas, quer sejam de sua idade, quer sejam adultas.

Ao entrar em contato com essa diversidade do ser humano deve-se, pois, ter o cuidado para que se sintam acolhidas em suas diferenças. Assim, a inclusão é uma temática que precisa ser discutida com bastante delicadeza, já que é na infância que o ser humano mais se apropria de comportamentos dos adultos e adquire repertórios a serem levados para a vida. É em meio a esse movimento novo de inclusão que a escola tem que delimitar o seu papel nesse processo contribuindo acercada educação do deficiente.

A educação inclusiva visa inserir no ensino regular, pessoas com deficiência. Essainserção está assegurada pela constituição federal no artigo 208°, que garante seu direito. A Lei 13.005 (2014)Lei Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 (2014, 25 de junho). Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União. Recuperado: 12 jan. 2017, 26 jun. 2017. Disponível: Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm .
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ainda garante na meta 4:

à população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.

Segundo Carneiro (2012Carneiro, R. U. C. (2012). Educação inclusiva na educação infantil.Práxis Educacional, 81-95.), é esperada da escola inclusiva competência para desenvolver o processo ensino-aprendizagem, capaz de oferecer aos alunos com deficiência condições de se desenvolveremacademicamente. Então, considerando os primeiros anos como cruciais no desenvolvimento da criança, faz-se necessária a inserção do processo de inclusão, já na primeira etapa de sua vida acadêmica, garantindo que a criança com deficiência terá acesso ao seu desenvolvimento integral dentro da escola regular, junto às demais crianças, proporcionando assim, condições para seu desenvolvimento.

O presente relatotem como objetivo descrever a experiência referente ao estágio curricular em Psicologia Escolar, compreendendo esta como uma área de atuação profissional que toma a escola e as relações que ali se estabelecem como foco de ação, visando facilitar o processo ensino-aprendizagem - que não acontece sem que se leve em consideração a relação professor-aluno, o conteúdo e o contexto (incluindo aqui interesses e necessidades do alunado) - e o desenvolvimento singular do sujeito, ao mesmo tempo proporcionando sua inserção.

A proposta de estágio foi apresentada a uma escola da cidade de Teresina-PI.As primeiras semanas foram marcadas por momentos de observação participante e escuta ativa para levantamento das potencialidades e/ou questões em que a presença do psicólogo poderia contribuir ativamente. Como a escola recebe crianças com deficiência ou dificuldade de aprendizagem, a partir das observações percebeu-se a necessidadede trabalhar no âmbito de educação inclusiva.

Foram feitastrês atividades para abordar esse aspecto. A primeira - dividida em dois dias - teve como objetivo trabalhar as diferenças individuais com as crianças através de um vídeo educativo “O Patinho feio”. Após a apresentação do vídeo foram realizados questionamentos a respeito de como compreenderam a história, instigando a participação dos alunos a comentarem sobre o vídeo, levando a temática a ser significada através do dia-a-dia que vivenciam.

No primeiro dia, a intervenção foi realizada com as duas turmas de maternal, e percebeu-se ao longo das discussões e questionamentos, a ativa participação das crianças e a compreensão do que era proposto: a partir do vídeo levantar significações acerca das diferenças individuais que os cercam diariamente e como lidar com elas. Na turma A, foi possível perceber-se que compreenderam o tema proposto; já na turma B, poucas crianças participaram ativamente das atividades, muitas ficando dispersas na sala.

Já no segundo dia de intervenção, foi o momento das turmas de nível I e II da Educação Infantil. Percebeu-se que os alunos desse nível já compreendiam o tema, pois à medida que foram feitos questionamentos, apresentavam respostas assertivas prontas. Ao final da discussão um aluno relatou “não importa se é feio ou se é bonito o que importa é o coração”, assim comooutra aluna que resumiu o conteúdo do vídeo relatando a necessidade de respeitar as diferenças de cada pessoa. Com base em falas como essas, pode-se perceber que as diferenças individuais são trabalhadas nessa turma.

Na segunda atividade, foi realizada a contação de histórias, utilizando fantoches com os alunos da Educação Infantil, em um momento de “acolhida”, evento este em que as crianças estão sentadas e em círculos no pátio da escola. Foram escolhidas três crianças e uma professora para fazer parte da história, junto com as duas estagiárias, e contou-se a história de um grupo de amigos que possuíam diferenças entre eles, porém isso não importava, eles eram amigos. As crianças que assistiam prestavam atenção, enquanto aquelas que participavam do elenco construíam uma história.

Percebeu-se que tanto as crianças quanto a professora e a plateia que participavam da atividade conseguiram compreender a moral da história, trazendo questões de suas próprias vivências, como a necessidade do respeito e da amizade, buscando aspectos negativos na diferença entre os personagens.

Outra atividade proposta para a escola foi “Dia D: valorização às diferenças individuais e inclusão escolar”, em que foi proposto para que a comunidade escolarque participasse dando sua opinião sobre o tema, falando e escrevendo em poucas palavras, para que pudessem ser coladas no mural e expostas no pátio da escola. Ficou claro que muitos atores do ambiente escolar, especialmente professores, preferiram não comentar sobre o tema, além do desconhecimento de muitos alunos, que afirmavam não saber do que se tratava arespeito do tema de inclusão ou as diferenças individuais.

O encerramento aconteceu com uma atividade em cadaturma, em que foi utilizado um urso de pelúcia parademonstrar uma despedida, usando o abraço como exemplo para as crianças, em seguida foi solicitado que elas também se despedissem do “nosso amigo” da forma como elas achassem melhor. Em seguida, foi passado o urso para cada um, inclusive para as professoras. E as despedidas foram desde abraços a apertos de mãos ou carinhosna cabeça. Ao final, explicou -se que, assim como “nosso amigo”, as estagiárias também estavam indo embora e que eles repetissem os gestos uns com os outros. Para concluir, foram feitos os agradecimentos e distribuídos pirulitos para cada uma das crianças, em agradecimento por contribuírem com a experiência.

A partir das atividades lúdicas - que despertam mais a curiosidade infantil e facilita a compreensão - e levando-se em consideração o processo ensino-aprendizagem, foi possível perceber que os alunos conseguiram apreender e ressignificaros conteúdos discutidos,pensando-os a partir de seus próprios contextos e nas relações estabelecidas no ambiente escolar, questionando, exemplificando e, ainda, ensinando.

Considerações Finais

A experiência vivenciada em campo permitiu um amplo vislumbramento de perspectivas e possibilidades a serem percorridas no campo da Psicologia Escolar. Percebeu-se na prática, que a escola é um espaço de co-produções de sentidos, devendo o trabalho do psicólogo estar atento às singularidades e à necessidade de partir de um aspecto de promoção de saúde.

Desta forma, com base nofundamento teórico acerca da temática de educação inclusiva, foi possível adentrar não em uma perspectiva de imposição de conhecimentos ou mesmo de visualização de fragilidades, mas de, junto com os atores da escola, trabalhar potencializando aquilo que já se encontra encaminhado. Tal ponto torna-se mais visível ao se deparar com os conhecimentos abordados através das atividades e o engajamento dos alunos que foram ativos na construção de sentidos sobre as diferenças individuais no decorrer do estágio.

A partir das discussões das atividades, do lúdico presente nas atividades e dos ensinamentos aprendidos com as crianças foram se produzindo teias de significações à experiência com a Psicologia na escola, dando espaço a importantes questionamentos e aprendizados.

Referências

  • Carneiro, R. U. C. (2012). Educação inclusiva na educação infantil.Práxis Educacional, 81-95.
  • Craidy, C. M.; Kaercher, G. E. P. S. (2009). Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora.
  • LeiLei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996 (1996, 20 de dezembro). Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC. Recuperado: 12 jan. 2017. Disponível:Disponível:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm
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  • Lei Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 (2014, 25 de junho). Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União. Recuperado: 12 jan. 2017, 26 jun. 2017. Disponível: Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm
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  • Ulup, L.; Barbosa, R. B. (2012). A formação profissional e a ressignificação do papel do Psicólogo no cenário escolar: uma proposta de atuação - de estagiários a psicólogos escolares. Psicologia, ciência e profissão, 32(1), 250-263.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Set 2018
  • Data do Fascículo
    Set 2018

Histórico

  • Recebido
    02 Fev 2017
  • Aceito
    20 Mar 2017
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