Acessibilidade / Reportar erro

PERCEPÇÃO DA CRIATIVIDADE EM ALUNOS E PROFESSORES BRASILEIROS

Percepción de la Creatividad en Alumnos y Profesores Brasileños

RESUMO

Apesar dos avanços científicos na compreensão da criatividade, ainda restam dúvidas na definição deste constructo por alunos e professores. Este estudo teve como objetivo identificar a percepção da criatividade em alunos (n=74) e professores (n=24). A média de idade foi de 30,5 anos, em sua maioria mulheres (70,41%), de escolaridade com nível superior (75%), da região Sudeste (58%). O instrumento utilizado foi um questionário online com perguntas abertas sobre a percepção da criatividade. Por meio da análise de conteúdo, verificou-se que os participantes descrevem a criatividade através de características cognitivas (fluência, flexibilidade, elaboração e originalidade), sendo que os professores mostraram maior ênfase ao ambiente criativo, enquanto alunos acreditam que a pessoa e o processo sejam aspectos que podem estimular a expressão da criatividade. Os resultados se alinham com outros encontrados na literatura, reforçando a importância de que a criatividade seja inserida na formação dos professores e trabalhada junto aos alunos.

Palavras-Chave:
criatividade; educação; análise de conteúdo

RESUMEN

A pesar de los avances científicos en la comprensión de la creatividad, aún hay dudas en la definición de este constructo por alumnos y profesores. Este estudio tuvo por objetivo identificar la percepción de la creatividad en alumnos (n=74) y profesores (n=24). El promedio de edad fue de 30,5 años, en mayoría mujeres (el 70,41%), de escolaridad con nivel universitario (el 75%), de la región Sudeste (el 58%). El instrumento utilizado fue un cuestionario online con preguntas abiertas sobre la percepción de la creatividad. Por intermedio del análisis de contenido, se verificó que los participantes describen la creatividad a través de características cognitivas (fluencia, flexibilidad, elaboración y originalidad), siendo que los profesores mostraron mayor énfasis al ambiente creativo, mientras alumnos creen que la persona y el proceso sean aspectos que pueden estimular la expresión de la creatividad. Los resultados se alinean con otros encontrados en la literatura, reforzando la importancia de que la creatividad sea inserida en la formación de los profesores y trabajada junto a los alumnos.

Palabras clave:
creatividad; educación; análisis de contenido

ABSTRACT

Despite scientific advances in the understanding of creativity, there are still doubts in the definition of this construct by students and teachers. This study aimed to identify the perception of creativity in students (n=74) and teachers (n=24). The average age was 30.5 years, mostly women (70.41%), with higher education (75%), from the Southeast region (58%). The instrument used was an online questionnaire with open questions about the perception of creativity. Through content analysis, it was found that participants describe creativity through cognitive characteristics (fluency, flexibility, elaboration and originality), with teachers showing greater emphasis on the creative environment, while students believe that the person and the process are aspects that can stimulate the expression of creativity. The results are in line with others found in the literature, reinforcing the importance that creativity is inserted in the training of teachers and worked with students.

Keywords:
creativity; education; content analysis

INTRODUÇÃO

A criatividade é definida como um construto complexo e multidimensional, que envolve a interação entre habilidade e o processo pelo qual um indivíduo ou grupo produz um resultado ou produto que é considerado, ao mesmo tempo, novo e útil para um determinado contexto (Plucker, Beghetto, & Dow, 2004Plucker, J. A.; Beghetto, R. A.; Dow, G. T. (2004). Why isn’t creativity more important to educational psychologists? Potentials, pitfalls, and future directions in creativity research. Educational Psychologist, 39(2), 83-96. https://doi.org/10.1207/s15326985ep3902_1
https://doi.org/10.1207/s15326985ep3902_...
). Enquanto potencial, tal característica se encontra presente em todos os indivíduos, podendo se manifestar em diferentes graus e formas (Nakano, 2019Nakano, T. C. (2019). Avaliação psicológica e criatividade. In M. N. Baptista; M. Muniz; C. T. Reppold; C. H. S. da S. Nunes; L. F. Carvalho; R. Primi; A. P. P. Noronha; A. G. Seabra; S. M. Wechsler; C. S. Hutz; L. Pasquali (Eds.), Compêndio de Avaliação Psicológica(pp. 364-375). Petrópolis, RJ: Vozes.), dependendo das condições ambientais encontradas. Especialmente a escola tem sido ressaltada como um ambiente privilegiado para o seu desenvolvimento (Morais et al., 2017Morais, M. F.; Azevedo, I.; Fleith, D. S.; Alencar, E. M. L. S.; Almeida, L. S.; Araújo, A. M. (2017). Teaching Practices for Creativity at University: A Study in Portugal and Brazil. Paidéia, 27(67), 56-64. https://doi.org/10.1590/1982-43272767201707
https://doi.org/10.1590/1982-43272767201...
). É nesse contexto que a pesquisa aqui se foca.

Com as tendências mais recentes da educação concentradas no enfrentamento dos desafios impostos pela globalização, o estudo da criatividade na educação tem chamado a atenção de psicólogos, pesquisadores e educadores de diferentes países gerando, consequentemente, um crescente corpo de pesquisa sobre a promoção da criatividade na sala de aula (Cheung & Mok, 2018Cheung, R. H. P.; Mok, M. M. C. (2018). Early Childhood Teachers’ Perception of Creative Personality as a Predictor of Their Support of pedagogy important for fostering Creativity: A Chinese Perspective. The Creativity Research Journal, 30(3), 276-286. http://doi.org/10.1080/10400419.2018.1488345
https://doi.org/10.1080/10400419.2018.14...
). Diante de uma crescente conscientização sobre os benefícios da criatividade em todos os níveis educacionais, a escola deixou de ser considerada um local responsável pelo fornecimento de informações, para tornar-se um local que deve possibilitar o desenvolvimento completo individual sendo que, dentro desse contexto, os professores passaram a ser considerados um dos principais responsáveis por essa mudança (Al-Dababneh, Al-Zboon, & Ahmad, 2019Al-Dababneh, K. A.; Al-Zboon, E. K.; Ahmad, J. (2019). The creative environment: teachers’ perceptions, self-efficacy, and teaching experience for fostering children’s creativity. Early Child Development and Care , 189(10), 1620-1637. http://doi.org/10.1080/03004430.2017.1400969
https://doi.org/10.1080/03004430.2017.14...
).

No entanto, à medida em que o estímulo à criatividade em sala de aula ganha cada vez mais importância, especialmente nas políticas educacionais, o que se vê, é que tais reformas políticas têm promovido pouco efeito sobre as práticas pedagógicas reais na sala de aula (Guo, Tong, & Pang, 2020Guo, J.; Tong, Y.; Pang, W. (2020). Teacher’s perceptions of student’s creativity in China’s classrooms: the role of student’s academic achievement and misbehaviors. The Journal of Creative Behavior , 0(0), 1-13. http://doi.org/10.1002/jocb.448
https://doi.org/10.1002/jocb.448...
). Tal situação pode ser compreendida, segundo os autores, diante da ênfase excessiva nos testes de desempenho, bem como a preferência por estudantes bem comportados. A necessidade de mais pesquisas sobre as concepções de criatividade dos professores e seu papel no desenvolvimento criativo dos alunos se mostra presente (Andilou & Murphy, 2010).

A visão de criatividade segundo professores é um tema importante a ser investigado se considerarmos que tais profissionais são responsáveis pela integração e promoção dessa característica nos ambientes educacionais em que atuam, aumentando a sua expressão ao fornecerem condições, informações, conhecimentos e habilidades adequadas (Saban & Özcan, 2020Saban, A. I.; Özcan, S. E. (2020). An investigation of pre- school teachers’ creativity perceptions through metaphors. Pedagogies: An International Journal. Htttp://doi.org/10.1080/1554480X.2020.1781640
https://doi.org/10.1080/1554480X.2020.17...
). O cenário se mostra marcado pela existência de uma desconexão entre a compreensão de criatividade dos professores e a sua aplicação na sala de aula (Beghetto, 2005Beghetto, R. A. (2005). “Does Assessment Kill Student Creativity?”. The Educational Forum 69 (3), 254-263. http://doi.org/10. 1177/0022429410379916
https://doi.org/10. 1177/002242941037991...
). Pesquisas anteriores demonstraram que os professores, de modo geral, tendem a agir de modo a desencorajar os alunos a agirem de maneira criativa, mesmo que reconheçam que a criatividade é uma característica importante (Langley, 2018Langley, D. W. (2018) Students’ and teachers’ perceptions of creativity in middle and high school choral ensembles. Music Education Research, 20(4), 446-462. http://doi.org/10.1080/14613808.2018.1433150
https://doi.org/10.1080/14613808.2018.14...
). Consequentemente, o autor destaca que a percepção dos professores acaba por influenciar, diretamente, as percepções dos alunos.

Nesse sentido, apesar de os professores estarem convencidos da importância da criatividade, muitos não se sentem responsáveis pelo aprimoramento dessa característica, não entendem corretamente o que é criatividade ou acabam caracterizando, de forma errônea, os alunos criativos. Consequentemente, os professores não se mostram aptos a reconhecerem e nem desenvolverem o potencial criativo de seus alunos (Gralewski & Karwowski, 2016Gralewski, J.; Karwowski, M. (2016). Are teacher’s implicit theories of creativity related to the recognition of the student’s creativity? The Journal of Creative Behavior, 52(2), 156-167. http://doi.org/10.1002/jocb.140
https://doi.org/10.1002/jocb.140...
), considerando a criatividade como um conceito bastante confuso e, do qual, possuem conhecimento não aprofundado (Hana & Hacène, 2017Hana, N.; Hacène, H. (2017). Creativity in the EFL classroom: exploring teacher’s knowledge and perceptions. Arab World English Journal, 8(4). Recuperado dehttps://ssrn.com/abstract=3094540
https://ssrn.com/abstract=3094540...
).

Alencar (2007Alencar, E. M. L. S. (2007). Criatividade no contexto educacional: três décadas de pesquisa. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23(spe), 45-49. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722007000500008
https://doi.org/10.1590/S0102-3772200700...
) constatou que, apesar do reconhecimento da importância de desenvolver a criatividade no contexto educacional, ainda eram frequentes mitos e concepções equivocadas sobre o construto, entre professores e estudantes. Entre os principais equívocos, esse construto ainda continua sendo tomado como sinônimo de inteligência (Brito, Vanzin, & Ulbricht, 2009Brito, R. F.; Vanzin, T.; Ulbricht, V. (2009). Reflexões sobre o conceito de criatividade: sua relação com a biologia do conhecer. Ciências & Cognição, 14(3), 204-213. Recuperado dehttp://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/96
http://www.cienciasecognicao.org/revista...
) ou de inovação (Zhou, Wang, Song, & Wu, 2017Zhou, J.; Wang, X. M.; Song, L. J.; Wu, J. (2017). Is it new? Personal and contextual influences on perceptions of novelty and creativity. Journal of Applied Psychology, 102(2), 180-202.), sendo comum encontrar compreensões que reduzem as características criativas somente a aspectos não-cognitivos, como por exemplo, a emoção ou a imaginação (Oliveira & Lima, 2017Oliveira, A. B. F.; Lima, A. I. B. (2017). Vigotski e os Processos Criativos de Professores ante a Realidade Atual. Educação & Realidade, 42(4), 1399-1419. https://doi.org/10.1590/2175-623662025
https://doi.org/10.1590/2175-623662025...
; Silva, Silva, & Tuleski, 2012Silva, R. E. L.; Silva, R.; Tuleski, S. C. (2012). Emoção, atividade e criatividade: possíveis aproximações. Imagens da Educação , 2(1), 61-68. https://doi.org/10.4025/imagenseduc.v2i1.14549
https://doi.org/10.4025/imagenseduc.v2i1...
) ou ainda, em outro extremo, com uma forte ênfase aos componentes cognitivos da criatividade (Karkowski, Gralewskib, Patstonc, Cropley, & Kaufman, 2020).

Na educação básica, a percepção da criatividade se mostra especialmente importante na formação e atuação do professor (Nuñes & Santos, 2012). Isso porque a criatividade pode ser incentivada ou bloqueada de acordo com as crenças e atitudes que os professores possuem sobre esse construto (Beghetto, 2013Beghetto, R. A. (2013). Killing ideas softly? The promise and perils of creativity in the classroom. Charlotte, NC: Information Age.). A relevância da criatividade se baseia no fato de que ela tem sido considerada uma capacidade essencial para o enfrentamento dos desafios e dilemas que marcam a sociedade atual (Lassig, 2019Lassig, C. (2019) Creativity talent development: Fostering creativity in schools. In S.R. Smith (Ed.), Handbook of giftedness and talent development in the Asia-Pacific (pp. 1-25). Springer, Singapore.), atuando de modo a possibilitar que os problemas e dificuldades possam ser interpretados como oportunidades (Beketayev & Runco, 2016Beketayev, K.; Runco, M. A. (2016). Scoring divergent thinking tests by computer with a semantics-based algorithm. Europe’s Journal of Psychology, 12(2), 210-220. doi:10.5964/ejop.v12i2.1127
https://doi.org/10.5964/ejop.v12i2.1127...
). Igualmente, tal característica desempenha importante papel relacionado ao desenvolvimento pessoal e intelectual, aumento do autoconceito, autoestima, desenvolvimento social, otimismo, persistência na resolução de problemas, empatia, motivação e bem-estar pessoal (Al-Dababneh, Al’Zboon, & Ahmad, 2019Al-Dababneh, K. A.; Al-Zboon, E. K.; Ahmad, J. (2019). The creative environment: teachers’ perceptions, self-efficacy, and teaching experience for fostering children’s creativity. Early Child Development and Care , 189(10), 1620-1637. http://doi.org/10.1080/03004430.2017.1400969
https://doi.org/10.1080/03004430.2017.14...
).

No entanto, ainda que a importância da criatividade venha sendo enfatizada na sala de aula, a percepção dos professores sobre os estudantes criativos pouco mudou nos últimos 20 anos, mostrando que tais estudantes apresentam, segundo a visão dos professores, características indesejáveis e negativas em sala de aula (Kettler, Lamb, Willerson, & Mullet, 2018Kettler, T.; Lamb, K. N.; Willerson, A.; Mullet, D. R. (2018). Teachers’ Perceptions of Creativity in the Classroom. The Creativity Research Journal, 30(2), 164-171. http://doi.org/10.1080/10400419.2018.1446503
https://doi.org/10.1080/10400419.2018.14...
). Considerando-se que tanto professores quanto alunos têm muito a ganhar com a promoção da criatividade na sala de aula, um questionamento se faz importante: as concepções de criatividade dos professores são precisas ou equivocadas? A investigação desse aspecto se mostra essencial para entender a melhor forma de tornar as salas de aula ricas em práticas relacionadas à criatividade (Mullet, Willerson, Lamb, & Kettler, 2016Mullet, D. R.; Willerson, S.; Lamb, K. N.; Kettler, T. (2016). Examining teacher perceptions of creativity: a systematic review of the literature. Thinking Skills and Creativity, 21, 9-30. https://doi.org/10.1016/j.tsc.2016.05.001
https://doi.org/10.1016/j.tsc.2016.05.00...
).

Segundo os autores, de modo geral, tais profissionais se sentem despreparados para promover ou identificar a criatividade em sala de aula. Do mesmo modo, usualmente sentem-se pressionados a incentivar respostas corretas vindas dos estudantes, mais do que permitir respostas criativas, de modo que tal ação pode explicar a predominância de atitudes negativas em relação à criatividade dos alunos (Kettler et al., 2018Kettler, T.; Lamb, K. N.; Willerson, A.; Mullet, D. R. (2018). Teachers’ Perceptions of Creativity in the Classroom. The Creativity Research Journal, 30(2), 164-171. http://doi.org/10.1080/10400419.2018.1446503
https://doi.org/10.1080/10400419.2018.14...
). De modo geral, professores não apresentam conhecimento adequado sobre criatividade e não aplicam a abordagem criativa no ensino, principalmente devido ao currículo com conteúdo extenso, políticas valorizadas para os exames, notas e provas, duração limitada das aulas e dificuldades no uso de tecnologias (Akyildiz & Çelik, 2020Akyildiz, S. T.; Çelik, V. (2020). Thinking outside the box: Turkish EFL teacher/s perceptions of creativity. Thinking Skills and Creativity, 36, https://doi.org/10.1016/j.tsc.2020.100649
https://doi.org/10.1016/j.tsc.2020.10064...
).

Tais profissionais tendem a associar esse construto a atividades que requerem imaginação, resolução de problemas, invenção e inteligência e que resultam em um produto tangível, descrevendo os estudantes criativos como aqueles imaginativos, artísticos, independentes e curiosos, assim como destacam comportamentos negativos relacionados a impulsividade, indisciplina, interrupção das aulas, fala excessiva, teimosia, pensamentos e questionamentos em excesso, maior resistência ao conformismo e aderência às normas escolares (Kettler et al., 2018Kettler, T.; Lamb, K. N.; Willerson, A.; Mullet, D. R. (2018). Teachers’ Perceptions of Creativity in the Classroom. The Creativity Research Journal, 30(2), 164-171. http://doi.org/10.1080/10400419.2018.1446503
https://doi.org/10.1080/10400419.2018.14...
). Por outro lado, algumas pesquisas têm demonstrado importante mudança na concepção dos professores, as quais revelaram uma percepção da criatividade como uma habilidade não excepcional, reconhecível e passível de ser desenvolvida rejeitando sua estreita associação com a arte, música ou atividades relacionadas (Cropley, Patston, Marrone, & Kaufman, 2019Cropley, D. H.; Patston, T.; Marrone, R. L.; Kaufman, J. C. (2019). Essential, unexceptional and universal: Teacher implicit beliefs of creativity. Thinking Skills and Creativity, 34(100604), 1-11. https://doi.org/10.1016/j.tsc.2019.100604
https://doi.org/10.1016/j.tsc.2019.10060...
) ou ainda em perspectiva abrangente e não restrita ao campo das artes, mas sim relacionada ao desenvolvimento, à aprendizagem, à expressão e ao pensamento (Forno, Veiga, & Bahia, 2014Forno, L. F. D.; Veiga, F. H.; Bahia, S. (2014). A percepção de criatividade por educadores de infância do Brasil e de Portugal. INFAD Revista de Psicología, 6(1), 403-408. https://doi.org/10.17060/ijodaep.2014.n1.v6.760
https://doi.org/10.17060/ijodaep.2014.n1...
).

Considerando-se que a forma como os professores percebem a criatividade tem um impacto importante nas práticas pedagógicas que eles adotam para estimular a criatividade dos alunos na sala de aula (Kurt & Önalan, 2018Kurt, G.; Önalan, O. (2018). Turkish pre-service EFL teacher’s perceptions of creativity. International Journal of Education and Teaching, 5, 636-647. Recuperado dehttp://iojet.org/index.php/IOJET/article/view/444/258
http://iojet.org/index.php/IOJET/article...
), o presente estudo teve, como objetivo, investigar as percepções de criatividade de professores e alunos. O diferencial do estudo decorre do fato de que, usualmente os estudos encontrados na literatura científica com o mesmo objetivo costumam analisar as concepções dos participantes a partir da análise de conteúdo livre. Ou seja, as respostas são agrupadas por similaridade, conforme ocorrência. No estudo aqui proposto, as respostas foram categorizadas de acordo com dois modelos teóricos, relacionados às características criativas propostas por Guiforld (1956)Guilford, J. P. (1956). The structure of intellect. Psychological Bulletin, 53(4), 267-293. https://doi.org/10.1037/h0040755.
https://doi.org/10.1037/h0040755...
e ampliadas, posteriormente, por Torrance (1966Torrance, E. P. (1966). Torrance tests of creative thinking. Lexington: Personnel Press.), bem como o modelo dos 4P’s (Rhodes, 1961Rhodes, M. (1961). An Analysis of Creativity. The Phi Delta Kappan, 42(7), 305-310. Recuperado de http://www.jstor.org/stable/20342603
http://www.jstor.org/stable/20342603...
).

Nesta perspectiva, Kurt e Önalan (2018Kurt, G.; Önalan, O. (2018). Turkish pre-service EFL teacher’s perceptions of creativity. International Journal of Education and Teaching, 5, 636-647. Recuperado dehttp://iojet.org/index.php/IOJET/article/view/444/258
http://iojet.org/index.php/IOJET/article...
) ressaltam que conhecer como os professores percebem a criatividade, verificando até que ponto essas percepções se alinham às definições de criatividade presentes na literatura, se mostra importante enquanto recurso para compreender como tais profissionais assumem a criatividade como objeto de aprendizado.

MÉTODO

Participantes

A amostra foi composta por alunos do Ensino Médio à Pós-graduação e professores sem restrição de séries, totalizando 100 participantes, sendo 75,5% alunos e 24,5% professores, com média de idade de 30,5 anos. A escolaridade dos participantes foi predominante de pós-graduados (47%) e graduados (28%), havendo sujeitos com Ensino Médio (11%) e Ensino Fundamental (8%). Seis não forneceram essa informação.

Dentre os professores, a escolaridade predominante foi a pós-graduação (75%), seguido da graduação (8%), sendo que quatro participantes não ofereceram essa informação. Dentre os alunos, a escolaridade predominante foi a graduação (39%), seguido da Pós-graduação (34%), Ensino Fundamental (13%) e Ensino Médio (12%). Dois participantes não forneceram essa informação.

A distribuição geográfica dos participantes inclui uma maioria da região Sudeste (n=61), seguido da região Nordeste (n=23), Sul (n=15) e um participante brasileiro residente em Portugal. As mulheres representam 70,41% da amostra.

Instrumento

Um questionário foi elaborado pelos autores, contendo perguntas abertas sobre a percepção dos participantes em relação ao aluno criativo. As questões visavam aprofundar a compreensão sobre criatividade e aluno criativo: 1) “O que é criatividade para você?”, 2) “O que é um aluno criativo para você?” e 3) “Quais condições que fariam de você uma pessoa mais criativa? Liste pelo menos 5 condições”. A segunda parte do instrumento continha perguntas referentes a dados dos participantes (sexo, cidade, idade, grau de formação acadêmica, entre outros).

Procedimentos

A coleta foi realizada por meio da plataforma online Survey Monkey de forma randomizada, informando ao público-alvo que se tratava de pesquisa de opinião, seguindo todos os procedimentos éticos para pesquisas com seres humanos.

Foi disponibilizado, ao público-alvo, um link através das redes sociais, para que pudesse responder ao questionário no período de 19 dias. Nessa coleta foram respeitados o sigilo das informações individuais e o direito à participação e à desistência de continuidade na pesquisa.

Análise dos dados

Para a análise dos dados foi realizada a análise de conteúdo baseada na perspectiva de Bardin (2016Bardin, L. (2016). Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70.), seguindo os seguintes passos: (i) Pré-análise: leitura das perguntas abertas realizadas na coleta de dados; (ii) Codificação: foram escolhidas as unidades a serem utilizadas (palavras-tema relacionadas às características criativas) e a forma de ordenação (presença); (iii) Categorização: classificação do material codificado e, (iv) interpretação.

As categorias que guiaram a classificação, realizada pelos autores, envolveu dois modelos diferentes: as características criativas propostas por Guilford (1956Guilford, J. P. (1956). The structure of intellect. Psychological Bulletin, 53(4), 267-293. https://doi.org/10.1037/h0040755.
https://doi.org/10.1037/h0040755...
) e ampliado por Torrance (1966Torrance, E. P. (1966). Torrance tests of creative thinking. Lexington: Personnel Press.) para análise das questões 1 e 2 e modelo dos 4P’s (Rhodes, 1961Rhodes, M. (1961). An Analysis of Creativity. The Phi Delta Kappan, 42(7), 305-310. Recuperado de http://www.jstor.org/stable/20342603
http://www.jstor.org/stable/20342603...
) para a análise da questão 3. A descrição das categorias que serviram de base para a análise das respostas dos participantes é apresentada no Quadro 1.

Quadro 1
Categorias Utilizadas de Base na Análise e Descrição.

Tabela 1.Percepção
dos Aspectos da Criatividade e de Características da Pessoa Criativa por Professores e Alunos.

Cada resposta foi lida pelos autores, sendo classificada em uma das categorias apresentadas no Quadro 1, de acordo com a principal ideia contida. A frequência e porcentagem de ocorrência de cada categoria foi estimada, em cada uma das questões. Posteriormente, o procedimento chamado de nuvem de palavras também foi empregado para facilitar a visualização das principais palavras usadas pelos participantes em cada questão.

RESULTADOS

A questão 1 (“o que é criatividade”) visava obter, dos participantes, a percepção da sua compreensão sobre o conceito da criatividade. De modo geral, a maior parte das respostas mostrou que o conceito encontra-se relacionado à flexibilidade e à originalidade, tanto no grupo de alunos quanto no de professores.

Como exemplos de respostas, os professores definiram criatividade enquanto sinônimo de flexibilidade (n=14), ou seja, ideias diversificadas, por meio de frases tais como: “Colocar diferentes possibilidades em prática” ou ainda “Repertório de possibilidades diversas de resolver algo e flexibilidade de adaptação dessas mesmas possibilidades”. Ideias semelhantes foram apresentadas pelos alunos (n=23): “Forma diferente de sair das situações” e “Penso que são ideias diferentes, boas ou não, mas que fazem as pessoas terem uma visão diferente do cotidiano”.

A originalidade também se mostrou bastante presente nas respostas dos dois grupos, mas especialmente dos alunos. Dentro dessa compreensão, os professores (n=8) definiram criatividade como “Solução não convencional” ou “Uma competência que culmina em algo novo, relevante e de valor”. Para os estudantes (n=33), seria a “Capacidade de inventar ou criar algo novo”, “Capacidade de emitir respostas pouco comuns para a resolução de problemas”, “Ser original”.

Nesse sentido, é importante destacar que um número representativo de respostas (n=17) considerou a criatividade como sinônimo de inovação, representadas por meio dos exemplos: “Capacidade de encontrar respostas inovadoras”, Criar algo inovador”, “Ter ideias inovadoras”. Tal equívoco se faz bastante presente no senso comum. Interessantemente, a característica de elaboração não foi citada por nenhum participante, independente do grupo e analogias/metáforas por somente um aluno.

Em seguida, a análise das respostas à questão 2 (“o que você considera ser um aluno criativo”) indicou que, em ambos os grupos, a flexibilidade e originalidade se mostraram bastante frequentes. Segundo os professores (n=4), a flexibilidade nos alunos seria visualizada nas respostas “É um aluno que usa ou liga várias formas de ver algo” e “Um aluno que busca novas alternativas”. Já para os estudantes (n=17), exemplos de flexibilidade envolvem “Aquele que encontra outras formas de resolver problemas, que enxerga além da regra geral”, “Usa as diferentes formas de pensar para aprimorar seu aprendizado” e “Aquele que vislumbra novas possibilidades de pensar e agir”.

Em relação à originalidade, os professores (n=5) expressaram essa ideia a partir de frases como “Aquele que tenta sair do lugar comum”, “Tem ideias muito diferentes dos outros colegas”, “Aquele que busca resolver as situações com propostas que tragam algo novo e, ainda assim, adequado ao assunto”. Segundo os estudantes (n=19), a originalidade também seria uma característica representante da criatividade do aluno: “Alguém que propõe novidades, que inova em trabalhos, escritas, apresentações, recursos”, “Que expressa algo à sua maneira, peculiar”, “Que pensa em formas rápidas e originais para resolver um problema”, “Gosta de mudanças, sem clichê e rotina”.

Entre os professores, a perspectiva incomum também se fez presente nas respostas (n=4): “Um aluno capaz de compreender situações a partir de diferentes pontos de vista”, “Que consegue olhar o mundo por diferentes ângulos”. E, nos alunos, a fluência (n=12), presente nas respostas “Capaz de apresentar questionamentos e soluções a partir dos conhecimentos adquiridos”, “Ter ideias práticas e eficazes”, “É aquele com grandes ideias”, “Um aluno com ideias diversas”.

Novamente nota-se que entre os professores não houve menção a características relacionadas à expressão de emoção, fantasia e analogias/metáforas. Já os alunos apresentaram respostas mais diversificadas, englobando todas as possíveis características da pessoa criativa.

Na questão 3, “Quais condições fariam de você uma pessoa mais criativa? Liste pelo menos 5 condições”, as respostas dos professores envolveram mais aspectos relacionados ao ambiente criativo (n=15) e processo (n=14). Os alunos mostraram respostas mais voltadas à descrição da pessoa criativa (n=50) e processo criativo (n=50). Em ambos os grupos, o menor número de respostas esteve relacionado ao produto criativo. Exemplos de respostas são apresentados no Quadro 2.

Quadro 2
Exemplos de Respostas Dentro do Modelo dos 4 P’s.

Por fim, a nuvem de palavras foi gerada, para cada questão, buscando identificar as palavras mais frequentes nas respostas dos participantes. A Figura 1 demonstra, de forma ilustrativa, as maiores incidências de palavras que apareceram nas respostas à questão 1, 2 e 3 (quanto maior a fonte da palavra, maior sua incidência nas respostas). Aqui consideramos apenas os verbos, adjetivos e substantivos (ignorando pronomes, artigos, numerais, preposições, conjunções, advérbios, dentre outros). Dada a infinidade de palavras citadas, serão mencionadas aqui somente aquelas com maiores citações. A palavra que mais apareceu nas respostas da questão 1 foram “capacidade” e “criar” (ambas com 11 citações), seguida de “diferente” e “inovar” (ambas com 9 citações). Na questão 2, as palavras mais frequentes foram “aluno” (com 19 citações), seguida de “consegue” (com 14 citações), “novas” (com 12 citações) e “ideias” (com 10 citações). Nas respostas à questão 3, as palavras com mais citações foram “ter” (13 citações), “ideias” (12 citações), “conhecimento” (10 citações), “mente” (9 citações).

Figura 1
uvens de Palavras das Respostas Dadas nas Questões 1, 2 e 3 (respectivamente).

DISCUSSÃO

Uma ampla diversidade de pesquisas tem se dedicado a entender o conceito de criatividade presente em diferentes populações, como professores, adolescentes, estudantes, superdotados, adultos, entre outras (Delany, Cheung, Takahashi, & Cheung, 2019Delany, D. E.; Cheung, R. R. M.; Takahashi, Y.; Cheung, C. S. (2019). Adolescents’ Implicit Theories of a Creative Person: A Longitudinal Investigation in Three Countries. The Creativity Research Journal, 31(1), 52-61. http://doi.org/10.1080/10400419.2019.1577648
https://doi.org/10.1080/10400419.2019.15...
). Ao longo do interesse científico pelo estudo da criatividade, a investigação das qualidades e habilidades que constituem tal construto, os processos mentais envolvidos e a influência das dimensões socioculturais têm sido enfatizadas. Igualmente, a criatividade deixou de ser considerada uma habilidade reservada a alguns poucos indivíduos talentosos para ser compreendida como uma habilidade essencial para todos os indivíduos (Corazza, 2016Corazza, G. E. (2016). Potential Originality and Effectiveness: The Dynamic Definition of Creativity. Creativity Research Journal, 28(3), 258-267. http://doi.org/10.1080/10400419.2016.1195627
https://doi.org/10.1080/10400419.2016.11...
).

Ao buscar identificar a compreensão de criatividade por professores e alunos, os resultados obtidos demonstraram que, quando consideradas as respostas dentro das características criativas, ambos os grupos apresentaram maior ênfase àquelas relacionadas aos aspectos cognitivos do construto (especialmente flexibilidade e originalidade). A flexibilidade é compreendida como a capacidade de apresentar variedade de respostas. Indivíduos que apresentam flexibilidade mental apresentam maior probabilidade de gerar ideias criativas diante de problemas ambíguos ou pouco estruturados (He et al., 2019He, L.; Zhuang, K.; Li, Y.; Sun, J.; Meng, J.; Zhu, W.; Mao, Y.; Chen, Q.; Chen, X.; Qiu, J. (2019). Brain flexibility associated with need for cognition contributes to creative achievement. Psychophysiology, 56(12), 1-15. https://doi.org/10.1111/psyp.13464
https://doi.org/10.1111/psyp.13464...
).

Tal característica envolve a extensão em que os indivíduos lidam com diferentes perspectivas, fazendo uso de uma gama mais ampla de ideias, busca por conhecimentos abrangentes, suas associações e emprego de estratégias diversas (Ou, Chen, Li, & Tang, 2017Ou, Z.; Chen, T.; Li, F.; Tang, P. (2017). Constructive controversy and creative process engagement: The roles of positive conflict value, cognitive flexibility, and psychological safety. Journal of Applied Social Psychology, 48, 101-113. http://doi.org/10.1111/jasp.12494
https://doi.org/10.1111/jasp.12494...
). Permite também mudar, de maneira adaptativa, explorando rotas alternativas e variadas (Wu & Koutstaal, 2020Wu, Y.; Koutstaal, W. (2020). Charting the contributions of cognitive flexibility to creativity: Self-guided transitions as a process-based index of creativity-related adaptivity. PLoS ONE 15(6), e0234473. https://doi.org/10.1371/journal. pone.0234473
https://doi.org/10.1371/journal. pone.02...
), mostrando-se uma característica importante para a realização criativa. Ao compreenderem a flexibilidade como uma das definições de criatividade, os participantes confirmaram uma percepção adequada desse construto, porém limitada à compreensão de diversidade, desconsiderando os demais elementos cognitivos e emocionais do construto.

Por sua vez, a originalidade é compreendida como novidade, infrequência e ideias incomuns (Acar, Burnett, & Cabra, 2017Acar, S.; Burnett, C.; Cabra, J. F. (2017). Ingredients of Creativity: Originality and More. Creativity Research Journal , 29(2), 133-144. http://doi.org/10.1080/10400419.2017.1302776
https://doi.org/10.1080/10400419.2017.13...
). Tal característica é um dos traços de personalidade, os quais têm sido apontados como relacionados à criatividade, atuando de modo a estimular a performance criativa (Andreas, Zech, Coyle, & Rindermann, 2016Andreas, S. F. K.; Zech, S.; Coyle, T. R.; Rindermann, H. (2016). Unconventionality and Originality: Does Self-Assessed Unconventionality Increase Original Achievement?. Creativity Research Journal, 28(2), 198-206. http://doi.org/10.1080/10400419.2016.1162556
https://doi.org/10.1080/10400419.2016.11...
). A definição padrão de criatividade aponta especificamente para a originalidade como um pré-requisito para a criatividade (Dumas & Runco, 2018Dumas, D.; Runco, M. (2018). Objectively Scoring Divergent Thinking Tests for Originality: A Re-Analysis and Extension. Creativity Research Journal, 30(4), 466-468. https://doi.org/10.1080/10400419.2018.1544601
https://doi.org/10.1080/10400419.2018.15...
). O problema de basear a definição de criatividade nesse conceito envolve o fato de que a originalidade sempre dependerá do julgamento de outras pessoas e, dependendo da época e de quem julga, a compreensão da ideia criativa pode mudar (Corazza, 2016Corazza, G. E. (2016). Potential Originality and Effectiveness: The Dynamic Definition of Creativity. Creativity Research Journal, 28(3), 258-267. http://doi.org/10.1080/10400419.2016.1195627
https://doi.org/10.1080/10400419.2016.11...
).

É importante destacar a compreensão equivocada da criatividade como sinônimo de inovação, presente em ambos os grupos. Enquanto a criatividade envolveria a capacidade de criar novas ideias, a inovação envolveria a aplicação dessas ideias criativas no desenvolvimento de um novo produto, serviço ou maneira de fazer algo (Fadaee & Alzahrn, 2014Fadaee, A.; Alzahrh, H. O. A. (2014). Explaining the relationship between creativity, innovation and entrepreneurship. International Journal of Economy, Management and Social Sciences, 3(12), 1-4. Recuperado dehttp://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.673.2161&rep=rep1&type=pdf
http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/dow...
). Nesse sentido, o processo de inovação teria início quando uma ideia é gerada e terminaria quando a ideia é implementada, sendo importante destacar que a sobreposição e distinção entre os dois conceitos permanece incerta na literatura científica (Acar et al., 2017Acar, S.; Burnett, C.; Cabra, J. F. (2017). Ingredients of Creativity: Originality and More. Creativity Research Journal , 29(2), 133-144. http://doi.org/10.1080/10400419.2017.1302776
https://doi.org/10.1080/10400419.2017.13...
). É comum a ideia de que a criatividade aprimora as atividades inovadoras, de modo que uma relação positiva entre os construtos tem se mostrado presente, especialmente no nível individual (Sarooghi, Libaers, & Burkemper, 2015Sarooghi, H.; Libaers, D.; Burkemper, A. (2015). Examining the relationship between creativity and innovation: a meta-analysis of organizational, cultural, and environmental factors. Journal of Business Venturing, 30(5), 714-731. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2014.12.003
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2014....
).

Em relação às condições que favoreceriam ou facilitariam a criatividade, as respostas foram consideradas dentro do modelo dos 4P’s proposto por Rhodes (1960). Tal modelo permite que a criatividade seja estudada em relação a quatro características essenciais: a pessoa que cria, o produto originado, o processo que ocorre durante a criação e o ambiente que influencia o desenvolvimento criativo (Jordanous, 2015Jordanous, A. (2015). Four pppperspectives in computational creativity. Paper presented at the AISB 2015 Symposium on Computational Creativity, Canterbury, Kent, United Kingdom.). Esse modelo permite compreender quem é criativo, como podemos ser criativos, o que é ser criativo e como a criatividade pode ser estimulada (Beghetto, Kaufman, & Baer, 2015Beghetto, R. A.; Kaufman, J. C.; Baer, J. (2015). Teaching for creativity in the common core classroom. New York: Teachers College Press.). Tomando-se tais categorias, no grupo de alunos, as respostas se mostraram mais relacionadas à pessoa e processo criativo. Já nos professores, em relação ao ambiente e processo.

Em relação ao processo criativo, estudos recentes recomendam o estudo da criatividade dentro de uma perspectiva voltada a entender o processo pelo qual os indivíduos desenvolvem ideias criativas (Zhang & Bartol, 2010Zhang, X.; Bartol, K. M. (2010). The influence of creative process engagement on employee creative performance and overall job performance: A curvilinear assessment. Journal of Applied Psychology, 95(5), 862-873. https://doi.org/10.1037/a0020173
https://doi.org/10.1037/a0020173...
). Tal processo envolve a identificação de problemas, pesquisa, codificação de informações e geração de ideias (Ou et al., 2017Ou, Z.; Chen, T.; Li, F.; Tang, P. (2017). Constructive controversy and creative process engagement: The roles of positive conflict value, cognitive flexibility, and psychological safety. Journal of Applied Social Psychology, 48, 101-113. http://doi.org/10.1111/jasp.12494
https://doi.org/10.1111/jasp.12494...
), dentro de uma sequência de estágios: preparação, incubação, iluminação e verificação (Garcês, Pocinho, Jesus, & Viseu, 2016Garcês, S.; Pocinho, M.; Jesus, S. N.; Viseu, J. (2016). The impact of creative environment on the creative person, process and product. Avaliação Psicológica, 15(2), 169-176. https://doi.org/10.15689/ap.2016.1502.05
https://doi.org/10.15689/ap.2016.1502.05...
). Busca descrever e explicar como ocorre a criatividade em termos qualitativos e quantitativos, considerando etapas e processos (David, Nakano, Morais, & Primi, 2011David, A. P. M.; Nakano, T. C.; Morais, M. F.; Primi, R. (2011). Competências criativas no ensino superior. In S. M. Wechsler; T. C.Nakano(Eds.), Criatividade no ensino superior: uma perspectiva internacional (pp. 14-53). São Paulo, SP: Vetor.), englobando a investigação de operações e estratégias que a pessoa utiliza durante seu processo criativo (Alencar, Fleith, & Bruno-Faria, 2010Alencar, E. M. L. S.; Fleith, D. S.; Bruno-Faria, M. F. (2010). A medida da criatividade: possibilidades e desafios. In Alencar, E. M. L. S.; Fleith, D. S. (Eds.), Medidas de criatividade (pp.11-34). Porto Alegre: Artmed.).

Em relação à pessoa criativa, os estudos têm enfocado, especialmente, as características de personalidade que os indivíduos criativos apresentam (Garcês et al., 2016Garcês, S.; Pocinho, M.; Jesus, S. N.; Viseu, J. (2016). The impact of creative environment on the creative person, process and product. Avaliação Psicológica, 15(2), 169-176. https://doi.org/10.15689/ap.2016.1502.05
https://doi.org/10.15689/ap.2016.1502.05...
). Inclui as características observáveis e subjacentes no sujeito, cujo conhecimento pode ser usado na elaboração de programas que objetivam seu desenvolvimento (Nakano, Zaia, & Oliveira, 2015Nakano, T. C.; Zaia, P.; Oliveira, K. S. (2015). Estudo correlacional: criatividade verbal e personalidade segundo Modelo dos Cinco Grandes Fatores em estudantes brasileiros. Revista de Psicología (Lima ), 34, 117-146.). Entre estas características, fluência, flexibilidade, elaboração e originalidade, propostas por Guilford (1956Guilford, J. P. (1956). The structure of intellect. Psychological Bulletin, 53(4), 267-293. https://doi.org/10.1037/h0040755.
https://doi.org/10.1037/h0040755...
), têm sido enfatizadas na avaliação desse construto. Outras compreensões envolvem boa imaginação, bom gosto estético e talento em áreas artísticas (Hoop, Handel, Stoeger, Vialle, & Ziegler, 2016Hoop, M.; Handel, M.; Stoeger, H.; Vialle, W.; Ziegler, A. (2016). A cross-national study of implicit theories of a creative person. Education Science, 6, 38. org/10.3390/educsci6040038
https://doi.org/10.3390/educsci6040038...
), independência, curiosidade, mente aberta, motivação, persistência, entre outras (Wechsler, 2008Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. Campinas, Brasil: LAMP/IDB.).

O ambiente envolve a compreensão de uma série de fatores, individuais e contextuais, especialmente a cultura, a qual influencia a expressão da criatividade, podendo exercer impacto positivo ou negativo. Os teóricos argumentam que, embora a criatividade seja um fenômeno universal, as características que definem essa habilidade podem ser diferentes de acordo com o contexto cultural vivenciado (Delany et al., 2019Delany, D. E.; Cheung, R. R. M.; Takahashi, Y.; Cheung, C. S. (2019). Adolescents’ Implicit Theories of a Creative Person: A Longitudinal Investigation in Three Countries. The Creativity Research Journal, 31(1), 52-61. http://doi.org/10.1080/10400419.2019.1577648
https://doi.org/10.1080/10400419.2019.15...
), especialmente aquele composto pela família, escola, cultura e sociedade (Ferreira & Candeias, 2007Ferreira, M.; Candeias, A. A. (2007). A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In V. Trindade; N. Trindade; A. A. Candeias (Eds.), A Unicidade do Conhecimento (pp.1-13). Évora: Universidade de Évora.).

A análise das nuvens de palavras indica que concepções equivocadas sobre a criatividade, que eram corriqueiras nos meios educacionais, têm sido superadas na atualidade. Analisando-as em conjunto com os resultados anteriormente apresentados, compreende-se que, mesmo demonstrando uma percepção ainda restrita acerca da criatividade ao emitirem suas respostas individuais, não foi consenso entre os participantes deste estudo a ideia de que ela é um talento natural, como foi encontrado nas pesquisas desenvolvidas por Alencar (2007Alencar, E. M. L. S. (2007). Criatividade no contexto educacional: três décadas de pesquisa. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23(spe), 45-49. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722007000500008
https://doi.org/10.1590/S0102-3772200700...
) com alunos e professores há cerca de duas décadas.

Não surgiram respostas sugestivas de que a criatividade seja percebida como restrita às artes ou atividades relacionadas, o que corrobora achados de Cropley et al. (2019Cropley, D. H.; Patston, T.; Marrone, R. L.; Kaufman, J. C. (2019). Essential, unexceptional and universal: Teacher implicit beliefs of creativity. Thinking Skills and Creativity, 34(100604), 1-11. https://doi.org/10.1016/j.tsc.2019.100604
https://doi.org/10.1016/j.tsc.2019.10060...
) em estudo internacional com docentes. Os autores identificaram que as crenças implícitas dos professores não refletiam alguns mitos e equívocos amplamente divulgados acerca da criatividade, mas ao contrário, eles entendiam o fenômeno como passível de ser ensinado e avaliado através do currículo escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os resultados encontrados neste estudo, o qual objetivou entender a percepção de alunos e professores sobre criatividade e considerando a importância desse construto em todos os âmbitos, mas com especial foco o ambiente escolar, os resultados mostraram consonância com o que a literatura mostra sobre o tema. Confirma-se a relevância de se entender mais profundamente esse construto, para, por meio disso, pensar formas de contribuição para seu possível desenvolvimento, a princípio na escola, e posteriormente se estendendo para outras esferas da vida.

Evidências de pesquisas continuam indicando que, nas escolas, os professores preferem aqueles alunos que apresentam comportamentos contrários à criatividade (Kettler et al., 2018Kettler, T.; Lamb, K. N.; Willerson, A.; Mullet, D. R. (2018). Teachers’ Perceptions of Creativity in the Classroom. The Creativity Research Journal, 30(2), 164-171. http://doi.org/10.1080/10400419.2018.1446503
https://doi.org/10.1080/10400419.2018.14...
). Nesse sentido, treinamento e informações podem ser caminhos para mudar a percepção dos professores sobre os comportamentos indicativos de criatividade, sendo importante destacar, no entanto, que tais atitudes encontram-se presentes pelo menos nas últimas duas décadas e, portanto, arraigadas. De acordo com Mullet et al. (2016Mullet, D. R.; Willerson, S.; Lamb, K. N.; Kettler, T. (2016). Examining teacher perceptions of creativity: a systematic review of the literature. Thinking Skills and Creativity, 21, 9-30. https://doi.org/10.1016/j.tsc.2016.05.001
https://doi.org/10.1016/j.tsc.2016.05.00...
), o treinamento ou desenvolvimento profissional pode possibilitar que as conceituações dos professores se tornem mais maduras e próximas das definições embasadas cientificamente sobre criatividade.

Muitos pesquisadores enfatizaram a influência das compreensões dos professores sobre a criatividade na promoção dessa característica em sala de aula (Al-Dababneh et al., 2019Al-Dababneh, K. A.; Al-Zboon, E. K.; Ahmad, J. (2019). The creative environment: teachers’ perceptions, self-efficacy, and teaching experience for fostering children’s creativity. Early Child Development and Care , 189(10), 1620-1637. http://doi.org/10.1080/03004430.2017.1400969
https://doi.org/10.1080/03004430.2017.14...
), sendo necessário que os professores adotem percepções realistas e atitudes positivas, pois existem professores que, de fato, não entendem o que realmente é a criatividade e provavelmente são incapazes de reconhecer um aluno criativo (Gralewski & Karwowski, 2016Gralewski, J.; Karwowski, M. (2016). Are teacher’s implicit theories of creativity related to the recognition of the student’s creativity? The Journal of Creative Behavior, 52(2), 156-167. http://doi.org/10.1002/jocb.140
https://doi.org/10.1002/jocb.140...
).

Como limitações do estudo, aponta-se para o fato de se ter uma amostra de conveniência, pequena, com quantidade desproporcional de alunos e professores, e das variações de região, gênero, nível educacional tanto de formação dos participantes como de ensino dos docentes. Novos estudos podem ser realizados acerca da percepção de criatividade no contexto educacional considerando essas variáveis. Isso contribuiria mais amplamente para a compreensão de como vêm se transformando essas concepções e que aspectos precisam ser mais profundamente abordados na formação docente e no currículo escolar brasileiro para se constituir um sistema educacional que valorize e promova a criatividade de todos os envolvidos.

REFERÊNCIAS

  • Acar, S.; Burnett, C.; Cabra, J. F. (2017). Ingredients of Creativity: Originality and More. Creativity Research Journal , 29(2), 133-144. http://doi.org/10.1080/10400419.2017.1302776
    » https://doi.org/10.1080/10400419.2017.1302776
  • Al-Dababneh, K. A.; Al-Zboon, E. K.; Ahmad, J. (2019). The creative environment: teachers’ perceptions, self-efficacy, and teaching experience for fostering children’s creativity. Early Child Development and Care , 189(10), 1620-1637. http://doi.org/10.1080/03004430.2017.1400969
    » https://doi.org/10.1080/03004430.2017.1400969
  • Alencar, E. M. L. S.; Fleith, D. S.; Bruno-Faria, M. F. (2010). A medida da criatividade: possibilidades e desafios. In Alencar, E. M. L. S.; Fleith, D. S. (Eds.), Medidas de criatividade (pp.11-34). Porto Alegre: Artmed.
  • Andiliou, A.; Murphy, K. P. (2010). Examining variations among researchers’ and teachers’ conceptualizations of creativity: A review and synthesis of contemporary research. Educational Research Review, 5, 201-219.
  • Andreas, S. F. K.; Zech, S.; Coyle, T. R.; Rindermann, H. (2016). Unconventionality and Originality: Does Self-Assessed Unconventionality Increase Original Achievement?. Creativity Research Journal, 28(2), 198-206. http://doi.org/10.1080/10400419.2016.1162556
    » https://doi.org/10.1080/10400419.2016.1162556
  • Alencar, E. M. L. S. (2007). Criatividade no contexto educacional: três décadas de pesquisa. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23(spe), 45-49. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722007000500008
    » https://doi.org/10.1590/S0102-37722007000500008
  • Akyildiz, S. T.; Çelik, V. (2020). Thinking outside the box: Turkish EFL teacher/s perceptions of creativity. Thinking Skills and Creativity, 36, https://doi.org/10.1016/j.tsc.2020.100649
    » https://doi.org/10.1016/j.tsc.2020.100649
  • Bardin, L. (2016). Análise de Conteúdo São Paulo: Edições 70.
  • Beghetto, R. A. (2005). “Does Assessment Kill Student Creativity?”. The Educational Forum 69 (3), 254-263. http://doi.org/10. 1177/0022429410379916
    » https://doi.org/10. 1177/0022429410379916
  • Beghetto, R. A. (2013). Killing ideas softly? The promise and perils of creativity in the classroom Charlotte, NC: Information Age.
  • Beghetto, R. A.; Kaufman, J. C.; Baer, J. (2015). Teaching for creativity in the common core classroom New York: Teachers College Press.
  • Beketayev, K.; Runco, M. A. (2016). Scoring divergent thinking tests by computer with a semantics-based algorithm. Europe’s Journal of Psychology, 12(2), 210-220. doi:10.5964/ejop.v12i2.1127
    » https://doi.org/10.5964/ejop.v12i2.1127
  • Brito, R. F.; Vanzin, T.; Ulbricht, V. (2009). Reflexões sobre o conceito de criatividade: sua relação com a biologia do conhecer. Ciências & Cognição, 14(3), 204-213. Recuperado dehttp://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/96
    » http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/96
  • Cheung, R. H. P.; Mok, M. M. C. (2018). Early Childhood Teachers’ Perception of Creative Personality as a Predictor of Their Support of pedagogy important for fostering Creativity: A Chinese Perspective. The Creativity Research Journal, 30(3), 276-286. http://doi.org/10.1080/10400419.2018.1488345
    » https://doi.org/10.1080/10400419.2018.1488345
  • Corazza, G. E. (2016). Potential Originality and Effectiveness: The Dynamic Definition of Creativity. Creativity Research Journal, 28(3), 258-267. http://doi.org/10.1080/10400419.2016.1195627
    » https://doi.org/10.1080/10400419.2016.1195627
  • Cropley, D. H.; Patston, T.; Marrone, R. L.; Kaufman, J. C. (2019). Essential, unexceptional and universal: Teacher implicit beliefs of creativity. Thinking Skills and Creativity, 34(100604), 1-11. https://doi.org/10.1016/j.tsc.2019.100604
    » https://doi.org/10.1016/j.tsc.2019.100604
  • David, A. P. M.; Nakano, T. C.; Morais, M. F.; Primi, R. (2011). Competências criativas no ensino superior. In S. M. Wechsler; T. C.Nakano(Eds.), Criatividade no ensino superior: uma perspectiva internacional (pp. 14-53). São Paulo, SP: Vetor.
  • Delany, D. E.; Cheung, R. R. M.; Takahashi, Y.; Cheung, C. S. (2019). Adolescents’ Implicit Theories of a Creative Person: A Longitudinal Investigation in Three Countries. The Creativity Research Journal, 31(1), 52-61. http://doi.org/10.1080/10400419.2019.1577648
    » https://doi.org/10.1080/10400419.2019.1577648
  • Dumas, D.; Runco, M. (2018). Objectively Scoring Divergent Thinking Tests for Originality: A Re-Analysis and Extension. Creativity Research Journal, 30(4), 466-468. https://doi.org/10.1080/10400419.2018.1544601
    » https://doi.org/10.1080/10400419.2018.1544601
  • Fadaee, A.; Alzahrh, H. O. A. (2014). Explaining the relationship between creativity, innovation and entrepreneurship. International Journal of Economy, Management and Social Sciences, 3(12), 1-4. Recuperado dehttp://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.673.2161&rep=rep1&type=pdf
    » http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.673.2161&rep=rep1&type=pdf
  • Ferreira, M.; Candeias, A. A. (2007). A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In V. Trindade; N. Trindade; A. A. Candeias (Eds.), A Unicidade do Conhecimento (pp.1-13). Évora: Universidade de Évora.
  • Forno, L. F. D.; Veiga, F. H.; Bahia, S. (2014). A percepção de criatividade por educadores de infância do Brasil e de Portugal. INFAD Revista de Psicología, 6(1), 403-408. https://doi.org/10.17060/ijodaep.2014.n1.v6.760
    » https://doi.org/10.17060/ijodaep.2014.n1.v6.760
  • Garcês, S.; Pocinho, M.; Jesus, S. N.; Viseu, J. (2016). The impact of creative environment on the creative person, process and product. Avaliação Psicológica, 15(2), 169-176. https://doi.org/10.15689/ap.2016.1502.05
    » https://doi.org/10.15689/ap.2016.1502.05
  • Gralewski, J.; Karwowski, M. (2016). Are teacher’s implicit theories of creativity related to the recognition of the student’s creativity? The Journal of Creative Behavior, 52(2), 156-167. http://doi.org/10.1002/jocb.140
    » https://doi.org/10.1002/jocb.140
  • Guilford, J. P. (1956). The structure of intellect. Psychological Bulletin, 53(4), 267-293. https://doi.org/10.1037/h0040755.
    » https://doi.org/10.1037/h0040755
  • Guo, J.; Tong, Y.; Pang, W. (2020). Teacher’s perceptions of student’s creativity in China’s classrooms: the role of student’s academic achievement and misbehaviors. The Journal of Creative Behavior , 0(0), 1-13. http://doi.org/10.1002/jocb.448
    » https://doi.org/10.1002/jocb.448
  • Hana, N.; Hacène, H. (2017). Creativity in the EFL classroom: exploring teacher’s knowledge and perceptions. Arab World English Journal, 8(4). Recuperado dehttps://ssrn.com/abstract=3094540
    » https://ssrn.com/abstract=3094540
  • He, L.; Zhuang, K.; Li, Y.; Sun, J.; Meng, J.; Zhu, W.; Mao, Y.; Chen, Q.; Chen, X.; Qiu, J. (2019). Brain flexibility associated with need for cognition contributes to creative achievement. Psychophysiology, 56(12), 1-15. https://doi.org/10.1111/psyp.13464
    » https://doi.org/10.1111/psyp.13464
  • Hoop, M.; Handel, M.; Stoeger, H.; Vialle, W.; Ziegler, A. (2016). A cross-national study of implicit theories of a creative person. Education Science, 6, 38. org/10.3390/educsci6040038
    » https://doi.org/10.3390/educsci6040038
  • Jordanous, A. (2015). Four pppperspectives in computational creativity Paper presented at the AISB 2015 Symposium on Computational Creativity, Canterbury, Kent, United Kingdom.
  • Karwowskia, M.; Gralewskib, J.; Patstonc, T.; Cropley, D.H.; Kaufman, J. C. (2020). The creative student in the eyes of a teacher: A cross-cultural study. Thinking Skills and Creativity, 35, 100636. https://doi.org/10.1016/j.tsc.2020.100636
    » https://doi.org/10.1016/j.tsc.2020.100636
  • Kettler, T.; Lamb, K. N.; Willerson, A.; Mullet, D. R. (2018). Teachers’ Perceptions of Creativity in the Classroom. The Creativity Research Journal, 30(2), 164-171. http://doi.org/10.1080/10400419.2018.1446503
    » https://doi.org/10.1080/10400419.2018.1446503
  • Kurt, G.; Önalan, O. (2018). Turkish pre-service EFL teacher’s perceptions of creativity. International Journal of Education and Teaching, 5, 636-647. Recuperado dehttp://iojet.org/index.php/IOJET/article/view/444/258
    » http://iojet.org/index.php/IOJET/article/view/444/258
  • Langley, D. W. (2018) Students’ and teachers’ perceptions of creativity in middle and high school choral ensembles. Music Education Research, 20(4), 446-462. http://doi.org/10.1080/14613808.2018.1433150
    » https://doi.org/10.1080/14613808.2018.1433150
  • Lassig, C. (2019) Creativity talent development: Fostering creativity in schools. In S.R. Smith (Ed.), Handbook of giftedness and talent development in the Asia-Pacific (pp. 1-25). Springer, Singapore.
  • Morais, M. F.; Azevedo, I.; Fleith, D. S.; Alencar, E. M. L. S.; Almeida, L. S.; Araújo, A. M. (2017). Teaching Practices for Creativity at University: A Study in Portugal and Brazil. Paidéia, 27(67), 56-64. https://doi.org/10.1590/1982-43272767201707
    » https://doi.org/10.1590/1982-43272767201707
  • Mullet, D. R.; Willerson, S.; Lamb, K. N.; Kettler, T. (2016). Examining teacher perceptions of creativity: a systematic review of the literature. Thinking Skills and Creativity, 21, 9-30. https://doi.org/10.1016/j.tsc.2016.05.001
    » https://doi.org/10.1016/j.tsc.2016.05.001
  • Nakano, T. C.; Wechsler, S. M. (2012). Criatividade: definições, modelos e formas de avaliação. In C. S. Hutz(Ed.), Avanços em avaliação psicológica e neuropsicológica de crianças e adolescentes II (pp. 327-361). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.
  • Nakano, T. C.; Zaia, P.; Oliveira, K. S. (2015). Estudo correlacional: criatividade verbal e personalidade segundo Modelo dos Cinco Grandes Fatores em estudantes brasileiros. Revista de Psicología (Lima ), 34, 117-146.
  • Nakano, T. C. (2019). Avaliação psicológica e criatividade. In M. N. Baptista; M. Muniz; C. T. Reppold; C. H. S. da S. Nunes; L. F. Carvalho; R. Primi; A. P. P. Noronha; A. G. Seabra; S. M. Wechsler; C. S. Hutz; L. Pasquali (Eds.), Compêndio de Avaliação Psicológica(pp. 364-375). Petrópolis, RJ: Vozes.
  • Nuñez, I. B.; Santos, F. A. A. (2012). O professor e a formação docente: a criatividade e as crenças educativas onde estão?. Holos, 28(2), 148-165. Recuperado dehttps://www.redalyc.org/articulo.oa?id=4815/481549265013
    » https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=4815/481549265013
  • Oliveira, A. B. F.; Lima, A. I. B. (2017). Vigotski e os Processos Criativos de Professores ante a Realidade Atual. Educação & Realidade, 42(4), 1399-1419. https://doi.org/10.1590/2175-623662025
    » https://doi.org/10.1590/2175-623662025
  • Ou, Z.; Chen, T.; Li, F.; Tang, P. (2017). Constructive controversy and creative process engagement: The roles of positive conflict value, cognitive flexibility, and psychological safety. Journal of Applied Social Psychology, 48, 101-113. http://doi.org/10.1111/jasp.12494
    » https://doi.org/10.1111/jasp.12494
  • Plucker, J. A.; Beghetto, R. A.; Dow, G. T. (2004). Why isn’t creativity more important to educational psychologists? Potentials, pitfalls, and future directions in creativity research. Educational Psychologist, 39(2), 83-96. https://doi.org/10.1207/s15326985ep3902_1
    » https://doi.org/10.1207/s15326985ep3902_1
  • Rhodes, M. (1961). An Analysis of Creativity. The Phi Delta Kappan, 42(7), 305-310. Recuperado de http://www.jstor.org/stable/20342603
    » http://www.jstor.org/stable/20342603
  • Runco, M; Jaeger, G. (2012). The standard definition of creativity. Creativity Research Journal, 24(1), 92-96. http://dx.doi.org/10.1080/10400419.2012.650092
    » https://doi.org/10.1080/10400419.2012.650092
  • Saban, A. I.; Özcan, S. E. (2020). An investigation of pre- school teachers’ creativity perceptions through metaphors. Pedagogies: An International Journal Htttp://doi.org/10.1080/1554480X.2020.1781640
    » https://doi.org/10.1080/1554480X.2020.1781640
  • Sarooghi, H.; Libaers, D.; Burkemper, A. (2015). Examining the relationship between creativity and innovation: a meta-analysis of organizational, cultural, and environmental factors. Journal of Business Venturing, 30(5), 714-731. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2014.12.003
    » https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2014.12.003
  • Silva, R. E. L.; Silva, R.; Tuleski, S. C. (2012). Emoção, atividade e criatividade: possíveis aproximações. Imagens da Educação , 2(1), 61-68. https://doi.org/10.4025/imagenseduc.v2i1.14549
    » https://doi.org/10.4025/imagenseduc.v2i1.14549
  • Torrance, E. P. (1966). Torrance tests of creative thinking Lexington: Personnel Press.
  • Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando Campinas, Brasil: LAMP/IDB.
  • Wu, Y.; Koutstaal, W. (2020). Charting the contributions of cognitive flexibility to creativity: Self-guided transitions as a process-based index of creativity-related adaptivity. PLoS ONE 15(6), e0234473. https://doi.org/10.1371/journal. pone.0234473
    » https://doi.org/10.1371/journal. pone.0234473
  • Zhang, X.; Bartol, K. M. (2010). The influence of creative process engagement on employee creative performance and overall job performance: A curvilinear assessment. Journal of Applied Psychology, 95(5), 862-873. https://doi.org/10.1037/a0020173
    » https://doi.org/10.1037/a0020173
  • Zhou, J.; Wang, X. M.; Song, L. J.; Wu, J. (2017). Is it new? Personal and contextual influences on perceptions of novelty and creativity. Journal of Applied Psychology, 102(2), 180-202.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    17 Jul 2020
  • Aceito
    09 Jan 2021
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), Rua Mirassol, 46 - Vila Mariana , CEP 04044-010 São Paulo - SP - Brasil , Fone/Fax (11) 96900-6678 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@abrapee.psc.br