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ESTUDANTES QUE USAM DROGAS: COMO PROFESSORES LIDAM E PENSAM SOBRE ELES

Estudiantes que usan drogas: cómo profesores lidian y piensan sobre ellos

RESUMO

Descrever e analisar percepções e atitudes de professores quanto ao uso de álcool/drogas (AD) por estudantes do Ensino Médio de escolas públicas de Águas Lindas-GO/Brasil. Estudo misto realizado em 11 escolas, com 91 professores, por meio de questionário sociodemográfico, entrevista semiestruturada sobre a percepção em relação ao uso de AD por estudantes, e questões sobre o julgamento daqueles que fazem uso. A maioria (57%) era do sexo masculino, idade média 37,2 anos; acredita que alunos que fazem uso de AD são moralmente fracos (51%), um perigo para a sociedade (47%) e podem cometer delitos na própria família (98%); em contrapartida os consideram tão importantes quanto qualquer outra pessoa (98%). Afirmam que não se sentem capacitados para abordar o tema AD, tampouco para lidar com alunos que usam. O estudo revela e reforça que a educação em saúde deveria compor a formação dos professores para uma abordagem preventiva e de acolhimento.

Palavras-chave:
estudantes; drogas; percepção; estigma; professores

RESUMEN

Describir y analizar percepciones y actitudes de profesores relacionadas el uso de alcohol/drogas (AD) por estudiantes de la enseñanza secundaria de escuelas públicas de Aguas Lindas-GO/Brasil. Estudio mixto realizado en 11 escuelas, con 91 profesores, por intermedio de cuestionario sociodemográfico, entrevista semiestructurada sobre la percepción con relación al uso de AD por estudiantes, y cuestiones sobre el juzgamiento de aquellos que hacen uso. La mayoría (el 57%) era del sexo masculino, edad media 37,2 años; cree que alumnos que hacen uso de AD son moralmente débiles (el 51%), un peligro para la sociedad (el 47%) y pueden cometer delitos en la propia familia (el 98%); en contrapartida los consideran tan importantes cuanto cualquier otra persona (el 98%). Afirman que no se sienten capacitados para abordar el tema AD, tampoco para lidiar con alumnos que usan. El estudio revela y refuerza que la educación en salud debería componer la formación de los profesores para un abordaje preventiva e de acogimiento.

Palabras clave:
estudiantes; drogas; percepción; estigma; profesores

ABSTRACT

In order to describe and analyze teachers’ perceptions and attitudes regarding the use of alcohol/drugs (AD) by High School students from public schools in Águas Lindas-GO/Brazil, this mixed study was carried out in 11 schools, with 91 teachers, using a sociodemographic questionnaire, a semi-structured interview about the perception of AD use by students, and questions about the judgment of those who use it. Most (57%) were male, average age 37.2 years; most participants believed that students who use AD are morally weak (51%), a danger to society (47%), and may commit crimes in their own families (98%); on the other hand, they consider them as important as anyone else (98%). They claim that they do not feel qualified to address the DA theme, nor to deal with students who use it. The study reveals and reinforces that health education should form part of teacher training for a preventive and welcoming approach.

Keywords:
students; drugs; perception; stigma; teachers

INTRODUÇÃO

O uso de álcool e outras drogas entre adolescentes pode acarretar problemas, tanto sociais como no âmbito da saúde (Andrade et al., 2017Andrade, M. E. de; Santos, I. H. F.; Souza, A. A. M. de; Silva, A. C. S.; Leite, T. S.; Oliveira, C. C. C.; Albuquerque Júnior, R. L. C. (2017). Experimentação de substâncias psicoativas por estudantes de escolas públicas. Revista de Saúde Pública, 51(82), 1-9. doi: doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051006929
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). Em todo o mundo, mais de um quarto (27%) de todos os adolescentes e jovens com idade entre 15 e 19 anos consomem álcool. As taxas de consumo são mais altas entre os de 15 a 19 anos na Europa (44%), seguidas das Américas (38%) e do Pacífico Ocidental (38%), e pesquisas escolares indicam que, em muitos países, o consumo de álcool começa antes dos 15 anos, com diferenças muito pequenas entre meninos e meninas (World Health Organization, 2018Cardoso, L. R. D.; Malbergier, A. (2014). Problemas escolares e o consumo de álcool e outras drogas entre adolescentes. Psicologia Escolar e Educacional, 18(1), 27-34. doi: 10.1590/S1413-85572014000100003
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). De acordo com o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Laranjeira, 2014Laranjeira, R. (Org). (2014). II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD): Relatório2012. Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD). Recuperado de: Recuperado de: https://inpad.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Lenad-II-Relatório.pdf Acesso em 20 out 2021.
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), no que se refere aos participantes adolescentes, observou-se queda importante na proporção de meninos que bebem 5 doses ou mais em uma ocasião regular - considerado um padrão de consumo de risco - passando de 31% em 2006 para 24% em 2012; em contrapartida, nota-se crescimento expressivo do número de meninas nessa condição, passando de 11% em 2006 para 20% em 2012.

Entre os adolescentes, o consumo de álcool e de outras drogas está classificado entre os principais responsáveis pelos anos de vida perdidos por incapacidade e morte precoce, de acordo com a classificação DALY (Disability Adjusted Life Years / Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade; Gore et al., 2011Gore, F. M.; Bloem, P. J. N.; Patton, G. C.; Ferguson, J.; Joseph, V.; Coffey, C.; Sawyer, S. M.; Mathers, C. D. (2011). Global burden of disease in young people aged 10-24 years: A systematic analysis. The Lancet, 377(9783), 2093-2102. doi: 10.1016/S0140-6736(11)60512-6
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). A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2019 (PeNSE), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), traz dados preocupantes sobre os hábitos dos adolescentes brasileiros. O levantamento é realizado com estudantes concluintes do 9º ano, entre 13 e 17 anos, em escolas públicas e privadas de todo o país. Os resultados mostram que o percentual de adolescentes que já experimentaram bebidas alcoólicas é de 63,3%, sendo que esse percentual, diferentemente da PeNSE 2015, passou a ser maior entre as mulheres (66,9%) em comparação com os homens (56,6%). Além disso, chama atenção a exposição precoce ao álcool; 34,6% haviam experimentado a primeira dose antes dos 14 anos, e 15,7% dos escolares relataram terem tido problemas com família ou amigos, perdido aula ou brigado como consequência do consumo de bebidas alcoólicas. Em ambos os parâmetros - início precoce e consequências do uso - os percentuais foram maiores na amostra de mulheres (36,8% e 17,1%, respectivamente) do que na dos homens (32,3% e 14%, respectivamente). Nesse sentido, o percentual daqueles que já haviam usado alguma droga ilícita aumentou de 12% em 2015 para 13% em 2019 (18).

Com o intuito de orientar programas, políticas e ações, as Normas Internacionais sobre a Prevenção do uso de Drogas enfatizam que a meta de prevenir o uso de drogas não está limitada a inibir o início do uso, mas se estende a adiar ou retardar esse início, além de evitar o desenvolvimento de transtornos decorrentes. O documento indica alguns fatores de proteção que devem ser fortalecidos, como as habilidades sociais e pessoais dos adolescentes, o bem-estar psicológico, as relações fortes e positivas com pais que se preocupam com eles, e com escolas e comunidades estruturadas e amparadas (UNODC, 2013).

A escola é vista como um agente transformador. Quando ela não é capaz de desenvolver esse papel, associado às dificuldades familiares dos estudantes e à facilidade no acesso ao álcool e as outras drogas, produz uma sintonia de fatores que expõem o estudante ao uso destas substâncias. Ou seja, a depender de sua organização, a escola pode operar como fator de risco ou proteção. Cada adulto, familiar, profissional de saúde, professor, representante da comunidade, tem importante papel na orientação do adolescente oferecendo-lhe a oportunidade da informação, contribuindo para que se torne habilitado e capaz de cuidar de sua vida com qualidade (Elicker, Palazzo, Aerts, Alves, & Câmara, 2015Elicker, E.; Palazzo, L. dos S.; Aerts, D. R. G. de C.; Alves, G. G.; Câmara, S. (2015). Uso de álcool, tabaco e outras drogas por adolescentes escolares de Porto Velho-RO, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 24(3), 399-410. doi: 10.5123/S1679-49742015000300006
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). Um estudo que verificou as diferenças do julgamento moral em relação às pessoas que usam drogas de acordo com a escolaridade dos participantes, identificou que os mais escolarizados tendem a ter atitudes mais positivas e menos estigmatizantes com relação aos usuários, o que reforça o papel de professores como fundamental no processo de acolhimento e mudança na abordagem de estudantes adolescentes que estão em uso de substâncias (Gallassi, Oliveira, Silva, Machado, & Wagner, 2021Gallassi, A. D.; Oliveira, K. D.; Silva, M. N. R. M. O.; Machado, I. A.; Wagner, G. A. (2021). The relationship between level of education and moral judgment toward who abuse drugs. Cien Saude Colet, 26(6), 2335-2343. doi: 10.1590/1413-81232021266.26392018
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).

Muitos dos problemas enfrentados pelos professores se devem à dificuldade em compreender o contexto fora da escola, o histórico e os modos de vida construídos pelos estudantes. Por isso, faz-se necessário ouvir os estudantes adolescentes a partir de sua condição social e buscar identificar que lugar a escola ocupa na vida deles e o que explica o modo como se comportam na instituição. Proporcionar o diálogo entre as experiências dos estudantes e os saberes escolares é outro desafio.

Nesse sentido, este estudo teve por objetivo descrever e analisar percepções e ações de professores quanto ao uso de álcool e outras drogas de estudantes do ensino médio de escolas públicas de um município da região do entorno do Distrito Federal (DF) brasileiro.

MÉTODO

Trata-se de um estudo do tipo misto, com abordagem quantitativa e qualitativa, realizado em escolas estaduais de ensino médio do município de Águas Lindas de Goiás - região do entorno do DF brasileiro. O município possui 17 escolas, mas durante a coleta das assinaturas dos termos de autorização para participarem da pesquisa, 6 diretores não concordaram em participar, totalizando 11 escolas participantes.

O município conta com população estimada de 217 mil habitantes (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2020Instituto Brasileiro de Geografia e Estatìstica. (2020). População estimada de Águas Lindas de Goiás 2020.. Recuperado de: Recuperado de: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/go/aguas-lindas-de-goias/panorama Acesso em20 out 2021.
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) e apresenta o Coeficiente de Gini de 0,45 (Brasil, 2010Brasil. (2010). Índice de Gini da renda domiciliar per capita - Brasil. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Recuperado de: Recuperado de: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/ibge/censo/cnv/giniuf.def Acesso em 20 out 2021.
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). Tal índice mede o grau de concentração de renda, cujo valor varia de zero (a completa igualdade) até um (a completa desigualdade). Além disso, apresenta o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência de 0,409, que também varia de 0 (nenhuma vulnerabilidade) até 1 (máxima vulnerabilidade; Brasil, 2017Brasil. (2017). Índice de vulnerabilidade juvenil à violência 2017: Desigualdade racial, municípios com mais de 100 mil habitantes. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Recuperado de: Recuperado de: https://www.mpma.mp.br/arquivos/COCOM/arquivos/centros_de_apoio/cao_direitos_humanos/%C3%8Dndice_de_Vulnerabilidade_Juvenil_%C3%A0_Viol%C3%AAncia_2017.pdf Acesso em 20 out 2021.
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). As condições socioeconômicas da população conduziram o município a se configurar como o mais violento do estado de Goiás, com uma taxa de homicídio de 43,8 (Cerqueira et. al, 2019Cerqueira, D.; Lima, R.; Bueno, S.; Alves, P.; Reis, M.; Cypriano, O.; Armstrong, K. (2019). Atlas da Violência: retrato dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Recuperado de: Recuperado de: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/21/atlas-da-violencia-dos-municipios-brasileiros-2019 Acesso em 20 out 2021.
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).

Os critérios de elegibilidade para participação foram professores efetivos por meio de concurso público, com contratos temporários de no mínimo um ano na instituição/estado de Goiás, e aqueles que exerciam cargo de gestão dentro da escola. Foram excluídos aqueles em afastamento, licença ou férias. Do total de 193 professores que trabalhavam nas escolas participantes, 91 (47,15%) preencheram os critérios de inclusão.

Os dados foram coletados nos meses de agosto, setembro e outubro de 2018, em duas etapas: Etapa I: para o recrutamento dos participantes foram realizados encontros presenciais para explicar os objetivos do projeto, em datas pré-agendadas com a direção da escola. Etapa II: todos os professores que se enquadrassem no perfil e aceitassem participar do estudo assinaram o TCLE (termo de consentimento livre e esclarecido) e foram submetidos à entrevista com roteiro semiestruturado. As entrevistas foram realizadas individualmente com duração de aproximadamente 30 minutos, em dia e horário mais convenientes para o professor, e em sala reservada na própria escola onde atuava. 1 1 Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (UnB) sob o número de CAAE 86530818.8.0000.8093/2018.

O instrumento de coleta de dados foi elaborado com base na revisão da literatura e está dividido em três partes. A primeira é composta por perguntas objetivas sobre os dados sociodemográficos dos participantes, como idade, sexo, tempo de atuação no ensino médio, tempo de contrato ou concurso no estado de Goiás, disciplina ministrada e formação acadêmica, tempo de atuação profissional no Ensino Médio e faixa de renda familiar. A segunda parte, foi uma entrevista semiestruturada com perguntas norteadoras sobre a percepção dos professores a respeito do uso de drogas entre os estudantes que estão descritas no Quado 1. A terceira e última parte foi constituída por cinco perguntas objetivas, sequencial às questões norteadoras, visando identificar o julgamento dos professores sobre os alunos que fazem uso de álcool e outras drogas, com respostas do tipo likert com as seguintes opções: (0) Provavelmente sim, (1) Não tenho certeza e (2) Provavelmente não.Os dados quantitativos foram apresentados em medidas resumo (frequências absoluta e relativa, média e mediana) e medidas de dispersão (desvio padrão, mínimo e máximo), analisados com o auxílio do software SPPSS versão 23.

Quadro 1
Perguntas Norteadoras da Entrevista Semiestruturada.

As entrevistas foram gravadas, transcritas e identificadas por um código alfanumérico de forma a não identificar os participantes. As unidades escolares participantes foram numeradas de 1 (um) a 11 (onze) e identificadas com a letra “E”, já os professores foram numerados de 1 (um) a 91 (noventa e um) na ordem de realização das entrevistas acompanhado da letra “P”. Para a análise dos dados qualitativos optou-se pelo método de análise de conteúdo orientada por Bardin, seguindo as três fases: pré-análise do material, fase de exploração e a fase de tratamento dos resultados, inferência e interpretação respaldadas no referencial teórico (Bardin, 2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70. Resenha de: F. M. Santos. (2012). Análise de conteúdo: A visão de Laurence Bardin. Revista Eletrônica de Educação, 6(1), p. 383-387. doi: doi.org/10.14244/%2519827199291
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). Essa técnica permitiu realizar a “leitura flutuante” de todo o corpus da pesquisa, os dados foram codificados e agrupados tematicamente em categorias para possibilitar as interpretações inferenciais.

O critério de categorização utilizado foi o semântico. Esse processo permite a junção de um número significativo de informações organizadas em duas etapas, (i) inventário (onde se isolam os elementos comuns): nesse momento foram agrupadas as respostas utilizando o tema como unidade de registro, e (ii) classificação (onde divide-se os elementos e impõem-se organização): aqui os agrupamentos iniciais foram refinados e reagrupados até chegar às categorias (Bardin, 2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70. Resenha de: F. M. Santos. (2012). Análise de conteúdo: A visão de Laurence Bardin. Revista Eletrônica de Educação, 6(1), p. 383-387. doi: doi.org/10.14244/%2519827199291
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).

RESULTADOS

Conforme apresentado na Tabela 1, a amostra constituiu-se por 91 professores, sendo 57% do sexo masculino e idade média de 37,2 anos (DP ±9 anos). Do total de professores, 47% possuem apenas graduação e a minoria (7%) mestrado/doutorado; 76% relataram que possuem contrato temporário com a escola. A renda mensal familiar de 44% dos professores é em torno de 1 a 4 salários-mínimos, e acima de 8 para 24%, mesmo percentual de professores com vínculo empregatício efetivo.

Tabela 1
Dados Sociodemográficos em Termos de Frequência e Porcentagem dos Participantes do Estudo (N = 91).

Com relação à distribuição de professores por disciplina, em sua maioria ministravam mais de uma disciplina na mesma escola, justificada como áreas afins à formação inicial. A disciplina ministrada por mais professores foi português (29%) e a ministrada por menor número de professores foi artes (3%).

A percepção dos professores em relação ao uso de álcool e outras drogas entre os estudantes foi analisada a partir de entrevista semiestruturada com perguntas norteadoras e os dados coletados foram agrupados em seis categorias temáticas.

Capacitação docente

Os relatos demostraram as dificuldades de uma formação voltada para trabalhar com adolescentes e suas peculiaridades. Os discursos foram frequentes com manifestações de ausência de capacitação do professor durante o seu processo de formação: matéria específica não, mas tinham matérias de cunho amplo que tinham uma pequena parte sobre isso. (E01P04).

Geralmente só o que a gente aprende nos cursos de aperfeiçoamento, que a gente consegue lidar e no cotidiano mesmo e que a gente tem uma intimidade grande com eles, mas dentro da minha formação, não ele não te dá uma noção de trabalhar com estudantes com esse tipo de problema, drogas, álcool, ele dá caminhos, ah você tem que procurar isso e aquilo mas a forma ele não te dá. (E07P62)

Não necessariamente, mas eu fiz um curso de crianças com transtornos, mas de certa forma indiretamente falando o álcool e a droga ela traz isso, esse tipo de conflito para o adolescente e atrapalha um pouco para o cognitivo. (E09P80)

Motivos para o uso

Na percepção de alguns professores, a ociosidade, tempo livre, falta de lugares para lazer na cidade e influência de amizades estão entre os principais motivos que levam os estudantes a fazerem o uso de álcool e outras drogas, como descritos nas falas a seguir:

Eu acho que é ocupar alguma coisa que ele não tem; é suprir coisa que ele não tem, aí ele vai atrás do que não é bom pra eles [...]. (E1P15).

Não temos lazer, não temos outro local para eles se divertirem então a amizade né, as influências fora do portão da escola, tudo isso faz com que ele leve a razão para o uso de droga [...]. (E2P24)

Dentre as falas, novamente os discursos apresentam a condição socioeconômica e familiar como motivos que levam os estudantes a fazerem o uso de álcool e outras drogas. Para os professores, a desmotivação e a falta de perspectivas que o meio vulnerável apresenta são causas determinantes para o uso de drogas:

[...] muitos alunos nossos, principalmente essa comunidade, eles são muito carentes, então muitos se deparam de estar sozinhos, de não ter o que comer, de pais ou mães que já passaram por essa situação, que estão usando drogas, muitos presos, então a própria vivência em casa acaba levando a essa situação [...].

Que eles precisam ser vistos, se tivesse um apoio que a gente pudesse acompanhar, mas infelizmente a gente não tem esse acesso porque a gente se depara com situação de pais que nem ficam em casa, não sabem nem o que o filho faz, não sabe nem se o filho veio para a escola, né e aí como a gente atua junto a essa família? Não tem condição. (E08P73)

Atitude dos professores

Em relação à atitude dos professores diante de um aluno sob efeito de álcool e outras drogas, para alguns a abordagem deve ser de cunho acolhedor, de forma a aproximar e estabelecer vínculo com o aluno, com o intuito de conquistar confiança e os alunos conseguirem expressar o que está acontecendo, como descrito a seguir: “Hoje em dia esses alunos que fazem uso de entorpecente e de álcool se o professor for bater de frente com ele, tem que chamar para conversar, uma conversa que ele não se sinta criticado e ofendido”. (E01P08)

Abordei, mas era uma conversa de cunho mais amigável, além do professor regente, daquele cargo de liderança que é a imagem que o aluno tem, a gente também tem que partilhar da parte da amizade, companheirismo, então abordei de forma amigável tentando conscientizar, abordagem desse modelo, evitando uma abordagem mais agressiva ou de distância e eu tento trazê-lo para mim, se tornar um amigo, companheiro. (E01P40)

Para 19 dos 91 professores entrevistados, esses alunos são pessoas mais suscetíveis a oscilações de humor e, portanto, eles preferem não realizar abordagem com medo de represálias, principalmente por serem domiciliados no município em que trabalham e pela facilidade de encontrá-los fora do ambiente escolar: “no momento não, porque é até mesmo perigo por eu não saber a reação da pessoa.” (E01P07)

Normalmente quando os alunos chegam drogados na sala de aula a gente evita ao máximo entrar em confronto com eles, a gente só pede para eles ficarem quietos e prestar atenção na aula, caso eles não queiram ficar na sala de aula, a gente libera para que eles tomem um ar no pátio para depois retornar. (E1P12)

Outros, embora façam orientações aos estudantes, acreditam que as causas associadas à ausência de recursos financeiros, de moradia, ou seja, ligadas às desigualdades sociais em que esses alunos estão inseridos, sejam determinantes:

Eu conversei muito com eles e eles falam muito que é desigualdade social né?! A desigualdade social principalmente no município de Águas Lindas eles têm muita repressão a respeito disso, de tipo assim, não querer vencer na vida e cair no mundo das drogas. [...]. (E03P38)

[...] aí eu conversei com eles, orientei eles que a educação é a área mais importante, para estudar, essas coisas assim, mas ele ainda acha que a desigualdade social, ele vai usar porque meu pai e minha mãe usa, infelizmente é uma triste realidade. [...]. (E02P19)

Tipo de droga

Em relação à identificação do tipo de droga que o aluno está sob efeito, os discursos mostravam, em sua maioria, o desconhecimento, mas em seguida, os professores manifestavam conhecer alguns sintomas. Dentre os sinais e sintomas mais relatados estavam, olhos vermelhos, sudorese, sede excessiva, pupilas dilatadas e cheiro de álcool exalado pelos estudantes:

[...] duas pelo menos sim, álcool e maconha com certeza. O álcool é sonolência, voz arrastada, equilíbrio e tudo mais, maconha normalmente é olho avermelhado, lentidão no falar, sequidão da boca, eles ficam com uma vontade de beber água muito grande, e o tempo todo dorme, às vezes deita na carteira e dorme feito uns bebês e isso, é claro, é notório[...]. (E01P13)

O aluno [...] ele tá com muito sono, porque tá bêbado, ou ele tá muito alegre, muito extasiado, porque usou uma mais forte e a ele não te ouve, não te obedece, te confronta para testar o seu limite e o limite dele, então assim é muito claro muito evidente, olhos vermelhos [...]. (E02P27)

Desempenho escolar

Para os professores, o uso de álcool e outras drogas atrapalha o desempenho esco ar. A frequência do consumo está associada ao aumento do risco de dependência e ao comportamento violento, conforme observado nas falas que se seguem:

É muito difícil você encontrar um aluno que é usuário e tem notas boas, bom comportamento, então com certeza na parte pedagógica, influencia totalmente (E1P09)

[...] ele não tem a perspectiva, ele não consegue assimilar conteúdo, ele não tem o mesmo comportamento desse aluno que não faz esse uso, então influencia sim. (E01P15).

Porque quando o aluno faz uso de substância, dependendo da substância ele fica no mundo dele, e outros tipos de substância, ele fica muito hiperativo, saindo da sala toda hora que ir ao banheiro, boca seca e questão de rendimento ele cai [...] (E01P08).

Ações de prevenção

Para os professores entrevistados as ações associadas à prevenção do uso de álcool e outras drogas sempre estiveram presentes na prática docente por envolvimento em atividades denominadas “projetos”, além das intervenções da Polícia Militar, por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD):

[...] palestras, o ano passado veio o PROERD, teve uma palestra a respeito de drogas e os professores também trabalham em sala de aula [...]. (E10P84)

[...] tem alguns projetos que a gente desenvolve e que vai justamente atrás dessa problemática, vai atrás da família pra dentro da escola, conversa com os pais, faz peças teatrais, leva esses meninos para algum canto para mostrar a realidade para eles, então a gente tá sempre envolvendo a comunidade com os alunos para poder detectar e sanar essa deficiência [...]. (E10P84)

A terceira e última parte do instrumento foi constituída por cinco perguntas objetivas sobre o julgamento dos professores com relação aos alunos que fazem uso de álcool e outras drogas. A maioria dos participantes (62%) acredita que os estudantes que fazem uso de álcool e outras drogas não têm uma doença, que são moralmente fracos (51%), são um perigo para a sociedade (47%) e poderiam cometer delitos na sua família (98%). Por outro lado, a grande maioria dos professores acredita que os estudantes que usam álcool e outras drogas são tão importantes como qualquer outra pessoa (98%), conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2
Julgamento dos Professores com Relação aos Estudantes que Usam Álcool e Outras Drogas (N = 91)

DISCUSSÃO

O Censo Escolar de 2020 (Brasil, 2021Brasil. (2021). Notas estatísticas: Censo escolar 2020. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Recuperado de: Recuperado de: https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/notas_estatisticas_censo_escolar_2020.pdf Acesso em20 out 2021.
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), divulgado pelo Ministério da Educação, apontou que cerca de 58% dos professores que atuam no Ensino Médio são do sexo feminino. Esses dados se diferem do encontrado na presente pesquisa, na qual a maioria dos participantes era do sexo masculino. Essa diferença pode estar relacionada a uma característica regional, uma vez que em outros estudos realizados em escolas públicas do Distrito Federal a maioria dos professores era do sexo masculino (Santos et al., 2016Santos, C. P. dos; Dechandt, S. G.; Bittencourt, J. A. de; Oliveira, J. M. de; Carvalho, C.; Leite, C. E. (2016). Qualidade de vida no trabalho: um estudo sobre os professores da rede pública de ensino do Distrito Federal. Universitas: Gestão e TI, 6(1), 97-107. doi: 10.5102/un.gti.v6i1.3875
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; Grande, 2009Grande, C. (2009). O Trabalho e o Afeto: Prazer e Sofrimento no Trabalho dos Professores da Escola Pública de Brasília. Dissertação de Mestrado em Sociologia, Universidade de Brasília, Brasília-DF.).

A maioria dos participantes relatou não ter tido em sua formação abordagem específica sobre álcool e outras drogas. O pouco conhecimento sobre esta temática, que também foi relatado em outros estudos (Moreira, Silveira, & Andreoli, 2009Moreira, F. G.; Silveira, D. X. da; Andreoli, S. B. (2009). Knowledge and attitudes related to drug abuse and prevention displayed by public school educators. Revista Brasileira de Psiquiatria, 31(2), 95-100. doi: doi.org/10.1590/S1516-44462009000200003
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; L. F. S. de Oliveira e cols., 2018Oliveira, L. F. S. de; Moreira, B. L. da R.; Oliveira, E. L. de; Bofill, M. A. D. M.; Machado, M. M.; Afonso, D. H. (2018). Risco de Drogadição em Escolares: Professores como Potenciais Agentes de Prevenção e Promoção de Saúde. Expressa Extensão, 23(2), 43-57. doi: 10.15210/ee.v23i2.13204
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), é um fato preocupante, já que o conhecimento sobre drogas é um requisito básico para a eficácia das ações preventivas. Esse é um dado que chama atenção se considerarmos que a temática não é abordada adequadamente na graduação, tampouco em cursos de capacitação, ainda que a escola seja considerada o lugar privilegiado para ações de prevenção e o professor o principal mediador e ator deste processo (Faggiano, Minozzi, Versino, & Buscemi, 2014Faggiano, F.; Minozzi, S.; Versino, E.; Buscemi, D. (2014). Universal school-based prevention for illicit drugs use. Cochrane Database of Systematic Reviews, 12, CD003020. doi: 10.1002/14651858.CD003020
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). Como consequência, muitos professores acabam construindo percepções estigmatizantes sobre pessoas que usam drogas, tornando difícil o diálogo sobre o tema entre a escola e a família e vice-versa, além de influenciar a construção de resistências entre professores, alunos e familiares em discutir o problema de forma ampliada e dialógica, tornando-o velado, embora seja parte da realidade cotidiana das escolas (Silva et al., 2018Silva, P. M. C. D.; Galon, T.; Zerbetto, S. R.; Moura, A. A. M. D.; Volpato, R. J.; Gonçalves, A. M. D. S. (2018). Percepções, dificuldades e ações de professores frente às drogas na escola. Educação e Pesquisa, 44(e182015), 1-16. doi: 10.1590/s1678-4634201844182015
https://doi.org/10.1590/s1678-4634201844...
).

A indicação dos participantes do estudo de que a ociosidade, a falta de lazer, a influência de amizades, a condição familiar e a desigualdade social estão relacionadas ao uso de álcool e outras drogas entre os estudantes, encontra respaldo na literatura. Tais evidências indicam como principais fatores de risco para o uso de drogas o uso dessas substâncias e delitos ocorridos no ambiente familiar, a falta de vínculo com a escola e com a comunidade, desigualdades sociais acentuadas, pressão dos amigos que usam, meio ambiente degradado e normas sociais favoráveis. Em contrapartida, as características relacionadas à família, como afeto e forte vínculo parental, aceitação e envolvimento, pais envolvidos com a educação dos filhos, escolas e comunidades saudáveis e engajadas, são importantes fatores de proteção ao consumo de álcool e outras drogas entre adolescentes (Jacomini, Alves, & Camargo, 2016Jacomini, M.; Alves, T.; Camargo, R. B. de. (2016). Remuneração docente: Desafios para o Monitoramento da Valorização dos Professores brasileiros no contexto da meta 17 do plano nacional de educação. Education Policy Analysis Archives, 24(73), 1-32.).

Ainda que entendam a complexidade do fenômeno ao elencarem os fatores de risco que contribuem para o uso de álcool e outras drogas, os professores percebem os alunos que fazem uso como “moralmente fracos”, “um perigo para a sociedade” e que “poderiam cometer delitos na sua família”. Tal situação pode ser caracterizada como estigma, entendido como uma construção social, a qual atribui ao seu portador um status de desvalorização em relação aos outros membros da sociedade (Gallassi et al., 2021Gallassi, A. D.; Oliveira, K. D.; Silva, M. N. R. M. O.; Machado, I. A.; Wagner, G. A. (2021). The relationship between level of education and moral judgment toward who abuse drugs. Cien Saude Colet, 26(6), 2335-2343. doi: 10.1590/1413-81232021266.26392018
https://doi.org/10.1590/1413-81232021266...
). Essas situações ocorrem quando os indivíduos são identificados em relação a alguma característica indesejável que possuem e, a partir disso, são discriminados e desvalorizados pela sociedade.

No caso do álcool e das outras drogas, o estigma se acentua quando não se compreende o fenômeno em sua complexidade e multicausalidade, pois “o fato das drogas serem consideradas como danosas em si, estigmatiza o usuário como perigoso e potencialmente violento” (Tatmatsu, Alves, & Camargo 2020Tatmatsu, D. I. B.; Siqueira, C. E.; Del Prette, Z. A. P.; (2020). Políticas de prevenção ao abuso de drogas no Brasil e nos Estados Unidos. Cadernos de Saude Publica, 36(1), e00040218. doi: 10.1590/0102-311X00040218
https://doi.org/10.1590/0102-311X0004021...
, p.03). Essa associação “automática” do usuário de drogas como perigoso e violento pode ser entendida como um dos vários efeitos deletérios da política de “guerra às drogas”, modelo norte-americano de enfrentamento militar ao uso de drogas copiado por vários países, inclusive o Brasil, em que as drogas se tornaram o grande inimigo a ser combatido pelo Estado (Kerr & Jackson, 2016Kerr, J.; Jackson, T. (2016). Stigma, sexual risks, and the war on drugs: Examining drug policy and HIV/AIDS inequities among African Americans using the Drug War HIV/AIDS Inequities Model. International Journal of Drug Policy, 37, 31-41. doi: 10.1016/j.drugpo.2016.07.007
https://doi.org/10.1016/j.drugpo.2016.07...
). Na prática, a guerra às drogas se trata de uma guerra contra as pessoas que usam e/ou vendem drogas, que passam a ter uma representação social de indesejáveis e criminosas e o enfrentamento bélico é visto como a maneira adequada do Estado lidar com a questão (Khenti, 2014Khenti, A. (2014). The Canadian war on drugs: Structural violence and unequal treatment of Black Canadians. International Journal of Drug Policy, 25(2), 190-195. doi: 10.1016/j.drugpo.2013.12.001
https://doi.org/10.1016/j.drugpo.2013.12...
). Como consequência, o estigma que recai sobre essas pessoas se associa a um baixo bem estar psicológico, além de ser uma das principais barreiras para a procura de tratamento (Kulesza, Teachman, Werntz, Gasser, & Lindgren, 2015Kulesza, M.; Teachman, B. A.; Werntz, A. J.; Gasser, M. L.; Lindgren, K. P. (2015). Correlates of public support toward federal funding for harm reduction strategies. Substance abuse treatment, prevention, and policy, 10(1), 1-8.); o acesso aos serviços de saúde se torna ainda mais desafiador quando os próprios profissionais atribuem os estereótipos de desmotivação, violência e manipulação aos usuários de álcool e outras drogas (Meyers et. al., 2021Meyers, S. A.; Earnshaw, V. A.; D’Ambrosio, B.; Courchesne, N.; Werb, D.; Smith, L. R. (2021). The intersection of gender and drug use-related stigma: A mixed methods systematic review and synthesis of the literature. Drug and Alcohol Dependence, 223, 108706. doi: 10.1016/j.drugalcdep.2021.108706
https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.202...
).

Um estudo realizado no DF apontou que logo após um aluno ser pego com algum tipo de droga, a direção e os professores reuniam os estudantes em uma roda de conversa e discutiam o caso, acreditando que assim aproveitariam para desenvolver uma prática educativa com sentido e sem imposição, valorizando as opiniões e experiências de todos, direção, professores e estudantes (Chagas et al., 2017Chagas, J. C.; Marques, R. H. B.; Pedroza, R. L. S.; Pulino, L. H. C. Z.; Silva, S. F. L. da; Siqueira, I. B.; Sousa, T. R.; Sudbrack, M. F. O. (2017). Concepções de professoras dos anos iniciais do ensino fundamental sobre prevenção do uso indevido de drogas. Revista Brasileira de Educação, 22(71), e227179. doi: 10.1590/S1413-24782017227179
https://doi.org/10.1590/S1413-2478201722...
). Essas atitudes compreensivas podem favorecer a construção de um vínculo mais fortalecido com seus estudantes, entendido como fator de proteção do uso de drogas, colaborando, assim, para a construção de um ambiente escolar mais saudável, tolerante e receptivo, estreitando a relação do aluno com a instituição de ensino (Oliveira et al., 2018Oliveira, L. F. S. de; Moreira, B. L. da R.; Oliveira, E. L. de; Bofill, M. A. D. M.; Machado, M. M.; Afonso, D. H. (2018). Risco de Drogadição em Escolares: Professores como Potenciais Agentes de Prevenção e Promoção de Saúde. Expressa Extensão, 23(2), 43-57. doi: 10.15210/ee.v23i2.13204
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).

Por outro lado, alguns professores afirmaram não realizar abordagem com medo de represálias. O mesmo dado aparece em dois outros estudos em que embora os professores tenham apresentado, na maioria das situações relatadas, disposição para atitudes mais positivas e acolhedoras, quando a circunstância envolvia flagrante de uso ou tráfico, as atitudes tendiam à neutralidade (Moreira, Alves, & Camargo 2009Moreira, F. G.; Silveira, D. X. da; Andreoli, S. B. (2009). Knowledge and attitudes related to drug abuse and prevention displayed by public school educators. Revista Brasileira de Psiquiatria, 31(2), 95-100. doi: doi.org/10.1590/S1516-44462009000200003
https://doi.org/10.1590/S1516-4446200900...
; Oliveira et al., 2018Oliveira, L. F. S. de; Moreira, B. L. da R.; Oliveira, E. L. de; Bofill, M. A. D. M.; Machado, M. M.; Afonso, D. H. (2018). Risco de Drogadição em Escolares: Professores como Potenciais Agentes de Prevenção e Promoção de Saúde. Expressa Extensão, 23(2), 43-57. doi: 10.15210/ee.v23i2.13204
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). Essa postura dos professores de não envolvimento em situações e discussões sobre drogas contraria a própria política nacional sobre drogas (Brasil, 2019), que aponta a necessidade de inclusão de conteúdos no currículo relativos à prevenção, com ênfase na promoção da vida, da saúde, e das habilidades sociais e para a vida. Além disso, se cria um contexto de ambiguidade em que ao mesmo tempo em que os professores reconhecem a escola e o seu papel de educador como fundamentais para a formação do aluno e para a execução de programas de prevenção, eles preferem não assumir essas tarefas, delegando-as aos profissionais que julgam qualificados, como os profissionais da área da saúde - fato que, na prática, tem sido impossível, já que a demanda do aluno em relação ao assunto recai sobre os professores (Ferreira, Sanchez, Ribeiro, Oliveira, & Nappo, 2010Ferreira, T. C. D.; Sanchez, Z. V. D. M.; Ribeiro, L. A.; Oliveira, L. G. de; Nappo, S. A. (2010). Percepções e atitudes de professores de escolas públicas e privadas perante o tema drogas. Interface: Communication, Health, Education, 14(34), 551-562. doi: 10.1590/S1414-32832010005000007
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).

O fato de não se sentirem preparados para abordar o assunto com os estudantes pode estar relacionado à pouca formação e/ou capacitação sobre álcool e outras drogas, à própria sobrecarga de trabalho, ao tabu intrínseco ao tema e ao medo de represália por parte de traficantes (Oliveira, 2018Oliveira, L. F. S. de; Moreira, B. L. da R.; Oliveira, E. L. de; Bofill, M. A. D. M.; Machado, M. M.; Afonso, D. H. (2018). Risco de Drogadição em Escolares: Professores como Potenciais Agentes de Prevenção e Promoção de Saúde. Expressa Extensão, 23(2), 43-57. doi: 10.15210/ee.v23i2.13204
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). Ressalta-se que o tema drogas não deve se restringir à responsabilidade do professor abordá-lo dentro da sua matéria com uma carga horária já limitada, sem disponibilidade de acréscimos, sendo necessário o apoio da direção da escola para promover adaptações curriculares para inserir conteúdos extras que abordem a prevenção do uso de álcool e outras drogas (Ferreira, Sanchez, Ribeiro, Oliveira, & Nappo, 2010Ferreira, T. C. D.; Sanchez, Z. V. D. M.; Ribeiro, L. A.; Oliveira, L. G. de; Nappo, S. A. (2010). Percepções e atitudes de professores de escolas públicas e privadas perante o tema drogas. Interface: Communication, Health, Education, 14(34), 551-562. doi: 10.1590/S1414-32832010005000007
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).

As políticas de prevenção ao uso de álcool e outras drogas entre escolares visam, entre outras coisas, restringir o acesso e a exposição ao uso durante o horário escolar, já que o aumento do acesso a essas substâncias está associado a maiores taxas de autorrelato de uso por adolescentes (Porath-Waller, Beasley, & Beirness, 2010Porath-Waller, A. J.; Beasley, E.; Beirness, D. J. (2010). A meta-analytic review of school-based prevention for cannabis use. Health Education and Behavior, 37(5), 709-723. doi: 10.1177/1090198110361315
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). A preocupação com o bem-estar dos estudantes é primordial para uma ação preventiva efetiva, assim como estratégias para evitar fatores de risco sejam colocadas em prática juntamente com programas específicos para cada grupo ou faixa etária. Fato positivo do presente estudo e que pode favorecer tais ações é o dado de que a quase totalidade dos professores (98%), mesmo na ausência de capacitação ou formação específica, acredita que os/as alunos/as que fazem uso de drogas são tão importantes quanto qualquer outra pessoa.

Dessa forma, é importante observar que não há relatos de ações sistemáticas de prevenção nas escolas onde os participantes atuam. Tal dado vai ao encontro de achados recentes que apontam que a prevenção ao uso de drogas nas escolas brasileiras ocorre esporadicamente e sem regularidade, o que já era observado desde a década de 1980. Destaca-se que essas poucas ações são ofertadas principalmente pela Polícia Militar (Pereira & Sanchez, 2020Pereira, A. P. D.; Sanchez, Z. M. (2020). Características dos Programas Escolares de Prevenção ao Uso de Drogas no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25(8), 3131-3142. doi: 10.1590/1413-81232020258.28632018
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), fato também relatado por alguns professores entrevistados que citaram o PROERD como estratégia de prevenção, que é a adaptação brasileira do programa norte-americano Drug Abuse Resistence Education - DARE, criado em 1983. O programa, fundamentado no modelo proibicionista, tem como meta o treinamento para resistir à oferta de drogas. Por outro lado, estudos vêm demonstrando a ineficácia tanto do DARE quanto do PROERD, seja pela abordagem do amedrontamento utilizada, pela ausência de dados que comprovem sua eficácia, ou pela fragilidade do currículo do programa (Sanchez et al., 2021Sanchez, Z. M.; Valente, J. Y.; Gusmões, J. D.; Ferreira-Junior, V.; Caetano, S. C.; Cogo-Moreira, H.; Andreoni, S. (2021). Effectiveness of a school-based substance use prevention program taught by police officers in Brazil: two cluster randomized controlled trials of the PROERD. International Journal of Drug Policy, 98, 103413. doi: 10.1016/j.drugpo.2021.103413
https://doi.org/10.1016/j.drugpo.2021.10...
; Valente e Sanchez, 2021Valente, J. Y.; Sanchez, Z. M. (2021). Short-Term Secondary Effects of a School-Based Drug Prevention Program: Cluster-Randomized Controlled Trial of the Brazilian Version of DARE’s Keepin’it REAL. Prevention science, 23(1), 10-23. doi: 10.1007/s11121-021-01277-w
https://doi.org/10.1007/s11121-021-01277...
). Ainda assim, o PROERD vem sendo amplamente utilizado pelas escolas no país desde 1992.

O programa confronta, portanto a premissa de que o uso de droga entre adolescentes deve ser entendido pelos profissionais de ensino como um sintoma de vulnerabilidade pessoal e/ou social, cuja prevenção se daria não pela coerção, mas pela redução dos fatores de riscos e o fortalecimento dos fatores de proteção (Souza, Bottechia, Martins, Lessa, & Watanabe 2015Souza, M. L. P. de; Bottechia, J. A. de A.; Martins, J. D. N. R.; Lessa, M. B.; Watanabe, D. R. J. (2015). A prevenção e a política sobre drogas em escolas públicas do Distrito Federal. Argumentum, 7(1), 126. doi: 10.18315/argumentum.v7i1.10221
https://doi.org/10.18315/argumentum.v7i1...
). Nesse sentido, a proposta de prevenção deve ser pautada pela promoção à saúde, indicando “[...] estratégias que enfatizem a transformação de condições de vida e de trabalho que confrontam a estrutura subjacente aos problemas de saúde, demandando uma abordagem intersetorial” (Brasil, 2014Brasil. (2014). Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas. Brasília: SENAD. Recuperado de: Recuperado de: http://abramd.org/wp-content/uploads/2014/05/Livro_texto_Curso_Prevencao2014.pdf Acesso em 20 out 2021.
http://abramd.org/wp-content/uploads/201...
, p. 138).

A escola desempenha papel fundamental na formação de valores, hábitos e estilo de vida dos adolescentes, visto que é um espaço de socialização e de aprendizado em que os adolescentes passam grande parte do tempo. Nesse sentido, é considerado um ambiente promissor para intervenções preventivas por atingir um grande número de adolescentes ao mesmo tempo (Marschall-Lévesque, Castellanos-Ryan, Vitaro, & Séguin, 2014Marschall-Lévesque, S.; Castellanos-Ryan, N.; Vitaro, F.; Séguin, J. R. (2014). Moderators of the association between peer and target adolescent substance use. Addictive Behaviors, 39(1), 48-70. doi: 10.1016/j.addbeh.2013.09.025
https://doi.org/10.1016/j.addbeh.2013.09...
). Além disso, a prevenção ao uso de drogas no ambiente escolar pode, efetivamente, complementar as iniciativas sociais, econômicas e políticas preventivas, não sendo uma ação isolada.

Sendo assim, faz-se necessário que os educadores, juntamente com a escola, atuem por meio de um processo de sensibilização, proporcionem informação, conhecimento e orientação, possibilitando aos professores a reflexão, o desenvolvimento do pensamento crítico, a obtenção de valores e conhecimentos para a vida, atuando na formação de cidadãos críticos, reflexivos, conscientes e responsáveis por suas ações (Cardoso & Malbergier, 2014Cardoso, L. R. D.; Malbergier, A. (2014). Problemas escolares e o consumo de álcool e outras drogas entre adolescentes. Psicologia Escolar e Educacional, 18(1), 27-34. doi: 10.1590/S1413-85572014000100003
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).

Além da inclusão da temática do uso de drogas no processo formativo dos professores (da graduação à educação permanente e continuada), buscando uma abordagem respeitosa, acolhedora, livre de preconceito e estigmas, e baseada em conhecimento específico, é fundamental a reorganização de projetos políticos pedagógicos e currículos integrados com a comunidade e a família, considerando as especificidades de cada território. Conhecer e reconhecer a realidade local favorece o desafiante engajamento de pais e/ou responsáveis, bem como parcerias intersetoriais que são essenciais na abordagem de temas multifatoriais e complexos, como o uso de drogas. Nessa perspectiva, a escola poderá operar como transformadora, ao potencializar aspectos protetivos aumentando o compromisso com a escola, sua participação e o vínculo positivo dos alunos e da comunidade (UNODC, 2013Pereira, A. P. D.; Sanchez, Z. M. (2020). Características dos Programas Escolares de Prevenção ao Uso de Drogas no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25(8), 3131-3142. doi: 10.1590/1413-81232020258.28632018
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; Pereira & Sanchez, 2020Pereira, A. P. D.; Sanchez, Z. M. (2020). Características dos Programas Escolares de Prevenção ao Uso de Drogas no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25(8), 3131-3142. doi: 10.1590/1413-81232020258.28632018
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).

Como limitação do estudo, não foi possível coletar os dados de todas as 17 escolas estaduais do município, como era o objetivo inicialmente. Mesmo após a aprovação da Subsecretaria Regional de Educação, os diretores de 6 escolas recusaram a entrada das pesquisadoras alegando proximidade com as eleições para a direção da unidade e, portanto, não gostariam de se comprometer com a realização da pesquisa no momento em que não mais estariam no cargo.

Como conclusão, os achados demonstram que os professores apresentam conhecimento sobre os fatores de risco para o uso de álcool e outras drogas, tendem a atitudes mais positivas e acolhedoras em relação a alunos que fazem uso, buscando acolhimento, criação de vínculo e escuta, possuem pouco conhecimento sobre drogas, não tiveram formação na área, não participam de programas de prevenção e tampouco se sentem preparados para essas ações.

A ausência de práticas relacionadas à abordagem e à prevenção do uso de álcool e outras drogas apontadas pelos participantes em sua formação profissional, possibilitou considerar que essas são meios capazes de serem potencializadas para a integralidade das ações educativas na escola. Tais práticas, por sua vez, quando desenvolvidas com o uso de metodologias de base na educação, compartilham saberes, ampliam a compreensão do social e cultural no território em que vivem os estudantes, criando maiores possibilidades de desenvolver processos de conscientização crítica sobre a realidade.

Nesse sentido, o estudo revela e reforça o quanto a educação em saúde como uma política de Estado deveria estar presente no processo de formação profissional dos professores, contribuindo para uma educação responsável sobre o tema, desde a abordagem preventiva junto à comunidade escolar, ao acolhimento dos mais vulneráveis. Com isso, novos estudos são desejáveis para que o aprofundamento nessa temática subsidie melhores políticas de educação.

REFERÊNCIAS

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  • 1
    Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (UnB) sob o número de CAAE 86530818.8.0000.8093/2018.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    01 Dez 2021
  • Aceito
    17 Out 2022
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