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PRÁTICAS INOVADORAS NO ENSINO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Prácticas innovadoras en la enseñanza de Psicología del Desarrollo

RESUMO

Este artigo objetiva descrever estratégias de ensino e aprendizagem inovadoras empregadas nas disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento I e II do curso de Psicologia de uma universidade federal do sul do Brasil, como parte de um projeto vinculado ao Programa de Iniciação à Docência (PID) dessa universidade. Atividades e técnicas diversificadas e adaptadas aos diferentes conteúdos têm sido propostas para garantir a participação e o engajamento dos discentes, tais como observação, criação de jogos educativos, desenvolvimento de mapas conceituais, análise de materiais audiovisuais e artísticos, criação narrativa e discussão de casos. A realização dessas atividades e técnicas tem se mostrado eficaz na promoção da integração teórico-prática, considerando a realidade dos estudantes, e na construção de um raciocínio psicológico para a compreensão dos múltiplos fenômenos associados ao desenvolvimento humano.

Palavras-chave:
psicologia do desenvolvimento; métodos de ensino; ensino da psicologia

RESUMEN

En este artículo se tiene por objetivo describir estrategias de enseñanza y aprendizaje innovadoras empleadas en las asignaturas de Psicología del Desarrollo I y II del curso de Psicología de una universidad federal del sur de Brasil, como parte de un proyecto vinculado al Programa de Iniciación a la Docencia (PID) de esa universidad. Actividades y técnicas diversificadas y adaptadas a los distintos contenidos han sido propuestas para garantizar la participación y el compromiso de los discentes, tales como observación, creación de juegos educativos, desarrollo de mapas conceptuales, análisis de materiales audiovisuales y artísticos, creación narrativa y discusión de casos. La realización de esas actividades y técnicas se ha mostrado eficaz en la promoción de la integración teórico-práctica, considerando la realidad de los estudiantes, y en la construcción de un raciocinio psicológico para la comprensión de los múltiples fenómenos asociados al desarrollo humano.

Palabras clave:
psicología del desarrollo; métodos de enseñanza; enseñanza de la psicología

ABSTRACT

This article aims to describe innovative teaching and learning strategies used in the disciplines of Developmental Psychology I and II of the Psychology course at a federal university in southern Brazil, as part of a project linked to the Programa de Iniciação à Docência (PID)2 of that university. Diversified activities and techniques adapted to the different contents have been proposed to ensure the participation and engagement of students, such as observation, creation of educational games, development of conceptual maps, analysis of audiovisual and artistic materials, narrative creation and discussion of cases. Carrying out these activities and techniques has proven to be effective in promoting theoretical-practical integration, considering the students’ reality, and in building psychological reasoning for understanding the multiple phenomena associated with human development.

Keywords:
developmental psychology; teaching methods; psychology teaching

INTRODUÇÃO

Por desenvolvimento humano compreende-se qualquer processo de mudança gradativa, que ocorre por meio de interações em um determinado contexto, envolvendo transformações físicas, cognitivas e psicossociais (Aspesi, Dessen, & Chagas, 2005Aspesi, C. C.; Dessen, M. A.; Chagas, J. F. (2005). A ciência do desenvolvimento humano: uma perspectiva interdisciplinar. In: M. A. Dessen; A. L Costa. (Eds.), A ciência do desenvolvimento humano(19-36). Porto Alegre: Artmed.). O estudo do desenvolvimento humano inclui diferentes aspectos do ciclo vital, desde a concepção até o envelhecimento. No que se refere à Psicologia, este estudo configura-se como um conjunto de teorias aplicáveis a diversas áreas de atuação profissional (Barros & Coutinho, 2020Barros, R. A.; Coutinho, D. M. B. (2020). Psicologia do Desenvolvimento: uma subárea da Psicologia ou uma nova ciência? Memorandum: Memória e História em Psicologia, 37, 1-26. https://doi.org/10.35699/1676-1669.2020.12540).

Em razão disso, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia (Brasil, 2018Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. (2018). Resolução nº 597. Aprova o Parecer Técnico nº 346/2018, que dispõe sobre as recomendações do Conselho Nacional de Saúde à proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Psicologia. Disponível em:<Disponível em:https://www.jusbrasil.com.br/diarios/219922554/dou-secao-1-30-11-2018-pg-199 >. Acesso em 24 de julho de 2020.
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), a Psicologia do Desenvolvimento figura como uma área básica da formação, por sustentar a compreensão de diferentes processos normativos individuais e familiares (Aspesi et al., 2005Aspesi, C. C.; Dessen, M. A.; Chagas, J. F. (2005). A ciência do desenvolvimento humano: uma perspectiva interdisciplinar. In: M. A. Dessen; A. L Costa. (Eds.), A ciência do desenvolvimento humano(19-36). Porto Alegre: Artmed.). Com base nessas Diretrizes, o Curso de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) conta, em sua versão mais atual, com duas disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento, com previsão de oferta no segundo e terceiro semestres da matriz curricular. Na primeira delas (Psicologia do Desenvolvimento I) estuda-se a Psicologia do Desenvolvimento como área de conhecimento e diversas perspectivas teóricas sobre o desenvolvimento humano, em ordem cronológica de sistematização. Assim, os discentes estabelecem contato com as perspectivas teóricas de Freud, Erikson, Bowlby, Piaget e Bronfenbrenner e, também, com o ciclo de vida da família, considerando a versão estadunidense proposta por Carter e McGoldrick. Já na segunda disciplina estuda-se o ciclo de vida individual, da infância até a idade adulta avançada e morte, nos âmbitos físico, cognitivo e psicossocial.

Para incentivar boas práticas de ensino, a UFCSPA dispõe de um Programa de Iniciação à Docência (PID). Esse programa institucional fornece uma bolsa de estudo a monitores para aproximar alunos de graduação da experiência docente e promover a cooperação entre professores e estudantes, além de contribuir para a melhoria do ensino na graduação, por meio de novas práticas e experiências pedagógicas (UFCSPA, 2015UFCSPA. Pró-Reitoria de Graduação. (2015). Regulamento do Programa de Iniciação à Docência (PID). Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3iVRL53 . Acesso em 10 de agosto de 2020.
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). Nesse contexto, desenvolve-se, desde 2011, o projeto “Compreendendo o Desenvolvimento Humano a partir de Atividades Práticas de Ensino de Avaliação - PIDH”, vinculado às disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento I e II do Curso de Psicologia dessa universidade.

Assim, o projeto compreende duas disciplinas eminentemente teóricas e tem, como objetivos gerais: 1. atualizar materiais e dispositivos de ensino-aprendizagem de caráter prático; 2. implementar atividades de ensino e avaliação facilitadoras do processo de aprendizagem; 3. consolidar o papel integrador dessas disciplinas com outras da mesma série, por meio de avaliações interdisciplinares; e 4. possibilitar uma maior integração intradisciplinar dos conteúdos em atividades de avaliação. Este artigo apresenta, de forma resumida, as experiências didáticas desenvolvidas ao longo dos últimos 5 anos de execução do projeto (2016-2020), no intuito de promover reflexões sobre o ensino da Psicologia do Desenvolvimento.

O projeto é coordenado pela professora responsável pelas disciplinas e executado em parceria com monitores bolsistas e voluntários. A cada ano, a universidade abre um edital para a concessão dessas bolsas. Nessa ocasião, os professores devem apresentar seus projetos, que são avaliados por uma comissão institucional de caráter interdisciplinar. Ao longo do ano letivo, os monitores entregam relatórios (parcial e final) das atividades. Ainda, anualmente os monitores apresentam os resultados do projeto em um evento institucional.

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: RELATO DE EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS INOVADORAS EM UMA UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DO BRASIL

As atividades desenvolvidas incluem o uso de diferentes técnicas para a promoção da aprendizagem, embasadas na perspectiva das metodologias ativas, em especial a metodologia da problematização e o uso de jogos educativos (Fujita, Carmona, Shimo, & Mecena, 2016Fujita, J. A. L. M.; Carmona, E. V.; Shimo, A. K. K.; Mecena, E. H. (2016). Uso da metodologia da problematização com o Arco de Maguerez no ensino sobre brinquedo terapêutico. Revista Portuguesa de Educação, 29(1), 229-258.). Durante a construção das atividades, busca-se envolver os estudantes de modo crítico e ativo, respeitando as múltiplas formas de construção do saber.

Nas duas disciplinas têm sido usadas técnicas e dinâmicas variadas, adaptadas aos diferentes conteúdos, para garantir a participação e o engajamento discente. Dentre essas técnicas, podem ser mencionadas atividades de observação, criação de jogos educativos, desenvolvimento de mapas conceituais, análise de materiais audiovisuais e artísticos, criação narrativa e discussão de casos. Parte-se do entendimento de que a cultura e a realidade vivida pelos estudantes são elementos fundamentais para a construção e a produção dos conhecimentos (Freire, 2011Freire, P. (2011). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.).

Na disciplina de Psicologia do Desenvolvimento I, os monitores organizam visitas guiadas a instituições, para que os estudantes possam realizar a observação de uma criança. Para tanto, contatam diferentes locais ─ escolas de educação infantil, de dança, projetos de socialização para crianças com deficiência, por exemplo ─ para apresentar a atividade. Com a concordância das instituições, são agendadas visitas (em duplas) para os discentes. Essa tarefa busca estimular o olhar técnico exploratório, em diálogo com a futura prática profissional psicológica, a partir da integração teórico-prática dos conteúdos estudados. Além disso, serve de base para outras atividades avaliativas.

A partir da descrição dos comportamentos manifestos pela criança durante a observação, que originam um relato de observação, os estudantes devem formular uma análise teórica e crítica. Essa análise deve contemplar os aspectos desenvolvimentais percebidos na conduta da criança, de modo a estabelecer conexões e reflexões entre os conhecimentos teóricos e as vivências reais. Esse relato de observação elaborado pelos discentes é pautado nas orientações técnicas e normas da escrita científica abordadas em outra disciplina do Curso de Psicologia, ofertada no mesmo semestre da matriz curricular, denominada Redação Acadêmica. Sendo assim, o mesmo trabalho serve como atividade avaliativa para essas duas disciplinas. Os professores trabalham de forma integrada na construção das diretrizes de elaboração do relatório e também na avaliação desse produto técnico.

Mais recentemente, essa atividade também tem sido usada como parte da avaliação da disciplina de Seminário Integrador I, ofertada na mesma série do Curso de Psicologia. Nessa terceira disciplina, os estudantes são estimulados a construir um pôster a partir da atividade de observação da criança. Nesse pôster deve constar parte da análise desenvolvimental mencionada, acrescida de reflexões e compreensões de outras disciplinas da série ou do semestre, como Fundamentos de Psicometria e Processos Psicológicos Básicos. O pôster também é construído com base nas diretrizes fornecidas na disciplina de Redação Acadêmica.

Essa integração com outras disciplinas do currículo possibilita a aplicação dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Psicologia do Desenvolvimento em contextos diversos, permitindo que os discentes estabeleçam relações entre os conteúdos. Busca-se produzir, portanto, um saber interdisciplinar, que extrapola as fronteiras das disciplinas. No planejamento e execução dessa tarefa avaliativa, os monitores auxiliam os estudantes a sanar dúvidas, realizam sugestões e verificam o andamento do processo e a pertinência do trabalho desenvolvido.

Já na disciplina de Psicologia do Desenvolvimento II, os estudantes retomam esse relato de observação infantil e desenvolvem um trabalho de construção de uma linha da vida da criança observada, a partir da construção de hipóteses sobre a sua história de vida pregressa ou posterior ao momento observado. Por exemplo, se foi observada uma criança de quatro anos, nesse trabalho deverá constar hipóteses sobre como pode ter sido a primeira e a terceira infância dessa criança, com base no que foi observado em relação à segunda infância. Assim, promove-se a integração das duas disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento.

Mais recentemente, como alternativa a essa atividade avaliativa, implementou-se, nessa mesma disciplina, uma atividade denominada “Detetive da Infância”. Tal atividade visa promover o aprofundamento e a integração dos conteúdos referentes ao desenvolvimento infantil. Em grupos, os estudantes são convidados a descrever situações das três fases da infância, considerando os aspectos cognitivos, psicossociais, físicos e emocionais. Com base nessas descrições, outro grupo de alunos deverá identificar qual processo desenvolvimental é abordado naquela situação e em que fase da infância ele costuma ocorrer. Além do caráter lúdico, a elaboração das situações e o fornecimento das respostas contemplam o caráter pedagógico da atividade.

Ainda, os monitores confeccionaram, ao longo dos últimos anos, diferentes jogos educativos para a revisão dos conteúdos em Psicologia do Desenvolvimento I, caracterizando a produção de ferramentas lúdicas de ensino e aprendizagem, que resultaram na criação de jogos de dominó e de memória. Nesses, a tarefa consiste em conectar os autores a seus principais conceitos e estes as suas definições. Além disso, foram elaborados jogos de palavras-cruzadas e caça-palavras sobre as teorias de desenvolvimento, bem como quizzes no ambiente virtual das disciplinas (no caso, a UFCSPA disponibiliza o Moodle como ferramenta). Além do potencial educativo, essas atividades familiarizam os estudantes com esses dispositivos de ensino e aprendizagem, tendo em vista uma formação de Psicologia que dialogue com as mídias digitais.

Na disciplina de Psicologia do Desenvolvimento II é incentivada a realização de uma observação de um indivíduo idoso. Para tanto, os bolsistas entram em contato e organizam visitas dos discentes a locais em que pessoas dessa faixa etária circulam, tais como programas de atividades físicas voltados para a terceira idade e instituições asilares. Sugere-se que, quando possível, os discentes façam uma entrevista com o idoso observado sobre temáticas pertinentes ao estudo da idade adulta avançada, como sua percepção sobre suas condições de saúde, sobre seus relacionamentos e sobre a morte. A partir disso, os estudantes elaboram um relatório com os dados coletados, articulando-os com as teorias e conceitos estudados. Versões alternativas dessa atividade já foram propostas, tanto no formato de análise de um filme de livre escolha dos discentes sobre a terceira idade (diante da impossibilidade de observação de um idoso) como de realização de uma entrevista com profissional que atue na temática da morte (como bombeiro, coveiro, médico legista, médico oncologista, técnico de funerária, etc.).

Para além dessas atividades, os monitores atualizam constantemente um banco de estímulos com histórias em quadrinhos, charges, músicas, trechos de filmes, vídeos, documentários e memes que sejam ilustrativos dos conteúdos estudados nas duas disciplinas do projeto. Esse banco também pode receber contribuições dos estudantes. Os dispositivos audiovisuais são utilizados para a complementação dos materiais de aula e para a elaboração de avaliações, sendo revisados semestralmente. O emprego desses recursos possibilita o diálogo entre as teorias e conceitos e o contexto geracional dos discentes, engajando-os na produção de suas próprias tirinhas, memes e outros materiais criativos sobre os conteúdos das disciplinas. O desenvolvimento desses materiais criativos pelos discentes se dá em consonância com a atividade de produção de mapas conceituais.

Os mapas conceituais têm sido usados, nos últimos anos, como modo de sistematização dos conteúdos da disciplina de Psicologia do Desenvolvimento I. Assim, estimula-se que os estudantes elaborem, em duplas, mapas a respeito das teorias estudadas e de seus principais pressupostos e conceitos. Essa atividade promove a capacidade de síntese e articulação de ideias, além de compor uma das avaliações do semestre.

Outra atividade proposta nas duas disciplinas é a construção e a discussão de casos ou narrativas curtas que ilustrem os conceitos estudados. Algumas vezes, os casos são construídos em grupos pelos estudantes; em outras, são elaborados para discussão em aula pelos monitores, sob supervisão da professora orientadora do projeto.

Em relação às avaliações das disciplinas, além das atividades já citadas, são realizadas provas compostas por questões dissertativas e objetivas. Para a revisão dos conteúdos antes da prova, os monitores organizam roteiros de estudo dirigido e realizam um encontro com os discentes para a resolução de dúvidas com base nesse material. Os monitores também contribuem com a elaboração das provas sugerindo questões. Essas devem propiciar a integração de aspectos teórico-práticos em interlocução com a audiovisualidade, tais como análise de letras de músicas, histórias em quadrinhos ou trechos de livros. As provas em geral são individuais, mas já foram realizadas provas mistas, com questões individuais e questões para serem respondidas em grupo.

Por fim, para estimular o engajamento e a interação entre os estudantes, são propostas atividades teatrais. Nelas, os discentes, em pequenos grupos, são convidados a produzir e encenar uma situação que represente os conteúdos estudados. Por exemplo, adotou-se essa técnica no estudo da teoria de desenvolvimento psicossocial de Erikson (1971Erikson, E. (1971). As oito idades do homem. In: Infância e sociedade(pp. 227-253). Rio de Janeiro: Zahar.). Os alunos organizaram pequenas esquetes teatrais para ilustrar cada uma das oito crises psicossociais propostas pelo autor. Essa atividade também serviu para os discentes ilustrarem sinais e sintomas correspondentes à “Síndrome da Adolescência Normal”, proposta por Maurício Knobel (1981Knobel, M. (1981). A síndrome da adolescência normal. In: A. Aberastury; M. Knobel (Eds.), Adolescência normal(pp. 24-62). Porto Alegre, Artes Médicas.). Após a apresentação, realiza-se a discussão das cenas em grande grupo.

As atividades apresentadas têm sido realizadas nos últimos cinco anos de implementação do projeto, constantemente aprimorado, prezando pelo emprego de dispositivos inovadores de ensino e aprendizagem. Desse modo, busca-se qualificar o ensino da Psicologia do Desenvolvimento, para que transcorra de forma engajada e criativa, conectada a diferentes realidades por meio de diversas linguagens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos últimos cinco anos, a implantação e a execução desse projeto de iniciação à docência têm se mostrado eficaz para promover a integração de conteúdos teóricos a vivências práticas dos estudantes. Por meio dos materiais, recursos didáticos e avaliações propostas, possibilita-se a construção de um raciocínio psicológico para a compreensão dos múltiplos fenômenos e processos associados ao desenvolvimento humano. A partir disso, tem-se uma formação, ainda que teórica, integrada à prática e a diferentes contextos de desenvolvimento.

A proposta de usar a ludicidade e a criatividade para estimular o engajamento dos estudantes se configura como um desafio educativo. A formação acadêmica tradicional não oferece os mecanismos necessários para a criação de um modelo de ensino participativo, construído de forma cooperativa. Por outro lado, o comprometimento a longo prazo com essa prática, além de permitir o aprimoramento do projeto e a ampliação das perspectivas de atividades, tem facilitado o processo de construção desse modelo de ensino junto a discentes e à docente responsável pelas disciplinas. Nesse sentido, os esforços empregados pelos bolsistas e pela professora idealizadora da proposta têm gerado resultados positivos. O número de reprovações e de estudantes em exame nessas disciplinas diminuiu desde a implantação do projeto. Além disso, as disciplinas têm sido bem avaliadas pelos discentes e os materiais didático-pedagógicos utilizados nas aulas e nas atividades avaliativas têm sido referidos como facilitadores do processo de aprendizagem pelos discentes. Dessa forma, a execução do projeto parece facilitar o processo de aprendizagem dos estudantes nessas disciplinas, além de possibilitar a compreensão de como os conteúdos estudados em aula se manifestam cotidianamente. Nesse sentido, não é incomum que os discentes que cursaram as disciplinas, quando do ingresso nos estágios básicos e profissionais, façam referência aos aspectos desenvolvimentais observados nessas práticas e aludam aos exemplos empregados.

Os monitores (bolsistas e voluntários) também se beneficiam da atuação no projeto, já que desenvolvem habilidades relacionadas à docência e reflexões sobre métodos de ensino-aprendizagem. A monitoria oferece, ainda, a possibilidade de aprofundar seus conhecimentos teóricos sobre o desenvolvimento humano, na medida em que ensinar é também um método de estudo. Percebe-se, então, que as práticas desenvolvidas no projeto colocam discentes e monitores em posição de agentes, de modo que eles próprios também se tornam construtores do conhecimento.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à UFCSPA, pela concessão de bolsa para este projeto de iniciação à docência, e ao CNPq, pela Bolsa Produtividade em Pesquisa da última autora.

REFERÊNCIAS

  • Aspesi, C. C.; Dessen, M. A.; Chagas, J. F. (2005). A ciência do desenvolvimento humano: uma perspectiva interdisciplinar. In: M. A. Dessen; A. L Costa. (Eds.), A ciência do desenvolvimento humano(19-36). Porto Alegre: Artmed.
  • Barros, R. A.; Coutinho, D. M. B. (2020). Psicologia do Desenvolvimento: uma subárea da Psicologia ou uma nova ciência? Memorandum: Memória e História em Psicologia, 37, 1-26. https://doi.org/10.35699/1676-1669.2020.12540
  • Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. (2018). Resolução nº 597 Aprova o Parecer Técnico nº 346/2018, que dispõe sobre as recomendações do Conselho Nacional de Saúde à proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Psicologia. Disponível em:<Disponível em:https://www.jusbrasil.com.br/diarios/219922554/dou-secao-1-30-11-2018-pg-199 >. Acesso em 24 de julho de 2020.
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  • Erikson, E. (1971). As oito idades do homem. In: Infância e sociedade(pp. 227-253). Rio de Janeiro: Zahar.
  • Freire, P. (2011). Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro: Paz e Terra.
  • Fujita, J. A. L. M.; Carmona, E. V.; Shimo, A. K. K.; Mecena, E. H. (2016). Uso da metodologia da problematização com o Arco de Maguerez no ensino sobre brinquedo terapêutico. Revista Portuguesa de Educação, 29(1), 229-258.
  • Knobel, M. (1981). A síndrome da adolescência normal. In: A. Aberastury; M. Knobel (Eds.), Adolescência normal(pp. 24-62). Porto Alegre, Artes Médicas.
  • UFCSPA. Pró-Reitoria de Graduação. (2015). Regulamento do Programa de Iniciação à Docência (PID) Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3iVRL53 . Acesso em 10 de agosto de 2020.
    » https://bit.ly/3iVRL53

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Ago 2020
  • Aceito
    26 Dez 2020
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