Acessibilidade / Reportar erro

EFEITOS DE UM CURSO UNIVERSITÁRIO DE EXTENSÃO SOBRE HABILIDADES SOCIAIS DE ADOLESCENTES

Efectos de un curso universitario de extensión sobre habilidades sociales de adolescentes

RESUMO

As habilidades sociais têm importante papel na vida escolar e profissional. Este estudo, de natureza descritiva e correlacional, analisa os efeitos de um Curso de extensão intitulado "Imersão na Universidade: você protagonista do seu futuro”, sobre as habilidades sociais de estudantes do Ensino Médio da rede pública. Para tanto, aplicou-se o Inventário de Habilidades Sociais em Adolescentes (IHSA-DelPrette) no momento inicial e três meses após o término do curso, considerando dois indicadores: (1) frequência e (2) dificuldade com que reagiam às diferentes demandas de interação social. Verificou-se diferença estatisticamente significante entre os escores pré e pós intervenção (p = 0,014), evidenciando aumento da frequência das habilidades. Para a dificuldade não foi observada diferença significante, embora tenha ocorrido uma diminuição de 13,45%. A universidade pode ser um espaço não apenas para capacitação analítica e instrumental, mas para o desenvolvimento interpessoal tanto da comunidade interna quanto externa.

Palavras-chave:
habilidades sociais; estudantes; inventário de autoavaliação para adolescentes

RESUMEN

Las habilidades sociales poseen importante papel en la vida escolar y profesional. En este estudio, de naturaleza descriptiva y correlacional, se analiza los efectos de un Curso de extensión intitulado “Inmersión en la Universidad: usted es protagonista de su futuro”, sobre las habilidades sociales de estudiantes de la enseñanza secundaria de la red pública. Para tanto, se aplicó el Inventario de Habilidades Sociales en Adolescentes (IHSA-DelPrette) en el momento inicial y tres meses tras el término del curso, considerando dos indicadores: (1) frecuencia y (2) dificultad con que reaccionaran a las diferentes demandas de interacción social. Se verificó diferencia estadísticamente significante entre los escores pre y tras intervención (p = 0,014), evidenciando aumento de la frecuencia de las habilidades. Para la dificultad no se observó diferencia significante, aunque haya sucedido una disminución del 13,45%. La universidad puede ser un espacio no solo para capacitación analítica e instrumental, pero también para el desarrollo interpersonal de la comunidad interna y externa.

Palabras clave:
habilidades sociales; estudiantes; inventario de autoevaluación para adolescentes

ABSTRACT

Social skills play an important role in school and professional life. This descriptive and correlational study analyzes the effects of an extension course entitled “Immersion in the University: you are the protagonist of your future”, about the social skills of High School students in public schools. To this end, the Inventory of Social Skills in Adolescents (IHSA-DelPrette) was applied at the beginning and three months after the end of the course, considering two indicators: (1) assiduity and (2) difficulties they had when handling the different demands of social interaction. There was a statistically significant difference between the pre and post intervention scores (p = 0.014), showing an increase in the frequency of skills. For difficulty, no significant difference was observed, although there was a decrease of 13.45%. The university can be a space not only for analytical and instrumental training, but for the interpersonal development of both the internal and external community.

Keywords:
social skills; students; self-assessment inventory for adolescents

INTRODUÇÃO

As habilidades sociais são classes de comportamentos aprendidos, que fazem parte do repertório do indivíduo, sendo baseadas em regras sociais que permitem uma adequada interação em sociedade nos vários estágios da vida possibilitando melhor desenvolvimento e maior capacidade para lidar com situações diversas enfrentadas na vida cotidiana (Aksoy & Baran, 2010Aksoy, P., & Baran, G. (2010) Review of studies aimed at bringing social skills for children in preschool period. Procedia-Social And Behavioral Sciences, 9, 663-669. http://dx.doi.org/10.1016/j.sbspro.2010.12.214.
https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2010.12...
; Cardoso, Coelho, & Martins, 2017Cardoso, J. K. S., Coelho, L. B., & Martins, M. G. T. (2017). Crescer para saber: O treinamento de habilidades sociais e assertividade com adolescentes em âmbito escolar. Revista Eletronica Estácio Papirus. 4(2), 215-31. Recuperado de: https://www.academia.edu/37950939/CRESCER_PARA_SABER_O_TREINAMENTO_DE_HABILIDADES_SOCIAIS_E_ASSERTIVIDADE_COM_ADOLESCENTES_EM_%C3%82MBITO_ESCOLAR
https://www.academia.edu/37950939/CRESCE...
; Del Prette & Del Prette, 2003Del Prette, Z. A., & Del Prette, A. (2003). No contexto da travessia para o ambiente de trabalho: treinamento de habilidades sociais com universitários. Estudos de Psicología, 8(3), 4013-420.; Longhini, Rios, Peron, & Neufeld, 2017Longhini, L.Z., Rios, B.F., Peron, S., & Neufeld, C.B. (2017). Characterization of social skills of teenagers in a school context. Revista Brasileira De Terapias Cognitivas, 13(2), 131-37. http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20170018
https://doi.org/10.5935/1808-5687.201700...
; Takahashi, Okada, Hoshino, & Anme, 2015Takahashi, Y., Okada, K., Hoshino, T., & Anme, T. (2015). Developmental trajectories of social skills during early childhood and links to parenting practices in a Japanese sample. PLoS ONE, 10, e0135357. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0135357.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.013...
). Tais habilidades são desenvolvidas desde a infância, nas interações com pais e professores (Maleki, Chehrzad, Kazemnezhad, Mardani, & Vaismoradi, 2019Maleki, M., Chehrzad, M.M., Kazemnezhad, L. E., Mardani, A. & Vaismoradi, M. (2019). Social Skills in Preschool Children from Teachers’ Perspectives. Children, 6, 64. http://dx.doi.org/10.3390/children6050064.
https://doi.org/10.3390/children6050064...
; Yoleri, 2017Yoleri, S. (2017). Teacher-child relationships in preschool period: The roles of child temperament and language skills. International Electronic Journal of Elementary Education, 9, 210-224. Recuperado de https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1126662.pdf
https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ112...
) e são importantes para o estabelecimento de relacionamentos bem-sucedidos, para o desenvolvimento educacional, adaptação ao ambiente escolar formal, bem como para desempenho acadêmico futuro.

As habilidades sociais têm sido identificadas como as características mais valorizadas pelo mercado de trabalho e se centraram principalmente no exercício da liderança para gerenciar conflitos, dar feedbacks às equipes de trabalhos e coordenar processos, assim como na capacidade de comunicação persuasiva diante do cliente interno e externo (Bradberry, 2016Bradberry, T. (2016) The importance of social skills and self-awareness to your career. World Economic Forum. Recuperado de: https://www.weforum.org/agenda/2016/06/the-importance-of-social-skills-and-self-awareness-to-your-career/
https://www.weforum.org/agenda/2016/06/t...
). A falta dessas habilidades pode levar a sentimentos de solidão, prejudicar as interações com os familiares, professores, colegas e até problemas mentais, culminando no desajustamento escolar (Lodder, et al., 2016Lodder, G., Goossens, L., Scholte, R., Engels, R., & Verhagen, M. (2016). Adolescent loneliness and social skills: Agreement and discrepancies between self-, meta-, and peer-evaluations. Journal Of Youth and Adolescence, 45, 2406-2416. http://dx.doi.org/10.1007/s10964-016-0461-y.
https://doi.org/10.1007/s10964-016-0461-...
; Whitted, 2011Whitted, K. S. (2011). Understanding How Social and Emotional Skill Deficits Contribute to School Failure. Preventing School Failure: Alternative Education for Children and Youth, 55(1), 10-16. http://dx.doi.org/10.1080/10459880903286755.
https://doi.org/10.1080/1045988090328675...
; Ziv, 2013Ziv, Y. (2013). Social information processing patterns, social skills, and school readiness in preschool children. Journal of Experimental Child Psychology, 114, 306-320. Recuperado de https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S002209651200152X?via%3Dihub
https://www.sciencedirect.com/science/ar...
). Na adolescência, a falta de tais habilidades pode diminuir as oportunidades sociais e profissionais, levar ao isolamento social e a solidão, interpretações negativas do próprio desenvolvimento, transtorno de déficit de Atenção/hiperatividade e depressão (Bunford, Evans, Becker, & Langberg, 2015Bunford, N., Evans, S. W., Becker, S. P., & Langberg, J. M. (2015). Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder and Social Skills in Youth: A Moderated Mediation Model of Emotional Dysregulation and Depression. Journal of Abnormal Child Psychology, 43(2), 283-296. http://dx.doi.org/10.1007/s10802-014-9909-2.
https://doi.org/10.1007/s10802-014-9909-...
; Chou et al., 2017Chou, W. J., Huang, M. F., Chang, Y. P., Chen, Y. M., HU, H. F., & Yen, C. F. (2017). Social skills deficits and their association with internet addiction and activities in adolescent with attention-deficit/hyperactivity disorder. Journal of Behavioral Addtictions, 6(1), 42-50. http://dx.doi.org/10.1556/2006.6.2017.005
https://doi.org/10.1556/2006.6.2017.005...
; Knowles, Lucas, Baumeister, & Gardner, 2015Knowles, M. L., Lucas, G. M., Baumeister, R. F., & Gardner, W. L. (2015). Choking under social pressure: Social monitoring among the lonely. Personality and Social Psychology Bulletin, 41(6), 805-821. http://dx.doi.org/10.1177/0146167215580775.
https://doi.org/10.1177/0146167215580775...
; Lodder et al., 2016Lodder, G., Goossens, L., Scholte, R., Engels, R., & Verhagen, M. (2016). Adolescent loneliness and social skills: Agreement and discrepancies between self-, meta-, and peer-evaluations. Journal Of Youth and Adolescence, 45, 2406-2416. http://dx.doi.org/10.1007/s10964-016-0461-y.
https://doi.org/10.1007/s10964-016-0461-...
; Qualter et al., 2013Qualter, P., Rotenberg, K., Barrett, L., Henzi, P., Barlow, A., Stylianou, M., & Harris, R. A. (2013). Investigating hypervigilance for social threat of lonely children. Journal of Abnormal Child Psychology, 41(2), 325-338. http://dx.doi.org/10.1007/s10802-012-9676-x.
https://doi.org/10.1007/s10802-012-9676-...
)

A avaliação de habilidades sociais em adolescentes tem despertado interesse crescente entre educadores e outros profissionais devido à exacerbação de problemas que atingem a população mais jovem, uma vez que a falta de tais habilidades pode prejudicar um desempenho socialmente competente (Del Prette & Del Prette, 2015Del Prette, A., & Del Prette Z. A. P. (2015). Inventário de Habilidades sociais para adolescentes (IHSA-Del Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo.). Altos índices de comprometimento da saúde mental têm sido observados entre estudantes do Ensino Superior e pesquisas apontam que as deficiências em habilidades sociais estão relacionadas especialmente ao estresse e depressão nessa população (Bolsoni-Silva & Loureiro, 2016Bolsoni-Silva, A. T., & Loureiro, S. R. O. (2016). Impacto das habilidades sociais para a depressão em estudantes universitários. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32(4), 1-8. http://dx.doi.org/10.1590/0102.3772e324212.
https://doi.org/10.1590/0102.3772e324212...
; Campos, Del Prette, & Del Prette, 2014Campos, J. R., Del Prette, A., & Del Prette, Z. (2014). Depression in adolescence: social skills and social demographic variables as risk factors/protection. Estudos e Pesquisa em Psicologia, 14(2), 408-28.; Evans, et al., 2018Evans, T. M., Bira, L., Gastelum, J. B., Weiss, L. T., & Vanderford, N. L. (2018). Evidence for a mental health crisis in graduate education. Nature Biotechnology, 36(3), 282-284. http://dx.doi.org/10.1038/nbt.4089
https://doi.org/10.1038/nbt.4089...
).

Diante do exposto e considerando a necessidade de prover mecanismos de integração entre os diversos níveis de ensino, uma das metas descritas no Plano Nacional de Pós-graduação, este trabalho teve como objetivo principal realizar um diagnóstico das habilidades sociais de uma amostra de adolescentes do Ensino Médio da rede pública de São José dos Campos e região, bem como avaliar a influência de um curso de extensão, nessas habilidades. Objetivou-se também promover uma integração entre alunos do Ensino Médio com graduandos e pós-graduandos, avaliando qualitativamente suas percepções sobre essa interação.

MÉTODO

Participantes e público alvo do estudo

Um curso de extensão, intitulado "Imersão na Universidade: você protagonista do seu futuro", foi proposto pelo Programa de Pós-graduação em Biopatologia Bucal do Instituto de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (ICT-Unesp), em São José dos Campos, São Paulo, Brasil, após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa, CAAE: 03724118.6.0000.0077 e parecer: 3.152.796.

Este estudo, de natureza descritiva e correlacional, analisou os efeitos deste Curso de Extensão no desenvolvimento de habilidades sociais em 27 alunos do Ensino Médio de 8 diferentes escolas da rede pública de São José dos Campos e região, entre 15 e 17 anos, sendo 8 do sexo masculino (29,63%) e 19 do sexo feminino (70,37%). O processo seletivo foi realizado por meio de formulário online, que além dos dados de identificação, solicitava que os candidatos redigissem uma redação entre 100 e 350 palavras, respondendo à seguinte questão: “Por que devo participar do Imersão na Universidade?”. Foram utilizados como critérios de inclusão: 1- Ser aluno da rede pública de ensino; 2 - Ser aluno do Ensino Médio; 3 - Ter sido aprovado no processo seletivo supracitado. A equipe de apoio foi composta por 07 alunos de pós-graduação, 10 de graduação do Curso de Odontologia e 02 alunas do cursinho pré-vestibular da Unesp (PreVest), que receberam treinamento prévio. Participaram também quatro docentes do Ensino Superior, dois psicólogos e dois coordenadores pedagógicos da Diretoria Estadual de Ensino, regional de São José dos Campos.

Procedimentos para intervenção

O curso ocorreu nas férias de janeiro, durante um final de semana, quando os alunos ficaram alojados na universidade. Foi realizado em seis módulos, que foram desenvolvidos por meio de vivências, sendo estas coordenadas por docentes e por uma psicóloga. As intervenções realizadas em cada módulo foram estabelecidas anteriormente à aplicação das avaliações iniciais e cada módulo teve por objetivo o desenvolvimento de uma ou mais habilidades sociais.

No 1º módulo, intitulado: "Minha geração: quem sou e para onde vou?”, foi inicialmente ministrada palestra abordando as características das gerações Baby boomer, X, Y e Z, bem como os conflitos entre gerações. Foram apresentados vídeos e em seguida formaram-se grupos de discussão. Com essa atividade esperou-se despertar nos adolescentes a criticidade, aprender a lidar com frustações, desenvolver capacidade de comunicação, de argumentação e promover desenvoltura social. No 2º módulo realizou-se uma dinâmica intitulada: "Momento Master Chef", numa alusão ao famoso reality show de culinária da TV, no qual os alunos divididos em equipe prepararam as sobremesas após o almoço. O objetivo dessa atividade foi trabalhar aspectos relacionados à organização, empatia, responsabilidade, comprometimento com meta, trabalho sob pressão, gestão de conflitos e de tempo, proatividade, senso de coletividade e assertividade. O módulo 3 foi realizado em duas etapas, sendo a 1ª etapa denominada "Ética: a minha nova crush”. Nessa atividade discutiram-se aspectos relacionados à ética, cidadania e condição humana, bem como a moral e a revalorização da ética, buscando-se desenvolver civilidade e respeito ao próximo. No final da atividade, os alunos elaboraram material e fizeram apresentações sobre o tema. Na 2ª etapa realizou-se uma dinâmica para desenvolver a capacidade de trabalhar em equipe, autocontrole, confiança em si e no próximo e superação de desafios: "Dinâmica da cadeira humana e aprendizados”. Os alunos sentaram-se em cadeiras, formando um círculo e posteriormente deitaram-se, cada um sobre as pernas do aluno imediatamente ao seu lado esquerdo. Após isso, as cadeiras eram removidas fazendo com que os alunos precisassem sustentar uns aos outros. O módulo 4 também foi executado em duas etapas, a primeira chamada "Trilha dos sentidos", cuja finalidade foi despertar a sensibilidade de mundo além da visão, proporcionar o uso dos sentidos para interagir com o meio, autoexposição a desconhecidos ou a situações novas. Ao final, registraram e compartilharam suas experiências. A segunda, “Trilha dos desafios”, foi uma dinâmica na qual os estudantes, em equipe, deveriam conduzir bolas por um sistema de tubos que iam sendo construídos à medida que a bola percorria o conjunto, e caso tombasse no meio do percurso o grupo deveria voltar ao início da trilha. O objetivo dessa dinâmica foi despertar a atenção aos detalhes, desenvolver a empatia, perseverança, o saber ouvir, trabalhar com regras, aprender a lidar com a frustração e superar ansiedades.

O 5º módulo do curso foi uma dinâmica de grupo chamada “Abrigo subterrâneo" (Santos & Leal, 2017Santos, L. S., & Leal, J. P. M. (2017). Grupo Terapêutico: Jovem em desenvolvimento. [cited2020 mar 20] Recuperado de: [cited2020 mar 20] Recuperado de: http://www.academia.edu/download/57039986/PROJETO_FINAL.pdf
http://www.academia.edu/download/5703998...
), que buscou desenvolver entre os estudantes a empatia, a desenvoltura social e a abordagem afetiva. O último módulo, denominado "Influenciadores digitais e formadores de opinião", foi conduzido pela psicóloga, que após breve contextualização e explanação do tema fez o fechamento das atividades desenvolvidas durante o curso. Essa atividade teve como objetivo desenvolver senso crítico, capacidade de argumentação, de defender ideias, fazer e rebater críticas e desenvolver poder de observação de mundo. Ao final ocorreu a dinâmica: "A teia do envolvimento" (Miranda, 2000Miranda, S. (2000). Oficina de dinâmica de grupos para empresas, escolas e grupos comunitários, v. 2. Campinas: Papirus, 152p.).

Instrumento e análise dos dados

Inventário de Habilidades Sociais

Para o presente estudo, o Inventário de Habilidades Sociais para adolescentes (IHSA-Del-Prette) foi aplicado por uma psicóloga no momento inicial do curso e três meses após a conclusão, precedido das devidas explicações e instruções. O IHSA é um instrumento de autorrelato que permite avaliar o repertório de habilidades sociais de adolescentes em seis subescalas (empatia, autocontrole, civilidade, assertividade, abordagem afetiva e desenvoltura social), em um conjunto de situações interpessoais cotidianas (Del Prette & Del Prette, 2015).

O repertório de habilidades sociais dos adolescentes foi avaliado considerando dois indicadores: (1) frequência e (2) dificuldade com que reagiram às diferentes demandas de interação social (Del Prette & Del Prette 2015Del Prette, A., & Del Prette Z. A. P. (2015). Inventário de Habilidades sociais para adolescentes (IHSA-Del Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo.). Para apuração dos resultados foram computados escores e situada a posição percentil do participante em relação a uma amostra normativa. Obteve-se um escore geral (relacionados a todos os itens) e escores para as seis subescalas. Para computar o escore geral do participante foi somada a pontuação total de frequência e a pontuação total de dificuldade, convertendo os valores para uma pontuação de 0 a 4, conforme descrito por Del-Prette e Del Prette (2015).

Análises Qualitativas

Para analisar a percepção do curso pelos alunos do Ensino Médio, bem como dos graduandos e pós-graduandos que participaram da equipe de apoio, todos os participantes responderam a um formulário eletrônico. As respostas apresentadas nos formulários foram inseridas no programa ATLAS.ti (ATLAS.ti Scientific Software Development GmbH, Lietzenburger, Berlin Germany).

Análises Estatísticas

Os dados foram submetidos a análise de variância pelo Teste t pareado de Student. Nos casos que não atenderam às premissas de normalidade e homocedasticidade, realizou-se uma análise não paramétrica, baseada no teste de Wilcoxon para dados pareados. Todas as análises consideraram o grau de significância de 0,05.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Habilidades Sociais dos adolescentes previamente ao curso

Na análise diagnóstica inicial foi possível ter uma visão geral do nível de habilidades sociais dos participantes previamente ao início do curso, sendo o percentil de frequência 69,2% e o percentil de dificuldade 40,5%. Quando o percentil em frequência aparece entre 66-75%, pode-se interpretar como um repertório elaborado de habilidades sociais, indicando recursos interpessoais bastante satisfatórios e entre 76 e 100% são considerados como um repertório altamente elaborado de habilidades sociais, indicando recursos pessoais altamente satisfatórios. Em dificuldade, quando o percentil está entre 36-65%, trata-se de um médio custo de resposta ou ansiedade na emissão de habilidades sociais (Del-Prette & Del Prette, 2015Del Prette, A., & Del Prette Z. A. P. (2015). Inventário de Habilidades sociais para adolescentes (IHSA-Del Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo.). Os resultados da frequência e dificuldade, com relação as subescalas (1- empatia, 2- autocontrole, 3- civilidade, 4- assertividade, 5- abordagem afetiva e 6- desenvoltura social) mostraram que 1, 2, 3 e 5 apresentaram percentil da média geral dos respondentes entre 58,4% e 63,2%. Nas subescalas 4 e 6 o percentil foi de 69,4% e 75%, respectivamente. Em relação à dificuldade as subescalas de 1 a 5 apresentaram percentil da média geral dos respondentes entre 39,7% e 49,6% e o subitem 6 apresentou percentil de 34,3%. Esses dados mostram que os adolescentes já chegaram ao curso com poucos déficits de habilidades sociais. Por outro lado, segundo Cardoso, Coelho e Martins (2017Cardoso, J. K. S., Coelho, L. B., & Martins, M. G. T. (2017). Crescer para saber: O treinamento de habilidades sociais e assertividade com adolescentes em âmbito escolar. Revista Eletronica Estácio Papirus. 4(2), 215-31. Recuperado de: https://www.academia.edu/37950939/CRESCER_PARA_SABER_O_TREINAMENTO_DE_HABILIDADES_SOCIAIS_E_ASSERTIVIDADE_COM_ADOLESCENTES_EM_%C3%82MBITO_ESCOLAR
https://www.academia.edu/37950939/CRESCE...
) adolescentes geralmente possuem dificuldade no desempenho social, tendo resistência na emissão de respostas comportamentais como cumprimentar outras pessoas, esperar com calma sua vez, agradecer a favores, demonstrar gentileza e saber se dirigir a autoridades agindo de forma assertiva nesses aspectos. Bolsoni-Silva e Loureiro (2016Bolsoni-Silva, A. T., & Loureiro, S. R. O. (2016). Impacto das habilidades sociais para a depressão em estudantes universitários. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32(4), 1-8. http://dx.doi.org/10.1590/0102.3772e324212.
https://doi.org/10.1590/0102.3772e324212...
) afirmam que existe uma forte correlação entre níveis mais baixos de habilidades sociais, falta de proatividade e isolamento social, como também demonstrado no estudo de Lodder et al. (2016Lodder, G., Goossens, L., Scholte, R., Engels, R., & Verhagen, M. (2016). Adolescent loneliness and social skills: Agreement and discrepancies between self-, meta-, and peer-evaluations. Journal Of Youth and Adolescence, 45, 2406-2416. http://dx.doi.org/10.1007/s10964-016-0461-y.
https://doi.org/10.1007/s10964-016-0461-...
). Dessa forma, supõe-se que adolescentes com nível mais baixo de habilidades sociais não se interessariam e nem mesmo tentariam ingressar em um curso durante as férias de verão.

De acordo com Qualter et al. (2013Qualter, P., Rotenberg, K., Barrett, L., Henzi, P., Barlow, A., Stylianou, M., & Harris, R. A. (2013). Investigating hypervigilance for social threat of lonely children. Journal of Abnormal Child Psychology, 41(2), 325-338. http://dx.doi.org/10.1007/s10802-012-9676-x.
https://doi.org/10.1007/s10802-012-9676-...
) alguns adolescentes podem apresentar uma percepção negativa de suas próprias habilidades, o que pode fazê-los agir de forma mais pessimista limitando assim suas oportunidades. Diante desses achados, podemos inferir que o bom nível de habilidades sociais desse grupo de adolescentes indica que eles seriam mais responsivos as atividades promovidas pelo curso, pois se dispuseram a passar por um processo seletivo e realizar um curso durante suas férias.

Habilidades Sociais dos adolescentes após a conclusão do curso

Após os três meses de conclusão do curso foi aplicado novamente o IHAS-Del Prette e nessa ocasião compareceram 22 alunos. O resultado dos escores da média total dos respondentes foi de 87,3% para frequência e de 22,8% para dificuldade. Analisando cada subitem pode-se observar que, para todos eles, a média geral dos percentis em frequência ficou entre 75,9% e 82,4%, sendo considerado como um repertório altamente elaborado de habilidades sociais, o que indica um índice de recursos interpessoais altamente satisfatórios (Del Prette & Del Prette, 2015Del Prette, A., & Del Prette Z. A. P. (2015). Inventário de Habilidades sociais para adolescentes (IHSA-Del Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo.). O percentil em dificuldade para a maioria das subescalas ficou entre 24,5 e 34,2%, o que é considerado como baixo custo de resposta ou ansiedade na emissão dessas habilidades, indicando que tais habilidades se tornaram mais fáceis para os respondentes.

Programas de treinamento em habilidades sociais no Brasil têm sido pouco relatados na literatura se comparados a outros países de língua inglesa ou mesmo espanhola (Murta, 2005Murta, S. G. (2005). Aplicações do treinamento em habilidades sociais: análise da produção nacional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(2), 283-291. https://doi.org/10.1590/s0102-79722005000200017
https://doi.org/10.1590/s0102-7972200500...
). Segundo a autora, a maior parte dos relatos e estudos são de programas em grupo, nos contextos clínico e escolar com resultados promissores no sentido de melhorias no desempenho social. Ainda, é enfatizada a necessidade da divulgação de pesquisas em programas de treino em habilidades sociais, o que segundo a autora pode trazer contribuições para clínicos e pesquisadores com interesse no desenvolvimento comportamental.

Influência do Curso de Imersão nas Habilidades Sociais dos adolescentes

Para avaliar a influência do Curso de Imersão nas Habilidades Sociais dos adolescentes foram considerados apenas os participantes que compareceram nos dois momentos (inicial e após 3 meses). A análise baseada na comparação dos percentis evidenciou um aumento na habilidade social dos adolescentes após o curso. Quando realizada a análise estatística da frequência por subitem foi encontrada diferença estatisticamente significativa em dois deles: autocontrole (p = 0.019) e abordagem afetiva (p = 0.017), conforme Tabela 1. No entanto, considerando a dificuldade referente a cada subitem, não foi evidenciada diferença estatisticamente significante para nenhum deles (Tabela 2).

Tabela 1
Teste Pareado de Wilcoxon por Subitem em Relação a Frequência.
Tabela 2
Teste t Pareado de Student por Subitem em Relação a Dificuldade.

Os resultados referentes a análise comparativa do percentil total da frequência e grau de dificuldade dos estudantes na 1a e 2a avaliação são apresentadas na Figura 1. Observa-se que para o indicador "frequência", os escores na primeira avaliação tiveram média geral 36,27 (+ 26,40), e na 2ª avaliação a média foi 22,82 (+24,61). Para “dificuldade" as médias e desvio padrão foram respectivamente, 75,77 (+ 21,85) e 87,27 e (+ 19,95).

Figura 1
Média Total dos Escores dos Adolescentes Participantes Antes e Após o Curso de Extensão.

Os adolescentes apresentaram um aumento de 11,5% na frequência e quanto a dificuldade foi 13,5% menor na segunda avaliação. Quando comparados os dois momentos de avaliação, inicial e final, observou-se uma melhora nos níveis das habilidades sociais, quanto à média geral dos percentis (Figuras 2 e 3). Conforme interpretação proposta por de Del Prette e Del Prette. (2015Del Prette, A., & Del Prette Z. A. P. (2015). Inventário de Habilidades sociais para adolescentes (IHSA-Del Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo.), os resultados deste estudo indicam que após o curso os adolescentes apresentaram um repertório altamente elaborado de habilidades sociais e baixa dificuldade na aquisição e emissão dessas habilidades, tanto nos escores gerais quanto nos escores de cada subescala. Outros autores também observaram aumento nas habilidades sociais após intervenção sob delineamento experimental em adolescentes entre 13 e 16 anos (Cardoso et al, 2017Cardoso, J. K. S., Coelho, L. B., & Martins, M. G. T. (2017). Crescer para saber: O treinamento de habilidades sociais e assertividade com adolescentes em âmbito escolar. Revista Eletronica Estácio Papirus. 4(2), 215-31. Recuperado de: https://www.academia.edu/37950939/CRESCER_PARA_SABER_O_TREINAMENTO_DE_HABILIDADES_SOCIAIS_E_ASSERTIVIDADE_COM_ADOLESCENTES_EM_%C3%82MBITO_ESCOLAR
https://www.academia.edu/37950939/CRESCE...
, Pereira-Guizzo, Del Prette, Del Prette, & Leme, 2018Pereira-Guizzo, C. S., Del Prette, A., Del Prette, Z. A., & Leme, V. B. R. 2018 Programa de habilidades sociais para adolescentes em preparação para o trabalho. Psicologia Escolar e Educacional, 22(3), p. 573-81. http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392018035449.
https://doi.org/10.1590/2175-35392018035...
) e em estudantes de graduação (Del Prette & Del Prette, 2003Del Prette, A., & Del Prette Z. A. P. (2015). Inventário de Habilidades sociais para adolescentes (IHSA-Del Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo.).

Figura 2
Comparação entre Avalições Inicial e Final do Percentil de Cada Subescala com Relação a Frequência.

Figura 3
Comparação entre Avalições Inicial e Final do Percentil de cada Subescala com Relação a Dificuldade.

Em cada módulo desse estudo foram trabalhadas diversas vivências para o desenvolvimento de habilidades sociais. Vivências podem ser definidas como situações que se assemelham a situações cotidianas de interação social, mobilizando sentimentos, pensamentos e ações (Pereira-Guizzo et al. 2018Pereira-Guizzo, C. S., Del Prette, A., Del Prette, Z. A., & Leme, V. B. R. 2018 Programa de habilidades sociais para adolescentes em preparação para o trabalho. Psicologia Escolar e Educacional, 22(3), p. 573-81. http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392018035449.
https://doi.org/10.1590/2175-35392018035...
). As vivências possibilitaram a instrução, modelação, ensaio comportamental e realizações de tarefas que visam a superação de déficits e atendimento a necessidades, o que poderia contribuir para capacitação dos participantes em habilidades sociais para interações interpessoais.

Além desses indicadores quantitativos, foram realizadas análises qualitativas a partir dos relatos dos participantes do curso, bem como dos pós-graduandos, graduandos e alunos do PreVest que compuseram a equipe. Tais relatos foram apresentados na forma de redes estruturais de palavras e expressões demonstrando a percepção dos participantes quanto às próprias mudanças alcançadas. A percepção dos adolescentes sobre o curso foi bastante positiva, palavras como “incrível”, “oportunidade”, “gratidão”, “experiência”, “maravilhosa”, foram muito usadas pelos participantes para responder sobre seus sentimentos e percepções. A expressividade de emoções positivas pôde ser observada em frases escritas pelos alunos como: 1 - “Um dos cursos mais maravilhosos que já participei”, 2 - “A minha experiência nesse lugar foi uma das melhores da minha vida”, 3 - “Incrível, marcante e inesquecível”, 4 - “...as melhores experiências que já senti”, 5 - “Eu amei cada segundo aqui”, 6 - “A imersão foi uma das atividades mais memoráveis que eu já fiz”, 7 - “Foi uma experiência inexplicável”, 8 - “Uma experiência incrível, eu amei demais”. Os adolescentes apresentaram facilidade em demonstrar seus sentimentos e percepções, transmitindo gratidão e expressando aprendizado, aquisição de valores, capacidade de superação, desenvolvimento de novas amizades, valorização das adversidades e a percepção de terem passado por mudanças comportamentais após as atividades realizados no curso.

Os alunos de pós-graduação e graduação também tiveram uma boa percepção de suas participações no curso. Foram mencionadas por estes alunos frases como: 1- “Experiência muito gratificante”, 2- “Muito aprendizado de ambas as partes”, 3 - “Me ajudou a desenvolver minhas habilidades de liderança e proatividade”, 4 - “...proporcionou maior aprendizado do trabalho em equipe”, 5- “Muito legal dormir na faculdade e liderar uma equipe”, 6 - “Interessante a forma como lidamos com a responsabilidade”, 7 - “Me ajudou a ter senso crítico..., 8 - “Contribuiu para que eu seja mais compreensivo com as pessoas e adversidades”, 9 - “A arrumação e preparação, apesar de cansativos, foram recompensados”, 10 - “Muito bom dividir cada momento com os alunos, aprender e dar risadas com eles...”, 11- “Pude perceber coisas que não percebi no treinamento”, 12 - “Adorei acompanhar o entusiasmo dos alunos”. Soares e Del Prette (2015Soares, A. B., & Del Prette, Z. A. (2015). Habilidades sociais e adaptação à universidade: Convergências e divergências dos construtos. Análise Psicológica, 2(33),139-51. http://dx.doi.org/10.14417/ap.911.
https://doi.org/10.14417/ap.911...
) observaram que universitários socialmente competentes são aqueles capazes de manter boas relações com os outros colegas, professores ou alunos de outras fases acadêmicas ou escolares, de forma a conseguirem atingir seus objetivos e ao mesmo tempo manter a qualidade dessas relações. Embora o objetivo principal deste trabalho não tenha sido analisar as habilidades sociais entre os graduandos e pós-graduandos, pode-se inferir que de alguma forma, essas habilidades também foram trabalhadas nesse público.

No presente estudo, a amostra foi composta de estudantes de Ensino Médio de escolas públicas, que após processo seletivo, ficaram “imersos” na universidade durante 48h, em treinamento intensivo, dividido em 6 módulos. Embora os resultados tenham sido promissores, não é possível afirmar se o curto período de tempo foi suficiente para provocar efeitos duradouros de melhorias nas habilidades sociais. Outros trabalhos (Del Prette & Del Prette, 2003Del Prette, Z. A., & Del Prette, A. (2003). No contexto da travessia para o ambiente de trabalho: treinamento de habilidades sociais com universitários. Estudos de Psicología, 8(3), 4013-420.; Pereira-Guizzo et al., 2018Pereira-Guizzo, C. S., Del Prette, A., Del Prette, Z. A., & Leme, V. B. R. 2018 Programa de habilidades sociais para adolescentes em preparação para o trabalho. Psicologia Escolar e Educacional, 22(3), p. 573-81. http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392018035449.
https://doi.org/10.1590/2175-35392018035...
) realizaram treinamentos de habilidades sociais com duração superior. Em trabalho de revisão, Murta (2005Murta, S. G. (2005). Aplicações do treinamento em habilidades sociais: análise da produção nacional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(2), 283-291. https://doi.org/10.1590/s0102-79722005000200017
https://doi.org/10.1590/s0102-7972200500...
) apresentou 17 programas de intervenção, com amostras variando de 2 a 55 participantes e, geralmente, ocorrido em sessões semanais ou quinzenais, variando de 8 a 70 sessões. No entanto, embora os programas tenham sido desenvolvidos em tempo maior, por vezes a carga horária total das intervenções foi menor que a carga horária destinada no pressente estudo. Um outro ponto de fragilidade desse estudo foi a ausência de grupo controle. Segundo Murta, poucas pesquisas utilizam delineamento experimental com grupos controle, o que pode dificultar a interpretação dos resultados. “Tal fato, evidencia a necessidade de fortalecimento de cuidados para assegurar maior validade interna, seja com a inserção de grupos controle, grupos de comparação com tratamentos alternativos ou medidas repetidas intra-sujeito antes e após a intervenção" (Murta, 2005Murta, S. G. (2005). Aplicações do treinamento em habilidades sociais: análise da produção nacional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(2), 283-291. https://doi.org/10.1590/s0102-79722005000200017
https://doi.org/10.1590/s0102-7972200500...
, p. 289).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os adolescentes do ensino médio da rede pública que participaram do curso de extensão apresentaram repertório elaborado de habilidades sociais, indicando recursos interpessoais bastante satisfatórios. As dinâmicas aplicadas por meio de módulos foram eficazes na melhoria das competências por grande parte dos participantes. As observações do desempenho durante as vivências mostraram o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades no processo, em especial o autocontrole e abordagem afetiva. Os participantes apresentaram inicialmente uma dificuldade de médio custo na emissão das habilidades sociais e após o curso apresentaram baixo custo na emissão dessas habilidades. A aquisição da capacidade de dar e receber feedback, de superação, percepção de mudanças no comportamento, de expressar-se de forma assertiva e empática e lidar com críticas, demonstradas no questionário para avaliação da percepção dos alunos, pode ser um fator positivo para transformação humana e da realidade social. De qualquer maneira, essas considerações se constituem especulações a serem examinadas empiricamente. Em relação à interação entre alunos de pós-graduação e graduação com adolescentes do Ensino Médio, considera-se que foi benéfica, o que se evidenciou pela visão positiva dos participantes e o desejo de ingressar em novos projetos semelhantes. Podemos inferir que essa integração entre diferentes níveis de ensino pode levar a benefícios sociais importantes. No entanto, embora os resultados do presente estudo tenham sido positivos e promissores, devem ser interpretados com cautela. A conciliação das demandas de rigorosas pesquisas com intervenções bem-sucedidas, "na prática" é algo essencial para o progresso na área, mesmo que sendo uma tarefa que se mostra desafiadora (Murta, 2005Murta, S. G. (2005). Aplicações do treinamento em habilidades sociais: análise da produção nacional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(2), 283-291. https://doi.org/10.1590/s0102-79722005000200017
https://doi.org/10.1590/s0102-7972200500...
, p. 289). Nesse sentido, sugere-se que estudos futuros proponham uma avaliação de resultados em horizonte de tempo maior, com o uso de grupos de comparação e considerem maior número amostral, na tentativa de dirimir tais fragilidades. Por fim, a universidade deve ser um espaço, não apenas para capacitação analítica e instrumental (hard skills), mas também para o desenvolvimento interpessoal da comunidade interna e externa (soft skills).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Diretoria Estadual de Ensino, regional de SJC, as profas. Dra. Ana Lia Anbinder e Dra. Mônica G.O. Alves, os pós-graduandos Hanna F.S. Santos, Keila C. Miranda, Manuela S. Spinola, Mariana R.C. Vegian, Pâmela B.R.E. Santos, Raquel T. M. e os graduandos do Curso de Odontologia do ICT-Unesp e alunas do PreVest, que fizeram parte da equipe e contribuíram para realização do projeto.

Suporte financeiro

  • 3
    Pró-Reitorias de Extensão (PROEX) e Graduação (PROGRAD) da Universidade Estadual Paulista - Unesp e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

REFERÊNCIAS

  • Aksoy, P., & Baran, G. (2010) Review of studies aimed at bringing social skills for children in preschool period. Procedia-Social And Behavioral Sciences, 9, 663-669. http://dx.doi.org/10.1016/j.sbspro.2010.12.214.
    » https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2010.12.214
  • Bolsoni-Silva, A. T., & Loureiro, S. R. O. (2016). Impacto das habilidades sociais para a depressão em estudantes universitários. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32(4), 1-8. http://dx.doi.org/10.1590/0102.3772e324212.
    » https://doi.org/10.1590/0102.3772e324212
  • Bradberry, T. (2016) The importance of social skills and self-awareness to your career. World Economic Forum Recuperado de: https://www.weforum.org/agenda/2016/06/the-importance-of-social-skills-and-self-awareness-to-your-career/
    » https://www.weforum.org/agenda/2016/06/the-importance-of-social-skills-and-self-awareness-to-your-career/
  • Bunford, N., Evans, S. W., Becker, S. P., & Langberg, J. M. (2015). Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder and Social Skills in Youth: A Moderated Mediation Model of Emotional Dysregulation and Depression. Journal of Abnormal Child Psychology, 43(2), 283-296. http://dx.doi.org/10.1007/s10802-014-9909-2.
    » https://doi.org/10.1007/s10802-014-9909-2
  • Campos, J. R., Del Prette, A., & Del Prette, Z. (2014). Depression in adolescence: social skills and social demographic variables as risk factors/protection. Estudos e Pesquisa em Psicologia, 14(2), 408-28.
  • Cardoso, J. K. S., Coelho, L. B., & Martins, M. G. T. (2017). Crescer para saber: O treinamento de habilidades sociais e assertividade com adolescentes em âmbito escolar. Revista Eletronica Estácio Papirus 4(2), 215-31. Recuperado de: https://www.academia.edu/37950939/CRESCER_PARA_SABER_O_TREINAMENTO_DE_HABILIDADES_SOCIAIS_E_ASSERTIVIDADE_COM_ADOLESCENTES_EM_%C3%82MBITO_ESCOLAR
    » https://www.academia.edu/37950939/CRESCER_PARA_SABER_O_TREINAMENTO_DE_HABILIDADES_SOCIAIS_E_ASSERTIVIDADE_COM_ADOLESCENTES_EM_%C3%82MBITO_ESCOLAR
  • Chou, W. J., Huang, M. F., Chang, Y. P., Chen, Y. M., HU, H. F., & Yen, C. F. (2017). Social skills deficits and their association with internet addiction and activities in adolescent with attention-deficit/hyperactivity disorder. Journal of Behavioral Addtictions, 6(1), 42-50. http://dx.doi.org/10.1556/2006.6.2017.005
    » https://doi.org/10.1556/2006.6.2017.005
  • Del Prette, Z. A., & Del Prette, A. (2003). No contexto da travessia para o ambiente de trabalho: treinamento de habilidades sociais com universitários. Estudos de Psicología, 8(3), 4013-420.
  • Del Prette, A., & Del Prette Z. A. P. (2015). Inventário de Habilidades sociais para adolescentes (IHSA-Del Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação São Paulo: Casa do Psicólogo.
  • Evans, T. M., Bira, L., Gastelum, J. B., Weiss, L. T., & Vanderford, N. L. (2018). Evidence for a mental health crisis in graduate education. Nature Biotechnology, 36(3), 282-284. http://dx.doi.org/10.1038/nbt.4089
    » https://doi.org/10.1038/nbt.4089
  • Knowles, M. L., Lucas, G. M., Baumeister, R. F., & Gardner, W. L. (2015). Choking under social pressure: Social monitoring among the lonely. Personality and Social Psychology Bulletin, 41(6), 805-821. http://dx.doi.org/10.1177/0146167215580775.
    » https://doi.org/10.1177/0146167215580775
  • Longhini, L.Z., Rios, B.F., Peron, S., & Neufeld, C.B. (2017). Characterization of social skills of teenagers in a school context. Revista Brasileira De Terapias Cognitivas, 13(2), 131-37. http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20170018
    » https://doi.org/10.5935/1808-5687.20170018
  • Lodder, G., Goossens, L., Scholte, R., Engels, R., & Verhagen, M. (2016). Adolescent loneliness and social skills: Agreement and discrepancies between self-, meta-, and peer-evaluations. Journal Of Youth and Adolescence, 45, 2406-2416. http://dx.doi.org/10.1007/s10964-016-0461-y.
    » https://doi.org/10.1007/s10964-016-0461-y
  • Maleki, M., Chehrzad, M.M., Kazemnezhad, L. E., Mardani, A. & Vaismoradi, M. (2019). Social Skills in Preschool Children from Teachers’ Perspectives. Children, 6, 64. http://dx.doi.org/10.3390/children6050064.
    » https://doi.org/10.3390/children6050064
  • Miranda, S. (2000). Oficina de dinâmica de grupos para empresas, escolas e grupos comunitários, v. 2. Campinas: Papirus, 152p.
  • Murta, S. G. (2005). Aplicações do treinamento em habilidades sociais: análise da produção nacional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(2), 283-291. https://doi.org/10.1590/s0102-79722005000200017
    » https://doi.org/10.1590/s0102-79722005000200017
  • Pereira-Guizzo, C. S., Del Prette, A., Del Prette, Z. A., & Leme, V. B. R. 2018 Programa de habilidades sociais para adolescentes em preparação para o trabalho. Psicologia Escolar e Educacional, 22(3), p. 573-81. http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392018035449.
    » https://doi.org/10.1590/2175-35392018035449
  • Qualter, P., Rotenberg, K., Barrett, L., Henzi, P., Barlow, A., Stylianou, M., & Harris, R. A. (2013). Investigating hypervigilance for social threat of lonely children. Journal of Abnormal Child Psychology, 41(2), 325-338. http://dx.doi.org/10.1007/s10802-012-9676-x.
    » https://doi.org/10.1007/s10802-012-9676-x
  • Santos, L. S., & Leal, J. P. M. (2017). Grupo Terapêutico: Jovem em desenvolvimento [cited2020 mar 20] Recuperado de: [cited2020 mar 20] Recuperado de: http://www.academia.edu/download/57039986/PROJETO_FINAL.pdf
    » http://www.academia.edu/download/57039986/PROJETO_FINAL.pdf
  • Soares, A. B., & Del Prette, Z. A. (2015). Habilidades sociais e adaptação à universidade: Convergências e divergências dos construtos. Análise Psicológica, 2(33),139-51. http://dx.doi.org/10.14417/ap.911.
    » https://doi.org/10.14417/ap.911
  • Takahashi, Y., Okada, K., Hoshino, T., & Anme, T. (2015). Developmental trajectories of social skills during early childhood and links to parenting practices in a Japanese sample. PLoS ONE, 10, e0135357. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0135357.
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0135357
  • Whitted, K. S. (2011). Understanding How Social and Emotional Skill Deficits Contribute to School Failure. Preventing School Failure: Alternative Education for Children and Youth, 55(1), 10-16. http://dx.doi.org/10.1080/10459880903286755.
    » https://doi.org/10.1080/10459880903286755
  • Yoleri, S. (2017). Teacher-child relationships in preschool period: The roles of child temperament and language skills. International Electronic Journal of Elementary Education, 9, 210-224. Recuperado de https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1126662.pdf
    » https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1126662.pdf
  • Ziv, Y. (2013). Social information processing patterns, social skills, and school readiness in preschool children. Journal of Experimental Child Psychology, 114, 306-320. Recuperado de https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S002209651200152X?via%3Dihub
    » https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S002209651200152X?via%3Dihub

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    19 Mar 2021
  • Aceito
    31 Ago 2022
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), Rua Mirassol, 46 - Vila Mariana , CEP 04044-010 São Paulo - SP - Brasil , Fone/Fax (11) 96900-6678 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@abrapee.psc.br