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Restauração da traquéia de cães com membrana do cordão umbilical de bovinos conservada em glicerina

Tracheal restoration in dogs with umbilical cord membrane of bovine preserved in glicerin

Resumos

A viabilidade do uso da membrana do cordão umbilical de bovinos, conservada em glicerina, foi estudada na reparação da traquéia cervical de cães. Foram utilizados sete cães, adultos, três machos e quatro fêmeas, sem raça definida com peso variando de 6 a 14 kg. Três anéis traqueais (1,5 x 2,5 cm) foram removidos parcialmente para implantação de um segmento de membrana umbilical. Os animais foram observados por um período de 30 dias de pós-operatório (PO), quando foram reoperados para observações macroscópicas e coleta de amostras para avaliação histológica. Ocorreu reparação da lesão traqueal, com formação de tecido de granulação, rico em fibras colágenas unindo as extremidades das cartilagens traqueais do defeito e migração epitelial na superfície traqueal. A membrana do cordão umbilical de bovino conservado em glicerina pode ser utilizada na reparação de defeitos traqueais, pois oferece suporte temporário para a formação de tecido de granulação e permite a epitelização na região do implante.

Implantação; Cirurgia; Cicatrização; Traquéia; Cordão umbilical


The viability of the use the bovine umbilical membrane preserved in 98% glycerin implanted in the cervical trachea was studied. Seven adult mongrel dogs, three males and four females weighting 6 to 14 kg, were used. After the usual anesthesia protocol and asseptic technique, three tracheal rings were partially removed for implantation of a segment of the umbilical membrane. The animals were observed during 30 days and then reoperated for macroscopic observations and for fragment collection for histological evaluation. It occurred a repair of the tracheal lesion, with formation of granulation tissue rich in collagen fibers linking the extremities of the tracheal cartilages. Epithelial migration over the tracheal surface was also seen. It is concluded that the segment of the bovine umbilical cord preserved in 98% glycerin can be used in the repair of tracheal defects. It offers a temporary support for granulation tissue formation and epithelization in the implanted area.

Implants; Surgery; Healing; Trachea; Umbilical cord


Restauração da traquéia de cães com membrana do cordão umbilical de bovinos conservada em glicerina

Tracheal restoration in dogs with umbilical cord membrane of bovine preserved in glicerin

Alexandre MAZZANTY11 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Ney Luis PIPPI21 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Alceu Gaspar RAISER21 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Dominguita Lühers GRAÇA31 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Aron Ferreira da SILVEIRA41 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Duvaldo EURIDES51 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Renato Xavier FARIA11 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Gentil Ferreira GONÇALVES11 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Alonso Gabriel Pereira GUEDES61 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS ; Marilaine Vistué RIOS61 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS

CORRESPONDÊNCIA PARA:

Dominguita Lühers Graça

Departamento de Patologia

Centro de Ciências da Saúde

Universidade Federal de Santa Maria

Caixa Postal 5092

97119-900 – Santa Maria – RS

e-mail: dlgraca@lince.hcv.ufsm.br

RESUMO

A viabilidade do uso da membrana do cordão umbilical de bovinos, conservada em glicerina, foi estudada na reparação da traquéia cervical de cães. Foram utilizados sete cães, adultos, três machos e quatro fêmeas, sem raça definida com peso variando de 6 a 14 kg. Três anéis traqueais (1,5 x 2,5 cm) foram removidos parcialmente para implantação de um segmento de membrana umbilical. Os animais foram observados por um período de 30 dias de pós-operatório (PO), quando foram reoperados para observações macroscópicas e coleta de amostras para avaliação histológica. Ocorreu reparação da lesão traqueal, com formação de tecido de granulação, rico em fibras colágenas unindo as extremidades das cartilagens traqueais do defeito e migração epitelial na superfície traqueal. A membrana do cordão umbilical de bovino conservado em glicerina pode ser utilizada na reparação de defeitos traqueais, pois oferece suporte temporário para a formação de tecido de granulação e permite a epitelização na região do implante.

UNITERMOS: Implantação; Cirurgia; Cicatrização; Traquéia; Cordão umbilical.

INTRODUÇÃO

As doenças obstrutivas da traquéia canina são freqüentes em medicina veterinária. Elas podem ocorrer em conseqüência de tumores, corpos estranhos6,24, parasitas endotraqueais, hipoplasia e estenose segmentar14. O traumatismo é, no entanto, a principal causa de ruptura ou estenose traqueal, geralmente devido à intubação traqueal, traqueostomia e ferimento da porção cervical da traquéia21.

O sucesso das técnicas empregadas para correção de estenose traqueal depende da tensão do fio de sutura, prevenção de fibrose e granulomas no local da cirurgia, do acúmulo de muco15 e do restabelecimento da superfície interna da área operada por epitélio traqueal9.

Vários métodos cirúrgicos são descritos para correção de estenose traqueal. O emprego de anastomose direta das extremidades é utilizado freqüentemente, sendo relatado como um eficiente procedimento corretivo de rupturas de anéis traqueais8; no entanto, pode ocorrer a formação de fibrose na região de anastomose22. A utilização da prótese de polipropileno em espiral na reparação de defeitos na traquéia de cães ocasionou necrose na anastomose do implante traqueal decorridos 3 a 7 dias com evidente reação inflamatória13. Já o implante de placa de silicone para substituição parcial de defeitos traqueais de cães ocasionou boa integração tecidual com epitelização da superfície interna do material prostético2. Marshak et al.16 utilizaram segmento autógeno de bexiga urinária associado ao tubo de silicone mantidos provisoriamente na traquéia cervical de nove cães até a formação de tecido ao redor. Os autores verificaram óbito em cinco animais em conseqüência do deslocamento da prótese e da formação de tecido de granulação na região de anastomose com a traquéia. Na tentativa de reparação de defeitos traqueais em cães, Har-El et al.9. empregaram enxertos musculares associados a segmento fenestrado de prótese de metilmetacrilato. As próteses eram envolvidas por fáscia lata ou periósteo e permaneciam sobre o músculo peitoral por um período de 4 a 6 semanas até serem implantadas na traquéia. Os autores observaram a formação de tecido conjuntivo para o interior das fenestras, reação traqueal mínima com ausência de tecido de granulação e estenose.

Pinto et al.20 empregaram para correção de defeitos traqueais em cães tecido traqueal homólogo envolvido por retalho muscular. Observaram tecido de granulação na região de anastomose, deiscência da sutura e não incorporação da bioprótese na traquéia. Já, a utilização de enxerto autólogo de peritônio-muscular na reconstrução de defeitos de traquéia cervical de cães efetuado por Eurides et al.5 ocasionou cicatrização na região de enxertia com formação de tecido conjuntivo e migração epitelial na superfície interna do enxerto.

O presente trabalho buscou analisar a viabilidade e resposta cicatricial da traquéia de cães substituída parcialmente por membrana do cordão umbilical de bovinos conservada em glicerina. O procedimento foi avaliado baseado em aspectos macroscópicos e histológicos da área de enxertia.

MATERIAL E MÉTODO

Foram utilizados sete cães, adultos, três machos e quatro fêmeas, sem raça definida, com peso variando de 6 a 14 kg, aparentemente sadios e oriundos do Biotério Central da Universidade Federal de Santa Maria. Esses animais permaneceram sob observação clínica por um período de sete dias e, após serem vermifugados, foram mantidos em baias individuais com alimentação e água à vontade. Após jejum prévio de 12 horas, foram tranqüilizados com maleato de acepromazinaa1 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS 0,2% (1,0 mg/kg), via intravenosa (IV), e a região cervical do pescoço submetida a tricotomia. A indução anestésica foi feita com thiopental sódicob1 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS 2,5% (12,5 mg/kg, IV) e, após intubação traqueal, foram mantidos sob anestesia inalatória em plano cirúrgico com halotanoc1 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS . Com a contenção dos animais em decúbito dorsal e pescoço em extensão, foi realizada anti-sepsia do campo operatório com álcool-iodo-álcool.

A membrana do cordão umbilical utilizada na traquéia dos cães foi obtida de fêmeas bovinas gestantes recém-abatidas oriundas do matadouro. Para o preparo da membrana, seccionou-se um segmento de aproximadamente 20,0 cm de cordão umbilical. Após a remoção dos vasos umbilicais, o segmento de membrana foi seccionado em retalhos de aproximadamente 4,0 x 5,0 cm, lavados em água corrente e colocados em frascos contendo glicerina a 98%, em temperatura ambiente, onde permaneceram imersos para conservação e armazenamento por um período não inferior a 30 dias. O segmento de membrana do cordão umbilical de bovino foi removido do frasco com glicerina 15 minutos antes da implantação, e imerso numa cuba rim estéril contendo solução fisiológica NaCl 0,9%, à temperatura ambiente, para hidratação. A membrana foi preparada confeccionando-se um segmento de dimensões suficiente para ocluir o defeito traqueal provocado.

Caudalmente à laringe e na região mediana ventral do pescoço, foi praticada uma incisão de pele e tecido subcutâneo. Os músculos esternoióide e esternotireóide foram rebatidos com tesoura de ponta romba para exposição da traquéia. Foi preparado um defeito de 1,5 x 2,5 cm, com bisturi, removendo-se parcialmente três anéis traqueais até próximo ao músculo traqueal. O segmento de membrana do cordão umbilical foi fixado à borda da abertura traqueal mediante quatro pontos simples separados de fio poliamidad1 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS 0,25 para permitir o posicionamento do enxerto e facilitar a síntese. A seguir, a sutura foi completada com o mesmo tipo de fio utilizando pontos simples contínuos, sem atingir o lume traqueal. Após a fixação da membrana na traquéia, desinflou-se o balonete do tubo endotraqueal rapidamente e irrigou-se a região do implante com solução fisiológica NaCl 0,9% para avaliar a aerostomia.

Os músculos esternoióide e esternotireóide foram reaproximados com pontos simples contínuos de fio poliamidad1 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS 0,30, ancorando-se 2 a 3 pontos nos anéis traqueais craniais e caudais ao implante. O tecido subcutâneo foi aproximado com suturas simples contínuas e a pele com sutura de Donatti, utilizando fio poliamida número 0,30. Foi aplicado antibiótico profilático (ampicilina sódicae1 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS , 20 mg/kg, IV), trinta minutos antes do início da cirurgia e dose única de flunixin megluminef1 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS (1 mg/kg de peso corporal, IV), logo após o término da cirurgia. No pós-operatório, os animais foram submetidos a curativo local com timerosalg f Banamine. Schering-Plough, Rio de Janeiro – RJ. g Merthiolate 1:1000. Eli Lilly do Brasil, São Paulo – SP. a 1:1000 durante 7 dias e os pontos de pele retirados com 10 dias de pós-operatório.

Os cães foram observados diariamente até o 30º dia PO para acompanhamento clínico, quando foram reoperados para avaliação macroscópica. Ao fim desse período, os animais foram eutanasiados mediante a injeção intravenosa de cloreto de potássio a 20% para coleta de fragmentos que foram fixados em formalina a 10%, por um período não inferior a 24 horas e posterior estudo em microscopia de luz da área de enxertia. Os cortes histológicos, de 4 mm de espessura, foram corados pela técnica de hematoxilina-eosina (HE) e tricrômico de Masson (TM).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O fio poliamida mostrou-se resistente e de fácil manuseio na fixação do implante na traquéia sem ocasionar deiscência de sutura ou formação exuberante de tecido de granulação na região de anastomose.

Em seis cães (83,3%), o pós-operatório evoluiu sem sinais de irritação ou estenose. Isto ocorreu pela manipulação atraumática durante a fixação do implante na região e pelos pontos de suturas não terem atingido o lume traqueal5. No entanto, ocorreu ruptura da membrana umbilical em um cão no 2º dia, promovendo instabilidade do enxerto na região, presença de inflamação e edema na mucosa traqueal com manifestações de tosse em intervalos pouco freqüentes. Tangner; Hobson23, quando utilizaram anel de polipropileno na correção de traquéia colapsada de cão, observaram episódios de tosse decorrentes da irritação cirúrgica. Já, para Kirby et al.13, empregando prótese de polipropileno em espiral na traquéia de cão, a manifestação de tosse ocorreu devido à necrose na traquéia com evidente reação inflamatória. A causa dessa deiscência foi a extensão acidental do pescoço, durante a recuperação anestésica que provocou ruptura do enxerto, além da falta de uniformidade da membrana do cordão umbilical em relação a sua espessura, que contribuiu para a diminuição da resistência à tração, como salientado por Mello et al.17, que utilizaram membrana umbilical humana. Devido à irritabilidade na região e formação de enfisema subcutâneo no pescoço e tórax, o segmento foi totalmente removido e substituído por outro retalho de membrana que foi fixado sobre a abertura traqueal. Após a cirurgia, o animal demonstrou boa recuperação pós-operatória sem sintomas e sinais clínicos. O enfisema subcutâneo foi absorvido até o 10º dia PO.

No presente trabalho, em nenhum dos animais, durante o período de observação, foram notados sinais de infecção ou presença de fístula que sugerissem rejeição, fato também constatado por Daleck et al.4, que utilizaram peritônio de bovinos conservado em glicerina na reparação de hérnia perineal de cão. As propriedades de atenuação antigênica e bactericida da glicerina contribuíram para estes resultados19.

Decorridos 30 dias de pós-operatório, verificou-se em todos os animais que a lesão traqueal estava totalmente vedada por uma membrana fibrosa de coloração branco-acinzentada, firmemente aderida a ela e aos músculos esternoióide e esternotiróide, sem ocasionar proliferação exagerada de tecido de granulação (Fig. 1), ao contrário do verificado por Pinto et al.20, que empregaram traquéia homóloga para restauração de traquéia de cão, onde houve intensa formação de tecido fibrovascular na região de anastomose. A formação de membrana fibrosa também foi verificada por Mello et al.17 com o emprego de membrana umbilical humana no esôfago de cão. Isto demonstra que tanto em órgão com arcabouço rígido como a traquéia e sem, como o esôfago, o comportamento cicatricial da membrana do cordão umbilical foi semelhante.

Figura 1

Em dois cães foi verificada presença de uma discreta estenose do lume traqueal, porém, sem sinais clínicos de comprometimento respiratório, coincidindo com os resultados de Contesini et al.2, ao usarem placa de silicone, Daleck et al.3 com traquéia homóloga conservada em glicerina e Montovani et al.18, com traquéia homóloga em cobaias.

A membrana do cordão umbilical de bovinos, empregada neste experimento, suportou a pressão intratraqueal, não se observando sinais aparentes de colabamento como relatado por Marshak et al.16, quando empregaram bexiga urinária autóloga para reconstrução de traquéia de cão. Apesar de o defeito provocado na traquéia ter sido parcial, a resistência inicial pode ser atribuída às fibras colágenas e tecido conjuntivo existente no material implantado neste experimento, fato também verificado por Mello et al.17, empregando membrana do cordão umbilical humano no esôfago cervical de cão.

A avaliação histopatológica da área de enxertia no 30º dia de pós-operatório revelou que a membrana do cordão umbilical foi totalmente substituída por tecido de granulação, com discreta infiltração de células mononucleares (macrófagos e linfócitos), ausência de polimorfonucleares e de infecção aguda ou crônica, revelando completa reparação do defeito traqueal. Já Eurides et al.5. observaram que no 30º PO, o enxerto de peritônio-muscular de cão foi parcialmente substituído por tecido fibrovascular, com presença ainda de polimorfonucleares e mononucleares, demonstrando que a região de enxertia encontrava-se ainda em processo de reparação. Além disso, a menor espessura da membrana do cordão umbilical de bovino em relação ao peritônio-muscular de cão pode ter favorecido esses resultados. Quanto à substituição do enxerto, isto demonstra que o implante proporcionou uma proteção mecânica temporária ao defeito traqueal, permitindo, durante o processo cicatricial, substituição progressiva por tecido de granulação, fato também observado por Mello et al.17, com membrana do cordão umbilical humano em esôfago canino. Em dois animais, verificou-se, na região de anastomose entre a traquéia e o implante, presença de reação piogranulomatosa com infiltrado de mononucleares. Este achado pode ser explicado pela presença do fio de sutura na região, semelhante ao encontrado por Eurides et al.5, utilizando enxerto peritônio-muscular.

De acordo com Jacobs11, a reepitelização da superfície interna operada contribui para o restabelecimento das funções respiratórias da traquéia1, além de impedir a formação de tecido de granulação exuberante11. No presente experimento, notou-se no 30º dia de pós-operatório que a superfície interna da região de enxertia estava coberta por epitélio traqueal5,10. A membrana do cordão umbilical de bovinos conservada em glicerina permitiu a migração do epitelial traqueal sem ocasionar formação de granulação na região de anastomose com a traquéia.

Os movimentos ciliares do epitélio traqueal conduzem o muco em direção à faringe, eliminando, dessa forma, as partículas inaladas durante o ato inspiratório, constituindo uma barreira de proteção contra infecção12. Neste experimento, o crescimento de epitélio traqueal na região da enxertia e a ausência de muco corroboram com as afirmações de Lau et al.15, sobre o sucesso das técnicas de restauração de defeitos traqueais que dependem de alguns fatores, entre eles, a ausência de deposição de muco na região de implante.

CONCLUSÃO

O uso da membrana do cordão umbilical de bovinos conservada em glicerina é viável para reparo de lesão traqueal de cães, uma vez que oferece proteção mecânica temporária ao defeito traqueal, proporciona a formação de tecido de granulação e permite a migração epitelial.

SUMMARY

The viability of the use the bovine umbilical membrane preserved in 98% glycerin implanted in the cervical trachea was studied. Seven adult mongrel dogs, three males and four females weighting 6 to 14 kg, were used. After the usual anesthesia protocol and asseptic technique, three tracheal rings were partially removed for implantation of a segment of the umbilical membrane. The animals were observed during 30 days and then reoperated for macroscopic observations and for fragment collection for histological evaluation. It occurred a repair of the tracheal lesion, with formation of granulation tissue rich in collagen fibers linking the extremities of the tracheal cartilages. Epithelial migration over the tracheal surface was also seen. It is concluded that the segment of the bovine umbilical cord preserved in 98% glycerin can be used in the repair of tracheal defects. It offers a temporary support for granulation tissue formation and epithelization in the implanted area.

UNITERMS: Implants; Surgery; Healing; Trachea; Umbilical cord.

Recebido para publicação: 26/03/1999

Aprovado para publicação: 07/01/2000

2 Departamento de Clínica de Pequenos Animais da Universidade Federal de Santa Maria – RS

3 Departamento de Patologia da Universidade Federal de Santa Maria – RS

4 Departamento de Morfologia do Centro de Ciência Rurais da Universidade Federal de Santa Maria – RS

5 Universidade Federal de Uberlândia – MG

6 Bolsistas de Iniciação Científica/CNPq. Graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS

a Acepran 1%. Univet S.A. São Paulo – SP.

b Thionembutal. Abbot Laboratório do Brasil, São Paulo – SP.

c Halotane. Cristália do Brasil, São Paulo – SP.

d Fio de Nylon Grilon – Indústria Nacional de Plásticos, São Paulo – SP.

e Ampicilina sódica Ariston. Ariston Indústria Química, São Paulo – SP.

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  • 1 Pós-graduando em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria – RS
  • f
    Banamine. Schering-Plough, Rio de Janeiro – RJ.
    g
    Merthiolate 1:1000. Eli Lilly do Brasil, São Paulo – SP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Maio 2001
    • Data do Fascículo
      2000

    Histórico

    • Aceito
      07 Jan 2000
    • Recebido
      26 Mar 1999
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