RESENHAS
Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia
Paulo da Terra Caldeira
Departamento de Organização e Tratamento da Informação Escola de Ciência da Informação da UFMG
CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira. Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 2008. 451p. Resenha de: CALDEIRA, Paulo da Terra. PCIOnline, Belo Horizonte, v. 14, n. 1, jan./abr. 2009.
As novas tecnologias da informação veem contribuindo para facilitar o avanço científico e impondo novos paradigmas, em vários setores da sociedade. Há, de modo geral, muita expectativa por parte das pessoas em torno das possibilidades e facilidades oferecidas por essas tecnologias, seja na forma de produção, na comunicação, no processamento, na divulgação, seja na rapidez com que se recupera e utiliza a informação. Um dos setores que já vem sendo afetado é o da indústria editorial, que vem se utilizando de tais facilidades, continua mantendo números gigantescos de produção e terá bastante trabalho para atender ao acordo firmado pelos países de língua portuguesa para promover sua unificação. Provavelmente, o primeiro efeito se refletirá em um segmento dos mais importantes do setor, o de livros didáticos. Além dos novos livros a serem lançados, há toda uma gama de obras em uso que deverão ser relançadas no mercado adotando as alterações do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovado em 1990, em Lisboa, pela Academia das Ciência de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a adesão da delegação de observadores da Galiza. Os signatários do Acordo consideram que foi um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional embora se saiba que a medida trará como conseqüência uma enorme quantidade de títulos e exemplares que serão relançados no mercado, envolvendo cifras astronômicas, editores, autores e demais profissionais envolvidos.
Outro segmento não tão abrangente como o de livros didáticos mas também significativo, no qual cada título exerce enorme fascínio nas pessoas levando-as a procurar conhecer, entender e desvendar o sucesso alcançado por seus ídolos, suas personalidades e realizações é o das biografias. São inúmeras as obras sobre a vida de escritores, cantores, esportistas, políticos, educadores, cientistas, entre várias outras profissões, admiradas nas vitrines e prateleiras das livrarias brasileiras e frequentemente merecedoras de matérias e resenhas veiculadas em jornais e revistas, destacando os novos lançamentos.
As obras de referência constituem importante segmento que alcançou cifras significativas no passado recente, principalmente com os dicionários Aurélio e a Nova Enciclopédia Barsa que eram encontrados em número significativo de residências brasileiras. Percebendo a importância das novas tecnologias e sua facilidade de consulta pelo público em geral, pelos internautas e pelos usuários de bibliotecas e de arquivos que dispõem de tais equipamentos, os editores do dicionário Houaiss fizeram seu lançamento nos dois suportes: impresso e eletrônico.
Além dos dicionários de idiomas ou de línguas são importantes, também, aqueles dedicados a uma área do conhecimento, no qual são aprofundados e ampĺiados os conceitos e o número de verbetes indispensáveis aos especialistas, aos professores, aos estudantes de graduação e de pós-graduação, aos profissionais em geral e demais interessados. Um exemplo é o Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia, de autoria dos Professores Murilo Bastos da Cunha e Cordélia Robalinho de Oliveira Cavalcanti, recentemente lançado pela Briquet de Lemos/Livros, de Brasília, no final de novembro de 2008. Sua publicação no formato impresso se reveste de grande significação, de vez que anterior a ele foram publicados apenas o Glossário de termos usuais em Biblioteconomia e Documentação, lançado em São Carlos pela Fundação Theodoreto Santos, em 1978 e o Dicionário de termos arquivísticos, subsídios para uma terminologia arquivística brasileira, organizado por Rolf Nagel e editado pela Fundação Alemã para o Desenvolvimento Internacional, de Bonn, em parceria com a Escola de Biblioteconomia e Documentação da UFBA, em 1991. Tais obras se revestem da maior importância uma vez que a área de Ciência da Informação está em franca expansão, com o aumento do número de vagas e a criação de novos cursos, como o de Arquivologia, em 2009, e o de Museologia, no próximo ano, na Escola de Ciência da Informação, pela UFMG; a avaliação positiva de vários títulos de revistas da área para constarem nas primeiras colocações da classificação Qualis, da Capes; a constante publicação de livros e de anais de eventos, verificando-se, ainda, número expressivo de apresentações de teses e dissertações defendidas nos diversos programas de pós-graduação oferecidos pelas escolas e departamentos localizados nos diversos estados brasileiros. Apesar dessa efervescência, é ainda restrito o lançamento de obras de referência nas áreas de Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia, Gestão da Informação.
Louva-se, portanto, a publicação do Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia no formato impresso !
Em sua introdução, Cunha (2008, p. vii) afirma que o objetivo do Dicionário é o de "definir, de forma clara, sucinta e simples, os termos utilizados por bibliotecários, arquivistas e demais profissionais... da área de Ciência da Informação" e que muitos verbetes incluem "abonações extraídas da literatura técnico-científica e de léxicos gerais e especializados." A afirmativa pode ser comprovada pela extensa bibliografia consultada pelos autores para a confecção do Dicionário. Ela encontra-se compactamente acomodada em apenas seis páginas, após a lista de abreviaturas.
O Dicionário inclui mais de 4.000 verbetes de várias especializações "da biblioteconomia, arquivologia, documentação e estudos de informação", bem como termos "de direito autoral, editoração, comércio livreiro, artes gráficas, historia do livro, bibliografia, comunicação científica, telecomunicações e informática", além de educação, história, museologia.
A obra está dividida em duas partes. Na primeira, os verbetes encontram-se ordenados de A a Z, com as entradas dos verbetes na língua pátria arranjados em ordem alfabética palavra por palavra em português, seguidos dos equivalentes em inglês, definições, acepções, exemplos. "As definições ou remissivas de conceitos expressos por mais de um vocábulo" (linguagem absoluta, por exemplo) "estão reunidos em ordem alfabética, no verbete da palavra inicial" (linguagem). Nesse verbete encontram-se também os vários tipos de linguagem: linguagem algorítmica, linguagem artificial, linguagem de indexação, mais de setenta no total, com a primeira palavra abreviada pela letra inicial (l.). O verbete fornece ainda o termo ou termos equivalentes em inglês, grafados conforme a ortografia norte-americana. Quando não se dispõe de equivalente em vernáculo, são usados os próprios termos naquele idioma.
O Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia, além de definições, inclui exemplos para cada acepção citada. É o caso do verbete "revista":
"... r. acadêmica 
periódico científico. R. ABC: Biblioteconomia em Santa Catarina Periódico eletrônico, editado pela Universidade Federal de Santa Catarina... r. científica: periódico científico. r. comercial revista comercial. R. da Escola de Biblioteconomia da UFMG. Editada de 1972 a 1995 pela EB-UFMG (hoje, Escola de Ciência da Informação). Em 1996 foi substituída por Perspectivas em Ciência da Informação (
). r. de atualidades current periodical, general interest magazine, news magazine...
Além da revista da UFSC há outros exemplos de revistas ligadas a associações profissionais, federações de associações de classe, entre outros. O Dicionário utiliza dois tipos de remissivas: para encaminhar o consulente do termo não definido para o verbete com definições (Ver); a seta nos dois sentidos: (
) direciona o leitor para o termo relacionado (Ver também) que poderá clarificar ou ampliar a definição procurada. Observa-se, também, que no exemplo da acepção relativa à R. da Escola de Biblioteconomia da UFMG há várias informações como: alteração de nome da revista, da Escola e datas. Entretanto, verifica-se que a acepção r. comercial deveria ter sido incluída após as informações relativas à revista da UFMG.
Dependendo do campo de conhecimento no qual o vocábulo é utilizado, seu sentido pode variar e, nesse caso, o campo será indicado de forma abreviada: "arquivamento (1)arrangement file, filing ADM ARQ..." no qual ADM significa Administração e ARQ, Arquivologia. Além disso, o Dicionário apresenta também o significado de inúmeras abreviaturas de títulos de periódicos (JASIS), instituições (ICOM), sistemas de classificação (LCC), catálogos coletivos (LCNUC), áreas do conhecimento (KM), tipos de índices (KWIC), equipamentos (ipod) que facilitam enormemente o trabalho de sua identificação pelos usuários.
Na segunda parte está incluído o Vocabulário inglês-português A-Z, onde estão reunidas as entradas no primeiro idioma, remetendo para o termo preferencial em português. Os autores recomendam "que a consulta ao termo em inglês seja sempre complementada com a leitura do verbete correspondente na primeira parte do Dicionário".
A apresentação física do Dicionário é sóbria, em brochura, embora pareça ser encadernado, e é um volume alentado, com 451 páginas (seria mera coincidência ou uma homenagem ao filme de François Truffaut, Fahrenheit 451, de 1966, baseado no livro homônimo de Ray Bradbury), disposto em duas colunas, fugindo às recomendações usuais em obras de referência: margens generosas, tipos maiores e espaço razoável entre os verbetes. Tais observações não desmerecem a obra, seu conteúdo ou qualidade, pois se entende que essas decisões foram tomadas com o objetivo de viabilizarem os custos nelas envolvidos.
Os autores, Murilo Bastos da Cunha e Cordélia Robalinho de Oliveira Cavalcanti, são profissionais experientes na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, ambos pertencentes ao quadro docente do Departamento de Biblioteconomia e Ciência da Informação, da UnB, com destacada atuação social e profissional. O Dr. Murilo Cunha foi Presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia, Bibliotecário do Ministério de Minas e Energia tendo publicado inúmeros artigos e livros, um deles, Para saber mais: fontes de informação em Ciência e Tecnologia, de grande impacto na área. Por sua atuação profissional foi indicado pela Escola de Ciência da Informação da UFMG para receber a primeira medalha de Ex aluno destaque desta Universidade. A Profa. Cordélia Cavalcanti foi também bibliotecária da Câmara dos Deputados tendo publicado inúmeros artigos, apresentado trabalhos em eventos da área, além de ter participação efetiva nos movimentos associativos.
Poderão fazer bom uso do Dicionáriode Biblioteconomia e Arquivologia "bibliotecários, arquivistas, editores, livreiros, estudantes, pesquisadores e demais profissionais que trabalham na coleta, armazenamento, processamento, recuperação e difusão da informação, em seu formato tradicional impresso ou em meio eletrônico". Ele será útil também para resolver dificuldades encontradas por estudiosos que utilizam terminologia técnica escrita no idioma de Shakespeare.
Considerando sua abrangência, qualidade, confiabilidade das informações constantes nos verbetes e a competência dos autores e do Editor, tem-se certeza que os profissionais, professores, pesquisadores, alunos de graduação e de pós-graduação, as comunidades nas quais estão inseridas as bibliotecas, os arquivos e os museus e o público em geral contam agora com um manancial de verbetes que, certamente, esclarecerão conceitos ou permitirão conferir informações que poderiam deixar o leitor em dúvida ou levá-lo à realização de uma pesquisa para resolver suas questões.
Este Dicionário é, portanto, uma constatação de que a área de Ciência da Informação como um todo demonstra resultados concretos, representados pelos números de cursos de graduação e de pós-graduação na área, de mestres e doutores titulados, de profissionais capacitados, de produção bibliográfica de qualidade, divulgada a nível nacional e internacional, que reafirmam sua maturidade e longa trajetória no País.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
30 Jun 2009 -
Data do Fascículo
Abr 2009
