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Fluxos de informação em projetos de inovação: estudo em três organizações

Flow information in innovation projects: study in three organizations

RESUMO

Os fluxos de informação são responsáveis pela busca, seleção, tratamento, armazenamento, disseminação e uso das informações necessárias aos processos organizacionais que resultam em conhecimento com valor agregado às necessidades dos projetos de inovação. Analisou-se o fluxo de informação em projetos de inovação em nível tático e estratégico. Utilizou-se a pesquisa exploratória-descritiva de abordagem qualitativa com procedimentos técnicos caracterizados por estudo de múltiplos casos. O locus da pesquisa foi composto por uma organização com fins lucrativos, uma fundação sem fins lucrativos e um projeto de pesquisa de uma IES. A coleta de dados foi executada em duas etapas utilizando os seguintes instrumentos de pesquisa: (i) entrevista com o nível estratégico; (ii) questionário com o nível tático do projeto. Oito variáveis de pesquisa foram utilizadas, para a análise, divididas nas dimensões (i) elementos: atores, canais, fontes de informação e tecnologia; e (ii) aspectos: necessidades, determinantes de escolha e uso, barreiras e velocidade. Confirmou-se que fluxo de informação é processo crucial para a criação de conhecimento nos projetos estudados. Esse processo é dinâmico e influenciado pelas peculiaridades dos projetos. A administração adequada do fluxo de informação é desejável para efetivo sucesso do projeto e maximização de resultados do ponto de vista informacional.

Palavras-chave:
Gestão da informação; Fluxos de informação; Canais de comunicação; Fontes de informação; Inovação

ABSTRACT

Information flows are responsible for search, selection, treatment, storage, dissemination and use of information necessary to organizational processes that result in value-added knowledge to the needs of innovation projects. Analyzed the flow of information on innovation projects in tactical and strategic level. We used the exploratory and descriptive research of qualitative approach with technical procedures characterized by multiple case study. The locus of the research was composed of a for-profit organization, a foundation nonprofit and a research project of IHE. Data collection was performed in two stages using the following research instruments: (i) interview with the strategic level; (ii) questionnaire to the tactical level of the project. Eight research variables were used for the analysis, divided into the dimensions (i) elements: actors, channels, information and technology resources; and (ii) aspects: requirements, determining selection and use, and speed barriers. It was confirmed that the information flow is crucial process for establishing knowledge in the study designs. This process is dynamic and influenced by the peculiarities of the projects. Proper management of information flow is desirable for effective project success and maximize results of the informational point of view.

Keywords:
Information management; Information flows; Communication channels; Information sources; Innovation.

1 Introdução

A sociedade contemporânea está alicerçada nos mais variados fluxos, sejam fluxos de capital, fluxos de informação, fluxos de tecnologia, fluxos de interação organizacional, fluxos de imagens, sons e símbolos (CASTELLS, 2005CASTELLS, M. O espaço de fluxos. In: CASTELLS, M. A sociedade em rede. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. v. 1. cap. 6. p. 467-521.). Tais fluxos são processos dinâmicos que transmitem informações com finalidade de gerar conhecimento. Em uma economia turbulenta, dinâmica e competitiva a inovação vem como uma ação que possibilita a sobrevivência e diferenciação das organizações nesse contexto. Nessa perspectiva temos a informação e o conhecimento como os insumos necessários para a efetivação da inovação possibilitando o sucesso e o crescimento das organizações (VARIS; LITTUNEN, 2010VARIS, M.; LITTUNEN, H. Types of innovation, sources of information and performance in entrepreneurial SMEs. European Journal of Innovation Management, v. 3, n. 2, p. 128-154, 2010.).

A presente pesquisa buscou estudar o fluxo de informação em processos inovativos de nível organizacional. Considerando que para que a inovação aconteça é necessária a produção do conhecimento para posterior aplicação, e que essa produção depende do uso de informação, busca-se apoio na visão da Ciência da Informação (CI) para o desenvolvimento desta pesquisa. Tendo como premissa básica que os fluxos de informação movem a sociedade em todos os seus aspectos, a questão central desta pesquisa alicerça-se no fato de que a necessidade de informação desencadeia um conjunto de ações, que levam a busca, a seleção, o tratamento, o armazenamento, a disseminação e o uso da informação, assim, resultando em práticas geradoras de conhecimento que irão alimentar todo o processo inerente aos projetos de inovação.

Na perspectiva desta pesquisa, duas dimensões foram definidas para analisar o fluxo de informação que são os elementos que compõe o fluxo e os aspectos influenciadores do mesmo. A dimensão referente aos elementos diz respeito aos fatores que são responsáveis para que a existência do fluxo seja possível. Por outro lado, a dimensão referente aos aspectos, se refere aos fatores que influenciam o andamento do fluxo, sendo que servem como catalizadores para a constituição do fluxo de informação. Ambas as dimensões formam um conjunto, não sendo possível visualizar a construção de um fluxo de informação que não seja composto, direta ou indiretamente, pelos fatores que compõe tais dimensões.

Tendo como base tais dimensões, mais especificamente aos elementos que compõe o fluxo, esta pesquisa buscou entender como os atores comportam-se nos processos envolvidos no fluxo de informação, como os canais possibilitam e afetam a disseminação da informação, de que forma as fontes de informação são insumos para a criação de conhecimento inovativo e como as tecnologias viabilizam os processos necessários ao fluxo de informação. Com referência aos aspectos ligados ao fluxo de informação, buscou-se levantar as barreiras presentes nesse processo, procurou-se verificar como acontece a escolha e uso da informação e como esses tem influência nas tomadas de decisão, e ainda de que maneira as necessidades informacionais desencadeiam todo o processo do fluxo informacional e como a velocidade de recuperação da informação pode agregar valor a todo o processo de circulação da informação na organização.

Os objetivos que deram o direcionamento para a pesquisa são: a) Objetivo Geral: Analisar os fluxos de informação em projetos de inovação, e b) Objetivos Específicos: (i) verificar a importância da informação no processo de inovação em organizações, (ii) caracterizar a visão da alta gerência referente aos fluxos de informação em um projeto de inovação, (iii) verificar a relevância e a frequência dos fatores que influenciam os fluxos de informação no processo de inovação.

2 Referencial teórico

O fluxo de informação é um processo de comunicação dinâmico, que ocorre em diferentes ambientes informacionais, com o objetivo de transmitir informações, com valor agregado, de um emissor para um receptor ou múltiplos receptores, visando responder as mais complexas necessidades informacionais e possibilitando a geração de conhecimento.

Desde o surgimento da Ciência da Informação, na década de 1960, o estudo dos processos de comunicação e do fluxo de informação estão presentes nas suas diversas definições encontradas na literatura (SOUZA, 2007SOUZA, M. da P. N. de. Abordagem inter e transdisciplinar emCiência da Informação . In: TOUTAIN, L. M. B. B. (Org.). Para entender a ciência da informação. Salvador: UFBA, 2007. p. 75-90.).

De forma ampla, Castells (2005CASTELLS, M. O espaço de fluxos. In: CASTELLS, M. A sociedade em rede. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. v. 1. cap. 6. p. 467-521., p. 501) define fluxo como sendo "[...] as sequências intencionais, repetitivas e programáveis de intercâmbio e interação entre posições fisicamente desarticuladas, mantidas por atores sociais nas estruturas econômica, política e simbólica da sociedade". Para esse autor, os fluxos não se restringem somente a um único elemento da organização social, mas aos processos dominantes no contexto econômico, político e simbólico dos indivíduos.

Os fluxos de informação se inserem em todos os contextos socais contemporâneos e a tecnologia da informação e da comunicação (TIC), a partir de sua massificação nesses contextos, possibilitou a maximização dos processos que envolvem a produção e a disseminação da informação nas mais diversas arenas. Partindo dessa premissa, Porter e Millar (2009PORTER, M. E; MILLAR, V. E. Como a informação proporciona vantagem competitiva. In: PORTER, M. E. Competição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p. 73-96.), corroboram o papel da TIC como grande propulsor nas mudanças informacionais tanto na perspectiva do excesso da produção da informação como também de seu papel como ferramenta que possibilitou melhores práticas e melhores resultados nos processos de busca, seleção, tratamento, armazenamento, disseminação e uso da informação.

A presente pesquisa considera que o fluxo de informação está inserido, como fator crucial, nos processos de inovação. Inovar tem se tornado o objetivo da maioria das organizações tendo em vista o contexto econômico competitivo, dinâmico e turbulento que obriga as organizações a se renovar e inserir novo bens e serviços para atender às necessidades de sua rede de clientes.

A inovação é resultado de diversos fluxos, fluxos de informação, fluxos de capital, fluxos de bens, fluxos de conhecimento e tecnologia e etc. Esses fluxos resultam em interações dinâmicas entre variados atores com o objetivo de criar conhecimento com valor agregado e que possibilita a criação de um bem ou serviço diferenciado e com alto poder competitivo. Desse modo, o fluxo de informação é componente essencial para que ocorra a inovação, haja vista que, "[...] a inovação requer a utilização de conhecimento novo ou um novo uso ou combinação para o conhecimento existente." (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2005, p. 43).

A inovação, enquanto prática, não é recente e tem caminhado lado a lado com a história da humanidade. É possível afirmar que inovar é uma característica inerente ao ser humano, sendo impossível imaginar um mundo sem inovações, cruciais para a evolução da sociedade, como a roda, o alfabeto ou a impressão (FAGERBERG, 2005FAGERBERG, J. Innovation: a guide to the literature. In: FAGERBERG, J.; MOWERY, D. C.; NELSON, R. R. The Oxford Handbook of Innovation. Oxford: Oxford University Press, 2005. p. 1-25.).

Para Schumpeter (1934SCHUMPETER, J. A. The theory of economic development: an inquiry into profits, capital, credit, interest, and the business cycle. Cambridge: Harvard University Press, 1934.), considerado como um dos pais do conceito moderno de inovação, ela se caracteriza como a introdução de um novo produto no mercado diferente dos já existentes, requerendo uma nova técnica de produção e criando a possibilidade de abertura de um novo mercado. O Manual de Oslo (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2005, p. 55), uma das mais respeitadas publicações sobre inovação, define que "uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.".

Ao que tange o papel do fluxo de informação nos processos de inovação pode-se destacar duas questões que são resultados de maiores fluxos advindo da cooperação informacional entre os atores envolvidos: "(1) organizações e agentes que cooperam introduzem maior número de inovações do que os que não cooperam e que (2) o grau de inovação aumenta com a variedade de parceiros comunicando-se e cooperando em rede." (ALBAGLI; MACIEL, 2004ALBAGLI, S.; MACIEL, M. L. Informação e conhecimento na inovação e no desenvolvimento local. Ciência da Informação, Brasília, v. 33, n. 3, p. 9-16, dez. 2004., p. 11).

Possibilitar que o fluxo de informação seja efetuado com qualidade ótima e em maior velocidade possibilita que as fontes de informação necessárias à inovação estejam disponíveis para os atores que delas necessitam. Amara e Landry (2005AMARA, N.; LANDRY, R. Sources of information as determinants of novelty of innovation in manufacturing firms: evidence from the 1999 statistics Canada innovation survey. Technovation, n. 25, p. 245-259, 2005.), afirmam que organizações que estão expostas à um maior número de fontes de informação, internas e externas, estão mais propensas à inovar, pois quando essas informações são inseridas no fluxo de informação, e adquirem valor, elas geram o conhecimento necessário para as atividades inovativas (PLEKHANOVA; SMITH; HAMDAN, 2012PLEKHANOVA, V.; SMITH, P.; HAMDAN, K. A role of quality of information for innovation: Leadership style and information management. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON INNOVATIONS IN INFORMATION TECHNOLOGY, 8., 2012, Abu Dhabi. Innovations. Abu Dhabi: Ieee, 2012. p. 344-349.). Fontes de informação com valor agregado e em conjunto com uma maior velocidade de resposta na recuperação, seu tratamento e utilização, em grande medida, exercem papel importante para a redução de janelas de tempo entre inovações e possibilitam a vantagem competitiva (TZABBAR; AHARONSON; AMBURGEY, 2013TZABBAR, D.; AHARONSON, B. S.; AMBURGEY, T. L. When does tapping external sources of knowledge result in knowledge integration?. ResearchPolicy, v. 42, n. 2, p. 481-494, Mar. 2013.).

A inovação não é mais vista somente como uma forma de manter o sucesso comercial sustentável. Empresas e nações buscam, cada vez mais, possuir características inovadoras, pois na sociedade do conhecimento é necessário possuir habilidades que possibilitem a utilização da informação e do conhecimento como fator competitivo. A inovação é um catalisador para que se construam pontes de conhecimento e fluxos constantes, visto que "[...] a inovação pode também melhorar o desempenho da empresa, pois ela faz aumentar sua capacidade de inovar." (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2005, p. 37). A medida que mais conhecimento se cria, mais inovações são geradas, o que, consequentemente, gera mais conhecimento e mais inovações, assim criando espirais constantes de mudanças nas estruturas da sociedade e nas organizações e no uso da informação e do conhecimento.

3 Procedimentos metodológicos

A presente pesquisa é caracteriza como exploratório-descritiva sendo de abordagem qualitativa. Considerando seus procedimentos técnico é uma pesquisa de múltiplos casos.

Três organizações de diferentes setores foram selecionadas considerando que eram distintas no setor de atuação se caracterizando como: (i) uma organização privada com fins lucrativos, (ii) uma organização privada sem fins lucrativos com caráter de fundação e (iii) um projeto de pesquisa vinculado à um programa de pós-graduação com nota sete de uma instituição de ensino superior (IES). Para alinhamento da escolha os seguintes aspectos foram definidos: (i) são organizações que atuam em diferentes contextos, (ii) possuem mais de cinco anos de atuação, (iii) estão situadas na cidade de Florianópolis e (iv) desenvolvem produtos voltados para a inovação.

Dois instrumentos de coleta de dados foram utilizados: Entrevista com o nível estratégico do projeto e questionário com o nível tático. A amostra total foi composta por oito atores, divididos por organização, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1
Atores da pesquisa

Com objetivo de evitar discrepâncias nos níveis de importância dos atores pesquisados, foi solicitado às organizações que indicassem o gestor geral, em nível estratégico, do projeto para a aplicação da entrevista e atores de nível tático, diretamente envolvidos com o projeto, para a aplicação do questionário.

As categorias de análise da pesquisa foram definidas através de revisão bibliográfica com foco no contexto da gestão da informação no âmbito organizacional, mais especificamente o processo do fluxo de informação. Oito categorias de foram definidas para a pesquisa vide Quadro 2.

Quadro 2
Categorias de análise da pesquisa

Para cada uma das duas dimensões, elementos e aspectos de influência do fluxo de informação, foram definidas quatro categorias de análise, baseadas na literatura de Ciência da Informação, assim possibilitando a construção dos instrumentos de pesquisa para a análise do fluxo de informação.

A apresentação dos dados das entrevistas foi feita levando em consideração sua relevância tendo em vista os objetivos da pesquisa. Para a apresentação dos dados do questionário levou-se em consideração os dados que possibilitassem um maior entendimento do fluxo de informação nas organizações estudadas e as respostas que obtiveram um maior pico de respostas ou o contrário em relação à relevância e/ou frequência.

A análise dos dados da pesquisa foi feita a partir do uso da lógica de causa e efeito, a fim de se entender as relações existentes entre os fatores do fluxo de informação com a prática real nas organizações estudadas. Se ressalta que a análise das etapas dos fluxos analisados nas organizações foi feita considerando os modelos propostos por Davenport e Prusak (1998DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Ecologia da informação. São Paulo: Futura, 1998.), por Choo (2006CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. 2. ed. São Paulo: SENAC, 2006.) e por Beal (2009BEAL, A. Gestão estratégica da informação: como transformar a informação e a tecnologia da informação em fatores de crescimento e de alto desempenho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2009.). Desse modo, a análise terá como foco "[...] a tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores." (LAKATOS; MARCONI, 2003LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2003., p.167). Quanto à interpretação dos dados da pesquisa buscou-se criar um vínculo entre a realidade encontrada nos dados coletados e os conhecimentos que lhe fazem referência (LAKATOS; MARCONI, 2003), visando atingir aos objetivos propostos na mesma.

4 Resultados e análise dos dados

Nessa seção do trabalho iremos compilar os resultados principais da pesquisa e suas respectivas analises. Optou-se por apresentar os dados de forma segmentada de acordo com a numeração da organização como apresentada no Quadro 1 e levando em consideração as categorias de análise apresentadas no Quadro 2. Para facilitar a diferenciação das respostas optou-se por dividir o nível estratégico e o nível tático em duas colunas distintas.

Quando necessário optou-se por transferir a fala dos entrevistados a fim de apresentar sua visão sobre as questões pesquisadas.

4.1 Organização 1

A Organização 1 é uma empresa privada sediada na cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, com início de suas atividades no ano de 2005. A organização atua no segmento de tecnologia da informação, mais especificamente no desenvolvimento de soluções baseadas em processos tecnológicos para as demandas do setor do agronegócio, atuando em toda a cadeia produtiva, do produtor rural ao consumidor final. Com nove anos de atuação, o histórico da organização apresenta uma expansão na carteira de clientes em um curto espaço de tempo, fato que se pode interpretar como a aceitação dos produtos e serviços oferecidos pela organização no mercado consumidor. O portfólio de clientes da organização está distribuído em todo território nacional e parte da América Latina.

Quadro 3
Resultados Organização 1

A análise dos dados da Organização 1 sugere um fluxo de informação linear que está suportado, em grande parte, por possibilidades tecnológicas para efetivação da comunicação informacional. Existe uma preocupação com o tratamento da informação que a organização necessita e o entendimento que a falha no processo de indexação influi na qualidade da recuperação. Os atores do projeto precisam ser habilitados para que a informação possa fluir dentro da organização e fora dela, quando necessário. De forma geral a organização está ciente do papel que a informação e o conhecimento possui e o quanto as falhas no fluxo de informação podem exercer algum impacto em suas atividades. É desejável que a organização estruture práticas organizacionais que possibilitem um fluxo de informação mais dinâmico que dê margem para a criatividade dos atores a fim de inovar.

4.2 Organização 2

A Organização 2 é caracterizada como uma fundação sem fins lucrativos sediada na cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina. Tem como objetivo oferecer serviços de pesquisa, desenvolvimento e serviços tecnológicos especializados que proporcionem soluções inovadoras para a iniciativa privada, governo e terceiro setor. Possui vinte e nove anos de atuação e executa pesquisas em diversas áreas. A organização possui extenso portfólio de clientes, em nível nacional, e de produtos inovadores. A pesquisa foi efetuada em um laboratório específico de microeletrônica, e que faz parte do conjunto de centros de referências que a organização dispõe. O laboratório em questão atua há dez anos e é denominado de laboratório-fábrica.

Quadro 4
Resultados Organização 2

A análise dos dados da Organização 2 sugere um fluxo de informação dinâmico e com múltiplas possibilidades de execução. O tratamento da informação é inexistente e sua existência poderia maximizar os processos informacionais da organização. O desenvolvimento de fontes de informação internas é um diferencial que possibilita uma melhor comunicação entre os atores ao que tange às questões do projeto em si. O entendimento da necessidade de diversos canais de comunicação é um fator importante que possibilita um melhor processo de disseminação da informação.

4.3 Organização 3

A Organização 3 é um grupo de pesquisa de uma pós-graduação de uma universidade federal sediada na cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina. A pós-graduação, a qual o grupo de pesquisa pertence, está classificada pela Capes em nível 7, o nível mais elevado nessa classificação. O foco desse grupo é o trabalho em projetos de inovação. A Organização 3 possui três áreas de atuação distintos. Na presente pesquisa a área de Termofísica foi escolhida para ser objeto da pesquisa, especificamente, o projeto referente aos materiais magnetocalóricos para aplicações em refrigeração.

Quadro 5
Resultados Organização 3

O fluxo de informação da Organização 3, dentre os estudados, é o que sugere ser o mais simplório. O projeto se mostra falho na utilização de diferentes canais de comunicação e consequentemente falho na utilização de diversas possibilidades de fontes de informação que à eles estão disponíveis. O tratamento da informação é claramente ignorado pelos atores do projeto o que resulta em retrabalho por parte de todos os envolvidos e uma perda frequente de informações. Desconsiderar grande parte das barreias pode ser interpretado como uma possível não identificação de tal questão o que deixa a organização vulnerável às diversas barreiras existentes, mas não identificadas. A TIC ainda tem grande papel a ser desempenhado em todo o fluxo de informação.

4.4 Reflexões sobre a análise das três organizações estudadas

Observa-se assimetria ao que tange a qualificação dos atores dos projetos para atividades de disseminação da informação. Tal assimetria pode ser resultado da falta de um indivíduo com papel de gestor da informação, que, ao mesmo tempo que funciona como uma ponte entre todos os indivíduos do projeto, gerenciando todas as informações relevantes para as atividades da organização, pode também exercer a função de capacitar e conscientizar os indivíduos para a importância do compartilhamento das informações que possuem e tem acesso (CHOO, 2006CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. 2. ed. São Paulo: SENAC, 2006.).

A utilização de atores externos por todas organizações pesquisadas confirma a necessidade de informações externas para inovar (AMARA; LANDRY, 2005AMARA, N.; LANDRY, R. Sources of information as determinants of novelty of innovation in manufacturing firms: evidence from the 1999 statistics Canada innovation survey. Technovation, n. 25, p. 245-259, 2005.), pois é aceitável que as bases de conhecimento da organização não são suficientes para desenvolver novos projetos e amadurecer ideias. A perspectiva de abertura aos atores externos é interessante do ponto de vista das possibilidades informacionais existentes na sociedade da informação, na qual, as fontes de informação são de caráter múltiplos. Temos os atores externos como importantes indivíduos que possibilitam que as organizações possam adquirir informações, que normalmente não fazem parte de sua base de conhecimento, de forma a possibilitar maior abrangência nas respostas que a organização possui, pois o fator humano, quando dotados dos conhecimentos necessários, possibilita respostas informacionais em menor tempo além de atender as necessidades de informação de forma mais ampla.

As necessidades informacionais se apresentam como variadas, e de certo modo complexas, enquanto a necessidade do nível estratégico sugere estar no campo do atendimento geral dos objetivos do projeto, as necessidades do nível tático são distintas, e talvez mutáveis, pois aparecem ao decorrer do desenvolvimento do projeto e são constantes no que tange a resolução de problemas informacionais. Essa constatação vem corroborar a complexidade que é a necessidade de informação no contexto da inovação, pois para Calva Gonzalez (2004), quando uma necessidade informacional é suprida, uma nova necessidade é gerada a partir da anterior ou uma nova necessidade apresenta-se.

É necessário ressaltar que a preferência pelos canais face a face traz consigo a necessidade de administração das informações que são trocadas entre os indivíduos, pois por serem de caráter não estruturado é imprescindível a formalização da informação para posterior recuperação na organização. A troca de informações por intermédio de canais pessoais, sem a necessidade de uma estruturação prévia da informação, corrobora o papel da informação não estruturada nos processos organizacionais, o que para Beal (2009BEAL, A. Gestão estratégica da informação: como transformar a informação e a tecnologia da informação em fatores de crescimento e de alto desempenho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2009.), sendo necessário ressaltar que a informação como subsídio aos processos organizacionais requer que se utilizem canais de comunicação que melhor se adequem para tal fim (GARCIA; FADEL, 2010GARCIA, R.; FADEL, B. Cultura organizacional e as interferências nos fluxos informacionais (FI). In: VALENTIM, M. L. P. (Org.). Gestão, mediação e uso da informação. São Paulo: Cultura Acadêmica , 2010. p. 211-234.).

Quanto às fontes de informação, os dados analisados sugerem que a inexistência de um adequado tratamento e armazenamento das informações produzidas pelas organizações estudadas impossibilita o uso de fontes de informação de nível interno como insumo para as atividades inovativas (CHOO, 2006CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. 2. ed. São Paulo: SENAC, 2006.). Uma única organização (Organização 2) se mostrou adepta do desenvolvimento de seus próprios produtos informacionais, no entanto a inexistência do seu tratamento informacional sugere a perda do conhecimento presente nessas estruturas informacionais bem como ocasiona dificuldade de recuperação da informação. A questão da falta de tratamento informacional adequado, vai ao encontro, do problema apontado pela Organização 1 que considera que a falha no tratamento informacional, mais especificamente a indexação, resulta em uma barreira que reduz a velocidade de recuperação da informação e que possivelmente pode resultar em problemas na recuperação informacional, assim prejudicando o projeto.

Nesta perspectiva do tratamento das fontes de informação organizacionais, Pinto (2001PINTO, V. B. Indexação documentária: uma forma de representação do conhecimento registrado. Perspectivas em Ciência da Informação , Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 223-234, jul./dez. 2001.), afirma que a ausência ou deficiência do processo de indexação ocasionam resultados de busca que não atendem as demandas iniciais do fluxo de informação. Para a autora, é necessário investir em processos de tratamento da informação que possam diminuir as possíveis barreiras à aquisição e uso da informação "[...] visando a racionalização de sua estocagem e naturalmente, a busca e a recuperação de informação de maneira eficaz e eficiente." (PINTO, 2001PINTO, V. B. Indexação documentária: uma forma de representação do conhecimento registrado. Perspectivas em Ciência da Informação , Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 223-234, jul./dez. 2001., p. 225). Rodrigues e Blattmann (2011RODRIGUES, C.; BLATTMANN, U. Uso das fontes de informação para a geração do conhecimento organizacional. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, João Pessoa, v. 1, n. 2, p. 43-58, jul./dez. 2011.), em pesquisa que relaciona o uso de fontes de informação com a criação de conhecimento na organização, alertam que se faz necessário que a organização aperfeiçoe o processo que envolve o uso de fontes de informação tornando-as um ativo intangível da organização e uma ferramenta para a expansão do seu próprio conhecimento. O tratamento da informação pode ter esse papel de transformação da informação organizacional em um ativo intangível com alto valor agregado para as necessidades da organização.

Os determinantes de escolha e uso podem ser apontados como convergentes, pois todas as organizações pesquisadas levam em consideração o valor que a informação agrega aos seus processos. A escolha é determinada pelo valor que essa informação possui para a resolução do problema informacional, assim, considera-se que o determinante principal é responder as questões informacionais através do uso de informações de qualidade (CHOO, 2003CHOO, C. W. Gestão de informação para a organização inteligente: a arte de explorar o meio ambiente. Lisboa: Editorial Caminho, 2003.; QUEYRAS; QUONIAM, 2006QUEYRAS, J.; QUONIAM, L. Inteligência competitiva. In: TARAPANOFF, K. Inteligência, informação e conhecimento em corporações. Brasília: IBICT , 2006. p. 73-98.; MARTINEZ-SILVEIRA; ODDONE, 2007MARTÍNEZ-SILVEIRA, M.; ODDONE, N. Necessidades e comportamento informacional: conceituação e modelos. Ciência da Informação , Brasília, v. 36, n. 2, p. 118-127, maio/ago. 2007.).

Somente a Organização 1 considera a indexação uma barreira ao fluxo de informação. No entanto, a análise sugere que essa é uma barreira em todas organizações, uma vez que a Organização 2 desenvolve produtos informacionais, mas não os trata adequadamente, o que dificulta sua recuperação e a Organização 3 que não desenvolve produtos informacionais, mas que possui grande circulação de informações que poderiam ser tratadas e armazenadas para posterior recuperação dos alunos de pós-graduação ingressantes no projeto.

Outra questão referente às barreiras é o desnivelamento de conhecimento entre os atores, o que de acordo com os dados coletados mostrou-se, nas Organizações 1 e 2, como uma causa recorrente de problemas informacionais. As falas dos entrevistados nessas organizações sugerem que o desnivelamento na base informacional provoca uma dificuldade no processo de disseminação da informação, já que o receptor não possui conhecimentos suficientes para absorver a informação e utilizá-la adequadamente no projeto. Na Organização 3 não ocorreu referência ao desnivelamento na base de conhecimento como sendo uma barreira às atividades do projeto. No entanto, notou-se que a falta de uma gestão adequada das informações pode, de certo modo, ocasionar esse desnivelamento (MORESI, 2006MORESI, E. A. D. Memória organizacional e gestão do conhecimento. In: TARAPANOFF, K. Inteligência, informação e conhecimento em corporações. Brasília: IBICT, 2006. p. 277-302.), uma vez que os envolvidos no projeto nem sempre estão a par das atividades que ocorrem em outros setores da organização, bem como, só estão habilitados a trabalhar em um espectro do conhecimento que o projeto possui.

Evidencia-se pelos dados analisados das organizações que a velocidade de recuperação é um fator que possibilita respostas em menor tempo, no entanto a adequação da informação é mais relevante, visto que a velocidade é desconsiderada como importante quando a recuperação da informação não atende as reais necessidades informacionais do projeto, bem como, do pouco valor que essa informação pode trazer para os processos informacionais da organização. Essa perspectiva é corroborada por Citroen (2011CITROEN, C. L. The role of information in strategic decision-making. International Journal of Information Management, v. 31, n. 6, p.493-501, 2011.) que considera que a qualidade da informação é fator crucial para que ela seja efetivamente utilizada do ponto de vista do atendimento das necessidades informacionais, assim, o fator velocidade não parece ter grande relevância no contexto estudado.

Entende-se que a TIC modificou as estruturas de comunicação tanto em nível pessoal, em grupo e organizacional, no entanto, quando abordado a forma mais adequada para repassar informações notou-se que o processo de comunicação via face a face são os preferíveis pelas organizações estudadas. Os dados analisados sugerem que alguns fatores incidem influência em tal escolha como: a imediata troca de informações que possibilita a mitigação de erros e maior troca de conhecimentos, a percepção em tempo real das reações dos indivíduos envolvidos no processo de comunicação, a subjetividade que envolve os processos de comunicação e etc.

Observa-se grande penetração das TIC nos projetos estudados nesta pesquisa, no entanto, o uso da tecnologia para o atendimento das questões informacionais mostra-se incipiente ou utilizado de tal forma que não agrega valor à informação. É notável que as Organizações 1 e 2 possuem processos informacionais baseados em TIC, pois ambas utilizam ferramentas que possibilitam o armazenamento e a recuperação da informação, no entanto a falta de tratamento dessas informações para posterior recuperação resulta em significativa perda de valor, perda da informação que não é possível recuperar e gasto desnecessários com informações que não possuem verdadeira aplicação em projetos de inovação.

Na perspectiva das TIC, ela é entendida como de fundamental importância para os processos informacionais, mas é o fator humano de troca de informações que possui papel fundamental para que as informações circulem na organização, assim, mostrando a importância da informação não estruturada para o projeto de inovação (BEAL, 2009BEAL, A. Gestão estratégica da informação: como transformar a informação e a tecnologia da informação em fatores de crescimento e de alto desempenho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2009.) bem como o entendimento que somente a tecnologia não basta para gerenciar a informação (DAVENPORT; PRUSAK, 1998DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Ecologia da informação. São Paulo: Futura, 1998.; MCGEE; PRUSAK, 1994MCGEE, J.; PRUSAK, L. Gerenciamento estratégico da informação. Rio de Janeiro: Campus, 1994.).

5 Conclusões

A presente pesquisa buscou entender as seguintes questões: (i) como ocorre o fluxo de informação em projetos de inovação? (ii) E que fatores exercem influência nesse fluxo de informação em projetos de inovação?

Teve-se como foco os processos de organizações voltadas para o desenvolvimento de bens e serviços inovadores e considerando que as organizações são verdadeiros ambientes informacionais que dependem de fluxos de informação para que suas atividades aconteçam, processos sejam executadas e seus objetivos alcançados (DURUGBO; TIWARI; ALCOCK, 2013DURUGBO, C.; TIWARI, A.; ALCOCK, J. R. Modelling information flow for organisations: a review of approaches and future challenges. International Journal of Information Management , v. 33, n. 3, p. 597-610, June 2013.). A informação é um componente presente em grande parte das atividades da organização e o entendimento da informação como verdadeiro fator para o funcionamento e manutenção da sustentabilidade da organização é uma necessidade presente no atual contexto econômico (CHOO, 2006CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. 2. ed. São Paulo: SENAC, 2006.). Diante desses dois pressupostos compreende-se a importância da informação para as organizações e, mais especificamente, para a inovação, assim, possibilitando a apresentação das considerações finais dessa pesquisa a partir da análise dos dados coletados:

  1. os fluxos de informação acontecem de maneiras distintas nas organizações estudadas, mas entende-se que essa diferenciação é reflexo do contexto organizacional ao qual o fluxo de informação está inserido;

  2. as organizações estudadas percebem o valor da informação para seus processos, no entanto, não existem procedimentos para gestão da informação, bem como não existe um gestor da informação;

  3. faz-se necessário que exista maior conscientização do papel do gestor da informação nas atividades relacionadas à inovação, assim, possibilitando o gerenciamento da informações e expansão da base de conhecimento da organização;

  4. é visível que o fator humano, representado pelos atores no fluxo de informação, é peça central no processo de criação de valor da informação. O papel dos atores é de responsáveis pelo efetivo funcionamento das etapas do fluxo de informação;

  5. as necessidades de informação são complexas e quase impossíveis de mapear de forma satisfatória, pois elas são geradas constantemente a partir de distintos fatores ou o conjunto deles e seu atendimento pode ou não ocorrer;

  6. os canais de comunicação que proporcionam respostas em uma janela de tempo menor são os preferidos para recuperação e disseminação da informação;

  7. a pesquisa sugere que as fontes de informação interna não são suficientes para atender as necessidades informacionais dos projetos estudados, assim, sendo necessário explorar o ambiente externo em busca de informações que atendam as necessidades do projeto;

  8. os determinantes de escolha e uso da informação são variáveis, mas se faz necessário que os atores envolvidos no projeto demostrem maior alinhamento nessa questão, pois assim minimizam-se erros, custos e retrabalho na utilização da informação;

  9. as barreiras informacionais ocorrem de forma diferente dependo do projeto estudado, mas a falta de nivelamento na base de conhecimento apresentou- se como uma questão que necessita ser administrada em todos os projetos;

  10. a velocidade de recuperação da informação é irrelevante, no contexto estudado se ela não trouxer valor agregado ao projeto de inovação. Desse modo, a velocidade é considerada como uma característica adicional à criação de valor dos processos referentes ao fluxo de informação, mas descartável se não atender as necessidades informacionais;

  11. sugere-se a TIC como um fator exclusivamente de suporte às atividades do fluxo de informação tendo o fator humano um papel complexo nessas atividades sendo possível concluir que sem o fator humano não existe fluxo de informação;

  12. a TIC, mesmo tendo um papel crucial de suporte à gestão da informação, não aparece como um fator de alta relevância na troca de informações, sendo a comunicação face a face considerada mais adequada para a troca e informações entre os envolvidos nos projetos.

A partir dessas conclusões é possível afirmar que o fluxo de informação no contexto de projetos de inovação é um processo interdependente em seus próprios processos, variável em diferentes contextos e ambientes, modular e ao mesmo tempo passível de assumir novas formas, é inerente aos processos de comunicação da organização mesmo quando não percebido, é agregador de valor quando bem executado, assim, caracterizando um processo complexo.

A inovação é feita a partir do uso do conhecimento que é resultado do fluxo de informação que perpassa toda a organização, desse modo, conclui-se que a inovação e o fluxo de informação vivem uma relação simbiótica. A necessidade de informações para geração do conhecimento, em projeto de inovação, pressupõe que as organizações devem gerir o fluxo de informação a fim de criar valor para as informações que fluem na organização, as advindas de fora da organização, as que são geradas na organização e as informações que são geradas pela inovação em si.

A complexidade do fluxo de informação sugere que os fatores aqui apresentados devem ser vistos de forma integrada, entendendo que existe uma interdependência entre eles e que possivelmente outros fatores podem ser agregados à análise do fluxo de informação.

Entende-se que os fluxos de informação, enquanto campo de estudo da Ciência da Informação (BORKO, 1968BORKO, H. Information science: what is it? American Documentation, v. 19, n. 1, p. 1-3, jan. 1968.), é objeto inesgotável de pesquisa. Ao que concerne à inovação o fluxo de informação, quando analisado e compreendido, pode ser crucial para o sucesso das organizações com vista a gerar inovação e competitividade. Neste contexto a literatura que estuda os fluxos de informação organizacionais, no contexto da Ciência da Informação, aponta para o estudo e analise do fluxo de informação em redes (INOMATA et al., 2015INOMATA, D. O. et al. Análisis de la producción científica brasileña sobre flujos de información. Biblios: Journal of Librarianship and Information Science, n. 59, p. 1-17, jul. 2015.) o que inspira novo fôlego para o campo de estudo.

Por fim, diante do que foi apresentado nesta pesquisa percebeu-se que o estudo do fluxo de informação é fluído e atualizado constantemente visto que se vive em uma sociedade em que a transitoriedade é uma de suas principais características. Assim, existem muitas possibilidades para pesquisas futuras com essa temática, das quais destacam-se:

  1. pesquisar o fluxo de informação entre organizações que trabalhem em cooperação para o desenvolvimento de inovação, assim, entendendo a complexidade que essa relação possui, bem como, expandindo o conhecimento desse processo;

  2. pesquisar em organizações que tenham por meta desenvolver inovação com foco no comportamento informacional das pessoas envolvidas no processo em relação as suas habilidades no uso de fontes de informação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2017

Histórico

  • Recebido
    31 Out 2015
  • Aceito
    03 Fev 2017
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