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Fundação UNI-Botucatu: consolidando experiências

NOTAS BREVES

Fundação UNI-Botucatu: consolidando experiências* * Excerto de discurso proferido na solenidade de criação da Fundação UNI-Botucatu, em 28 de novembro de 1997. Publicação autorizada, com adaptação.

José Lúcio Martins Machado

Fundação UNI-Botucatu. Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP

"As mudanças não correm (no sentido da velocidade), mas ocorrem."

Mourad Ibrahim Belaciano.

Inaugura-se hoje a Fundação UNI, desdobramento do Projeto UNI que, em cinco anos de desenvolvimento em Botucatu, apresentou avanços importantes e resultados concretos na construção de novos modelos de ensino, de práticas de saúde e de organização da participação popular. O projeto, cujo iniciar parecia eminentemente acadêmico, passou a realizar-se de forma inovadora, estruturando-se também como um programa de desenvolvimento social em que a prática solidária no processo de trabalho envolveu progressivamente as pessoas na concepção e elaboração das idéias, no planejamento, na gestão e avaliação das atividades.

Envolvidos com o ideário UNI, partimos do consenso orientado pela busca de uma nova ética na organização social e política e de formas democráticas de exercício do poder em que se coloca pari passu justiça social, progresso material e participação cidadã. Nesse contexto, é fundamental assegurar a participação da população nas decisões que lhe afetam e criar condições que a garantam. Propomos deixar nas mãos das comunidades um investimento suficiente para qualificá-las e torná-las agentes de mudanças no setor saúde, atendendo suas demandas.

Num mundo em que muitas barreiras, referências e mitos caíram, uma nova modernidade vai sendo reconhecida, na qual o mundo é menor que a humanidade. Porém, a dinâmica das relações que o UNI está propiciando entre professores e lideranças comunitárias, entre alunos e profissionais de serviços, entre os serviços e a universidade, tem permitido resgatar a humanidade que há em tudo isso e subordinar o mundo e a modernidade à humanidade. Nas palavras do Prof. Mourad, "no UNI, não há lugar para ser moderno na tecnologia e atrasado nas relações sociais. O UNI encurta os abismos que foram introduzidos artificialmente entre os homens".

Os Projetos UNI abraçaram o desafio de ajudar a construir novas relações entre a Universidade, os Serviços de Saúde e a Comunidade, na busca de uma melhor forma de ensinar, de fazer e de participar na Saúde. Nesse contexto, estender a cidadania representa privilegiar a participação em novas práticas de saúde, no exercício dos mecanismos de controle social e na formulação das políticas públicas em saúde.

Continuar o desafio da realização do ideário UNI só será possível se buscarmos as forças de reserva que as comunidades possuem, acumuladas na sua experiência histórica de enfrentar problemas. Mobilizar e gerenciar de forma participativa é a chave para o futuro da Fundação UNI. A idéia fundamental da gerência moderna é a criatividade total. Nada deve permanecer operando rotineiramente. Sem descentralização, tampouco é possível a gerência criativa.

"A tarefa dos Projetos UNI é gigante", nos lembra o Prof. Tancredi. "De um lado, ir construindo um novo modelo e, de outro, ir operando transformações institucionais que poderão dar vida a um novo paradigma que reordene a formação, as práticas e a participação social em Saúde."

A Fundação UNI é a estratégia adotada por Botucatu de construção de parcerias permanentes e de fortalecimento do caráter tripartite da iniciativa UNI, elementos básicos à construção de uma democracia participativa no setor saúde. Além disso, ela surge inovando as relações no nosso micro espaço social, promovendo a integração entre o público e o privado. Na emergência do terceiro setor, da terceira via de organização da sociedade, pode-se incluir a iniciativa privada que tenha interesse pelas causas públicas. Resgata-se, assim, o ideal público da iniciativa privada, não na forma perversa do neoliberalismo, que usurpa do socialismo italiano a idéia das organizações sociais e a banaliza, transformando-a na privatização da coisa pública e na desobrigação do Estado de seu papel fundamental de cuidar da Saúde, dos Hospitais Públicos e da Educação.

A preparação deste momento de criação da Fundação UNI significou mentalizar o ideário UNI entre nós, contrapondo-se à prática e à cultura institucional que o negam. Significou buscar forças junto a Reitoria da UNESP, Prefeitura Municipal de Botucatu, Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo e sociedade civil local.

É importante entendermos o porque e a trajetória tomada pelo UNI no transcorrer de sua história. Fizemos o que fizemos porque queríamos realizar o principal da mobilização social. A mobilização sobre a qual falamos é o esforço para que as pessoas apaixonem-se pelo que fazem, consigam incorporar as atitudes que geram mudanças no seu cotidiano, e sobretudo, que mantenham sua identidade. Aprendemos isso praticando a democracia como valor universal, única estratégia à vista em nosso horizonte político capaz de resolver os grandes problemas do país.

Apaixonar-se pelo trabalho feito no UNI é fundamental para que ele sobreviva e se fortaleça nesta nova fase que se inicia. Só seremos lideranças verdadeiras de causas pelas quais nos apaixonamos e nos dedicamos verdadeiramente. Assim como as parcerias que estamos construindo só se tornarão permanentes quando um parceiro amar e respeitar as diferenças do outro. Ver a si e ver o outro.

Completando cinco anos de atividades do UNI-Botucatu, é importante ressaltar, nesta oportunidade, a mudança nas relações entre a Universidade, os serviços de saúde e a comunidade. É o trabalho solidário e a parceria permanente que nesses anos superaram a articulação restrita dos dirigentes das instituições, criando uma articulação coletiva envolvendo professores, estudantes, profissionais dos serviços de saúde e membros da comunidade.

Parceiros do UNI-Botucatu, enfrentamos grandes apostas como a concretização da Reforma Curricular do Curso de Medicina, a entrada do Curso de Enfermagem em programas na rede, a utilização das unidades básicas de saúde, do Ambulatório Regional de Especialidades, de creches e escolas como novos cenários de ensino, a implantação do Programa de Saúde da Mulher no Hospital Sorocabana, a implantação dos Conselhos de Unidade da Saúde em quase todos os Centros de Saúde do Município, a realização de uma grande Conferência Municipal de Saúde e a própria criação da Fundação UNI-Botucatu. Ganhamos essas apostas, porque o trabalho foi coletivo...

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    Excerto de discurso proferido na solenidade de criação da Fundação UNI-Botucatu, em 28 de novembro de 1997. Publicação autorizada, com adaptação.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jul 2009
    • Data do Fascículo
      Fev 1998
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