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Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade

LIVROS E MULTIMEIOS

FRAGMENTOS...

Maria Lúcia Toralles-Pereira; Miriam Celí Pimentel Porto Foresti

Departamento de Educação. Instituto de Biociências, Unesp, Botucatu

PELA MÃO DE ALICE

O social e o político na pós-modernidade

Boaventura de Souza Santos

São Paulo: Cortez, 4. ed, 1997, 348p.

DESAFIO

em condições de aceleração da história como as que hoje vivemos é possível pôr a realidade no seu lugar sem correr o risco de criar conceitos e teorias fora de lugar? (p.22)

TRANSIÇÃO PARADIGMÁTICA

... por de baixo de um brilho aparente, a ciência moderna, que o projeto da modernidade considerou ser a solução privilegiada para a progressiva e global racionalização da vida social e individual, tem-se vindo a converter, ela própria num problema sem solução, gerador de recorrentes irracionalidades. Penso hoje que essa transição paradigmática, longe de se confinar ao domínio epistemológico, ocorre no plano societal global. (p.34)

PILARES DA MODERNIDADE

O projeto sócio-cultural da modernidade ... assenta em dois pilares fundamentais, o pilar da regulação e o pilar da emancipação.

Pela sua complexidade interna, pela riqueza e diversidade das idéias novas que comporta e pela maneira como procura a articulação entre elas, o projeto da modernidade é um projeto ambicioso e revolucionário. As suas possibilidades são infinitas mas, por o serem, contemplam tanto o excesso de promessas como o déficit do seu cumprimento. (p.78)

EXCESSOS E DÉFICITS

O excesso reside no próprio objetivo de vincular o pilar da regulação ao pilar da emancipação e de os vincular a ambos à concretização de objetivos práticos de racionalização global da vida coletiva e da vida individual.(...)

Por outro lado, cada um destes pilares assenta em lógicas ou princípios cada um deles dotado de uma aspiração de autonomia e diferenciação funcional que, por outra via, acaba também por gerar uma vocação maximalista, ... Mas a dimensão mais profunda do déficit parece residir precisamente na possibilidade destes princípios e lógicas virem humildemente dissolver-se num projeto global de racionalização da vida social prática e quotidiana. (P.78)

IRRACIONALIDADES

A acumulação das irracionalidades no perigo iminente de catástrofe ecológica, na miséria e na fome a que é sujeita uma grande parte da população mundial — quando há recursos disponíveis para lhes proporcionar uma vida decente ... — todas estas e muitas outras irracionalidades se acumulam ao mesmo tempo que se aprofunda a crise das soluções que a modernidade propôs... (p.43)

MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE

Afirmar que o projeto da modernidade se esgotou significa, antes de mais, que se cumpriu em excessos e déficits irreparáveis. São eles que constituem a nossa contemporaneidade e é deles que temos que partir para imaginar o futuro e criar as necessidades radicais cuja satisfação o tornarão diferente e melhor que o presente. A relação entre o moderno e o pós-moderno é uma relação contraditória. Não é de ruptura total como querem alguns, nem de linear continuidade como querem outros. É uma situação de transição em que há momentos de ruptura e momentos de continuidade. (p.102-3)

NECESSIDADES RADICAIS

A formulação das necessidades radicais não é suficiente para distinguir uma teoria crítica moderna de uma teoria crítica pós-moderna. ... tanto Habermas como Heller perfilham a primeira e desdenham a segunda. O que distingue a teoria crítica pós-moderna é que para ela as necessidades radicais não são dedutíveis de um mero exercício filosófico por mais radical que seja; emergem antes da imaginação social e estética de que são capazes as práticas emancipatórias concretas. (p.106)

EMANCIPAÇÃO

com todas as limitações

e fracassos..., os movimentos sociais dos anos sessenta tentaram pela primeira vez combater os excessos

de regulação da modernidade através de uma nova equação entre subjetividade, cidadania

e emancipação. (p.276)

CONSCIÊNCIA POLÍTICA

A democracia representativa constituiu até agora o máximo de consciência política possível do capitalismo. Este máximo não é uma qualidade fixa é uma relação social.

A renovação da teoria democrática assenta, antes de mais nada, na formulação de critérios democráticos de participação política que não confinem esta ao ato de votar. Implica, pois, uma articulação entre democracia representativa e democracia participativa.

A nova teoria democrática deverá proceder à repolitização global da prática social ... (p.270)

POLITIZAÇÃO

Politizar significa identificar relações de poder e imaginar formas práticas de as transformar em relações de autoridade partilhada ... distingo quatro espaços políticos estruturais: o espaço da cidadania, ou seja, o espaço político segundo a teoria liberal;

o espaço doméstico; o espaço da produção; e o espaço mundial. (p. 270-1)

UTOPIA

Para quem, como eu, pense que estamos a entrar num período de transição paradigmática, a utopia é mais necessária do que nunca.

O colapso dos regimes totalitários do Leste Europeu teve, entre muitas outras, duas conseqüências... Por um lado, fez com que perdesse sentido a distinção entre industrialismo e capitalismo... O sistema mundial é um sistema industrial capitalista transnacional que integra tanto setores pré-industriais, como setores pós-industriais. Por outro lado, a idéia de socialismo libertada da caricatura grotesca do "socialismo real" está disponível para voltar a ser o que sempre foi: a utopia de uma sociedade mais justa e de uma vida melhor... (p. 276-7)

UTOPIA E SOCIALISMO

Um dos maiores méritos de Marx foi o de tentar articular uma análise exigente da sociedade capitalista com a construção de uma vontade política radical de a transformar e superar numa sociedade mais livre, mais igual, mais justa e afinal mais humana.

Marx ensinou-nos a ler o real segundo uma hermenêutica de suspeição e ensinou-nos a ler os sinais de futuro segundo uma hermenêutica de adesão. O primeiro ensinamento continua hoje a ser precioso, o segundo tornou-se perigoso. (p.43)

SOCIALISMO E EMANCIPAÇÃO

Dada a acumulação de riscos inconcializáveis e inseguráveis, da catástrofe nuclear à catástrofe ecológica, a transformação emancipatória será cada vez mais investida de negatividade. Sabemos melhor o que não queremos do que o que queremos. Nestas condições, a emancipação não é mais que um conjunto de lutas processuais, sem fim definido. ... O socialismo é a democracia sem fim. (p.277)

ESTRUTURA E ABERTURA

Se é verdade que o marxismo procura um equilíbrio estável entre estrutura e ação, penso que hoje, sendo incorreto abandonar completamente a idéia de estrutura, é necessário pluralizar as estruturas a fim de desenvolver teorias que privilegiem a abertura dos horizontes de possibilidades e a criatividade da ação. (p.39)

ÉTICA

...a modernidade confinou-nos numa ética individualista, uma micro-ética que nos impede de pedir, ou sequer pensar, responsabilidades por acontecimentos globais...

Mas também aqui há sinais de futuro. (...) Curiosamente, estes sinais de uma nova ética e de um novo direito estão relacionados com algumas das transformações ao nível do princípio do mercado e do princípio da comunidade. Por um lado, a explosão da realidade mediática e informacional torna possível uma competência democrática mais alargada. Por outro lado, a retração simbólica da produção face ao consumo pode vir a reduzir-se na redução da jornada de trabalho, ... e de tal redução pode resultar uma maior disponibilidade para atividades socialmente úteis e para o exercício da solidariedade. (p.91-2)

A CRISE DA UNIVERSIDADE

Duplamente desafiada, pela sociedade e pelo Estado, a universidade não parece preparada para defrontar os desafios, tanto mais que estes apontam para transformações profundas e não para simples reformas parcelares. (p.187)

FORMAÇÃO

Verifica-se um certo regresso ao generalismo, ainda que agora concebido, não como saber universalista e desinteressado próprio das elites, mas antes como formação não profissional para um desempenho pluriprofissionalizado. (p.198)

UNIVERSIDADE MODERNA

A busca desinteressada da verdade, a escolha autônoma de métodos e temas de investigação, a paixão pelo avanço da ciência constituem a marca ideológica da universidade moderna. (p.199)

PERFORMANCE CIENTÍFICA

... apesar de apenas uma fração dos docentes de uma fração das universidades fazer efetivamente investigação e contribuir para o avanço do conhecimento, a verdade é que o universo simbólico da vida universitária continua povoado pela prioridade da investigação e a definição do prestígio, tanto institucional, quanto pessoal, continua vinculada à realidade ou à ficção verossímil da performance científica. (p.201-2)

AVALIAÇÃO DA UNIVERSIDADE

À medida que a universidade perde centralidade torna-se mais fácil justificar e até impor a avaliação do seu desempenho. (...) São reconhecidas as múltiplas dificuldades da avaliação do desempenho funcional da universidade. Podem agrupar-se em três grandes problemáticas: a definição do produto universitário, os critérios da avaliação e a titularidade da avaliação (p.216)

O recurso à operacionalização quantitativa leva inconscientemente a privilegiar na avaliação os objetivos ou produtos mais facilmente quantificáveis. Por exemplo, por essa razão, pode fazer-se incidir a avaliação na produção de conhecimentos científicos (medida pelo número de publicações) em detrimento da formação do caráter dos estudantes. (p.217)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jul 2009
  • Data do Fascículo
    Ago 1998
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