Acessibilidade / Reportar erro

Transtornos psiquiátricos e solicitações de interconsulta psiquiátrica em hospital geral: um estudo caso-controle

TESES

Transtornos psiquiátricos e solicitações de interconsulta psiquiátrica em hospital geral: um estudo caso-controle

Sumaia Inaty Smaira

Tese de Doutorado, 1999. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP

A interconsulta psiquiátrica (ICP) vem sendo considerada um instrumento de pesquisa, ensino e assistência, que traz vantagens e benefícios tanto para o paciente quanto para o profissional de saúde e a instituição. No entanto, a utilização deste recurso no Brasil é ainda pequena. Sabe-se que 30 a 50% dos pacientes internados em hospital geral (HG) podem apresentar uma patologia psiquiátrica, mas que apenas 1% a 12% destes são reconhecidos como tal e encaminhados para avaliação. Pretendeu-se com este trabalho caracterizar os transtornos psiquiátricos em um HG; identificar as diferenças entre pacientes encaminhados e aqueles que não o foram; verificar os motivos de solicitação de ICP e as relações da ICP com o ensino de graduação e residência médica. Para tal realizou-se um estudo caso-controle de 141 pacientes (47 casos e 94 controles), analisando variáveis sócio-demográficas, clínicas, grau de informação quanto à doença, procedimentos diagnósticos e terapêuticos; e relacionamento estabelecido entre pacientes e equipe de saúde. Foram utilizados o Self Report Questionnaire (SRQ), o CAGE e o Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS), além de um questionário especialmente elaborado para o estudo. Os critérios diagnósticos utilizados foram da CID-10. Observou-se que alterações de comportamento tanto com manifestações de exaltação (agitação e/ou inquietação) quanto depressivas, aumentaram a freqüência dos pedidos de ICP; 95,8% dos casos e 27,7% dos controles receberam um diagnóstico psiquiátrico; transtornos orgânicos e transtornos decorrentes do uso de álcool foram os diagnósticos mais freqüentes no grupo I (casos), enquanto no grupo II (controles) os transtornos de ansiedade, transtornos depressivos e transtornos decorrentes do uso de álcool prevaleceram. Houve diferença estatisticamente significante na distribuição de diagnósticos por sexo, sendo alcoolismo mais freqüente no sexo masculino e depressão no sexo feminino; diagnóstico este em pequeno número e, provavelmente, com casos não identificados. Pacientes do grupo controle estavam mais bem informados e estabeleceram relacionamentos mais adequados do que os casos, provavelmente devido à melhor condição psíquica durante a internação. A análise de regressão logística mostrou que pacientes com CAGE positivo têm 12,85 vezes mais chances de serem encaminhados para ICP; os sem ocupação 2,44 vezes mais chances da mesma ocorrência; e aqueles que não identificam seu médico, 1,48 mais chances. Ou seja, alcoolismo e alterações cognitivas novamente foram os principais responsáveis pelo encaminhamento à ICP. O ensino do uso de instrumentos como o SRQ - que quando > 6, discriminou quem era paciente em 5,43 mais vezes - e o CAGE para alunos de graduação, podem ser úteis na formação do clínico geral. Além disso, pela descrição do quadro do paciente, levantamento de hipóteses diagnósticas e discussões conjuntas pode-se avaliar tanto a adequação do conteúdo programático da graduação e residência médica. Pesquisas adicionais deverão ser feitas para avaliar de que maneira o serviço de ICP implantado melhorou as habilidades de diagnóstico e tratamento de transtornos psiquiátricos neste hospital geral.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jun 2009
  • Data do Fascículo
    Ago 2000
UNESP Distrito de Rubião Jr, s/nº, 18618-000 Campus da UNESP- Botucatu - SP - Brasil, Caixa Postal 592, Tel.: (55 14) 3880-1927 - Botucatu - SP - Brazil
E-mail: intface@fmb.unesp.br