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Docência Universitária e Inovação: primeiro congresso internacional

NOTAS BREVES

Docência Universitária e Inovação: primeiro congresso internacional

Maria Lúcia Toralles Pereira; Miriam Celí Pimentel Porto Foresti; Reinaldo Ayer de Oliveira

Professores da Universidade Estadual Paulista, Unesp/Botucatu. <toralles@ibb.unesp.br>; <mforesti@ibb.unesp.br>; <ayer@fmb.unesp.br>

Aconteceu em junho, na cidade de Barcelona, Espanha, o I Congreso Internacional Docencia Universitaria e Inovación, organizado por três universidades públicas: Universidade de Barcelona, Universidade Autônoma de Barcelona e Universidade Politécnica de Barcelona.

Trazendo questões atuais que desafiam de forma crescente o ensino universitário no cenário latino-americano e europeu em tempos marcados pela presença da avaliação externa e pelo discurso da qualidade na perspectiva da excelência docente, o evento constituiu um fórum de debates incluindo atividades diversificadas: conferências magnas, proferidas por profissionais reconhecidos internacionalmente no campo do ensino superior e da pesquisa sobre docência universitária; palestras e mesas-redondas com professores de universidades catalãs; e apresentação de mais de duzentos trabalhos em Seções de Comunicação. Com mais de quinhentos participantes e organizado a partir de nove temas, o congresso trouxe para o centro do debate idéias e reflexões sobre organização institucional, avaliação, motivação, formação do professor universitário, inovações tecnológicas, aprendizagem ativa, intercâmbio de professores, práticas em empresas e perfil dos estudantes do princípio do século XXI.

Abrindo o Congresso, o Professor Graham Gibbs, pesquisador da Open University, Inglaterra, com reconhecida experiência na área da docência universitária, proferiu a conferência Perspectivas internacionais do uso da avaliação para melhorar o ensino na universidade, abordando a questão da qualidade do ensino e refletindo sobre as mudanças ocorridas nas universidades com a chegada dos sistemas avaliativos. Em sua apresentação, ponderou que, se até pouco tempo a competência docente era definida quase exclusivamente pela competência no campo científico, hoje já se reconhece que a excelência na pesquisa não significa excelência no ensino. Ainda que esta discussão exija uma cuidadosa análise no contexto das orientações dos agentes econômicos internacionais, que visam adequar os sistemas educacionais e os profissionais do ensino às necessidades de produção e de circulação do mercado mundial, este fato demanda processos de avaliação diferentes e preocupações específicas com a formação do professor universitário.

Numa análise do contexto social e tecnológico, Joan Majó, ex-ministro do Governo da Espanha, enfatizou os desafios da sociedade atual na perspectiva de um equilíbrio ecológico, social, cultural e econômico. Defendendo a substituição progressiva dos recursos materiais pelo acesso à informação mediante o uso das novas tecnologias, disse que o segredo para este desenvolvimento equilibrado é perceber que o bem estar hoje é muito mais uma questão de acesso ao conhecimento do que de posse de um bem. Discutiu a troca de bem material por virtual, fazendo uma analogia de suas idéias com um exemplo do cotidiano: cada pessoa não precisa carregar um relógio para medir o tempo, precisa realmente saber a hora, o que implica acesso à informação e às tecnologias adequadas à apreensão do tempo. Estas mudanças, pontuadas pela consolidação da sociedade informacional, na qual o conhecimento assume um papel estratégico, criam novas necessidades, exigindo outras posturas daqueles que são os responsáveis pela formação, na Universidade, dos profissionais que atuarão no século XXI.

O conjunto das demais atividades criou as condições para o debate produtivo das idéias veiculadas, intensificado durante as Seções de Comunicação. Os temas motivação, avaliação e aprendizagem ativa geraram grande interesse dos participantes. A discussão sobre aprendizagem ativa, abordando a necessária participação do aluno em seu processo de aprendizagem, antiga e também bastante debatida no Brasil nos últimos anos, recebeu a atenção dos participantes, trazendo experiências significativas e variadas, apoiadas em reflexões teóricas inscritas no bojo das teorias construtivistas da aprendizagem. Sem negar o papel histórico da aula magistral, mas questionando seu uso abusivo e quase exclusivo nos cursos universitários de diferentes áreas, a tônica dos debates apontou para a necessidade de criar espaços de ampla comunicação entre professores e alunos e de se incluirem entre os procedimentos de ensino o diálogo, a tutoria, o estudo de caso, a resolução de problemas, a simulação etc. Facilitando a participação dos alunos pelo trabalho em pequenos grupos, tais estratégias favorecem a sua autonomia intelectual e a postura crítica no processo de aprendizagem.

Finalizando o evento, o professor Kenneth Zeichner, da Universidade de Wisconsin, USA, trouxe para o centro da discussão a pertinência da pesquisa-ação para trabalhar o desenvolvimento profissional do professor universitário. Ressaltou a importância de uma postura investigativa sobre a própria prática, a partir de grupos de discussão de professores. Ao finalizar suas reflexões, apontou a obra de Paulo Freire como um marco da pesquisa-ação crítica, citando ainda como exemplo de pesquisa-ação a ser conhecido, a recente pesquisa da brasileira Elvira de Souza Lima, trabalhando com professores rurais comprometidos com um projeto de formação docente.

Orientado pelos objetivos de contribuir para a melhoria da qualidade da docência universitária nas universidades e favorecer o intercâmbio entre universidades em termos da discussão sobre inovação e qualidade do ensino, o Congresso representou um importante fórum de debate e discussão de idéias, soluções, perspectivas. No momento atual em que a inovação, no campo da educação superior, tende a ser pensada a partir de fluxos de nformações numa rede de cooperação universitária, o evento abriu espaço para o intercâmbio de experiências entre pesquisadores de diferentes áreas e países, cumprindo o papel de sensibilizar e mobilizar docentes universitários para o problema do ensino e sua necessária articulação com a pesquisa, criando atitudes para uma reflexão crítica sobre o papel da universidade no século XXI.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jun 2009
  • Data do Fascículo
    Ago 2000
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