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Apresentação

APRESENTAÇÃO

A Onipresença da Educação

Este número de Interface constitui oportunidade de repensar as múltiplas dimensões da Educação, em suas relações com a Saúde e a Comunicação, compondo um tripé com profundas raízes na época contemporânea. O conjunto dos trabalhos publicados não deixa dúvidas a respeito da universalidade da questão educacional no momento histórico em que nos encontramos. A aceleração das transformações, suportada pelas inovações tecnológicas, tem trazido conseqüências para todos os níveis de atividade humana, levantando questões que ultrapassam o domínio da educação formal no ambiente escolar. Nesse contexto, a disposição para aprender se faz necessária no exercício de toda prática social, não só por razões de aprimoramento profissional mas também para permitir um adequado posicionamento frente ao panorama de complexidade com que nos defrontamos.

Os cinco ensaios aqui apresentados enfocam diferentes aspectos da questão educacional. O primeiro, de Axt e Schuch, discute a aprendizagem em ambientes de realidade virtual, tornados possíveis pelos novos meios de processamento de informação e comunicação. As autoras recorrem a dois cientistas oriundos da área biológica, Piaget e Maturana, ambos com trabalhos relevantes em Psicologia Cognitiva, para entender como se dá a experiência educacional através da realidade virtual.

O ensaio de Tozzoni-Reis aborda a problemática da Educação Ambiental partindo de uma perspectiva teórica centrada na relação homem-natureza. A autora considera que a intervenção do homem na natureza, marcada pelas determinações do modo de produção capitalista, constitui a matriz para se pensar o sentido da Educação Ambiental. Nesta perspectiva, o objetivo da Educação Ambiental poderia ser considerado a mudança da intencionalidade humana frente à natureza, em busca de formas menos destrutivas de interação.

Mazzotti, no terceiro ensaio, procura resgatar o pensamento de Karl Marx sobre a Educação. A questão educacional não se esgotaria na busca por uma melhor formação profissional dos trabalhadores, mas implicaria na garantia de condições para que o ser humano possa exercer plenamente sua cidadania. Estas condições incluem a prática do trabalho, mesmo em condições adversas, e a disponibilidade de tempo livre, para que os trabalhadores possam se organizar, elaborar suas experiências e eventualmente transformar tais condições.

Na seqüência, Novelli resgata aspectos atuais da filosofia hegeliana, para a qual a educação diz respeito à prática da liberdade, não se reduzindo à obediência a métodos e técnicas rígidos, mas implicando a aprendizagem da racionalidade dialética. Portanto, o processo educacional seria aquele no qual o indivíduo vem a compreender como os conceitos se contradizem e se superam, conduzindo a uma visão de mundo integrada que é, ao mesmo tempo, individual e histórica.

O último ensaio, de Morosini, aborda justamente a tendência dominante, no Estado brasileiro, de se obter melhoria da qualidade do ensino universitário por meio de processos de avaliação calcados em procedimentos estandardizados. A autora formula algumas questões bastante pertinentes a respeito da eficácia desses processos, em particular questionando se o conceito de qualidade ali implícito não se oporia à criatividade e criticidade, aspectos igualmente importantes do processo educacional.

Na seção de artigos e relatos, Cunha apresenta um estudo que enfoca as experiências consideradas significativas por alunos de licenciatura, enquanto Menezes propõe que uma instância pertinente para se avaliar a formação do médico seria o CTI, onde ele se defronta com dilemas éticos que exigem uma reflexão integradora.

A seção de debates está dedicada a uma discussão que se tem feito necessária a respeito do programa de Saúde da Família. Em que medida tal programa oferece uma oportunidade de humanização da formação médica, e de educação continuada dos profissionais? Para se responder a tal pergunta, é preciso considerar a história recente das políticas de saúde no Brasil, determinando o contexto no qual o programa foi formulado e colocado em prática. Campos e Belisário, no artigo deflagrador do debate, realizam uma ampla retrospectiva dos fatores condicionantes e dos objetivos do programa, direcionando a discussão para o papel das escolas da área médica na sua implantação e consolidação, assim como para a relevância que a participação no programa possa ter para a formação dos profissionais. Os debatedores, Nemes, Merhy, Paim e Puntel, destacam não só as dificuldades que o programa tem enfrentado, como também aspectos que lhes parecem favoráveis, com vistas a uma maior interação entre a universidade e a sociedade.

Na entrevista com Cromberg discute-se o atual estatuto da Psicanálise, destacando alguns tópicos desta prática na qual se manifesta a dimensão educacional. Durante o processo de escuta, o analista deve aprender sobre a experiência de vida do analisado para se conseguir o envolvimento adequado. O próprio tempo psíquico implica constante reaprendizagem, pois como diz a entrevistada "um evento que antes estava configurado de uma certa maneira é ressignificado de uma outra maneira por um outro evento posterior". Defende ainda que a psicanálise "participou de maneira radical na transformação de uma nova forma de ver a mulher e o feminino", a partir da aprendizagem de Freud com "mulheres classificadas como histéricas".

Fechando o número, o texto O espaço da clínica apresenta não um lugar geográfico, mas o contexto de um encontro "difícil", de angústia e sofrimento, e também da vida "que busca um caminho para se realizar". Um espaço em que o médico também vem a aprender com os pacientes sobre a própria experiência humana. E, nessas situações dramáticas, novamente se mostra a onipresença da educação.

Alfredo Pereira Junior

Departamento de Educação, Instituto de Biociências,

Universidade Estadual Paulista, Unesp/Botucatu

Julho de 2001

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Maio 2009
  • Data do Fascículo
    Ago 2001
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