Acessibilidade / Reportar erro

III Fórum Social Mundial: um outro mundo é possível

World Social Forum: another world is possible

NOTAS BREVES

III Fórum Social Mundial: um outro mundo é possível

World Social Forum: another world is possible

Agueda Beatriz Pires Rizzato

Docente do Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista/Unesp. <agueda@laser.com.br>

Palavra-chave: Globalização; Ética.

Key words: Globalization; Ethics.

Palabras clave: Globalización; Etica.

Como nos anos anteriores, o III Fórum Social Mundial (FSM) transformou Porto Alegre numa verdadeira aldeia global. É como se um mundo em miniatura se transferisse para esta cidade. São cem mil pessoas: brancos, negros, índios, delegados, observadores, profissionais de imprensa e ativistas de todo o mundo, cada um com seu traje típico, falando os mais diferentes idiomas...

Muitas sensações e pensamentos tomam conta de quem presencia um acontecimento como este. Diferente das grandes cidades cosmopolitas e de cidades turísticas (onde se encontra gente de quase todas as partes do mundo, cada um voltado a seu próprio interesse), aqui o clima é outro. É como se todos se conhecessem, o motivo da viagem é do interesse de todos, o objetivo é comum e o espírito de solidariedade é contagiante. As línguas são diferentes mas todos se comunicam. Há cumplicidade no olhar, no sorriso, no gesto...

Viajam para Porto Alegre jovens, casais com crianças, bebês, pessoas de todas as idades, com cabelos brancos, faces enrugadas... mas, que ainda acreditam em mudanças, que UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL! Esta é a grande mensagem do Fórum Social Mundial.

Embora haja um misto de alegria e descontração, ao mesmo tempo percebe-se o ar sério e preocupado no semblante das pessoas; grande parte desta multidão veio por um único e grande motivo: a preocupação com o futuro da humanidade, com os grandes e graves problemas que afligem o mundo. Entre tantos, salientam-se a injustiça e a exclusão, que explodiram, principalmente, a partir da implantação das políticas da globalização neoliberal.

O movimento que originou o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, teve início em 1994, com o grito zapatista pela luta internacional de resistência ao neoliberalismo. Sua primeira grande formulação programática apareceu no editorial do Le Monde Diplomatique, em 1997, e chamava à luta contra a ditadura do "pensamento único".

Assim, quando representantes de ONGs brasileiras buscaram Bernard Cassen (do Le Monde Diplomatique e de Attac) para propor um fórum anti-Davos, levaram a proposta de realizá-lo na Europa. Prevaleceu, entretanto, a idéia de que ele deveria acontecer na periferia do capitalismo. No mundo "globalizado". No Brasil. Porto Alegre foi a cidade escolhida pelo sucesso das políticas de orçamento participativo ali implantadas (Sader, 2003).

No I Fórum estiveram presentes vinte mil pessoas, no II foram quarenta mil e, neste, havia cerca de cem mil. Aqui tudo é imenso. As dependências da Pontifícia Universidade Católica (suficientes no I Fórum) já não comportaram tamanho número de participantes e outros locais foram preparados para recebê-los: o Estádio do Gigantinho, o Centro Cultural do Gasômetro e quatro armazéns do Porto. Foram mais de 1.200 atividades durante os cinco dias do evento, 1286 oficinas, 20.763 delegados cadastrados, representando 5.717 organizações de 130 países, e mais de cinco mil jornalistas de 51 países.

Desde o I Fórum ficou clara a importância de que as pessoas, entidades, organizações contrárias às conseqüências da globalização precisavam se reunir, debater idéias e propor alternativas adequadas às realidades de cada um, parceria que tem feito aumentar a cada ano a quantidade de temas do encontro. Este ano entraram na pauta a possível guerra contra o Iraque, as dificuldades do governo Chávez na Venezuela, a polêmica sobre a Alca, o que exigiu debates em profundidade e maior participação de todos.

Lubetkin (2003, p.5), sintetiza o momento atual do III Fórum quando diz:

Tendo em vista os problemas enfrentados pela humanidade neste processo excludente e injusto da globalização – que vão da fome generalizada à falta de água limpa, da destruição de nosso ambiente natural à dívida externa impossível de pagar, do cada vez maior abismo digital para o analfabetismo renitente, do controle corporativo sobre a riqueza genética à epidemia de HIV/AIDS – é essencial que demandemos uma visão crítica que propicie alternativas viáveis e promova uma maior participação ativa dos cidadãos do nosso mundo.

Diante das novas estratégias e necessidades, o FSM expande-se rapidamente pelo mundo, globaliza-se. Com base na Carta de Princípios, multiplicam-se as iniciativas hoje concretizadas nos fóruns temáticos realizados em diversas datas e diferentes lugares do mundo.

O OUTRO MUNDO É POSSÍVEL irradia-se em muitos mundos e leva-nos a pensar que nossa localidade, nosso país ou nossa região podem ser diferentes... (Grzybowski, 2003).

Porto Alegre, 27 de janeiro de 2003

Recebido para publicação em: 28/01/03

Aprovado para publicação em: 10/02/03

  • Grzybowski,C. Globalização Solidária. FSM: a construção de uma utopia. Terra Viva: o jornal independente do III Fórum Social Mundial, Porto Alegre, jan. 2003, p.5.
  • Lubetkin, M. Um jornal do diálogo e da paz. Terra Viva: o jornal independente do III Fórum Social Mundial, Porto Alegre, jan. 2003, p.4.
  • Sader, E. Porto Alegre, até logo! Zero Hora, Porto Alegre, 28 jan 2003, p.19.
  • Interface - Comunic, Saúde, Educ, v7, n12, p.167-8, fev 2003

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Fev 2009
  • Data do Fascículo
    Fev 2003
UNESP Distrito de Rubião Jr, s/nº, 18618-000 Campus da UNESP- Botucatu - SP - Brasil, Caixa Postal 592, Tel.: (55 14) 3880-1927 - Botucatu - SP - Brazil
E-mail: intface@fmb.unesp.br