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Um estudo correlacional entre apoio social e autoconceito de estudantes universitários

A correlational study between undergraduate students’ social support and self-concept

Resumo:

Este estudo objetivou avaliar como se percebem os universitários concluintes de cursos de graduação em relação ao apoio social recebido e autoconceito. Foi utilizada uma escala de percepção de apoio social que foi concebida para abranger cinco dimensões de apoio social, dentre elas o apoio material, de informação, apoio afetivo, emocional e de interação social. Também foi utilizada uma escala de autoconceito que avalia a satisfação pessoal e autoestima. Responderam às escalas 234 universitários, das áreas de exatas, ciências sociais e saúde. A análise descritiva dos dados revelou que a dimensão satisfação pessoal da escala de autoconceito foi melhor pontuada pelos estudantes. Das dimensões da escala de apoio social os fatores melhores pontuados foram interação positiva e apoio afetivo. As relações entre as variáveis revelaram uma correlação positiva entre apoio social e autoconceito. Não houve correlação entre o autoconceito nas suas dimensões de satisfação pessoal e autoestima com o apoio material.

Palavras-chave:
Ensino superior; Percepção de estudantes; Estudantes universitários

Abstract:

The aim of this study was to assess what the graduates of undergraduate courses think about the social support received and the self-concept. It was used a perception’s scale of social support that was created to comprehend five dimensions of social support ,including among them the material support, supporting information, emotional and social interaction. It was also used a self-concept’s scale that evaluates the personal satisfaction and the self-esteem. Two hundred and thirty four graduates from the areas of exact sciences, social sciences and health answered the scale. The descriptive analysis showed that the aspect about personal satisfaction from the self-concept’s scale was the most well conceptualized by the students. About the aspects of the social support scale, the positive interaction and emotional support were the most well considered factors. The relation among the variables revealed a positive correlation between social support and self-concept. There was no correlation between the self-concept in its dimensions of personal satisfaction and self-esteem with the material support.

Key words:
Higher education; Students’ perception; University students

1 Introdução

Em virtude da complexidade da experiência universitária e a variedade de condições que podem afetar esse percurso, optou-se neste estudo explorar e relacionar as variáveis apoio social e autoconceito de universitários concluintes de Instituições de Ensino Superior, localizadas em um município do interior do Estado de Minas Gerais. Os dados apresentados foram obtidos por meio de aplicação de escalas que se propunham avaliar o apoio social e o autoconceito. Observa-se que houve correlação positiva entre as variáveis. Considerando as afirmações acima, o artigo encontra-se estruturado de forma a contemplar na introdução os aspectos teóricos e de pesquisa relativos aos construtos apoio social e autoconceito; no método a trajetória metodológica empreendida para a obtenção dos objetivos; nos resultados a descrição dos achados da pesquisa; na discussão o debate dos resultados e por último na conclusão as ponderações finais referentes aos achados do estudo.

O ensino superior tem vivido uma nova realidade e experimentado exigências que têm fomentado profundas mudanças nesse nível de ensino. A crescente demanda de expansão do ensino superior, no Brasil, tem gerado uma progressão do número de estudantes, o que revela uma maior heterogeneidade do corpo discente no que se refere às suas características pessoais e acadêmicas. Este aumento da acessibilidade ao ensino superior tem promovido, na mesma proporção, manifestações de insucesso escolar, descontentamento e insatisfação, fazendo com que os alunos migrem ou abandonem os cursos que frequentam (MONTEIRO; GONÇALVES, 2011MONTEIRO, André Magalhães; GONÇALVES, Carlos Manual. Vocational development of higher education students: Education satisfaction and academic performance. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 15-27, jun. 2011.; VASCONCELOS; ALMEIDA; MONTEIRO, 2009VASCONCELOS, Rosa; ALMEIDA, Leandro. S.; MONTEIRO, Sílvia. O insucesso e abandono académico na universidade: uma análise sobre os cursos de engenharia. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON ENGINEERING AND COMPUTER EDUCATION, 6., 2009, Buenos Aires. Conference... Buenos Aires, 2009. p. 457-461.).

O panorama vigente de ampliação do acesso ao ensino superior gera mudanças no campo do conhecimento e na sociedade, e essas mudanças repercutem diretamente nas características, nas necessidades e nas expectativas dos universitários (SANTOS et al., 2013SANTOS, Acácia Aparecida Angeli dos et al. Integração ao ensino superior e satisfação acadêmica em universitários. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, DF, v. 33, 4, p. 780-793, 2013.). Essas crescentes mudanças, e as transformações delas advindas, têm feito com que se justifique o crescente interesse de pesquisadores em investigar a experiência de formação dos estudantes desse nível de ensino (OLIVEIRA et al., 2010OLIVEIRA, Sidney Lino de et al. Business demography: o perfil dos estudantes do ensino superior privado no Brasil. Revista Gestão & Tecnologia, Pedro Leopoldo, v. 7, n. 2, p. 1-17, ago./dez. 2010.; PASCARELLA et al., 2006PASCARELLA, Ernest T. et al. Institutional selectivity and good practices in undergraduate education: how strong is the link? Journal of Higher Education, Ohio, v. 77, n. 2, p. 251-285, mar./apr. 2006.; SANTOS; ALMEIDA, 2002SANTOS, Luisa; ALMEIDA, Leandro S. Vivências e rendimentos acadêmicos: a integração dos alunos na universidade. In: POUZADA, António Sergio; ALMEIDA, Leandro S.; VASCONCELOS, Rosa M. (Orgs.). Contextos e dinâmicas da vida acadêmica. Portugal: Universidade do Minho, 2002. p. 127-136.; SCHLEICH, 2006SCHLEICH, Ana Lúcia Righi. Integração na educação superior e satisfação acadêmica de estudantes ingressantes e concluintes. 2006. 172f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.; SOUZA; REINERT, 2010)SOUZA, Saulo Aparecido de; REINERT, José Nilson. Avaliação de um curso de ensino superior através da satisfação/insatisfação discente. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, Campinas, v. 15, n. 1, p. 159-176, mar. 2010..

Embora a vida acadêmica aproxime o estudante das exigências da sociedade, no que diz respeito à atuação profissional e cidadã, adaptação às novas situações e capacidade de lidar com as pressões e aceitações externas, também faz com que este nível de ensino se torne cada vez mais estressante e competitivo (RIOS, 2006RIOS, Olga de Fátima Leite. Níveis de stress e depressão em estudantes universitários. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 2006.). Cada indivíduo possui uma maneira de perceber o mundo e interpretá-lo, em razão de sua história de vida e de suas experiências, e isso tem uma relação direta com a forma que se comportará frente a uma situação que necessita de adaptação.

O ensino superior e a transição da universidade para o mercado de trabalho é um processo particularmente desafiante, exigindo dos jovens recursos internos e externos para enfrentarem esses desafios. Dentre os inúmeros recursos externos destaca-se, por exemplo, a percepção que o jovem possa ter do apoio social recebido, pois este concebe ao ser humano o sentimento de ser querido e útil, proporcionando-lhe a sensação de bem estar, o que pode repercutir de maneira positiva na escolha de sua carreira, na adaptação do universitário ao contexto acadêmico, bem como na sua futura inserção ao mercado de trabalho. O apoio social, tal como entendido neste estudo refere-se à avaliação geral que a pessoa faz das várias áreas da sua vida em relação às quais julga que é apreciada e lhe é dada o devido valor, assim como da disponibilidade dos outros e possibilidade de a eles recorrer (GOMES, 2012GOMES, Sofia. A pessoa reclusa em contexto prisional: agressividade, sintomas psicopatológicos e apoio social. 2012. 147 f. Dissertação (Mestrado) -Instituto Universitário Ciências Psicológicas Sociais da Vida, Madrid.).

A presença e o impacto do apoio social na vida das pessoas vêm sendo amplamente investigado em contextos relativos ao processo de saúde/doença, crise desenvolvimental, vulnerabilidade física e/ou social, entre outros, e tem demonstrado ser preditor dessas situações (COSTA; SÁ; CALHEIROS, 2012COSTA, David Castro; SÁ, Maria José; CALHEIROS, José M. O efeito do apoio social na qualidade de vida de pacientes com esclerose múltipla. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 70, n. 2, p. 108-113, 2012.; GOMES-VILLAS BOAS et al., 2012GOMES-VILLAS BOAS, Lilian Cristiane et al. Relação entre apoio social, a adesão aos tratamentos e controle metabólico de pessoas com diabetes mellitus. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 20, n. 1, p. 52-58, 2012.; MARQUES et al. 2011MARQUES, Ana Karina Monte Cunha et al. Apoio social na experiência do familiar cuidador. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, p. 945-955, 2011. Suplemento 1.; RODRIGUES; SILVA, 2013RODRIGUES, Adriana Guimarães; SILVA, Ailton Amélio da. A rede social e os tipos de apoio recebidos por idosos institucionalizados. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontolologia, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 159-170, jan./mar. 2013.; SCHWARTZ; VIEIRA; GEIB, 2011SCHWARTZ, Tatiane; VIEIRA, Renata; GEIB, Lorena Terezinha Consalter. Apoio social a gestantes adolescentes: desvelando percepções. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 5, p. 2575-2585, maio 2011.). O apoio social, de modo exploratório, também tem sido estudado no ambiente acadêmico (GONÇALVES et al., 2011GONÇALVES, Tonantzin Ribeiro et al. Avaliação de apoio social em estudos brasileiros: aspectos conceituais e instrumentos. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 1755-1769, 2011.). Investigações conduzidas sobre esta temática, e também do presente estudo, referem-se ao apoio social percebido por estudantes em fase de conclusão de curso e próximos da entrada no mercado de trabalho.

Exemplos de estudos conduzidos sobre esta temática foi o realizado por Pinheiro e Ferreira (2002PINHEIRO, Maria do Rosário Moura; FERREIRA, Joaquim Armando. Suporte social e adaptação ao ensino superior. In: POUZADA, António Sergio; ALMEIDA, Leandro S.; VASCONCELOS, Rosa M. (Orgs.). Contextos e dinâmicas de vida académica. Guimarães: Universidade do Minho, 2002. p. 137-146., 2003PINHEIRO, Marcos Roberto; FERREIRA, Joaquim Armando. Transition from high school to college: is the perception of social, support associated to college student adaptation?. In: CONFERÊNCIA BI-ANNUAL DA SOCIETY FOR VOCATIONAL PSYCHOLOGY, 6., 2003, Coimbra. Anais...: Coimbra: Escola e Trabalho, Contextos e Transições, 2003.) que revelaram que o apoio social esteve correlacionado a uma maior adaptação dos estudantes ao ensino superior e sugeriu ainda que, de uma forma geral, quanto mais elevada a percepção de apoio social disponível mais positivos e satisfatórios o desempenho e as vivências acadêmicas dos estudantes. Samssudin e Barros (2011SAMSSUDIN, Sara; BARROS, Alexandra. Relação entre as crenças de auto-eficácia e o apoio social na transição para o trabalho em estudantes finalistas do ensino superior. Psicologia, Lisboa, v. 25, n. 1, p. 159-171, jun. 2011.) também investigaram estudantes universitários portugueses, em fase de conclusão de curso, com a finalidade de estudar a relação entre as crenças de autoeficácia na transição para o trabalho e o apoio social percebido por esses estudantes. Este estudo revelou que há uma relação positiva entre essas variáveis, sendo esta relação mais evidente no que diz respeito ao apoio social percebido por parte de amigos e de outros em geral. Os autores afirmaram que os resultados obtidos indicaram que o apoio social da família, dos amigos e dos professores podem ser elementos chave no desenvolvimento das crenças de autoeficácia neste período de transição.

As investigações têm evidenciado que as várias fontes de apoio social possuem impacto diferente em relação à faixa etária, dependendo da fase de desenvolvimento e das necessidades vigentes da pessoa. Dentre estas investigações está o estudo de Barceló, Socías e Brage (2015BARCELÓ, Margarita Vives; SOCÍAS, Carmem Orte; BRAGE, Luís Ballester. Efectos de los programas univesitarios en personas mayores en su red y apoyo social. El ejemplo de la universitat oberta per a majors. Pedagogía Social: Revista Interuniversitária, Sevilla, n. 25, p. 299-317, 2015. Disponível em: Disponível em: http://www.upo.es/revistas/index.php/pedagogia_ social/article/view/758/899 . Acesso em: 15 jul. 2015.
http://www.upo.es/revistas/index.php/ped...
) realizado com alunos espanhóis da Universidade Aberta da Universitat de les Illes Balears, com o objetivo de descrever e analisar a rede social e apoio social das pessoas que participaram do Diploma Senior e do Higher Diploma Senior, entendendo que esses alunos por causa da idade superior e nível educacional têm aumentada sua rede social e por isso podem usar o apoio social (emocional, informativo e material) que necessitam em diferentes situações. Foi aplicado um questionário autoadministrado com base em três áreas principais: sociodemográficas, rede social e as variáveis de apoio social. Os resultados apontaram que os alunos têm um bom nível de apoio social (emocional, informativo e material) e uma boa rede social, tanto quantitativa como qualitativa. Os autores constataram que existem diferenças significativas entre as redes sociais e de apoio social, por sexo, faixa etária e nível educacional e que estar na universidade produz mudanças positivas em redes e apoio social das pessoas idosas, onde a maioria das mudanças ocorre nos primeiros anos, enquanto estabilizado nos últimos anos.

Embora os estudos acima referendados tenham apontado para a importância das variáveis contextuais, na trajetória pessoal dos indivíduos, é importante também destacar que a vida das pessoas são constantemente influenciadas por distintos aspectos, sejam eles os sociais, como o apoio social, e outros destacados na literatura, os familiares, educacionais, entre outros. É também destacado na literatura a relevância dos fatores de ordem pessoal, na trajetória acadêmica de alunos, no seu desempenho e nas dificuldades vivenciadas no seu processo de aprendizagem, assim como nas relações consolidadas com os outros. Dentre esses o autoconceito tem sido pesquisado, e os estudos têm revelado a importância dessa variável na vida das pessoas (SCHIAVONI; MARTINELLI, 2012SCHIAVONI, Andreza; MARTINELLI, Selma de Cássia. O autoconceito de estudantes aceitos e rejeitados no contexto escolar. Psicologia Argumento, Paraná, v. 30, n. 6, p. 297-305, 2012.).

Sisto e Martinelli (2004SISTO, Fermino Fernandes; MARTINELLI, Selma de Cássia. Escala de Autoconceito Infanto Juvenil (EAC-IJ). São Paulo: Vetor, 2004.) definem o autoconceito como produto resultante da interação entre a pessoa e o mundo em que a cerca, durante o seu processo de construção social e decurso de vida, acompanhado da avaliação de suas capacidades, realizações, vivências e representações. Os autores destacam ainda a existência de três componentes básicos do autoconceito, um de natureza cognitiva que se refere ao mérito ou a capacidade com que o sujeito se descreve, outro de natureza afetiva, também denominado autoestima, correspondente às emoções e aos afetos que acompanham a descrição da pessoa, e por último, o componente comportamental, referente às condutas e atitudes que a pessoa toma em função de sua autopercepção.

Compreender o modo como a própria pessoa se enxerga ou se avalia é importante, pois pode interferir em aspectos referentes à motivação, a escolha de atividades, a quantidade de esforços a ser investida, a rede social estabelecida, a tolerância aos obstáculos e a persistência frente às situações de crise enfrentada ao longo da vida da pessoa (FONTAINE, 2005FONTAINE, Anne Marie. Motivação como instrumento de análise: teoria da auto-eficácia. In: FONTAINE, Anne Marie. Motivação em contexto escolar. Lisboa: Universidade Aberta, 2005. p. 73-95.). Uma grande quantidade de estudos sobre o autoconceito têm constatado que ele é um dos fatores afetivo-emocionais que mais se encontra relacionado com o desempenho escolar de crianças e que também parece interferir sobre as relações pessoais (CIA; BARHAM, 2008CIA, Fernanda; BARHAM, Elizabeth Joan. Estabelecendo relação entre autoconceito e desempenho acadêmico de crianças escolares. Psico, Porto Alegre, v. 39, n. 1, p. 21-27, jan./mar. 2008. ; CARNEIRO; MARTINELLI; SISTO, 2003CARNEIRO, Gabriela Raeder da Silva; MARTINELLI, Selma de Cássia; SISTO, Fermino Fernandes. Autoconceito e dificuldades de aprendizagem na escrita. Psicologia: reflexão e crítica, Porto Alegre, v. 16, n. 3, p. 427-434, 2003.; CHAPMAN; TUNMER; PROCHNOW, 2000CHAPMAN, James. W.; TUNMER, Willian. E.; PROCHNOW, Jane E. Early reading-related skills and performance, reading self-concept, and the development of academic self-concept - A longitudinal study. Journal of Educational Psychology, Washington, v. 92, n. 4, p. 703-708, 2000.; GUAY; MARSH; BOIVIN, 2003GUAY, Frédéric; MARSH, Hebert W.; BOIVIN, Michel. Academic self-concept and academic achievement: Developmental perspectives on their causal ordering. Journal of Educational Psychology, Washington, v. 95, n. 1, p. 124-136, 2003.; MARTURANO, 2004MARTURANO, Edna Maria. Fatores de risco e proteção no desenvolvimento sócio-emocional de crianças com dificuldades de aprendizagem. In: MENDES, Eniceia Gonçalves; ALMEIDA, Maria Amélia; WILLIAMS, Lucia Cavalcanti de Albuquerque (Orgs.). Avanços recentes em educação especial. São Carlos: EDUFSCar, 2004. p. 159-164.; SCHIAVONI; MARTINELLI, 2012SCHIAVONI, Andreza; MARTINELLI, Selma de Cássia. O autoconceito de estudantes aceitos e rejeitados no contexto escolar. Psicologia Argumento, Paraná, v. 30, n. 6, p. 297-305, 2012.).

O autoconceito também tem sido estudado em relação aos estudantes universitários, não só em outros países como também no Brasil. Uma pesquisa realizada por Faria e Santos (2006FARIA, Luísa; SANTOS, Nelson Lima. Autoconceito acadêmico, social e global em estudantes universitários. 2006. p. 225-235. Disponível em: http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/624/1/225-235FCHS2006-4.pdf . Acesso em: 15 fev. 2015.
http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/6...
) com o objetivo de avaliar o autoconceito acadêmico, social e global de 162 estudantes portugueses, de ambos os sexos, constatou que os estudantes do 1º ano de graduação possuíam um melhor autoconceito acadêmico em relação aos alunos do 3º e 5º ano. Os autores interpretam esse dado referindo que nos últimos anos de graduação os alunos necessitam enfrentar desafios relacionados com a procura e o investimento numa futura atividade profissional, o que pode interferir sobre sua percepção pessoal de competência

O autoconceito também foi objeto de análise de Stocker e Faria (2009STOCKER, Joana; FARIA, Luísa. Autoconceito e adaptação ao ensino superior: estudo diferencial com alunos da Universidade do Porto. In: CONGRESSO INTERNACIONAL GALEGO-PORTUGUÊS DE PSICOPEDAGOGIA, X., 2009, Braga. Actas… Braga: Universidade do Minho, 2009.), que investigaram em 395 universitários portugueses a percepção de adaptação ao ensino superior e o autoconceito em relação à utilização ou não dos serviços de apoio fornecido pela instituição. As autoras salientaram que a adaptação eficaz ao Ensino Superior possibilita uma gestão positiva do autoconceito e da autoestima, do sucesso acadêmico, da integração social, do sentido de realização, da competência e autoeficácia pessoal, proporcionando uma melhor qualidade de vida em geral.

Teixeira e Gomes (2004TEIXEIRA, Marco. Antonio Pereira; GOMES, Willian Barbosa. Estou me formando... e agora?: reflexões e perspectivas de jovens formando universitários. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 47-52, jun. 2004.) realizaram um estudo com a finalidade de avaliar a contribuição do autoconceito, autoeficácia profissional, comportamento exploratório, participação em atividades acadêmicas de formação, situação do mercado de trabalho e percepção pessoal de oportunidades profissionais na predição da decisão de carreira, entre 252 estudantes brasileiros em fim de curso universitário. Foi realizada uma análise de regressão que evidenciou que as variáveis percepção de oportunidades, auto-eficácia profissional e autoconceito foram as que mais contribuíram para a predição da decisão de carreira. Os autores salientaram que é necessário que a formação universitária contemple com mais ênfase o aspecto da prática profissional, como forma de promover o desenvolvimento do autoconceito e da autoeficácia. Sugeriram ainda que a universidade necessita oferecer atividades relacionadas ao desenvolvimento de metas profissionais para que os estudantes lidem de modo efetivo com a transição para o mercado de trabalho.

Bardagi e Boff (2010BARDAGI, Marucia Patta; BOFF, Raquel de Melo. Autoconceito, auto-eficácia profissional e comportamento exploratório em universitários concluintes. Avaliação, Campinas; Sorocaba, v. 15, n. 1, p. 41-56, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? pid=S1414-40772010000100003&script=sci_arttext. Acesso em: 29 nov. 2015.
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) realizaram um estudo com objetivo de avaliar os níveis de autoconceito, autoeficácia e comportamento exploratório em 231 universitários, em fase de conclusão de curso, de uma Universidade privada do Brasil. Os resultados apontaram que encontrar um emprego na área é o plano da maioria dos jovens após a formatura. Houve correlação positiva entre comportamento exploratório, autoconceito e autoeficácia, e os dados revelaram que estudantes dispostos a engajar-se em atividades acadêmicas ou extracurriculares têm a tendência em ter projetos mais estruturados e expectativas mais realistas diante do mercado de trabalho. As autoras relatam que esses resultados indicam que os universitários necessitam de um acompanhamento neste processo de transição, especialmente no âmbito da elaboração de metas e projetos profissionais.

Também investigando estudantes universitárias brasileiras, Ferreira e Martinelli (2012FERREIRA, Andressa Aparecida; MARTINELLI, Selma de Cássia. Autoconceito de estudantes universitários e nível técnico. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICAS DE ENSINO, 16., 2012, Campinas . Anais... Campinas: UNICAMP, 2012. p. 1-12.) propuseram como objetivo de seu estudo avaliar o autoconceito de universitárias dos cursos de pedagogia e licenciaturas e estudantes do curso técnico de enfermagem. Participaram do estudo 379 estudantes. As pesquisadoras constataram que as estudantes possuíam níveis baixos de apreço pessoal, autoestima, satisfação pessoal, autodeterminação e confiança pessoal.

Barros e Moreira (2013BARROS, Rita Manuela de Almeida; MOREIRA, J. António. Autoconceito global em estudantes do ensino superior: um estudo comparativo entre iniciantes e finalistas. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 19, n. 2, p. 232-249, ago. 2013.), também centrados na população universitária realizaram uma pesquisa com 552 graduandos portugueses com o intuito de comparar o autoconceito global de iniciantes e finalistas. Os autores concluíram que não houve diferenças significativas entre os dois grupos de estudantes.

Considera-se que, ao ingressar e egressar na vida acadêmica o estudante vivencia impactos de transição, que exigem muitas adaptações, tendo em vista as peculiaridades, complexidade da experiência e a variedade de condições experenciadas. Da mesma maneira considera-se ainda que o período que antecede a formação universitária e, consequentemente, a entrada no mercado de trabalho, pode se caracterizar como um momento de vivência de muitas angustias, inseguranças e incertezas ao jovem, e que podem afetar o indivíduo nesta e em outras etapas de sua vida. Assim, levando-se em consideração estas condições, o estudo teve como objetivos gerais avaliar a percepção do universitário formando sobre o apoio social recebido e seu autoconceito e verificar a relação entre essas variáveis; e como objetivo específico identificar se há diferença na percepção de apoio social e autoconceito entre os gêneros de universitários concluintes.

2 Método

Esta seção apresenta o caminho metodológico empreendido para o alcance dos objetivos propostos para o estudo. Vale ressaltar que não há viés na análise dos dados devido ao fato dos respondentes serem de Instituições de Ensino Superior diferentes.

2.1 Participantes

Participaram deste estudo 234 universitários, entre 19 e 39 anos, sendo 97 do gênero feminino (41,5%) e 137 do gênero masculino (58,5%), das áreas de exatas, sociais e saúde (Tabela1), que frequentavam do 5º ao 10º período de graduação. Os estudantes das áreas sociais e saúde pertenciam a Instituições particulares de ensino enquanto os da área de exatas eram provenientes de uma Universidade Pública do Brasil, do Estado de Minas Gerais. Dados estatísticos da amostra relativos aos cursos estão discriminados na Tabela 1.

Tabela 1
Dados descritivos dos cursos frequentados

2.2 Instrumentos

Instrumento para avaliar Apoio Social: A escala de apoio social utilizada nesse estudo foi elaborada, originalmente, por Sherbourne e Stewart (1991SHERBOURNE, Cathy Donald; STEWART, Anita L. The MOS social support survey. Social Science and Medicine, Oxford, v. 32, n. 6, p. 705-714, 1991.), para o Medical Outcomes Study e foi traduzida e adaptada para o português do Brasil por Griep (2003GRIEP, Rosane Harter. Confiabilidade e validade de instrumentos de medida de rede social e de apoio social utilizados no Estudo Pró-Saúde. 2003. 128 f. Tese (Doutorado) -Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2003.). O estudo e as análises conduzidas revelaram que o instrumento de avaliação de apoio social, manteve as propriedades psicométricas adequadas, o coeficiente Alpha de Cronbach foi igual ou maior do que 0,83 para todas as dimensões. Na sua forma original, esse instrumento foi concebido para abranger cinco dimensões de apoio social, material (quatro perguntas), que refere à provisão de recursos práticos e ajuda material; afetiva (três perguntas) referente a demonstrações físicas de amor e afeto; interação social positiva (quatro perguntas) que significa contar com pessoas com quem relaxar e divertir-se; emocional (quatro perguntas), que refere à habilidade da rede social em satisfazer as necessidades individuais em relação a problemas emocionais, por exemplo, situações que exijam sigilo e encorajamento em momentos difíceis da vida; informação (quatro perguntas) referente a contar com pessoas que aconselhem, informem e orientem. Para todas as perguntas, cinco opções de resposta são apresentadas: 1 (nunca); 2 (raramente); 3 (às vezes); 4 (quase sempre) e 5 (sempre).

Instrumento para avaliar o Autoconceito: A escala de Avaliação do Autoconceito em Adultos (EAAd), desenvolvida por Ferreira e Martinelli (2012FERREIRA, Andressa Aparecida; MARTINELLI, Selma de Cássia. Autoconceito de estudantes universitários e nível técnico. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICAS DE ENSINO, 16., 2012, Campinas . Anais... Campinas: UNICAMP, 2012. p. 1-12.) é um instrumento composto por 12 itens dispostos em uma escala Likert de 3 pontos às assertivas “concordo”, “concordo parcialmente” e “discordo”, para as quais são atribuídos 3, 2 e 1 ponto respectivamente e avalia a percepção positiva de autoconceito. A variância total explicada pela escala é de 48,08%. A escala é dividida em dois fatores que dizem respeito à autoestima (alfa 0,794), composto por 07 itens, por exemplo: “As pessoas gostam de mim” / “Eu me acho bonito (a)”; e à satisfação pessoal (alfa 0,766) composto por 05 itens, por exemplo: "Gosto de fazer o que faço” / “Eu me sinto feliz”.

2.3 Procedimento de coleta de dados

Todo o desenvolvimento da pesquisa ocorreu em conformidade com os princípios éticos estabelecidos na Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. A coleta dos dados ocorreu somente após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (CAAE nº 24769413.0.3001.5099). A pesquisa foi desenvolvida no primeiro semestre de 2014 em quatro Instituições de Ensino Superior de uma cidade do interior de Minas Gerais.

As Instituições de Ensino foram contatadas e após o aceite os universitários foram informados e convidados a participarem da pesquisa. Os formandos que aceitaram participar do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual informou sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa, assim como o caráter sigiloso, gratuito e voluntário da participação, o não oferecimento de riscos biopsicossociais e a possibilidade do participante abandonar a pesquisa em qualquer momento, se assim o desejasse. As aplicações das escalas foram programadas em dia e horários pré-estabelecidos. O tempo de aplicação era livre e durou, em média, 10 minutos.

3 Resultados

Os dados foram analisados por meio do pacote estatístico Statistic Package for Social Science (SPSS), versão 20.0 para Windows. Dados descritivos relativos às variáveis investigadas foram explorados. Para avaliar a correlação entre as variáveis Apoio Social e Autoconceito na população estudada, foi utilizado o teste de Correlação de Postos de Spearman. Para a interpretação da magnitude das correlações foi adotada a seguinte classificação por Dancey e Reidy (2006DANCEY, Christine P.; REIDY, John. Estatística sem matemática para psicologia. Porto Alegre: ARTMED, 2006.): coeficientes de correlação de 0,1 a 0,3 (correlação de fraca magnitude), de 0,4 a < 0,6 (de moderada magnitude) e de 0,7 a 0,9 (de forte magnitude), Para avaliação das diferenças entre os gêneros foi utilizado o teste não paramétrico U de Mann-Whitney. Foram considerados significativos valores igual ou inferiores a 0,05.

Tabela 2
Dados descritivos da amostra em relação à percepção de Apoio Social e Autoconceito

A análise descritiva dos dados dos participantes deste estudo revelou que a dimensão satisfação pessoal da escala de autoconceito obteve melhor pontuação em relação a dimensão Autoestima. Das dimensões da escala de apoio social os fatores melhores pontuados foram interação positiva e apoio afetivo já os fatores emocionais, informação e apoio material foram respectivamente menos pontuados.

Para averiguar as relações entre essas variáveis foi utilizado o teste de correlação de Spearman. Os resultados encontram-se discriminados na tabela 3.

Tabela 3
Coeficientes de Correlação de Spearman e valores de p

As relações entre as variáveis revelaram uma correlação positiva de fraca magnitude entre apoio social e autoconceito. Os estudantes que se declaram mais satisfeitos pessoalmente e com melhor autoestima também se percebem mais apoiados socialmente nos aspectos afetivo, emocional e de informação, além de perceberem estabelecer interações sociais mais positivas. Não houve correlação entre o autoconceito nas suas dimensões de satisfação pessoal e autoestima com o apoio material.

Tabela 4
Diferença entre os gêneros

Em relação ao gênero, os dados revelam que as universitárias percebem significativamente mais apoio social do tipo afetivo, emocional, de informação e material que os estudantes universitários do sexo masculino. Em contrapartida não houve diferenças significativas entre os gêneros em relação ao apoio social do tipo interação positiva e ao autoconceito geral e em suas dimensões de satisfação pessoal e autoestima.

4 Discussão

Os achados deste estudo, embora ainda com uma amostra não tão extensiva, apontam que foi possível identificar algumas relações entre os construtos investigados, e que serão discutidos a seguir. As relações entre Apoio Social e Autoconceito de universitários foram, até o momento, pouco investigadas na literatura, embora essas variáveis, individualmente, se mostrem amiúde significativas no estudo do contexto do ensino superior. Ao observar os estudos realizados que abrangem essas variáveis, vislumbra-se que condições favoráveis de apoio social e um bom autoconceito pode colocar o estudante em uma situação melhor, do ponto de vista acadêmico, pessoal e futuramente profissional.

Em relação ao apoio social, sabe-se que a rede social que os estudantes estabelecem é um aspecto importante para a adaptação ao ensino superior. A trajetória acadêmica implica, muitas vezes, em alterações marcantes na vida diária dos universitários. Para muitos, existe a necessidade de sair de suas famílias e irem viver longe de seus parentes. Esse fato também ocorre com as amizades construídas até então, os amigos deixam de ser vistos todos os dias e elos afetivos e sociais com antigos companheiros podem enfraquecer. No entanto, a academia pode promover o estabelecimento de uma nova rede de relações de apoio capaz de contribuir para o bem estar e adaptação ao âmbito acadêmico (POLYDORO; PRIMI, 2003POLYDORO, Soely Aparecida Jorge; PRIMI, Ricardo. Integração ao ensino superior: explorando sua relação com características de personalidade e envolvimento acadêmico. In: MERCURI, Eizabeth; POLYDORO, Soely Aparecida Jorge (Orgs.). Estudante universitário: características e experiências de formação. Taubaté: Cabral, 2003. p. 41-66.; TAO et al., 2000TAO, Sha et al. Social support: relations to coping and adjustament during the transition to university in the Peoples’s Republic of China. Journal of Adolescent Reserch, [S.l.], v. 15, n. 1, 123-144, jan. 2000.; TEIXEIRA; CASTRO; PICCOLO, 2007TEIXEIRA, Marco Antonio Pereira; CASTRO, Graciele Dotto; PICCOLO, Luciane da Rosa. Adaptação à universidade em estudantes universitários: um estudo correlacional. Interação em Psicologia, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 211-220, 2007.).

Investigar como se apresenta para o estudante universitário essa rede de apoio foi um dos objetivos deste estudo. Nesse sentido ao analisar a percepção dos estudantes sobre o apoio social recebido pode-se constatar que a interação positiva e apoio afetivo foram melhores percebidos por esses estudantes. Este resultado de certa forma se aproxima dos resultados obtidos por Samssudin e Barros (2011SAMSSUDIN, Sara; BARROS, Alexandra. Relação entre as crenças de auto-eficácia e o apoio social na transição para o trabalho em estudantes finalistas do ensino superior. Psicologia, Lisboa, v. 25, n. 1, p. 159-171, jun. 2011.), que avaliaram a relação entre o apoio social percebido e as crenças de autoeficácia na transição para o trabalho de 221 estudantes universitários portugueses. Apesar de utilizarem um instrumento diferente do que foi usado no presente estudo, para mensurar o apoio social, constataram que os itens melhores pontuados foram o apoio social recebido por parte dos amigos e de outros em geral e esse apoio possuía uma relação positiva com as crenças de autoeficácia. Também os estudos realizados por Pinheiro e Ferreira (2002PINHEIRO, Maria do Rosário Moura; FERREIRA, Joaquim Armando. Suporte social e adaptação ao ensino superior. In: POUZADA, António Sergio; ALMEIDA, Leandro S.; VASCONCELOS, Rosa M. (Orgs.). Contextos e dinâmicas de vida académica. Guimarães: Universidade do Minho, 2002. p. 137-146., 2003PINHEIRO, Marcos Roberto; FERREIRA, Joaquim Armando. Transition from high school to college: is the perception of social, support associated to college student adaptation?. In: CONFERÊNCIA BI-ANNUAL DA SOCIETY FOR VOCATIONAL PSYCHOLOGY, 6., 2003, Coimbra. Anais...: Coimbra: Escola e Trabalho, Contextos e Transições, 2003.) revelaram que quanto mais elevadas a percepção de apoio social disponível proveniente de grupos específicos como pai, mãe, amigos, família e ainda de outros grupos existentes no contexto acadêmico, como professores e colegas, mais positivas e satisfatórias foram as percepções dos estudantes sobre suas vivências acadêmicas.

A análise entre as dimensões de apoio social e a variável gênero indicaram que as mulheres percebem maior apoio social- afetivo/emocional/informação/material do que os homens. Este resultado é compatível com o de Zanini, Verolla-Moura e Queiroz (2009ZANINI, Daniela Sacramento; VEROLLA-MOURA, Adriana; QUEIROZ, Ivana Pinheiro de Abreu Rabelo. Apoio social: aspectos da validade de constructo em estudantes universitários. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 14, n. 1, p. 195-202, jan./mar. 2009.) que em comparação entre os sexos constataram que as mulheres universitárias relataram mais apoio afetivo e material que os homens universitários. Este resultado também é, em parte, condizente com o de Griep et al. (2005GRIEP, Rosane Harter et al. Validade de constructo de escala de apoio social do Medical Outcomes Study adaptada para o português no Estudo Pró-Saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 703-714, 2005.) que ao comparar os sexos relata que mulheres possuem maiores redes sociais e demonstram ter mais envolvimento emocional com essas redes.

Ao realizar a análise do autoconceito observa-se que o fator satisfação pessoal obteve melhor pontuação. Embora utilizando o mesmo instrumento de avaliação este resultado diverge dos do encontrado por Ferreira e Martinelli (2012FERREIRA, Andressa Aparecida; MARTINELLI, Selma de Cássia. Autoconceito de estudantes universitários e nível técnico. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICAS DE ENSINO, 16., 2012, Campinas . Anais... Campinas: UNICAMP, 2012. p. 1-12.) que investigaram o autoconceito de universitárias e alunas de nível técnico e observaram que essas alunas possuíam níveis baixos de satisfação pessoal. A divergência entre os resultados desses estudos pode ter ocorrido devido ao fato de que a amostra do presente estudo ter sido predominantemente do gênero masculino enquanto o das autoras foi uma amostra exclusiva do gênero feminino. Os resultados encontrados por estes estudos parecem bastante interessantes e mereceriam ser mais explorados tanto no que diz respeito a novas amostras quanto na diversificação desses estudantes por outras áreas de formação.

5 Conclusão

De uma forma geral, e tratando das variáveis de interesse desse estudo, pode-se dizer que o apoio social tem se mostrado importante para os universitários, pois durante o processo formativo é exigido do aluno frequentes adaptações. Em relação ao autoconceito pode-se dizer que este assume importância fundamental em todas as etapas da vida, pois a autopercepção é adquirida no decorrer da existência pessoal e por meio das experiências vividas e das interpretações dessas vivências, o que repercutirá em todas as esferas pessoais dos indivíduos.

Os resultados da análise de correlação entre apoio social e autoconceito revelaram que houve uma correlação positiva entre as variáveis, onde os estudantes que se declaram mais satisfeitos pessoalmente e com melhor autoestima também se percebem mais apoiados socialmente nos aspectos afetivo, emocional e de informação, além de perceberem estabelecer interações sociais mais positivas. Este é um aspecto interessante revelado neste estudo e que não tem sido muito discutido pela literatura da área, pois existem poucos estudos que contemplam a relação do apoio social e autoconceito dessa população.

Os dados obtidos neste estudo sobre a relação do gênero e a percepção do apoio social, revelam que as estudantes mulheres sentem-se mais apoiadas que os universitários homens nos fatores afetivo, emocional, de informação e material. Este tema torna-se ponto de interesse para novas pesquisas em populações universitárias distintas.

Considera-se que os resultados apresentados, e as relações verificadas, ainda que exploratórios, revelaram dados novos e outros que caminham em consonância com outros estudos realizados e que ampliar as discussões relativas a este nível de ensino pode promover auxílio aos educadores e as Instituições de Ensino na identificação de fatores associados tanto ao desempenho acadêmico quanto ao desenvolvimento psicossocial destes estudantes. Esse conhecimento pode ser utilizado pelos gestores educacionais com a finalidade de promover a integração desses estudantes tanto à vida acadêmica quanto a sua futura vida profissional.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2017

Histórico

  • Recebido
    12 Maio 2015
  • Aceito
    27 Maio 2016
Publicação da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade de Sorocaba (UNISO). Rodovia Raposo Tavares, km. 92,5, CEP 18023-000 Sorocaba - São Paulo, Fone: (55 15) 2101-7016 , Fax : (55 15) 2101-7112 - Sorocaba - SP - Brazil
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