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Panorama da literatura científica brasileira sobre saúde mental na universidade: uma revisão sistemática

Panorama de la literatura científica brasileña sobre salud mental en la universidad: una revisión sistemática

Resumo

Com o objetivo de compreender o fenômeno saúde mental no contexto de trabalho das Instituições de Ensino Superior, esta revisão sistemática da literatura analisou as publicações nacionais no período entre 2011 e 2021. O levantamento da produção acadêmica ocorreu nos Periódicos CAPES, SciELO, Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Pepsic. Apenas 35 artigos atenderam aos critérios de inclusão. Os assuntos mais abordados relacionados à saúde mental dos servidores no ambiente acadêmico são: produtividade e transtornos mentais comuns, sofrimento mental/adoecimento, outros transtornos mentais, síndrome de burnout, contexto de trabalho e saúde mental. Os achados apontam para um maior número de publicações no ano de 2020, concentrados em periódicos da área da saúde, estudos empíricos, quantitativos, realizados na grande maioria em instituições públicas de ensino, preferencialmente com docentes, com predominância na região sudeste do país. Há lacunas por região, tema e categoria profissional, o que requer maiores esforços de pesquisas na área para melhor compreender o tema.

Palavras-chave:
saúde mental; servidores públicos; ensino superior

Resumen

Para comprender el fenómeno de la salud mental en el contexto laboral de las Instituciones de Educación Superior, esta revisión sistemática de literatura analizó publicaciones nacionales en el periodo comprendido entre 2011 y 2021. El levantamiento de la producción académica se realizó en las revistas CAPES, SciELO, Portal Regional de la Biblioteca Virtual en Salud (BVS) y Pepsic. Sólo 35 artículos cumplieron los criterios de inclusión. Los temas más abordados en relación con la salud mental de los funcionarios en el ámbito académico son: productividad y trastornos mentales comunes, angustia/enfermedad mental, otros trastornos mentales, síndrome de burnout, contexto laboral y salud mental. Los resultados apuntan a un mayor número de publicaciones en 2020, concentradas en revistas de salud, estudios empíricos, cuantitativos, realizados en su mayoría en instituciones educativas públicas, preferentemente con profesores, con predominio en la región sureste del país. Existen lagunas por regiones, temas y categorías profesionales, lo que requiere mayores esfuerzos de investigación en el área para comprender mejor el tema.

Palavras clave:
salud mental; funcionarios públicos; la educación superior

Abstract

In order to understand the phenomenon in the work context of Higher Education Institutions, this systematic literature review analyzed the national publications in the period between 2011 and 2021. The survey of the academic production occurred in the CAPES Periodicals, SciELO, Regional Portal of the Virtual Health Library (VHL) and Pepsic. Only 35 articles met the inclusion criteria. The majority addressed subjects related to the mental health of public employees in the academic environment were: productivity and common mental disorders, mental suffering/illness, other mental disorders, burnout syndrome, work context and mental health. Moreover, the results point to a greater number of publications in the year 2020, concentrated in health area journals, empirical, quantitative studies, carried out mostly in public educational institutions, preferably with professors, with predominance in the southeastern region of the country. There are gaps by region, theme and professional category, which requires greater research efforts in the area to better understand the theme.

Keywords:
mental health; public servants; higher education

1 Introdução

O ambiente acadêmico, sobretudo o das Instituições de Ensino Superior (IES), contribui para o progresso da civilização, a partir da sua atuação no campo das múltiplas ciências e no campo da arte, cultura e saberes diversos. Entretanto, ao mesmo tempo em que colabora com uma atuação relevante e variada para a sociedade, em seus bastidores, é frequentemente marcada por uma intensa cobrança por produtividade, que impacta docentes e técnicos administrativos, e que se soma a outras variadas situações que podem ser vivenciadas neste contexto como fatores de risco para a integridade da saúde mental desses indivíduos: sobrecarga de trabalho, comparação entre pares, precarização dos investimentos públicos e privados, dificuldades com relacionamento interpessoal, dentre outros fatores (ROBAZZI, 2019ROBAZZI, Maria Lucia do Carmo Cruz. Promoção da saúde física e mental e de bem estar no ambiente universitário. SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, [S.l], v. 15, n. 2, p. 1–3, ago. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2019.154951. Acesso em: 15 mar. 2022.
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).

Perez, Brun e Rodrigues (2019)PEREZ, Karine Vanessa; BRUN, Luciana Gisele; RODRIGUES, Carlos Manoel Lopes. Saúde mental no contexto universitário: desafios e práticas. Revista Trabalho (En)Cena, Palmas - TO, v. 4, n. 2, p. 357–365, dez. 2019. Disponível em: Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/encena/article/view/8093/16182. Acesso em: 15 mar. 2022.
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ressaltam que, apesar de ser um problema que tem impactado de forma relevante à comunidade acadêmica, as investigações sobre sofrimento psíquico neste ambiente são recentes, justificando esforços de pesquisa nessa direção. A literatura tem demonstrado que os servidores universitários vêm sendo comumente acometidos por distúrbios psíquicos que afetam a capacidade para lidar com eventos relacionados ao desenvolvimento laboral.

Estudo conduzido por Batista, Carlotto e Oliveira et al. (2015)BATISTA, Jaqueline Brito Vidal; CARLOTTO, Mary Sandra; OLIVEIRA, Malu Nunes de et al. Mental disorders that most affect university teachers: a study in a medical expertise service. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental, Rio de Janeiro, Brasil, v. 7, n. 5, p. 119–125, dez. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.9789/2175-5361.2015.v7i5.119-125. Acesso em: 05 jan. 2021.
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analisou as causas de afastamento de professores de uma IES localizada em João Pessoa/PB, tendo concluído que depressão foi o acometimento que mais provocou licença do trabalho, correspondendo a 53%, seguido de esquizofrenia (12%), transtorno bipolar (10%), reação aguda ao estresse (8%), ansiedade (7%), transtornos delirantes (4%) e outros (8%). Especificamente no contexto laboral, a síndrome de burnout tem se destacado entre os docentes. Conforme descrito no estudo de Leite et al. (2019)LEITE, Tatiane Isabela de Araújo et al. Prevalência e fatores associados da síndrome de Burnout em docentes universitários. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, São Paulo – SP, v. 17, n. 2, p. 170–179, 2019. Disponível em: http://www.rbmt.org.br/details/448/pt-BR/prevalencia-e-fatores-associados-da-sindrome-de-burnout-em-docentes-universitarios. Acesso em: 19 fev. 2022.
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, realizado com 100 docentes universitários de quatro instituições públicas e privadas em Rio Grande do Norte, 61.6% estavam em risco de desenvolver burnout; 35.3%, no início da instalação da doença; 2.1%, já possivelmente com a síndrome em curso e apenas 1% não apresentavam indícios.

Outro grupo vulnerável são os técnicos administrativos em educação. Com competências próprias do seu cargo, este grupo possui um papel estratégico para o funcionamento das instituições, pois atuam nos diversos setores para atender às demandas administrativas, financeiras, de pessoal, de laboratórios, entre outras atividades necessárias. A investigação de Mota, Silva e Amorim (2020)MOTA, Cynthia Araújo; SILVA, Alda Karoline Lima da; AMORIM, Keyla. Prevalência de transtornos mentais comuns em servidores técnico-administrativos em educação. Rev. Psicol. Organ. Trab. Brasília, v. 20, n. 1, p. 891-898, mar. 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2020.1.17691. Acesso em: 21 jan. 2022.
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identificou a prevalência de 37% de transtornos mentais comuns (TMC) nestes trabalhadores. Barbosa, Aquino e Asmus (2022)BARBOSA, Gabriela dos Santos; AQUINO, Diana Figueiredo de Santana; ASMUS, Rosa Maria Farias. Avaliação dos afastamentos por transtornos mentais entre servidores da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. In: ENIC, 13., 2022, Mato Grosso do Sul. Anais [...]. Mato Grosso do Sul: UEMS, 2022. Disponível em: https://anaisonline.uems.br/index.php/enic/article/view/7878. Acesso em: 10 mar. 2022.
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reafirmaram, em seu estudo, a vulnerabilidade deste grupo no ambiente laboral ao realizar uma avaliação dos afastamentos por transtornos mentais em servidores (técnicos administrativos e docentes) de uma universidade estadual, identificando que servidores técnico-administrativos tiveram ocorrência superior aos afastamentos de docentes, no período de 2018, 2019 e 2020, sendo respectivamente 61%, 60,1% e 66,7.

Os dados acima refletem a urgência e a relevância dessa temática, justificando a necessidade de ser amplamente discutida no ambiente de trabalho dentro das IES. Compreender a realidade de saúde mental desses trabalhadores no Brasil é condição prévia para implementar ações que fomentem o cuidado da saúde mental de servidores (professores e técnicos administrativos), que podem culminar em efeitos benéficos para estes, com melhoria da qualidade de vida, aumento da satisfação no trabalho, diminuição de afastamentos e evasão, prevenção de doenças e de agravamento de quadros de saúde mental, dentre outros (MACAMBIRA; TEIXEIRA, 2017MACAMBIRA, Dávila Dayana Castelo Branco; TEIXEIRA, Solange Maria. A saúde mental do trabalhar na era do capitalismo monopolista. In: JORNADA INTERNACIONAL POLÍTICAS PÚBLICAS, 8., 2017, Maranhão. Anais [...]. São Luís, Universidade Federal do Maranhão, 2017. p. 1–12. Disponível em: http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo2/asaudementaldotrabalhadornaeradocapitalismomonopolista.pdf. Acesso em: 05 fev. 2022.
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).

Ao estudar sobre a produção nacional a respeito do tema da saúde mental nas IES, ganha-se a oportunidade de compreender o fenômeno e, a partir dessa aproximação com a realidade, propor intervenções que possam favorecer experiências de bem-estar na academia. Assim, a proposta do estudo foi realizar uma revisão sistemática na literatura científica brasileira com o objetivo de compilar informações sobre o panorama da pesquisa nacional a respeito do tema na última década.

Espera-se que os achados dessa investigação possam contribuir para o entendimento do que vem sendo priorizado, quais as principais lacunas, qual a tendência e natureza dos estudos, bem como, o que deve ser incluída como agenda de pesquisa futura, de modo a disponibilizar uma fotografia fidedigna desse campo de investigação. Nesse sentido, essa revisão sistemática ocupou-se de analisar, selecionar, integrar e resumir os achados sobre saúde mental em IES, a partir de uma trajetória metodológica bem definida.

2 Método

A revisão sistemática é um método que permite investigar pesquisas originais de forma organizada, garantindo o acesso a um maior número de estudos relevantes. Parte de uma formulação de perguntas bem definidas, escolha de base de dados adequada, uso de descritores para busca e de estratégias de validação das evidências coletadas (DONATO; DONATO, 2019DONATO, Helena; DONATO, Mariana. Stages for undertaking a systematic review. Acta Medica Portuguesa, Portugal, v. 32, n. 3, p. 227–235, mar. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.20344/amp.11923. Acesso em: 06 fev. 2022.
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). Esse método segue protocolos específicos com embasamento teórico-metodológico (estado da arte) sobre um tema de pesquisa, resultante da reunião de informações de diversos estudos, que podem refutar ou confirmar resultados, destacando as possíveis lacunas na literatura, ou seja, configurando-se como um importante documento de consulta, com elevado nível de evidências, que pode fundamentar o processo de tomada de decisão sobre um assunto (GALVÃO; RICARTE, 2019GALVÃO, Maria Cristiane Barbosa; RICARTE, Ivan Luiz Marques. Revisão sistemática da literatura: conceituação, produção e publicação. Logeion: Filosofia da Informação, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 57–73, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.21728/logeion.2019v6n1.p57-73. Acesso em: 15 fev. 2022.
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).

Trata-se, portanto, de um instrumento adequado para contemplar o objetivo deste estudo. A revisão sistemática foi elaborada no ano de 2021 e buscou reunir artigos publicados em periódicos nacionais entre 2011 e 2021, tendo adotado como critério publicações depositadas apenas em periódicos científicos que passaram pelo crivo de mais de um parecerista e método duplo-cego, conforme recomendam-se as boas práticas em ciências. O levantamento bibliográfico compreendeu a produção nacional publicada nas seguintes bases de dados: Periódicos CAPES, SciELO, Portal regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Pepsic, todos indexadores e buscadores de credibilidade acadêmica.

A revisão contemplou tanto o principal indexador latino-americano de acesso aberto na área de ciências sociais e humanas – a SciELO, bem como aqueles de acesso restrito, disponíveis na plataforma CAPES, buscador completo e que integra as principais plataformas de publicação científica.

Para o recrutamento dos artigos, foram realizadas combinações dos descritores principais: saúde mental, funcionário e universidade, com o objetivo de identificar o público-alvo e o ambiente de interesse nas bases analisadas. Embora a literatura aponte como suficiente a busca através dos descritores padronizados, como cuidado adicional, a pesquisa utilizou também sinônimos dos mesmos na seleção do material. Para o descritor universidade, utilizou-se os sinônimos: instituto, instituição e faculdade. Para identificar funcionário, aplicou-se as palavras: trabalhador, servidor, docente, professor, educador, técnicos administrativos, comunidade acadêmica.

As combinações dos descritores ocorreram através dos operadores booleanos “and”, “or” e “and not”, tendo resultado na seguinte chave de busca: (Saúde mental) and (servidor or trabalhador ou funcionário or docente or professor or educador or “técnicos administrativos” or “comunidade acadêmica”) and (universidade or instituto or instituição or faculdade) and not (discentes or graduandos or alunos or estudantes). Foram selecionadas todas as publicações em que constasse os termos da pesquisa no título, resumo ou palavras-chave. A próxima etapa foi a seleção do material inicialmente recrutado, tendo sido adotados critérios de inclusão e exclusão de artigos, conforme segue:

Critérios de inclusão:

  • a) Artigos revisados por mais de um parecerista e duplo-cego;

  • b) Termos de interesse contidos no título, palavras-chave e/ou resumo;

  • c) Periódicos publicados em indexadores científicos;

  • d) Artigos nacionais;

  • e) Apenas artigos com foco em instituições de ensino superior;

  • f) Publicações ocorridas entre 2011 e 2021.

Critérios de exclusão:

  • a) Publicação repetida em mais de uma base de dados (duplicidades foram excluídas, sendo contabilizadas apenas uma vez);

  • b) Publicações fora do escopo de interesse, que não tratavam efetivamente da temática saúde mental na universidade.

O trabalho de coleta resultou numa amostra total de 528 estudos. Após adotados os critérios de exclusão, restaram 35 publicações para análise. A quantidade recrutada inicialmente foi bastante ampla por contemplar temas que abarcam uma extensa área da pesquisa científica, como é o caso da saúde mental. Mesmo adotando os operadores critérios booleanos, frequentemente, os sistemas entregaram material fora do escopo desejado. Os artigos resultantes foram tabulados por: categoria profissional (docentes, técnicos e misto), distribuição temporal-ano de publicação, região do país, tipo de IES, método e natureza da pesquisa, recorte temático, área de concentração do periódico.

A figura 1 disponibiliza um caminho detalhado do processo de recrutamento e seleção final dos artigos.

Figura 1
Processo de seleção dos artigos para revisão sistemática

3 Resultados e discussão

As publicações analisadas foram tabuladas em gráficos, tabelas e para melhor visualização dos dados.

Esta revisão apontou para uma quantidade mais expressiva de artigos exclusivamente com docentes (n = 23); seguidos de estudos mistos (n = 7), ou seja, aqueles que tinham como público-alvo docentes e técnicos administrativos e, por fim, estudos apenas com técnicos administrativos (n = 5), conforme descrito na tabela 1. Estes resultados refletem um maior interesse dos pesquisadores por investigar as demandas específicas dos docentes, que possuem maior visibilidade profissional em função de desenvolverem as atividades-fim da universidade (pesquisa, ensino, extensão), além de estarem sujeitos a pressões diárias por desempenho, cumprimento de prazos e produtividade (LEITE, 2017LEITE, Janete Luzia. Publicar ou perecer: a esfinge do produtivismo acadêmico. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 207–215, maio/ago. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-02592017v20n2p207. Acesso em: 17 jan. 2022.
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).

Tabela 1
Publicações por categoria profissional

O levantamento apresentou poucos estudos (14,29%) que tratam das questões que envolvem especificamente a saúde mental dos técnicos administrativos, embora seja este um público também vulnerável ao adoecimento e que possui questões desafiadoras inerentes à rotina laboral. Os achados indicam, portanto, escassez e, consequentemente, necessidade de investimento em pesquisas com esse público.

Os servidores técnico-administrativos, apesar de não atuarem nas atividades-fim, são essenciais para o funcionamento dos diversos dispositivos da universidade, estando sujeitos à organização de trabalho que, nem sempre, oferece condições para o melhor desempenho de suas atribuições, cenário que pode provocar experiências aversivas, geradoras de angústia, insegurança e medo, possíveis de se manifestarem por meio de doenças psíquicas. Estudo realizado com este grupo de servidores, por Leles e Amaral (2018)LELES, Letícia Cabral; AMARAL, Graziele Alves. Prazer e sofrimento no trabalho de servidores públicos: estudo de caso com técnico-administrativos em educação. Revista Laborativa, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 53–73, abr. 2018. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/233142273.pdf. Acesso em: 20 fev. 2022.
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, destacou que o sofrimento é fruto da inadequação das condições de trabalho, da sobrecarga, da gestão autoritária, da falta de reconhecimento e da rotina sem desafios. Além disso, o trabalho dos “bastidores”, apesar de essencial para a universidade, é muitas vezes invisível e passa despercebido por não se apresentar como o objetivo-fim da instituição (o ensino). A repercussão subjetiva de uma possível vivência de desvalor da atividade laboral é geradora de insatisfação e adoecimento, em razão do conteúdo simbólico do trabalho, de seus aspectos ocultos e das relações do profissional com sua atividade (FARIA; LEITE; SILVA, 2017FARIA, Renata Mercês Oliveira de; LEITE, Isabel Cristina Gonçalves; SILVA, Girlene Alves da. O sentido da relação trabalho e saúde para os assistentes em administração de uma universidade pública federal no Estado de Minas Gerais. Physis, Rio de Janeiro, v. 27, n. 3, p. 541–559, jul./set. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0103-73312017000300009. Acesso em: 12 fev. 2022.
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).

No que tange ao período de análise, evidenciou-se uma distribuição de pelo menos um estudo por ano investigado (2011 a 2021). O ano de 2020 destacou-se com maior produtividade, tendo uma representatividade de 20% no quadro de publicações do período (n = 7). Deste total, apenas 1 estudo investigou a saúde mental de docentes universitários, submetidos a condições laborais insalubres no contexto da pandemia de COVID-19 (MONTEIRO; SOUZA, 2020MONTEIRO, Bruno Massayuki Makimoto; SOUZA, José Carlos. Mental health and university teaching working conditions in the COVID 19 pandemic. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista, v. 9, n. 9, p. 1-16, aug. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.33448/rsd-v9i9.7660. Acesso em: 15 jan. 2022.
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), evento que mudou a topografia do trabalho universitário, tornando-o remoto, e produzindo desafios para os quais os trabalhadores não foram preparados. Ainda é cedo para afirmar se a quantidade de investigações sobre saúde mental desse público poderá ser ampliada com um possível interesse renovado na temática a partir deste evento. Estudos futuros poderão relatar o efeito da pandemia na relação entre saúde e trabalho, principalmente, os impactos causados nas relações profissionais e na saúde mental dos trabalhadores a longo prazo. No geral, apenas 35 publicações foram identificadas em pouco mais de uma década (distribuídas em públicos e amostras diferentes), conforme observado na tabela 2.

Tabela 2
Distribuição temporal das publicações no período de 2011 a 2021
Tabela 3
Características metodológicas dos trabalhos analisados

A análise das características metodológicas permitiu identificar que 74,29% dos estudos foram empíricos (n = 26), sendo distribuídos da seguinte forma: 22,85% métodos qualitativos (n = 8), 45,71% quantitativos (n = 16) e apenas 5,71% com métodos do tipo misto (quali/quanti) (n = 2). A predominância da abordagem quantitativa nas pesquisas empíricas selecionadas foi resultante do tipo de objetivo traçado na maioria dos estudos, que priorizou o uso de instrumentos de medida para mais de uma variável que influencia o processo de saúde e doença no contexto de trabalho, além do interesse em amostras mais amplas e com maiores possibilidades de generalização. Silva, Russo e Oliveira (2018)SILVA, Luciano Ferreira da; RUSSO, Rosária de Fátima Segger Macri; OLIVEIRA, Paulo Sergio Gonçalves de. Quantitativa ou qualitativa? Um alinhamento entre pesquisa, pesquisador e achados em pesquisas sociais. Pretexto, Belo Horizonte, v. 19, n. 4, p. 30-45, out./dez. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.21714/pretexto.v19i4.5647. Acesso em: 20 mar. 2022.
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ressaltam que no método quantitativo, o pesquisador faz uso de dados discretos, numéricos, analisando suas frequências e associações estatísticas de forma sistemática, permitindo uma exploração mais objetiva do fenômeno estudado. As pesquisas teóricas não tiveram tanta expressividade, alcançando 25,71% (n = 9), distribuídos em métodos distintos.

Tabela 4
Estudos empíricos distribuídos por região no período de 2011 a 2021

Ao verificar a distribuição por região do país, apesar da relevância do tema e da presença de Instituições de Ensino Superior em todo território nacional, os resultados apontam que não há representatividade igualitária de estudos empíricos (n = 26) distribuídos por região. O centro-oeste não apresentou resultados de trabalhos empíricos publicados com este recorte, apesar da existência de 285 IES na região, credenciadas ao Ministério da Educação, conforme censo (Ano 2021), por abrangência geográfica, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2023INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Censo da Educação Superior 2021: notas estatísticas. Brasília, DF: Inep, 2023. Disponível em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/resumo_tecnico_censo_da_educacao_superior_2021.pdf. Acesso em: 8 jul. 2023.
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). É sabido que as regiões brasileiras não apresentam realidades idênticas em termos de qualidade de vida, acesso a bens e serviços, níveis educacionais, investimentos públicos e cultura (MACEDO; PORTO, 2018MACEDO, Fernando Cézar de; PORTO, Leonardo. Existe uma política nacional de desenvolvimento regional no Brasil? Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, Taubaté, v. 14, n. 2, p. 605–631, abr. 2018. Disponível em: https://doi.org/https://doi.org/10.54399/rbgdr.v14i2.3639. Acesso em: 05 fev. 2022.
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). Nesse sentido, uma tendência regional nem sempre pode ser generalizada para outras áreas do território nacional. Por se tratar de contextos divergentes, a pesquisa sobre saúde mental na universidade merece ser ampliada regionalmente, principalmente no Norte e Centro-Oeste em que é bastante escassa ou inexistente, assegurando que realidades específicas de saúde mental sejam consideradas. De todo modo, com exceção do Sudeste, todas as regiões apresentaram menos de um estudo por ano no período analisado, justificando esforços de pesquisa na área.

Figura 2
Publicações entre instituições públicas e privadas

Foram encontrados apenas 3,85% (n = 1) dos estudos que tenha reunido tanto instituições públicas quanto privadas para investigar a prevalência de síndrome de burnout em professores universitários (COSTA; GIL-MONTE; POSSOBON et al., 2013COSTA, Ludmila da Silva Tavares; GIL-MONTE, Pedro Rafael; POSSOBON, Rosana de Fátima et al. Prevalência da Síndrome de Burnout em uma amostra de professores universitários brasileiros. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 26, n. 4, p. 636–642, dez. 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-79722013000400003. Acesso em: 10 jan. 2022.
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). Destaca-se que 88,46% (n = 23) dos estudos empíricos foram realizados em instituições públicas de ensino. Este resultado pode estar relacionado ao fato de a universidade pública possuir a pesquisa como parte de seu tripé (atividades de ensino, pesquisa e extensão), de modo que, ao investigar o fenômeno da saúde mental na academia, docentes, alunos e técnicos eventualmente utilizem a própria instituição como ambiente a ser investigado.

Com apenas 7,69% das pesquisas identificadas (n = 2), as instituições privadas dão conta de uma realidade complexa, por focarem, normalmente, no acúmulo de capital e em resultados concretos e mercadológicos, em detrimento do processo de trabalho e de ensino. Neste contexto, os profissionais parecem estar sujeitos a baixos salários, desvalorização da profissão, aumento da jornada de trabalho, instabilidade no emprego, precarização do trabalho, dentre outros elementos (FRIZZO; BOPSIN, 2017;FRIZZO, Giovanni; BOPSIN, Andressa. Saúde docente e a precarização do trabalho no curso de educação física na rede privada de ensino superior. Movimento, Porto Alegre, v. 23, n. 4, p. 1271–1282, out./dez. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.22456/1982-8918.72916. Acesso em: 12 jan. 2022.
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GEMELLI; CLOSS, 2023;GEMELLI, Catia; CLOSS, Lisiane. Precarização do trabalho docente de ensino superior em ies privadas brasileiras. Brazilian Business Review, Osório, RS, v. 20, n. 3, p. 339–361, 1 maio 2023. Disponível em: https://bbronline.com.br/index.php/bbr/article/download/740/1116. Acesso em: 06 jul. 2023.
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CUTRIM; LEDA, 2020;CUTRIM, R. S.; LEDA, D. B. A financeirização do ensino superior privado e suas repercussões na dinâmica prazer e sofrimento do trabalhador docente. Trabalho (En)Cena, Palmas - TO, Brasil, v. 5, n. 1, p. 53–74, 2020. DOI: 10.20873/2526-1487V5N1P53. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/encena/article/view/6499. Acesso em: 06 jul. 2023.
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/i...
BIELSCHOWSKY, 2020BIELSCHOWSKY, Carlos Eduardo. Tendências de precarização do ensino superior privado no Brasil. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Rio de Janeiro, Brasil, v. 36, n. 1, 11 maio 2020. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/rbpae/article/view/99946. Acesso em: 06 jul. 2023.
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), que diferenciam a rede privada das instituições públicas e requerem análise adicional no que tange às questões que envolvem a saúde do trabalhador. Há, portanto, lacunas na investigação científica para essa realidade específica.

Nas pesquisas de análises quantitativas, além de questionários sociodemográficos para caracterização das amostras, foram utilizados uma diversidade de instrumentos que apresentam evidências de validade para mensurar aspectos relacionados à saúde mental na universidade. Dentre os mais utilizados, destacam-se: o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) com uma frequência de 26,66% (n = 4) e o WHOQOL-bref, com 13,33% (n = 2).

O Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) foi desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde e objetiva avaliar a presença ou ausência de transtornos mentais. É um instrumento autoaplicável com escala dicotômica (sim ou não) para cada questão, sendo comumente utilizado em estudos brasileiros, especialmente, em grupos de trabalhadores (SANTOS et al., 2010SANTOS, Kionna Oliveira Bernardes et al. AVALIAÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE MENSURAÇÃO DE MORBIDADE PSÍQUICA: ESTUDO DE VALIDAÇÃO DO SELF-REPORTING QUESTIONNAIRE (SRQ-20). Revista Baiana de Saúde Pública, Bahia, v. 34, n. 3, p. 544–560, 1 jan. 2010. Disponível em: http://inseer.ibict.br/rbsp/index.php/rbsp/article/view/54. Acesso em: 10 fev. 2022.
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).

O WHOQOL-bref é a versão abreviada do World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100), composta por 26 questões. Duas delas são sobre a qualidade de vida no geral e as outras 24 compõem quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente (FLECK; LOUZADA; XAVIER et al., 2000FLECK, Marcelo P. A.; LOUZADA, Sérgio; XAVIER, Marta et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Rev Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 178-183, abr. 2000. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-89102000000200012. Acesso em: 10 jan. 2022.
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). As respostas são oferecidas em escala Likert de 1 a 5, em que uma maior pontuação reflete maior índice da qualidade de vida.

O recorte temático dos artigos selecionados também foi um ponto examinado por esta revisão sistemática. Os eixos temáticos foram tabulados e analisados conforme frequência em que foram apresentados nas 35 publicações, disponibilizado pela tabela 5, bem como nuvem de palavras, gerada pela plataforma Word It Out e ilustrado na Figura 3.

Tabela 5
Temas dos artigos após categorização no período de 2011 a 2021

Figura 3
Nuvem de palavras com assuntos debatidos (software Word It Out, 2021)

A nuvem de palavras é uma ferramenta visual que permite identificar e destacar com que frequência as palavras foram apresentadas no texto analisado. Quanto mais vezes for citada, maior e mais forte será a sua grafia na representação gráfica resultante da análise do software (DEMO; COSTA; COURA et al., 2020DEMO, Gisele; COSTA, Ana Carolina Rezende; COURA, Karla Veloso et al. What do scientific research say about the effectiveness of human resource management practices? Current itineraries and new possibilities. Revista de Administração da UNIMEP, Piracicaba - SP, v. 18, n. 3, p. 138–159, 2020. Disponível em: http://www.spell.org.br/documentos/ver/58624/what-do-scientific-research-say-about-the-effectiveness-of-human-resource-management-practices--current-itineraries-and-new-possibilities. Acesso em: 05 fev. 2022.
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). Em relação aos artigos selecionados, observa-se que os assuntos mais discutidos foram Produtividade e Transtornos Mentais Comuns, com uma frequência de 14,29% das publicações respectivamente, seguidos de: Outros transtornos mentais, Síndrome de burnout e contexto de trabalho e saúde mental, ambos com 8,57% de frequência. Os demais termos foram citados pelo menos uma única vez.

A nuvem de palavras sinaliza que as pesquisas sobre saúde mental, no contexto de trabalho das IES, têm enfatizado temas voltados para o diagnóstico do adoecimento psíquico, em detrimento de abordagens com foco na promoção de bem-estar e saúde mental dos trabalhadores. Esse achado é relevante por indicar uma escassez de pesquisas que ofereçam como resultado propostas de programas e intervenções em saúde mental do servidor, com foco preventivo e/ou interventivo, em nível institucional, para além das recomendações por intervenções clínicas individualizadas.

No serviço público federal, por exemplo, a portaria nº 1.261 da Secretaria de Recursos Humanos (SRH), de 04 de maio de 2010, estabelece um conjunto de parâmetros e diretrizes para nortear a elaboração de projetos voltados à saúde mental, instrumentalizando profissionais da área, bem como unidades de gestão de pessoas (BRASIL, 2010BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Portaria nº 1.261/2010 - Princípios, Diretrizes e Ações em Saúde Mental que visam orientar os órgãos e entidades do Sistema de Pessoal Civil. Brasília, DF, 2010. Disponível em: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=97&data=06/05/2010. Acesso em: 07 fev. 2022.
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). No entanto, nos últimos dez anos, a presente revisão encontrou apenas um estudo direcionado a projeto de saúde mental para os trabalhadores das instituições de ensino superior (TELLES; KLEIN; RIBEIRO et al., 2019TELLES, Leonardo Lessa; KLEIN, Vanessa Fausto; RIBEIRO, Ivete Alves Calado et al. O Projeto de Atenção à Saúde Mental dos Trabalhadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Prasmet: 20 anos. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 44, p. 1-9, nov. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2317-6369000004218. Acesso em: jan. 2022.
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). Este cenário demonstra a necessidade de maior esforço de promoção e publicização de pesquisas conduzidas por instituições de ensino e/ou pesquisadores independentes para promoção da saúde do trabalhador universitário, envolvendo ações, projetos ou programas voltados à melhoria das condições e das relações de trabalho, formação qualificada e desenvolvimento de competências profissionais para o enfrentamento de situações que possam produzir riscos à saúde.

Os temas mais abordados nas publicações analisadas, conforme sinalizado na tabela 5 e na nuvem de palavras, serão brevemente discutidos a seguir. Dos assuntos pesquisados, destaca-se a produtividade. Muito utilizado na indústria de transformação de bens, este termo é visto como uma métrica de eficiência da produção e tem sido adotado como ferramenta organizacional para atingir resultados, frequentemente, sem avaliar o impacto desse modelo produtivo para a qualidade e natureza do serviço ou bem produzido. Este fenômeno também tem sido adotado no ambiente acadêmico como uma medida para avaliar o desempenho do trabalhador através de disciplinas ofertadas, número de processos encaminhados, quantidade de publicações, etc., desconsiderando a natureza do serviço acadêmico (MATTOS; SCHLINDWEIN, 2015MATTOS, Cristiane Brum Marques de; SCHLINDWEIN, Vanderléia de Lurdes Dal Castel. "Excelência e produtividade": novos imperativos de gestão no serviço público. Psicol. Soc., Belo Horizonte, v. 27, n. 2, p. 322–331, ago. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27n2p322. Acesso em: 04 jan. 2022.
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), que tem como característica central a aprendizagem e a aquisição de um domínio técnico, crítico e reflexivo que demandam um ritmo e tempo próprios.

As publicações que tratam da produtividade no contexto acadêmico percorreram caminhos distintos para demonstrar que a organização do trabalho tem consequências sobre a saúde mental dos servidores. Esta não está relacionada apenas a divisão de tarefas, mas também é uma divisão social, que organiza vigilância, controle, ordens e hierarquias (DEJOURS, 2012DEJOURS, Christopher. Trabajar hoy: Nuevas formas del sufrimiento y de acción colectiva. In: WLOSKO, Miriam; ROS, Cecilia (org.). El trabajo entre el placer y el sufrimiento. Lanús: Remedios de Escalada: de la UNLa, 2012. p. 51–69. Disponível em: http://www.unla.edu.ar/novedades/nuevo-libro-digital-el-trabajo-entre-el-placer-y-el-sufrimiento. Acesso em 08 jul. 2023.
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). Mattos e Schlindwein (2015)MATTOS, Cristiane Brum Marques de; SCHLINDWEIN, Vanderléia de Lurdes Dal Castel. "Excelência e produtividade": novos imperativos de gestão no serviço público. Psicol. Soc., Belo Horizonte, v. 27, n. 2, p. 322–331, ago. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27n2p322. Acesso em: 04 jan. 2022.
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identificaram que a adoção de novas tecnologias e estabelecimento de metas focadas em resultados, bem como instrumentos avaliativos que valorizam exclusivamente a produtividade acadêmica exercem um nível de pressão que pode trazer risco à saúde dos profissionais (CASSANDRE, 2011CASSANDRE, Marcio Pascoal. A saúde de docentes de pós-graduação em universidades públicas: os danos causados pelas imposições do processo avaliativo. Rev. Mal-Estar Subj, Fortaleza, v. 11, n. 2, p. 779–816, 2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482011000200013&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 07 jan. 2022.
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). Frente a natureza do trabalho numa instituição de ensino, que requer maior esforço cognitivo, esta forma de organização também gera maior desgaste para a realização das atividades e manutenção de níveis elevados de desempenho, realidade geradora de sofrimento psíquico e de adoecimento da classe trabalhadora (BERNARDO, 2014;BERNARDO, Marcia Hespanhol. Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: o desgaste mental dos docentes. Psicologia & Sociedade, Recife, v. 26, p. 129–139, ago. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0102-71822014000500014. Acesso em: 05 jan. 2022.
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LEITE, 2017LEITE, Janete Luzia. Publicar ou perecer: a esfinge do produtivismo acadêmico. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 207–215, maio/ago. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-02592017v20n2p207. Acesso em: 17 jan. 2022.
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).

Dejours (2012)DEJOURS, Christopher. Trabajar hoy: Nuevas formas del sufrimiento y de acción colectiva. In: WLOSKO, Miriam; ROS, Cecilia (org.). El trabajo entre el placer y el sufrimiento. Lanús: Remedios de Escalada: de la UNLa, 2012. p. 51–69. Disponível em: http://www.unla.edu.ar/novedades/nuevo-libro-digital-el-trabajo-entre-el-placer-y-el-sufrimiento. Acesso em 08 jul. 2023.
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discute que a organização do trabalho sofreu mudanças ao longo dos anos, com a introdução de novos instrumentos no modelo de gestão, a exemplo de avaliação de desempenho e flexibilidade de contratação. No serviço público, tais mudanças foram influenciadas por movimentos reformistas como a filosofia de gestão conhecida como new public management, que orientou a introdução de práticas gestoras oriundas da iniciativa privada, com vistas a alcançar melhor eficiência e eficácia a partir da redução das diferenças entre público e o privado (LAPUENTE; VAN DE WALLE, 2020LAPUENTE, Victor; VAN DE WALLE, Steven. The effects of new public management on the quality of public services. Governance, EUA, v. 33, n. 3, p. 461–475, 2020. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/gove.12502. Acesso em: 07 jul. 2023.
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), o que nem sempre impactou de maneira positiva a organização ou os trabalhadores. No caso das IES, por exemplo, ao longo dos anos, movimentos políticos e processos de gestão têm produzido incertezas sobre o futuro das Universidades, a partir da adoção de políticas como privatizações, desinvestimento financeiro, enxugamento da força de trabalho, flexibilização, terceirização, desregulamentação trabalhista e redução do papel do Estado.

Outra temática muito evidenciada no material analisado foi a de Transtornos Mentais Comuns (TMC), referindo-se à situação de saúde do indivíduo, que não preenche critérios formais suficientes para diagnósticos de transtornos depressivos e/ou de transtornos de ansiedade, segundo as classificações do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - 5ª edição - DSM 5 e da Classificação Internacional de Doenças - 11ª revisão - CID-11 (SANTOS; ALVES; GOLDBAUM et al., 2019SANTOS, Gustavo de Brito Venâncio dos; ALVES, Maria Cecilia Goi Porto; GOLDBAUM, Moises et al. Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados em moradores da área urbana de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. 11, p. 1-10, nov. 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00236318. Acesso em: 02 mar. 2022.
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).

O TMC é caracterizado por estados depressivos/ansiosos, sintomas somáticos, fadiga, problemas com o sono, irritabilidade, dificuldade de memorização e concentração, manifestando-se como um misto de sintomas ansiosos, depressivos e somáticos (MOTA; SILVA; AMORIM, 2020MOTA, Cynthia Araújo; SILVA, Alda Karoline Lima da; AMORIM, Keyla. Prevalência de transtornos mentais comuns em servidores técnico-administrativos em educação. Rev. Psicol. Organ. Trab. Brasília, v. 20, n. 1, p. 891-898, mar. 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2020.1.17691. Acesso em: 21 jan. 2022.
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). A pesquisa destes autores, realizada com trabalhadores acadêmicos, ocupou-se de analisar a relação entre o adoecimento psíquico e a atividade de trabalho, a prevalência de transtornos mentais comuns e os afastamentos do trabalho por motivos de adoecimento psíquico, tendo identificado o quantitativo de 37% destes transtornos entre os trabalhadores técnico-administrativos. Outro estudo (FERREIRA; SILVEIRA; SÁ et al., 2015FERREIRA, Raquel Conceição; SILVEIRA, Alessandra Pastore da; SÁ, Maria Aparecida Barbosa de et al. Transtorno mental e estressores no trabalho entre professores universitários da área da saúde. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 135–155, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-7746-sip00042. Acesso em: 17 jan. 2022.
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) avaliou a associação entre TMC e estressores no trabalho em docentes da área da saúde, sinalizando a presença de problemas dessa natureza em 19,5% dos participantes. Na investigação conduzida por Campos, Véras e Araújo (2020)CAMPOS, Taís Cordeiro; VÉRAS, Renata Meira; ARAÚJO, Tânia Maria de. Transtornos mentais comuns em docentes do ensino superior: evidências de aspectos sociodemográficos e do trabalho. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, Campinas; Sorocaba, v. 25, n. 3, p. 745–768, set./dez. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-40772020000300012. Acesso em: 05 jan. 2022.
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, estimou-se a prevalência de 29,9% de transtornos mentais em docentes de uma IES pública.

Alguns dos estudos encontrados nesta revisão objetivaram investigar a prevalência desses transtornos em trabalhadores acadêmicos. Logo, considerando que os resultados encontrados apontam para uma situação geral preocupante no que se refere à saúde de trabalhadores universitários, há boas razões para a realização de novos estudos que contemplem possíveis especificidades de cargos ocupados nas universidades e as diversas regiões do país, bem como particularidades de instituições públicas e privadas. Informações direcionadas favorecem intervenções mais eficientes e focadas em cada realidade.

Das diversas condições que podem acometer a saúde mental de um indivíduo, uma em particular é conhecida por descrever o adoecimento gerado especificamente na relação com o contexto laboral – a Síndrome de burnout (SB). Esta é compreendida como uma resposta patológica ao estresse crônico relacionado ao trabalho (PRADO; BASTIANINI; CAVALLERI et al., 2017PRADO, Rosana Leal do; BASTIANINI, Mariana Esperendi; CAVALLERI, Matheus Zanelato et al. Avaliação da síndrome de Burnout em professores universitários. Revista da ABENO, Porto Alegre, v. 17, n. 3, p. 21–29, set. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.30979/rev.abeno.v17i3.409. Acesso em: 05 mar. 2022.
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), sendo constituída por três fatores: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. A exaustão emocional envolve falta de entusiasmo e sentimento de esgotamento; na despersonalização, o trabalhador passa a se distanciar de sua função, dos colegas e da organização; enquanto na baixa realização, a pessoa sente insatisfação com seu desempenho e desenvolvimento na carreira (MENEZES; ALVES; ARAÚJO NETO et al., 2017MENEZES, Priscilla Costa Melquíades; ALVES, Érica Surama Ribeiro César; ARAÚJO NETO, Severino Aires de et al. Síndrome de Burnout: uma análise reflexiva. Revista de Enfermagem UFPE, Recife, v. 11, n. 12, p. 5092-5101, dez. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i12a25086p5092-5101-2017. Acesso em: 02 mar. 2022.
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).

O trabalho como fator determinante da condição de saúde foi o objeto de investigação de alguns estudos selecionados na revisão. Costa, Gil-Monte e Possodon et al. (2013)COSTA, Ludmila da Silva Tavares; GIL-MONTE, Pedro Rafael; POSSOBON, Rosana de Fátima et al. Prevalência da Síndrome de Burnout em uma amostra de professores universitários brasileiros. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 26, n. 4, p. 636–642, dez. 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-79722013000400003. Acesso em: 10 jan. 2022.
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analisaram a prevalência da Síndrome de burnout em professores universitários e os resultados apontaram que 11,2% dos docentes investigados possuíam perfil compatível com o diagnóstico. Menezes, Alves e Araújo Neto et al. (2017)MENEZES, Priscilla Costa Melquíades; ALVES, Érica Surama Ribeiro César; ARAÚJO NETO, Severino Aires de et al. Síndrome de burnout: avaliação de risco em professores de nível superior. Rev. Enferm. UFPE, Recife, v. 11, n. 11, p. 4351–4359, nov. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.5205/reuol.23542-49901-1-ED.1111201711. Acesso em: 10 jan. 2022.
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avaliaram fatores de risco para a síndrome em docentes do nível superior e os achados demonstraram que 54% dos professores encontravam-se no nível intermediário de risco (41 a 60 pontos), que determina a fase inicial do burnout. A revisão integrativa de Ferreira e Pezuc (2021)FERREIRA, Elizabete Cazzolato; PEZUK, Julia Alejandra. Síndrome de Burn-out: um olhar para o esgotamento profissional do docente universitário. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, Campinas; Sorocaba, v. 26, n. 2, p. 483–502, maio/ago. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-40772021000200008. Acesso em: 15 jan. 2022.
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investigou sobre a abordagem da exaustão física e emocional que caracterizam a síndrome de burnout em professores universitários, evidenciando fatores precursores do adoecimento, como ambiente de alta pressão, cultura e política organizacional, baixos salários, perspectiva duvidosa quanto ao crescimento profissional, excesso de carga horária, instabilidade de disciplinas e desinteresse de estudantes.

Observa-se que os artigos identificados que investigaram síndrome de burnout foram conduzidos exclusivamente com a categoria docente, o que torna evidente a carência de estudos que investiguem esse fenômeno entre os técnicos administrativos, profissionais também inseridos no ambiente acadêmico, com desafios próprios, e expostos a condições que podem trazer risco a sua saúde.

Outro tema em destaque na revisão foi relacionado aos demais transtornos mentais, de maior gravidade, caracterizados por perturbações clinicamente significativas na cognição, na regulação emocional ou no comportamento dos indivíduos, estando frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativa que afeta as atividades da vida no geral, incluindo aquelas realizadas no âmbito profissional (APA, 2014APA. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.).

Bastos, Silva Júnior, Domingos et al. (2018)BASTOS, Maria Luiza Almeida; SILVA JÚNIOR, Geraldo Bezerra da; DOMINGOS, Elza Teresa Costa et al. Afastamentos do trabalho por transtornos mentais: um estudo de caso com servidores públicos em uma instituição de ensino no Ceará, Brasil. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 53–59, jan./mar. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.5327/Z1679443520180167. Acesso em: jan. 2022.
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descreveram os afastamentos dos servidores de um instituto federal por transtornos mentais mais graves, tendo encontrado que 3% dos funcionários foram afastados de suas atividades por dificuldades dessa natureza. Com o objetivo de verificar como as pessoas compreendem esse tema, Cândido, Oliveira, Monteiro et al. (2012)CÂNDIDO, Maria Rosilene; OLIVEIRA, Edina Araújo Rodrigues; MONTEIRO, Claudete Ferreira de Souza et al. Concepts and prejudices on mental disorders: a necessary debate. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Alcool Drog, Ribeirão Preto, v. 8, n. 3, p. 110–117, dec. 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762012000300002&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 06 jan. 2022.
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investigaram o estigma manifesto nos discursos de um grupo de servidores de uma instituição de ensino superior sobre transtorno mental, identificando que não havia definição clara sobre o assunto, embora apresente uma relação, socialmente construída, entre preconceito e sofrimento psíquico. Já o estudo de Batista, Carlotto e Oliveira et al. (2015)BATISTA, Jaqueline Brito Vidal; CARLOTTO, Mary Sandra; OLIVEIRA, Malu Nunes de et al. Mental disorders that most affect university teachers: a study in a medical expertise service. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental, Rio de Janeiro, Brasil, v. 7, n. 5, p. 119–125, dez. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.9789/2175-5361.2015.v7i5.119-125. Acesso em: 05 jan. 2021.
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buscou identificar os transtornos mentais que mais provocavam afastamento de docentes em uma IES, evidenciando que a depressão foi responsável por 53% dos afastamentos de professores, a esquizofrenia (12%), o transtorno bipolar (10%), a reação aguda ao estresse (8%), a ansiedade (7%), os transtornos delirantes (4%) e outros (8%). Indica-se a necessidade de novas pesquisas que investiguem a prevalência de transtornos mentais em servidores universitários, quais fatores de risco associados ao trabalho podem contribuir para o desenvolvimento dos mesmos e quais estratégias de prevenção e tratamento podem ser desenvolvidas para este público.

Embora sejam dados expressivos que evidenciam problemas psíquicos que acometem servidores, é possível que eles ainda não reflitam a realidade, pois nem sempre o adoecimento é causa de afastamento das atividades laborais. Além disso, frequentemente, docentes e técnicos que se afastam de suas atividades ou continuam no exercício da profissão, mesmo com quadro de adoecimento mental, sobrecarregam outros colegas, que precisam assumir mais atribuições e, como efeito cascata, comprometem a qualidade dos processos administrativos e do ensino, pesquisa e extensão, além do impacto na saúde mental destes. Este cenário pode influenciar negativamente as vivências acadêmicas dos alunos, prejudicando, inclusive, a permanência do estudante no ensino superior até o fim do curso, inviabilizando, em muitos casos, a execução de qualidade da atividade-fim da IES (DHINGRA; KLONSKY; TAPOLA, 2019;DHINGRA, Katie; KLONSKY, E. David; TAPOLA, Vojna. An empirical test of the three-step theory of suicide in U.K. university students. Suicide and Life-Threatening Behavior, U.K, v. 49, n. 2, p. 478–487, 2019. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29604120/. Acesso em: 06 jul. 2023.
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LOPES et al., 2019LOPES, José Milton et al. Ansiedade versus desempenho acadêmico: uma análise entre estudantes universitários. Ciências Biológicas e de Saúde Unit, Alagoas, v. 5, n. 2, p. 137–150, 2019. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/fitsbiosaude/article/view/6151. Acesso em: 03 jul. 2023.
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).

Outros temas listados a partir do acesso ao material selecionado são pontuais e encontram-se dispersos ao longo dos anos, embora tratem sobre questões relevantes do processo de saúde e doença no contexto de trabalho, como por exemplo: sono e qualidade de vida, estado de humor do trabalhador, saúde mental na pandemia de Covid-19, capacidade para o trabalho por estilo de vida e perfil do trabalhador. A escassez de achados sobre essas temáticas revela a necessidade de investimentos de uma agenda de pesquisa na área, de modo a tornar mais robusto o conhecimento científico sobre essas pautas, favorecendo ações que possam minimizar o risco de adoecimento mental na universidade.

Para efeito comparativo sobre a condição de saúde mental no contexto acadêmico em outros países, a literatura internacional foi investigada, não tendo sido encontrado estudos sistemáticos sobre o assunto com o mesmo recorte e em período similar ao dessa investigação. No entanto, como uma importante contribuição sobre o tema, Kezar, DePaola e Scott (2019)KEZAR, Adrianna; DEPAOLA, Tom; SCOTT, Daniel T. The gig academy: mapping labor in the neoliberal university, Baltimore, Johns Hopkins University Press, 2019. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=1OCwDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR5&ots=_Fu_gcPA3M&sig=Za7hjrABNKqRgwEfAdrqHmhMSx8&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 06 jul. 2023.
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trazem um vasto debate sobre o adoecimento mental de trabalhadores universitários em tempos neoliberais e de reestruturação laboral, em escala global, tendo como foco não exclusivo, mas predominante, a atividade docente. Os autores abrangem a precarização dos salários, a substituição de professores efetivos por um massivo contingente de docentes temporários, com remuneração inferior e sem as titulações devidas, debatendo os efeitos para a saúde metal dos trabalhadores (inseguranças, isolamento, burnout, sentimento de desvalor). Alertam para os problemas desse período em que parece haver, de forma crescente, um distanciamento entre funcionários e gestores universitários, estando estes últimos mais interessados em lucratividade do que na qualidade da educação.

Esta revisão sistemática permitiu identificar que as publicações sobre o tema saúde mental de servidores no contexto das IES têm sido disseminadas por revistas especializadas em diversos campos do conhecimento, tendo ao menos um trabalho publicado por área de concentração mencionada em cada periódico, conforme apresentado na tabela 6. A maior concentração das publicações está em periódicos com escopo de interesse amplo, como a área de ciências humanas e sociais (32%), ciências da saúde (26%) e multidisciplinar (17%), o que contempla um perfil variado de leitores e pesquisadores. Embora provavelmente os periódicos supracitados sejam acessíveis para estudiosos em educação, pode ser interessante reforçar a submissão de artigos sobre o tema em revistas especializadas nesta área, de modo a direcionar o problema enquanto um desafio para a educação superior, tendo em vista as consequências que os danos à saúde mental podem gerar para a IES (afastamentos, sobrecarga do quadro de pessoal remanescente, prejuízos ao processo de ensinoaprendizagem) e para os servidores, causando sofrimento, gastos com saúde e dificuldades laborais, pessoais, sociais e familiares (BARBOSA; AQUINO; ASMUS, 2022BARBOSA, Gabriela dos Santos; AQUINO, Diana Figueiredo de Santana; ASMUS, Rosa Maria Farias. Avaliação dos afastamentos por transtornos mentais entre servidores da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. In: ENIC, 13., 2022, Mato Grosso do Sul. Anais [...]. Mato Grosso do Sul: UEMS, 2022. Disponível em: https://anaisonline.uems.br/index.php/enic/article/view/7878. Acesso em: 10 mar. 2022.
https://anaisonline.uems.br/index.php/en...
).

Tabela 6
Artigos categorizados por área de concentração do periódico

4 Considerações finais

O processo de expansão universitária implementado nos últimos anos, impactou não apenas na inclusão e ampliação de acesso aos estudantes no ensino superior, como também oportunizou o ingresso de novos trabalhadores para ampliar a oferta dos serviços educacionais (ANDRIOLA; ARAÚJO, 2021ANDRIOLA, Wagner Bandeira; ARAÚJO, Adriana Castro. Avaliação dos impactos do Programa de Apoio a Planos de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais Brasileiras. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 102, n. 261, p. 437–464, ago. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.102i261.4462. Acesso em: 03 mar. 2022.
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). No entanto, a ampliação da comunidade universitária não veio acompanhada de modelos de gestão focados nas vivências desses trabalhadores, de modo que a forma como o ambiente acadêmico tem sido organizado não raras vezes também afeta a rotina laboral, produzindo consequências para a saúde mental, conforme discussão já tratada acima.

Para melhor compreensão da questão da saúde mental na universidade, esta revisão sistemática integrou publicações de indexadores tanto de acesso aberto quanto de uso restrito, levando em conta o período correspondido entre os anos de 2011 a 2021. O resultado desta busca identificou apenas 35 publicações com o recorte temático de interesse em periódicos científicos de qualidade. Optou-se pela análise de publicações que passaram pela avaliação de pareceristas, na modalidade duplo-cego, de modo a assegurar a confiabilidade do material. Naturalmente, existem outras formas de produção do conhecimento, disponibilizadas em livros, teses e dissertações, sendo possível ampliar o escopo de análise em revisões futuras.

Após tabulação dos dados, verificou-se que os assuntos mais abordados que afetam os servidores de IES em suas condições de saúde mental estão relacionados à produtividade, aos transtornos mentais comuns e severos, além da Síndrome de Burnout. São temas relevantes que perturbam negativamente a vida dos trabalhadores, justificando o interesse de pesquisadores. No entanto, a saúde mental é um tema amplo, fazendo-se necessário que outras abordagens e conteúdos ligados à questão sejam investigados, principalmente, aqueles voltados à promoção do bem-estar e da qualidade de vida destes profissionais.

Por último, notou-se que a maioria dos estudos foi realizada com docentes, havendo pouco espaço para investigações com técnicos-administrativos. Adicionalmente, outros achados importantes foram observados, com ênfase para o ano de 2020, que apresentou maior produtividade sobre o tema analisado. As publicações foram concentradas em periódicos da área de ciências da saúde. A região sudeste teve maior concentração dos estudos empíricos, os quais foram realizados quase que integralmente em instituições públicas de ensino superior, com destaque para métodos quantitativos.

O tema saúde mental na universidade é amplo e relevante para a comunidade acadêmica. Logo, ampliar o escopo de pesquisa para preencher as lacunas observadas é um desafio a ser empreendido em investigações futuras. Além disso, uma melhor compreensão sobre o fenômeno permite a elaboração de ações, projetos ou programas que tenham potencial para acolher as demandas dos trabalhadores.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    24 Maio 2022
  • Aceito
    29 Jun 2023
  • Revisado
    06 Ago 2023
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