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O relatório técnico do grupo de trabalho de produção técnica da CAPES: uma visão crítica

El informe técnico del grupo de trabajo de producción Técnica de la CAPES: una visión crítica

Resumo

O presente trabalho buscou realizar uma análise do relatório técnico da Capes, sobre avaliação de produtos técnicos e tecnológicos, produzido pelo grupo de trabalho responsável, em 2019, com o objetivo de avaliar sua adequação instrumental. Para nossas análises, utilizamos a literatura que aborda as características que, necessariamente, devem estar presentes em relatórios técnicos ou tecnológicos, dando suporte às nossas conclusões. Como resultado, identificamos evidências de que o relatório técnico da Capes não reúne as condições necessárias para figurar como um instrumento viável à uma aplicação na análise de outros relatórios técnicos.

Palavras-chave:
relatório técnico; literatura cinza; avaliação

Resumen

El presente trabajo buscó realizar un análisis del informe técnico Capes, sobre la evaluación de productos técnicos y tecnológicos, elaborado por el grupo de trabajo responsable, en el año 2019. Nos propusimos evaluar su adecuación instrumental. Para nuestro análisis y nuestras conclusiones, utilizamos la literatura que aborda los características que, obligatoriamente, deberán estar presentes en los informes técnicos o tecnológicos. Como resultado, identificamos evidencias de que el informe técnico Capes no reúne las condiciones necesarias para convertirse en un instrumento viable para su aplicación en el análisis de otros informes técnicos.

Palavras clave:
relato técnico; literatura gris; evaluación

Abstract

This paper attempted to perform an analysis of the technical report for assessment of technical and technological products born from working group by Capes, in 2019. We aimed evaluate its instrumental adequacy. Our analysis applaied the literature about characteristics that must necessarily be present in technical or technological reports to support our conclusions. As a result, we found evidence that the Capes' technical report about assessment technical and technological products doesn't suit the necessary characteristics to be established as applicable assessment instrument over other technical reports.

Keywords:
technical report; gray literature; assessment

1 Introdução

Um relatório é um documento sintético e orgânico, no qual se registram os raciocínios e as atividades acerca de um tema, com o objetivo fundamental de comunicá-los, seja ao próprio autor, em momentos futuros, ou a terceiros. Relatórios ou relatos técnicos ou tecnológicos acadêmico-científicos ou acadêmico-pedagógicos são, entre outros tipos de documentos, integrantes da espécie “literatura cinza”, caracterizados como manuscritos informais, de circulação restrita e não submetidos à revisão por pares (ou em sentido mais amplo, não editados ou publicados por circuitos de acesso público convencional), entendidos como elementos passíveis de contribuir, efetivamente, para a divulgação do conhecimento e, como tais, exigem a existência de critérios claros, que possibilitem sua avaliação e uma qualidade aceitável do texto final, como forma de seleção (Botelho; Oliveira, 2015BOTELHO, Rafael Guimarães; OLIVEIRA, Cristina da Cruz de. Literaturas branca e cinzenta: uma revisão conceitual. Ci.Inf., Brasília, DF, v. 44 n. 3, p. 501-513, 2015. Disponível em: https://www.brapci.inf.br/_repositorio/2017/06/pdf_856f1f5dcd_0000023339.pdf. Acesso em: 13 nov. 2022.
https://www.brapci.inf.br/_repositorio/2...
).

Preocupada com as questões relativas à adequada comunicação e avaliação da produção desse tipo de literatura, no interior dos Programas de Pós-Graduação (PPG), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2019, constituiu o Grupo de Trabalho de Produção Técnica (GTPT), com representantes de todas as Áreas de Avaliação da Capes, que buscou normatizar os critérios para avaliação do que, entre outros produtos, denominou “Relatório Técnico Conclusivo-RTC”, definido como

Texto elaborado de maneira concisa, contendo informações sobre o projeto/atividade realizado, desde seu planejamento até as conclusões. Indica em seu conteúdo a relevância dos resultados e conclusão em termos de impacto social e/ou econômico e a aplicação do conhecimento produzido (Brasil, 2019, p. 52BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-d...
).

Nesse sentido, foram realizadas várias reuniões para deliberações e decisões sobre o Relatório do GTPT (Brasil, 2019BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-d...
), que contou com as seguintes etapas:

• Etapa 1 – Avaliação dos resultados alcançados no estudo realizado previamente pelo GT 06 CAPES (2015/2016); • Etapa 2 – Consulta a todas as áreas de avaliação sobre a importância de cada uma das 62 produções técnicas elencadas na tabela 1, realizada por meio de formulário eletrônico (Anexo 1); • Etapa 3 – Análise da relevância atribuída pelas áreas para cada produção técnica (Anexo 2), e agrupamento de produções semelhantes; • Etapa 4 – Conceitos aplicados ao Estudo e conversão da produção técnica mais relevante em Produtos e não nos processos envolvidos; • Etapa 5 – elaboração das definições, campos descritivos e exemplos para cada produto, utilizando como base os critérios de estratificação estabelecidos em estudo anterior; •Etapa 6 – Avaliação dos resultados alcançados e elaboração do relatório final (Brasil, 2019, p. 10BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
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).

Dentro desse contexto, considerando a importância de qualificar a produção de documentação cinza, no interior dos PPG, o presente trabalho buscou analisar o Relatório do GTPT, frente à literatura, a fim de avaliar sua adequação como instrumento orientador na constituição de critérios e indicadores que sustentem a avaliação de relatórios técnicos como produtos aptos à divulgação qualificada do conhecimento técnico e tecnológico, com abordagem científica.

2 Referencial teórico

Para Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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, um relatório é um documento, no qual se descrevem, sistemática e organicamente, os raciocínios e as atividades acerca de um tema, exigindo operações mentais complexas como organizar, sintetizar, argumentar, analisar, contrapor, justificar, compor e propor. Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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propõem a denominação “artigo tecnológico” ou “relato técnico” como sendo:

[...] trabalhos com uma abordagem focada na solução de problemas de caráter prático, mas sem deixar de lado o rigor científico[...][ainda] artigos tecnológicos são produções com ênfase profissional, cujo objetivo é apresentar solução para um problema[...]Ele também deve ter uma redação caracterizada por linguagem acessível à sua audiência, que em geral é formada não apenas por acadêmicos, mas por profissionais de mercado[...] (Martens; Pedron; Oliveira, 2021, p. 143MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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).

Biancolino et al (2012)BIANCOLINO, César Augusto et al. Protocolo para elaboração de relatos de produção técnica. Revista de Gestão e Projetos -GeP, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 294-307, 2011. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/gep/article/view/9467/4224. Acesso em: 18 fev. 2023.
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definem relato técnico como sendo o produto final descritivo de uma pesquisa aplicada ou produção técnica, elaborado com rigor científico e metodológico, e complementam, considerando a área organizacional:

O relato técnico segue o formato de um artigo científico curto (7 a 10 páginas, já incluindo as referências). Portanto, o relato técnico deve: (1) apresentar a diferenciação básica de, ao invés de analisar um objeto teórico/empírico convencional, descrever uma intervenção[...]; e (2) propor melhorias/resultados práticos e concretos que possam ser adotados futuramente[...]com o apoio de referencial teórico da área (Biancolino et al., 2012, p. 299BIANCOLINO, César Augusto et al. Protocolo para elaboração de relatos de produção técnica. Revista de Gestão e Projetos -GeP, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 294-307, 2011. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/gep/article/view/9467/4224. Acesso em: 18 fev. 2023.
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).

Ainda, conforme Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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, entendemos que um manuscrito contendo soluções conhecidas para problemas conhecidos, sem uma inovação aparente, não se caracteriza como um relato técnico acadêmico-científico e sim algo como um relato técnico acadêmico-pedagógico, semelhante ao que também propõem Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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. Nesse sentido, Biancolino et al (2012)BIANCOLINO, César Augusto et al. Protocolo para elaboração de relatos de produção técnica. Revista de Gestão e Projetos -GeP, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 294-307, 2011. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/gep/article/view/9467/4224. Acesso em: 18 fev. 2023.
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e Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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trazem as características necessárias a um relato técnico, características que o aproximam de um artigo científico e das proposições presentes em Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
https://www.redalyc.org/pdf/2030/2030149...
, Motta (2017)MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
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e Souza (2022)SOUZA, Marcos de. A pesquisa científica e seus títulos. Revista Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 01, p. 3-23, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/article/view/52267. Acesso em: 13 nov. 2022.
https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/a...
, como podem ser observadas na Tabela 1.

Tabela 1
Critérios de qualidade para um relato técnico

Como deixam claro Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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e Motta (2017)MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
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, um artigo é um tipo de relatório mais rigoroso, originado de pesquisa acadêmica e, podemos acrescentar, submetido à revisão por pares.

A qualidade científica de um Artigo Tecnológico não difere em relação aos artigos tradicionais[...]a diferença entre artigos científicos e tecnológicos está na abordagem da pesquisa e, em alguns casos, na audiência (Motta, 2017, p. 03MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
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).

Em regra, um relatório é constituído por elementos pré-textuais (capa, folha de rosto e anverso da folha de rosto), elementos textuais (introdução, desenvolvimento e conclusão), e elementos pós-textuais (referências, anexo e glossário), variando quanto à forma e conteúdo desses elementos, nas diferentes seções do manuscrito, de acordo com suas finalidades, seu propósito, seu conteúdo, seu público-alvo e seu veículo de comunicação (SOUBHIA; RUFFINO; DESSUNTI, 2005SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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; SAVICKAS, 2009SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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; MARTENS; PEDRON; OLIVEIRA, 2021MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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). Seja qual for o tipo de relatório, ele possui um objetivo fundamental, a comunicação, e uma exigência básica, apresentação de informações úteis e pertinentes, escritas de forma clara, parcimoniosa, orgânica e fundamentada. Como resultado, o relatório agrega informações de várias fontes consultáveis, para conhecimento de terceiros, e possibilita, a partir do esforço cognitivo para a constituição de uma síntese, o enriquecimento dos conceitos subsunçores pessoais de quem o elabora.

[...] o conceito subsunçor, para alguns autores (1-3), é o conceito que serve de ancoradouro para novas informações que vão sendo incorporadas na estrutura cognitiva do indivíduo, no decorrer da sua história, por meio dos processos de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa. À medida que novas informações vão sendo assimiladas, o conceito subsunçor vai-se fortalecendo e tornando-se mais abrangente [...] (Soubhia; Ruffino; Dessunti, 2005, p. 270SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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).

Nessa direção, Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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, em um estudo onde analisaram 83 relatórios acadêmicos de estudantes de dois grupos diferentes do curso de Enfermagem, se valeram de uma metodologia em que foram realizadas duas leituras (na primeira, buscaram tomar conhecimento do conteúdo do trabalho e, na segunda, utilizaram o grifo e as anotações à margem das páginas, para identificar as ideias de cada tópico), organizando os dados brutos em uma tabela de frequência, indicando a proporção de acertos e o grau de significância e comparando os desempenhos entre os dois grupos, por meio do teste de Mann-Whitney (x2) ou o teste de Fisher. Dentro do que aqui nos interessa, em síntese, as autoras propõem como parte dos resultados a necessidade de um relatório possuir as características apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2
Estrutura e critérios de qualidade de um relatório técnico acadêmico-pedagógico

As postulações de Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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encontram eco em Pereira (2012)PEREIRA, Maurício Gomes. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012., Lima (2013)LIMA, Margarida. Conceção, redação e publicação de artigos científicos: conceção de artigos científicos. Nascer e Crescer: Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto, Portugal, v. 22, n. 01, p. 50-59, 2013. Disponível em: 00_NascerCrescer_22-1_PROVA-11.pdf (scielo.pt). Acesso em: 05 set. 2023.
scielo.pt...
e Porto e Gurgel (2018)PORTO, Flávia; GURGEL, Jonas Lírio. Sugestão de roteiro para avaliação de um artigo científico. Ver. Bras. Ciênc. Esporte, Brasília, v. 40, n. 02, p. 111-116, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbce/a/R9tpwBqLnsZt3kmr6w6hRtR/?lang=pt. Acesso em: 13 nov. 2022.
https://www.scielo.br/j/rbce/a/R9tpwBqLn...
, ao discutirem os elementos relativos à escrita de um artigo, e em Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
https://periodicos.uninove.br/iptec/arti...
, que apresentam as características necessárias a um relato técnico, muito próximas ao que se espera para um artigo científico. Para Lima (2013, p. 51)LIMA, Margarida. Conceção, redação e publicação de artigos científicos: conceção de artigos científicos. Nascer e Crescer: Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto, Portugal, v. 22, n. 01, p. 50-59, 2013. Disponível em: 00_NascerCrescer_22-1_PROVA-11.pdf (scielo.pt). Acesso em: 05 set. 2023.
scielo.pt...
, “Um bom artigo deve ser escrito com clareza, precisão e fluência, condições essenciais para que os leitores se sintam interessados e sejam capazes de entender o seu conteúdo”. Pereira (2012, p. 26)PEREIRA, Maurício Gomes. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. alerta que “A redação científica constitui complexa apresentação de fatos e argumentos, guiada por processo elaborado de raciocínio”. Ecoando os atributos propostos por Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
https://www.redalyc.org/pdf/2030/2030149...
, ao se reportar ao relatório científico, Motta (2017)MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
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e Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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, por sua vez, explicitam a necessária fundamentação científica e a preocupação com uma redação, cuja linguagem seja clara e objetiva e esteja adequada à sua audiência, em grande parte, constituída por profissionais não-acadêmicos.

[...] os critérios-chave para a avaliação de um Artigo Tecnológico são a clareza e a objetividade. Artigos que vão direto ao ponto certamente têm maiores possibilidades de avançar o desk review. Assim, é importante deixar claro no título e no resumo do que se trata o manuscrito [...] (Motta, 2017, p. 03MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6...
).

Também, para Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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, um bom relatório de pesquisa deve possuir linguagem clara e concisa, acessível a não especialistas, retratando o estado da arte do tema abordado e nível adequado de maturidade da pesquisa, para se constituir como contribuição significativa à área. Em síntese, suas proposições podem ser observadas na Tabela 3, que contém os critérios necessários à construção de um relatório científico. Ainda para Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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, mais algumas características, entendidas como erros comuns, comprometem a qualidade do relatório. A despeito de tais características poderem ser positivadas como critérios, junto aos demais, seguiremos a tendência do autor e as enfatizaremos como algo a ser evitado.

Tabela 3
Estrutura e critérios de qualidade de um relatório científico

Nesse sentido, Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
https://www.redalyc.org/pdf/2030/2030149...
aponta como erros: o empirismo exagerado, destituído de uma fundamentação teórica robusta; a inversão de relações sintáticas e semânticas2 2 In verbis “’Possivelmente se relaciona” quando deveria ser ‘se relaciona possivelmente’”. (p. 08) , a inclusão de conteúdo de uma seção em outra; a prolixidade do texto, com a inclusão de conteúdo irrelevante, repetido ou alheio ao propósito do estudo e aos resultados; as especulações levianas e sem fundamentos; o reducionismo argumentativo, com a omissão de conteúdo relevante; o uso de expressões primárias e clichês3 3 In verbis “’Reinvenção da roda’”. (p. 08) , bem como a subestimação da capacidade interpretativa do leitor, anunciando, explicitamente, de forma desnecessária, o que pode ser, facilmente, deduzido do texto4 4 In verbis “O objetivo deste estudo é [...]”. (p. 08) , a confusão terminológica; a ausência de aceitação ou refutação de hipóteses propostas; a insuficiência de informações para a avaliação e replicação do trabalho; o detalhamento excessivo de métodos padronizados e publicados; a excessiva heterogeneidade da amostra estudada; a ausência de clareza sobre o escore dos instrumentos; a inadequação ou descrição insuficiente das análises estatísticas; a existência de figuras e tabelas pouco claras e com insuficiência de informações para sua interpretação; a ausência de informações prometidas no método; as conclusões fundadas em figuras e tabelas, sem adequada descrição textual; e a redundância de informações entre texto, figuras e tabelas. Acerca deste último erro, vale, ainda, o alerta de Porto e Gurgel (2018, p. 115)PORTO, Flávia; GURGEL, Jonas Lírio. Sugestão de roteiro para avaliação de um artigo científico. Ver. Bras. Ciênc. Esporte, Brasília, v. 40, n. 02, p. 111-116, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbce/a/R9tpwBqLnsZt3kmr6w6hRtR/?lang=pt. Acesso em: 13 nov. 2022.
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: “as tabelas resumem um conjunto de observações e devem ser autoexplicativas, sem repetir informações já contidas no texto”.

Motta (2017)MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
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apresenta, ainda, critérios adicionais para a avaliação de relatos técnicos:

1. Logo na introdução, expor a situação problema e/ou oportunidade de melhoria relacionada ao contexto em análise (organização/governo/atores sociais envolvidos); 2. Incluir breve texto de diagnóstico da situação/problema e/ou oportunidade, demonstrando domínio da matéria em estudo e das bases teórico-científicas que sustentam esse diagnóstico; 3. Descrever sinteticamente os procedimentos utilizados para levantamento de dados e informações relevantes à análise da situação; 4. Apresentar como artigo um texto que analise a situação-problema e discuta as possíveis alternativas para a sua resolução ou inovação, melhoria, extrapolação; 5. Concluir o texto demonstrando a contribuição da proposta para as organizações e/ou para a sociedade (Motta, 2017, p. 03MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
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).

Nessa linha, Lima (2013)LIMA, Margarida. Conceção, redação e publicação de artigos científicos: conceção de artigos científicos. Nascer e Crescer: Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto, Portugal, v. 22, n. 01, p. 50-59, 2013. Disponível em: 00_NascerCrescer_22-1_PROVA-11.pdf (scielo.pt). Acesso em: 05 set. 2023.
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apresenta uma referência sobre o que não fazer ao se escrever um artigo e define relatório técnico como um manuscrito que “Relata a investigação já realizada e especifica os passos dados, os resultados obtidos, a análise/interpretação dos dados e as conclusões estabelecidas” (Lima, 2013, p, 58LIMA, Margarida. Conceção, redação e publicação de artigos científicos: conceção de artigos científicos. Nascer e Crescer: Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto, Portugal, v. 22, n. 01, p. 50-59, 2013. Disponível em: 00_NascerCrescer_22-1_PROVA-11.pdf (scielo.pt). Acesso em: 05 set. 2023.
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), corroborando vários dos elementos apresentados por Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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, Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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, Motta (2017)MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
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e Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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e dando indícios da semelhança entre um relatório e um artigo quanto a diversos aspectos. Assim, um relatório técnico, não muito diferentemente de um artigo científico (Pereira, 2012PEREIRA, Maurício Gomes. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.; Lima, 2013LIMA, Margarida. Conceção, redação e publicação de artigos científicos: conceção de artigos científicos. Nascer e Crescer: Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto, Portugal, v. 22, n. 01, p. 50-59, 2013. Disponível em: 00_NascerCrescer_22-1_PROVA-11.pdf (scielo.pt). Acesso em: 05 set. 2023.
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; Porto; Gurgel, 2018PORTO, Flávia; GURGEL, Jonas Lírio. Sugestão de roteiro para avaliação de um artigo científico. Ver. Bras. Ciênc. Esporte, Brasília, v. 40, n. 02, p. 111-116, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbce/a/R9tpwBqLnsZt3kmr6w6hRtR/?lang=pt. Acesso em: 13 nov. 2022.
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), deve ser capaz de convencer o leitor sobre sua verdade, descrevendo e argumentando com clareza e objetividade, seja pela concatenação lógica de suas ideias, seja apoiando essas ideias em uma vivência prática ou na literatura adequada, capazes de dar sustentação ao que é afirmado.

Nesse sentido, trazendo de empréstimo as contribuições de Latour (1987)LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Unesp, 2011 [1987]., quando discute a produção de artigos científicos e que bem cabem aqui, o texto de um relatório, qualquer que seja, necessita “empilhar” de forma incremental e parcimoniosa as informações, buscando produzir um impacto positivo sobre o leitor. Para isso, o texto deve ser amigável em sua interlocução, de forma que o autor se dilua em suas linhas e o leitor se reconheça nele, desejando tê-lo escrito. A digestibilidade e fluidez do texto estão, diretamente, ligadas ao estilo e linguagem utilizados e contribui para isso o uso de sintaxes, jargões e termos técnicos adequados ao público a que se destina, na medida do possível, sem se tornar incompreensível para outros públicos. Além disso, necessita prever as possíveis objeções desse leitor, para construir uma argumentação capaz de cerceá-lo por todos os lados pelos quais busque se contrapor, em um raciocínio claro, coerente e bem amarrado.

Merecem destaque especial as preocupações com o título de um manuscrito, dada sua aparente e equivocada simplicidade e sua importância na sedução do leitor. Conforme a ABNT NBR 6023 (2018)ABNT- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://www.normasabnt.org/abnt-nbr-6023. Acesso em: 27 out. 2022.
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, o título é uma palavra, expressão ou frase que exprime o conteúdo constituinte de um documento, e o subtítulo, apresentado logo em seguida ao título, visa prover esclarecimento extra ou complementação ao título, em sintonia com o conteúdo do documento. Souza (2022)SOUZA, Marcos de. A pesquisa científica e seus títulos. Revista Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 01, p. 3-23, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/article/view/52267. Acesso em: 13 nov. 2022.
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, em um trabalho no qual buscou responder a questão “De que maneira os autores têm apresentado os títulos dos trabalhos científicos publicados nos anais do XXI Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação (ENANCIB)?”, analisou 342 títulos de artigos científicos, dos quais 67,3% se mostraram adequados, segundo o referencial teórico adotado, que possibilitou a estratificação dos trabalhos analisados em nove classes: 1) título não específico; 2) título afirmativo; 3) título interrogativo; 4) título com fórmulas ou símbolos; 5) título com abreviações; 6) títulos sensacionalistas; 7) títulos com o uso de termos em demasia; 8) títulos contendo a metodologia; e 9) temas no lugar do título.

De forma geral, percebemos que as expectativas para títulos em artigos científicos dialogam com as proposições para títulos em relatórios técnicos acadêmico-científicos e acadêmico-pedagógicos, conforme observamos em Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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, Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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, Biancolino et al (2012)BIANCOLINO, César Augusto et al. Protocolo para elaboração de relatos de produção técnica. Revista de Gestão e Projetos -GeP, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 294-307, 2011. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/gep/article/view/9467/4224. Acesso em: 18 fev. 2023.
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, Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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e Souza (2022)SOUZA, Marcos de. A pesquisa científica e seus títulos. Revista Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 01, p. 3-23, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/article/view/52267. Acesso em: 13 nov. 2022.
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, e coincidem quanto à necessidade de que sejam precisos, completos, concisos, objetivos, informativos e específicos, possuindo entre dez e vinte palavras, sem sensacionalismos, palavras de efeito, descrição metodológica, ilusões, abreviações, equações, símbolos, interrogações, afirmações, exclamações, ponto-final, vírgulas ou aspas.

Quanto às características da escrita de artigos, Souza (2022)SOUZA, Marcos de. A pesquisa científica e seus títulos. Revista Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 01, p. 3-23, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/article/view/52267. Acesso em: 13 nov. 2022.
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também apresenta a necessidade de padronização, clareza, objetividade, precisão, acessibilidade e simplicidade, indo ao encontro do que podemos esperar para a escrita de relatórios, conforme Motta (2017)MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
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. Depreendemos, ainda, de Souza (2022)SOUZA, Marcos de. A pesquisa científica e seus títulos. Revista Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 01, p. 3-23, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/article/view/52267. Acesso em: 13 nov. 2022.
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que a função da escrita em um artigo científico também coincide com a função do relatório: comunicação útil, clara e direta.

Ainda, é interessante ressaltar que, para Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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, a seção “Conclusão” – para alguns melhor definida como “Considerações Finais” –, encontra-se subsumida à seção “Desenvolvimento/Discussão”, enquanto para Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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é uma seção à parte. Por sua vez, Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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apresentam a seção “Desenvolvimento” como um bloco único, enquanto Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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a discrimina em “Método”, “Resultados” e “Discussão”, adentrando os pormenores de cada uma dessas subseções. Ambos, guardadas pequenas diferenças, se aproximam das proposições de Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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para a estrutura e conteúdo dos relatos técnicos. Contudo, mais que diferenças, observamos nesses autores semelhanças e complementaridades quanto ao que se esperar de um relatório, com um detalhamento maior de elementos em Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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, ainda que com severas limitações argumentativas em seu texto original. Assim, diante da literatura exposta, empreendemos uma análise do Relatório do GTPT, cujas reflexões passamos a relatar a seguir.

3 Discussão dos resultados

Como resultado do Grupo de Trabalho de Produção Técnica (GTPT), da Capes, foi definido, entre outros, o produto denominado Relatório Técnico Conclusivo-RTC, como subproduto de atividades realizadas no interior dos PPG e passível de avaliação, conforme diretrizes presentes no relatório produzido pelo GTPT (Brasil, 2019BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-d...
). Sob a denominação de RTC, incluem-se, indistintamente, os mais diversos tipos, subtipos e finalidades de relatórios, que podem ser considerados dentro da denominação de literatura cinza (Botelho; Oliveira, 2015BOTELHO, Rafael Guimarães; OLIVEIRA, Cristina da Cruz de. Literaturas branca e cinzenta: uma revisão conceitual. Ci.Inf., Brasília, DF, v. 44 n. 3, p. 501-513, 2015. Disponível em: https://www.brapci.inf.br/_repositorio/2017/06/pdf_856f1f5dcd_0000023339.pdf. Acesso em: 13 nov. 2022.
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). Os excertos da Tabela 4 ilustram tal tipologia.

Tabela 4
Tipos e subtipos de relatórios, conforme o Relatório do GTPT

Ainda que tenham sido explicitados os tipos e subtipos dos relatórios passíveis de avaliação, no contexto do Relatório do GTPT, não há um esclarecimento pormenorizado de como tais tipologias dialogam entre si como elementos capazes de subsidiar uma avaliação dessa categoria de literatura. A interconexão fica a critério de uma dedução subjetiva por parte do usuário do Relatório, quando de sua aplicação como um instrumento orientador na avaliação de produtos técnicos, pelos PPG, no Brasil. Tal característica contrasta com as proposições de Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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, Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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e Souza (2022)SOUZA, Marcos de. A pesquisa científica e seus títulos. Revista Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 01, p. 3-23, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/article/view/52267. Acesso em: 13 nov. 2022.
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, para quem a clareza textual, que inclui adequadas organicidade, coesão e coerência, é um elemento essencial em um relatório. Não havendo tal clareza no instrumento de avaliação, torna-se duvidosa sua existência nos resultados advindos do uso de tal instrumento, dúvidas que recaem sobre sua validade.

Ao confrontarmos a literatura consultada (Savickas, 2009SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
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; ABNT, 2018ABNT- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://www.normasabnt.org/abnt-nbr-6023. Acesso em: 27 out. 2022.
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; Souza, 2022SOUZA, Marcos de. A pesquisa científica e seus títulos. Revista Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 01, p. 3-23, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/article/view/52267. Acesso em: 13 nov. 2022.
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) com os resultados obtidos da análise do Relatório do GTPT, é possível verificar o não atendimento do pressuposto da comunicação clara, desde o título e subtítulo deste último, “Produção Técnica - Grupo de Trabalho”, que apresentam duas falhas: é um título não específico e possui um tema no lugar do título5 5 Por motivos desconhecidos, o aqui denominado Relatório do GTPT tem sido referendado, na prática, comumente, como um relatório sobre Produção Técnica e Tecnológica – PTT, ainda que sua denominação oficial seja “Produção Técnica-Grupo de Trabalho”, o que denuncia um equívoco na apropriação do título, talvez devido à inadequação em sua própria elaboração (cf. as referências nos Relatórios de Avaliação da Quadrienal 2017-2020. . Tal ausência de clareza se estendeu para o corpo do texto. Ao partirmos para a análise de seu conteúdo, percebemos que o enriquecimento dos conceitos subsunçores (Soubhia; Ruffino; Dessunti, 2005SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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) pode não ter sido eficaz, dados os equívocos e confusões conceituais no decorrer do texto. Nesse sentido, o Relatório apresentou falhas nos quesitos organicidade das seções, concisão do conteúdo, clareza de informações, precisão teórica, coerência argumentativa, formalismo técnico, rigor linguístico-gramatical, validade das conclusões e utilidade dos resultados, contrariando pressupostos traçados em Soubhia, Ruffino e Dessunti (2005)SOUBHIA, Zeneide; RUFFINO, Márcia Caron; DESSUNTI, Elma Mathias. Relatório de Atividade Acadêmica como Recurso de Aprendizagem da Pesquisa. Ver. Latino-Am. Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 269-73, 2005. Disponível em: http://www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 03 out. 2022.
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, Savickas (2009)SAVICKAS, Mark L. Como redigir um relatório de pesquisa: finalidades e problemas em artigos científicos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 7-10, 2009. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2030/203014934003.pdf. Acesso em: 03 out. 2022.
https://www.redalyc.org/pdf/2030/2030149...
, Motta (2017)MOTTA, Gustavo. D. S. Como escrever um bom artigo tecnológico? Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 04-08, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6nNGNtn4MM7Z3h/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 18 fev. 2023.
https://www.scielo.br/j/rac/a/9fWvtsnTR6...
e Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
https://periodicos.uninove.br/iptec/arti...
.

Como exemplo da ausência de organicidade, formalismo técnico e rigor linguístico-gramatical, temos a proposta de critérios para a avaliação do RTC, na seção “Detalhamento dos Produtos conforme Tabela 2 (grifo nosso). Nessa seção, o GTPT elenca, em formato de formulário, critérios como: a finalidade do Relatório, o grau de inovação do seu conteúdo, a natureza individual ou coletiva do relato e a natureza e estágio de sua conexão (se existente) com projeto de pesquisa e produção científica do/s autor/es. Também, solicitam a declaração não-obrigatória dos recursos, vínculos e aplicabilidade relacionados ao produto tecnológico que ensejou o RTC (Brasil, 2019BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-d...
). Tal seção não dialoga, eficazmente, com a seção “Etapa 4 – Conceitos aplicados ao Estudo e Conversão da produção técnica em Produtos” (grifo nosso), uma vez que está em desacordo com a tabela de referência para os trabalhos, que passou a ser a “Tabela 3”, da mesma seção, desde a 185ª reunião do Conselho Técnico Científico da Educação Superior (CTC-ES), como mencionado no próprio documento. Ainda, a forma dos títulos de cada seção, até a seção 5, são iniciados com a expressão “Etapa”, em referência às etapas metodológicas. Contudo, esse padrão formal não é seguido nas seções 6 e 7, sem motivo aparente. Para Pereira (2012)PEREIRA, Maurício Gomes. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012., Lima (2013)LIMA, Margarida. Conceção, redação e publicação de artigos científicos: conceção de artigos científicos. Nascer e Crescer: Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto, Portugal, v. 22, n. 01, p. 50-59, 2013. Disponível em: 00_NascerCrescer_22-1_PROVA-11.pdf (scielo.pt). Acesso em: 05 set. 2023.
scielo.pt...
e Porto e Gurgel (2018)PORTO, Flávia; GURGEL, Jonas Lírio. Sugestão de roteiro para avaliação de um artigo científico. Ver. Bras. Ciênc. Esporte, Brasília, v. 40, n. 02, p. 111-116, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbce/a/R9tpwBqLnsZt3kmr6w6hRtR/?lang=pt. Acesso em: 13 nov. 2022.
https://www.scielo.br/j/rbce/a/R9tpwBqLn...
, isso indica uma falha potencial no manuscrito, o que compromete o alcance de seus objetivos.

Além disso, os campos do formulário de avaliação do RTC, presentes na seção “Detalhamento dos Produtos (conforme Tabela 2)”, não mantém correspondência unívoca com as informações consideradas importantes e elencadas na seção “Etapa 5-Definições, campos descritivos e Descrição para cada Produto”:

• Definição; • Exemplos; • Campos descritivos obrigatórios*; • Campos descritivos opcionais*; • Correlacionar com as opções e campos existentes nas plataformas Sucupira e Lattes; •A produção necessita estar no repositório? • Classificar e justificar as produções e subtipos em técnico ou tecnológico; • Definir se a produção é resultado do trabalho realizado pelo programa de pós-graduação ou se é resultado do trabalho individual do docente, o qual seria realizado independentemente do mesmo se docente de um programa ou não[...] (Brasil, 2019, p. 21BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
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).

Como exemplo da ausência de precisão teórica e coerência argumentativa, podemos citar a tentativa de diferenciar produto técnico de tecnológico. Como forma de delimitar o conteúdo pertinente ao RTC, o GTPT buscou “[...] estabelecer as diferenças entre Produto técnico e Produto tecnológico para fins de avaliação da produção dos Programas (Brasil, 2019, p. 22BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-d...
)”. Para tanto, se valeram de critérios como impacto social, aplicabilidade, inovação e complexidade. Cabe destaque ao potencial discriminatório atribuído ao critério “inovação”: “Um produto derivado da adaptação de conhecimento existente será considerado um Produto técnico e não tecnológico” (Brasil, 2019, p. 2BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-d...
). É, também, digna de nota a definição atribuída a produto tecnológico:

Produto tecnológico é um “objeto tangível” com elevado grau de novidade fruto da aplicação de novos conhecimentos científicos, técnicas e expertises desenvolvidas no âmbito da pesquisa na PG, usados diretamente na solução de problemas de empresas produtoras de bens ou na prestação de serviços à população visando o bem-estar social (Brasil, 2019, p. 22BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-d...
).

Em ambos os casos, definição de produto técnico e de produto tecnológico, é possível perceber uma lacuna teórica acerca das definições utilizadas, que tratam por equivalentes expressões como “inovação” e “novidade” e utilizam o grau de inovação (incremental versus radical) para diferenciar produto técnico de tecnológico, sem maiores preocupações teóricas, algo não suportado pela literatura da área (Wolfe, 1994WOLFE, Richard A. Organizational innovation: review, critique and suggested research directions. Journal of Management Studies, Wiley Blackwell, v. 31, n. 03, p. 405-431, 1994. Disponível em: https://ideas.repec.org/a/bla/jomstd/v31y1994i3p405-431.html. Acesso em: 30 jan. 2023.
https://ideas.repec.org/a/bla/jomstd/v31...
; Gregor; Hevner, 2013GREGOR, S.; HEVNER, A. R. Positioning and presenting design science research for maximum impact. MIS Quarterly, EUA, v. 37, n. 2, p. 337-355, 2013. Disponível em: https://dl.acm.org/doi/10.25300/MISQ/2013/37.2.01. Acesso em: 18 fev. 2023.
https://dl.acm.org/doi/10.25300/MISQ/201...
; Plonski, 2017PLONSKI, Guilherme A. Inovação em transformação. Estudos Avançados, São Paulo, v. 31, n. 90, p. 7-21, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/3Vmk8zqHbrVcgBwhMTyTC7d/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 30 jan. 2023.
https://www.scielo.br/j/ea/a/3Vmk8zqHbrV...
; Lu; Matui; Gracioso, 2019LU, Yi Chieh; MATUI, Natália; GRACIOSO, Luciana. Definição da inovação no âmbito da pesquisa brasileira: uma análise semântica. RDBCI - Revista Digital Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 17, n. e019023, p. 1-22, 2019. Disponível em https://brapci.inf.br/index.php/res/download/122560. Acesso em: 30 jan. 2020.
https://brapci.inf.br/index.php/res/down...
). Nessa mesma linha de raciocínio, o GTPT apresenta os critérios para avaliação do critério “inovação”:

•Produção com alto teor inovativo: Desenvolvimento com base em conhecimento inédito; •Produção com médio teor inovativo: Combinação de conhecimentos pré-estabelecidos; •Produção com baixo teor inovativo: Adaptação de conhecimento existente; •Produção sem inovação aparente: Produção técnica (Brasil, 2019, p. 24BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-d...
).

Tais critérios apresentam problemas quanto aos seus limites conceituais, uma vez que se mostra impraticável distinguir “Combinação” de “Adaptação”, bem como “conhecimento pré-estabelecido” de “conhecimento existente”, ou mesmo distinguir, com precisão e objetivamente, alto, médio e baixo teor inovativo. Critérios, como categorias de análise, necessitam possuir limites bem estabelecidos, a fim de permitirem o adequado recorte do objeto de avaliação, sem dubiedades (Laville; Dionne, 1999LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia de pesquisa em ciências humanas. Belo Horizonte (MG): UFMG, 1999.; Moraes; Galiazzi, 2006MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do C. Análise textual discursiva. Ijuí: Unijuí, 2005.; Mamede, 2016MAMEDE, Walner. Modelo para a avaliação de mestrados profissionais orientados à formação de recursos humanos para o SUS: um estudo de caso. 2016. Tese (Doutorado) - Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/19784. Acesso em: 05 set. 2023.
https://repositorio.unb.br/handle/10482/...
; Carlomagno; Rocha, 2016CARLOMAGNO, Márcio C., ROCHA, Leonardo Caetano da. Como criar e classificar categorias para fazer análise de conteúdo: uma questão metodológica. Revista Eletrônica de Ciência Política, Paraná, v. 7, n. 1, p. 173-188, 2016. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/politica/article/view/45771/28756. Acesso em: 05 nov. 2022.
https://revistas.ufpr.br/politica/articl...
).

Nesse sentido, talvez possamos encontrar uma alternativa à atual classificação em Gregor e Hevner (2013)GREGOR, S.; HEVNER, A. R. Positioning and presenting design science research for maximum impact. MIS Quarterly, EUA, v. 37, n. 2, p. 337-355, 2013. Disponível em: https://dl.acm.org/doi/10.25300/MISQ/2013/37.2.01. Acesso em: 18 fev. 2023.
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, quando propõem que invenção corresponde a novas soluções para novos problemas, aperfeiçoamento representa uma solução nova para um problema conhecido, exaptação6 6 Diferentemente de autores como Martens e Pedron (2019) e Martens, Pedron e Oliveira (2021), optou-se por adotar, aqui, a tradução literal do conceito “exaptation” como “exaptação” e não “extrapolação”, por entende-lo mais adequado ao sentido original trazido por Gregor e Hevner (2013). Exaptação é um termo, inicialmente, utilizado dentro da Paleontologia e que se refere a uma espécie de desvio da função, previamente, estabelecida, em direção a uma função inesperada e para a qual não se havia previsão. Difere-se da adaptação, na medida em que esta desenvolve-se como recurso para suprir uma necessidade específica, que a demandou já na origem. Costuma-se entender “adaptação” como uma função e “exaptação” como um efeito incidental. Para maiores detalhes, conferir Gould e Vrba (1982) e Bryant (2014). relaciona-se a uma nova utilização de soluções conhecidas a novos problemas e aplicação7 7 Do original “routine design”. Para se manter o paralelismo sintático dos termos, adotamos o sentido dado pelo autor, como quando diz “In this quadrant is work that would not normally be thought of as contributing to research because existing knowledge is applied in familiar problem areas in a routine way”, e adaptamos a tradução para “aplicação”, sem prejuízos ao entendimento do conceito. significa a utilização de soluções conhecidas em problemas conhecidos8 8 Tradução livre do original, de Gregor e Hevner (2013): “Invention: new Solutions for New Problems” (p. 345); “Improvement: New Solutions for Known Problems” (p. 346); “Exaptation: Known Solutions Extended to New Problems” (p. 347); “Routine Design: Known Solutions for Known Problems” (p. 347). , o que dilui a inovação dentro dos conceitos de aperfeiçoamento e exaptação. Para Martens e Pedron (2019)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes. A disseminação da produção técnica/tecnológica gerada em programas stricto sensu profissionais. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 1-3, 2019. Disponível em https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/14712/7029. Acesso em: 18 fev. 2023.
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e Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
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, dessas quatro categorias, apenas as três primeiras relacionam-se com problemas de pesquisa em nível stricto sensu, pois exigem consulta sistemática de literatura científica e técnica ou mesmo de literatura cinzenta, e, portanto, com potencial para figurar em um relato técnico, na acepção que adotam.

Além da fragilidade conceitual dos critérios trazidos pelo GTPT (Brasil, 2019BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
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), há contradição na afirmação de que uma “Produção sem inovação aparente” se constitui como “Produção técnica”, quando, em seção anterior, afirmou-se que “Um produto derivado da adaptação de conhecimento existente será considerado um Produto técnico e não tecnológico” (Brasil, 2019, p. 2BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Produção Técnica-Grupo de Trabalho: relatório. Brasília: MEC, 2019. Disponível em: https:/www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdf. Acesso em: 01 dez. 2022.
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), em mais um exemplo da fragilidade argumentativa e teórica. Tais características, em um relatório, comprometem sua clareza e utilidade, levando-o a limitar a capacidade de convencimento do leitor, que um trabalho do gênero necessita, conforme alertam Pereira (2012)PEREIRA, Maurício Gomes. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012., Porto e Gurgel (2018)PORTO, Flávia; GURGEL, Jonas Lírio. Sugestão de roteiro para avaliação de um artigo científico. Ver. Bras. Ciênc. Esporte, Brasília, v. 40, n. 02, p. 111-116, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbce/a/R9tpwBqLnsZt3kmr6w6hRtR/?lang=pt. Acesso em: 13 nov. 2022.
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e Souza (2022)SOUZA, Marcos de. A pesquisa científica e seus títulos. Revista Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 01, p. 3-23, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/article/view/52267. Acesso em: 13 nov. 2022.
https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/a...
.

Para finalizar, a utilidade dos resultados é um elemento que deriva, diretamente, da validade das conclusões, esta dependente da precisão teórica e coerência argumentativa, ambas ausentes na maior parte do texto, o que compromete a validade e, consequentemente, a utilidade. A validade de um instrumento se relaciona com sua capacidade de medir, delimitar exatamente aquilo a que se propõe (Martins, 2006MARTINS, Gilberto de Andrade. Sobre confiabilidade e validade. RBGN, São Paulo, v. 08, n. 20, p. 1-12, 2006. Disponível em: https://rbgn.fecap.br/RBGN/article/download/51/272. Acesso em: 13 nov. 2022.
https://rbgn.fecap.br/RBGN/article/downl...
; Souza; Alexandre; Guirardello, 2017SOUZA, Ana Cláudia de; ALEXANDRE, Neusa Maria Costa; GUIRARDELLO, Edinêis de Brito. Propriedades psicométricas na avaliação de instrumentos: avaliação da confiabilidade e da validade. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 26, n. 3, p. 649-659, jul-set 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ress/a/v5hs6c54VrhmjvN7yGcYb7b/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 03 out. 2022.
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), o que se reflete na validade das conclusões daí advindas. Se existem inconsistências nos limites conceituais dos critérios ou categorias, propostos como referências para uma análise, um recorte do objeto estudado poderá ficar, em parte, sobreposto a outro recorte analítico do mesmo objeto, um produzindo ruídos na interpretação do outro. Desse modo, um instrumento de avaliação detentor de tais características será fonte de viés para as conclusões derivadas de seu uso, na análise de outros objetos. Diante das constatações até aqui elencadas, seguem-se as considerações finais.

4 Considerações finais

Entendemos que um relatório técnico científico e um relatório técnico pedagógico – ainda que possam haver áreas de intersecção entre ambos, que produzam um tipo híbrido, como parece ser o RTC – diferem entre si em relação à origem do conteúdo (o primeiro, a pesquisa metódica; o segundo, o relato de uma vivência acadêmica, que pode ou não ser fruto de pesquisa) e à sua finalidade (o primeiro, a comunicação de achados de pesquisa a terceiros; o segundo, o registro de uma atividade, para si ou terceiros, e o enriquecimento cognitivo pessoal do autor). E, nos limites estabelecidos pela cultura científica dentro da área em questão, ambos pouco diferem da estrutura e conteúdo previstos para um artigo científico, devendo haver similitude na avaliação da qualidade para os três gêneros, em termos de critérios de objetividade, concisão, clareza, parcimônia, precisão, organicidade, utilidade, ética, formalismo técnico, correspondência teórico-prática, coerência argumentativa, rigor linguístico-gramatical e validade das conclusões. Nesse sentido, a maior diferença entre eles é a ausência, nos dois primeiros (relatório técnico científico e relatório técnico pedagógico), do rigor de uma revisão por pares, cuja ocorrência oferta uma qualificação a priori e desonera o avaliador da necessidade de avaliar e relativizar a qualidade do manuscrito, segundo critérios próprios, uma vez que se vale da credibilidade dos critérios que o chancelaram, previamente.

Diante dos achados obtidos com a análise do Relatório do GTPT, concluímos que ele não possui as características necessárias para se constituir como uma referência segura destinada à avaliação de relatórios técnicos, dadas as inúmeras falhas encontradas e que podem ser assim resumidas:

  • organicidade das seções, havendo desencontro de informações e da argumentação entre elas;

  • concisão do conteúdo, em razão da repetição de conteúdos ao longo do texto;

  • clareza de informações, uma vez que estão ausentes informações necessárias à compreensão de afirmações e enunciados;

  • precisão teórica e coerência argumentativa, pois a definição de conceitos oscila entre diferentes seções ou até dentro de uma mesma seção, com a adoção de definições alheias à literatura da área, comprometendo o entendimento do documento;

  • formalismo técnico, havendo oscilação na forma do texto e ausência de respeito às normas de redação presentes em manuais como a ABNT ou similares, ou mesmo àquelas propostas pelo próprio GTPT, inclusive com ausência de referências bibliográficas;

  • rigor linguístico-gramatical, havendo inúmeros erros de padronização da escrita, conforme regras gramaticais e de redação;

  • validade das conclusões, produzida pela fragilidade argumentativa e teórica do manuscrito;

Além disso, os achados demonstraram que o Relatório do GTPT não permite o entendimento adequado de quais seus pressupostos teóricos e como aplicar suas orientações de forma efetiva e objetiva, uma vez que delega, inadvertida e excessivamente, ao seu usuário – conforme critérios subjetivos próprios e, potencialmente, alheios aos referenciais desejados pelos elaboradores do Relatório do GTPT – o preenchimento das lacunas teóricas, conceituais e metodológicas que intentou apresentar em suas orientações.

Dada as falhas generalizadas identificadas na estrutura e conteúdo do objeto aqui estudado, o presente trabalho levanta, ainda, a suspeita de que os demais produtos apresentados dentro do Relatório do GTPT também possuam problemas semelhantes aos aqui apontados para o RTC. Acreditamos que haja amplo espaço para novas e pertinentes considerações acerca do Relatório do GTPT, demandando sua análise nesse sentido, a fim de que sua utilidade não seja limitada pelas falhas identificadas, que dificultam ou impedem sua aplicação em direção aos objetivos propostos.

Sugerimos, ainda, a realização de maiores estudos empíricos e específicos sobre o tema mais amplo deste trabalho, a fim de que seja possível estabelecermos critérios e indicadores precisos de qualidade capazes de orientar a tarefa de avaliação de relatórios, como um elemento da literatura cinza capaz de contribuir, efetivamente, para a divulgação do conhecimento de forma segura, clara e útil.

  • 1
    Significativos e não-significativos, positivos ou negativos.
  • 2
    In verbis “’Possivelmente se relaciona” quando deveria ser ‘se relaciona possivelmente’”. (p. 08)
  • 3
    In verbis “’Reinvenção da roda’”. (p. 08)
  • 4
    In verbis “O objetivo deste estudo é [...]”. (p. 08)
  • 5
    Por motivos desconhecidos, o aqui denominado Relatório do GTPT tem sido referendado, na prática, comumente, como um relatório sobre Produção Técnica e Tecnológica – PTT, ainda que sua denominação oficial seja “Produção Técnica-Grupo de Trabalho”, o que denuncia um equívoco na apropriação do título, talvez devido à inadequação em sua própria elaboração (cf. as referências nos Relatórios de Avaliação da Quadrienal 2017-2020.
  • 6
    Diferentemente de autores como Martens e Pedron (2019)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes. A disseminação da produção técnica/tecnológica gerada em programas stricto sensu profissionais. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 1-3, 2019. Disponível em https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/14712/7029. Acesso em: 18 fev. 2023.
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    e Martens, Pedron e Oliveira (2021)MARTENS, Cristina Dai Prá; PEDRON, Cristiane Drebes; OLIVEIRA, Jairo Cardoso. Diretrizes para elaboração de artigos tecnológicos, artigos aplicados ou relatos técnicos de produção com ênfase profissional. Revista Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v, 9, n. 2, p. 143-147, 2021. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/iptec/article/view/21117/0. Acesso em: 18 fev. 2023.
    https://periodicos.uninove.br/iptec/arti...
    , optou-se por adotar, aqui, a tradução literal do conceito “exaptation” como “exaptação” e não “extrapolação”, por entende-lo mais adequado ao sentido original trazido por Gregor e Hevner (2013)GREGOR, S.; HEVNER, A. R. Positioning and presenting design science research for maximum impact. MIS Quarterly, EUA, v. 37, n. 2, p. 337-355, 2013. Disponível em: https://dl.acm.org/doi/10.25300/MISQ/2013/37.2.01. Acesso em: 18 fev. 2023.
    https://dl.acm.org/doi/10.25300/MISQ/201...
    . Exaptação é um termo, inicialmente, utilizado dentro da Paleontologia e que se refere a uma espécie de desvio da função, previamente, estabelecida, em direção a uma função inesperada e para a qual não se havia previsão. Difere-se da adaptação, na medida em que esta desenvolve-se como recurso para suprir uma necessidade específica, que a demandou já na origem. Costuma-se entender “adaptação” como uma função e “exaptação” como um efeito incidental. Para maiores detalhes, conferir Gould e Vrba (1982)GOULD, Stephen J.; VRBA, Elisabeth S. Exaptation: a missing term in the science of form. Paleobiology, Pelotas, v. 8, n. 1, p. 4-15, 1982. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/cdrehmer/files/2019/05/Gould-and-Vrba1982.pdf. Acesso em: 13 fev. 2023.
    https://wp.ufpel.edu.br/cdrehmer/files/2...
    e Bryant (2014)BRYANT, Levi. Onto-cartography: an ontology of machines and media. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2014..
  • 7
    Do original “routine design”. Para se manter o paralelismo sintático dos termos, adotamos o sentido dado pelo autor, como quando diz “In this quadrant is work that would not normally be thought of as contributing to research because existing knowledge is applied in familiar problem areas in a routine way”, e adaptamos a tradução para “aplicação”, sem prejuízos ao entendimento do conceito.
  • 8
    Tradução livre do original, de Gregor e Hevner (2013)GREGOR, S.; HEVNER, A. R. Positioning and presenting design science research for maximum impact. MIS Quarterly, EUA, v. 37, n. 2, p. 337-355, 2013. Disponível em: https://dl.acm.org/doi/10.25300/MISQ/2013/37.2.01. Acesso em: 18 fev. 2023.
    https://dl.acm.org/doi/10.25300/MISQ/201...
    : “Invention: new Solutions for New Problems” (p. 345); “Improvement: New Solutions for Known Problems” (p. 346); “Exaptation: Known Solutions Extended to New Problems” (p. 347); “Routine Design: Known Solutions for Known Problems” (p. 347).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    16 Fev 2023
  • Aceito
    18 Ago 2023
  • Revisado
    05 Set 2023
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