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Os principais desafios das políticas públicas de saúde para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis em municípios do Nordeste brasileiro

The main challenges of public health policies to face chronic noncommunicable diseases in municipalities of Northeast Brazil

Resumo

Introdução

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são um importante problema de saúde pública e necessitam de olhar ampliado para elaboração de políticas públicas.

Objetivo

Identificar os principais desafios das políticas públicas de saúde para o enfrentamento das DCNT em municípios do Nordeste brasileiro.

Método

Revisão integrativa da literatura a partir de artigos publicados nos últimos dez anos. Os artigos considerados elegíveis foram agrupados em tabelas e discutidos frente aos subtemas: “Políticas Públicas de Saúde” e “Principais Desafios para o Enfrentamento das DCNT”.

Resultados

Os estudos apontaram a frágil oferta de programas e serviços no âmbito municipal da região Nordeste do país. Observou-se a predominância de estudos que visam reconhecer o perfil do usuário portador de hipertensão e diabetes, que pouco contribui para o cuidado integral e de educação em saúde. Também foi possível identificar que mesmo o âmbito municipal estando mais próximo desse público, muitos são os desafios e impasses para uma eficaz promoção da saúde.

Conclusão

Diante dos diversos desafios identificados em todos os níveis de produção e conhecimento, sugere-se que mais estudos sejam realizados considerando o contexto das condições crônicas e que pesquisas posteriores transcrevam as demandas a partir dos gestores e usuários.

Palavras-chave:
políticas públicas de saúde; doenças crônicas não transmissíveis; Atenção Primária em Saúde

Abstract

Background

Chronic Noncommunicable Diseases (NCDs) are an important Public Health problem and shoud be paid more attention to the elaboration of public policies.

Objective

To identify the main challenges of public health policies for addressing NCDs in municipalities of northeastern Brazil.

Method

An integrative literature review was conducted from articles published in the last ten years. The articles considered eligible were grouped in tables and discussed on two sub-themes: “Public Health Policies” and “The main Challenges to face NCDs”.

Results

This study pointed out to the fragile programs and services offered in the municipal level of the northeast region of the country. It was observed the predominance of publications aimed at recognizing the profile of users with Hypertension and Diabetes, which unfeasibly contributes to integral care and health education. It was also possible to identify that even though the municipal level is closest to people’s daily lives, there are many challenges and impasses for an effective promotion of health and quality of life of these people.

Conclusion

Given the various challenges identified at all levels of production and knowledge, it is suggested that further studies may be conducted, thus considering the context of chronic conditions, and also further research can be developed to meet the demands of managers and users.

Keywords:
public health policies; noncommunicable chronic diseases; Primary Health Care

INTRODUÇÃO

A política pública tem, na sua descrição mais concreta, o arranjo da produção e execução de conhecimentos com vistas a assegurar às pessoas o exercício dos diversos direitos sociais, entre eles está a saúde como direito indispensável a todos11 Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal/Secretaria Especial de Informática; 2013.. É essencial pensar que o Sistema Único de Saúde (SUS), em suas competências, é a política pública de saúde que implementa inovações organizacionais, diminui desigualdades sociais e promove redes de cuidado para consolidar e qualificar as práticas em saúde22 Campos GW. SUS: o que é e como fazer? Ciên Saúde Colet. 2018;23(6):1707-14. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018236.05582018. PMid:29972476.
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.

O direito à saúde, considerado de acesso universal e equânime, chega às pessoas através de políticas nacionais, aperfeiçoadas segundo os serviços essenciais em saúde, o atendimento integral e a prioridade para as atividades preventivas, além da participação da comunidade na forma de controle social33 Brasil. Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 28 de junho de 2011; Seção 1. p. 1.,44 Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União [Internet], Brasília, 20 de setembro de 1990; Seção 1. p. 18055. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm
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. Na linha de base para construção de políticas públicas eficazes estão os instrumentos de gestão e sistemas de informação em saúde que contribuem de maneira singular para avaliação, controle e monitoramento dos determinantes sociais em saúde, além de introduzir medidas que alcancem a realidade e o modo de vida das pessoas.

Na ponta do sistema de saúde brasileiro está a Atenção Primária em Saúde (APS), que organiza e faz funcionar a porta de entrada do SUS, compreendendo as demandas, respeitando a singularidade dos problemas mais frequentes, enfatizando a resolutividade e a função principal de ordenação e coordenação de ações integradas e articuladas em Redes de Atenção à Saúde. Dentre outras atribuições, a APS contribui para minimizar os custos econômicos e fortalecer as políticas públicas de saúde, bem como promover modelos de atenção condizentes à nova realidade demográfica, epidemiológica e das condições crônicas55 Brasil. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. A atenção primária e as redes de atenção à saúde. Brasília: CONASS; 2015..

De modo geral, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) estão relacionadas a causas múltiplas e são caracterizadas por início gradual, com longa ou indefinida duração e prognóstico incerto. As DCNT apresentam curso clínico que muda ao longo do tempo, com possíveis períodos de agudização, podendo gerar incapacidades. São consideradas as DCNT de maior prevalência e que causam maior impacto na saúde individual e coletiva: doenças cardiovasculares como a hipertensão arterial sistêmica, o diabetes, a obesidade, as doenças respiratórias crônicas e as neoplasias66 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Brasília: Ministério da Saúde; 2013..

Em todo o mundo, as DCNT atingem de modo substancial as populações em situações de vulnerabilidade, com dificuldade no acesso aos serviços de saúde e com hábitos de vida desfavoráveis em relação ao cuidado com as condições e doenças crônicas77 Abegunde DO, Mathers CD, Adam T, Ortegon M, Strong K. The burden and costs of chronic diseases in low-income and middle-income countries. Lancet. 2007;370(9603):1929-38. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(07)61696-1. PMid:18063029.
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. Mundialmente, as doenças crônicas são responsáveis por cerca de 16 milhões de óbitos em 70% das mortes registradas88 Schmidt MI, Duncan BB, Silva GA, Menezes AM, Monteiro CA, Barreto SM, et al. Chronic non-communicable diseases in Brazil: burden and current challenges. Lancet. 2011;377(9781):1949-61. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(11)60135-9. PMid:21561658.
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e, no Brasil, as causas de mortes mais frequentes estão relacionadas às doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias e diabetes99 Malta DC, Moura L, Prado RR, Escalante JC, Schmidt MI, Duncan BB. Mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e suas regiões, 2000 a 2011. Epidemiol Serv Saude. 2014;23(4):599-608. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742014000400002.
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, causando custos elevados tanto de ordem familiar quanto na sobrecarga nos sistemas de saúde, além do afastamento do trabalho, gasto com medicações e reabilitação1010 Castanheira CHC, Pimenta AM, Lana FCF, Malta DC. Utilization of public and private health services by the population of Belo Horizonte. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(1 Supl):256-66. http://dx.doi.org/10.1590/1809-4503201400050020. PMid:25054268.
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,1111 Malta DC, Moura EC, Oliveira M, Santos FP. Usuários de planos de saúde: morbidade referida e uso de exames preventivos, por inquérito telefônico, Brasil, 2008. Cad Saúde Pública. 2011;27(1):57-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2011000100006. PMid:21340104.
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.

No cenário brasileiro, o painel de vigilância e monitoramento das principais doenças crônicas revelou elevada carga de DCNT e de incapacidades1212 Malta DC, Stopa SR, Szwarcwald CL, Gomes NL, Silva JB Jr, Reis AAC. A vigilância e o monitoramento das principais doenças crônicas não transmissíveis no Brasil - Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Rev Bras Epidemiol. 2015;18(2 Supl):3-16. http://dx.doi.org/10.1590/1980-5497201500060002. PMid:27008599.
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; situação semelhante acontece internacionalmente e pode se ampliar em função do envelhecimento populacional, provocando sérios problemas na saúde pública e compelindo debates importantes ao rever as políticas e ações intersetoriais para o melhor enfrentamento dessas doenças1313 Malta DC, Gosch CS, Buss P, Rocha DG, Rezende R, Freitas PC, et al. Doenças crônicas não transmissíveis e o suporte das ações intersetoriais no seu enfrentamento. Ciên Saúde Colet. 2014;19(11):4341-50. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141911.07712014. PMid:25351301.
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, especialmente no campo da prevenção e promoção da saúde.

Diante das circunstâncias e realidade do país, as DCNT são consideradas um dos principais problemas de saúde da atualidade. Mesmo com o avanço no Plano Estratégico para o Enfrentamento das DCNT no Brasil (2011-2022), que prevê redução na mortalidade prematura, diminuição no consumo de álcool e tabaco, aumento no consumo de frutas e legumes, e nos níveis de atividade física, melhora na cobertura de mamografia e estabilidade oncótica, é salutar manter o monitoramento e a análise dos fatores determinantes e das possíveis causas de doenças crônicas1414 Malta DC, Silva JR Jr. Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil após três anos de implantação, 2011-2013. Epidemiol Serv Saúde. 2014;23(3):389-95. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742014000300002.
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, uma vez que a presença de iniquidades regionais e de gênero e a pouca mobilização social e política desfavorecem o enfrentamento das doenças crônicas em nível nacional1515 Alves CG, Morais OL No. Tendências da mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis nas unidades federadas brasileiras. Ciên Saúde Colet. 2015;20(3):641-54. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015203.15342014. PMid:25760106.
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.

A marcante diferença entre as regiões do país também contextualiza a problemática mundial, uma vez que a região Nordeste além de apresentar grande exposição às vulnerabilidades sociais está inserida num país em desenvolvimento. Seguindo na problemática, o componente municipal e a APS têm maior possibilidade de alcance das demandas, execução resolutiva e com qualidade, mas ainda está longe de atingir esse objetivo1616 Raupp LM, Dhein G, Medeiros CRG, Grave MTQ, Saldanha OMFL, Santos MV, et al. Doenças crônicas e trajetórias assistenciais: avaliação dos sistema de saúde de pequenos municípios. Physis. 2015;25(2):615-34. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312015000200015.
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.

Este trabalho está organizado a partir de estudos que respondam ao questionamento: Quais os principais desafios das políticas públicas de saúde para o enfrentamento das DCNT em municípios do Nordeste brasileiro?

MÉTODO

O trabalho segue os preceitos da pesquisa exploratória, através de uma revisão integrativa da literatura1717 Kauark FS, Manhães FC, Medeiros CH. Metodologia da pesquisa: um guia prático. Ibabuna: Via Litterarum; 2010.. Frequentemente as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma investigação mais ampla, onde a principal finalidade é desenvolver, esclarecer ou modificar conceitos e ideias. Elas são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato e, dessa forma, contribuir para a caracterização de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. O produto final desse processo passa a ser, portanto, um problema mais esclarecido, passível de investigação mediante métodos mais sistematizados1818 Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas; 2008..

A revisão integrativa é norteada por um percurso metodológico composto por seis fases distintas: elaboração da pergunta norteadora, busca ou amostragem na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e síntese do conhecimento evidenciado nos artigos analisados1919 Moreira MADM, Lustosa AM, Dutra F, Barros EO, Batista JBV, Duarte MCS. Políticas públicas de humanização: revisão integrativa da literatura. Ciên Saúde Colet. 2015;20(10):3231-42. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152010.10462014. PMid:26465863.
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A pesquisa foi conduzida a partir da seguinte questão norteadora: Quais os principais desafios das Políticas Públicas de Saúde para o enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis em municípios do Nordeste brasileiro? Nessa perspectiva, as bases de dados escolhidas foram: Google Acadêmico, Lilacs e Scielo. Para tanto, foram utilizadas como descritores: Políticas Públicas de Saúde, Doenças Crônicas Não Transmissíveis e Atenção Primária em Saúde. A pesquisa contemplou as publicações realizadas nos últimos dez anos (2008-2018), período oportuno para análise e observação da construção de políticas públicas destinadas às pessoas portadoras de DCNT, considerando ações efetivas do sistema de saúde frente à importante transição demográfica e epidemiológica2020 Silva JVF, Silva EC, Rodrigues APRA, Miyazawa AP. A relação entre o envelhecimento populacional e as doenças crônicas não transmissíveis: sério desafio de saúde pública. Cad Grad Ciênc Biológ Saúde UNIT AL. 2015;2(3):91-100..

Inicialmente, foi realizada a busca nas bases de dados (1ª etapa - junho a setembro de 2018) com os descritores relatados anteriormente. Nesta etapa os artigos foram selecionados pelo tema, fazendo referência às DCNT, à região Nordeste e às políticas públicas de saúde no Brasil. Foram excluídos teses, monografias e artigos fora do período previamente estabelecido.

Na 2ª etapa (setembro de 2018), foi realizada a contagem dos artigos, totalizando 214 artigos. Na 3ª etapa (outubro a dezembro de 2018), foram excluídos os artigos em duplicidade, resultando em 179 artigos. Na 4ª etapa (janeiro a março de 2019) foi realizada a leitura e análise dos resumos, resultando em 118 artigos. Após leitura dos resumos 33 foram excluídos por não estarem relacionados à temática proposta. Na 5ª etapa (abril a junho de 2019), foi realizada a leitura e análise do artigo completo, resultando em 85 artigos. Nessa etapa foram excluídos artigos relacionados a outras regiões que não a região Nordeste, que tomam a análise da região apenas pelas capitais de cada estado ou municípios de grande porte. Ressalta-se que os artigos que faziam referência ao tema considerando o caráter nacional foram mantidos, uma vez que artigos exclusivos da região Nordeste são escassos.

Na 6ª etapa (julho a agosto de 2019), foi realizada a composição sistemática, resultando em 19 artigos (Figura 1). Nessa etapa foram excluídas todas as pesquisas de caráter epidemiológico com dados apenas nacionais ou estaduais, que não mencionavam o componente municipal. Foram mantidos todos os estudos que aconteceram no âmbito municipal da região Nordeste e respondiam à temática proposta, além de artigos que fazem referências às DCNT, seja para uma doença específica ou condições potenciais de reconhecimento ou enfrentamento.

Figura 1
Fluxograma da revisão

Por fim, os artigos selecionados foram agrupados em tabelas (7ª etapa de agosto a outubro de 2019) e apresentados sob a discussão de dois subtemas: “Políticas Públicas de Saúde” e “Principais Desafios para o Enfrentamento das DCNT”.

Este estudo dispensa submissão e aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa, pois utiliza apenas a pesquisa em bases de dados, sendo, portanto, de domínio público e contendo informações que não identificam os indivíduos.

RESULTADOS

O Brasil possui um extenso território com diferentes particularidades econômicas, culturais, sociais e regionais. Está dividido em cinco regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul), sendo a região Nordeste a que apresenta o maior número de estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) e ocupa 18% de todo o território brasileiro, totalizando 56.760.780 habitantes2121 Polon L. Região Nordeste do Brasil [Internet]. 2019 [citado em 2021 jan 14]. Disponível em: https://www.estudopratico.com.br/regiao-nordeste-do-brasil/
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. Além dos determinantes sociais em saúde, o reconhecimento do perfil municipal através de informações básicas como recursos humanos, recursos para gestão, comunicação e informática, governança, articulação interinstitucional, segurança pública e direitos humanos são essenciais para o adequado planejamento em saúde e direcionamento de ações estratégicas aos mais diversos fatores que interferem no processo saúde-doença2222 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa de Informações Básicas Municipais: perfil dos municípios brasileiros 2019. Rio de Janeiro: IBGE; 2020..

Identificaram-se, nesta pesquisa, estudos publicados em seis estados da região Nordeste, estando Bahia e Ceará com o maior número de publicações, respectivamente oito e cinco. Os demais estados foram Pernambuco (n = 2), Piauí (n = 2), Paraíba (n = 1) e Maranhão (n = 1). De todos os artigos incluídos, apenas quatro não identificaram o município, explicando ser de zona rural ou município do interior do estado. Quanto ao porte populacional, o estudo apresenta municípios de grande (n = 9), médio (n = 4) e pequeno (n = 2) porte.

O porte populacional é considerado fator importante para a gestão em saúde e direcionamento de políticas públicas, no entanto outras dimensões como determinantes em saúde, condições de saúde da população, estrutura do sistema de saúde e desempenho dos serviços de saúde influenciam a organização e o agrupamento de municípios em grupos mais homogêneos. Considerar apenas faixas populacionais pode limitar a interpretação sobre as necessidades em saúde, uma vez que municípios com a mesma população apresentam características territoriais, culturais e desenvolvimento econômico distintos a depender da macrorregião ou estado onde se localizam2323 Calvo MCM, Lacerda JT, Colussi CF, Schneider IJ, Rocha TA. Estratificação de municípios brasileiros para avaliação de desempenho em saúde. Epidemiol Serv Saúde. 2016;25(4):767-76. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742016000400010. PMid:27869970.
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Enfoque 1: políticas públicas de saúde

Nos artigos selecionados (Tabela 1) buscou-se a associação direta entre as necessidades das pessoas portadoras de DCNT e a formulação e implementação de políticas que respondessem adequadamente à complexidade de todos os fatores que impactam a qualidade de vida dessa população. Foram observadas se as iniciativas aconteceram no âmbito da APS, favorecendo maior resolutividade e influência em nível municipal.

Tabela 1
Políticas públicas de saúde no Nordeste e as doenças crônicas não transmissíveis

As pessoas com DCNT apresentam muitas demandas individuais e coletivas e necessitam, frente às políticas públicas de saúde, de atenção e cuidado orientado para a promoção da saúde, desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional, envolvimento social e responsabilização no processo de autocuidado. Nessa perspectiva, analisou-se a ampla compreensão das estratégias em saúde direcionadas ao processo saúde-doença e se as atividades propostas eram realizadas de forma compartilhada com outros setores da sociedade, aumentando e consolidando a rede de cuidados para além do setor Saúde.

Dos artigos selecionados, apenas nove fazem referência à Política Pública de Saúde para pessoas com DCNT na região Nordeste do Brasil.

É interessante ressaltar a limitação na oferta de programas e ações estratégicas que tornem o cuidado em saúde uma prática integral, onde estejam inseridos o processo de educação e promoção da saúde, prevenção de complicações metabólicas e funcionais e interação dos grupos e comunidade3030 Heubel AD, Coral DJ, Santos PSA, Lourenço CM, Vanzelli LA, Lima RCS, et al. Perfil sociodemográfico, clínico e hábitos de vida da população de Palmeirinha (Pernambuco, Brasil) atendida durante o Projeto Rondon - Operação Guararapes. Salusvita. 2015;34(3):541-54..

A qualidade de vida dos indivíduos e a capacidade funcional para realização de atividades diárias são de fundamental importância e merecem destaque entre as prioridades das políticas públicas, uma vez que exibe estreita relação com os determinantes em saúde e o desenvolvimento de estratégias na atenção primária2828 Souza DP, Melo TS, Reis LA, Lima PV. Qualidade de vida em idosos portadores de hipertensão arterial e diabetes mellitus. Rev Multidiscip Psicol. 2016;10(31):56-68. http://dx.doi.org/10.14295/idonline.v10i31.547.
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,3333 Azevedo ALS, Silva RA, Tomasi E, Quevedo LÁ. Doenças crônicas e qualidade de vida na atenção primária à saúde. Cad Saúde Pública. 2013;29(9):1774-82. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2013001300017. PMid:24068223.
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,3434 Pinto AH, Lange C, Pastore CA, Llano PM, Castro DP, Santos FD. Capacidade funcional para atividades de vida diária de idosos da Estratégia de Saúde da Família da zona rural. Ciên Saúde Colet. 2016;21(11):3545-55. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152111.22182015. PMid:27828587.
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Os determinantes sociais também impactam fortemente na prevalência de doenças crônicas e, consequentemente, na organização social e econômica do país. Para garantir às pessoas e à coletividade as condições de saúde e bem-estar, é necessária a integração e qualidade dos fatores determinantes e condicionantes da saúde, que são: a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais44 Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União [Internet], Brasília, 20 de setembro de 1990; Seção 1. p. 18055. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm
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Neste estudo, o Sistema Hiperdia é destaque nas publicações, o mesmo abrange o cadastramento das pessoas com hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus. A partir dessa iniciativa, é possível reconhecer o perfil do usuário e direcionar ações de acordo com a realidade em que vivem2929 Negreiros RV, Melo KDF, Cartaxo RMS. Caracterização epidemiológica de usuários com hipertensão e diabetes mellitus numa estratégia saúde da família. Rev Enferm UFPE On Line. 2016;10(2):744-9.,3232 Souza SS, Silva JM, Santos MF. Análise do perfil da hipertensão e diabetes no município de Jequié - BA. InterScientia. 2014;2(1):63-79.. Porém, o desafio apresentado diz respeito à deficiente execução dessa política em que ainda pesam a alta prevalência de tabagismo, sobrepeso, sedentarismo e presença de complicações metabólicas nas pessoas cadastradas e acompanhadas pela APS2626 Magalhães MJS, Magalhães NJS, Oliveira ASSS, Macedo JL, Pereira IC. Perfil epidemiológico do diabetes mellitus na população de um município maranhense. Rev Eletrôn Aceno Saúde. 2017;9(Spe):S795-802. http://dx.doi.org/10.25248/REAS80_2017.
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,3131 Pereira MMV, Rufino MHDO, Nascimento LC, Macêdo RDC, Oliveira RKCD, Freire JAP. Depressão e estado nutricional de idosos participantes do Programa Hiperdia. Rev Rene. 2015;16(5):731-7. http://dx.doi.org/10.15253/2175-6783.2015000500015.
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Diante dos desafios na execução das políticas direcionadas para os portadores de DCNT, é importante considerar além do perfil desses usuários o contexto em que vivem, pois o convívio com os fatores de risco para aquisição de DCNT pode iniciar-se ainda na infância e adolescência. O contato com pelo menos um dos comportamentos de risco, como maior exposição ao fumo, álcool, consumo inadequado de frutas, legumes, verduras e inatividade física, tem implicações para as práticas e políticas de saúde através de medidas preventivas de educação e intervenção direta, buscando a modificação desses comportamentos e evitando uma vida adulta com doenças crônicas3535 Tassiano RM, Dumith SC, Chica DA, Tenório MC. Agregamento dos quatro principais comportamentos de risco às doenças crônicas não transmissíveis entre adolescentes. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(2):465-78. PMid:24918417..

Observou-se estratégia positiva quanto aos Grupos Terapêuticos e de Convivência, visto que promovem olhar ampliado e de intensa articulação e vínculo entre os usuários, profissionais e toda comunidade, abrindo espaço para a Educação em Saúde em suas diversas faces e práticas2525 Machado WD, Gomes DF, Freitas CASL, Brito MDC, Moreira ACA. Idosos com doenças crônicas não transmissíveis: um estudo de grupo de convivência. Rev Ciênc Saberes. 2017;3(2):444-51.,2727 Alves MS, Araújo MCF, Nascimento MP, Ribeiro FC, Rebouças PT, Santos TA, et al. Grupo terapêutico com idosos sobre o autocuidado nas doenças crônicas. J Health Sci. 2016;18(1):48-51. http://dx.doi.org/10.17921/2447-8938.2016v18n1p52-55.
http://dx.doi.org/10.17921/2447-8938.201...
. Porém, apesar dos espaços de convivência serem de extrema importância para o desenvolvimento pessoal e autocuidado, a situação de saúde vulnerável entre os idosos compromete a plena autonomia e capacidade de socialização e realização de atividades diárias2424 Bottcher LB, Silva MGR, Félix MMS, Silva WSJ, Soares MVS, Bezerra MAA. Perfil de saúde de idosos inseridos em uma universidade da melhor idade em Juazeiro do Norte - CE. Rev Interfaces. 2017;5(14):35-41. http://dx.doi.org/10.16891/2317-434X.v5.e14.a2017.pp35-41.
http://dx.doi.org/10.16891/2317-434X.v5....
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Através do Projeto Rondon - Operação Guararapes, foi visto que o conhecimento e a avaliação das especificidades locais apontam para a necessidade de intenso envolvimento e participação dos diversos setores da sociedade para prevenção e promoção da saúde3030 Heubel AD, Coral DJ, Santos PSA, Lourenço CM, Vanzelli LA, Lima RCS, et al. Perfil sociodemográfico, clínico e hábitos de vida da população de Palmeirinha (Pernambuco, Brasil) atendida durante o Projeto Rondon - Operação Guararapes. Salusvita. 2015;34(3):541-54., e em outra experiência foi estudado e analisado o papel das ações intersetoriais no enfrentamento das DCNT no Brasil e no mundo, concluindo que é preciso uma cultura institucional de parceria, planejamento, corresponsabilidade, cogestão e coparticipação, para que todos os setores avancem na perspectiva de conseguir diálogos regulares, capacitação e qualificação de recursos humanos, políticas integradas e vantagens estratégicas para toda sociedade99 Malta DC, Moura L, Prado RR, Escalante JC, Schmidt MI, Duncan BB. Mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e suas regiões, 2000 a 2011. Epidemiol Serv Saude. 2014;23(4):599-608. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742014000400002.
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Frente às políticas públicas de saúde e ao seu processo de produção, se deparam diversos desafios para o enfrentamento das DCNT, e suas consequências, no cenário epidemiológico, social e de saúde.

Enfoque 2: principais desafios para o enfrentamento das DCNT

A estruturação de políticas públicas tem diversos dificultadores, no entanto, para o enfrentamento das DCNT, é possível analisar, nos estudos incluídos na pesquisa, marcadores que podem favorecer a efetividade das ações, proporcionando às pessoas e à saúde pública uma realidade diferente da que se apresenta atualmente no cenário brasileiro. Os marcadores de morbidades crônicas, autopercepção em saúde e autocuidado, complexidade no tratamento assistencial, fatores de risco associados à aquisição de doenças crônicas ou complicações metabólicas e funcionais, reconhecimento do perfil dos usuários e sua adesão aos serviços de saúde, além da abordagem multidisciplinar e o uso dos sistemas de informação em saúde, configuram-se como estratégias para a capacitação profissional e o planejamento em saúde coordenado.

Poucos estudos refletem a realidade dos serviços e políticas de saúde prestadas às pessoas com DCNT, compondo, dessa forma, parte dos desafios a serem enfrentados. Ainda assim, esta pesquisa reúne na Tabela 2 os artigos com sua respectiva temática relacionada aos desafios para o enfrentamento das DCNT.

Tabela 2
Principais desafios para o enfrentamento das DCNT

No processo de pesquisa observou-se a prevalência de estudos epidemiológicos, sendo um ponto relevante superar a vigilância em saúde e utilizá-la como recurso indispensável para a produção de estratégias e políticas públicas direcionadas. A complexidade e variedade de doenças crônicas, juntamente com os diversos determinantes sociais em saúde dificultam a criação de políticas públicas de saúde eficientes de enfrentamento das DCNT3636 Abreu SSS, Oliveira AG, Macedo MASS, Duarte SFP, Reis LA, Lima PV. Prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em idosos de uma cidade do interior da Bahia. Rev. Multidiscip. Pedagog. 2017;11(38):652-62. http://dx.doi.org/10.14295/idonline.v11i38.963.
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,4040 Miranda SS, Martins EM, Queiroz LA, Andrade APEN, Santos LPS, Sodré TM, et al. Os sistemas de informação em saúde e seu apoio à gestão e ao planejamento do Sistema Único de Saúde: análise de um município de médio porte da região Nordeste. Rev Bras Pesqui Saúde. 2016;18(4):14-21..

Apesar da variedade de doenças crônicas, e das suas consequências para a qualidade de vida da pessoa e custos para intervenção e tratamento, a maioria dos estudos se volta para a hipertensão e diabetes3838 Ormundo LS, Duarte SFP. Avaliar a correlação da obesidade com hipertensão arterial em adultos sedentários na cidade de Vitória da Conquista. Rev Multidiscip Psicol. 2017;11(38):1-8.,3939 Rocha MLF, Borges JW, Martins MFS. Adesão ao tratamento da hipertensão arterial entre usuários da estratégia saúde da família em um município do Piauí. Rev Atenção Prim Saúde. 2017;20(1):6-20. http://dx.doi.org/10.34019/1809-8363.2017.v20.15749.
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. Embora sejam doenças de grande impacto, o foco apenas sobre elas é considerado um limitante para a saúde pública, sendo importante ampliar o olhar sobre as diferentes DCNT e, mais importante, considerar o contexto das condições crônicas e não somente das doenças.

Ampliar o olhar para as condições crônicas e o contexto em que as pessoas vivem permite enfrentar os desafios da atuação em Rede de Saúde e Intersetorial3737 Aleluia IRS, Medina MG, Almeida PF, Vilasbôas ALQ. Coordenação do cuidado na atenção primária à saúde: estudo avaliativo em município sede de macrorregião do Nordeste brasileiro. Ciên Saúde Colet. 2017;22(6):1845-56. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017226.02042017. PMid:28614504.
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,4444 Silva HO, Carvalho MJAD, Lima FEL, Rodrigues LV. Perfil epidemiológico de idosos frequentadores de grupos de convivência no município de Iguatu - CE. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2011;14(1):123-33. http://dx.doi.org/10.1590/S1809-98232011000100013.
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. Iniciativas com capacidade para garantir atenção ampliada em saúde e em parceria com a APS4444 Silva HO, Carvalho MJAD, Lima FEL, Rodrigues LV. Perfil epidemiológico de idosos frequentadores de grupos de convivência no município de Iguatu - CE. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2011;14(1):123-33. http://dx.doi.org/10.1590/S1809-98232011000100013.
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, formando e fortalecendo a ideia de vínculo no território4141 Pereira DS, Nogueira JAD, Silva CAB. Qualidade de vida e situação de saúde de idosos: um estudo de base populacional no Sertão Central do Ceará. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2015;18(4):893-908. http://dx.doi.org/10.1590/1809-9823.2015.14123.
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através de atividades de valorização da autopercepção em saúde e desenvolvimento harmônico no ambiente de trabalho, sendo fundamentais para que ocorra a verdadeira mudança na vida das pessoas e efetivação de políticas públicas coerentes3131 Pereira MMV, Rufino MHDO, Nascimento LC, Macêdo RDC, Oliveira RKCD, Freire JAP. Depressão e estado nutricional de idosos participantes do Programa Hiperdia. Rev Rene. 2015;16(5):731-7. http://dx.doi.org/10.15253/2175-6783.2015000500015.
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.

No nível municipal, a APS está mais próxima dos usuários e tem maior possibilidade de alcance das demandas para atuar como dimensão orientadora da reorganização assistencial do país. Porém, mesmo a APS se caracterizando pela grande proximidade das pessoas e seus territórios, ainda está longe de atingir seu objetivo1616 Raupp LM, Dhein G, Medeiros CRG, Grave MTQ, Saldanha OMFL, Santos MV, et al. Doenças crônicas e trajetórias assistenciais: avaliação dos sistema de saúde de pequenos municípios. Physis. 2015;25(2):615-34. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312015000200015.
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. Sendo as dificuldades enfrentadas advindas, principalmente, da ausência de apoio dos gestores municipais, entraves no sistema de referência e contrarreferência, dificuldade no desenvolvimento de ações educativas, pouca adesão da comunidade, falta de vínculo entre profissionais e usuários, falta de recursos materiais e planejamento adequado às principais demandas do território4242 Tavares VS, Vidal SA, Gusmão-Filho FAR, Figueroa JN, Lima SR. Avaliação da atenção ao diabetes mellitus em Unidades de Saúde da Família de Petrolina, Pernambuco, 2011. Epidemiol Serv Saúde. 2014;23(3):527-36. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742014000300015.
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,4343 Silva GOB, Gondim AP, Monteiro MP, Frota MA, Meneses AL. Uso de medicamentos contínuos e fatores associados em idosos de Quixadá, Ceará. Rev Bras Epidemiol. 2012;15(2):386-95. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2012000200016. PMid:22782104.
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,4545 Silocchi C, Junges JR. Equipe de Atenção Primária: dificuldades no cuidado de pessoas com doenças crônicas não transmissíveis. Trab Educ Saúde. 2017;15(2):599-615. http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00056.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de pesquisa foi possível identificar diferentes temáticas que configuram desafios de implementação das políticas públicas de saúde para pessoas com DCNT. Iniciando pela predominância de estudos de caráter epidemiológico, deixando clara a necessidade de superar o mero agrupamento de informações e focar sobre práticas realmente transformadoras para a sociedade.

Diante dos diversos desafios estão a autopercepção negativa em saúde, a complexidade e variedade das doenças crônicas, a pouca valorização dos determinantes sociais em saúde, a dificuldade no estabelecimento de vínculo e ambiência no território, a frágil relação nas parcerias com a Estratégia Saúde da Família, a falta da adequada referência com os outros níveis e serviços de saúde e ausência da intersetorialidade.

Os desafios identificados neste estudo são mais bem compreendidos quando consideramos que as dificuldades existem em todos os níveis de produção e conhecimento, desde a elaboração até a execução de estratégias direcionadas aos portadores de DCNT. A APS, por estar mais próxima da comunidade e ser ordenadora do cuidado em saúde, propõe iniciativas ampliadas de promoção da saúde e qualidade de vida das pessoas, mas necessita de ações articuladas com outros níveis de atenção e outras políticas públicas. É, portanto, no âmbito municipal e no nível de atenção primária que identificamos maior dificuldade e impasse do acolhimento às pessoas com DCNT.

Sugere-se que mais estudos sejam realizados considerando o melhor agrupamento por perfil municipal e o contexto das condições crônicas de saúde e não somente das DCNT. Além de pesquisas que transcrevam os desafios por parte dos gestores e usuários, uma vez que são estes que sofrem as demandas e estão inteiramente inseridos no cenário das políticas públicas a serem realizadas.

  • Como citar: Coelho ACR, Leite MV, Carneiro KFP, Mendonça JRB, Mesquita LKM, Vasconcelos TB. Os principais desafios das políticas públicas de saúde para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis em municípios do Nordeste brasileiro. Cad Saúde Colet, 2023; 31 (2):e31020095. https://doi.org/10.1590/1414-462X202331020095
  • Fonte de financiamento: nenhuma.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    31 Mar 2020
  • Aceito
    09 Mar 2021
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