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Sustentabilidad? Desacuerdos sobre el desarollo sostenible

RESENHAS / BOOK REVIEWS

Noela Invernizzi

Professora do Departamento de Educação da Universidade Federal do Paraná. E-mail: noela@educacao.ufpr.br

Sustentabilidad? Desacuerdos sobre el desarollo sostenible

Naína Pierri, & Guillermo Foladori (eds).

Trabajo y Capital. Montevideo, 2001, pp. 271.

Este livro é parte de um projeto de educação ambiental para docentes de ciências humanas, e tem como objetivo incentivar a introdução transversal do tema ambiental nos cursos de graduação. Trata-se de um material didático de leitura acessível que ao mesmo tempo mantém o nível de profundidade que o próprio tema exige, além de trazer informações sobre a situação ambiental geral e as várias interpretações sobre esse tema, de modo a permitir captar sua complexidade e fornecendo elementos teóricos para que nelas nos situemos.

Os capítulos são escritos por diferentes autores que enfocam temas diversos que, por possuírem uma base conceitual comum, dão ao livro uma abordagem consistente e uma seqüência lógica.

Outro mérito do livro é a versatilidade dos capítulos, o que possibilita uma leitura independente.

Os autores centram a atenção na identificação das principais correntes do pensamento ambientalista, e no modo como estas confluem para a meta do desenvolvimento sustentável, o qual passa a ter significados diferentes em cada uma delas. Aprofundam, em particular, a discussão sobre a sustentabilidade rural, tão importante para países de forte base agrária como os nossos. Em seguida, enfocam as interpretações das teorias econômicas sobre a questão ambiental. E por último, apresentam os aspectos biofísicos da problemática ambiental do Uruguai.

O capítulo I apresenta a crise ambiental atual, identificando suas especificidades. Discute, em particular, a questão da mudança climática global e da perda da biodiversidade como sendo os problemas ambientais mais importantes da atualidade. Assinala ainda as incertezas científicas e os termos de discussão política em torno destes problemas.

O capítulo II reconstrói o caminho político e teórico da questão ambiental contemporânea, desde os fins dos anos 60, até a assunção geral da proposta do desenvolvimento sustentável, a partir de 1987. São reconhecidas as diferentes correntes de pensamento desde o início do cenário, de maneira que as instâncias do processo histórico aparecem como momentos emergentes da discussão teórica e político-ideológica entre elas. A confluência para a proposta do desenvolvimento sustentável explica-se pela hegemonização da corrente do ambientalismo moderado. As diferenças, a partir de então, passam a manifestar-se através das interpretações de o quê se entende por esse desenvolvimento e de como se chega a ele. A autora argumenta que a discussão hegemônica não reconhece os verdadeiros termos da questão em debate e reivindica a necessidade de recuperá-los.

No capítulo III o autor propõe uma tipologia do pensamento ambientalista que sistematiza as diferenças entre as principais posições. Para isso, destaca dois critérios: o ponto de partida ético (que distingue os ecocentristas dos antro-pocentristas), e a forma de considerar a sociedade humana, (seja como um bloco homogêneo e ahistórico diante da natureza – a posição dos ecocentristas e tecnocentristas – seja como uma sociedade desigual e histórica como parte constituinte da natureza que a transforma – a posição dos marxistas-). Ademais, o autor aprofunda a análise na correlação entre as concepções teóricas da biologia e da economia, sendo estas disciplinas, cada qual na sua perspectiva, as que mais diretamente estudam a relação entre sociedade e natureza.

Analisando as posições do desenvolvimento sustentável, no capítulo IV o autor faz distinção entre as que centram na sustentabilidade ecológica e as que centram na sustentabilidade social, cerne das discordâncias. O autor vai além, e mostra a insuficiência de um enfoque exclusivamente técnico ou estritamente social, e sugere a necessidade de um enfoque com uma perspectiva mais ampla das relações sociais que mediam a relação da sociedade com a natureza.

No capítulo V o autor aplica a tipologia do pensamento ambientalista descrita no capítulo III para identificar as correntes teóricas que interpretam a sustentabilidade rural, e chega a quatro correntes principais. A primeira distingue-se das demais por entender que a sustentabilidade refere-se fundamentalmente às questões ecológicas. As outras três correntes crêem que é necessário considerar também as dimensões socioeconômicas, embora mantenham diferenças importantes entre si. A segunda posição considera o social em função do seu impacto ecológico. Nesse sentido, propõe atender as questões sociais enquanto ponte para se chegar à sustentabilidade biofísica. A terceira posição crê que a sustentabilidade social importa por si, e que para se chegar a ela é necessário e possível corrigir o sistema capitalista de tal maneira que as desigualdades sociais sejam resolvidas. Por último, a quarta posição também valora a sustentabilidade social por si, mas crê que o sistema capitalista é regido por leis que inexoravelmente conduzem à insustentabilidade. Este capítulo ilustra as posições com artigos e documentos de autores e instituições dos mais representativos.

Nos capítulos VI, VII, VIII e IX são expostas as distintas teorias econômicas que interpretam a questão ambiental. O capítulo VI apresenta a economia ambiental, versão keynesiana da escola econômica neoclássica. O capítulo VII apresenta os cornucopianos, versão ultraneoliberal da mesma escola. Já o capítulo VIII apresenta a economia ecológica que critica as duas versões anteriores. O capítulo IX fornece a interpretação marxista, enriquecendo a exposição conceitual com numerosos exemplos que reforçam sua clareza. Os quatro capítulos complementam e enriquecem os anteriores, oferecendo elementos adicionais para o leitor compreender a literatura sobre o tema, e se posicionar em relação às políticas ambientais vigentes.

Por último, o capítulo X descreve a dimensão biofísica da problemática ambiental do Uruguai, tendo como base uma sistematização de informações atualizadas, porém dispersas. A autora adverte, com propriedade, sobre a importância de se conhecer a fundo não só esta dimensão para se situar na problemática ambiental do país, como também sobre a necessidade de se analisar como a sociedade a gerou. Segundo a autora, estes problemas devem ser entendidos como um produto histórico, em que diferentes interesses e forças políticas interferem na sua criação e reprodução. O capítulo conclui que, apesar de haver certo nível de consenso sobre a existência de problemas ambientais no Uruguai, estes têm sido pouco estudados e apresentam um certo grau de incerteza.

Em seu conjunto, os capítulos traçam um delineamento global, ordenado, articulado e coerente que transmite, com muita clareza, o caráter multidimensional e complexo da questão ambiental, e demonstram a necessidade e a factibilidade de uma abordagem interdisciplinar. Os pontos chaves desta coerência originam-se no fato de ter-se optado por um enfoque que dá primazia ao caráter social e político em prejuízo do técnico. Outro aspecto s ser considerado é o reconhecimento explícito da importância das opções teórico-metodológicas que subjazem às análises da questão ambiental e, em particular, à da sustentabilidade. Estes pontos chaves que ajudam a "ler" o ambiental, constituem um aporte muito valioso para superar o enfoque predominante que ainda apresenta um forte viés físico-natural e tecnicista.

Merece destaque a revisão bibliográfica ampla, cuidadosa e atualizada fornecida nos capítulos, o que permite ao leitor obter um claro retrato do estado da arte, e ao mesmo tempo, o estimula a aprofundar-se nos aspectos específicos de seu interesse.

Os artigos e seus autores são:

I. A crise ambiental contemporânea. TOMMASINO, H.1 1 Humberto Tommasino é veterinário, Mestre em Extensão Rural pela Universidade de Santa Maria, e Doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. É professor Livre Docente da Faculdade de Veterinária da Universidade da República Oriental do Uruguai. E-mail: tomaso@adinet.com.uy e FOLADORI, G.2 2 Guillermo Foladori é antropólogo, Doutor em Economia pela UNAM, México, e Pós-Doutor em Sociologia do Meio Ambiente pela UNICAMP. É professor Visitante do Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná. E-mail: fola@cce.ufpr.br

II. O processo histórico e teórico que conduz à proposta do desenvolvimento sustentável. PIERRI, N. 3 3 Naína Pierri é socióloga, Mestre em Educação Ambiental pela UNED, Espanha, e Doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. É professora Adjunta da Faculdade de Humanidades e Ciências da Educação da Universidade da República Oriental do Uruguai. E-mail: nainap@ig.com.br

III. Uma tipologia do pensamento ambientalista. FOLADORI, G.

IV. O enfoque técnico e o enfoque social da sustentabilidade. FOLADORI, G. E TOMMASINO, H.

V. Sustentabilidade rural: discordâncias e controvérsias. TOMMASINO, H.

VI. A economia ambiental. CHANG, M. Y.4 4 Man Yu Chang é economista, Mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal Rural de Rio de Janeiro e Doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. É consultora em desenvolvimento rural. E- mail: manyu@avalon.sul.com.br

VII. Cornucopianos: os ultraneoliberais. CHANG M. Y.

VIII. A economia ecológica. FOLADORI, G.

IX. Economia política marxista e o meio ambiente. FOLADORI, G.

X. Problemática ambiental do Uruguai: aspectos biofísicos. GAZZANO, I.5 5 Inés Gazzano é engenheira agrônoma, Mestre e Doutoranda em Agroecologia, Sociologia e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Córdoba, Espanha. É professora Assistente da Faculdade de Agronomia da Universidade da República Oriental do Uruguai. E- mail: igazzano@adinet.com.uy

NOTAS

  • 1
    Humberto Tommasino é veterinário, Mestre em Extensão Rural pela Universidade de Santa Maria, e Doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. É professor Livre Docente da Faculdade de Veterinária da Universidade da República Oriental do Uruguai. E-mail:
  • 2
    Guillermo Foladori é antropólogo, Doutor em Economia pela UNAM, México, e Pós-Doutor em Sociologia do Meio Ambiente pela UNICAMP. É professor Visitante do Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná. E-mail:
  • 3
    Naína Pierri é socióloga, Mestre em Educação Ambiental pela UNED, Espanha, e Doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. É professora Adjunta da Faculdade de Humanidades e Ciências da Educação da Universidade da República Oriental do Uruguai. E-mail:
  • 4
    Man Yu Chang é economista, Mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal Rural de Rio de Janeiro e Doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. É consultora em desenvolvimento rural. E- mail:
  • 5
    Inés Gazzano é engenheira agrônoma, Mestre e Doutoranda em Agroecologia, Sociologia e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Córdoba, Espanha. É professora Assistente da Faculdade de Agronomia da Universidade da República Oriental do Uruguai. E- mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Dez 2003
    • Data do Fascículo
      Dez 2001
    ANPPAS - Revista Ambiente e Sociedade Anppas / Revista Ambiente e Sociedade - São Paulo - SP - Brazil
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