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Percepção de idosos relacionada ao risco de quedas e seus fatores associados

RESUMO

Objetivo:

Analisar a associação da percepção de idosos sobre os fatores de risco de ocorrência de quedas.

Método:

Estudo transversal analítico com 190 idosos do Programa Longevidade Saudável, de uma universidade pública de Mato Grosso, no período de maio a agosto de 2016. A coleta ocorreu por entrevista estruturada e vinhetas. Realizaram-se análises descritiva e bivariada - teste de qui-quadrado de Pearson (x2) nível de significância de 5%. Também foram estimadas as razões de prevalências (RP) brutas e ajustadas, com intervalos de confiança (95%), seguidas pela regressão múltipla de Poisson.

Resultados:

Dentre os participantes, 64,2% apresentaram percepção satisfatória sobre os fatores de risco referentes a quedas. A prevalência de percepção de risco insatisfatória foi 105% maior naqueles com renda de 1 a 3 salários mínimos, 75% maior nos de baixo risco de quedas e 46% maior naqueles que não frequentam outro grupo social.

Conclusão e Implicações para a prática:

Parcela significativa de idosos possui percepção de risco insatisfatória para os fatores de risco de quedas associada a baixa renda, não frequentar outro grupo social e ao baixo risco de queda. O conhecimento sobre a percepção de risco de quedas dos idosos auxilia os enfermeiros no planejamento e implementação de programas de prevenção de quedas dessa população.

Palavras-chave:
Fatores de risco; Quedas; Idoso

ABSTRACT

Objective:

To analyze the association of the perception of the elderly on the risk factors for falls.

Methods:

An Analytical cross-sectional study with 190 elderly from the Healthy Longevity Program of a public university in Mato Grosso, from May to August 2016. The collection wasdone through a structured interview and vignettes. Performed descriptive and bivariate analyzes - Pearson chi-square test (x2) significance level of 5%. The crude and adjusted prevalence ratios (PR), with confidence intervals (95%), were also estimated, followed by Poisson multiple regression.

Results:

Of the participants, 64.2% had a satisfactory perception about the risk factors for falls. The prevalence of unsatisfactory risk perception was 105% higher in those with income from 1 to 3 minimum wages, 75% higher in those with low risk of falls and 46% higher in those who did not attend another social group.

Conclusion and implications for the practice:

A significant proportion of the elderly have an unsatisfactory risk perception for the risk factors for falls associated with low income, not attending another social group and the low risk of falls. Knowledge about the risk perception of falls in the elderly helps nurses to plan and implement fall prevention programs for this population.

Keywords:
Risk factors; Falls; Aged

RESUMEN

Objetivo:

Analizar la asociación de la percepción de adultos mayores sobre los factores de riesgo para caídas.

Métodos:

Estudio analítico transversal con 190 participantes del Programa de Longevidad Saludable de una universidad pública en Mato Grosso, realizado entre mayo y agosto de 2016. Recolección realizada por entrevista estructurada y viñetas. Análisis descriptivo y bivariado - prueba chi-cuadrado de Pearson (x2) con nivel de significancia del 5%. También fueron estimadas razones de prevalencias (RP) brutas y ajustadas, con intervalos de confianza (95%), seguidas por la regresión múltiple de Poisson.

Resultados:

El 64,2% presentaron percepción satisfactoria sobre los factores de riesgo para caídas. La prevalencia de percepción de riesgo insatisfactoria fue un 105% mayor en aquellos con ingresos de 1 a 3 salarios mínimos, un 75% mayor en los de bajo riesgo y un 46% mayor en aquellos que no frecuentan otro grupo social.

Conclusión e Implicaciones para la práctica:

Proporción significativa de personas mayores tiene percepción insatisfactoria para los factores asociados a los bajos ingresos, no frecuentar otro grupo social y el bajo riesgo de caída. Tener conocimiento sobre la percepción de los mayores auxilia a los enfermeros en la planificación e implementación de programas de prevención de caídas de esa población.

Palabras claves:
Factores de riesgo; Caídas; Anciano

INTRODUÇÃO

Aproximadamente 28% a 35% das pessoas com mais de 65 anos de idade sofrem quedas a cada ano no mundo, e naquelas da faixa etária de 70 anos e mais essa proporção é de 32% a 42% 11 Organização Mundial de Saúde (OMS). World Health Organization - WHO Global report on falls prevention in older age. Translated by Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo [Internet]. 2010; [cited 2015 Apr 1]; 1-64. Available from: http://www.saude.sp.gov.br/resources/ccd/publicacoes/publicacoes-ccd/saude-e-populacao/manual_oms_-_site.pdf
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. No Brasil, estudo realizado em 70 municípios situados nas diferentes regiões do país evidenciou que a prevalência de quedas foi de 25,1%. Destas, 1,8% resultaram em fratura de quadril ou fêmur e, entre elas, 31,8% necessitaram de cirurgia com colocação de prótese 22 Pimentel WRT, Pagotto V, Stopa SR, Hoffmann MCCL, Andrade FB, Souza Junior PRB, et al. Quedas entre idosos brasileiros residentes em áreas urbanas: ELSI-Brasil. Rev Saúde Pública [Internet]. 2018 Oct; [cited 2019 May 22]; 52(Supl 2):12s. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102018000300508&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. DOI: https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2018052000635
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.

Os fatores que contribuem para a ocorrência das quedas nessas pessoas são bem conhecidos e estão relacionados ao processo de envelhecimento (fatores intrínsecos), ao ambiente físico doméstico e público (fatores extrínsecos) e aos comportamentos dos idosos 11 Organização Mundial de Saúde (OMS). World Health Organization - WHO Global report on falls prevention in older age. Translated by Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo [Internet]. 2010; [cited 2015 Apr 1]; 1-64. Available from: http://www.saude.sp.gov.br/resources/ccd/publicacoes/publicacoes-ccd/saude-e-populacao/manual_oms_-_site.pdf
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. Tais comportamentos são decorrentes de decisões que os idosos tomam frente às situações de risco 11 Organização Mundial de Saúde (OMS). World Health Organization - WHO Global report on falls prevention in older age. Translated by Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo [Internet]. 2010; [cited 2015 Apr 1]; 1-64. Available from: http://www.saude.sp.gov.br/resources/ccd/publicacoes/publicacoes-ccd/saude-e-populacao/manual_oms_-_site.pdf
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, que, por sua vez, dependem da percepção ou não que possuem diante dos fatores de risco para as quedas.

A percepção de risco (PR) é a interpretação da pessoa sobre os riscos, baseada no conjunto de crenças, valores e experiência de vida, que dão significado a cada um dos acontecimentos perigosos, bem como no entendimento de uma ameaça específica. Constitui-se em eixo organizador e orientador das decisões e comportamentos pessoais antes, durante e após uma situação de risco 33 Di Giulio GM, Vasconcellos MP, Günther WMR, Ribeiro H, Assunção JV. Risk perception: a field of interest for the interface between environment, health, and sustainability. Saúde Soc (São Paulo) [Internet]. 2015 Dec; [cited 2019 May 28]; 24(4):1217-31. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v24n4/en_1984-0470-sausoc-24-04-01217.pdf. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902015136010
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. Entretanto, em pessoas com comprometimento cognitivo, a percepção de risco pode ser alterada 33 Di Giulio GM, Vasconcellos MP, Günther WMR, Ribeiro H, Assunção JV. Risk perception: a field of interest for the interface between environment, health, and sustainability. Saúde Soc (São Paulo) [Internet]. 2015 Dec; [cited 2019 May 28]; 24(4):1217-31. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v24n4/en_1984-0470-sausoc-24-04-01217.pdf. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902015136010
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.

Pesquisas têm demonstrado que as quedas dos idosos podem ser prevenidas mediante diversas medidas, tais como melhora na iluminação, retirada de tapetes do domicílio, uso adequado de calçados, entre outras, 33 Di Giulio GM, Vasconcellos MP, Günther WMR, Ribeiro H, Assunção JV. Risk perception: a field of interest for the interface between environment, health, and sustainability. Saúde Soc (São Paulo) [Internet]. 2015 Dec; [cited 2019 May 28]; 24(4):1217-31. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v24n4/en_1984-0470-sausoc-24-04-01217.pdf. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902015136010
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4 Martins CL, Echevarría-Guanilo ME, Silveira DT, Gonzales RIC, Dal Pai D. Risk perception of work-related burn injuries from the workers perspective. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 Oct/Dec; [cited 2016 Apr 3]; 24(4):1148-56. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072015000401148&lng=en&tlng=en. DOI: 10.1590/0104-0707201500000880015
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-55 Chippendale T, Boltz M. The Neighborhood Environment: Perceived Fall Risk, Resources, and Strategies for Fall Prevention. Gerontologist [Internet]. 2015 Aug; [cited 2015 Jun 26]; 55(4):575-83. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24836115. DOI: 10.1093/geront/gnu019
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dotadas pelos idosos e profissionais que os atendem, assim como por seus familiares e cuidadores. No entanto, essas medidas podem não ser efetivas se os idosos não tiverem adequada percepção da presença dos fatores de risco nas suas atividades diárias.

Estudos sobre PR têm sido desenvolvidos principalmente nas áreas da psicologia, ciências agrárias, economia, educação, nutrição, arquitetura, entre outras 66 Abreu NJA, Zanella ME. Percepção de riscos de inundações: Estudo de caso no bairro Guabiraba, Maranguape - Ceará. Rev Okara Geog Deb [Internet]. 2015; [cited 2016 Apr 3]; 9(1):90-107. Available from: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/okara/article/view/23859/13408
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7 Börner S, Albino JCT, Caraveo LMN, Tejeda ACC. Exploring Mexican adolescents’ perceptions of environmental health risks: a photographic approach to risk analysis. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2015; [cited 2016 May 20]; 20(5):1617-27. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v20n5/1413-8123-csc-20-05-01617.pdf. DOI: 10.1590/1413-81232015205.11382014
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8 Borsanelli AC, Samara SI, Ferraudo AS, Dutra IS. Escolaridade e volume de produção têm associação com a percepção de risco de produtores de leite no uso de produtos veterinários. Pesq Vet Bras [Internet]. 2014 Oct; [cited 2016 May 13]; 34(10):981-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/pvb/v34n10/10.pdf. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2014001000010
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-99 Santos WJ, Giacomin KC, Firmo JOA. Avaliação da tecnologia das relações de cuidado nos serviços em saúde: percepção dos idosos inseridos na Estratégia Saúde da Família em Bambuí, Brasil. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2014; [cited 2016 Apr 10]; 19(8):3441-50. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n8/1413-8123-csc-19-08-03441.pdf. DOI: 10.1590/1413-81232014198.14172013
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. Na área da saúde, eles abordam principalmente doenças transmissíveis como HIV e hepatites, riscos ocupacionais, cânceres (mama, ovário, pulmão), osteoporose e saúde pública 1010 Barcenilla-Wong AL, Chen JS, March LM. Concern and risk perception of osteoporosis and fracture among post-menopausal Australian women: results from the Global Longitudinal Study of Osteoporosis in Women (GLOW) cohort. Arch Osteoporos [Internet]. 2013; [cited 2016 Apr 15]; 8:155. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24105339. DOI: 10.1007/s11657-013-0155-y
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11 Figueiredo LG, Silva RAR, Silva ITS, Souza KGS, Silva FFA. Percepção de mulheres casadas sobre o risco de Infecção pelo HIV e o comportamento preventivo. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2013 Dec; [cited 2015 Oct 15]; 21(no.spe2):805-11. Available from: http://www.facenf.uerj.br/v21esp2/v21e2a18.pdf. DOI: 10.1186/s12905-014-0152-3.
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-1212 Kartal M, Ozcakar N, Hatipoglu S, Tan MN, Guldal AD. Breast cancer risk perceptions of Turkish women attending primary care: a cross-sectional study. BMC Womens Health [Internet]. 2014 Dec; [cited 2015 Oct 15]; 14:152. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4262994/
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.

Quanto à percepção de risco de quedas na população idosa, pouco se sabe. Os estudos existentes 1313 Braun B. Knowledge and perception of fall-related risk factors and fall-reduction techniques among community-dwelling elderly individuals. Phys Ther [Internet]. 1998; [cited 2015 Sep 9]; 78(12):1262-1276. Available from: https://academic.oup.com/ptj/article-abstract/78/12/1262/2633231. DOI: https://doi.org/10.1093/ptj/78.12.1262.
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14 Garcia RR, Gelsi TA, Sabaté ACC. The perception of risk factors for falls in a group of elderly women. Rev Bras Ciênc Saúde [Internet]. 2007; [cited 2015 Sep 6]; 5(11):41-51. Available from: http://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/415. DOI: 10.13037/rbcs.vol5n11.415
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15 Moura SRB, Vieira JPPN, Santos AMR, Mesquita GV, Ribeiro JLV. Perception of the elderly about the risk of falls. Rev Interdisciplin [Internet]. 2017 Oct - Dec; [cited 2018 Jul 1]; 10(4):1-13. Available from: https://revistainterdisciplinar.uninovafapi.edu.br/index.php/revinter/article/view/1291
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-1616 Morsch P, Myskiw M, Myskiw JC. Falls’ problematization and risk factors identification through older adults’ narrative. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2016; [cited 2017 Fev 8]; 21(11):3565-74. Available from: https://www.scielosp.org/article/csc/2016.v21n11/3565-3574/. DOI: 10.1590/1413-812320152111.06782016
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mostram que tal população consegue perceber os fatores de risco. A despeito das evidências, os autores concluem que pesquisas adicionais sobre PR são necessárias para confirmar esses achados com outros grupos de idosos, e trazer novas informações sobre fatores associados. Neste estudo, o objetivo foi analisar a associação da percepção de idosos sobre os fatores de risco para ocorrer quedas.

MÉTODO

Estudo transversal e analítico realizado com pessoas de 60 anos ou mais, participantes do Programa Longevidade Saudável (PLS), de uma universidade pública do estado de Mato Grosso. O Programa oferece atividades físicas, culturais e educativas de promoção à saúde do idoso.

Todos os 306 idosos inscritos no PLS, em 2016, foram convidados a participar da pesquisa. Desses, 20 declinaram, 83 deixaram o programa e 13 não atenderam ao critério de inclusão “apresentar capacidade cognitiva avaliada por meio do Mini Exame do Estado Mental (MEEM)” 1717 Ministério da Saúde (BR). Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Mini exame do estado mental (MEEM). (Anexo C). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2007 [Internet]. [citado 2015 Oct 18]. Available from: https://app2.unasus.gov.br/UNASUSPlayer3/recursos/SE_UNASUS_0001_SAUDE_PESSOA_IDOSA/4/lib/docs/mini-exame-do-estado-mental.pdf
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e estabelecer comunicação com a pesquisadora para permitir a compreensão das perguntas. Ao final, 190 idosos participaram do estudo.

A coleta de dados ocorreu no período de maio a agosto de 2016, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os dados sociodemográficos e condições de saúde dos idosos foram obtidos mediante entrevista realizada pela pesquisadora e por outros entrevistadores treinados, utilizando questionário.

A percepção dos idosos em relação aos fatores de risco de quedas foi verificada por meio de vinhetas - técnica que consiste na descrição resumida de determinado evento a partir de situação fictícia ou real - e de narrações, imagens ou vídeos 1818 Evans SC, Roberts MC, Keeley JW, Blossom JB, Amaro CM, Garcia AM, et al. Vignette methodologies for studying clinicians decision-making: validity, utility, and application in ICD-11 fieldstudies. Int J Clin Health Psychol [Internet]. 2015 May/Aug; [cited 2019 May 27]; 15(2):160-70. Available from: https://reader.elsevier.com/reader/sd/pii/S1697260014000660?token=6AAF8E8133CD46BC93D591F58596AAF8E16069C7836433831A7507163F2D2A4957C32BC20B15481661EA88D018BCDF80. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.ijchp.2014.12.001
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. Elas foram construídas em três etapas: (1) escolha do formato e conteúdo das vinhetas; (2) elaboração do instrumento de coleta de dados da pesquisa, utilizando as vinhetas; e (3) validação do conteúdo das vinhetas por juízes.

Neste estudo, foram utilizadas 12 vinhetas contendo imagens de situações vivenciadas no cotidiano dos idosos. Cada uma delas com vários fatores de risco ambientais e comportamentais para a ocorrência de quedas (1 a 5 fatores de risco) (Quadro 1). As vinhetas foram aplicadas por meio de equipamento do tipo computador portátil (10 polegadas).

Quadro 1
Descrição dos fatores de risco presentes em cada vinheta apresentada aos idosos do Programa Longevidade Saudável, Cuiabá-MT, em 2016.

A variável dependente do estudo foi percepção dos idosos em relação aos fatores de risco causadores de quedas (PR idosos), verificada por meio da questão “Nesta situação/ambiente, existe a possibilidade de um (a) idoso (a) cair?”. Na ausência de uma referência para classificação da PR dos idosos, optou-se pela classificação arbitrária. Como as vinhetas possuíam vários fatores de risco, considerou-se PR satisfatória quando o idoso identificou pelo menos um fator de risco em cada vinheta (totalizando 12) e PR insatisfatória a identificação de nenhum a 11 fatores de risco de quedas.

As variáveis independentes deste estudo são sociodemográficas e condições de saúde. Descrevem-se as variáveis sociodemográficas: sexo (masculino/feminino); idade (60 a 69 anos/70 a 79 anos/80 anos e mais); estado civil (solteiro/casado ou união estável/separado ou divorciado/viúvo); anos de estudo (analfabeto/1 a 4 anos/5 a 8 anos/9 a 10 anos/>11 anos); situação ocupacional (trabalhando/aposentado/aposentado trabalhando/sem trabalhar); renda (não possui/até um salário mínimo (SM)/de 2 a 3 SM/mais de 3 SM); arranjo familiar (sozinho/cônjuge ou companheiro/familiar-pessoa da família que não é o cônjuge/companheiro/família-cônjuge mais pessoa da família/cuidador-pessoa que cuida e que não é da família/outras pessoas); frequenta outro grupo social além do PLS (sim/não); visita amigos/parentes (sim/não) e recebe visitas (sim/não).

As variáveis relacionadas às condições de saúde são autopercepção de saúde atual (muito ruim/ruim/regular/bom/muito bom); tabagista (sim/não/ex-fumante); bebida alcoólica (sim/não/às vezes); problema de saúde (sim/não/se sim, quantos? E qual); uso de medicamentos (sim/não); alteração de equilíbrio referido (sim/não); dificuldade de mobilidade referida (sim/não); pratica exercícios físicos (sim/não). Também foi avaliado o grau de dependência para atividades de vida diária (AVD), por meio do Índice de Katz 1717 Ministério da Saúde (BR). Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Mini exame do estado mental (MEEM). (Anexo C). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2007 [Internet]. [citado 2015 Oct 18]. Available from: https://app2.unasus.gov.br/UNASUSPlayer3/recursos/SE_UNASUS_0001_SAUDE_PESSOA_IDOSA/4/lib/docs/mini-exame-do-estado-mental.pdf
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, e instrumentais, por meio da Escala de Lawton e Brody.1717 Ministério da Saúde (BR). Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Mini exame do estado mental (MEEM). (Anexo C). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2007 [Internet]. [citado 2015 Oct 18]. Available from: https://app2.unasus.gov.br/UNASUSPlayer3/recursos/SE_UNASUS_0001_SAUDE_PESSOA_IDOSA/4/lib/docs/mini-exame-do-estado-mental.pdf
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O risco de quedas foi avaliado pela Falls Risk Score1919 Schiaveto FV. Avaliação do risco de quedas em idosos na comunidade [dissertação]. Ribeirão Preto (SP). Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto; 2008 [cited 2018 May 15]. Available from: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-19122008-153736/pt-br.php. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/D.22.2008.tde-19122008-153736
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e histórico de quedas - ocorrências nos últimos 12 meses (sim/não/se sim, quantas?); consequências da queda (escoriações/hematomas/fraturas/torções). O medo de cair foi avaliado por meio do Falls Efficacy Scale International-FES-I2020 Camargos FFO, Dias RC, Dias JM, Freire MTF. Cross-cultural adaptation and evaluation of the psychometric properties of the Falls Efficacy Scale - International Among Elderly Brazilians (FES-I-BRAZIL). Rev Bras Fisioter [Internet]. 2010; [cited 2018 Apr 22]; 14(3):237-43. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v14n3/en_10.pdf. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552010000300010
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.

Os dados foram codificados e digitados duplamente em planilhas eletrônicas do programa Epi-Info versão 3.2.5. Foi realizada a análise descritiva por meio da frequência relativa e absoluta. Na análise bivariada, utilizou-se teste de qui-quadrado de Pearson (x22 Pimentel WRT, Pagotto V, Stopa SR, Hoffmann MCCL, Andrade FB, Souza Junior PRB, et al. Quedas entre idosos brasileiros residentes em áreas urbanas: ELSI-Brasil. Rev Saúde Pública [Internet]. 2018 Oct; [cited 2019 May 22]; 52(Supl 2):12s. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102018000300508&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. DOI: https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2018052000635
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) com nível de significância de 5% para identificar associação entre a variável dependente e as independentes. Estimaram-se as prevalências, as razões de prevalências (RP) brutas e ajustadas, bem como os respectivos intervalos de confiança (95%) da percepção dos idosos em relação aos fatores de risco ambientais e comportamentais causadores quedas. Posteriormente, realizou-se regressão múltipla de Poisson com variância robusta pelo método stepwise forward. Somente as variáveis que apresentaram p<0,20, na análise bivariada foram consideradas para a construção do modelo múltiplo final, ajustado por sexo, idade e problemas sensoriais.

A pesquisa foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Muller, sob o Parecer n.º 1.375.300/2015.

RESULTADOS

A maioria dos idosos pesquisados era do sexo feminino (90,5%), na faixa etária de 60 a 69 anos (67,3%), possuía mais de 11 anos de estudo (58,9%) e a maior parte (36,2%) era casada. Quanto à situação ocupacional, a maioria (51,5%) era aposentada e 36,9% tinham renda mensal de 2 a 3 salários mínimos. Mais da metade (57,4%) deles frequentava outro grupo social além do PLS, 91,1% realizavam visitas a amigos e parentes e as recebiam (93,7%).

A Tabela 1 apresenta as condições de saúde dos idosos participantes do estudo.

Tabela 1
Distribuição dos idosos participantes do Programa Longevidade Saudável da UFMT, segundo condições de saúde. Cuiabá-MT, 2016

A Tabela 2 mostra a frequência do histórico de quedas, risco de quedas e medo de cair.

Tabela 2
Distribuição dos idosos participantes do Programa Longevidade Saudável da UFMT, segundo histórico de quedas, risco de quedas e medo de cair. Cuiabá-MT, 2016

Em relação à prevalência da percepção dos idosos sobre os fatores de risco ambientais e comportamentais causadores de quedas, a maioria (64,2%) apresentou PR satisfatória.

Considerando a prevalência de PR insatisfatória dos idosos em relação aos fatores de risco para quedas deste estudo, na análise bivariada entre PR insatisfatória dos idosos e variáveis sociodemográficas, identificou-se associação significativa com os variáveis anos de estudo (p<0,001), situação ocupacional (p=0,048) e renda mensal do idoso (p=0,004) (Tabela 3).

Tabela 3
Prevalência da percepção dos idosos em relação aos fatores de risco ambientais e comportamentais causadores de quedas, participantes do Programa Longevidade Saudável da UFMT, segundo variáveis sociodemográficas. Cuiabá, Mato Grosso, 2016

Houve associação significativa entre a variável PR insatisfatória e a variável risco de quedas (p=0,022). E não houve associação estatisticamente significativa entre a variável PR insatisfatória dos idosos e as variáveis de condições de saúde.

No modelo múltiplo final - independente do risco de quedas, se frequenta ou não outro grupo social, do sexo, idade, bem como se referiu ou não problemas sensoriais - foi possível verificar que a prevalência de PR insatisfatória foi 105% maior nos idosos com renda de 1 a 3 salários mínimos, em comparação àqueles com maior renda (3 ou mais SM) (Tabela 4).

Tabela 4
Modelo de Regressão múltipla de Poisson: variáveis associadas à percepção insatisfatória dos idosos em relação aos fatores de risco ambientais e comportamentais causadores de quedas, participantes do Programa Longevidade Saudável da UFMT. Cuiabá, Mato Grosso, 2016

A prevalência de PR insatisfatória foi 75% maior nos idosos com baixo risco de quedas que nos com alto risco de quedas, e 46% maior naqueles que não frequentam outro grupo social, independentemente das demais variáveis associadas, bem como o sexo, idade e se referiu ou não problemas sensoriais. Foi realizado teste de bondade de ajuste, mostrando que o modelo é adequado (p=0,1972) (Tabela 4).

DISCUSSÃO

Por ter sido realizado com idosos que compõem um grupo específico e, considerando que a PR é uma variável subjetiva - portanto, suscetível a diferentes concepções de risco de quedas -, os resultados deste estudo dificultam generalizações. Entretanto, seus resultados ampliam o conhecimento sobre um dos aspectos que influenciam na frequência de quedas de idosos e sua prevenção.

A maior frequência de PR satisfatória dos idosos identificada neste estudo reforça os resultados encontrados em outras pesquisas 1313 Braun B. Knowledge and perception of fall-related risk factors and fall-reduction techniques among community-dwelling elderly individuals. Phys Ther [Internet]. 1998; [cited 2015 Sep 9]; 78(12):1262-1276. Available from: https://academic.oup.com/ptj/article-abstract/78/12/1262/2633231. DOI: https://doi.org/10.1093/ptj/78.12.1262.
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14 Garcia RR, Gelsi TA, Sabaté ACC. The perception of risk factors for falls in a group of elderly women. Rev Bras Ciênc Saúde [Internet]. 2007; [cited 2015 Sep 6]; 5(11):41-51. Available from: http://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/415. DOI: 10.13037/rbcs.vol5n11.415
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15 Moura SRB, Vieira JPPN, Santos AMR, Mesquita GV, Ribeiro JLV. Perception of the elderly about the risk of falls. Rev Interdisciplin [Internet]. 2017 Oct - Dec; [cited 2018 Jul 1]; 10(4):1-13. Available from: https://revistainterdisciplinar.uninovafapi.edu.br/index.php/revinter/article/view/1291
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-1616 Morsch P, Myskiw M, Myskiw JC. Falls’ problematization and risk factors identification through older adults’ narrative. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2016; [cited 2017 Fev 8]; 21(11):3565-74. Available from: https://www.scielosp.org/article/csc/2016.v21n11/3565-3574/. DOI: 10.1590/1413-812320152111.06782016
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, os quais mostram que os idosos geralmente percebem os fatores de risco de ocorrência de quedas. Isso pode ser considerado um bom resultado, pois sugere maior possibilidade de prevenção das quedas pelos idosos.

Contudo, a frequência de PR insatisfatória dos idosos preocupa, pois tem implicações importantes. Quanto mais baixo for o nível de percepção de risco da pessoa, maior a probabilidade de sofrer danos 2121 Areosa J. Perceptions of occupational risks in the railway sector. Sociol Probl Prát [Internet]. 2014 [cited 2016 Apr 2]; 75:83-107. Available from: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65292014000200004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. DOI: 10.7458/SPP2014753577
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e, na medida em que os idosos não conseguem perceber os fatores de risco relacionados a quedas, podem estar mais expostos e em maior risco de cair.

Provavelmente, a PR insatisfatória dos idosos possa ser explicada pela maneira como eles avaliaram os riscos apresentados nas vinhetas. Alguns autores defendem a concepção de risco como inerentemente subjetiva, isto é, sua interpretação depende da maneira como cada um, no processo de julgamento, o analisa considerando vários elementos como experiência, conhecimento, possíveis danos, significados, valores entre outros 2222 Areosa J. A importância das percepções de riscos dos trabalhadores. Int J Work Cond [Internet]. 2012; [cited 2016 Feb 1]; 3:54-64. Available from: http://ricot.com.pt/artigos/1/J.Guanais_pp.65.84.pdf
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-2323 Bartoszeck FK, Thielen IP. Conceitos precursores no entendimento da Percepção de Risco. J Ciênc Cogn [Internet]. 2011; [cited 2016 Apr 5];1:14-0. Available from: http://www.jcienciascognitivas.home.sapo.pt
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. A PR está diretamente vinculada à maneira como as pessoas pensam, representam, classificam ou analisam as diversas formas de ameaça (riscos) a que se encontram expostas ou de que dela têm conhecimento 2222 Areosa J. A importância das percepções de riscos dos trabalhadores. Int J Work Cond [Internet]. 2012; [cited 2016 Feb 1]; 3:54-64. Available from: http://ricot.com.pt/artigos/1/J.Guanais_pp.65.84.pdf
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Nesse sentido, pode ser que, na PR dos idosos deste estudo, os fatores de risco causadores de quedas apresentados nas vinhetas tenham sido influenciados por suas características. Eles eram jovens, independentes, autoavaliavam a saúde como boa, possuíam histórico de poucas quedas e menor preocupação em cair. Idosos com essas características são menos propensos a perceberem os fatores de risco relacionados a quedas como um risco para eles, porque não se identificam como pessoas que têm maior probabilidade de sofrer o dano. Isso foi encontrado em um estudo realizado na Austrália, no qual os idosos entrevistados se identificavam como sendo do “tipo que não cai”, uma estratégia para protegerem-se de serem vistos fisicamente incompetentes2424 Dollard J, Barton C, Newbury J, Turnbull D. Falls in old age: a threat to identity. J Clin Nurs [Internet]. 2012 Sep; [cited 2015 Oct 28]; 21(17-18):2617-25. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22393883. DOI: 10.1111/j.1365-2702.2011.03990.x
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A associação encontrada neste estudo, entre a PR insatisfatória dos idosos e baixa renda, parece ser um resultado coerente, pois a renda representa fator determinante nas condições de vida e saúde das pessoas. Estudo mostra que a baixa renda dos idosos dificulta o acesso aos serviços de saúde e influencia no nível de informação das pessoas 2525 Pagotto V, Bachion MM, Silveira EA. Self-evaluation of health by Brazilian elderly: a systematic review of the literature. Rev Panam Salud Publica [Internet]. 2013; [cited 2017 Jan 31]; 33(4):302-10. Available from: https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1020-49892013000400010&script=sci_arttext
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Pouco conhecimento ou a ausência dele, além da situação financeira desfavorável, geralmente fazem com que pessoas se arrisquem mais por desconhecerem as situações de risco 2626 Lipp MEN, Barbieri FE, Santánna L, Justo AP, Cabral AC, Santos FU, et al. Perception of risk of electric and magnetic fields: effects of stress and other psychological aspects. Estud Psicol (Campinas) [Internet]. 2013 Oct/Dec; [cited 2015 Oct 2]; 30(4):497-506. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2013000400003. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2013000400003.
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. Estudo realizado no Rio Grande do Sul mostrou que pessoas que recebiam salários mais baixos percebiam menos os riscos do que aqueles com salários maiores, e eram predispostos a se envolver mais em comportamentos arriscados 2727 Vieira KM, Flores SAM, Potrichet ACG, Campara JP, Parabonial AL. Perception and behavior of financial risk: analysis of the influence of occupation and other sociodemographic variables. Rev Gest Finan Contab [Internet]. 2013; [cited 2016 Apr 6]; 3(3):130-47. Available from: https://www.researchgate.net/publication/285102979_Percepcao_e_Comportamento_de_Risco_Financeiro_Analise_da_Influencia_da_Ocupacao_e_Demais_Variaveis_Sociodemograficas. DOI: 10.18028/2238-5320/rgfc.v3n3p130-147
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Outra associação da PR insatisfatória dos idosos foi com a variável “não frequenta outro grupo social”, e é provável que sua explicação seja pelo fato de os idosos com PR insatisfatória realizarem atividades extradomiciliares com menor frequência. Estudo mostra que a participação em grupos sociais pode influenciar a PR das pessoas, pois ela é social e culturalmente construída e fortemente influenciada por diversos fatores individuais, emocionais, assim como experiências e informações que são transmitidas no meio em que as pessoas estão inseridas 2828 Sampaio Filho FJL, Sousa PRM, Vieira NFC, Nóbrega MFB, Gubert FA, Pinheiro PNC. Perception of risk of school adolescents in relation to alcohol consumption and Sexual behavior. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2010 Sep; [cited 2017 May 12]; 31(3):508-14. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-14472010000300014&lng=en&nrm=iso. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1983-14472010000300014
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. A participação em grupos sociais, portanto, poderia levar os idosos a subestimar ou superestimar os riscos a que estão expostos.

Os idosos com PR insatisfatória deste estudo podem ter a tendência de permanecerem em casa, interagindo de forma menos regular com seus pares e profissionais da área de saúde que participam de atividades em grupo de convivência ou programa para essa população específica. Dessa forma, têm menos oportunidades de obter informações relevantes para sua saúde por meio da troca de experiências e observações com outros idosos e profissionais.

Os itens avaliados no Fall Risk Score (histórico de quedas, uso de medicamentos, déficit sensório, alterações cognitivas e de marcha) podem explicar a associação da variável baixo risco de quedas e a PR insatisfatória dos idosos. Esses idosos tiveram um histórico de poucas quedas e esse fato pode influenciar a PR. No estudo de idosos com baixa percepção do risco de queda, tinham menor risco de cair, porque não sofreram quedas anteriores 2929 Delbaere K, Close JCT, Brodaty H, Sachdev P, Lord SR. Determinants of disparities between perceived and physiological risk of falling among elderly people: cohort study. BMJ [Internet]. 2010; [cited 2015 Jul 13]; 341:c4165. Available from: https://www.bmj.com/content/341/bmj.c4165. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.c4165
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Além disso, infere-se que, se os idosos não usam medicamentos que podem contribuir para a ocorrência de quedas, não têm déficit sensório e de marcha significativos nem alterações cognitivas, há possibilidade de não perceberem os fatores de risco presentes em ambientes e comportamentos como sendo de risco.

Resultado semelhante foi encontrado no estudo realizado com idosos na Austrália, no qual o grupo que apresentou baixa percepção do risco de queda também não se percebeu em risco de cair. Os idosos possuíam um estilo de vida mais ativo, menor taxa de queda e usavam menor quantidade de medicação psicotrópica 2929 Delbaere K, Close JCT, Brodaty H, Sachdev P, Lord SR. Determinants of disparities between perceived and physiological risk of falling among elderly people: cohort study. BMJ [Internet]. 2010; [cited 2015 Jul 13]; 341:c4165. Available from: https://www.bmj.com/content/341/bmj.c4165. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.c4165
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CONCLUSÃO

Neste estudo, encontrou-se maior prevalência de PR satisfatória entre os idosos pesquisados, e isso pode ser considerado um resultado razoável, visto que aumenta a probabilidade de eles adotarem medidas preventivas. Entretanto, ainda há parcela significativa desses idosos que possuem PR insatisfatória para os fatores de risco de quedas. Esse resultado se associou significativamente a baixa renda, não frequentar outro grupo social além do PLS e ao baixo risco de queda.

Seus resultados ampliam o conhecimento sobre o evento queda de idosos e aponta para a necessidade de os profissionais de saúde - em particular os enfermeiros - incluam no processo de avaliação do idoso a PR desses indivíduos, em relação aos fatores de risco para quedas a que estão expostos no seu cotidiano, a fim de orientar medidas de prevenção.

Pesquisas futuras devem ser desenvolvidas no sentido de investigar outros aspectos que influenciam a percepção de risco de quedas de idosos, utilizando como recurso metodológico inovador a técnica de vinhetas, que possibilitará a coleta de dados subjetivos - como a percepção de si e do outro -, e assim propor estratégias de prevenção de quedas próximas da realidade vivenciada pelos idosos, para que se obtenha maior engajamento dos idosos na prevenção de quedas.

Recomenda-se, a realização de novos estudos que investiguem a PR relacionada a quedas em grupos de idosos com outras características - por exemplo, idosos de 80 anos e mais.

Este estudo tem como limitação o fato de os idosos pesquisados pertencerem a um grupo específico, o que diminui as possibilidades de generalizações. No entanto, seus resultados mostram aspectos relacionados à percepção de risco dessa população, que permitem ampliar o entendimento que eles têm sobre as quedas.

  • FINANCIAMENTO
    Projeto financiado pelo Programa Nacional de Cooperação Acadêmica - Procad/Capes, Edital nº 071/2013.

REFERENCES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2019
  • Aceito
    18 Set 2019
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