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Violência sexual perpetrada na adolescência e fase adulta: análise dos casos notificados na capital de Rondônia

Violencia sexual perpetrada en adolescencia y fase adulta: análisis de casos denunciados en la capital de Rondônia

Resumo

Objetivo

analisar o perfil epidemiológico dos casos notificados de violência sexual perpetrada contra as mulheres em Porto Velho, Rondônia.

Método

estudo quantitativo, descritivo, transversal, incluindo os casos de violência contra mulheres com idade igual ou superior a 12 anos registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação no período de 2010 a 2018.

Resultados

verificou-se significância estatística entre mulheres que sofreram violência sexual em relação à escolaridade (p=0,000); situação conjugal/civil (p=0,000); se eram gestantes (p=0,026); se o agressor possuía vínculo/grau de parentesco como cônjuge/namorado (p=0,000); ex-cônjuge/namorado (p=0,002); amigos/conhecidos (p=0,015); desconhecido (p=0,000); suspeita do uso de álcool (p=0,001); local da ocorrência (p=0,000), se ocorreu outras vezes (p=0,000); procedimento realizado (aborto previsto em lei (p=0,001), contracepção de emergência (p=0,001), coleta de material (p=0,012) e profilaxia (p=0,000)); e meio usado na agressão (força corporal/espancamento (p=0,000), ameaça (p=0,031), objeto perfurocortante (p=0,000), arma de fogo (p=0,000), enforcamento (p=0,000) e objeto contundente (p=0,019)).

Conclusão e implicações na prática

evidenciou-se a violência sexual como prevalente na adolescência, independentemente da faixa etária, e o tipo de agressão foi o estupro. A contribuição possibilitará direcionar esforços na prevenção desse agravo em grupos de idades mais jovens nas diferentes formas de relacionamentos.

Palavras-chave:
Enfermagem; Monitoramento Epidemiológico; Saúde da Mulher; Violência Sexual; Violência contra a Mulher

Resumen

Objetivo

analizar el perfil epidemiológico de los casos denunciados de violencia sexual perpetrados contra mujeres en Porto Velho, Rondônia.

Método

estudio transversal, cuantitativo y descriptivo, que incluye casos de violencia contra mujeres de 12 años o más registrados en el Sistema de Información de Enfermedades de Notificación Obligatoria de 2010 a 2018.

Resultados

se encontró significación estadística entre las mujeres que sufrieron violencia sexual en relación con la escolaridad (p=0.000); el estado civil/conyugal (p=0.000); si eran mujeres embarazadas (p=0,026); agresor que tenía una relación/grado de parentesco cónyuge/novio (p=0,000); ex-cónyuge/novio (p=0,002); amigas/conocidas (p=0,015); desconocidas (p=0,000); con sospecha de consumo de alcohol (p=0,001); y para el lugar de ocurrencia (p=0,000), si ocurrió otras veces (p=0,000); procedimiento realizado (aborto previsto por la ley (p=0,001), anticoncepción de emergencia (p=0,001), recolección de material (p= 0,012) y profilaxis (p=0,000)); y medios utilizados en la agresión (fuerza corporal/golpeo (p=0,000), amenaza (p=0,031), objeto punzante (p=0,000), arma de fuego (p=0,000), ahorcamiento (p=0,000) y objeto contundente (p=0,019)).

Conclusión e implicaciones en la práctica

la violencia sexual se evidenció como prevalente en la adolescencia, independientemente del grupo de edad, y el tipo de agresión fue la violación. La contribución permitirá dirigir esfuerzos para prevenir esta enfermedad en grupos de edades más jóvenes en diferentes formas de relación.

Palabras clave:
Enfermería; Vigilancia Epidemiológica; Salud de la Mujer; Violencia Sexual; Violencia contra la Mujer

Abstract

Objective

to analyze the epidemiological profile of reported cases of sexual violence perpetrated against women in Porto Velho, Rondônia.

Method

a quantitative, descriptive cross-sectional study, including cases of violence against women aged 12 years or older registered in the Notifiable Diseases Information System from 2010 to 2018.

Results

statistical significance was found among women who suffered sexual violence in relation to education (p=0.000); marital status (p=0.000); if they were pregnant women (p=0.026); if the aggressor had a relationship/degree of kinship as spouse/boyfriend (p=0.000); ex-spouse/boyfriend (p=0.002); friends/acquaintances (p=0.015); unknown (p=0.000); with suspected alcohol use (p=0.001) and for the place of occurrence (p=0.000), if it occurred other times (p=0.000); procedure performed (abortion provided for by law (p=0.001), emergency contraception (p=0.001), material collection (p= 0.012) and prophylaxis (p=0.000)); and means used in aggression (body strength/beating (p=0.000), threat (p=0.031), sharp object (p=0.000), firearm (p=0.000), hanging (p=0.000) and blunt object (p=0.019)).

Conclusion and implications for practice

sexual violence was evidenced as prevalent in adolescence, regardless of age group, and the type of aggression was rape. The contribution will enable efforts to be directed to prevent this disease in groups of younger ages in different forms of relationships.

Keywords:
Nursing; Epidemiological Monitoring; Women’s Health; Sexual Violence; Violence Against Women

INTRODUÇÃO

A violência sexual é reconhecida como um grave problema de saúde pública complexo e multicausal, além de uma violação aos direitos humanos. Afeta principalmente meninas e mulheres, contribuindo para a fragmentação das etapas de desenvolvimento, consequentemente, podendo repercutir de forma catastrófica no comportamento na vida adulta.11 Taquette SR, Monteiro DLM, Rodrigues NCP, Ramos JAS. A invisibilidade da magnitude do estupro de meninas no Brasil. Rev Saude Publica. 2021;55:103. http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003439. PMid:34932694.
http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.20...

2 Nunes AJ, Sales MCV. Violência contra crianças no cenário brasileiro. Cien Saude Colet. 2016 jul;21(3):871-80. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015213.08182014. PMid:26960099.
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-33 Baigorria J, Warmling D, Neves CM, Delziovo CR, Salema Coelho EB. Prevalence and associated factors with sexual violence against women: systematic review. Rev Salud Publica (Bogota). 2017 Nov-Dez;19(6):818-26. http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v19n6.65499. PMid:30183837.
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No cenário mundial, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 31% das mulheres com 15 anos ou mais vivenciaram, em algum momento de suas vidas, violência física, sexual ou ambas as formas de violência pelo menos uma vez na vida.44 World Health Organization (WHO). Prevalence estimates of violence against women, 2018: Global, regional and national prevalence estimates for intimate partner sexual violence against women and global and regional prevalence estimates for sexual violence against women by non-partners [Internet]. Switzerland: WHO; 2021 [citado 2022 fev 20]. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/341337/9789240022256-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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Embora haja muitas outras formas de violência que as mulheres estão expostas, essas duas fornecem uma imagem ampliada da proporção de mulheres que sofrem esse agravo no mundo.

No Brasil, apesar da instituição de políticas governamentais de combate à violência sexual, o problema ainda atinge uma parcela considerável da população, com prevalências que variam conforme faixa etária e grupo social investigado. No geral, a prevalência encontrada é de 20,4%, atingindo duas vezes mais as mulheres do que os homens. Crianças sofrem violência sexual sete vezes mais, e os adolescentes, seis vezes mais, quando comparados com outras faixas etárias, constituindo-se como os grupos mais vulneráveis. Além disso, alguns fatores têm sido associados à violência sexual, como vulnerabilidade à pobreza, desemprego e nível educacional, isto é, analfabetos apresentam quase o dobro da prevalência de violência sexual do que pessoas com ensino superior.55 Silva JV, Roncalli AG. Prevalence of sexual violence in Brazil: associated individual and contextual factors. Int J Public Health. 2018;63(8):933-44. http://dx.doi.org/10.1007/s00038-018-1136-0. PMid:29926125.
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Outro dado significativo que merece destaque trata-se do número de agressores com suspeita do uso de álcool (15,6%), dentre os quais 55,1% eram os pais das crianças.66 Barcellos TMT, Góes FGB, Silva ACSS, Souza AN, Camilo LA, Goulart MCL. Violência contra crianças: descrição dos casos em município da baixada litorânea do Rio de Janeiro. Rev Esc Anna Nery. 2021;25(4):e20200485. http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2020-0485.
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Contudo, diversos são os impactos da violência sexual na vida das mulheres com consequências físicas, psicológicas e sociais que poderão ser encontradas a curto e longo prazo, sendo devastadoras, principalmente quando ocorre na infância ou adolescência. A violência sexual é um forte estressor em relação ao processo normal de crescimento e desenvolvimento,22 Nunes AJ, Sales MCV. Violência contra crianças no cenário brasileiro. Cien Saude Colet. 2016 jul;21(3):871-80. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015213.08182014. PMid:26960099.
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,55 Silva JV, Roncalli AG. Prevalence of sexual violence in Brazil: associated individual and contextual factors. Int J Public Health. 2018;63(8):933-44. http://dx.doi.org/10.1007/s00038-018-1136-0. PMid:29926125.
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,77 Ali P, Mcgarry J, Dhingra K. Identifying signs of intimate partner violence. Emerg Nurse. 2016;23(9):25-9. http://dx.doi.org/10.7748/en.23.9.25.s25. PMid:26853673.
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,88 Hughes E, Lucock M, Brooker C. Sexual violence and mental health services: a call to action. Epidemiol Psychiatr Sci. 2019;28(6):594-7. http://dx.doi.org/10.1017/S2045796019000040. PMid:30854994.
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além de tentativas de suicídio e gravidez indesejada.99 Delziovo CR. Violência sexual contra a mulher: características, consequências e procedimentos realizados nos serviços de saúde, de 2008 a 2013, em Santa Catarina, Brasil [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2015.

Alguns autores99 Delziovo CR. Violência sexual contra a mulher: características, consequências e procedimentos realizados nos serviços de saúde, de 2008 a 2013, em Santa Catarina, Brasil [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2015.

10 Nunes MCA, Lima RFF, Morais NA. Violência Sexual contra Mulheres: um Estudo Comparativo entre Vítimas Adolescentes e Adultas. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2017 out/dez;37(4):956-69. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703003652016.
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11 Gaspar RS, Pereira MUL. Evolução da notificação de violência sexual no Brasil de 2009 a 2013. Cad Saude Publica. 2018;34(11):e00172617. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00172617. PMid:30427416.
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12 Santarem MD, Marmontel M, Pereira NL, Vieira LB, Savaris RF. Epidemiological profile of the victims of sexual violence treated at a referral center in southern Brazil. Rev Bras Ginecol Obstet. 2020 set;42(9):547-54. http://dx.doi.org/10.1055/s-0040-1715577. PMid:32992357.
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13 Batista VC, Back IR, Monteschio LVC, Arruda DC, Rickli HC, Grespan LR et al. Profile of the notifications on sexual violence. J Nursing UFPE. 2018;12(5):1372-80. http://dx.doi.org/10.5205/1981-8963-v12i5a234546p1372-1380-2018.
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14 Teixeira EC, Leite APL, Santos WHM, Chaves JHB, Duarte IAC, Cavalcante JC. Characteristics of cases of sexual violence that occurred in Alagoas between 2007-2016. O. Mundo Saude. 2019;43(4):834-53. http://dx.doi.org/10.15343/0104-7809.20194304834853.
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-1515 Albuquerque AL, Silva WC. Profile of sexual violence against women served in the service of women. J Nursing UFPE. 2017 maio;11(Supl 5):2106-15. têm buscado caracterizar a situação da violência sexual vivenciada pelas mulheres nas diversas localidades do país. No entanto, não foi identificado estudo sobre os casos de violência sexual contra as meninas e mulheres em Porto Velho. Neste contexto, a escassez de estudos na área temática promove a invisibilidade da problemática da violência e os agravos à saúde da mulher na região Norte, mais especificamente em Rondônia.

Portanto, o tema a ser investigado possui relevância, pois apresenta uma problemática que tem assumido dimensões alarmantes no cenário atual no mundo, no Brasil e, mais precisamente, no cenário proposto. Além disso, esse fenômeno é um dos problemas tanto de saúde pública quanto social que afeta a integridade física e psíquica, além de constituir uma violação dos direitos das mulheres.11 Taquette SR, Monteiro DLM, Rodrigues NCP, Ramos JAS. A invisibilidade da magnitude do estupro de meninas no Brasil. Rev Saude Publica. 2021;55:103. http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003439. PMid:34932694.
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Neste sentido, este estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico dos casos notificados de violência sexual perpetrada contra as mulheres em Porto Velho, Rondônia.

MÉTODO

Trata-se de um estudo quantitativo e descritivo, realizado de forma transversal, norteado pela ferramenta Strengthening The Reporting of Observational Studies in Epidemiology Statement (STROBE). A coleta de dados foi realizada em março de 2020 pela pesquisadora principal, a partir das informações constantes na ficha de notificação/investigação individual de violência doméstica, sexual e/ou outras violências interpessoais e autoprovocadas, no banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde de Porto Velho/Rondônia, no período de 2010 a 2018, armazenadas em planilhas do Microsoft Excel, versão 2013, contendo informações organizadas segundo os itens da ficha de notificação e, posteriormente, analisadas por meio do software Epi Info (versão 7.2.4). Considerou-se como critério de inclusão idade igual ou superior a 12 anos, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.1616 Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (BR). Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil [periódico na internet]. Brasília, DF, 13 jul 1990. [citado 2021 jul 14]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266.
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Durante o período previamente selecionado, foram realizadas 2.449 notificações no SINAN acerca da violência interpessoal/autoprovocada. 919 casos (37,5%) ocorreram por violência sexual, das quais 274 foram excluídos, por serem do sexo masculino (57 casos) e menores de 12 anos (217 casos).

As variáveis foram categorizadas em relação à mulher (raça/cor: parda, branca, preta, amarela, indígena; escolaridade: analfabeto, até 4 anos, de 4 a 8 anos, mais de 8 anos; situação conjugal/estado civil: solteiro, casado/união consensual, viúvo, separado e gestante: sim ou não), ao agressor (sexo do provável autor da agressão: masculino, feminino, ambos os sexos; vínculo/grau de parentesco com a mulher agredida: pai/mãe, padrasto, cônjuge/namorado, ex-cônjuge/namorado, filho(a), irmão(ã), amigos/desconhecidos, desconhecido(a), cuidador(a), patrão/chefe, pessoa com relação institucional, policial/agente da lei, própria pessoa, outros; e suspeita do uso de álcool: não ou sim), ao ato violento (ano de ocorrência: 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018; local da ocorrência: residência, via pública, comércio/serviços, bar ou similar, escola, habitação coletiva, local de prática esportiva, outros; ocorreu outras vezes: sim ou não; tipo de violência sexual: exploração sexual (sim, não), pornografia (sim, não), atentado violento ao pudor (sim, não), estupro (sim, não), assédio sexual (sim, não), outro (sim, não); procedimento realizado: aborto previsto em lei (sim, não), contracepção de emergência (sim, não), coleta de material (sim, não) e profilaxia (sim, não); número de envolvidos: um, dois ou mais; e meio usado na agressão: força corporal/espancamento (sim, não), ameaça (sim, não), objeto perfurocortante (sim, não), arma de fogo (sim, não), enforcamento (sim, não), objeto contundente (sim, não), envenenamento (sim, não), substância ou objeto quente (sim, não), outros (sim, não)) e ao encaminhamento (rede da saúde, Rede de Assistência Social e Conselho Tutelar/Idoso, delegacias, Ministério Público/Justiça da Infância e da Juventude e de outros setores).

Os dados foram processados pelo programa TabWin (Tab para Windows), versão 4.15, de 2018, e analisados posteriormente por meio de estatística descritiva no Epi Info, versão 7.2.4. Para a análise da associação entre as faixas etárias (categorizados entre 12 a 19 anos e maior do que 19 anos) e as demais variáveis do estudo, foi realizado o Teste do Qui-Quadrado e Exato de Fisher, adotando nível de significância de 5%. Quando os resultados de ambos os testes apontavam para uma associação estatisticamente significante entre as variáveis, o padrão de interdependência entre elas foi testado por meio da análise de resíduos (diferença entre o observado e o esperado) em uma forma padronizada e ajustada, de forma que os resíduos acima de 1,96 ou abaixo de -1,96 indicaram, respectivamente, uma associação positiva ou negativa significante entre os resultados das variáveis.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da União Educacional do Norte (UNINORTE), conforme Parecer nº 3.910.065, atendendo à Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, referente às pesquisas com seres humanos.

RESULTADOS

Dentre as 645 mulheres que vivenciaram a violência sexual, verificou-se significância estatística para as variáveis escolaridade (p=0,000), situação conjugal/civil (p=0,000) e gestante (p=0,026). A maioria dos casos estava entre a faixa etária de 12 a 19 anos (77,3%), com associação positiva destas com escolaridade entre 4 a 8 anos, e para aquelas maiores de 19 anos com analfabetismo, mais de 8 anos de estudo, casada/união consensual, viúva e separada (Tabela 1).

Tabela 1
Análise da associação do perfil das mulheres que sofreram violência sexual de acordo com a faixa etária. Porto Velho, Rondônia, Brasil, 2010-2018.

Em relação ao perfil agressor da violência sexual, observou-se significância estatística com o vínculo/grau de parentesco de cônjuge/namorado (p=0,000), ex-cônjuge/namorado (p=0,002), amigos/conhecidos (p=0,015), desconhecido (p=0,000) e outros (p=0,047) e com suspeita do uso de álcool (p=0,001).

Houve associação positiva quando o ato foi realizado pelo cônjuge/namorado, e negativa, por desconhecido, para aquelas entre 12 e 19 anos, quando comparado com a faixa etária maior de 19 anos. De modo complementar, identificou-se associação negativa quando o ato foi realizado por amigos/conhecidos, e positiva, por ex-cônjuge/ex-namorado e com suspeita do uso do álcool pelo provável autor da violência para aquelas maiores de 19 anos (Tabela 2).

Tabela 2
Análise da associação do perfil do agressor de acordo com a faixa etária das mulheres que sofreram violência sexual. Porto Velho, Rondônia, Brasil, 2010-2018.

Para o ato violento, as variáveis local da ocorrência (p=0,000), se ocorreu outras vezes (p=0,000), procedimento realizado seja o aborto previsto em lei (p=0,001), contracepção de emergência (p=0,001), coleta de material (p=0,012) e profilaxia (p=0,000), bem como o meio usado na agressão, como força corporal/espancamento (p=0,000), ameaça (p=0,031), objeto perfurocortante (p=0,000), arma de fogo (p=0,000), enforcamento (p=0,000) e objeto contundente (p=0,019) apresentaram significância estatística.

Para aquelas mulheres que sofreram violência sexual com faixa etária maior do que 19 anos, houve associação positiva com o local de ocorrência na via pública quando não ocorreu outras vezes e teve força corporal/espancamento e enforcamento como meio usado na agressão, quando comparado com aquelas entre 12 e 19 anos.

Além disso, identificou-se, ainda, para maiores do que 19 anos, associação negativa quando o local de ocorrência foi na residência, e positiva, com outros e comércio/serviços. Houve associação negativa quando o procedimento utilizado foi a coleta de material, e positiva, para aborto previsto em lei, contracepção de emergência e realizado profilaxia. Por fim, houve associação positiva para objeto perfurocortante, arma de fogo e objeto contundente como meio usado na agressão (Tabela 3).

Tabela 3
Análise da associação das mulheres que sofreram violência sexual de acordo com as características do ato violento. Porto Velho, Rondônia, Brasil, 2010-2018.

As variáveis relativas a estar gestante quando as mulheres sofreram violência sexual, ao perfil do provável autor da violência sexual para outros, ao vínculo/grau de parentesco com a mulher agredida, bem como à ameaça como meio usado na agressão apresentaram resultados estatisticamente significantes para o Teste do Qui-Quadrado. Porém, não foi possível afirmar associação das variáveis com a faixa etária para a análise de resíduo padronizada.

No que concerne aos encaminhamentos, independentemente da faixa etária das mulheres que sofreram violência sexual, estes ocorreram principalmente para a rede de saúde (39,5%), seguido pela Rede de Assistência Social e Conselho Tutelar/do Idoso (22,7%), ainda que nem todos os casos notificados tenham registro sobre o encaminhamento realizado (Tabela 4).

Tabela 4
Distribuição dos encaminhamentos das mulheres que sofreram violência sexual de acordo com a faixa etária. Porto Velho, Rondônia, Brasil, 2010-2018.

DISCUSSÃO

A partir da análise dos dados obtidos nesta pesquisa, foi possível identificar a predominância dos casos notificados de mulheres em situação de violência sexual em Porto Velho, Rondônia, sendo entre as adolescentes de 12 a 19 anos e com baixa escolaridade. A maior ocorrência de violências e violência sexual contra mulheres adolescentes também foi apontada em outros estudos realizados no Distrito Federal,1717 Silva LEL, Oliveira MLC. Características epidemiológicas da violência contra a mulher no Distrito Federal, 2009 a 2012. Epidemiol Serv Saude. 2016 abr-jun;25(2):331-42. PMid:27869951. Alagoas,1414 Teixeira EC, Leite APL, Santos WHM, Chaves JHB, Duarte IAC, Cavalcante JC. Characteristics of cases of sexual violence that occurred in Alagoas between 2007-2016. O. Mundo Saude. 2019;43(4):834-53. http://dx.doi.org/10.15343/0104-7809.20194304834853.
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Santa Catarina99 Delziovo CR. Violência sexual contra a mulher: características, consequências e procedimentos realizados nos serviços de saúde, de 2008 a 2013, em Santa Catarina, Brasil [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2015. e Fortaleza.1010 Nunes MCA, Lima RFF, Morais NA. Violência Sexual contra Mulheres: um Estudo Comparativo entre Vítimas Adolescentes e Adultas. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2017 out/dez;37(4):956-69. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703003652016.
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Também foi verificado que menor escolaridade tem sido associada à maior probabilidade de sofrer violência sexual.99 Delziovo CR. Violência sexual contra a mulher: características, consequências e procedimentos realizados nos serviços de saúde, de 2008 a 2013, em Santa Catarina, Brasil [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2015.,1010 Nunes MCA, Lima RFF, Morais NA. Violência Sexual contra Mulheres: um Estudo Comparativo entre Vítimas Adolescentes e Adultas. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2017 out/dez;37(4):956-69. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703003652016.
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,1717 Silva LEL, Oliveira MLC. Características epidemiológicas da violência contra a mulher no Distrito Federal, 2009 a 2012. Epidemiol Serv Saude. 2016 abr-jun;25(2):331-42. PMid:27869951.

Por outro lado, em Recife, as mulheres que vivenciaram a violência sexual se encontram, em sua maioria (66,9%), na faixa etária de 29 a 49 anos, com 9 a 12 anos de estudo.1515 Albuquerque AL, Silva WC. Profile of sexual violence against women served in the service of women. J Nursing UFPE. 2017 maio;11(Supl 5):2106-15. A diferença com os achados de Porto Velho indica que há um perfil diferenciado para violência sexual nas diferentes regiões e estados brasileiros, o que irá demandar ações específicas em cada localidade para atendimento a essas mulheres na prevenção dos casos. Contudo, nota-se que no Brasil se trata de uma vulnerabilidade que atinge as mulheres nas suas diferentes fases da vida.

Frente ao vínculo/grau de parentesco com a mulher agredida, este estudo apontou o cônjuge/namorado como provável autor da violência sexual contra as adolescentes, indo de encontro às evidências de que o principal agressor da violência às mulheres foi perpetrado por parceiro íntimo.1818 Baigorria J, Warmling D, Neves CM, Delziovo CR, Coelho EBS. Prevalência e fatores associados da violência sexual contra a mulher: revisão sistemática. Rev Salud Publica. 2017;19(6):818-26. http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v19n6.65499. PMid:30183837.
http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v19n6.65...
,1919 Mascarenhas MDM, Tomaz GR, Meneses GMS, Rodrigues MTP, Pereira VOM, Corassa RB. Análise das notificações de violência por parceiro íntimo contra mulheres, Brasil, 2011–2017. Rev Bras Epidemiol. 2020;23(Suppl 1):e200007. http://dx.doi.org/10.1590/1980-549720200007.supl.1. PMid:32638984.
http://dx.doi.org/10.1590/1980-549720200...
Em uma pesquisa realizada com as adolescentes em cinco países da África Oriental, a prevalência de vivenciar alguma vez esse tipo de violência foi de 45,1% (n=2.380).2020 Memiah P, Cook C, Kingori C, Munala L, Howard K, Ayivor S et al. Correlates of intimate partner violence among adolescents in East Africa: a multi-country analysis. Pan Afr Med J. 2021;40:142. http://dx.doi.org/10.11604/pamj.2021.40.142.23311. PMid:34925677.
http://dx.doi.org/10.11604/pamj.2021.40....

Nesta razão, a violência sexual perpassa por diferentes razões elencadas pelos agressores e mulheres que vivenciaram esse agravo. Esta vivência permeia em questões pessoais, familiares, histórias pregressas, comportamento, e, por isso, as altas taxas de ocorrência deste tipo de violência são encontradas em pesquisas ao redor do mundo.2121 Enríquez-Canto Y, Ortiz-Montalvo YJ, Ortiz-Romaní KJ, Díaz-Gervasi GM. Ecological analysis of intimate partner sexual violence in Peruvian women. Acta Colomb Psicol. 2020;23(1):272-86.,2222 Trabold N, Mcmahon J, Alsobrooks S, Whitney S, Mittal M. A systematic review of intimate partner violence interventions: state of the field and implications for practitioners. Trauma Violence Abuse. 2020 abr;21(2):311-25. http://dx.doi.org/10.1177/1524838018767934. PMid:29649966.
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Ademais, estratégias devem ser elaboradas e implementadas para lidar com a violência sexual dentro do relacionamento conjugal. Simultaneamente, é preciso desenvolver formas de sensibilização, principalmente na Atenção Primária à Saúde (APS), sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Finalmente, é necessário um ambiente que possibilite o acesso a esses direitos e que permita as mulheres a se expressarem e tomarem conhecimento das diversas formas da violência, bem como as instituições que podem buscar por apoio e/ou suporte. Convém destacar que uma das metas específicas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável em Saúde (ODS 3)2323 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Objetivos de desenvolvimento sustentável [Internet]. 2018 [citado 2021 jul 20]. Disponível em: https://ods.ibge.gov.br/
https://ods.ibge.gov.br/...
se refere que, até 2030, deve-se garantir que os serviços de saúde sexual e reprodutiva, o acesso à informação, educação e a integração da saúde reprodutiva em estratégias e programas nacionais deverão ser acessíveis a todos.

Sobre o perfil do provável autor da violência sexual, predominou neste estudo para as mulheres adultas o agressor sendo do sexo masculino, desconhecido por parte dessas mulheres, tendo agido sob suspeita de álcool e utilizado como recurso para a agressão a força corporal, espancamento, objeto perfurocortante, arma de fogo e objeto contundente. Os achados corroboram com outras pesquisas.1010 Nunes MCA, Lima RFF, Morais NA. Violência Sexual contra Mulheres: um Estudo Comparativo entre Vítimas Adolescentes e Adultas. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2017 out/dez;37(4):956-69. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703003652016.
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,1515 Albuquerque AL, Silva WC. Profile of sexual violence against women served in the service of women. J Nursing UFPE. 2017 maio;11(Supl 5):2106-15.,2424 Souto RMCV, Barufaldi LA, Nico LS, Freitas MG. Perfil epidemiológico do atendimento por violência nos serviços públicos de urgência e emergência em capitais brasileiras, Viva 2014. Cien Saude Colet. 2017;22(9):2811-23. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017229.13342017. PMid:28954133.
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Um estudo sobre a violência sexual no Quênia identificou que o agressor costuma ser um desconhecido (57,3%). Porém, sendo as vítimas crianças, passa a ser uma pessoa próxima, um familiar ou amigo, pois, de 61, apenas cinco crianças foram agredidas por estranhos.2525 Muriuki EM, Kimani J, Machuki Z, Kiarie J, Roxby AC. Sexual assault and HIV postexposure prophylaxis at an urban African hospital. AIDS Patient Care STDS. 2017;31(6):255-60. http://dx.doi.org/10.1089/apc.2016.0274. PMid:28605228.
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Neste sentido, justifica-se nesta pesquisa a diferença do vínculo entre o agressor e as mulheres adultas, em comparação com as adolescentes, que o agressor é o cônjuge/namorado.

A profilaxia contra as infecções sexualmente transmissíveis (IST) e o aborto previsto em lei foram os procedimentos optados com maior frequência nesta pesquisa após a ocorrência do ato sexual violento. Todavia, é direito das mulheres e adolescentes, durante o atendimento de emergência nas primeiras 72 horas após a ocorrência do agravo, de serem informadas sobre as medidas protetoras, como a anticoncepção de emergência e profilaxias das IST/HIV e hepatites, incluindo a decisão de interrupção legal da gestação nos casos de gravidez decorrente de estupro, situação prevista no Código Penal Brasileiro desde 1940 e pelas Normas Internacionais de Direitos Humanos pelo ECA.1616 Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (BR). Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil [periódico na internet]. Brasília, DF, 13 jul 1990. [citado 2021 jul 14]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266.
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É importante também destacar sobre a necessidade de acompanhamento clínico e laboratorial durante os 28 dias de uso da medicação profilática, pois houve pesquisa2626 De Jesus GR, Rodrigues NP, Braga GC, Abduch R, Melli PPS, Duarte G et al. Assistance to victims of sexual violence in a referral service: a 10-year experience. Rev Bras Ginecol Obstet. 2022;44(1):47-54. http://dx.doi.org/10.1055/s-0041-1740474. PMid:35092959.
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em que pacientes necessitaram adaptar a terapia antirretroviral (TARV) devido a alterações hematológicas. No entanto, a estruturação completa do serviço de saúde, baseada no atendimento interdisciplinar, é fundamental para a alta aceitação da profilaxia prescrita às meninas e mulheres em situação de violência.2727 Nísida IV. Atendimento integral às vítimas de violência sexual em um serviço de referência em São Paulo: caracterização dos usuários atendidos em até 72 horas após a agressão, aceitação da profilaxia pós exposição para infecção pelo HIV e permanência no atendimento [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 2018.

Um estudo2525 Muriuki EM, Kimani J, Machuki Z, Kiarie J, Roxby AC. Sexual assault and HIV postexposure prophylaxis at an urban African hospital. AIDS Patient Care STDS. 2017;31(6):255-60. http://dx.doi.org/10.1089/apc.2016.0274. PMid:28605228.
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apontou uma baixa adesão aos 28 dias de profilaxia pós-exposição, pois apenas 34% de 207 vítimas de violência sexual completaram o esquema e apenas 10,1% retornaram para repetir o teste de HIV em três meses. Além disso, os autores verificaram que as vítimas se apresentam mais para a profilaxia em até 72 horas quando o agressor é um desconhecido. Seguindo essa lógica, em Porto Velho, dá-se necessária especial atenção ao segmento das mulheres adolescentes que são mais agredidas por seus conjugues/namorados e precisam ser orientadas quanto ao risco de aquisição do HIV e possibilidade de fazer uso da profilaxia.

Outros autores11 Taquette SR, Monteiro DLM, Rodrigues NCP, Ramos JAS. A invisibilidade da magnitude do estupro de meninas no Brasil. Rev Saude Publica. 2021;55:103. http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055003439. PMid:34932694.
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,99 Delziovo CR. Violência sexual contra a mulher: características, consequências e procedimentos realizados nos serviços de saúde, de 2008 a 2013, em Santa Catarina, Brasil [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2015.,1010 Nunes MCA, Lima RFF, Morais NA. Violência Sexual contra Mulheres: um Estudo Comparativo entre Vítimas Adolescentes e Adultas. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2017 out/dez;37(4):956-69. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703003652016.
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referem que a violência sexual é um evento considerado traumático e possui efeitos múltiplos às meninas e mulheres, podendo ocasionar danos físicos, sexuais, psicológicos e sociais a elas. Contudo, o atendimento psicológico é imprescindível às mulheres que vivenciaram a violência sexual, devido às repercussões negativas inerentes à situação vivida, podendo agravar situações pré-existentes e persistir ao longo da vida com impacto negativo nas relações sexuais futuras.2626 De Jesus GR, Rodrigues NP, Braga GC, Abduch R, Melli PPS, Duarte G et al. Assistance to victims of sexual violence in a referral service: a 10-year experience. Rev Bras Ginecol Obstet. 2022;44(1):47-54. http://dx.doi.org/10.1055/s-0041-1740474. PMid:35092959.
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Em análise das variáveis que apresentaram elevados percentuais na opção ignorado/em branco (local de ocorrência, atentado violento ao pudor, gestante, raça/cor, escolaridade, dentre outras), destaca-se que esses achados, em relação às lacunas não preenchidas, possuem similitude com outros estudos que também relataram sobre a fragilidade nas notificações, apresentando índices elevados do não preenchimento adequado da ficha notificatória.99 Delziovo CR. Violência sexual contra a mulher: características, consequências e procedimentos realizados nos serviços de saúde, de 2008 a 2013, em Santa Catarina, Brasil [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2015.,2828 Oliveira CAB, Alencar LN, Cardena RR, Moreira KFA, Pereira PPS, Fernandes DER. Perfil da vítima e características da violência contra a mulher no estado de Rondônia - Brasil. Rev Cuid. 2019;10(1):e573. Torna-se imprescindível o desenvolvimento de processos de capacitação continuada para sensibilizar e instrumentalizar os profissionais de saúde no preenchimento da ficha de notificação compulsória com qualidade nas informações.

Mais do que isso, por meio do registro e notificação adequada, é possível conduzir um monitoramento epidemiológico capaz de subsidiar a elaboração de políticas públicas integradas e intersetoriais pela rede de enfrentamento às violências. Em uma perspectiva para a redução da morbimortalidade decorrente das violências, consequentemente promovem-se a equidade, a qualidade de vida e a garantia dos direitos das meninas e mulheres.

De modo complementar, é notório o estabelecimento de uma rede de apoio efetiva e articulada, além de avanços nos encaminhamentos dos casos de violência sexual a partir do atendimento para os demais serviços de enfrentamento à violência. Cabe mencionar que a não utilização de protocolos e fluxos assistenciais padronizados pode caracterizar uma limitação à assistência prestada.2929 Vieira LJES, Silva ACF, Moreira GAR, Cavalcanti LF, Silva RM. Protocolos na atenção à saúde de mulheres em situação de violência sexual sob a ótica de profissionais de saúde. Cien Saude Colet. 2016;21(12):3957-65. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152112.15362015. PMid:27925135.
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Os casos de violência deveriam ser encaminhados aos serviços, como a rede de saúde, Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres (DEAM)3030 Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Viva: instrutivo notificação de violência interpessoal e autoprovocada [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2016 [citado 2022 fev 20]. 92 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/viva_instrutivo_violencia_interpessoal_autoprovocada_2ed.pdf
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e ao Conselho Tutelar, este último quando o agravo ocorre em crianças e adolescentes, conforme previsto no ECA.1616 Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (BR). Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil [periódico na internet]. Brasília, DF, 13 jul 1990. [citado 2021 jul 14]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266.
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Acredita-se que os acompanhamentos especializados destas mulheres trarão segurança e encorajamento, para que possam enfrentar as adversidades da situação de violência. Portanto, as equipes de profissionais qualificados nos diferentes cenários de acolhimento subsidiarão, certamente, um atendimento mais humanizado e eficaz no que tange ao empoderamento dessas meninas e mulheres para a ruptura do ciclo da violência.

CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

Constatou-se que, independentemente da faixa etária, o tipo de violência que mais prevaleceu foi o estupro, ou seja, essa vulnerabilidade atinge todas as mulheres nas suas diferentes fases da vida. Logo, destaca-se que há necessidade de concentrar esforços na prevenção desse agravo em grupos de idades mais jovens, como, por exemplo, por meio de estratégias escolares para prevenir a violência em suas diferentes formas nos relacionamentos iniciais. Quanto aos locais de encaminhamentos, as mulheres foram referidas às redes de saúde. Estes estão organizados a fim de possibilitar desde a acessibilidade, o acompanhamento e o tratamento de possíveis danos causados na saúde física ou mental dessas mulheres.

Neste contexto, o conhecimento do perfil epidemiológico dos casos notificados na capital de Rondônia representa uma ferramenta importante para a organização dos serviços envolvidos na rede de enfrentamento da violência vivenciada pelas mulheres, no sentido de efetivar ações intersetoriais em redes de atenção, principalmente no que tange à linha de cuidado à saúde da mulher, na qual se destaca a atuação dos profissionais de enfermagem.

Este estudo contribuiu significativamente, pois permitiu dar visibilidade a esse fenômeno grave vivenciado pelas mulheres de Porto Velho, independentemente da faixa etária, mesmo sabendo que esse retrato é somente a ponta de um iceberg, pois o estigma e a vergonha, associados ao ato, impedem e/ou silenciam as mulheres que vivenciaram o agravo da divulgação do abuso e da agressão vivenciada. Ademais, ressalta-se que a percepção da violência sexual pelas mulheres se torna um fator dificultado, uma vez que algumas desconhecem os tipos de violência e, principalmente, por não reconhecerem que a relação sexual sem o seu consentimento é uma dessas formas.

Os resultados apontaram, ainda, a necessidade de qualificar os profissionais para a realização do acolhimento às mulheres em situação de violência. Há a necessidade de promover o registro completo das informações na ficha de notificação/Investigação Individual de Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências Interpessoais (FNIV), uma vez que vários campos desse formulário se encontravam em branco e/ou ignorado, comprometendo a importância do atendimento às mulheres e o seu encaminhamento à rede de proteção à violência.

Neste sentido, discussões sobre a temática da violência e suas diferentes formas contribuem para a elaboração de políticas públicas necessárias às mulheres que vivenciam esse agravo. No entanto, vale destacar que a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres, especialmente os serviços de saúde, devem estar preparados para acolherem essas mulheres que, por sua vez, poderão apresentar impactos principalmente na saúde mental, exigindo esforços dos profissionais que contemplem as suas necessidades.

Destaca-se que este estudo possui como limitação a quantidade considerável de lacunas ausentes nas fichas de notificação analisadas e que, de certa forma, impossibilitaram a realização de outras análises mais aprimoradas, além das subnotificações dos casos de violência sexual no município estudado. Torna-se imprescindível a elaboração de políticas públicas que possam melhorar tanto o atendimento quanto a sensibilização dos profissionais que realizam o acolhimento desse seguimento social na intenção de garantir as informações necessárias para um atendimento integral e que possam dar subsídios para o planejamento da gestão nessa linha de cuidado.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    01 Nov 2021
  • Aceito
    12 Abr 2022
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