Grupo focal on-line para a coleta de dados de pesquisas qualitativas: relato de experiência

Grupo de enfoque en línea para la recopilación de datos de investigación cualitativa: reporte de experiencia

Resumo

Objetivo

relatar o processo de desenvolvimento de grupo focal on-line como técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas.

Método

trata-se de relato de experiência do desenvolvimento de um grupo focal on-line para a coleta de dados com os enfermeiros docentes vinculados ao estágio supervisionado da Atenção Básica em Saúde de uma universidade pública do interior do Ceará, realizado em março de 2020.

Resultados

as fases de planejamento do grupo focal on-line síncrono foram: (1) estruturação da abordagem; (2) construção do instrumento-guia; (3) composição do grupo; e, (4) desenvolvimento do processo grupal. Este oportunizou a acessibilidade, a adesão dos participantes, a redução de custos, a menor abstenção dos participantes e a rapidez para coletar, registar e analisar os dados. Obteve-se resultado satisfatório, destacando-se como uma possibilidade concreta de técnica de coleta de dados, em pesquisas qualitativas.

Conclusões e implicações para a prática

a estratégia de coleta de dados por meio do grupo focal on-line pode contribuir para a construção do conhecimento na área da saúde e Enfermagem para a realização de pesquisas qualitativas.

Palavras-chave:
Coleta de Dados; Conhecimento; Enfermagem; Pesquisa Qualitativa; Tecnologia

Resumen

Objetivo

reportar el proceso de desarrollo de un grupo focal en línea como técnica de recolección de datos en investigación cualitativa.

Método

este es un relato de experiencia sobre el desarrollo de un grupo focal en línea para la recolección de datos con enfermeras docentes vinculadas a la pasantía supervisada de Atención Primaria de Salud en una universidad pública del interior de Ceará, realizada en marzo de 2020.

Resultados

las fases de planificación del grupo focal en línea sincrónico fueron: (1) estructuración del enfoque; (2) construcción del instrumento guía; (3) composición del grupo; y, (4) desarrollo del proceso de grupo. Esto proporcionó accesibilidad, adherencia de los participantes, reducción de costos, menor abstención de los participantes y rapidez en la recolección, registro y análisis de datos. Se obtuvo un resultado satisfactorio, destacándose como posibilidad concreta de técnica de recolección de datos en la investigación cualitativa.

Conclusión e implicaciones para la práctica

la estrategia de recolección de datos a través del grupo focal en línea puede contribuir a la construcción de conocimiento en el sector salud y enfermería para realizar investigaciones cualitativas.

Palabras clave:
Recolección de Datos; Conocimiento; Enfermería; Investigación Cualitativa; Tecnología

Abstract

Objective

to report the process of developing an online focus group as a data collection technique in qualitative research.

Method

this is an experience report on the development of an online focus group for data collection with teaching nurses linked to the supervised internship of Primary Health Care at a public university in the interior of Ceará, carried out in March 2020.

Results

the planning phases of the synchronous online focus group were: (1) structuring of the approach; (2) construction of the guide instrument; (3) group composition; and, (4) development of the group process. This provided accessibility, participant adherence, cost reduction, less participant abstention and speed to collect, record and analyze data. A satisfactory result was obtained, standing out as a concrete possibility of data collection technique in qualitative research.

Conclusion and implications for practice

the data collection strategy through the online focus group can contribute to the construction of knowledge in the health sector and nursing to carry out qualitative research.

Keywords:
Data Collection; Knowledge; Nursing; Qualitative Research; Technology

INTRODUÇÃO

O grupo focal constitui uma estratégia de coleta de informações prática e de baixo custo utilizada em diversas áreas de conhecimento. Esse pode ser realizado de forma presencial ou on-line. Neste último tem-se a modalidade análoga ao grupo focal presencial e, a comunicação e a interação ocorrem em ambiente virtual.¹,²

Enquanto a estratégia metodológica objetiva estimular a reflexão e discussão sobre um tema específico e destaca-se por possibilitar a interação grupal. A operacionalização do grupo permite ao pesquisador identificar as diferentes perspectivas analíticas e explorar como os fatos são articulados, confrontados, censurados e alterados na interação grupal,² à medida que a diversidade e a profundidade de respostas grupais possibilitam ter as informações detalhadas.³

As sessões grupais podem ser realizadas em quaisquer ambientes que promovam o acolhimento, a privacidade e a interação social.⁴ Com a ascensão da internet, a difusão das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) e o aumento do conhecimento aliado à facilidade de acesso aos recursos digitais, o uso do ambiente virtual constitui tendência crescente para o desenvolvimento de pesquisas vinculadas ao setor da saúde.⁵

Com a crescente adesão ao uso da internet por indivíduos de todas as faixas etárias e públicos, os pesquisadores têm utilizado a coleta de dados virtuais em pesquisas quantitativas e qualitativas. A difusão de informações das pesquisas realizadas, principalmente na área da Enfermagem demonstra a facilidade de divulgação pela flexibilidade e dinâmica de formação de redes de usuários que compartilham as vivências e as ideias em comum de modo a propiciar novas formas de construção do conhecimento e a coleta de dados.⁴

Entretanto, a utilização das TDIC não assegura que se ocorra um uso criterioso, sobretudo, no meio educacional, visto que as técnicas metodológicas utilizadas pelos pesquisadores para a coleta de dados são primordiais para garantir a qualidade das informações e a compreensão do fenômeno investigado.⁴,⁶

A coleta de dados em ambiente virtual foi intensificada a partir de março de 2020, com a pandemia da Coronavirus Disease (COVID-19), ocasionada pelo novo coronavírus, em decorrência da adoção de medidas sanitárias restritivas e o distanciamento social que também impactaram na educação no Ensino Superior nos âmbitos de ensino, pesquisa e extensão.⁷

As pesquisas em ambiente virtual obtiveram maior visibilidade e usabilidade para explorar e investigar fenômenos nos objetos de estudos com as crescentes discussões teóricas, metodológicas e éticas.⁴

Por conseguinte, o cenário atual requer, quando possível, a realização de pesquisas de forma não presencial e, assim, evidencia-se a necessidade de qualificar os pesquisadores na condução da coleta de dados em ambiente virtual. Ademais, diante dos benefícios da realização de estudos on-line, é essencial que os pesquisadores se encontrem familiarizados com os métodos de coleta de dados nesta modalidade, assim como com seus fatores facilitadores e dificultadores.⁵,⁷

Logo, na área de investigação científica houve a necessidade de a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa emitir orientações (Carta Circular n.º 1/2021-CONEP/SECNS/MS) sobre os processos na realização deste eixo em ambiente virtual para preservar a proteção, a segurança e os direitos dos participantes.⁸

Assim, apresenta-se a proposta de desenvolvimento de grupo focal on-line como técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Mediante buscas ativas prévias, identificaram-se que a técnica é pouco explorada na literatura científica de Enfermagem na sua aplicação de forma virtual, onde se faz propício analisá-la como alternativa de coleta de dados, tendo em vista a sua utilização nas pesquisas de Enfermagem como relevante meio para a obtenção de dados.

Objetivou-se relatar o processo de desenvolvimento de grupo focal on-line como técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas.

MÉTODO

Trata-se de um relato de experiência sobre o desenvolvimento da técnica grupo focal on-line para a coleta de dados com nove enfermeiros docentes, distribuídos em dois grupos focais on-line com, respectivamente, quatro e cinco participantes. Essa atividade foi desenvolvida no estágio supervisionado da Atenção Básica vinculado a uma universidade pública do interior do Ceará, Brasil.

A experiência foi vivenciada por dois acadêmicos e uma professora de Enfermagem da referida instituição, enquanto desenvolviam o trabalho de conclusão de curso, com a coleta de dados aplicada em março de 2020 (período da pandemia da COVID-19). Os resultados despontaram-se das experiências do primeiro, segundo e sexto autor sobre os instrumentos utilizados para o desenvolvimento do grupo focal on-line síncrono.

O grupo focal foi planejado em quatro fases adaptadas: (1) estruturação da abordagem; (2) construção do instrumento-guia; (3) composição do grupo; e, (4) desenvolvimento do processo grupal.⁹

Os dados foram organizados e expostos em quatro categorias, conforme as fases descritas anteriormente, sendo discutidos conforme a literatura pertinente.

RESULTADOS

O Quadro 1 apresenta as fases de planejamento do grupo focal on-line síncrono.

Quadro 1
Etapas de planejamento do grupo focal on-line síncrono. Iguatu (CE), Brasil, 2020.

Planejamento:
✔ Encontro de ambiente virtual.
✔ Desenvolvimento do roteiro do grupo focal on-line.
✔ Avaliações da estrutura e organização na tentativa de efetuar mudanças necessárias.
Um mês antes:
✔ Realização de convite no formato digital aos participantes.
✔ Obtenção de consentimento dos participantes.
✔ Disponibilização de formulário de caracterização aos participantes.
✔ Agendamento de dia e horário para a realização do grupo focal on-line.
Um dia antes:
✔ Encaminhamento de lembretes do horário do grupo focal on-line.
No dia:
✔ Moderadores on-line 10 minutos antes do horário agendado.
✔ Adição dos participantes do dia ao grupo focal on-line.
✔ Disponibilização de informações sobre o grupo focal on-line.
✔ Abertura do grupo focal on-line no horário determinado (16:00h).
✔ Publicação das perguntas em imagem, com tempo para respostas, mantendo o foco na discussão.
✔ Finalização da discussão do grupo focal on-line.
✔ Agradecimento aos participantes.
✔ Remoção dos participantes do grupo focal on-line.
✔ Avaliação dos mediadores.
✔ Organização do material coletado mediante download dos dados para análise.

• Fonte: Elaborado pelo primeiro autor.

Primeira fase: estruturação da abordagem

Nesta etapa decidiu-se o lócus de realização do estudo, optando-se pela realização de dois grupos focais on-line e síncronos pela rede social WhatsApp® em decorrência de seu uso cotidiano pelos participantes e pesquisadores.

Para a escolha do local de realização da sessão dos grupos focais on-line considerou-se um ambiente neutro, propício às interações e adesão dos participantes. Portanto, nesta experiência utilizou-se um grupo privado de WhatsApp® como acesso limitado às pessoas adicionadas pelo criador/administrador, permitindo aos membros enviar fotos, vídeos, mensagens de voz e emoticons e recebê-los de forma instantânea.

Obteve-se o conhecimento prático sobre a aplicação de grupos focais com o uso de tecnologias, observando suas potencialidades e limitações, condicionadas à compreensão e uso pelos participantes.

Segunda fase: construção do instrumento-guia

Com a realização dos grupos focais on-line objetivou-se identificar os principais fatores associados à prática assistencial para a efetivação do exame citopatológico de colo de útero e a relevância de se desenvolver as tecnologias para a educação em saúde sobre o tema.

Assim, elaborou-se o instrumento-guia de entrevista grupal com 10 questões (Quadro 2) baseadas em leituras prévias sobre o tema, selecionadas de forma não sistemática com a busca conduzidas em fevereiro de 2020 no Google Acadêmico, Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e na biblioteca Scientific Electronic Library Online (SciELO).

Quadro 2
Roteiro semiestruturado do grupo focal on-line. Iguatu (CE), Brasil, 2020.

Nomenclatura do exame:
(1) Como você intitula o exame de prevenção do Câncer de Colo de Útero (CCU)? E as mulheres?
Observações na realização do exame:
(2) Como as mulheres relatam vivenciar/experienciar o exame preventivo?
(3) Quais os sentimentos observados nas mulheres antes, durante e após o exame?
Realização do exame:
(4) Fornece informações sobre o exame antes de realizá-lo? Sobre o quê?
(5) Em sua opinião, o que leva a mulher a não realizar o exame?
(6) Executa algum meio que incentive a realização do exame?
(7) O que poderia ser feito para melhorar a adesão das mulheres a este exame?
(8) Qual a sua opinião sobre a promoção da saúde nesta temática?
Jogo educativo:
(9) Utilizaria um jogo educativo como guia para a educação em saúde sobre essa temática? Por quê?
(10) O que sugere de conteúdo para compor o jogo educativo?

• Fonte: Elaborado pelo primeiro autor.

Durante a aplicação, observou-se uma dúvida (pergunta 01) sobre a nomenclatura comumente definida ao exame pelas mulheres e pelos profissionais. A exemplo: papanicolau, exame preventivo ou citológico. Duas respostas não corresponderam ao que se esperava alcançar com a pergunta. Essa limitação foi considerada na segunda aplicação do grupo. Diante das limitações, notou-se a necessidade de um teste prévio de aplicação de entrevista na tentativa de evitar esses vieses, porém, este não foi executado.

Alguns questionamentos foram ajustados, incluindo-se: fale-me mais sobre qual o motivo, qual a justificativa, na intenção de obter respostas que atendessem ao objetivo proposto.

Nesta etapa percebeu-se a importância da escrita clara, próxima da realidade cultural do participante, de modo a facilitar a compreensão e a obtenção de resposta adequada à temática.

Terceira fase: composição do grupo

Nesta etapa definiram-se os participantes da pesquisa. O recrutamento foi por conveniência, incluindo os participantes com as características comuns: desenvolvimento de atividades de prevenção do CCU, familiaridade e manuseio do aplicativo WhatsApp®.

Foram incluídos os enfermeiros, preceptores de estágio supervisionado da Atenção Básica (AB) do curso de graduação em Enfermagem de uma universidade pública do interior do Ceará, que realizaram uma consulta ginecológica há no mínimo seis meses, e, excluídos os que se encontravam em férias, atestado ou licença maternidade, bem como aqueles que não preenchessem o formulário on-line de caracterização, ou que não participassem efetivamente da discussão on-line.

O convite à participação ocorreu por mensagens enviadas pelo aplicativo WhatsApp®. Os contatos foram disponibilizados pela referida universidade. Abordaram-se 15 enfermeiros para participar do estudo. Apesar das estratégias de abordagem realizadas, houve um retorno de dez participantes, dos quais somente um não compareceu, resultando em nove enfermeiros.

Caso o participante não respondesse em 48 horas, era encaminhado uma nova mensagem relatando a importância da sua participação. O prazo máximo de espera pela resposta era de 72 horas. Aos que aceitaram participar, deixava-se o link para o preenchimento do formulário via Google Forms® de caracterização e agendamento do grupo, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e do Termo de Consentimento Pós-Esclarecido (TCPE). Enviou-se uma mensagem de lembrete do grupo focal on-line 24h e uma hora antes do início.

O formulário continha as variáveis: sexo, instituição e ano de formação, tempo de formação, tempo de atuação na Atenção Básica, titulação, número de empregos, jornada de trabalho semanal e participação em cursos envolvendo a temática.

Evidenciou-se que o uso da tecnologia para a aplicação do grupo focal facilitou o acesso e a disseminação de informações, obtendo os participantes por meio de uma rede social amplamente utilizada na atualidade.

Quarta fase: desenvolvimento do processo grupal

As sessões dos grupos focais on-line foram organizadas seguindo as etapas: preparação, apresentação, desenvolvimento e encerramento do grupo. Na preparação, os mediadores ficaram on-line (dia da coleta) e adicionaram todos os participantes ao grupo ao passo em que na apresentação, disponibilizaram-se objetivos do trabalho, explicaram sobre a técnica de grupo focal on-line e aspectos éticos.

Os grupos focais on-line aconteceram em dia e horário acordados previamente. Realizaram-se dois grupos focais com apenas um encontro, conforme a disponibilidade, sendo um com cinco e outro com quatro participantes com duração de uma hora e quarenta e cinco minutos em ambos os encontros. O mínimo de participantes preconizados foram quatro pessoas por grupo.¹⁰

O momento iniciou-se com as boas-vindas, divulgação do objetivo de realização e o fornecimento de informações e regras (Quadro 3), em seguida, disponibilizaram-se 10 minutos para sanar as possíveis dúvidas.

Quadro 3
Informações e regras disponibilizadas. Iguatu (CE), Brasil, 2020.

INFORMAÇÕES E REGRAS
✔ Às 16h50min será aberto para mensagens para sanar as possíveis dúvidas.
✔ O debate terá início às 17h.
✔ Terá duração média de uma hora.
✔ O momento será conduzido por três mediadores.
✔ Para o desenvolvimento do debate serão propostos alguns questionamentos relacionados à prevenção do câncer de colo de útero e a relevância de se desenvolver tecnologias para a promoção à saúde para as mulheres nesta temática.
✔ Na oportunidade, os participantes poderão inserir “emoticons” ao texto para simular expressões, sentimentos e emoções vivenciadas.
✔ Os participantes deverão responder os questionamentos, assim como podem discutir as opiniões dos demais.
✔ Os questionamentos serão disponibilizados em imagem.
✔ As discussões poderão ser realizadas em texto e áudio, a critério do participante.
✔ Não havendo discussões das questões levantadas, os mediadores poderão fazer comentários ou perguntas aos participantes. Estas serão em texto e negrito.
✔ Antes de finalizar cada questionamento, a pedido do mediador, os participantes deverão enviar um emoticon representando sua expressão diante do assunto discutido.
✔ Para iniciar a discussão de cada questão, será inserido o seguinte emoticon “🟢” e para finalizar “🔴”.
✔ Após o término do grupo focal on-line, os participantes não conseguirão enviar mensagens ao grupo e, posteriormente, serão removidos tencionando a efetividade da pesquisa.

• Fonte: Elaborado pelo primeiro autor.

As dúvidas apresentadas foram quanto às regras: momento de discussão e aplicação dos emoticons, sendo sanadas pelo pesquisador antes do início da coleta de dados.

Os grupos focais on-line foram conduzidos por três mediadores: o pesquisador, uma professora e uma estudante de Enfermagem que foram capacitados previamente sobre suas funções, pela professora. O pesquisador e a estudante mediaram o momento, e a professora realizou a observação externa (que não se manifesta) para captar a reação dos participantes.

Para facilitar a leitura, os questionamentos foram disponibilizados em imagem e, na realização dos dois grupos, apenas uma pessoa optou por utilizar a comunicação oral por áudio. Consciente da exposição das perguntas, os enfermeiros eram estimulados a discorrer sobre suas concepções sobre os questionamentos.

Ao considerar a necessidade de avaliar as emoções dos participantes, utilizou-se o recurso emoticons. Os mediadores solicitaram emoticons ao final de cada questionamento, porém, os participantes poderiam utilizar deste recurso sem restrições. Para padronizar o significado de cada emoticon foi disponibilizada uma imagem no momento das informações (Figura 1).

Figura 1
Emoticons e seus respectivos significados. Iguatu (CE), Brasil, 2020.

O desenvolvimento foi orientado pelo roteiro de questões e no encerramento, realizou-se a remoção dos participantes do grupo e a avaliação dos mediadores (acadêmicos) e a observadora (professora) sobre a coleta, na tentativa de identificar as fragilidades no roteiro, na organização, na mediação, na observação e, assim, aprimorar o grupo focal on-line subsequente.

A técnica de coleta relatada constituiu uma oportunidade para os participantes expressarem as opiniões de forma livre, e, simultaneamente, serem direcionado pelos mediadores frente às interações, viabilizando o compartilhamento de experiências. Assim, alcançou-se o objetivo proposto pela pesquisa e as discussões permitiram uma reflexão crítica sobre o objeto da pesquisa.

Desvelaram-se como vantagens da estratégia de grupo focal on-line quando comparada a aplicação presencial: redução de custos, conveniência e participantes de diferentes lugares (pesquisador e participantes não precisam se deslocar para um local físico), menor taxa de abstenção dos participantes, rapidez para coletar, registar e analisar os dados, ambiente familiar (rede social conhecida). Como desvantagens citaram-se: não houve interação face a face, falta de habilidade na digitação (participantes mais habilidosos apresentaram papel mais ativo na discussão), atraso na resposta (perda de atenção ou desconcentração).

A realização de grupo focal on-line oportunizou aos mediadores o desenvolvimento de competências: organização, logística, moderação de discussões e regras. Essas, contribuíram para a obtenção de dados satisfatórios para a análise. Logo, destaca-se como possibilidade concreta de técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas.

DISCUSSÃO

Embora a utilização do grupo focal tenha ocorrido frequentemente no formato presencial, nas últimas décadas, com o aprimoramento das tecnologias de informação e comunicação, tem-se utilizado esta ferramenta no ambiente virtual, requerendo as adaptações operacionais.¹¹

Conforme os resultados mencionados neste estudo, o procedimento essencial à condução de grupos focais é a construção de um roteiro, para direcionar a coleta de dados, assim como não haver desvirtuação do foco da pesquisa.¹² O roteiro deve ser no formato semiestruturado, flexível, breve, contendo pontos ou questões fundamentais à pesquisa, tornando-o diálogo, natural e dinâmico. Uma das estratégias para evitar viés no roteiro é realizar um grupo piloto para observar se este atende ao proposto pela pesquisa.¹³

Os grupos focais on-line podem ser conduzidos de modo assíncrono ou síncrono. Nas sessões assíncronas os participantes podem ler os comentários postados e contribuir com suas próprias colocações a qualquer momento. Já as sessões síncronas são efetuadas em tempo real, com todos os integrantes participando simultaneamente,¹⁴ opção realizada neste estudo assegurando uma vantajosa experiência em decorrência da interação instantânea.

Na escolha pelo programa para a coleta de dados, preza-se por ser gratuito, permitindo a comunicação de forma instantânea, bem como para que os participantes estejam familiarizados com a tecnologia, suas características e ferramentas. Na contemporaneidade, tem-se diversas ferramentas que podem ser utilizadas: fóruns de discussão, sites, blogs, chats, Facebook®, Instagram®, Twitter®, YouTube®, Zoom®, Google Meet®, Telegram® e WhatsApp®.¹⁰

O aplicativo WhatsApp® utilizado nesta pesquisa permitiu que a discussão ocorresse em tempo real e as mensagens fossem enviadas, imediatamente recebidas e respondidas pelos integrantes, utilizando o recurso da digitação ou de áudio, ficando automaticamente gravadas em arquivo. Assim, a rede social escolhida apresenta-se como uma tecnologia útil, de modo que suas características e ferramentas são conhecidas tanto pelos moderadores quanto pelos participantes.¹⁵

A exemplo do realizado nesta pesquisa, o convite para participar deve ser claro, objetivo, sem detalhes técnicos, deixando explícito o assunto a ser tratado no grupo focal on-line, onde as informações detalhadas foram dispostas no TCLE para deliberar sobre sua decisão em participar ou não do grupo. Para evitar o número insuficiente de participantes (menor que quatro), enviar um lembrete no dia anterior poderá prevenir imprevistos e dar oportunidade ao pesquisador de revisar as datas ou obter outros participantes.¹⁶

Os participantes devem apresentar os aspectos em comum: competência na área da temática em estudo e estejam capacitados para o uso da ferramenta de comunicação virtual. Verificou-se neste estudo, a produtividade obtida com a participação de quatro membros em um grupo e cinco em outro. A quantidade tende a variar entre quatro e oito membros, dependendo da experiência do pesquisador, com o escopo de evitar falhas no processo. Na literatura apresenta-se uma variação, o que parece consenso é a não recomendação de grupo com mais de 12 pessoas, em função da dificuldade de se manter o foco e aproveitamento da participação de todos os membros.¹⁴

Espera-se um percentual de 10% a 50% de não participação ou desistência dos convidados. Por esta razão, é recomendado o sobre o recrutamento, ou seja, o convite de 20% a mais de pessoas, assegurando-se o mínimo de participantes, sem aumentar consideravelmente o grupo, no caso de todos comparecerem.¹³ Quando se utiliza do grupo focal on-line, destaca-se o baixo índice de desistência, fato notório nos resultados desta pesquisa.

Os mediadores do grupo focal on-line, além de conhecer os objetivos da pesquisa, têm como atribuição: orientar, organizar e estimular os participantes, visando coletar o máximo de informações. O observador, por sua vez, tem a função de auxiliar o moderador na condução do grupo e tomar nota das principais expressões verbais e principalmente não verbais.¹⁴,¹⁷

A duração obtida por meio da aplicação mencionada, foi adequada para a coleta de dados sobre a temática. O ideal é que perdure por pelo menos uma hora, mas não demore mais que duas.¹³ Nem sempre uma única sessão consegue prover dados diversificados e suficientes para uma análise robusta. Nesse sentido, pode-se convidar os mesmos participantes para um segundo encontro. Todavia, uma segunda sessão, não programada, pode incorrer em desistências de alguns participantes.¹²

Neste estudo, os dados obtidos em um único encontro por grupo foram suficientes para o alcance dos objetivos propostos, o que justifica a realização de único encontro por grupo.

Outro ponto importante quanto ao grupo focal on-line, diz respeito aos materiais de estímulo com a inclusão de recursos de livre associação, figuras, desenhos, fotografias e vídeos, para iniciar e/ou estimular um determinado debate.¹⁷

Quanto à utilização de emoticons, este recurso pode ser utilizado para suprir a falta de manifestações de emoções que podem ser facilmente percebidas quando o grupo focal é presencial. Por meio da sua inserção no texto, os participantes poderão simular expressões, emoções e sentimentos diante do assunto em discussão,¹³ facilitando a compressão das suas vivências, assim como identificar os desconfortos com relação à pesquisa.¹⁷ Essa vivência demonstrou-se exitosa ao facilitar a identificação das expressões não verbais no decorrer do desenvolvimento do grupo focal on-line.

Diante do exposto, nas investigações científicas de Enfermagem, os grupos focais presenciais ou virtuais, favorecem a exploração de temas que necessitam de interação da população estudada, viabilizando o entendimento de práticas cotidianas, ações e reações aos fatos e eventos, comportamentos e atitudes que, direta ou indiretamente, influenciam na saúde e na doença.¹⁸

CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

Para o desenvolvimento da técnica de grupo focal on-line faz-se necessário o planejamento, permitindo a obtenção efetiva do objeto da pesquisa, ao possuir impacto direto no resultado dos dados coletados. Assim, é válido que o pesquisador se aproprie do seu tema de estudo, como do processo de realização e rigor metodológico da técnica para subsidiar a elaboração do roteiro, definição do local de realização, dos participantes e estruturação da execução do grupo focal on-line.

A estratégia de coleta de dados por meio do grupo focal on-line pode contribuir de forma significativa com a construção do conhecimento na saúde e na Enfermagem. Então, é válido a apropriação dessa prática de coleta de dados por enfermeiros, na realização de pesquisas qualitativas.

Destaca-se, como limitação do estudo, a insuficiência de evidências científicas na área de Enfermagem que forneçam conhecimentos sobre a técnica de coleta de dados por grupo focal on-line. Logo, sugere-se que estudos vindouros sejam realizados, abordando as diversas perspectivas dessa temática.

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EDITOR CIENTÍFICO

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  15 Maio 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  04 Jan 2023
• Aceito
  21 Mar 2023