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EDITORIAL

Neste número, os artigos acabaram convergindo numa coincidência bem-vinda para assuntos correlatos como a discussão do currículo, da formação do psicólogo e da necessidade de pesquisa nas Faculdades de Psicologia. Estes artigos merecem alguns comentários iniciais para estimular sua leitura. A seção Psicologia Em Debate reproduz a mesa-redonda Pesquisa e Ação, realizada em outubro de 1985, na XV Reunião Anual de Psicologia em Ribeirão Preto (E.S.P.), sob a promoção conjunta da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto e do Conselho Federal de Psicologia. Três psicólogos-pesquisadores discutem qual é o relacionamento da pesquisa com a política na ciência. Está reproduzido também um debate destes três psicólogos-pesquisadores com a platéia presente naquela ocasião.

Dois artigos tratam especificamente da questão do currículo. O artigo assinado por Silke Weber, professora da Universidade Federal de Pernambuco, retoma um debate acerca do currículo mínimo ocorrido no Departamento de Psicologia desta Universidade. Ao aprofundar mais o debate, a autora discute a importância da pesquisa no currículo mínimo e também ressalta como é importante a prática da pesquisa como um exercício do pensar e do saber. Na opinião da autora, não basta mudar somente o currículo mínimo se a prática da pesquisa não for efetivada e colocada em desenvolvimento através do comprometimento dos docentes. Assim, a profª Weber fundamenta de maneira muito acurada e conseqüente a importância da prática da pesquisa na graduação. Um segundo artigo sobre a questão do currículo é o assinado por Carlos Roberto Drawin em que constata a crise de identidade da Psicologia. Ele a identifica como sendo resultado do desemprego crônico, da fatuidade prática, da precariedade dos cursos de graduação e do caos teórico. Por estar atravessando essa crise, Drawin afirma que é necessário fazer uma opção pelo debate e uma paciente busca de soluções e de caminhos que não surgirão de uma hora para outra, repentinamente.

Nas palavras de Drawin: "O repensar a nossa identidade em dissolução é o necessário trabalho prévio para qualquer redefinição formal e jurídica de nosso perfil profissional que não queira se perder no mero artificialismo normativo". Esta frase expressa uma idéia compartilhada pelo Conselho Federal de Psicologia. Somos um órgão contraditório, que tem como função cotidiana legislar, mas não somos um mero legislador que considera a lei a solução de tudo. Além disso, queremos fazer crescer e promover o debate, contribuindo nos momentos organizativos da categoria.

Na seção Depoimento, um dos participantes é Odette de Godoy Pinheiro que relata como se originou e se desenvolveu o trabalho com um grupo de mulheres, num bairro de periferia paulista, vinculado à Faculdade de Psicologia da PUC-SP. Outro participante na mesma seção é Gislaine Varela Mayo, que faz um relato sobre a maneira pela qual está trabalhando a sua experiência e sua reflexão relativas à saúde mental e saúde pública. Ela afirmou que o trabalho nessa área é algo ainda em processo. Esse depoimento pode ser considerado relevante porque se trata de um trabalho no Estado de São Paulo, onde vêm ocorrendo importantes transformações desde 1983. Não há notícias de tanto investimento na área de saúde pública como está acontecendo na Coordenadoria de Saúde Mental do Estado de São Paulo. A seção Memória Viva está dedicada a Regina Schnaiderman. Já faz mais de um ano desde o falecimento dela. Ela estava na pauta para ser entrevistada, mas infelizmente não foi a tempo e, então, fizemos a entrevista com a filha dela, Miriam, com Cecília Hirchzon e com Ana Maria Sigal. Como pessoa, Regina era vibrante e também muito controvertida. Alguém de quem todo mundo diz: era disruptiva o tempo inteiro.

Finalmente, o artigo de uma equipe interdisciplinar de psicólogos, sociólogos, professores e estudantes, que viveram uma experiência de trabalho organizativo com um grupo social, no meio rural. Assim como o trabalho desenvolvido no meio rural, a redação deste artigo foi feita pela equipe em conjunto. Havia notícia de que este artigo seria encaminhado para a nossa revista. Era um tal de discutir, discutir, mas o artigo nunca era enviado para o Conselho Federal de Psicologia. Enfim, depois de tanto suor, aqui está para a leitura dos colegas. Esperamos que suscite mais discussões ainda. Fizemos os comentários sobre o conteúdo da revista e vamos lembrar que este é o último número a ser publicado pelo IV Plenário do Conselho Federal de Psicologia, cuja gestão correspondeu aos anos 1982-85.

Então chegou a hora de fazer uma breve avaliação desse período mais recente em que atingimos os objetivos de mudança mais radical propostos para Psicologia, Ciência e Profissão. Ela foi distribuída para todos os psicólogos; o que não acontecia anteriormente. Mudou de forma e conteúdo editorial, tornando-se mais acessível e legível sem descuidar do rigor científico. As inúmeras cartas recebidas comprovam que estas mudanças recentes valeram a pena. Não só as cartas como também temos recebido e continuamos recebendo inúmeros artigos para publicação.

Houve uma falha que não conseguimos corrigir ainda. A revista continua saindo de maneira irregular. Este número 2/85, correspondente ao segundo semestre de 1985, está sendo lançado somente agora no primeiro semestre de 1986. Entretanto, estamos muito empenhados e comprometidos em sanar essa irregularidade. Esta revista está sendo publicada quando já ocorreu a troca de conselheiros. O V Plenário do Conselho Federal de Psicologia, eleito pelos Conselhos Regionais de Psicologia para a gestão de 1985-88, já tomou posse em dezembro de 1985. O novo Plenário pretende dar continuidade à linha editorial da revista. Outras novas metas estão sendo colocadas como, por exemplo, a tentativa de expandir ainda mais o acesso à revista pelo meio estudantil, ou a proposta de tornar menor a periodicidade da revista. Neste ano, a revista vai continuar sendo semestral, apesar de já estar sendo estudada a possibilidade de uma periodicidade menor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Out 2012
  • Data do Fascículo
    1985
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