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A residência hospitalar como modalidade de especialização em psicologia clínica

Resumos

O presente artigo se propõe a tecer considerações sobre as origens e concepções da Residência Hospitalar (RH), enfatizar a importância da instituição hospitalar na formação do profissional de saúde e, em especial, do psicólogo clínico, através da Residência em Psicologia (RP). Esta modalidade de especialização despertou maior interesse principalmente a partir de 1998, quando o Conselho Federal de Psicologia (CFP) passou a discuti-la nacionalmente. Portanto, são feitas referências ao papel do CFP na regulamentação e implantação da RP. Finalmente, descrevem-se os princípios norteadores, a organização e o funcionamento da RP do Instituto de Psicologia/Hospital Universitário Pedro Ernesto (IP/HUPE/UERJ), iniciada em 1993, visando, contribuir para a divulgação e o debate desta modalidade de especialização em todo o país.

Residência hospitalar; Residência em psicologia; Especialização; Clínica


This article intends to draw considerations about the origins and the conceptions of Hospital Residence Program (HR), to emphasizes the importance of the hospital institution for the health profissional specialization, in special for the clinical psychologist, with the Residence in Psychology (RP). This specialization modality took more interest after 1998, when the Conselho Federal de Psicologia (CFP) promoved a national discussion about it. Consequently, on enphasizes the role of the CFP to order the implantation of the RP. Finaly, on describes the guide principles, the organization and the function of the Psychology Residence of the Psychology Institute/University Hospital Pedro Ernesto (IP/HUPE/UERJ), iniciated in 1993, thats aim to contribute to the divulgation and to the discussion of this specialization modality in all over the country.

Hospitalar residence; Psychology residence; Specialization; Clinical


ARTIGOS

A residência hospitalar como modalidade de especialização em psicologia clínica

Ademir Pacelli Ferreira* * Professor Adjunto do IP/UERJ. Coordenador da Residência em Psicologia e do Espaço de Atividades e Convivência Nise da Silveira – Serviço de Psiquiatria/HUPE-UERJ.

Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Ademir Pacelli Ferreira Rua Uruguai, 449B/402 20510-060 Rio de Janeiro - RJ Tel.: +55-21 238-5717 Fax.: +55-21 587-7552 E-mail: pacelli@uerj.br / ademirpacelli@aol.com

RESUMO

O presente artigo se propõe a tecer considerações sobre as origens e concepções da Residência Hospitalar (RH), enfatizar a importância da instituição hospitalar na formação do profissional de saúde e, em especial, do psicólogo clínico, através da Residência em Psicologia (RP). Esta modalidade de especialização despertou maior interesse principalmente a partir de 1998, quando o Conselho Federal de Psicologia (CFP) passou a discuti-la nacionalmente. Portanto, são feitas referências ao papel do CFP na regulamentação e implantação da RP. Finalmente, descrevem-se os princípios norteadores, a organização e o funcionamento da RP do Instituto de Psicologia/Hospital Universitário Pedro Ernesto (IP/HUPE/UERJ), iniciada em 1993, visando, contribuir para a divulgação e o debate desta modalidade de especialização em todo o país.

Palavras-chave: Residência hospitalar, Residência em psicologia, Especialização, Clínica.

ABSTRACT

This article intends to draw considerations about the origins and the conceptions of Hospital Residence Program (HR), to emphasizes the importance of the hospital institution for the health profissional specialization, in special for the clinical psychologist, with the Residence in Psychology (RP). This specialization modality took more interest after 1998, when the Conselho Federal de Psicologia (CFP) promoved a national discussion about it. Consequently, on enphasizes the role of the CFP to order the implantation of the RP. Finaly, on describes the guide principles, the organization and the function of the Psychology Residence of the Psychology Institute/University Hospital Pedro Ernesto (IP/HUPE/UERJ), iniciated in 1993, thats aim to contribute to the divulgation and to the discussion of this specialization modality in all over the country.

Keywords: Hospitalar residence, Psychology residence, Specialization, Clinical.

A Redidência Hospitalar (RH) é uma modalidade de especialização no nível de pós-graduação, que oferece uma prática intensiva e exige dedicação integral. A descoberta de sua importância para os psicólogos vem crescendo desde a década de setenta e, pela primeira vez, o Conselho Federal de Psicologia ampliou sua discussão, levando-a para um fórum nacional. Em junlho de 1999m depois de várias interações telecomunicativas com representantes de vários Estados, o CFP organizou um Encontro no Rio de Janeiro, objetivando construir um documento preliminar para orientar suas ações e traçar os critérios e princípios básicos para regulamentar os programas de Residência em Psicologia (RP) (CFP, Documento Preliminar – Regulamentação do Programa de Residência em Psicologia, 7/2000).

A entrada do psicólogo no hospital ocorreu há algumas décadas, começando por São Paulo, pelo que sabemos, com Mathilde Neder na década de cinqüenta (Coelho, 1998), foi se ampliando para outros estados. Por outro lado, as primeiras iniciativas federais no sentido de criar cursos de residência ocorreram em 1976, quando uma equipe do Ministério da Saúde elaborou programas de residência para várias áreas, inclusive para a psicologia. Esta iniciativa teve como objetivo assessorar o MEC na implantação desta modalidade de formação, mas estes estudos foram abandonados (documento de 1977, com título Residência na Área de Saúde, elaborado pela Equipe Técnica do Ministério da Saúde, para assessorar ao MEC. Encontra-se na biblioteca do CFP).

Residência: da Medicina a um Padrão de Especialização em Saúde

A instituição hospitalar reúne uma enorme diversidade de experiências humanas, que acreditamos ser de fundamental importância para a formação do profissional de saúde. No início do século, o cirurgião americano Halsted inventou a modalidade de especialização médica através da residência, resolvendo assim o problema da precária formação médica (Moraes,1984). O sucesso desta modalidade de especialização - através da dedicação integral, vivência intensiva dos múltiplos acontecimentos do dia a dia hospitalar, orientação sistemática, aprofundamento técnico e teórico e a remuneração digna para garantir a dedicação exigida - fez da residência hospitalar um modelo respeitado no mundo inteiro. Por esta razão, a RH passou a ser reivindicada por outras categorias profissionais. Apesar da entrada do psicólogo no hospital remontar à década de cinqüenta (cf. Coelho, 1998), intensificando-se em várias capitais após os anos setenta, os psicólogos tiveram de esperar muitos anos pelo acesso à RP, contando até então somente com estágios e cursos de extensão. Das razões para esta demora, podemos assinalar as seguintes :

• Interesse na criação de cursos de especialização baseados apenas na prática clínica tradicional, que são menos dispendiosos e, geralmente, auto-financiados;

• Tradição academicista do modelo de formação das faculdades de psicologia;

• Justificativa de que a residência se pautava no modelo médico, não sendo adequada ao psicólogo;

• O isolamento da época e a falta de um órgão norteador dificultaram o desenvolvimento de intercâmbios que pudessem transformar a idéia e as experiências dos vários lugares – São Paulo, Ribeirão Preto, PUC-BH - em vontade política para criar a RP;

• As experiências esporádicas, como as do Instituto Philippe Pinel no Rio de Janeiro e da Clínica Pinel de Porto Alegre em 1974 (Ferreira, 1998), não tinham consistência (investimento financeiro, corpo docente) e desapareceram.

Não temos ainda informações precisas sobre o quantitativo de RP no país, mas acreditamos que, ao assumir a liderança deste processo, o CFP poderá ser o centro irradiador destas informações. Aqui no Rio de Janeiro, depois do IP/UERJ (1993), surgiram mais três ofertas de Residências Interdisciplinares em Saúde Mental, oferecidas pela Secretaria Municipal de Saúde (Instituto Philippe Pinel, Instituto Nise da Silveira e Colônia Juliano Moreira), onde os psicólogos vêm conquistando a maioria das vagas.

A Importância do Hospital na Formação do Psicólogo

O hospital é um espaço de experiências humanas muitas vezes extremas. Lugar onde nos defrontamos com a fragilidade do corpo, com a dor, com o sofrimento, perdas e tristezas, caracterizando-se como uma clínica da urgência (Decat de Moura, 2000). Por outro lado, a possibilidade de superar este lugar de desamparo, de redução ao corpo e de vazio da palavra, pode trazer momentos importantes e gratificantes tanto para quem assiste, quanto para quem é assistido.

Apesar da idéia do hospital como proteção, a maioria das pessoas possui temores de ingressar nesse espaço. O confronto com o real do sofrimento, da dor e da morte, pode exercer o efeito de estilhaçamento em nossas armaduras imaginárias. Ao confrontar-se com a alteridade impactante do desamparo e da fragilidade do corpo e da vida humana, toma-se contato com o real da castração, através da percepção da incompletude. Por tudo isto, podemos supor que o hospital ajuda também a criar uma capacidade de circulação entre o impacto da dor e da alegria, o que favorece a fruição da vida e a saúde psíquica, prestando um serviço ímpar para a formação do psicólogo.

Do ponto de vista histórico, a concepção de hospital tem sofrido mudanças, tanto conceituais quanto em suas funções sociais. Nascido como lugar-depositário para os moribundos pobres (Abranches, 1998), revelou-se no século passado como corpo dócil e ideal para a investigação, descrição das doenças e instrumentalização técnica. Com o desenvolvimento das tecnologias (exames, diagnóstico e intervenção precisa), o hospital transformou-se no lugar do tratamento, da cura das doenças e da restituição da saúde. Não conseguiu, entretanto, resolver a ambigüidade presente na sua história, qual seja, por um lado, a sua representação enquanto espaço depositário da morte e, por outro, enquanto lugar de resgate da vida saudável.

Constatamos também que a assistência à saúde como um direito, é ainda negada à maioria da população. O vínculo histórico com a filantropia e com o assistencialismo produziram a representação do atendimento associado à caridade e ao messianismo. Os efeitos desta ideologia trazem conseqüências importantes para a prática psicológica, especialmente quando o acento recai sobre a ética do sujeito, já que aí solicitamos o surgimento do seu desejo e o contrapomos a este lugar de depositário de cuidados.

A representação do hospital como lugar de clausura, cuja função social visa isolar a doença da saúde, a vida da morte, ainda predomina, o que leva a atribuir a tarefa dos cuidados aos “especialistas” e “peritos” (Giddens, 1991). Também a morte tornou-se alteridade radical (selvagem) ao afastar-se do convívio do dia a dia do mundo familiar (Ariès, Apud. Pitta, 1990). Estas questões trazem implicações importantes para pensar o lugar do psicólogo no hospital, profissional este que não deve ser meramente mais um especialista - aquele que sabe tudo sobre uma região determinada do paciente. Nosso saber é saber escutar, acolher, decifrar, para ajudar a resgatar o sujeito do vazio da dor e da redução ao corpo.

Sem negar os benefícios que a dedicação dos médicos e cientistas trouxe para a humanidade - aliviando sofrimentos e melhorando as condições de saúde - assinalamos certas tendências reducionistas que levam ao empobrecimento das práticas e da concepção de doença e de saúde para, em seguida, falar do lugar do psicólogo. Ao se reduzir o sujeito doente a um corpo biológico, coisificando-o e desconsiderando-se a sua subjetividade e o seu lugar de sujeito frente às ameaças, ao sofrimento e à dor, perde-se muito da compreensão e das possibilidades terapêuticas, já que tudo isto torna-se invisível ante o olhar frio do diagnosticador.

A nosso ver, na doença, vivencia-se a fragilidade da vida e é neste lugar de desamparo frente ao horror da doença e da morte, que o homem entrega seu corpo ao corpo técnico, como refúgio para a sua angústia (Pitta, 1990). Desta forma, espera-se muito mais da intervenção do profissional que o mero olhar técnico e frio. O treinamento técnico que visa criar proteções contra o envolvimento com a angústia do doente - para não afetar sua capacidade de percepção e discernimento diagnóstico e terapêutico - pode obliterar um acesso importante de entendimento do sofrimento, uma vez que a forma e a expressão da doença no corpo e na mente envolvem a subjetividade. A clínica exige o cultivo e o aprimoramento da sensibilidade humana e, para tal, seus instrumentos não podem reduzir-se ao sensorial. Sem um trabalho sobre os afetamentos, as condições de funcionamento do psiquismo serão reduzidas (Freud,1923). Neste sentido, a práxis do psicólogo no hospital pode oferecer algo à medicina, ao assinalar algo intrinsecamente original, que é a verdade do sujeito que a procura por estar aflito (Alberti, 2000), demandando mais do que uma resposta técnica e uma explicação científica.

Portanto, é neste lugar onde o que se vê, o que se apalpa e o que se ausculta ocupam o primeiro plano, que o psicólogo clínico poderá validar sua praxis, ao buscar acolher e ouvir a palavra daquele que clama por um interlocutor. Foi para justificar este lugar que achamos necessário traçar este percurso para situar e defender os programas da RP e mostrar sua importância na formação do psicólogo clínico. Passaremos agora a falar da RP do IP/HUPE/UERJ.

O Curso de Psicologia Clínico-Institucional – Modalidade Residência Hospitalar do IP/UERJ

Apesar de defendermos a idéia da RP há muitos anos e de dispormos de uma prática do psicólogo no HUPE/UERJ, desde o início dos anos setenta, somente em 1989 conseguimos organizar um grupo de trabalho e elaboramos o primeiro projeto do IP/UERJ. Entretanto, somente em 1993 reelaboramos este projeto, que foi então aprovado nas instâncias internas e em seguida implantado. Para isto, contamos com o apoio da direção do Instituto de Psicologia e do HUPE/UERJ, o que garantiu os recursos financeiros e materiais para oferecer o campo da prática e cinco bolsas anuais para os residentes.

A formação do residente fundamenta-se na compreensão e na análise institucional crítica, pela avaliação das demandas individuais e institucionais, evitando-se, assim, cair no engodo da relação tecnicista apressada. Para tal, torna-se importante pensar a doença em sua relação com a saúde, entender as formas singulares de responder ao adoecimento, escutar, analisar e lidar com as variadas demandas da equipe (cf. Coelho, 1998): do enfermeiro (que em geral fica mais tempo com o enfermo), do médico (em sua tensão de responder prontamente com o diagnóstico e a intervenção adequada), dos familiares (ansiosos por uma palavra de esclarecimento e de apoio).

A partir de 2000, o curso foi oficializado junto aos órgãos de pós-graduação da UERJ, para que futuramente possa ser reconhecido pelo MEC. Até o momento, somente as residências médicas são reconhecidas. Em 1999, com o apoio da diretora do IP nos empenhamos em buscar uma solução para o reconhecimento do título, sendo a forma encontrada a reelaboração e transformação do projeto em projeto de pós-graduação Lato Sensu, cujo título é Curso de Especialização em Psicologia Clínico-Institucional - Modalidade Residência Hospitalar. Depois de submetido às instâncias universitárias de pós graduação, teve sua aprovação. A oficialização do curso é de grande interesse para os psicólogos, principalmente para fins de concursos públicos e é neste sentido que o CFP está empenhado em criar critérios e instâncias de oficialização do curso.

Organização do curso

O curso é coordenado por um professor do IP/UERJ e conta com um corpo docente de três professores e quatro psicólogos supervisores.1 1 No corpo docente contamos com os seguintes professores e psicólogos: Ademir Pacelli Ferreira, professor adjunto, doutor em Psicologia Clínica, Ester Susan Guggenheim, psicóloga, doutoranda em comunicação, Luis Fernando Chazan, médico-psicanalista e mestrando em saúde da família, Maria do Carmo de Almeida Prado, psicóloga, doutora em psicologia clínica, Maria Luiza Bustamante, psicóloga, mestre em psicologia clínica, Sheila Ogler, psicóloga, mestre em psicologia clínica, Sônia Alberti, professora adjunta, doutora em psicologia clínica, Terezinha Melo da Silveira, psicóloga, doutoranda em psicologia clínica. Dispõe também de uma coordenação administrativa geral, junto ao HUPE/UERJ, que é comum a todas as residências oferecidas pelo hospital. A seleção é anual, por concurso público, aberta a todos os psicólogos matriculados nos CRP. São oferecidas cinco vagas anuais e a bolsa é eqüivalente a dez salários mínimos (padrão para todas as residências).

O programa segue o padrão das Residências Hospitalares, sendo desenvolvido em dois anos (R1 e R2), com carga horária de quarenta e oito horas semanais, incluindo um plantão de fim de semana. No primeiro ano, o R1 passa pelo rodízio em seis áreas, três no primeiro semestre e três no segundo, onde divide sua carga horária nas três áreas ao mesmo tempo. No segundo ano, o residente opta por uma ou duas áreas de especialização, no máximo. O Programa oferece oito áreas de atuação, que são: a) no Serviço de Psiquiatria: Psicoterapia Psicanalítica de Família e Psicodiagnóstico Diferencial, Acompanhamento e Intervenção na Internação Psiquiátrica; b) Clínica de Pediatria; c) Pré-Natal e Maternidade; d) Clínica e Cirurgia Cardíaca; e)Unidade de Atendimento ao Idoso e Universidade da Terceira Idade; f) Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente.

As áreas e programas práticos são definidos pela potencialidade de ofertas das distintas modalidades de intervenções, onde o residente possa lançar mão de vários recursos e experienciar os vários momentos do processo terapêutico: internação, ambulatório, atendimento domiciliar e programas de reabilitação. Podendo, ainda, analisar os diferentes tipos de demanda: da equipe, do ambiente, da internação ou da família.

O curso teórico oferece as seguintes disciplinas obrigatórias: Fundamentos das Técnicas Psicoterápicas, Estudos Gerontológicos, Fundamentos Filosóficos da Prática Clínica, Introdução ao Programa de Saúde da Família e Orientação de Monografia. As disciplinas eletivas são desenvolvidas junto às áreas programáticas e são elas: Psicologia e Programas de Saúde Mental, Métodos de Avaliação e Psicodiagnóstico Diferencial, Psicanálise da Família, Psicanálise e Sujeito Adolescente, Psicoterapia Breve e Pediatria, Psicanálise e Maternidade e Dinâmica de Grupo nas Instituições de Saúde.

Desta maneira, objetivamos oferecer ao residente um campo ampliado para a prática intensiva supervisionada, acompanhada por professores e especialistas, além de outras aulas, seminários, centro de estudos, elaboração e apresentação de trabalhos escritos e discussões, que garantam uma formação de alto nível, capacitando-o para o pleno exercício profissional no atendimento à população, nas instituições de saúde. Mantemos um Fórum Anual onde os residentes apresentam trabalhos a partir da elaborações de suas experiências que têm resultado na publicação de Práxis e Formação, que já se encontra no quarto número e traduz a rica experiência dos residentes nesta modalidade de especialização.

Considerações Finais

Ultimamente podemos observar algumas mudanças importantes no espaço e na rede de relações existentes nos hospitais. Despertou-se para a preocupação com a modulação dos espaços internos e externos, no sentido de manter a continuidade dos laços e dos fluxos. O conforto e os estímulos estéticos passaram a ser valorizados. Também a presença dos familiares junto à criança e ao idoso internados, já são uma realidade de direito, embora, nem sempre, de fato. A psicologia trouxe contribuições para estas melhorias, seja através de suas pesquisas - mostrando os danos de certas rupturas afetivas e do isolamento - seja pelas práticas diárias desenvolvidas nas instituições hospitalares, nas últimas décadas.

Na formação do residente incluímos estas preocupações institucionais e, por isto, mantemos o princípio da formação clínica ampliada e institucional, onde o residente circula pelas várias áreas da assistência hospitalar, objetivando o contato e o conhecimento da organização e funcionamento das mesmas, como, também, das várias modalidades assistenciais.

A partir da observação de alguns índices, podemos considerar positivas as avaliações do nosso curso, seja através da própria valorização da residência no campo profissional - aprovações de ex-alunos em concursos públicos e convites de trabalho que os mesmos vem recebendo - seja pelas várias solicitações de intercâmbio que estamos recebendo de outros Estados. Também as publicações dos trabalhos apresentados pelos residentes no Fórum Anual da Residência (Práxis e Formação, 1997, 1998, 1999 e 2000), nos dão mostras da qualidade destas experiências. São retratos sensíveis dos percursos de cada residente, no desafio de adentrar as várias unidades do complexo hospitalar.

Com o empenho do CFP, ao criar critérios para a regulamentação dos Programas de RP (veja Resolução no. 009/2000, que institui e regulamenta o Manual de Normas Técnicas para a Residência em Psicologia na área de saúde, publicada no Jornal do Federal, ano XVI, no. 67, março/2001), acreditamos que esta modalidade de especialização será valorizada e buscada pelos psicólogos em todo país, exigindo do poder público atenção e empenho em investir nesta formação. Nos congressos nacionais de psicologia hospitalar onde apresentamos trabalhos sobre a RP (Curitiba,1999; Belo Horizonte, 1999; Niterói, 1999; São Paulo, 2000), observamos grande interesse dos psicólogos e estudantes. Também tem sido grande a procura pelo curso, ultrapassando a média de 40 candidatos por vaga, vindo de vários Estados. Gostaríamos de aumentar o número de vagas, mas devido à política de contenção de despesas do Estado, isto ainda não foi possível. Os hospitais públicos e universitários encontram cada vez mais dificuldades de sobreviverem. Devemos resistir a este cenário e participar do esforço comum que busca assegurar uma assistência digna a população e uma formação de alto nível que capacite os profissionais para planejar, implantar e desenvolver projetos de atendimento à população, desenvolvendo um campo interdisciplinar de pesquisas em saúde. Apesar dos horizontes sombrios que ameaçam os jovens em formação, onde a falta de esperança e de oportunidades futuras aumentam as angústias e as dificuldades para se lidar com as sensíveis e dramáticas situações daqueles que estão padecendo, é premente entrar nos movimentos que embalem novos sonhos e despertem fluxos de solidariedade, engajamentos e lutas concretas. Cuidar da saúde e do futuro do nosso país é um empreendimento urgente para todos os brasileiros e esperamos que, com o engajamento de todos, o futuro possa ser construído ativamente.

Referências bibliográficas

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Coelho, A.(1998).Psicologia Hospitalar: Realidade Atual e Vicissitudes. Vertentes, São João del-Rei, n. 11, p.31-35.

Decat de Moura, M. (2000). Psicanálise e Hospital. Rio de Janeiro, Revinter, 2ª ed.

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Giddens, A.(1991). As Conquistas da Modernidade. São Paulo, UNESP.

Jornal do Federal, CFP, n° 2, (1998).CFP, Documento Preliminar – Regulamentação do Programa de Residência em Psicologia. Mimeo, 2000.

Moraes, I.N.(1984). Residência Universitária. Revista Paulista de Hospitais, vol. XXXII, no. 7

Pitta, A .(1990). Hospital, Dor e Morte Como Ofício. São Paulo, Hucitec.

Recebido 05/11/99

Aprovado 09/01/01

  • Alberti, S. (1999). Uma Intersecçăo entre Psicanálise e Hospital. Práxis e Formaçăo: as Várias Modalidades de Inrtervençăo do Psicólogo Rio de Janeiro, UERJ, Instituto de Psicologia.
  • Abranches, C.(1998). Cuidando de Quem Cuida Dissertaçăo de Mestrado, FIOCRUZ, Rio de Janeiro.
  • Coelho, A.(1998).Psicologia Hospitalar: Realidade Atual e Vicissitudes. Vertentes, Săo Joăo del-Rei, n. 11, p.31-35.
  • Ferreira, A.P. (1998). A Residęncia Hospitalar: Uma Modalidade de Especializaçăo em Psicologia Clínico-Institucional Rio de Janeiro, Praxis e Formaçăo., IP/NAPE/UERJ, no. 3.
  • Freud, S.(1976). O Ego e o Id ESB, vol. XIX. Rio de Janeiro, Imago.
  • Giddens, A.(1991). As Conquistas da Modernidade Săo Paulo, UNESP.
  • Jornal do Federal, CFP, n° 2, (1998).CFP, Documento Preliminar Regulamentaçăo do Programa de Residęncia em Psicologia. Mimeo, 2000.
  • Moraes, I.N.(1984). Residęncia Universitária. Revista Paulista de Hospitais, vol. XXXII, no. 7
  • Pitta, A .(1990). Hospital, Dor e Morte Como Ofício Săo Paulo, Hucitec.
  • Endereço para correspondência

    Ademir Pacelli Ferreira
    Rua Uruguai, 449B/402
    20510-060 Rio de Janeiro - RJ
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    Fax.: +55-21 587-7552
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    Professor Adjunto do IP/UERJ. Coordenador da Residência em Psicologia e do Espaço de Atividades e Convivência Nise da Silveira – Serviço de Psiquiatria/HUPE-UERJ.
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    No corpo docente contamos com os seguintes professores e psicólogos: Ademir Pacelli Ferreira, professor adjunto, doutor em Psicologia Clínica, Ester Susan Guggenheim, psicóloga, doutoranda em comunicação, Luis Fernando Chazan, médico-psicanalista e mestrando em saúde da família, Maria do Carmo de Almeida Prado, psicóloga, doutora em psicologia clínica, Maria Luiza Bustamante, psicóloga, mestre em psicologia clínica, Sheila Ogler, psicóloga, mestre em psicologia clínica, Sônia Alberti, professora adjunta, doutora em psicologia clínica, Terezinha Melo da Silveira, psicóloga, doutoranda em psicologia clínica.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Set 2012
    • Data do Fascículo
      Jun 2001

    Histórico

    • Recebido
      05 Nov 1999
    • Aceito
      09 Jan 2001
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