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Monique Rose Aimée Augras

HOMENAGEADO

Monique Rose Aimée Augras

Chatearoux. Foi nessa pequena cidade do interior da França que nasceu, em 1937, Monique Rose Aimée Augras. Aprendeu a ler com apenas quatro anos de idade, na única escola da cidade, em que havia várias turmas e apenas um professor. Isso possibilitou sua entrada precoce no mundo dos livros. Desde cedo, já manifestava preferência por mitos e lendas, e esse interesse pela diversidade cultural marcaria sua obra futura.

Depois dos primeiros anos de formação escolar, Monique iniciou estudos na área de Filosofi a. Foi nesse período que descobriu a Psicologia, um campo ainda novo, mas que parecia promissor. Transferiu-se para Paris e fez a licenciatura e Doutorado na Sorbonne, entre os anos de 1955 e 1960.

Na sua formação, ela teve a infl uência inicial de Jean Piaget. Com a dissolução do grupo de pesquisa do qual Monique fazia parte, devido a problemas de saúde de Piaget, buscou outras linhas de estudo, dedicando-se à clínica e à área social e cultural.

Nessa nova fase, Monique Augras foi infl uenciada por Jean Stoezel, Daniel Lagache, Etienne Souriau e pela introdução à obra de Hegel, por Juliette Favez-Boutonnier, pela iniciação ao método fenomenológico, por Jean Delay, a quem deve o interesse pela psicofarmacologia, por Robert Pagés, pela descoberta da cibernética e, fi nalmente, por Didier Anzieu, com quem aprendeu o método de psicodiagnóstico de Rorschach.

A mudança para o Brasil foi motivada por dois fatores: a insatisfação com a situação política francesa e a ausência de perspectivas para a carreira de psicólogo, que não era legalizada na França. Na ocasião, recebeu um convite do professor Mira y Lopez para trabalhar no setor de provas do ISOP (Instituto de Orientação e Seleção Profi ssional) da Fundação Getúlio Vagas, onde ingressou em março de 1961.

No ISOP, atuava na aplicação do Rorschach e do TAT. Foi a partir desse trabalho que começou a questionar a necessidade de reavaliar as normas para aplicação dos testes na população brasileira. Em 1968, publicou Teste de Rorschach: Atlas e Dicionário, trabalho no qual teve a colaboração das colegas do ISOP, Elida Sigelmann e Maria Helena Mattoso Moreira.

Um ano antes, a profi ssão de psicólogo havia sido regulamentada no Brasil, e os psicólogos que já atuavam há mais de cinco anos, como era o caso de Monique, puderam obter o registro. Ela obteve o registro de número 22, estando no grupo dos primeiros psicólogos brasileiros. Nesse período, vários cursos começaram a ser estruturados, e, em 1968, foi contratada pela UFRJ para lecionar técnicas projetivas. Pouco depois, começou a ser organizado o curso de mestrado na PUC-Rio, e Monique foi contratada para fazer parte do corpo docente. Em 1985, passa a atuar também na graduação em Psicologia da PUC-Rio.

Monique Augras lançou, em 1978, uma de suas mais importantes obras, o livro O Ser da Compreensão, que integra os estudos que fez sobre a teoria junguiana e abriu novos horizontes, em especial o da pesquisa, na área dos mitos sobre os orixás.

Passou dos terreiros à Psicologia da cultura. A partir do contato com alunos de mestrado que se interessavam por candomblé, começou a desenvolver pesquisas em terreiros e realizou seu primeiro estudo, focalizando 21 histórias de vida de sacerdotes da nação queto. Desse estudo, nasceu O duplo e a metamorfose, publicado em 1983, que começa a fortalecer a imagem de uma Monique Augras interessada também pelo mundo da Antropologia. Um desses caminhos foi a criação de uma cadeira de Psicologia da cultura e de uma linha de pesquisa sobre a cultura brasileira no Centro Brasileiro de Pesquisas Psicossociais do ISOP, que então chefiava.

Os estudos voltados para as questões afro-brasileiras e manifestações religiosas no Brasil foram temas de alguns dos 11 livros publicados por Monique Augras, entre eles De Iyá Mi a Pomba-Gira, 1989, Zé Pelintra, Patrono da Malandragem, 1997, e o Terreiro na Academia, 2000, e Todos os Santos são Bem-vindos, 2005.

Aposentada desde o final de 2006, Monique continua ativa, fazendo conferências no Brasil e na França e participando de bancas de teses. Teve o livro O Duplo e a Metamorfose republicado pela Vozes, em 2008, e deve publicar um novo livro no início de 2009. Paralelamente, tem se dedicado à cerâmica, na qual deixa brotar aspectos de seu outro lado, pouco conhecido: o da artista plástica.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    2008
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