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Juventude e Perspectivas de Futuro: A Orientação Profissional no Programa Primeiro Emprego

Youth and the Perspectives of Future: The Professional Guidance in the First Job Program

Juventud y Perspectivas de Futuro: La Orientación Profesional en el Programa Primer Empleo

Resumos

Este artigo relata a experiência de Orientação Profissional realizada a partir dos pressupostos da Psicologia Sócio-Histórica junto a um grupo de quinze jovens com idades entre dezoito e vinte e quatro anos, pertencentes ao Programa Primeiro Emprego de uma empresa de economia mista, do estado de Santa Catarina. A intervenção objetivou compreender o processo de escolha ocupacional/profissional de jovens em situação de vulnerabilidade social, contribuindo para a ampliação do rol de perspectivas futuras de trabalho (e dos modos de vida) desses jovens. Foram realizadas três oficinas de quatro horas de duração e uma entrevista integrativa individual. A partir das reflexões propostas, alguns participantes teceram projetos relacionados a continuar os estudos com cursos técnicos e/ou universitários, outros buscaram mais informações sobre possibilidades imediatas de emprego e renda e um grupo específico evidenciou o impacto da realidade social em que vive ao manifestar o desejo de evitar um futuro de fome, violências, mortes e guerras. A realização do trabalho com esse público de uma realidade socioeconômica desfavorecida e em um contexto de política pública evidencia a amplitude de possibilidades de intervenção e de pesquisa possíveis a orientação profissional sob uma perspectiva social.

Psicologia sócio-histórica; Adolescentes; Orientação vocacional; Políticas públicas


This paper reports the Professional Guidance experience undertaken from presumptions of the Socio-Historical Psychology in a group comprising fifteen youngster ranging from eighteen to twenty-four years old, participating in the First Job Program of a state-controlled company of the state of Santa Catarina. The intervention aimed at understanding the process of occupation/professional choice of youngsters under social vulnerability condition, contributing to expand the roll of future work perspectives (and of ways of life) of those youngsters. Three workshops were undertaken with four hours each, along with an individual integrative interview. Some participants prepared projects, from the proposed reflections, related to continuing studies with vocation and or university courses, others sought for more information on immediate possibilities of employment and income, and one specific group evidenced the impact of its social reality by manifesting the will of avoiding a future with hunger, violence, deaths, and wars. The undertaking of this work with this public from an non-favored socio-economic reality within a public policy context evidences the broadness of intervention possibilities and research that are possible for Professional Guidance under a social viewpoint.

Socio-Historical Psychology; Adolescent; Vocational guidance; Public policies


Ese artículo relata la experiencia de Orientación Profesional realizada a partir de los presupuestos de la Psicología Socio-Histórica junto a un grupo de quince jóvenes con edades entre dieciocho y veinticuatro años, pertenecientes al Programa Primer Empleo de una empresa de economía mixta, del estado de Santa Catarina. La intervención objetivó comprender el proceso de elección ocupacional/profesional de jóvenes en situación de vulnerabilidad social, contribuyendo para la ampliación del rol de perspectivas futuras de trabajo (y de los modos de vida) de esos jóvenes. Fueron realizados tres talleres de cuatro horas de duración y una entrevista integrativa individual. A partir de las reflexiones propuestas, algunos participantes tejieron proyectos relacionados a continuar los estudios con cursos técnicos y/o universitarios, otros buscaron más informaciones sobre posibilidades inmediatas de empleo y renta y un grupo específico evidenció el impacto de la realidad social en que vive al manifestar el deseo de evitar un futuro de hambre, violencias, muertes y guerras. La realización del trabajo con ese público de una realidad socioeconómica desfavorecida y en un contexto de política pública evidencia la amplitud de posibilidades de intervención y de pesquisa posibles la Orientación Profesional bajo una perspectiva social.

Psicología socio-histórica; Adolescentes; Orientación profesional; Políticas públicas


Este artigo tem como objetivo relatar a experiência de Orientação Profissional realizada a partir dos pressupostos da Psicologia Sócio-Histórica (Bock & Aguiar, 1995Bock, A. M., & Aguiar, A. J. (Org.). (1995). A escolha profissional em questão. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Aguiar, Bock, & Ozella, 2001Aguiar, W. M. J., Bock, A. M., & Ozella, S. (2001). A orientação profissional com adolescentes: um exemplo de prática na abordagem sócio-histórica. In A. M. Bock, M. G. M. Gonçalves, & O. Furtado (Orgs), Psicologia Sócio-Histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia (3a ed., pp. 163-178). São Paulo: Cortez.; Bock, 2002Bock, S. (2002). Orientação profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez.; Bock, 2010)Bock, S. (2010). Orientação Profissional para as classes populares. São Paulo: Cortez. Bock, S. (2002). Orientação profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez., junto a um grupo de quinze jovens com idades entre dezoito e vinte e quatro anos, pertencentes ao Programa Primeiro Emprego de uma empresa de economia mista, do estado de Santa Catarina. As oficinas de Orientação Profissional foram realizadas nas dependências da própria empresa, a qual, por meio da organização não governamental responsável pelo acompanhamento desses jovens, buscou a ajuda das pesquisadoras.

A empresa em questão possui o projeto Preparação Profissional que tem como objetivo facilitar o ingresso de jovens no mercado de trabalho, qualificando profissionalmente esses jovens em rotinas administrativas comuns na área empresarial. Esse projeto incorporou o Programa Primeiro Emprego, no qual os jovens permanecem na empresa durante um ano, adquirindo experiência e recebendo capacitação profissional. Ao término do prazo de contrato, os jovens eram encaminhados para o desligamento da empresa. Diante dessa realidade, as coordenadoras do projeto apresentaram preocupação a respeito das possibilidades futuras de estudo e trabalho desses jovens e, por isso, solicitaram às pesquisadoras um trabalho de orientação profissional, em período anterior ao desligamento da empresa.

Para participarem do programa da empresa, esses jovens passaram por um processo seletivo com os seguintes critérios: ter renda per capita familiar de até meio salário mínimo, não ter nenhuma experiência de trabalho formal, ter completado ou estar cursando o ensino médio, fundamental ou cursos de educação de jovens e adultos. As atividades de trabalho realizadas consistiam no atendimento telefônico, recebimento e envio de correspondência, realização de fotocópias e manutenção de equipamentos, para aqueles que possuíam alguma formação técnica. A jornada de trabalho era de quatro horas diárias, realizadas no período oposto ao da formação escolar, quando esta ainda estava em andamento e jovens recebiam uma bolsa auxílio. Visando ao treinamento do trabalho a ser executado e o aprendizado para a inserção no mercado de trabalho, ao longo do período em que os jovens permaneceram na empresa, realizaram os seguintes módulos de formação: ética e cidadania, higiene e saúde, segurança no trabalho, desenvolvimento de equipe, português básico, primeiros socorros, planejamento familiar e orientação profissional, os quais foram ministrados pelas autoras deste artigo.

O principal objetivo das oficinas de Orientação Profissional foi compreender o processo de escolha profissional desses jovens em situação de vulnerabilidade social, muitos oriundos das comunidades mais carentes socioeco-nomicamente da cidade de Florianópolis e com ensino médio incompleto, contribuindo para a ampliação do rol de perspectivas futuras de trabalho (e dos modos de vida) desses jovens. Além disso, foram objetivos específicos: proporcionar aos participantes um momento de reflexão acerca de si mesmo (autoconhecimento); estimular a criação de um projeto de futuro profissional e pessoal; elevar a estima pessoal, por meio da percepção dos aspectos positivos de si mesmo; disponibilizar informação profissional; auxiliar a refletir sobre o mercado de trabalho e sobre as possibilidades ocupacionais/profis-sionais e elaborar o luto referente ao desligamento da empresa em questão (Veriguine, Basso, & Soares, 2008Veriguine, N. R., Basso, C., & Soares, D. H. P. (2008). Juventude, trabalho e Perspectivas de Futuro. In Resumos de Comunicações Científicas III Congresso Brasileiro de Psicologia Organizacional e do Trabalho. Florianópolis.).

Para a realização das oficinas, partiu-se de uma concepção social da juventude, que fosse condizente com o referencial teórico

da Psicologia Sócio-Histórica. A partir dessa visão, a juventude é percebida como uma condição provisória e transitória, não sendo possível sua homogeneidade, mas, sim, a compreensão de diferentes juventudes (Abramo, 1994Abramo, H. W. (1994). Cenas juvenis. São Paulo: Página aberta.). Ou seja, quando se tem como foco a questão da juventude é preciso considerar a diversidade social, econômica e cultural, sendo impossível generalizar e afirmar que todos os jovens se comportem do mesmo jeito ou seguem o mesmo caminho (Martins, 2002Martins, H. H. T. S. (2002). A juventude no contexto da reestruturação produtiva. In H. W. Abramo, M. V. Freitas, & M. P. Sposito (Orgs), Juventude em debate (2a ed., pp. 190-215). São Paulo: Cortez.; Alvim, Ferreira Júnior, & Queiroz, 2004Alvim, M. R. B, Ferreira Júnior, E & Queiroz, T. (Orgs). (2004). (Re) construção da juventude: cultura e representações. João Pessoa, PB: Editora Universitária - PPGS/UFPB.).

O conceito de juventude resume uma categoria sociológica, que constitui um processo sociocultural, demarcado pela preparação dos indivíduos para assumirem o papel de adulto na sociedade, nos planos familiar e profissional (Ramos, Pereira, & Rocha, 2006Ramos, F. R. S., Pereira, S. M., & Rocha, C. R. M. (2006). Jóvenes, formación y empleo. Recuperado de: http://www.cinterfor.org. Uy/public/spanish/region/ampro/cinterfor/temas/youth/doc/not/libro60/x/index.htm.
http://www.cinterfor.org. Uy/public/span...
). No Brasil, a juventude é compreendida entre 16 e 29 anos, conforme a PEC1 1 Proposta de Emenda à Constituição 42/08. da Juventude, aprovada pelo Congresso em setembro de 2010. De acordo com a Assembleia Geral das Nações Unidas, a OIJ (Organização Ibero-Americana da Juventude, 1994) e a Organização Internacional da Juventude, a juventude é compreendida entre 15 e 24 anos. Não há um consenso em relação à faixa etária, podendo variar em cada país. De modo geral, é normalmente no período da juventude que o indivíduo inicia seu questionamento sobre quem ser e o que fazer no mundo, refletindo sobre sua escolha profissional e seu projeto de vida.

Trabalho, juventude e políticas públicas

Dentro da perspectiva da Psicologia Social, o trabalho é concebido como condição indispensável à produção da vida humana, indissociável e essencial ao sujeito. Ele é uma atividade humana que tem como finalidade a produção de algo útil, capaz de suprir necessidades (Marx, 1985Marx, K. (1985). O Capital. (7a ed.). Rio de Janeiro: LTC.). Caracteriza-se por

seu aspecto transformador e por permitir ao homem realizar modificações na realidade, operando alterações sobre si mesmo e sobre o ambiente. O trabalho tem grande importância na sociedade, visto que é necessário à sobrevivência e ao consumo. O trabalho também é um espaço de socialização, de aprendizagem e construção da identidade pessoal, grupal e profissional, possibilitando a inclusão social (Navarro & Padilha, 2007Navarro, V. L., & Padilha, V. (2007). Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo. Psicologia & Sociedade, 19 (Spec.), 14-20. doi: 10.1590/S0102-71822007000400004).

Devido em grande parte ao processo de reestruturação produtiva, o mundo do trabalho vem atravessando alterações substanciais que repercutem na identidade e nos modos de ser da classe trabalhadora (Coutinho, Kra-wuski, & Soares, 2007Coutinho, M. C., Krawulski, E., & Soares, D. H. P (2007). Identidade e trabalho na contemporaneidade: repensando articulações possíveis. Psicologia & Sociedade, 19 (Spec.), 29-37. doi: 10.1590/S0102-71822007000400006). Os jovens não constituem exceção e também são afetados, especialmente por dificuldades no processo de inserção e permanência profissional. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (2010)Brasil, Ministério do trabalho e emprego. (2010). Plano nacional de emprego e trabalho decente. Brasília, DF: OIM, TEM., na década atual, a taxa de desemprego da população adulta diminuiu levemente, mas o desemprego dos jovens aumentou, impedindo uma queda da taxa geral de desemprego.

Embora alguns estudos, principalmente os que se baseiam na visão naturalizante e universal da juventude, considerem que temas como o consumo e o lazer sejam as principais áreas de interesse do público juvenil, pesquisas com jovens brasileiros têm mostrado que a maior preocupação destes, em especial os de classes populares, tem sido a possibilidade de trabalho (Martins, 2002Martins, H. H. T. S. (2002). A juventude no contexto da reestruturação produtiva. In H. W. Abramo, M. V. Freitas, & M. P. Sposito (Orgs), Juventude em debate (2a ed., pp. 190-215). São Paulo: Cortez.; Guimarães, 2004Guimarães, N. A. (2004). Uma categoria-chave no imaginário juvenil? In H. W. B. Abramo, & P P. Martoni (Orgs), Retratos da Juventude brasileira: análise de uma pesquisa nacional (pp.149-174). São Paulo: Instituto da cidadania e Editora da Fundação Perseu Abramo.). Identificar-se como "trabalhador" é ainda um valor básico na sociedade brasileira, sendo que "trabalhador" é no imaginário popular juvenil o que distingue o "cidadão" do "marginal". Por essa razão, para muitos jovens, o trabalho pode ser "espaço vital de aprendizado, de socialização, de afirmação da identidade do jovem, inclusive de práticas sociais potencialmente libertadoras" (Leite, 2003Leite, E. M. (2003). Juventude e trabalho: criando chances, construindo cidadania. In M. V. Freitas & F. C. Papa (Orgs), Políticas Públicas: Juventude em Pauta (pp. 153-189). São Paulo: Cortez., p. 156).

Dessa forma, devido à necessidade de trabalhar para contribuir no sustento da família, as trajetórias mais comuns entre jovens de classes populares costumam implicar no abandono precoce da escola, sendo que, em muitas vezes, os reais anos de passagem pela instituição escolar não correspondem ao grau de instrução conseguido efetivamente. Embora o diploma de conclusão dos níveis formais de educação possa possibilitar melhores ocupações assinadas na carteira de trabalho, a sobrevivência é mais forte e incide sobre o jovem de classe popular, levando-o a ingressar o quanto antes no mercado de trabalho (French, 2004French, M. (2004). "Praticamente como um adulto": dilemas da transição de jovens pobres do Recife. In M. R. B. Alvim, E. Ferreira Júnior, & T. Queiroz. (Orgs), (Re) construção da juventude: cultura e representações. João Pessoa, PB: Editora Universitária - PPGS/UFPB.).

Diante do reconhecimento de que os jovens são atores sociais, é importante desenvolver novos paradigmas sobre o trabalho juvenil: "não se trata mais de trabalho como atenuante da pobreza ou alternativa à marginalidade e à exclusão. Trata-se do trabalho como direito e um componente essencial da formação do jovem, como indivíduo e cidadão" (Leite, 2003Leite, E. M. (2003). Juventude e trabalho: criando chances, construindo cidadania. In M. V. Freitas & F. C. Papa (Orgs), Políticas Públicas: Juventude em Pauta (pp. 153-189). São Paulo: Cortez., p.157).

Nessa direção, o governo federal e alguns governos estaduais têm procurado desenvolver diversos programas e políticas públicas para o público juvenil, principalmente no que tange à educação e ao emprego. Por política pública pode-se compreender orientações para a formulação, implementação e avaliação de ações públicas, relacionadas ao Estado e à sociedade civil, tanto na prestação de serviços quanto na dimensão ético-política dos projetos (Sposito & Carrano, 2003Sposito, M. P., & Carrano, P. C. R. (2003). Juventude e políticas públicas no Brasil. Revista Brasileira de Educação, (24), 16-39. doi: 10.1590/S141 3-24782003000300003).

Em 2004, o governo federal criou o Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para a Juventude com o objetivo de atuar na promoção de mais e melhores oportunidades de trabalho, emprego e geração de renda para esse segmento. A partir das Leis n° 10.748/2003 e n° 10.940/2004, regulamentadas pelo Decreto n° 5.199/2004 foi criado o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego para os Jovens (PNPE) com o objetivo de proporcionar uma primeira chance de trabalho para os jovens sem experiência e com dificuldades de acesso ao emprego. Seu público-alvo são jovens de ambos os sexos, com idades entre dezesseis e vinte e quatro anos, sem passagem anterior pelo mercado de trabalho, ou com passagens inferiores há três meses. E sua prioridade de acesso são jovens provenientes de famílias de baixa renda, egressos do sistema penal (jovens infratores) e/ou portadores de deficiência. As ações do PNPE são dirigidas à promoção da inserção de jovens no mercado de trabalho, oferecendo qualificação profissional, bem como incentivando a escolariza-ção e inclusão social e fortalecendo a participação da sociedade no processo de formulação de políticas e ações de geração de trabalho e renda.

Orientação e escolha profissional na concepção sócio-histórica

Muitas são as abordagens utilizadas na orientação profissional atualmente no Brasil. Por se tratar das bases da metodologia empregada na experiência em questão, aqui será discutida apenas a abordagem sócio-histórica.

Nessa abordagem, o homem e sua subjetividade são considerados como históricos, em função de apresentar características forjadas pelo tempo, pela sociedade e pelas relações. A relação indivíduo/sociedade é vista como uma relação dialética, na qual o homem se constrói ao construir a sua realidade e viceversa (Ozella, 2003Ozella, S. (2003). A Adolescência e os Psicólogos: a concepção e a práticas dos profissionais. In S. Ozella (Org), Adolescências construídas: a visão da psicologia Sócio-Histórica (pp. 17-40). São Paulo: Cortez.). Contrapondo à concepção liberal de homem individual, racional e natural, a abordagem sócio-histó-rica afirma que não existe natureza eterna e universal. Em lugar disso, há a condição humana, na qual o homem é um ser ativo, social e histórico, que se constrói historicamente por meio das relações sociais. Ou seja, não só as condições de dado momento histórico afetam a concepção da subjetividade, assim como o homem age alterando a realidade material, subjetiva e coletiva. A construção da realidade ocorre por meio da ação do homem sobre ela, sendo que a subjetividade reflete as condições sociais, econômicas, culturais e políticas de uma sociedade situada geográfica e historicamente e que está em um constante processo de atualização.

Dentro dessa visão, a escolha profissional é realizada a partir das condições sociais, históricas e econômicas e da realidade na qual o sujeito está inserido (Aguiar, Bock, & Ozella, 2001Aguiar, W. M. J., Bock, A. M., & Ozella, S. (2001). A orientação profissional com adolescentes: um exemplo de prática na abordagem sócio-histórica. In A. M. Bock, M. G. M. Gonçalves, & O. Furtado (Orgs), Psicologia Sócio-Histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia (3a ed., pp. 163-178). São Paulo: Cortez.). Quando uma pessoa pensa no futuro, ela nunca o faz de forma despersonificada. Ao escolher uma forma de se envolver no mundo do trabalho bem como a atividade que vai desenvolver, a pessoa mobiliza imagens que adquiriu durante sua vida (Bock, 2002)Bock, S. (2002). Orientação profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez..

Além disso, o próprio significado que o jovem atribui a uma determinada ocupação não é estável e imutável. Ao contrário, será construído e reconstruído constantemente ao longo de toda a vida, a partir do rol de experiências vivenciadas e da interpretação dessas experiências. Nas palavras de Martins (2007Martins, L. C. (2007). Escolha profissional e desenvolvimento: contribuições a partir da perspectiva sócio-histórico-cultural. In D. T. R. Barros, M. T. Lima, & R. Escalda (Orgs.), Escolha e inserção profissional: desafios para indivíduos, famílias e instituições: orientação profissional: teoria e técnica (Vol. 3, pp. 311-325). São Paulo: Vetor., p. 321):

O universo de possibilidades no qual o sujeito exerce suas escolhas é delimitado historicamente pela forma como ele compreende a realidade, definido nesse sentido, o escopo das alternativas que lhe são apresentadas à consciência. A realidade que surge diante de seus olhos não está lá desde sempre, mas se desvela diante dele a cada passo, constituindo essa realidade e determinando o conjunto de alternativas

Nessa direção, Soares (2002)Soares, D. H. P (2002). A escolha profissional do jovem ao adulto. São Paulo: Summus. afirma que a escolha profissional é uma opção, uma tendência, uma decisão que o indivíduo faz ao eleger uma entre as diversas situações que lhe são apresentadas. Essa escolha apresenta sempre um caráter valorativo, pois o indivíduo inclina-se para os aspectos que lhe são mais favoráveis em determinado período de tempo e em determinadas situações. Não há a melhor escolha, mas aquela que é possível no momento e contexto presentes.

Isso não quer dizer que o meio do qual o indivíduo faz parte vá definir mecanicamente seu modo de ser e de atuar no mundo, pois não se pode predizer especificamente o papel da interação do sujeito com a sociedade (Bock, 2002Bock, S. (2002). Orientação profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez.). O contexto serve como "moldura" para as escolhas, sendo levados em conta na construção dos projetos profissionais tanto aspectos individuais como sociais.

O meio social delimita ao sujeito possibilidades e impossibilidades em suas escolhas. Ele serve como matéria-prima para a "obra de arte" da escolha, a qual só pode ser realizada pelo sujeito. Dessa matéria-prima fazem parte as variáveis psicológicas individuais, familiares, políticas, econômicas, sociais e educacionais (Affonso & Sposito, 2005Affonso, R. M. L. L., & Sposito, L. L. (2005). Oficinas de orientação profissional no contexto escolar: a construção de um modelo. In P M. C. Lassance (Org.), Intervenção e compromisso social: orientação profissional, teoria e prática (pp. 173-184). São Paulo: Vetor.; Soares, 2002)Soares, D. H. P (2002). A escolha profissional do jovem ao adulto. São Paulo: Summus..

Contudo, como personagem de sua própria história, construída e reconstruída por ele próprio, o sujeito mantém certa margem de liberdade de escolha, desde que se compreenda essa liberdade como situada, enquadrada no real e condicionada ao contexto (Soares, 2002Soares, D. H. P (2002). A escolha profissional do jovem ao adulto. São Paulo: Summus.). Por mais que o meio lhe limite a margem de opções, sempre haverá a possibilidade de refletir sobre o que está lhe acontecendo, bem como de se posicionar diante desses fatos. As escolhas profissionais e ocupacionais não são realizadas "nem como exercício de uma razão desencarnada nem como expressão livre de desejos" (Martins, 2007Martins, L. C. (2007). Escolha profissional e desenvolvimento: contribuições a partir da perspectiva sócio-histórico-cultural. In D. T. R. Barros, M. T. Lima, & R. Escalda (Orgs.), Escolha e inserção profissional: desafios para indivíduos, famílias e instituições: orientação profissional: teoria e técnica (Vol. 3, pp. 311-325). São Paulo: Vetor., p. 321). Elas são elaboradas na relação dialética entre sujeito e realidade material e ocorrem em um mundo de relações preexistentes.

Dessa forma, a orientação profissional constitui-se em algo mais do que um momento para a descoberta da profissão a seguir. Ela é um processo relacionado ao projeto de futuro do indivíduo, emergindo conflitos, estereótipos e preconceitos que foram se construindo mediante a relação com o outro e que devem ser trabalhados durante o processo (Bock & Aguiar, 1995Bock, A. M., & Aguiar, A. J. (Org.). (1995). A escolha profissional em questão. São Paulo: Casa do Psicólogo.).

A partir dessas considerações e pensando a atuação do orientador profissional sob o enfoque sócio-histórico, é possível rever os espaços de atuação tradicionais, tais como a aplicação de testes vocacionais e o trabalho com jovens pré-vestibulandos das classes média e alta. O orientador profissional pode atuar em novas frentes de trabalho, antes pouco exploradas, tais como a experiência relatada aqui.

Elaborando um projeto de futuro com os jovens

A metodologia do trabalho baseou-se no referencial teórico e prático da Orientação Profissional desenvolvido por Soares (2002)Soares, D. H. P (2002). A escolha profissional do jovem ao adulto. São Paulo: Summus. e Soares-Luchiari (1993)Soares-Lucchiari, D. H. P (1993). Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus. e seguiu os pressupostos da Psicologia Sócio-Histórica (Bock & Aguiar, 1995Bock, A. M., & Aguiar, A. J. (Org.). (1995). A escolha profissional em questão. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Aguiar, Bock, & Ozella, 2001Aguiar, W. M. J., Bock, A. M., & Ozella, S. (2001). A orientação profissional com adolescentes: um exemplo de prática na abordagem sócio-histórica. In A. M. Bock, M. G. M. Gonçalves, & O. Furtado (Orgs), Psicologia Sócio-Histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia (3a ed., pp. 163-178). São Paulo: Cortez., Bock, 2002Bock, S. (2002). Orientação profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez.; Bock, 2010)Bock, S. (2010). Orientação Profissional para as classes populares. São Paulo: Cortez. Bock, S. (2002). Orientação profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez.. A abordagem gru-pal foi eleita como a mais adequada para o contexto das oficinas. De acordo com Soares e Krawulski (2010)Soares, D. H. P, & Krawulski, E. (2010). Práticas e técnicas em orientação profissional no Laboratório de Informação e Orientação Profissional (LIOP): aperfeiçoando ferramentas e diversificando procedimento de trabalho. In M. C. Lassance, Técnicas para o trabalho de orientação profissional em grupos (pp. 93-118). Porto Alegre: Editora da UFRGS., essa modalidade inclui procedimentos de dinâmicas de grupo que devem ser adaptados à realidade em questão de acordo com os objetivos, sendo que o coordenador deve avaliar previamente se há espaço suficiente para o número de participantes, tempo disponível para a realização das atividades e materiais necessários.

O trabalho foi coordenado por duas psicólogas especializadas em Orientação Profissional, tendo uma aluna do curso de Psicologia como assistente e observadora. Foram realizadas três oficinas de Orientação Profissional de quatro horas de duração cada, totalizando doze horas de trabalho em grupo, além de seis horas de atividades individuais compostas por entrevistas integrativas, realizadas ao final do processo. A escolha pela quantidade de horas de trabalho se deu devido à própria disponibilidade dos jovens, os quais cumprem quatro horas de trabalho diariamente. Somando-se as horas de trabalho em grupo e as entrevistas, todo o trabalho foi desenvolvido em vinte horas. As entrevistas individuais tiveram por objetivo realizar um fechamento do processo e aprofundar a discussão com cada jovem a respeito de seu projeto de futuro profissional, o que, segundo Bock (2010)Bock, S. (2010). Orientação Profissional para as classes populares. São Paulo: Cortez. Bock, S. (2002). Orientação profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez., deve ser o fio condutor e o objetivo final de todo processo de Orientação Profissional na abordagem sócio-histórica.

O primeiro encontro teve como objetivos: apresentar as coordenadas e a proposta de trabalho ao grupo; promover integração no grupo - Técnica da Teia Grupal (Soares, 2010Soares, D. H. P (2010). Técnicas e jogos para utilização em grupos de orientação. In R. S. Levenfus, & D. H. P Soares . Orientação vocacional ocupacional (2a ed, pp. 260-273). Porto Alegre: Artmed.); oportunizar a expressão dos sentimentos em relação ao momento de término do vínculo com o projeto (Técnica dos Cartões Coloridos) e viabilizar a apresentação das expectativas do grupo em relação ao futuro - Técnica do Cartaz - Integração do Tempo (Soares-Lucchiari, 1993Soares-Lucchiari, D. H. P (1993). Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus.).

Esse momento inicial proporcionou maior conhecimento e intimidade entre os jovens, ao passo que foram revelados elementos pessoais como "gostar ou não do nome" e "origem do nome", o que não é comumente conversado nesse público. Por meio da técnica do cartaz emergiram conteúdos sobre o futuro e as coordenadoras teceram questionamentos sobre a necessidade ou não de planejamento para se alcançar os objetivos que se têm. Pelos discursos foi percebido que os jovens tendem a uma postura de reatividade em relação ao futuro, ou seja, preferem reagir aos fatos a planejar e estruturar um caminho. Ao mesmo tempo, demonstraram o desejo de assumir posições e posturas diferentes das até então vivenciadas, na busca de “ser melhor” que seus pais e de construir um futuro diferente da realidade familiar.

Ao completarem a frase "no meu futuro eu quero...", muitos jovens enfatizaram o desejo de ter um bom emprego e modificar as condições socioeconômicas. Algumas falas representam bem esse desejo, como exemplo: "Estudar e trabalhar para ter um futuro melhor" (O, sexo masculino, 18 anos); "Ter condição de vida" (I, sexo masculino, 20 anos); e "Dinheiro e saúde andam juntas, sem saúde não tem dinheiro (não se pode trabalhar), e sem dinheiro não se faz nada, não se vive" (A, sexo feminino, 19 anos).

Outra temática que surgiu durante a técnica do cartaz foi a necessidade de manter relações de apoio, carinho e reconhecimento, as quais são fundamentais para o desenvolvimento da estima e confiança pessoal, como podemos perceber em tais falas: "Ter sempre pessoas que possam estar me orientando a fazer coisas boas" (M, sexo masculino, 19 anos) e " Paz, amor e muita paixão" (L, sexo feminino, 18 anos).

Um grupo específico de jovens evidenciou em seus cartazes e falas a dura realidade em que vivem, ao representarem cenas de morte, armas e conflitos. Por outro lado, expressaram o desejo de não quererem para o futuro situações de fome e violência. No futuro, eu quero: "Viver num lugar de paz" (K, sexo feminino, 21 anos) e "Que as guerras acabem" (P sexo masculino, 18 anos).

O segundo encontro objetivou proporcionar autoconhecimento e identificação com outros integrantes do grupo - Sociometria Gru-pal (Soares, 2010Soares, D. H. P (2010). Técnicas e jogos para utilização em grupos de orientação. In R. S. Levenfus, & D. H. P Soares . Orientação vocacional ocupacional (2a ed, pp. 260-273). Porto Alegre: Artmed.); oportunizar uma reflexão acerca das profissões de seus familiares (Mapeamento das Profissões da família); discutir os sentimentos de cada um sobre as profissões encontradas na família e oportunizar o acesso à informação profissional de forma interativa e lúdica - Profissiogame (Soares & Oliveira Neto, 2003Soares, D. H. P, & Oliveira Neto, E. (2003). Pro-fissiogame: Jogo da vida profissional. São Paulo: Vetor.).

As atividades iniciais descontraíram o grupo e proporcionaram uma troca de informações acerca das características e vivências pessoais, gerando identificação e aproximação entre os integrantes do grupo. A atividade do mapeamento das profissões da família foi adaptada a partir da técnica do genoprofissiograma (Soares, 1997Soares-Lucchiari, D. H. P (1997). Uma abordagem genealógica a partir do genoprofissiograma e do teste dos três personagens. In R. S. Levenfus et al., Psicodinâmica da escolha profissional (pp. 135-160). Porto Alegre: Artmed.) e consistiu em um momento de maior ansiedade para o grupo. Refletir sobre a história de trabalho e estudo da família fez com que os jovens entrassem em contato com o sofrimento psíquico e social gerado pelas condições de vida que atravessam e, alguns, por essa razão apresentaram dificuldade em realizar o exercício proposto. As coordenadoras buscaram acolher esses participantes por meio do convite à expressão de sentimentos, mas aqueles que não quiseram tiveram a opção de não falar.

Por outro lado, outros integrantes expressaram a satisfação em reconhecer que chegaram a um nível de escolarização superior a de seus pais e que isso poderia lhes proporcionar um trabalho e uma condição de vida melhor e, um participante, ao completar o exercício decidiu por seguir os passos de seu pai e de avô, tornando-se motorista de ônibus. Outra participante identificou que, em sua família, as mulheres se casam muito novas, têm pouca instrução escolar e seguem a vida de donas de casa. A jovem afirmou que pretende seguir outro caminho, dando prioridade para os estudos e trabalho e postergando a construção da família.

No jogo do profissiogame, a princípio, o grupo apresentou resistência e alguns perguntaram se poderiam não participar, o que foi permitido. Entretanto, ao longo do jogo, o grupo se motivou devido, em grande parte, às perguntas do quadro "você é", as quais, além de engraçadas, eram associadas à realidade socioeconómica do grupo. À medida que o jogo prosseguia, foram realizadas discussões a respeito da dinâmica da vida profissional, das justiças e injustiças do mundo do trabalho, da inserção profissional, da aposentadoria, das bolsas de estudos e dos cursos técnicos.

O terceiro encontro visou ao reconhecimento das aprendizagens acumuladas e valorizar o Curriculum Vitae por meio da construção de um esboço deste; vivenciar uma situação real de entrevista de emprego (Dramatização de papéis); refletir sobre a necessidade de planejamento em prol dos objetivos e proporcionar um momento de elaboração do luto referente ao desligamento do Programa (Técnica de relaxamento).

Produzir e discutir o Curriculum Vitae ajudou-os a perceber suas potencialidades, habilidades e competências, seja por meio das atividades realizadas na empresa ou das outras experiências profissionais já obtidas, pois para listá-las era necessário relembrá-las. Não basta ter um bom currículo, mas também é necessário saber agir diante de uma seleção para emprego. Por isso, a dramatização de um processo seletivo auxiliou-os a visualizar quais as posturas mais adequadas e pertinentes diante de uma seleção a uma vaga no mercado de trabalho. Além disso, foi entregue aos jovens um material explicativo sobre cursos técnicos e dicas de comportamento para uma entrevista de seleção de emprego.

Para concluir o trabalho em grupo, foi proposta uma atividade de relaxamento e imaginação a fim de auxiliar a elaboração do luto no processo de desligamento da empresa e sensibilizar quanto às possibilidades de futuro. Embora, no grande grupo, as expressões referentes à atividade tenham sido pequenas, nas entrevistas individuais, muitos afirmaram o quanto gostaram do relaxamento, obtendo, por meio do exercício, respostas para questões de ordem pessoal.

As entrevistas representam um momento de integração psíquica e de esclarecimento de dúvidas para os jovens, os quais tiveram um espaço individual para expressar o que lhes era necessário. As coordenadoras também aproveitam esse momento para solicitar uma avaliação do trabalho, sendo que a maioria expressou ter gostado das oficinas.

Considerações finais

O desenvolvimento do trabalho de Orientação Profissional focado no projeto de futuro levou as coordenadoras a uma reflexão sobre as condições econômicas e histórico-sociais em que esses jovens de classes de baixa renda estão envolvidos, de modo a ser ensaiada uma aproximação dos processos de escolha e do projeto de futuro desses jovens. Os termos: trabalho, emprego, ocupação e profissão apresentados no discurso podem revelar a própria visão de mundo e de expectativas de futuro desses indivíduos, já que a condição econômica e as relações de trabalho são fortes determinantes que permeiam e estruturam a sociedade, influenciando a visão de mundo e a noção de mercado de trabalho de cada indivíduo.

A percepção e o contato com o trabalho e com as ocupações influem na escolha profissional, no planejamento e na implantação de um projeto profissional. Socialmente, espera-se que os jovens se

identifiquem com uma realidade e se mobilizem na escolha de uma profissão que muitas vezes lhes são distantes.

Alguns traçam seus projetos de vida em função da procura por um bom emprego, que lhes permita aquilo que os pais não conseguiram: um bom salário, estabilidade, uma vida mais amena e sem o peso do trabalho pesado. Ao contrário, encontram a incerteza dos contratos temporários, os mesmos trabalhos pesados e a falta de dinheiro, o que também pode ser verificado com esse grupo.

Traçar projetos de vida diferente dos pais, ter estabilidade e melhorar de vida são algumas das aspirações desses jovens. No entanto, muitas vezes, eles se deparam com a dura realidade que é a dificuldade em conseguir um emprego com carteira assinada e manter os estudos ao mesmo tempo em que trabalham. À esse quadro, acrescenta-se a exclusão e preconceito sociais por serem provenientes dos morros (da periferia), sendo considerados "marginais", sem capacidade e sem vontade. "Quebrar" ou desmistificar essa visão da sociedade tornase um trabalho árduo, sendo que muitos acabam buscando o caminho mais fácil e rápido da ilegalidade.

A grande preocupação daqueles que solicitaram a realização das oficinas era a ausência de projeto de futuro desses jovens. Com o desenvolvimento das atividades e, principalmente, nas entrevistas foi percebido que de alguma forma todos apresentam um projeto, na grande maioria, mais imediatos, os quais seriam: ajudar

a familia, ter acesso a bens de consumo, conseguir um novo emprego e fazer algum curso técnico. Somente um jovem em melhor condição socioeconômica estava em processo de preparação para o vestibular e desejava seguir um curso superior.

Ao finalizar este trabalho, destaca-se a amplitude de possibilidades de intervenção e de pesquisa possíveis a Orientação Profissional sob uma perspectiva social. A partir dessa experiência, é possível rever os espaços de atuação tradicionais, tais como a aplicação de testes vocacionais e o trabalho com jovens pré-vestibulandos das classes média e alta. O orientador profissional pode atuar em novos e diferenciados contextos como o das políticas públicas.

Como sugestões para futuras intervenções semelhantes, aponta-se a necessidade de se realizar essa modalidade de orientação profissional de forma continuada, ou seja, desde o início da inserção dos jovens na empresa até seu desligamento a fim de atingir com mais afinco os objetivos do trabalho e instigar um processo de "desacomodação" da realidade social. Nesse sentido, um trabalho de orientação profissional torna-se importante, na medida em que proporciona o conhecimento de si próprio, de sua trajetória de vida, do mundo do trabalho, do conhecimento acerca das profissões e de um planejamento de futuro. Considera-se esse enfoque indispensável, pois remete ao próprio sentido de compromisso social que a Orientação Profissional traz subjacente ao seu significado.

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  • 1
    Proposta de Emenda à Constituição 42/08.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    22 Maio 2013
  • Aceito
    07 Out 2014
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