Acessibilidade / Reportar erro

Perfil dos Bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq atuantes em Psicologia no Triênio 2012-2014

Profile of “CNPq Research Productivity Scholarship” active in Psychology in the triennium 2012-2014

Perfil de la Beca Investigación Productividad del CNPq activa en Psicología en el trienio 2012-2014

Resumo

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) confere bolsas de produtividade em pesquisa (PQ) aos profissionais que preenchem determinados critérios. A identificação do perfil dos bolsistas PQ das mais variadas áreas do conhecimento é importante tanto para a elaboração de um mapeamento geral sobre a área como um todo quanto para a elaboração de políticas que visem a incrementar o desenvolvimento científico e tecnológico em subáreas ou locais específicos. O objetivo deste estudo é analisar o perfil dos bolsistas PQ do CNPq atuantes na Psicologia, considerando o triênio concluído em 2014. A amostra foi composta pelos currículos de 338 bolsistas de produtividade que atuam na Psicologia. Os dados obtidos a partir deste levantamento indicaram que seis entre cada 10 bolsistas PQ que atuam na área da Psicologia estão concentradas no estrato 2 e que apenas 10 universidades concentram 56,7% dos pesquisadores contemplados com bolsas PQ. Ainda há uma centralização na região Sudeste, que recebe 55,3% das bolsas e apresenta a maior proporção de bolsas PQ por habitantes do país. Os bolsistas atuam majoritariamente em universidades públicas, principalmente federais, e são em sua maioria mulheres. Além disso, Psicologia Social, Psicologia do Desenvolvimento Humano e Tratamento e Prevenção Psicológica são as áreas de atuação mais recorrentes entre os pesquisadores que recebem bolsas PQ. A identificação de desigualdades regionais, de concentração de bolsas em poucas instituições e de disparidades de gênero, por exemplo, pode contribuir para que algumas questões relativas à distribuição de recursos sejam reavaliadas.

Produtividade em pesquisa; CNPq; Produção científica; Psicologia

Abstract

The National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) provides research productivity grants (PQ) to professionals who meet certain criteria. Identifying the profile of PQ scholars from different fields of knowledge is important for the development of a broad mapping of the field and for the development of policies aimed at boosting scientific and technological development in sub-areas or specific locations. The goal of this study is to analyze the profile of CNPq PQ fellows working in Psychology, considering the three-year period concluded in 2014. The sample consisted of curricula from 338 productivity fellows working in Psychology. The data obtained from this survey indicated that six out of every 10 PQ fellows working in the field of Psychology are located on the layer 2 and that only 10 universities concentrate 56.7% of researchers awarded with PQ grants. There is still a high concentration in the Southeast, which receives 55.3% of grants and presents the highest proportion of PQ grants per inhabitants in Brazil. Fellows work mostly in public universities, mainly federal, and are mostly women. Moreover, Social Psychology, Developmental Psychology and Psychological Treatment and Prevention are the most frequent fields among researchers who receive PQ grants. The identification of regional inequalities, concentration of grants in only a few institutions and also gender disparities, for example, can contribute so that questions regarding resource distribution can be reassessed.

Research Productivity; Cnpq; Scientific Productivity; Psychology

Resumen

El Consejo Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico (CNPq) ofrece becas de productividad en investigación (PQ) a los investigadores que cumplen con ciertos criterios. Identificar el perfil de los becarios PQ de diferentes campos del conocimiento es importante para un mapeo general del área de estudio, y para la formulación de políticas destinadas a estimular el desarrollo científico y tecnológico en sub-áreas o lugares específicos. El objetivo de este estudio es analizar el perfil de los becarios PQ del CNPq que trabajan en psicología, teniendo en cuenta el período de tres años completado en 2014. La muestra fue compuesta por los currículos de 338 becarios PQ que trabajan en psicología. Los datos obtenidos de este estudio indicaron que seis de cada 10 becarios PQ que trabajan en el campo de la psicología se centran en la capa 2, y que solo 10 universidades concentran el 56,7% de los investigadores galardonados con becas PQ. Todavía hay una centralización en el sudeste, que recibe el 55,3% de las becas y tiene la mayor proporción de becas PQ por habitantes del país. Los becarios trabajan principalmente en universidades públicas, la mayor parte federales, y son en su mayoría mujeres. Además, Psicología Social, Psicología del Desarrollo Humano y Tratamiento y Prevención Psicológica, son las áreas más frecuentes de atención entre los investigadores que reciben becas PQ. La identificación de las desigualdades regionales, de la concentración de las becas en unas pocas instituciones, y de las disparidades de género, por ejemplo, puede contribuir a reevaluar la distribución de los recursos.

Productividad Investigativa; CNPq; Producción Científica; Psicología

Perfil dos Bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq atuantes em Psicologia no Triênio 2012-2014

A avaliação realizada por pares é uma das formas de se medir qualidade e relevância no que diz respeito à produção científica, sendo utilizada em diversos contextos, como para definir financiamentos de pesquisas, em bancas de concursos, em comissões de avaliação de prêmios científicos e, no Brasil, mais especificamente, para a concessão de bolsas federais de produtividade em pesquisa (Wainer, & Vieira, 2013Wainer, J., & Vieira, P. (2013). Avaliação de bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq e medidas bibliométricas: correlações para todas as grandes áreas. Perspectivas em Ciências da Informação, 18(2), 60-78. doi:10.1590/S1413-99362013000200005). A produção de pesquisadores das mais variadas áreas é avaliada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que confere as bolsas de produtividade em pesquisa (PQ) aos profissionais que se destacam em suas áreas e que preenchem os critérios estabelecidos.

Segundo o sítio do CNPq na internet (http://www.cnpq.br/), as bolsas de produtividade visam a valorizar a produção científica dos pesquisadores, qualificando os programas de pós-graduação das mais diversas especialidades. Wainer e Vieira (2013)Wainer, J., & Vieira, P. (2013). Avaliação de bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq e medidas bibliométricas: correlações para todas as grandes áreas. Perspectivas em Ciências da Informação, 18(2), 60-78. doi:10.1590/S1413-99362013000200005 propuseram uma discussão importante sobre os objetivos das bolsas de produtividade concedidas pelo CNPq. Segundo eles, não está claro se o intuito do CNPq é premiar os pesquisadores por sua produção ou incentivá-los a produzir mais e melhor. Essa diferenciação é relevante na medida em que prêmios referem-se a objetivos alcançados no passado, enquanto incentivos estão relacionados a melhorias para o futuro. Assim, bolsas PQ concedidas como prêmio valorizariam a história dos pesquisadores, mas não fariam necessariamente com que se preocupassem em seguir produzindo.

Alguns autores já sugeriram que as bolsas de produtividade em pesquisa concedidas pelo CNPq visam a promover o reconhecimento dos pesquisadores que se destacam em suas áreas (Santos, Cândido, & Kuppens, 2010Santos, N. C. F., Cândido, L. F. O., & Kuppens, C. L. (2010). Produtividade em pesquisa do CNPq: análise do perfil dos pesquisadores da Química. Química Nova, 33(2), 489-495. doi:10.1590/S0100-40422010000200044), provocando um aumento no status das pessoas beneficiadas (Valle & Sakuray, 2014)Valle, M. E., & Sakuray, F. (2014). On the criteria for receiving a research productivity fellowship from the Brazilian National Council for Scientific and Technological Development in Mathematics.Tema (São Carlos), 15(3), 237-248. doi:10.5540/tema.2014.015.03.0237, que passam a gozar de maior destaque entre os seus pares. Além disso, elas também proporcionam suporte financeiro direto para que sigam a desenvolver suas pesquisas (Wendt, DeSousa, Lisboa, & Koller, 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003). Este suporte está relacionado tanto ao auxílio financeiro mensal que os bolsistas PQ recebem quanto à maior facilidade que esses pesquisadores têm para serem contemplados por outros editais de fomento à pesquisa.

Categorias de bolsas de produtividade em pesquisa

Existem duas grandes categorias de bolsas de produtividade, denominadas 1 e 2. Para a categoria 1, é necessário que os bolsistas tenham obtido título de doutor há no mínimo oito anos. Para a categoria 2, os candidatos devem ter concluído seu doutorado há 3 anos ou mais. A despeito do tempo de conclusão do doutorado, no entanto, um pesquisador que ainda não seja bolsista de produtividade pode pleitear apenas uma indicação ao segundo grupo. As duas categorias também diferem no que diz respeito aos critérios de avaliação e às subdivisões que as caracterizam. Enquanto a categoria 1 é subdividida em quatro níveis e baseia-se na produtividade dos últimos 10 anos, a categoria 2 consiste em apenas um nível e a análise da produtividade leva em consideração os cinco anos anteriores.

O ingresso na categoria 2, e portanto no grupo de bolsistas PQ do CNPq, depende basicamente da análise de publicações e orientações realizadas por pesquisador. É ainda desejável que o aspirante a este nível de bolsa demonstre inserção regional e ou nacional, bem como venha, preferencialmente, consolidando investigações iniciadas durante o período doutoral.

A evolução para a categoria 1, por sua vez, envolve a análise de fatores mais complexos. Os bolsistas de produtividade 1 do CNPq estão distribuídos entre os níveis A, B, C e D. O nível A é aquele que reúne os bolsistas de renome, com uma carreira consolidada e de permanente excelência no que diz respeito não somente à produtividade em pesquisa no país e no exterior, mas também em relação à liderança acadêmica e à formação de novos pesquisadores, bem como à coordenação de grupos de pesquisa e de programas de pós-graduação. Os níveis B, C e D, por sua vez, congregam aqueles pesquisadores que estão em processo de evolução constante em suas carreiras e que apresentam contribuições crescentes ao desenvolvimento de suas áreas de estudo.1 1 . Para mais informações, consultar: http://www.cnpq.br/view/-/journal_content/56_INSTANCE_0oED/10157/2958271?COMPANY_ID=10132#PQ Os critérios estabelecidos pelo CNPq para concessão das bolsas de produtividade envolvem desde questões relativas ao mérito científico dos projetos e à produção científica dos candidatos até aquelas relacionadas à internacionalização, à formação de novos pesquisadores, ao envolvimento em atividades de gestão e de editoração científica, à organização de eventos de divulgação científica, à colaboração com órgãos de fomento à pesquisa, entre outros. Além dessas definições gerais, os Comitês de Assessoramento do CNPq (CAs) também estabelecem critérios de qualificação específicos para a concessão de bolsas em cada área.

No caso da Psicologia, os critérios definidos pelo Comitê de Assessoramento de Psicologia e Serviço Social (CAPS) para o julgamento da concessão de bolsas PQ no triênio 2015-2017 colocaram ênfase em aspectos relacionados ao mérito técnico e científico do projeto de pesquisa proposto e à produção do pesquisador. Mais especificamente, o ingresso e a permanência no quadro de bolsistas PQ dependem da quantidade e da qualidade da produção científica apresentada, da orientação de alunos de mestrado e doutorado e também da inserção dos pesquisadores em suas áreas de atuação. A produção científica tem peso determinante na análise e julgamento das propostas. Ou seja, enquanto a orientação de mestrandos e doutorandos é responsável por 30% do total da avaliação, 70% corresponde à produtividade do pesquisador. Já o impacto da inserção na área não é calculado de maneira quantitativa, mas contribui para a avaliação global do perfil de produtividade de cada candidato.2 2 . Para mais informações, consultar: http://www.cnpq.br/web/guest/view/-/journal_content/56_INSTANCE_0oED/10157/48881?p_p_state=pop_up&_56_INSTANCE_0oED

Ainda de acordo com as orientações do CAPS, um pesquisador da categoria 2 deverá estar em processo de construção de uma linha de pesquisa e orientando alunos de iniciação científica e, quando possível, mestrado. Para subir à categoria 1, no nível D, a linha de pesquisa do candidato já deverá estar mais consolidada e ter gerado avanço no conhecimento e publicações. Além disso, ele deverá ter orientado ou co-orientado pelo menos uma tese de doutorado. Para avançar ao nível C, o pesquisador precisa desenvolver estudos em conjunto com pesquisadores de outras universidades, demonstrando, assim, a capacidade de estabelecer parcerias, além de ter contribuído com a formação de um maior número de mestres e doutores. Para a ascensão ao nível B, é necessária uma carreira consolidada, com claros indicativos de maturação teórico-metodológica, bem como espera-se que o pesquisador demonstre o exercício de um papel de liderança na respectiva área, com comprovado envolvimento em atividades junto a agências de fomento, sociedades científicas e organização de eventos. Por fim, o nível A exige que o pesquisador seja referência nacional na área e contribua significativamente para o avanço da Psicologia no país. Em contrapartida, todos os bolsistas PQ devem, dentre outros requisitos e exigências específicas, atuar como consultores ad-hoc do CNPq, revisando, quanto solicitados, uma série de proposituras de natureza acadêmica.3 3 . Para mais informações, consultar: http://www.cnpq.br/web/guest/view/-/journal_content/56_INSTANCE_0oED/10157/48881?p_p_state=pop_up&_56_INSTANCE_0oED

Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa

Nos últimos anos, uma série de estudos tem apresentado o perfil dos bolsistas PQ de diversas áreas do conhecimento. A identificação desse perfil é importante para a elaboração de um mapeamento geral sobre cada área como um todo. Além disso, com base nos resultados encontrados, esses estudos também podem contribuir para a elaboração de políticas que visem a incrementar o desenvolvimento científico e tecnológico em subáreas ou mesmo em regiões específicas do país. Em anos anteriores, esse tipo de perfil já foi elaborado em disciplinas como Enfermagem (Santos, Padoin, Lacerda, & Gueterres, 2015Santos, W. M., Padoin, S. M. M., Lacerda, M. R., & Gueterres, E. C. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade em pesquisa na área de Enfermagem. Revista de Enfermagem UFPE, 9(supl. 2), 844-850. doi:10.5205/reuol.6391-62431-2-ED.0902supl201510), Medicina (Mendes, Martelli, Souza, Quirino Filho, & Martelli-Júnior, 2010Mendes, P. H. C., Martelli, D. R. B., Souza, W. P., Quirino Filho, S., & Martelli-Júnior, H. (2010). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em medicina no CNPq, Brasil. Revista Brasileira de Educação Médica, 34(4), 535-541. doi:10.1590/S0100-55022010000400008; Oliveira et al., 2012)Oliveira, E. A., Colosimo, E. A., Martelli, D. R., Quirino, I. G., Oliveira, M. C. L., Lima, L. S., ... Martelli-Júnior, H. (2012). Comparison of Brazilian researchers in clinical medicine: are criteria for ranking well-adjusted? Scientometrics, 90(2), 429-443. doi:10.1007/s11192-011-0492-9, Química (Santos et al., 2010)Santos, N. C. F., Cândido, L. F. O., & Kuppens, C. L. (2010). Produtividade em pesquisa do CNPq: análise do perfil dos pesquisadores da Química. Química Nova, 33(2), 489-495. doi:10.1590/S0100-40422010000200044, Odontologia (Cavalcante, Barbosa, Bonan, Pires, & Martelli-Júnior, 2008Cavalcante, R. A., Barbosa, D. R., Bonan, P. R. F., Pires, M. B. O., & Martelli-Júnior, H. (2008). Perfil do bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na área de Odontologia. Revista Brasileira de Epidemiologia, 11(1), 106-113. doi:10.1590/S1415-790X2008000100010; Cavalcanti, & Pereira, 2008Cavalcanti, A. L., & Pereira, D. S. A. (2008). Perfil do bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na área de Odontologia. Revista Brasileira de Pós-Graduação, 5(9), 67-88. Recuperado de http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/rbpg/article/view/142
http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/r...
), Saúde Coletiva (Barata, & Goldbaum, 2003Barata, R. B., & Goldbaum, M. (2003). Perfil dos pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq da área de saúde coletiva. Cadernos de Saúde Pública, 19(6), 1863-1876. doi:10.1590/S0102-311X2003000600031) e mesmo Psicologia (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001; Wendt et al., 2013)Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003.

Os dois levantamentos previamente realizados para identificar os perfis dos bolsistas de produtividade em pesquisa na área da Psicologia tiveram como referência a avaliação do CNPq vigente no triênio concluído em 2011 (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001; Wendt et al., 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003). Ambos identificaram cerca de 300 bolsistas PQ na Psicologia, com predominância de pesquisadoras mulheres (63%) e de bolsas da categoria 2 (58%). As bolsas de produtividade estavam concentradas predominantemente nas regiões Sudeste (54%) e Sul (18%) e em instituições públicas (79%).

Um dos estudos concluiu que altos níveis contínuos de produção não são uma condição sine qua non para a concessão de bolsas de produtividade, visto que foram identificados, dentre os bolsistas ativos, pesquisadores com apenas um artigo publicado em cinco anos (Wendt et al., 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003). O outro estudo, por sua vez, sugeriu que o aumento na quantidade de trabalhos publicados no triênio não foi acompanhado por um incremento na qualidade das publicações, o que poderia estar relacionado à cultura produtivista que tem predominado no Brasil e em demais países nos últimos anos (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001).

Assim, para acompanhar a evolução destes e de outros indicadores, o objetivo deste estudo é analisar o perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), atuantes na Psicologia, considerando o triênio concluído em 2014. Este artigo propõe uma atualização dos dois levantamentos realizados na área com dados de 2011 (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001; Wendt et al., 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003).

Método

Delineamento

Esse estudo seguiu um delineamento descritivo, transversal e correlacional.

Amostra

Foram incluídos na amostra do estudo os currículos Lattes de pesquisadores a partir de dois critérios de inclusão: (1) ser bolsista de produtividade do CNPq e (2) ter como área de atuação a Psicologia. Assim, foram avaliados inicialmente os currículos Lattes dos 315 bolsistas de produtividade em Psicologia do CNPq, segundo lista disponibilizada no site da instituição. Além disso, para a inclusão de pesquisadores bolsistas de produtividade que atuam na Psicologia, mas recebem bolsas de outras áreas, foi realizada uma busca na plataforma Lattes pela ferramenta “Área de Atuação” dos pesquisadores, utilizando o termo “Psicologia”, e restringindo os resultados aos bolsistas de produtividade do CNPq.

A busca retornou os currículos de 96 pesquisadores bolsistas de produtividade de outras áreas. Esses 96 currículos foram avaliados por dois juízes independentes para considerar incluí-los ou não na amostra, a partir dos seguintes critérios de exclusão: (1) áreas de formação alheias à Psicologia e (2) publicações somente em revistas de fora da Psicologia. Um terceiro juiz independente resolveu os casos nos quais houve discordância entre os dois avaliadores. Assim, foram incluídos na amostra 23 currículos de pesquisadores bolsistas de outras áreas (por exemplo, Educação; n = 11), totalizando 338 bolsistas de produtividade que atuam na Psicologia.

Procedimentos

A coleta dos dados dos currículos dos 338 bolsistas ocorreu durante o mês de setembro de 2014, a partir da plataforma Lattes. Os seguintes dados foram coletados em cada currículo disponibilizado na plataforma online do CNPq: data de última atualização do currículo, sexo do(a) pesquisador(a), nível da bolsa de produtividade, área da bolsa de produtividade, universidade de vinculação, cidade e unidade da federação em que a universidade está situada, ano de conclusão do doutorado, universidade em que realizou o doutorado, áreas de atuação (temas de pesquisa), número de artigos publicados em periódicos, de livros e de capítulos publicados. A consistência das informações disponibilizadas pelos pesquisadores não foi objeto de análise deste estudo.

Análise de dados

Foram realizadas análises estatísticas descritivas (levantamento de frequências, médias e desvios-padrão) para caracterização da amostra quanto às seguintes variáveis: (1) estrato da bolsa de produtividade (SR, 1A, 1B, 1C, 1D, ou 2); (2) instituições de ensino a que os bolsistas estão vinculados (nominalmente e separadas entre instituições públicas federais, públicas estaduais ou privadas); (3) região do país em que trabalham os pesquisadores; (4) sexo do(a) pesquisador(a); (5) instituição em que realizou o doutorado (nacional ou estrangeira); (6) área do CNPq a partir da qual recebem a bolsa de produtividade (por exemplo, Psicologia e Serviço Social; Educação; Enfermagem); (7) tempo passado desde a conclusão do seu Doutorado; e (7) áreas de atuação (temas de pesquisa) dos pesquisadores.

Foram realizadas ainda análises estatísticas descritivas (levantamento de frequências, médias e desvios-padrão). Elas foram utilizadas com vistas à caracterização da produtividade da amostra com relação ao número de artigos, de livros e de capítulos de livro publicados.

Por fim, análises estatísticas inferenciais (qui-quadrado e ANOVA) foram realizadas para comparar os bolsistas de cada estrato de bolsa de produtividade. Foram analisadas: (1) características sociodemográficas; (2) características da instituição a que os pesquisadores estão vinculados; e (3) dados de produtividade dos números de publicações coletados.

Resultados

Dos 338 currículos analisados neste estudo, 60,4% eram de bolsistas PQ da categoria 2. Um grupo seleto de pesquisadores estava recebendo bolsas 1A, que corresponderam a apenas 8,9% das bolsas de produtividade em Psicologia. Além disso, foi identificada apenas uma bolsa de produtividade sênior (SR), tradicionalmente concedida a pesquisadores renomados que tenham permanecido durante pelo menos 15 anos com bolsas PQ 1A ou 1B (Tabela 1).

Tabela 1
Quantidade de bolsistas de produtividade em pesquisa atuantes na Psicologia para o triênio 2012-2014 por estrato da bolsa.

Os bolsistas PQ foram provenientes de 54 instituições de ensino superior (IES) e pesquisa no Brasil. A Tabela 2 mostra o ranking com dados referentes às dez instituições com maior frequência absoluta de bolsistas PQ ativos em seus quadros funcionais. A Universidade de São Paulo (USP) apresentou a maior quantidade de bolsistas (n = 46), seguida da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (n = 26) e da Universidade de Brasília (UnB) (n = 24). A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) (n = 11) foi a única universidade privada a figurar entre as dez instituições com maior número de bolsistas, sendo as demais federais ou estaduais (Tabela 2).

Tabela 2
Ranking das instituições com maior quantidade de bolsistas de produtividade em pesquisa atuantes na Psicologia para o triênio 2012-2014 por estrato da bolsa.

No que diz respeito à distribuição de bolsas de produtividade pelas regiões do país, o Sudeste apresentou o maior número de bolsas (55,3%), seguido da região Sul (17,8%). Já a região com o menor índice de bolsistas PQ foi o Norte (4,1%). A Tabela 3 apresenta a comparação entre o número de bolsas PQ por região do país e a proporção de bolsas por milhões de habitantes em cada região e em todo o Brasil. Os dados populacionais utilizados referem-se ao último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. (2011). Resultados preliminares do censo demográfico 2010. Recuperado de http://ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/resultados_preliminares/default_resultados_preliminares.shtm
http://ibge.gov.br/home/estatistica/popu...
), com os dados atualizados. Quando comparado por milhão de habitantes, o número de bolsas está mais concentrado nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. A região Nordeste, por sua vez, apresenta o menor número de bolsas de produtividade em pesquisa na área da Psicologia por milhão de habitantes do país. Apesar de ter 45 bolsistas em contraste com os 14 do Norte, o Nordeste possui um número de habitantes mais de três vezes maior do que o Norte, o que gera essa diferença em termos proporcionais.

Tabela 3
Distribuição de bolsistas de produtividade em pesquisa atuantes na Psicologia para o triênio 2012-2014 por região no Brasil.

Em relação à caracterização dos pesquisadores, a maioria é do sexo feminino (63%), sem diferença significativa para a distribuição nos estratos de bolsa em função do sexo (χ2 2 . Para mais informações, consultar: http://www.cnpq.br/web/guest/view/-/journal_content/56_INSTANCE_0oED/10157/48881?p_p_state=pop_up&_56_INSTANCE_0oED = 5,047; gl = 4; p = 0,283). A maioria dos pesquisadores realizou o doutorado em instituições nacionais (74,6%). Além disso, a maior parte dos bolsistas de produtividade em pesquisa está vinculada a instituições públicas (79,5%), com bolsas majoritariamente provenientes da área de Psicologia e Serviço Social do CNPq (93,2%). A Tabela 4 apresenta a caracterização dos pesquisadores atuantes na Psicologia com bolsas PQ do CNPq.

Tabela 4
Caracterização dos bolsistas de produtividade em pesquisa atuantes na Psicologia para o triênio 2012-2014.

Quanto às áreas de atuação descritas nos currículos Lattes dos bolsistas de produtividade, Psicologia Social foi a mais citada (31,1%), seguida por Psicologia do Desenvolvimento Humano (29%) e Tratamento e Prevenção Psicológica (26,6%). Somente as cinco áreas mais citadas foram reportadas na Tabela 4, estando entre as demais áreas: Psicologia Cognitiva (12,1%), Psicologia Organizacional (10,4%), Psicologia Fisiológica (7,1%), Psicanálise (5,3%), Psicologia Clínica (3,8%), Psicologia Comparativa (3,3%) e diversas outras com porcentagens mais baixas, totalizando 31,1% de outras áreas. Como um mesmo bolsista pode indicar diversas áreas de atuação em seu currículo, o total ultrapassa os 100%.

Com relação ao tempo passado desde a conclusão dos seus cursos de Doutorado, a maior parte da amostra tem mais de 10 anos de conclusão do doutorado, o que está em consonância com as regras para solicitação de bolsas (por exemplo, mais de oito anos pós-conclusão para solicitação de bolsas tipo 1). No triênio analisado, não há nenhum bolsista 1A que tenha obtido seu título de doutor(a) há menos de 16 anos. Além disso, 26 dos 31 pesquisadores deste nível concluíram o doutorado há mais de 21 anos. A Tabela 5 apresenta a distribuição detalhada por estrato da bolsa do tempo pós-conclusão do Doutorado dos pesquisadores.

Tabela 5
Distribuição dos bolsistas de produtividade segundo tempo de conclusão de doutorado na categorização do CNPq no triênio 2012-2014.

A Tabela 6 apresenta os dados da produtividade em publicação científica. Para a amostra total, os artigos foram o tipo de produção científica mais frequente (M = 58,61; DP = 35,76), seguidos pelos capítulos de livro (M = 26,52; DP = 21,26) e pelos livros (M = 6,42; DP = 6,57). Enquanto 37 pesquisadores não apresentaram produção de livros, dois não apresentaram produção de capítulos de livros, mas não houve nenhum que não tenha publicado artigos.

Tabela 6
Produção científica da amostra geral e em função do nível da bolsa por tipo de publicação.

Foram encontradas diferenças significativas entre os pesquisadores de diferentes estratos de bolsa para todos os indicadores de produtividade analisados. Como demonstra a Tabela 5, os pesquisadores com bolsas de estratos mais altos apresentaram maiores médias sequencialmente com relação ao número total de artigos publicados, ou seja, PQ 1A/SR > 1B > 1C > 1D > 2 (F(4,333) = 62,03; p < 0,001). Com relação ao número de capítulos de livros publicados, os bolsistas 1A/SR apresentaram a maior média, seguidos pelos bolsistas 1C, 1B, 1D e 2, respectivamente (F(4,332) = 17,50; p < 0,001). Quanto ao número de livros publicados, os bolsistas 1A/SR também apresentaram a maior média, seguidos dos bolsistas 1D, 1C, 1B e 2, respectivamente (F(4,333) = 17,61; p < 0,001).

Testes post-hoc Bonferroni demonstraram que, para o número de artigos publicados, os bolsistas 1A/SR apresentaram média significativamente mais alta em relação aos bolsistas 1C, 1D e 2 (todos p < 0,001), e 1B (p = 0,002). Entre todos os demais grupos, as médias para o número de artigos publicados foram significativamente mais altas em sequência: 1B > 1C > 1D > 2 (todos p < 0,001). Quanto ao número de capítulos de livro publicados, os bolsistas 1A/SR apresentaram média significativamente mais alta em relação aos bolsistas 1D (p = 0,003) e 2 (p < 0,001). Os bolsistas 1B (p = 0,001) e 1C (p < 0,001) apresentaram médias significativamente mais altas do que os bolsistas 2. Para as demais comparações entre grupos, não houve diferenças significativas para o número de capítulos de livros.

Quanto ao número total de livros publicados, os bolsistas 1A/SR apresentaram média significativamente mais alta do que todos os demais (p < 0,001). O grupo 1D apresentou média significativamente mais alta do que o grupo 2 (p = 0,018). Para o restante das comparações entre grupos, não houve diferenças significativas para o número de livros publicados.

Discussão

O levantamento realizado neste estudo apresentou uma atualização em relação ao perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq atuantes na Psicologia. O número de bolsas aumentou em quase todos os estratos em comparação com o triênio anterior (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001; Wendt et al., 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003). Apenas o número de bolsistas PQ-1B diminuiu. No entanto, é preciso considerar que, no presente estudo, foram incluídos pesquisadores atuantes na Psicologia que recebem bolsas de outras áreas do CNPq (por exemplo, Educação), o que não ocorreu nos estudos anteriores (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001; Wendt et al., 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003). Além disso, não há mais especificação de nível para bolsas PQ-2 como havia no passado. Até o triênio que terminou em 2011, o nível 2 era subdividido em duas categorias (2 e 2F), sendo esta uma bolsa transitória, concedida a pesquisadores emergentes (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001).

No triênio 2012-2014 houve um declínio na quantidade de bolsistas nas três universidades que lideram o ranking de instituições com maior número de pesquisadores com bolsas PQ (USP, UFRGS e UNB). Em contrapartida, esse número aumentou em todas as outras instituições que permaneceram no ranking (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001; Wendt et al., 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003), o que pode indicar que neste triênio houve uma maior distribuição das bolsas de produtividade entre as universidades. Do mesmo modo, questões como aposentadoria de servidores públicos, mudança de instituição na qual os pesquisadores atuam ou mesmo o próprio mérito dos projetos apresentados podem explicar a mudança do quadro ativo de bolsistas de produtividade com atuação na Psicologia.

No entanto, assim como nos estudos anteriores (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001; Wendt et al., 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003), as regiões Norte e Nordeste seguem em desvantagem em relação às demais, ainda mais quando é analisada a distribuição de bolsas em relação ao número de habitantes de cada região (Tabela 3). A região Nordeste apresenta o terceiro maior percentual de cursos de graduação em Psicologia no país, 17,5% (Brasil, 2012Brasil. (2012). Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. ENADE 2012: relatório síntese, psicologia. Brasília, DF: o autor.), mas é a região com menor número de bolsistas de produtividade PQ por milhão de habitantes do Brasil. Os dados não permitem saber, todavia, se a menor proporção de bolsistas de produtividade em pesquisa que atuam na região Nordeste se dá pelo não atendimento aos critérios estabelecidos pelo CNPq ou se há um reduzido interesse ou conhecimento dos pesquisadores no que se refere à aplicação para a bolsa PQ. Novos estudos podem buscar informações sobre o número de candidaturas para bolsas provenientes de cada região, ou mesmo entrevistar os pesquisadores mais atuantes na área sobre o seu interesse em aplicar para as bolsas de produtividade. Pode ainda ser elucidativa a compreensão de fatores organizacionais intrínsecos a cada instituição, tal como estímulo à pesquisa científica e, consequentemente, o nível de suporte e valorização dos profissionais que demonstrem interesse em conquistar ou mesmo aos que já detenham bolsas PQ.

Quando comparada aos dados apresentados por Weber et al. (2015)Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001 para o triênio 2009-2011, a média de artigos publicados ao longo da carreira diminuiu em todos os estratos de bolsa PQ analisados. Não é possível descartar, no entanto, a possibilidade de esse decréscimo estar relacionado a diferenças metodológicas entre os estudos.

Em relação ao sexo, a maioria dos bolsistas PQ em Psicologia é do sexo feminino (63%), e este percentual permaneceu estável em comparação ao triênio anterior (Weber et al., 2015Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001; Wendt et al., 2013Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003). A predominância de mulheres entre os bolsistas PQ é uma peculiaridade de áreas como a Psicologia e a Enfermagem, na qual 94,6% dos bolsistas são mulheres (Santos et al., 2015Santos, W. M., Padoin, S. M. M., Lacerda, M. R., & Gueterres, E. C. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade em pesquisa na área de Enfermagem. Revista de Enfermagem UFPE, 9(supl. 2), 844-850. doi:10.5205/reuol.6391-62431-2-ED.0902supl201510). Nas demais áreas mencionadas neste estudo ou o predomínio é masculino (Cavalcante et al., 2008Cavalcante, R. A., Barbosa, D. R., Bonan, P. R. F., Pires, M. B. O., & Martelli-Júnior, H. (2008). Perfil do bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na área de Odontologia. Revista Brasileira de Epidemiologia, 11(1), 106-113. doi:10.1590/S1415-790X2008000100010; Cavalcanti, & Pereira, 2008; Mendes et al., 2010Mendes, P. H. C., Martelli, D. R. B., Souza, W. P., Quirino Filho, S., & Martelli-Júnior, H. (2010). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em medicina no CNPq, Brasil. Revista Brasileira de Educação Médica, 34(4), 535-541. doi:10.1590/S0100-55022010000400008; Oliveira et al., 2012Oliveira, E. A., Colosimo, E. A., Martelli, D. R., Quirino, I. G., Oliveira, M. C. L., Lima, L. S., ... Martelli-Júnior, H. (2012). Comparison of Brazilian researchers in clinical medicine: are criteria for ranking well-adjusted? Scientometrics, 90(2), 429-443. doi:10.1007/s11192-011-0492-9; Santos et al., 2010)Santos, N. C. F., Cândido, L. F. O., & Kuppens, C. L. (2010). Produtividade em pesquisa do CNPq: análise do perfil dos pesquisadores da Química. Química Nova, 33(2), 489-495. doi:10.1590/S0100-40422010000200044 ou há um equilíbrio, como ocorre na Saúde Coletiva (Barata, & Goldbaum, 2003Barata, R. B., & Goldbaum, M. (2003). Perfil dos pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq da área de saúde coletiva. Cadernos de Saúde Pública, 19(6), 1863-1876. doi:10.1590/S0102-311X2003000600031). Nesta área, o número de bolsistas PQ é quase igual (59 mulheres e 56 homens), mas enquanto a distribuição de bolsas para as mulheres se concentra mais no nível 2, a dos homens é concentrada no nível 1 (Barata, & Goldbaum, 2003Barata, R. B., & Goldbaum, M. (2003). Perfil dos pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq da área de saúde coletiva. Cadernos de Saúde Pública, 19(6), 1863-1876. doi:10.1590/S0102-311X2003000600031). Esse fenômeno não ocorre na Psicologia, em que a distribuição de bolsas entre mulheres e homens é homogênea. No entanto, enquanto o número de mulheres que recebem bolsa da categoria 2 (n = 133) é 8,31 vezes maior do que o número de mulheres que recebem bolsa 1A (n = 16), entre os homens essa proporção cai para 4,73 (71 bolsistas PQ 2 e 15 bolsistas 1A). Além disso, é interessante notar que, com o avanço do nível de especialização, há um declínio no predomínio feminino na área. Enquanto as mulheres constituem aproximadamente 83% dos estudantes de Psicologia (Brasil, 2012)Brasil. (2012). Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. ENADE 2012: relatório síntese, psicologia. Brasília, DF: o autor. e 90% dos profissionais registrados no Conselho Federal de Psicologia (Lhullier, Roslindo, & Moreira, 2013Lhullier, L. A., Roslindo, J. J., & Moreira, R. A. L. C. (2013). Uma profissão de muitas e diferentes mulheres: resultado preliminar da pesquisa 2012. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.), apenas 63% dos bolsistas PQ são do sexo feminino. Este número corrobora, portanto, a preponderância masculina quando considerada a realidade da comunidade científica nacional (Guedes, 2014Guedes, M. C. (2014). Bolsas e bolsistas de produtividade do CNPq: uma análise de gênero. Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. Belo Horizonte, MG. Disponível em http://www.14snhct.sbhc.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=800
http://www.14snhct.sbhc.org.br/conteudo/...
; Leta, 2003Leta, J. (2003). As mulheres na ciência brasileira: crescimento, contrastes e um pefil de sucesso. Estudos Avançados, 17(49), 271-284. doi:10.1590/S0103-40142003000300016; Weber et al., 2015)Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001.

Conclusão

Em resumo, os dados obtidos a partir deste levantamento indicaram que seis entre cada 10 bolsistas PQ que atuam na área da Psicologia estão concentrados no estrato 2 e que apenas 10 universidades concentram 56,7% dos pesquisadores contemplados com bolsas PQ. Ainda há uma centralização na região Sudeste, que recebe 55,3% das bolsas e apresenta a maior proporção de bolsas PQ por habitantes do país. Os bolsistas atuam majoritariamente em universidades públicas, principalmente federais, e são em sua maioria mulheres. Além disso, Psicologia Social, Psicologia do Desenvolvimento Humano e Tratamento e Prevenção Psicológica são as áreas de atuação mais recorrentes entre os pesquisadores que recebem bolsas PQ.

Este levantamento não apresentou uma análise da qualidade da produção científica dos bolsistas PQ, o que pode ser considerado uma limitação do estudo. Novos trabalhos podem investigar critérios mais qualitativos de produtividade, como o teor de inovação das pesquisas conduzidas pelos bolsistas PQ, o tipo de periódicos em que são divulgadas as suas publicações, a colaboração e interação nos trabalhos com equipes internacionais, entre outros.

Ao atualizar os dados relativos ao perfil dos bolsistas de produtividade do CNPq que atuam na área de Psicologia, este estudo oferece uma contribuição à comunidade científica em geral e, em especial, aos profissionais que atuam nos processos de avaliação de produtividade e de gestão de recursos de pesquisa. A identificação de desigualdades regionais, de concentração de bolsas em poucas instituições e de disparidades de gênero, por exemplo, podem contribuir para que algumas questões relativas à distribuição de recursos sejam reavaliadas. Neste sentido, é interessante que levantamentos como este sejam realizados a cada triênio para que seja possível verificar a evolução dos indicadores e da área como um todo.

Referências

  • Barata, R. B., & Goldbaum, M. (2003). Perfil dos pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq da área de saúde coletiva. Cadernos de Saúde Pública, 19(6), 1863-1876. doi:10.1590/S0102-311X2003000600031
  • Brasil. (2012). Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. ENADE 2012: relatório síntese, psicologia Brasília, DF: o autor.
  • Cavalcante, R. A., Barbosa, D. R., Bonan, P. R. F., Pires, M. B. O., & Martelli-Júnior, H. (2008). Perfil do bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na área de Odontologia. Revista Brasileira de Epidemiologia, 11(1), 106-113. doi:10.1590/S1415-790X2008000100010
  • Cavalcanti, A. L., & Pereira, D. S. A. (2008). Perfil do bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na área de Odontologia. Revista Brasileira de Pós-Graduação, 5(9), 67-88. Recuperado de http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/rbpg/article/view/142
    » http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/rbpg/article/view/142
  • Guedes, M. C. (2014). Bolsas e bolsistas de produtividade do CNPq: uma análise de gênero. Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. Belo Horizonte, MG. Disponível em http://www.14snhct.sbhc.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=800
    » http://www.14snhct.sbhc.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=800
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. (2011). Resultados preliminares do censo demográfico 2010. Recuperado de http://ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/resultados_preliminares/default_resultados_preliminares.shtm
    » http://ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/resultados_preliminares/default_resultados_preliminares.shtm
  • Leta, J. (2003). As mulheres na ciência brasileira: crescimento, contrastes e um pefil de sucesso. Estudos Avançados, 17(49), 271-284. doi:10.1590/S0103-40142003000300016
  • Lhullier, L. A., Roslindo, J. J., & Moreira, R. A. L. C. (2013). Uma profissão de muitas e diferentes mulheres: resultado preliminar da pesquisa 2012. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.
  • Mendes, P. H. C., Martelli, D. R. B., Souza, W. P., Quirino Filho, S., & Martelli-Júnior, H. (2010). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em medicina no CNPq, Brasil. Revista Brasileira de Educação Médica, 34(4), 535-541. doi:10.1590/S0100-55022010000400008
  • Oliveira, E. A., Colosimo, E. A., Martelli, D. R., Quirino, I. G., Oliveira, M. C. L., Lima, L. S., ... Martelli-Júnior, H. (2012). Comparison of Brazilian researchers in clinical medicine: are criteria for ranking well-adjusted? Scientometrics, 90(2), 429-443. doi:10.1007/s11192-011-0492-9
  • Santos, N. C. F., Cândido, L. F. O., & Kuppens, C. L. (2010). Produtividade em pesquisa do CNPq: análise do perfil dos pesquisadores da Química. Química Nova, 33(2), 489-495. doi:10.1590/S0100-40422010000200044
  • Santos, W. M., Padoin, S. M. M., Lacerda, M. R., & Gueterres, E. C. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade em pesquisa na área de Enfermagem. Revista de Enfermagem UFPE, 9(supl. 2), 844-850. doi:10.5205/reuol.6391-62431-2-ED.0902supl201510
  • Valle, M. E., & Sakuray, F. (2014). On the criteria for receiving a research productivity fellowship from the Brazilian National Council for Scientific and Technological Development in Mathematics.Tema (São Carlos), 15(3), 237-248. doi:10.5540/tema.2014.015.03.0237
  • Wainer, J., & Vieira, P. (2013). Avaliação de bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq e medidas bibliométricas: correlações para todas as grandes áreas. Perspectivas em Ciências da Informação, 18(2), 60-78. doi:10.1590/S1413-99362013000200005
  • Weber, J. L. A., Ramos, C. C., Mester, A., Lindern, D., Hörlle, K. R., Souza, C. S., Pizzinato, A., & Rocha, K. B. (2015). Perfil dos pesquisadores bolsistas de produtividade científica em Psicologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Estudos de Psicologia, 32(1), 1-11. doi:10.1590/0103-166X2015000100001
  • Wendt, G. W., DeSousa, D. A., Lisboa, C. S. M., & Koller, S. H. (2013). Perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 536-547. doi:10.1590/S1414-98932013000300003

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2016

Histórico

  • Recebido
    25 Ago 2015
  • Aceito
    13 Fev 2016
Conselho Federal de Psicologia SAF/SUL, Quadra 2, Bloco B, Edifício Via Office, térreo sala 105, 70070-600 Brasília - DF - Brasil, Tel.: (55 61) 2109-0100 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: revista@cfp.org.br