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Análise Comportamental da Relação Comissão Técnica Atletas de Basquetebol: Uso do Software The Observer

Behavior Analysis of the Relationship Between Technical Committee and Basketball Athletes: “The Observer” Software Use

Análisis Comportamental de la Relación entre Comité TécnicoDeportista de Baloncesto: Uso de Software The Observer

Resumo

A psicologia do esporte é uma área de estudos da psicologia que tem como objetivo contribuir para o aprimoramento dos aspectos psicológicos e de desempenho durante a prática esportiva, seja ela amadora ou profissional. Dentro desse contexto, a análise do comportamento se apresenta como uma abordagem relevante ao permitir observar e avaliar as contingências ambientais estabelecidas em treinamentos e competições. A relação entre comissão técnica e atletas de uma equipe está sujeita a diversas variáveis, inclusive aos tipos de liderança que caracterizam o ambiente. Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar, por meio da observação comportamental e dos modelos de liderança, o tipo de interação e comunicação entre comissão técnica e atletas de basquetebol. Jogadores e membros da comissão técnica de uma equipe profissional de basquetebol participaram do estudo. Para a mensuração de dados foram utilizados uma câmera filmadora para gravações em vídeo e os softwares The Observer XT Noldus e SPSS 23.0, com estatísticas descritivas e correlacionais. Os resultados mostraram que o estilo de liderança da comissão técnica influencia diretamente o comportamento dos atletas. Uma liderança autoritária fez com que comportamentos baseados em reforçamento negativo, como olhar para o técnico, obedecer ao treinador e incentivar os colegas após um erro, fossem emitidos com maior frequência. Por sua vez, quando a liderança era democrática, os jogadores emitiram respostas que orientavam outros jogadores mais vezes, como organizar jogadas e comentar movimentos, sempre com aval hierárquico do técnico.

Palavras-chave:
Análise do Comportamento; Liderança; Basquetebol; Psicologia do Esporte

Abstract

Sport Psychology is a study area within the field of Psychology that aims to contribute to the improvement of psychological aspects and performance during sports practice, either amateur or professional. Behavior Analysis plays a relevant role in this scenario, enabling professionals to observe and evaluate environmental contingences of trainings and competitions. The relationship between technical committee and athletes is subject to numeral variables, including the leadership style characterizing the environment. Thus, this study aimed to analyze the interaction and communication established between technical committee and basketball athletes based on behavioral observation and leadership models. The study comprised athletes and members of the technical committee of a professional basketball team. Data were collected using a video camera and processed using The Observer XT - Noldus® software and SPSS 23.0®, providing descriptive and correlational statistical analysis. The results show that the leadership style adopted by the technical committee directly influences athletes’ behavior. When the

committee exercised an authoritative leadership, behaviors based on negative reinforcement were more frequent, such as observing and obeying the coach or encouraging colleagues after an error. In turn, democratic leaderships lead players to guide other players more often, organizing plays and commenting movements - always upon the coach’s endorsement.

Keywords:
Behavior Analysis; Leadership; Basketball; Sports Psychology

Resumen

La psicología del deporte es un área de estudio de la psicología que tiene como objetivo contribuir a la modernización de los aspectos psicológicos y de desarrollo durante la práctica deportiva amadora o profesional. En este contexto, el análisis del comportamiento es un enfoque relevante, permitiendo notar y evaluar las contingencias del ambiente establecidas en entrenamientos y competiciones. Con eso, la relación entre el comité técnico y los deportistas está sujeta a variables, incluso a los tipos de liderazgo, que caracterizan el ambiente. De esta forma, este estudio tiene como objetivo analizar, a partir de la observación del comportamiento y de modelos de liderazgo, el tipo de interacción y comunicación entre el comité técnico y los deportistas de baloncesto. Jugadores y miembros de la comisión técnica de un equipo profesional de baloncesto participaron en el estudio. Para la medición de los datos, se utilizó una cámara de vídeo, el software The Observer XT - Noldus® y SPSS 23.0, presentando estadísticas descriptivas y correlacionadas. Los resultados mostraron que el estilo de liderazgo del comité técnico influye directamente en los comportamientos de los deportistas. Un liderazgo autoritario tiende a llevar con mayor frecuencia a comportamientos basados en refuerzo negativo, como mirar al técnico, obedecer al entrenador y animar a los colegas después de un error. Por otro lado, el liderazgo democrático lleva a los deportistas a orientar más a sus compañeros, organizando jugadas y comentando movimientos, siempre con aval jerárquico del técnico.

Palabras clave:
Análisis Comportamental; Liderazgo; Baloncesto; Psicología del Deporte

Introdução

A psicologia do esporte é uma ciência vinculada ao esporte e à psicologia aplicada que analisa o comportamento dos indivíduos no ambiente esportivo ou durante a prática de exercícios físicos. Ela é considerada muito recente, já que seus estudos iniciais surgiram em 1920 em laboratórios na antiga União Soviética, Alemanha, Japão e Estados Unidos. No Brasil, o desenvolvimento dessa disciplina começou em 1979, com a criação da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da Recreação (Sobrape) (Samulski, 2009Samulski, D. (2009). Psicologia do esporte: Conceitos e novas perspectivas (2a ed.). Manole.), mas apenas em dezembro de 2000 o Conselho Federal de Psicologia regulamentou a atuação do psicólogo nessa área (Vieira, Vissoci, Oliveira, & Vieira, 2010Vieira, J. F., Vissoci, J. R. N., Oliveira, L. P., & Vieira, J. L. L. (2010). Psicologia do esporte: Uma área emergente da psicologia. Psicologia em Estudo, 15(2), 391-399. http://doi.org/10.1590/S1413-73722010000200018
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).

Nesse contexto esportivo, os psicólogos do esporte analisam maneiras de empregar técnicas para auxiliar pessoas de diversas faixas etárias a se beneficiarem da prática de exercícios físicos. Essa atuação pode ocorrer com atletas de alto nível que buscam um aprimoramento de seu desempenho, com crianças em desenvolvimento, com indivíduos com alguma deficiência intelectual ou física, com idosos e até mesmo com os que praticam esportes por lazer (Weinberg & Gould, 2016Weinberg, R. S., & Gould, D. (2016). Foundations of sport and exercise psychology (6a ed.). Human Kinetics.).

Os estudos nessa área, portanto, observam o ambiente esportivo a fim de entender como os aspectos psicológicos e comportamentais influenciam a atividade física e como ela se relaciona ao bem-estar, à saúde e ao desenvolvimento psicológico do indivíduo (Weinberg & Gould, 2016Weinberg, R. S., & Gould, D. (2016). Foundations of sport and exercise psychology (6a ed.). Human Kinetics.). Para alcançar esse objetivo, são desenvolvidos instrumentos que permitam analisar as características psicológicas direcionadas ao “rendimento, medo e agressão no esporte, coordenação psicomotora, personalidade de atletas e treinadores” (Samulski, 2009Samulski, D. (2009). Psicologia do esporte: Conceitos e novas perspectivas (2a ed.). Manole., p. 7).

Com essa variedade de informações disponíveis para análise, o psicólogo do esporte pode realizar orientações e intervenções, individuais ou grupais, com os praticantes de exercício físico, além de aplicar escalas e elaborar diagnósticos por meio de instrumentos para avaliação de perfil, capacidade motora e cognitiva (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2007Conselho Federal de Psicologia. (2007). Resolução CFP nº 013/2007. Institui a Consolidação das Resoluções relativas ao Título Profissional de Especialista em Psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos para seu registro. CFP.). Essa atuação ocorre, portanto, em um ambiente que apresenta características específicas da prática esportiva, com estruturas, princípios e regras próprias.

Dessa forma, a análise do comportamento se apresenta como um referencial teórico aliado ao psicólogo do esporte, permitindo-o observar, estudar e analisar o ambiente esportivo e sua relação com o indivíduo. Segundo Tourinho e Luna (2010Tourinho, E., & Luna, S. (2010). Análise do comportamento: Investigações históricas, conceituais e aplicadas. Roca.), o objeto de estudo dessa abordagem psicológica é o comportamento, entendido como a relação de contingências entre a resposta de um organismo aos estímulos do ambiente capaz de explicar, inclusive, fenômenos motivacionais e emocionais.

Essas interações ocorrem de forma contínua e bidirecional, de maneira que o indivíduo modifica o ambiente e, consequentemente, é modificado por ele. O resultado dessas modificações, mesmo que simples, podem gerar comportamentos complexos. Assim, o comportamento é analisado cientificamente por meio da ação do indivíduo (respostas), dos eventos ambientais que afetam o organismo (estímulos) e das relações que se estabelecem entre esses dois aspectos (contingências) (Hunziker & Samelo, 2012Hunziker, M., & Samelo, M. (2012). Controle aversivo. In N. Borges, & F. Cassas. Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 49-63). Artmed.).

Portanto, explicar o comportamento de um indivíduo está além do que o senso comum afirma quando aponta as causas de ações para dentro do organismo. As variáveis que controlam o comportamento estão tanto no ambiente externo e imediato como em sua história. Dessa forma, deve-se considerar qualquer evento ambiental que apresente algum efeito sobre um comportamento. Assim que essa relação é observada, é possível não apenas prever, mas também controlar o comportamento do sujeito, desde que esses eventos possam ser manipulados (Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.).

Por meio dessa relação de contingência entre uma resposta, sua interferência no ambiente e as consequências dessa interação para o comportamento do próprio indivíduo, é possível identificar se há um aumento ou uma redução na frequência em que essa mesma resposta é emitida no futuro. Sendo assim, quando a probabilidade de o organismo se comportar da mesma maneira em eventos semelhantes for maior, essa contingência é chamada de reforço. Se houver a diminuição da resposta, é chamada de punição. Essas contingências apresentadas ainda podem assumir outras duas características distintas: positiva e negativa. No primeiro caso, o comportamento produz um estímulo, enquanto a interação negativa tem como consequência a retirada de um estímulo (Hunziker & Samelo, 2012Hunziker, M., & Samelo, M. (2012). Controle aversivo. In N. Borges, & F. Cassas. Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 49-63). Artmed.). Dessa forma, se um comportamento tem maiores chances de acontecer após a apresentação de um estímulo, este é denominado de reforço positivo (Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.). Se a mesma situação for consequência da remoção de um estímulo aversivo, a contingência é caracterizada como reforço negativo (Hunziker & Samelo, 2012Hunziker, M., & Samelo, M. (2012). Controle aversivo. In N. Borges, & F. Cassas. Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 49-63). Artmed.).

Outra possibilidade de contingência, já citada anteriormente, é a punição. Esta, assim como os reforçadores, pode apresentar características positivas e negativas. Dessa forma, a punição acontece por meio da retirada de um reforçador positivo ou da apresentação de um estímulo aversivo àquele indivíduo (Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.). Em consequência, o comportamento envolvido na contingência passa a ter sua frequência de emissão diminuída (Hunziker & Samelo, 2012Hunziker, M., & Samelo, M. (2012). Controle aversivo. In N. Borges, & F. Cassas. Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 49-63). Artmed.).

Skinner (2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.) se aprofunda nesse assunto. Segundo o autor, embora seja observada uma redução imediata na frequência de emissão do comportamento punido, ela não é permanente. À medida que os estímulos aversivos que controlam a contingência cessam, o comportamento, anteriormente punido, volta a ser emitido. Dessa forma, a punição apenas suprime momentaneamente o comportamento, que voltará a ser emitido após algum tempo por suas funções reforçadoras.

Porém, esse método de controle comportamental pode gerar alguns efeitos colaterais no indivíduo. Comportamentos punidos apenas mostram ao sujeito o que não se deve fazer, mas não ensina o que seria considerado correto. Eles também podem eliciar comportamentos emocionais incompatíveis e até apresentar esses reflexos em outros contextos, mesmo que o estímulo aversivo não esteja presente. Além disso, o indivíduo pode aumentar seu repertório comportamental baseado em reforçadores negativos para evitar o contato com estímulos aversivos decorrentes da punição. Nessa situação são citados os comportamentos de fuga e esquiva. No caso das respostas para fuga, há a emissão de um comportamento em que se remove o estímulo aversivo naquele momento. Assim, há uma diminuição da intensidade daquele estímulo. Já o comportamento de esquiva tem como função evitar o contato com determinado estímulo aversivo (Mazzo, 2007Mazzo, I. M. B. (2007). Análise de possíveis efeitos desejáveis do controle aversivo na aprendizagem de comportamento eficaz [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UEL_15d34bee97acdb0091569b1c13473f14
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; Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.; Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.). No contexto esportivo, podemos entender que um jogador de basquete que esteja sentindo dores musculares pelo excesso de treinamento faça uso de uma medicação, caracterizando uma fuga. Esse mesmo atleta pode se sentir cansado e entender que está próximo de uma lesão caso realize as atividades daquele período. Assim, ele pode se comportar de maneira que sua presença na tarefa não seja necessária e de modo que possa até mesmo ser dispensado pela comissão técnica. Os comportamentos excessivos baseados em fuga e esquiva podem limitar o repertório comportamental de reforçadores positivos.

Dessa forma, para identificar se um evento é punidor ou reforçador para determinado indivíduo, é preciso analisar a função dos estímulos apresentados diante dos comportamentos emitidos (Hunziker & Samelo, 2012Hunziker, M., & Samelo, M. (2012). Controle aversivo. In N. Borges, & F. Cassas. Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 49-63). Artmed.). A relação reforçadora, por exemplo, pode se mostrar uma tendência de comportamento no decorrer da história do indivíduo e talvez nunca seja percebida por ele, mas pode ser clara para outros. Assim como cada indivíduo possui suas diferenças, os eventos que controlam os comportamentos também apresentam funções diferentes (Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.).

Diante dos aspectos estudados e apresentados pela análise do comportamento, ela se mostra uma abordagem psicológica relevante para o contexto esportivo ao analisar o comportamento do indivíduo em relação ao ambiente. Por exemplo, por meio dela é possível investigar como a interação entre atletas de basquetebol e comissão técnica pode afetar seus desempenhos no cotidiano de treinos e competições. Ao considerar que o técnico é o líder primeiro do time, este deve, por meio de boa comunicação e com escuta ativa e baixa imposição, preparar as atividades a serem apresentadas ao grupo, organizar sua equipe e mediar conflitos que possam emergir. Para isso, o treinador precisa ser um exemplo positivo perante seus companheiros (Bernardy, Socreppa, & Silva, 2016Bernardy, T. A. S., Socreppa, A., & Silva, E. (2016). Estilos de liderança predominantes nos coordenadores de curso de uma instituição de educação superior. Revista Húmus, 6(18), 11-32.). Portanto, vislumbrando uma relação relevante entre a psicologia do esporte, a análise do comportamento e a relação comissão técnica-atletas no contexto esportivo, este estudo pretende analisar como aspectos da relação entre comissão técnica e atletas de basquetebol influenciam seus comportamentos no cotidiano da equipe.

De acordo com Samulski (2009Samulski, D. (2009). Psicologia do esporte: Conceitos e novas perspectivas (2a ed.). Manole.), o contexto esportivo apresenta três diferentes tipos de liderança: autoritário, democrático e liberal. No primeiro modelo, os objetivos e atividades são determinados pelo líder sem consultar os membros do grupo. Isso torna a relação polarizada, de modo que todas as ações são controladas por esse indivíduo. O estilo democrático, ao contrário, apresenta um ambiente propício a conversas e discussões, de forma que as responsabilidades sejam distribuídas entre os integrantes, aumentando a interação entre eles. Já na liderança liberal, Samulski (2009Samulski, D. (2009). Psicologia do esporte: Conceitos e novas perspectivas (2a ed.). Manole.), seguindo Chiavenato (2005Chiavenato, I. (2005). Gerenciando com as pessoas: Transformando o executivo em um excelente gestor de pessoas.Elsevier; Campus.), explica que ela ocorre quando o grupo possui liberdade para tomar as decisões que envolvem a equipe, com o mínimo de interferência do líder.

O modo como o atleta percebe o comportamento do treinador, conforme apresentado pelo modelo multidimensional da liderança (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (3a ed., pp. 113-135). John Wiley & Sons.), é influenciado diretamente pelas características pessoais e situacionais, como a modalidade e o nível esportivo. Quando o perfil do treinador é compatível com o que é expresso pelo ambiente esportivo em que ele está, o atleta se satisfaz com o estilo de liderança e, consequentemente, seu desempenho será maior (Teques & Silva, 2017Teques, P., & Silva, C. (2017). Liderança e satisfação no futebol: Testagem da congruência com recurso a análise de equações estruturais. Revista Iberoamericana de Psicología del Ejercicio y el Deporte , 12(1), 71-82.).

Segundo Guillén (2003Guillén, F. G. (2003). Psicopedagogía de la actividad física y el deporte. Kinesis.), a comunicação eficaz pode gerar ganhos e beneficiar o desenvolvimento dos atletas. Indo ao encontro disso, Becker (2002Becker, B. J. (2002). Psicologia aplicada ao treinador esportivo. Feevale.), ao avaliar treinadores, observou que estes acreditam que a comunicação é uma habilidade profissional essencial que acarreta o sucesso da equipe, influenciando a compreensão sobre a mensagem que está sendo transmitida. No entanto, apesar de ser algo importante, a interação entre comissão técnica e atletas não é fácil (Celestino, Leitão, & Pereira, 2019Celestino, T. F. S., Leitão, J. C. G. C., & Pereira, A. M. A. (2019). Determinantes para a excelência na orientação: As representações de treinadores e atletas de elite. Retos: Nuevas Tendencias en Educación Física, Deporte y Recreación, 35(1), 91-96. https://doi.org/10.47197/retos.v0i35.59118
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).

Um estudo feito por Silva e Borfe (2019Silva, J. L. C., & Borfe, L. (2019). Atitudes e condutas emocionais dos técnicos de basquetebol: A percepção dos atletas de duas equipes do campeonato da FGB. Caderno de Educação Física e Esporte, 17(2), 57-64. https://doi.org/10.36453/2318-5104.2019.v17.n2.p57
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) com 25 atletas adolescentes de basquetebol mostrou que a percepção de cada atleta sobre o treinador é diferente. Entretanto, as atitudes, a forma de comunicação e de liderança e os estados emocionais dos técnicos influenciam os comportamentos dos atletas e, por isso, uma relação assertiva deve ser priorizada. Lima et al. (2018Lima, J. H. O., Araldi, F. M., Maciel, L. F. P., Nascimento, R. K., Flach, M. C., & Folle, A. (2018). Perfil de liderança dos treinadores de equipes femininas de basquetebol. Corpoconsciência, 22(2), 35-47.), ao analisarem o perfil de liderança dos treinadores de basquetebol feminino segundo a percepção de 78 atletas, concluíram que atletas de 14 a 16 anos percebem características mais democráticas em seus treinadores, enquanto as atletas de 17 a 19 anos relatam que seus treinadores possuem características mais autocráticas. Além disso, as atletas perceberam menor uso do reforço positivo pelos treinadores. Esse resultado converge com o estudo de Alba, Toigo e Barcellos (2010Alba, G. R., Toigo, T., & Barcellos, P. F. P. (2010). Percepção de atletas profissionais de basquetebol sobre o estilo de liderança do técnico. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 32(1), 143-159. https://doi.org/10.1590/S0101-32892010000400010
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), o que pode indicar que não se pautar pelo reconhecimento de seus jogadores é uma característica dos treinadores dessa modalidade.

Para além do basquetebol, um estudo com 21 atletas sênior de judô identificou que eles preferem técnicos com decisão autocrática e esperam mais suporte social, feedback positivo e instrução adequada (Santos, 2019Santos, L. B. M. (2019). O perfil de comportamento de liderança dos treinadores: Um estudo com os atletas da seleção brasileira sênior de judô [Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul] . Lume. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/202188
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). Já no contexto do futsal, pesquisa com 40 integrantes de uma comissão técnica mostrou que a maioria utilizava a liderança voltada ao desempenho e ao reforço positivo, o que auxiliava no desempenho dos atletas (Amorim, Nascimento Jr., Contreira, Granja, & Vieira, 2020Amorim, A. C., Nascimento Jr., J. R. A., Contreira, A. R., Granja, C. T. L., & Vieira, J. L. L. (2020). O autoconceito é um atributo interveniente no estilo de liderança de treinadores de futsal de alto rendimento? Revista Iberoamericana de Psicología del Ejercicio y el Deporte, 15(1), 7-11.). Considerando a importância da relação entre comissão técnica e atletas, como descrito pela literatura, este estudo teve o objetivo de analisar, por meio da observação comportamental e dos modelos de liderança, o tipo de interação e de comunicação entre comissão técnica e atletas de basquetebol.

Metodologia

Todos os cuidados éticos foram tomados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da universidade à qual os pesquisadores estão vinculados (Parecer número 2.064.877; CAAE: 65207517.4.0000.5500). Houve o consentimento formal do dirigente da equipe, bem como a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos participantes do estudo, além da permissão para uso de sua imagem e som.

Para a produção deste artigo os pesquisadores utilizaram uma câmera de vídeo digital, um aparelho celular com função de filmadora, um cartão de memória para o armazenamento dos vídeos e o software The Observer XT - Noldus (http://www.noldus.com/human-behavior-research/products/the-observer-xt) para a análise das filmagens obtidas. Esse programa de computador possibilita integrar dados detalhados de diversos vídeos, sujeitos e comportamentos, com várias possibilidades de análises precisas sobre o movimento do indivíduo, os sons emitidos, a fisiologia e outros comportamentos. Assim, o software permite não apenas a quantificação da imagem, mas também do áudio obtido nas gravações.

Foram selecionados quatro momentos principais de gravação, que consistiam em um jogo do campeonato paulista de basquetebol (J1), e três partidas disputadas pelo torneio nacional da modalidade “Novo Basquete Brasil (NBB)” (J2, J3 e J4). Como regra, as gravações foram realizadas sempre que a equipe em estudo jogava em seu ginásio. Nas últimas três partidas citadas, estipulou-se que as filmagens ocorreriam no início da competição, no meio e no final, analisando momentos diferentes do time e abrangendo um maior número de variáveis ambientais, como o possível cansaço físico, a posição na tabela e mesmo a transição entre competições. Como forma de complementar os dados, houve ainda gravações dos treinos realizados na véspera e no dia seguinte ao jogo (Pré2, Pós2, Pré3, Pós3, Pré4 e Pós4) dos J2, J3 e J4. Considerando que as partidas filmadas terminaram com derrota do time em estudo, foi feita a filmagem de um treino pós-vitória (PósV).

Nesse ponto, é importante destacar que as gravações dos treinamentos aplicados antes e depois da partida do campeonato paulista e do pós-jogo do J4 não foram realizadas, em razão da falta de atividades nesses dias e por conta do rebaixamento da equipe no campeonato nacional. Dessa forma, foi acordado que não haveria filmagens em datas distantes do jogo para manter o padrão estabelecido anteriormente.

Do tempo total de filmagem, após sua observação, selecionaram-se trechos específicos com interações relevantes a serem analisadas. Assim, foi definido que os trechos observados durante os treinamentos seguiriam a sequência de momentos em que os atletas treinavam alguma jogada específica ou arremessos livres, a interação entre eles e a comissão técnica ocorrida posteriormente e a continuação das atividades. A mesma regra foi utilizada para análise dos jogos, em que foi observada a conversa entre treinador e jogadores em um pedido de tempo, seguido de, no máximo, cinco minutos de jogo após as instruções. Essa sequência de eventos seria selecionada três vezes por partida, uma no começo, uma no meio e uma no fim do jogo.

Diante disso, foram transmitidos e analisados no software um total de 2 horas, 54 minutos e 52 segundos. Podemos separar esse montante em: J1 (9min27s); J2 (16min58s); J3 (13min40s); J4 (14min53s); Pré2 (12min11s); Pré3 (17min52s); Pré4 (24min51s); Pós2 (22min39s); Pós3 (18min05s) e PósV (24min17s).

Para realizar a análise, o programa permitia o cadastro de infinitos sujeitos, mas um número limitado de comportamentos (36). As respostas emitidas pelo técnico foram divididas em dois grupos: reforço e punição. O primeiro compreendia: elogiar; passar orientação clara; usar prancheta; bater palmas; gritos de incentivo; e abrir os braços em aprovação. Por sua vez, o segundo era composto por: xingar; gritar; se exaltar; passar orientações não compreensivas; jogar ou bater a prancheta no chão; e abrir os braços em reprovação. Em seguida, foram estipulados os comportamentos dos atletas: acertar jogada; errar jogada; gritar; resmungar; abaixar a cabeça; autoincentivo; incentivo aos colegas; olhar para o técnico; negação com a cabeça; rezar; orientar outros jogadores; e obedecer ao treinador. Por fim, após a observação dos vídeos, foi possível acrescentar outros comportamentos emitidos pela comissão técnica, formada por um auxiliar técnico, um preparador físico e um fisioterapeuta. Nesse grupo de comportamentos foram cadastrados: auxílio aos jogadores; gesticular para outro membro da equipe técnica; instrução aos jogadores; só olhar; conversar com membro da equipe técnica; orientação; aprovação e conversar com jogador.

Com essa etapa concluída, o vídeo era iniciado no computador e pausado assim que um comportamento era emitido. Nesse momento, um dos pesquisadores indicava o indivíduo no programa e sua respectiva resposta para, então, reiniciar o filme e repetir esse processo até a finalização da gravação.

Ao final de cada observação, era gerado um relatório de dados comportamentais numéricos referentes a cada atleta e membro da comissão técnica, assim como uma análise sequencial de comportamentos. As tabelas foram coletadas e os resultados obtidos analisados ao término de todas as observações.

Os dados foram processados pelo SPSS 23.0 após terem sido tabulados em planilhas de Excel. Utilizaram-se estatísticas descritivas, além da correlação de Spearman em um nível de significância de p ≤ 0,05.

Resultados

O programa ofereceu uma série de resultados quantitativos referentes aos comportamentos emitidos por jogadores e pela comissão técnica da equipe profissional de basquetebol. Um desses dados apresenta uma correlação entre respostas emitidas em determinado evento e como elas se relacionam em outro momento de gravação. Para expor com maior clareza, realizou-se uma correlação de Spearman com nível de significância de p ≤ 0,05, optando-se por apresentar apenas os resultados significativos para facilitar a leitura (Tabela 1).

Tabela 1
Correlações significativas entre os comportamentos observados.

Antes de apresentar esses resultados, é importante ressaltar que durante os eventos Pré3, J3 e Pós3, o técnico titular não participou das atividades da equipe, pois estava em uma viagem. Dessa forma, nesse período o auxiliar técnico ficou encarregado da organização e aplicação dos treinamentos e das orientações táticas. Esse período contempla, portanto, dois treinamentos e um jogo. Essa mudança inesperada antes do início do projeto ofereceu uma análise diferenciada, pois permitiu observar o comportamento dos atletas e da comissão técnica em ambientes diferentes.

Durante o evento PósV, em grande parte das gravações o treinador principal do time não estava presente no momento da atividade, adentrando o ginásio apenas no final do treinamento, olhando poucas vezes para as ações dos jogadores. Nessa atividade, os próprios atletas organizavam, discutiam e executavam as jogadas, decidindo também o número de repetições delas. Ao contrário de outras gravações, esse treinamento ficou caracterizado por muitos diálogos, orientações e gritos de incentivo entre os colegas. Esses comportamentos foram observados em menor frequência quando o treinador, principalmente o titular, estava no controle das ações. Já nos minutos finais o técnico realizou algumas intervenções e apontamentos sobre as jogadas que estavam sendo praticadas pelos atletas e utilizou alguns minutos para conversar com eles.

Assim, ao compararmos as duas primeiras correlações entre Pós2 e J3 e entre Pós2 e Pós3, é possível identificar que o comportamento de obedecer ao treinador foi inversamente proporcional ao de incentivar os colegas, o que diminuía a ocorrência . Essa ação, em um segundo momento, apresentou uma relação diretamente proporcional com o comportamento de olhar para o técnico, de modo que seu número de respostas aumentava após esse comportamento.

Outro dado que envolve o período em que o treinador principal não estava presente é visto na correlação entre Pós3 e PósV, quando o técnico já havia retornado ao comando da equipe. Nesse caso os comportamentos de olhar para o treinador, de incentivo aos colegas e de orientar outros jogadores registraram um aumento no segundo evento citado. Já os eventos referentes ao J3, também em comparação com PósV, apresentaram uma diminuição no comportamento de olhar para o técnico e um aumento na resposta de incentivo aos colegas. Essa diminuição na frequência pode ser explicada pela ausência do treinador ou do auxiliar técnico durante o treinamento, ficando a cargo dos próprios atletas a organização das atividades. Quando comparados com os eventos em que o auxiliar técnico estava no comando das atividades da equipe, foi possível observar que a correlação entre Pré3 e J3 mostrou uma diminuição na emissão do comportamento de olhar para o treinador, enquanto em J3 para J3 houve um aumento na resposta de autoincentivo.

É importante destacar também os comportamentos registrados em eventos semelhantes nos quais o treinador principal estava comandando as atividades da equipe. No mesmo evento, Pós2, a resposta de incentivo aos colegas apresentou queda em relação a momentos de errar a jogada. Do mesmo modo, em J1, a taxa de olhar para o técnico também se mostrou menor em relação ao autoincentivo. Por fim, a correlação entre PósV e Pré4 e entre Pré4 e J4 foi diretamente proporcional ao comportamento de olhar para o técnico.

Esses dados apurados são de grande relevância, principalmente por apontarem situações e momentos observados em que os treinos analisados eram diferentes. Assim, é possível fazer um breve comparativo de comportamentos em eventos em que o técnico titular e o auxiliar técnico comandavam as atividades da equipe.

Uma análise sequencial dos comportamentos de cada atleta também foi fornecida pelo software. Diante dos diversos comportamentos apresentados, foi decidido que as correlações que aconteceram em três ou mais eventos diferentes teriam relevância para o estudo, que poderia ser menor nos casos em que ocorreram duas ou apenas uma vez. Sequências de comportamentos registradas em apenas um único momento foram descartadas. Nesta análise, respostas emitidas pelos atletas e pela comissão técnica durante as gravações realizadas em toda a temporada foram categorizadas como antecedentes e consequentes. Dessa forma, os dados do software forneceram um esquema estatístico que apresentou quais comportamentos tinham maior probabilidade de ocorrer após a emissão de outros operantes.

A resposta de olhar para o técnico por parte dos atletas foi um antecedente destacado pelo programa, comportamento que foi emitido 63 vezes pelos atletas. Desse total, 31 foram sequenciados por orientar outros jogadores, 22 por incentivo aos colegas, 3 por acertar jogada, 3 por errar jogada e 2 por autoincentivo. Já a segunda correlação mais presente, de acordo com os dados do software, foi a de incentivo aos colegas, resposta emitida 57 vezes, enquanto em 33 vezes o operante foi sequenciado por olhar para o técnico, 12 por orientar outros jogadores, 9 por autoincentivo e 3 por errar jogada.

Com uma menor taxa de correlações, o comportamento de orientar outros jogadores também foi evidenciado 39 vezes, sendo 25 momentos seguidos de olhar para o técnico, 14 de incentivo aos colegas e quatro por errar a jogada. O mesmo comportamento de errar a jogada foi seguido cinco vezes por orientar outros jogadores, enquanto o autoincentivo foi seguido seis vezes por incentivo aos colegas e 3 por olhar para o técnico. Outros comportamentos apresentaram baixa correlação com outros operantes, como o caso de abaixar a cabeça, sendo seguida apenas três vezes por olhar para o técnico; acertar jogada, seguida 3 vezes por incentivo aos colegas; e obedecer ao treinador, sendo, em dois momentos, antecedente de orientar outros jogadores.

Ao analisar sequencialmente os comportamentos do técnico na categoria punitiva, a resposta de gritar apresentou correlação nove vezes com quatro comportamentos diferentes, sendo três com abrir os braços em reprovação, duas com xingar, duas com se exaltar e duas com orientações não compreensivas. Essas instruções não claras apresentaram três correlações, em sete momentos diferentes das gravações: três com gritar do técnico, duas com xingar e duas com abrir os braços em reprovação. Por seis vezes xingar foi seguida por outras respostas: dois momentos por gritar do técnico, outros dois por se exaltar, um por jogar a prancheta no chão e um por orientações não compreensivas. Abrir os braços em reprovação serviu como antecedente duas vezes para o comportamento de se exaltar e outras duas para orientações não compreensivas. Por fim, a resposta de exaltação foi seguida duas vezes por gritar do técnico e duas por orientações não compreensivas.

Por sua vez, os dados apresentados da categoria de reforçamentos permitiram compreender que passar uma orientação clara foi antecedente para aprovação por duas vezes, elogiar também o foi por duas vezes e usar pranchetas por outras duas. Bater palmas foi seguido uma vez por passar orientação clara, uma por gritos de incentivo e outra por elogiar. Usar pranchetas foi seguido uma vez de gritos de incentivo e outra por passar orientação clara. Já a aprovação apresentou maior probabilidade do comportamento de passar orientação clara em dois momentos diferentes, bem como ocorreu com gritos de incentivos, por duas vezes antecedente para essa resposta. Por fim, elogiar foi seguido três vezes de passar orientação clara.

Os dados do auxiliar técnico merecem destaque, pois em determinado momento da competição ele assumiu o comando das atividades da equipe na ausência do treinador titular. Dessa forma, o software apresentou três correlações de passar orientação clara com bater palmas, usar prancheta e gritos de incentivo. Já como auxiliar, o comportamento de apenas olhar foi sequenciado, também três vezes, por orientação, conversar com membro da equipe técnica e gesticular para outro membro da comissão técnica. Por fim, auxiliar um atleta foi sequenciado duas vezes por só olhar. Enquanto isso, os outros dois membros da comissão técnica apresentaram poucas correlações em momentos breves. Orientação foi seguida duas vezes por só olhar e por auxiliar ao jogador, ao passo que o mesmo comportamento de auxílio ao jogador foi sequenciado uma vez por só olhar e outra por orientação.

As respostas do técnico seguiram um padrão comportamental. Enquanto operantes punitivos, como gritar, xingar ou se exaltar são seguidos por outros comportamentos punitivos, como abrir os braços em reprovação e passar orientações não claras, respostas reforçadoras são sequenciadas por outros operantes reforçadores, como bater palmas, elogiar, usar a prancheta e emitir gritos de incentivo. Esse mesmo padrão foi observado nos comportamentos do auxiliar técnico durante o comando das atividades.

Discussão

Os dados obtidos pela correlação de Spearman mostram os primeiros componentes da relação entre comissão técnica e atletas, com o acréscimo de um dado não previsto no estudo: a ausência do treinador principal do comando das atividades do elenco e a designação do auxiliar-técnico para essa função. Essa alternância de profissionais no decorrer do campeonato, mesmo que breve, forneceu dados de grande relevância que auxiliaram na análise, pois permitiram comparar comportamentos dos atletas, comissão técnica e do próprio técnico em ambientes diferentes.

Ao observar os eventos Pré3, J3 e Pós3, é possível compreender que a presença do auxiliar técnico promove um ambiente reforçador para comportamentos de autoinstrução e de orientação aos colegas, pois a emissão desses operantes, por parte dos jogadores, foi mais frequente. Nesse período, os atletas tiveram permissão para conversar mais entre si, corrigir os erros de posicionamento dos colegas, sugerir jogadas específicas e discutir a eficácia de determinado movimento com aprovação hierárquica para sua posterior aplicação no treinamento ou partida. Guillén (2003Guillén, F. G. (2003). Psicopedagogía de la actividad física y el deporte. Kinesis.) afirma que a comunicação eficaz beneficia o desenvolvimento dos atletas, o que ajuda a compreender os resultados encontrados. Além disso, Becker (2002Becker, B. J. (2002). Psicologia aplicada ao treinador esportivo. Feevale.), ao avaliar treinadores, mostrou que a comunicação é uma habilidade profissional que afeta o sucesso da equipe. Esse estilo de liderança democrática, como explica Samulski (2009Samulski, D. (2009). Psicologia do esporte: Conceitos e novas perspectivas (2a ed.). Manole.), distribui as responsabilidades das atividades entre todos os membros da equipe e aumenta a interação entre eles.

Evidenciou-se também que os comportamentos de contingência de reforçamento negativo, como incentivo aos outros colegas após errar uma jogada ou discutir com o técnico, diminuíram na presença do auxiliar, pois, muito provavelmente, respostas punitivas não foram emitidas com frequência nos eventos em que ele esteve no comando da equipe. Por outro lado, o autoincentivo, como um comportamento de cobrança própria que visa o ganho de desempenho, aumentou entre os atletas em J3. Nesse caso, vale considerar que essa partida terminou empatada ao final do quarto período, sendo então disputada até a prorrogação, quando a vitória do time era uma possibilidade real e o desgaste físico era mais intenso por causa do maior tempo de jogo. Como explica Tourinho e Luna (2010Tourinho, E., & Luna, S. (2010). Análise do comportamento: Investigações históricas, conceituais e aplicadas. Roca.), o comportamento é a relação de contingências que existe entre uma resposta do indivíduo e os estímulos do ambiente. A mudança do auxiliar técnico, portanto, promoveu um ambiente baseado em reforçador positivo, em que a probabilidade de determinadas respostas serem emitidas, como as que visam um aumento no desempenho, aumentou. (Hunziker & Samelo, 2012Hunziker, M., & Samelo, M. (2012). Controle aversivo. In N. Borges, & F. Cassas. Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 49-63). Artmed.).

Já na presença do técnico titular da equipe, é possível destacar que respostas de obedecer ao treinador e de olhar para o técnico são emitidas com maior frequência, enquanto o diálogo e a discussão entre os atletas e com a própria comissão técnica correspondem a um número muito baixo. Em comparação com o estilo de liderança democrático do auxiliar técnico, mais aberto à participação dos atletas para as tomadas de decisão, o treinador principal segue o modelo autoritário, perfil em que os atletas não têm opção de expressar suas opiniões e em que não há a distribuição de responsabilidades pelas atividades, mas sim a centralização de programação e controle das ações pelo líder (Samulski, 2009Samulski, D. (2009). Psicologia do esporte: Conceitos e novas perspectivas (2a ed.). Manole.). Em pesquisa com atletas de judô, Santos (2019Santos, L. B. M. (2019). O perfil de comportamento de liderança dos treinadores: Um estudo com os atletas da seleção brasileira sênior de judô [Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul] . Lume. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/202188
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) identificou que os atletas preferem técnicos com decisão autocrática, pois esperam suporte social, feedback positivo e instrução adequada. Assim, essa demanda reflete-se sobre os impactos que determinadas posturas da comissão técnica têm sobre o desempenho dos atletas.

O comportamento de incentivar outros colegas também é mais exigido durante a presença do treinador, principalmente após um jogador errar um passe, um posicionamento, uma marcação ou um arremesso, pois isso pode ser um reforçador negativo para manter o ânimo e a calma dos atletas perante uma punição apresentada ou até mesmo não emitida pelo treinador, já que apenas sua presença em quadra pode ser o suficiente para a emissão desses operantes. O treinador titular se apresenta, em muitos momentos, como aversivo aos atletas, de modo que as contingências de reforçamento negativo operam frequentemente para que os jogadores evitem alguma punição. Porém, esse ambiente pode gerar uma série de efeitos colaterais e prejudiciais aos indivíduos. Além de não ensinar o que fazer e de eliciar comportamentos emocionais, como raiva, ansiedade, angústia, pode ocorrer uma inibição comportamental, emitindo menos operantes para evitar punições e aumentando o repertório comportamental baseado em reforçadores negativos. Assim, comportamentos de fuga e de esquiva, que têm como função eliminar ou evitar o contato com os estímulos aversivos, são cada vez mais frequentes entre os jogadores, o que acaba limitando o repertório comportamental baseado em reforçadores positivos (Mazzo, 2007Mazzo, I. M. B. (2007). Análise de possíveis efeitos desejáveis do controle aversivo na aprendizagem de comportamento eficaz [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UEL_15d34bee97acdb0091569b1c13473f14
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; Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.; Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.).

Conforme pesquisa de Lima et al. (2018Lima, J. H. O., Araldi, F. M., Maciel, L. F. P., Nascimento, R. K., Flach, M. C., & Folle, A. (2018). Perfil de liderança dos treinadores de equipes femininas de basquetebol. Corpoconsciência, 22(2), 35-47.) com atletas de basquetebol feminino, percebeu-se menos uso do reforço positivo, dados semelhantes aos relatados por Alba, Toigo e Barcellos (2010Alba, G. R., Toigo, T., & Barcellos, P. F. P. (2010). Percepção de atletas profissionais de basquetebol sobre o estilo de liderança do técnico. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 32(1), 143-159. https://doi.org/10.1590/S0101-32892010000400010
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) para a mesma modalidade esportiva, em que os treinadores não se pautavam no reconhecimento dos jogadores. Essas pesquisas, portanto, convergem com o resultado encontrado neste estudo. Esse resultado precisa ser analisado visando o desenvolvimento de intervenções com toda a comissão técnica, para o encontro de um desfecho positivo em termos de desempenho esportivo.

Para um atleta, um ambiente aversivo pode se tornar bastante prejudicial a sua performance durante as atividades, enquanto o oposto também é válido, pois o reforço positivo auxilia no bom desempenho dos atletas (Amorim et al., 2020Amorim, A. C., Nascimento Jr., J. R. A., Contreira, A. R., Granja, C. T. L., & Vieira, J. L. L. (2020). O autoconceito é um atributo interveniente no estilo de liderança de treinadores de futsal de alto rendimento? Revista Iberoamericana de Psicología del Ejercicio y el Deporte, 15(1), 7-11.; Silva & Borfe, 2019Silva, J. L. C., & Borfe, L. (2019). Atitudes e condutas emocionais dos técnicos de basquetebol: A percepção dos atletas de duas equipes do campeonato da FGB. Caderno de Educação Física e Esporte, 17(2), 57-64. https://doi.org/10.36453/2318-5104.2019.v17.n2.p57
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). Se ao errar um arremesso ou passe, o treinador faz críticas, xinga, grita ou o tira de quadra, é possível que o jogador alvo desses comportamentos deixe de tentar arremessos ou até mesmo se mantenha posicionado próximo ao marcador adversário para não se tornar uma opção de jogada, consequentemente não recebendo a bola. Isso caracteriza então um comportamento de esquiva (Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.), já que ele não só não arremessa a bola como também não se encontra em condições ideais de tentar o arremesso. Com o aumento da frequência desse tipo de comportamento, o atleta pode ser retirado da equipe titular por não mais apresentar um bom rendimento no jogo e, com a repetição desses comportamentos, o atleta deixa de jogar com maior frequência. Assim, ele deixa de ser visto por outros times que podem oferecer contratos melhores e maior visibilidade, bem como pode ser demitido da equipe em que está por baixa performance, o que é capaz de lhe gerar tristeza, angústia e ansiedade por não estar praticando uma atividade prazerosa. Assim, esse repertório acrescenta grandes prejuízos às instâncias profissional, social e pessoal do atleta, pois a punição de comportamentos apenas suprime momentaneamente a emissão da resposta e não sinaliza como o sujeito punido deveria se comportar (Mazzo, 2007Mazzo, I. M. B. (2007). Análise de possíveis efeitos desejáveis do controle aversivo na aprendizagem de comportamento eficaz [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UEL_15d34bee97acdb0091569b1c13473f14
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; Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.; Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.).

Na segunda etapa de compilação de resultados, foi possível obter a análise sequencial dos comportamentos dos atletas e da comissão técnica. Diante dos dados apresentados, podemos compreender algumas relações desses comportamentos emitidos, principalmente quando o evento ocorre entre técnico e jogadores, e entre técnico e comissão técnica.

O primeiro comportamento de maior relevância observado é o de olhar para o técnico, comportamento capaz de apresentar uma contingência reforçadora ou punitiva. Na primeira opção, o jogador que realizou contato visual com o treinador pode ter recebido uma instrução e ficou responsável por transmiti-la aos colegas de time. Por sua vez, quando olhar para o técnico é seguido por incentivo aos colegas, pode-se entender que o treinador se mostrou aversivo, xingando ou criticando algum colega do time. Assim, emitir o incentivo pode se caracterizar como um reforçador negativo, eliminando algumas consequências desse evento no atleta-alvo.

Da mesma forma, o contrário também acontece. O incentivo aos colegas geralmente é seguido por olhar para o técnico. Assim, a primeira resposta pode servir como um atenuante de comportamentos eliciados durante um possível xingamento. Olhar para o técnico, em seguida, pode se apresentar como forma de respeito ou até mesmo como um comportamento de esquiva para evitar mais críticas. As respostas emitidas em diferentes contextos são controladas pelo ambiente externo e imediato do indivíduo, assim como toda sua história de vida (Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.). Essas contingências ocorrem de forma contínua, em que o sujeito modifica o ambiente e é modificado por ele, o que é capaz de gerar comportamentos complexos (Hunziker & Samelo, 2012Hunziker, M., & Samelo, M. (2012). Controle aversivo. In N. Borges, & F. Cassas. Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 49-63). Artmed.). Ao identificar as consequências e a mudança na frequência de emissão dessas respostas, podemos entender se o evento é um reforçador ou um punidor (Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.).

O comportamento de orientar outros jogadores também foi seguido por olhar para o técnico. Aqui, pode-se entender que essa correlação se dá por meio de uma contingência de reforçamento, em que o atleta pode passar alguma instrução e confirmar se ela está correta com o técnico. Quando a orientação é seguida por incentivo, é possível destacar mais uma função reforçadora, em que se procura afirmar a jogada e dar ânimo aos colegas para que a orientação seja realizada de forma eficiente. É possível identificar que quando os atletas erram alguma jogada, os próprios jogadores se orientam e reorganizam o ambiente para que ele se torne mais reforçador. O mesmo fato acontece quando o autoincentivo e o incentivo aos colegas ocorrem sequenciados.

Outro dado relevante observado foi que o auxiliar técnico emitiu, em três eventos, Pré3, J3 e Pós3, quantidades próximas de comportamentos considerados reforçadores em comparação com o treinador titular nos oito eventos restantes. Essa correlação é mais um dado que evidencia os diferentes estilos de liderança apresentados pelos profissionais enquanto atuavam como comandantes de treinos e jogos. Dada a repetição desses comportamentos durante o período analisado, confirma-se haver um ambiente baseado em reforçamento durante esse período. Mesmo que a estratégia adotada pelos atletas seja de categoria negativa, visando eliminar ou evitar um estímulo aversivo (Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.), ela se mostra eficiente, mantendo esses operantes em vários momentos.

Nesse ponto, percebe-se que um ambiente baseado em reforçamento positivo promove respostas mais duradouras. Comportamentos dessa categoria tendem a aumentar a probabilidade de que ele ocorra após o acréscimo de algum estímulo considerado prazeroso (Hunziker & Samelo, 2012Hunziker, M., & Samelo, M. (2012). Controle aversivo. In N. Borges, & F. Cassas. Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 49-63). Artmed.; Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.). Com esse tipo de análise é possível prever e ajustar o ambiente para que ele se torne reforçador para a melhora de desempenho dos atletas. Não à toa, uma orientação clara poderá fazer com que a jogada seguinte seja executada de forma correta. Com o “sucesso” na atividade, a chance de uma orientação clara ser emitida novamente é maior no futuro. Da mesma forma agem os comportamentos de reforçamento negativo. Mesmo na presença ou até mesmo na eminência de um estímulo aversivo, comportamentos que os evitam ou os eliminam também ganham maior probabilidade de serem emitidos novamente (Mazzo, 2007Mazzo, I. M. B. (2007). Análise de possíveis efeitos desejáveis do controle aversivo na aprendizagem de comportamento eficaz [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UEL_15d34bee97acdb0091569b1c13473f14
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; Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.; Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.). Portanto, se não há uma orientação clara ou há um erro de jogada, os próprios jogadores se reúnem para analisar os erros e traçar novas estratégias para que a execução da jogada seguinte seja realizada de forma mais eficaz.

Ao analisar os dados referentes à comissão técnica, chama a atenção os poucos comportamentos emitidos por esse grupo nos momentos das gravações, pois eles ficavam apenas observando os treinos e auxiliando, em poucos momentos, os atletas que realizavam algum tipo de aquecimento ou fisioterapia, ocorrendo poucas vezes alguma intervenção nos esquemas de jogadas. Porém, ao contrário do que aconteceu no ambiente com os jogadores durante a mudança de treinadores, a comissão técnica, composta por auxiliar técnico, preparador físico e fisioterapeuta, não apresentou mudanças comportamentais significativas, executando apenas suas funções originais, como auxiliar os jogadores em aquecimentos, alongamentos, fortalecimento físico, recuperação muscular pós-jogo ou em decorrência de lesão, além de mínimas intervenções nas estratégias de jogo.

Pode-se entender então que as tarefas atribuídas a esses profissionais são muito limitadas. Isso cria uma espécie de linha invisível que impede qualquer tentativa de ultrapassá-la para realizar alguma discussão sobre outros assuntos, ignorando qualquer contribuição desses funcionários em outros aspectos de grande relevância ao esporte e àquele time em específico. Nesse caso, aplica-se um dos efeitos colaterais da punição, em que comportamentos punidos podem eliciar respostas emocionais não compatíveis com o ambiente, mesmo sem a presença do agente punidor, que, no caso, era o treinador titular da equipe (Mazzo, 2007Mazzo, I. M. B. (2007). Análise de possíveis efeitos desejáveis do controle aversivo na aprendizagem de comportamento eficaz [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UEL_15d34bee97acdb0091569b1c13473f14
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; Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.; Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.).

Diante desse contexto, entende-se que comportamentos baseados em reforçamento negativo, mais precisamente a fuga e a esquiva, também podem estar sendo emitidos por esses membros da comissão técnica a fim de evitar qualquer punição por terem saído de suas atribuições principais. Assim, aos poucos o organismo deixa de se comportar perante aquelas contingências, mesmo que momentaneamente (Mazzo, 2007Mazzo, I. M. B. (2007). Análise de possíveis efeitos desejáveis do controle aversivo na aprendizagem de comportamento eficaz [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UEL_15d34bee97acdb0091569b1c13473f14
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; Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.; Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.).

Assim que os resultados são observados de forma geral, nota-se mais uma vez a presença constante de estímulos aversivos no dia a dia da equipe, fazendo com que os repertórios dos integrantes desses grupos sejam baseados principalmente em contingências de reforçamento negativo, como comportamentos de fuga e esquiva quando estão na presença do treinador titular para, então, amenizarem as consequências do comportamento do técnico após as falhas que naturalmente ocorrem no ambiente esportivo. Como equipe, esses comportamentos podem diminuir o rendimento dos atletas durante as partidas e treinamentos, pois as possibilidades comportamentais apresentadas para aquele ambiente são de obediência ou de crítica (Mazzo, 2007Mazzo, I. M. B. (2007). Análise de possíveis efeitos desejáveis do controle aversivo na aprendizagem de comportamento eficaz [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UEL_15d34bee97acdb0091569b1c13473f14
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; Sidman, 2003Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações (2a ed.). Livro Pleno.; Skinner, 2003Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano (11a ed.). Martins Fontes.).

Conclusões

Este estudo apresentou dados estatísticos relevantes para a área da psicologia do esporte e do basquetebol ao apresentar aspectos práticos da análise do comportamento dentro do contexto esportivo. Os conceitos de punição e seus efeitos colaterais ficaram evidentes e criou-se mais um dado de mensuração para comprovar tais elementos apresentados por Skinner.

Pode-se observar que um ambiente reforçador permitiu maior autonomia e interação entre os atletas e a comissão técnica. Por outro lado, enquanto o ambiente era regido por antecedentes punidores, os integrantes da equipe pouco conseguiram discutir jogadas, diminuindo a interação entre os membros de ambos os grupos, atletas e comissão técnica.

Em termos metodológicos, o estudo apresenta também a possibilidade para novas análises de outras relações esportivas, como também de comportamentos individuais de atletas e de outros sujeitos com relevância envolvidos no mesmo contexto. Outro ponto de destaque é o software, além da metodologia utilizada neste artigo, que se mostrou abrangente, podendo ser replicada em outras pesquisas com públicos diferentes, seja dentro do contexto esportivo, como equipes de futebol, vôlei e handebol, seja em outras aplicações práticas, como no ambiente clínico, escolar, organizacional, hospitalar.

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    Agradecemos a prof. dra. Sônia Regina Fiorim Enumo pela disponibilidade em nos conceder o uso do software The Observer, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    22 Jan 2019
  • Aceito
    29 Mar 2021
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