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Evolução da salinidade em um Argissolo sob cultivo de melão irrigado por gotejamento

Evolution of salinity in Luvissol under drip irrigated melon

Resumos

Com objetivo de estudar a evolução da salinidade em Argissolo sob cultivo de melão irrigado por gotejamento com diferentes níveis de salinidade e práticas diferenciadas de manejo de irrigação, desenvolveu-se um experimento na Fazenda São João, Município de Mossoró, RN. Os tratamentos estudados se compunham da combinação de três fatores: salinidade da água de irrigação com 3 níveis (S1 - 1,2; S2 - 2,5 e S3 - 4,5 dS m-1), duas cultivares de melão (C1 - Honey Dew cultivar Orange flesh e C2 - Cantaloupe híbrido Trusty) e duas freqüências de irrigação (F1 - intervalos de um dia até os 30 dias após a semeadura (DAS) e duas vezes por dia a partir dos 30 DAS e F2 - intervalos de dois dias até os 30 DAS e uma vez por dia, a partir dos 30 DAS). O delineamento estatístico adotado foi o de blocos casualizados completos com 4 repetições e os fatores estudados foram arranjados no esquema fatorial de 3 x 2 x 2. Avaliou-se a evolução da salinidade do solo usando-se o método padrão, com uso de extratores. Os resultados mostraram que a salinidade do solo evoluiu com o tempo, estando os maiores níveis próximos de superfície do solo; a salinidade do solo atingiu o máximo na fase intermediária, tendendo a reduzir no final do ciclo do meloeiro; a evolução da salinidade do solo foi proporcional à concentração de sais na água de irrigação, independente da freqüência de irrigação. A salinidade medida com o extrator e corrigida pela umidade atual do solo foi equivalente à salinidade determinada pelo método padrão.

condutividade elétrica; manejo de água; Cucumis melo L.


A study was carried out at "São João" Farm to evaluate the evolution of soil salinity under drip irrigated melon crop, using different water salinity levels and irrigation management in the municipality of Mossoró-RN. The treatments were composed of combination of three factors consisting of three levels of water salinity (S1 - 1.2, S2 - 2.5 and S3 - 4.5 dS m-1), two cultivars of melon (C1 - Honey Dew cultivar Orange flesh and C2- cantaloupe hybrid Trusty) and two frequencies of irrigation (F1 - intervals of one day up to 30 days after sowing (DAS) and thereafler twice a day and F2 - interval of two days up to 30 DAS and thereafler daily). The experiment was conducted in a randomized block design, with four replications, arranged in 3 x 2 x 2 factorial scheme. The evolution of soil salinity was evaluated using conventinal and soil solution extraction methods. Results showed that soil salinity increased with time, higher salinity levels being observed near to the soil surface and drippers. Soil salinity tended to attain equilibrium towards the end of the melon crop and that the evolution of the soil salinity was proportional to salt concentration of the irrigation water independent of the irrigation frequency. The salinity observed in soil solution extraction method after correction for moisture content was comparable to salinity determined by conventional method.

electrical conductivity; water management; Cucumis melo L.


MANEJO DE ÁGUA E SOLO

Evolução da salinidade em um Argissolo sob cultivo de melão irrigado por gotejamento1 1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada a UFCG. Pesquisa financiada pelo Programa Avança Brasil-Convênio Embrapa-ESAM.

Evolution of salinity in Luvissol under drip irrigated melon

Nildo da S. DiasI; José F. de MedeirosII; Hans R. GheyiIII; Francisco V. da SilvaIII; Adilson D. de BarrosIII

IEmbrapa MEIO NORTE, CP 01, CEP 64006-220, Teresina, PI. Fone: (86) 225-1141. E-mail: nisdias@cpamn.embrapa.br

IIESAM, ENA, CP 137, CEP 59625-900, Mossoró, RN. Fone: (84) 321-2100. E-mail: jfmedeir@esam.br

IIIUFCG/CCT/DEAg. CP 10087, CEP 58109-970. Fone: (83) 310-1055. E-mail: hans@deag.ufcg.edu.br

RESUMO

Com objetivo de estudar a evolução da salinidade em Argissolo sob cultivo de melão irrigado por gotejamento com diferentes níveis de salinidade e práticas diferenciadas de manejo de irrigação, desenvolveu-se um experimento na Fazenda São João, Município de Mossoró, RN. Os tratamentos estudados se compunham da combinação de três fatores: salinidade da água de irrigação com 3 níveis (S1 - 1,2; S2 - 2,5 e S3 - 4,5 dS m-1), duas cultivares de melão (C1 - Honey Dew cultivar Orange flesh e C2 - Cantaloupe híbrido Trusty) e duas freqüências de irrigação (F1 - intervalos de um dia até os 30 dias após a semeadura (DAS) e duas vezes por dia a partir dos 30 DAS e F2 - intervalos de dois dias até os 30 DAS e uma vez por dia, a partir dos 30 DAS). O delineamento estatístico adotado foi o de blocos casualizados completos com 4 repetições e os fatores estudados foram arranjados no esquema fatorial de 3 x 2 x 2. Avaliou-se a evolução da salinidade do solo usando-se o método padrão, com uso de extratores. Os resultados mostraram que a salinidade do solo evoluiu com o tempo, estando os maiores níveis próximos de superfície do solo; a salinidade do solo atingiu o máximo na fase intermediária, tendendo a reduzir no final do ciclo do meloeiro; a evolução da salinidade do solo foi proporcional à concentração de sais na água de irrigação, independente da freqüência de irrigação. A salinidade medida com o extrator e corrigida pela umidade atual do solo foi equivalente à salinidade determinada pelo método padrão.

Palavras-chave: condutividade elétrica, manejo de água, Cucumis melo L.

ABSTRACT

A study was carried out at "São João" Farm to evaluate the evolution of soil salinity under drip irrigated melon crop, using different water salinity levels and irrigation management in the municipality of Mossoró-RN. The treatments were composed of combination of three factors consisting of three levels of water salinity (S1 - 1.2, S2 - 2.5 and S3 - 4.5 dS m-1), two cultivars of melon (C1 - Honey Dew cultivar Orange flesh and C2- cantaloupe hybrid Trusty) and two frequencies of irrigation (F1 - intervals of one day up to 30 days after sowing (DAS) and thereafler twice a day and F2 - interval of two days up to 30 DAS and thereafler daily). The experiment was conducted in a randomized block design, with four replications, arranged in 3 x 2 x 2 factorial scheme. The evolution of soil salinity was evaluated using conventinal and soil solution extraction methods. Results showed that soil salinity increased with time, higher salinity levels being observed near to the soil surface and drippers. Soil salinity tended to attain equilibrium towards the end of the melon crop and that the evolution of the soil salinity was proportional to salt concentration of the irrigation water independent of the irrigation frequency. The salinity observed in soil solution extraction method after correction for moisture content was comparable to salinity determined by conventional method.

Key words: electrical conductivity, water management, Cucumis melo L.

INTRODUÇÃO

O meloeiro é uma cultura exigente em temperaturas noturnas e diurnas elevadas durante todo o seu ciclo de cultivo. Altas temperaturas e baixa umidade do ar elevam consideravelmente o teor de açúcares nos melões, tornando-os mais saborosos e aromáticos, consistentes e com maior vida útil pós-colheita. Tais características justificam o sucesso da cultura em regiões de climas quentes, como a região Nordeste, especificamente no Estado do Rio Grande do Norte (Negreiros et al., 2003).

Por outro lado e devido à escassez de chuvas nessas regiões, a prática de irrigação constitui uma das alternativas fundamentais para garantir a produção das áreas cultivadas; no entanto, quando não se tem um manejo adequado da irrigação, pode ocorrer a salinização do solo, tornando-o improdutivo em curto espaço de tempo (Oliveira, 1997). Este problema ocorre em quase todos os perímetros irrigados do Nordeste; estima-se que cerca de 25 a 30% das áreas dos perímetros irrigados do DNOCS estejam salinizados (DNOCS, 1991).

No Estado do Rio Grande do Norte, a água utilizada para irrigação, na região produtora de melão, provém de poços artesianos profundos que, embora de boa qualidade, apresenta alto custo de obtenção, o que impossibilita o seu uso por grande parte dos produtores e os fazem buscar fontes alternativas de água, como poços abertos no calcário Jandaíra, reduzindo consideravelmente seu custo; entretanto, esta fonte de água tem o inconveniente de apresentar níveis elevados de sais, podendo trazer, como conseqüência, a salinização dos solos, além de prejudicar o rendimento das culturas mais sensíveis; além disso, devido à elevada concentração de bicarbonato de cálcio na água (Medeiros et al., 2003) pode tornar o solo alcalino.

Desta forma, o uso de água na irrigação, enquanto contribui de maneira significativa para o aumento da produtividade, em determinadas situações, sobretudo em zonas de clima árido e semi-árido, pode resultar em acúmulo do teor de sais no solo. O excesso de sais no solo reduz a disponibilidade de água para as plantas, além de trazer problemas como o efeito de íons tóxicos específicos sobre a fisiologia vegetal, a tal ponto de afetar seu rendimento e a qualidade de sua produção (Dias et al., 2003).

A prática de irrigação deve ser usada de forma racional, uma vez que as condições de clima do Nordeste (altas temperaturas e baixa pluviosidade) e os elevados teores de sais nas águas de irrigação, têm causado problemas de salinidade nos solos. De acordo com Medeiros & Gheyi (1997) o nível de salinidade dos solos deve ser sempre inferior ao nível nocivo às plantas cultivadas; assim, o monitoramento direto da salinidade na zona radicular é recomendado para avaliar a eficiência dos diversos programas de manejo nas áreas irrigadas.

A salinidade do solo pode ser determinada a partir de medidas de condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), considerado método padrão, ou da condutividade do extrato em diferentes relações solo:água (Richards, 1954). Em campo, vários métodos são disponíveis para determinar e avaliar a salinidade, como técnica de indução eletromagnética, "four-electrode probes", "time domain reflectometry-TDR" (Rhoades, 1994) e, ainda, mediante o uso de extratores (Silva, 2002). Cada um desses métodos apresenta vantagens e desvantagens, sendo que o uso de extratores é, atualmente, o mais recomendado, uma vez que a condutividade elétrica (CE) obtida por este método reflete as condições reais em que a planta se desenvolve, de vez que a salinidade média da água contida na zona radicular (CEzr) é a que deve ser tolerada pelas plantas (Ayers & Westcot, 1991).

Levando-se em consideração esses aspectos objetivou-se, neste trabalho, estudar a evolução da salinidade em um Argissolo sob cultivo de melão irrigado com águas de diferentes salinidades e práticas diferenciadas de manejo da irrigação, bem como avaliar o uso de extratores na determinação da salinidade do solo.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido na área experimental da Fazenda São João Ltda, localizada no km 4 da rodovia RN-15, no município de Mossoró, RN, no período de 15 de setembro a 30 de novembro de 2000. Mossoró está situado na Latitude 5° 11'S, Longitude 37º 20'W, com altitude de 18 m e, segundo a classificação de Koppen, possui clima do tipo BSwh', isto é, seco, muito quente e com estação chuvosa no verão, atrasando-se para o outono (Carmo Filho, 1989).

O solo é classificado como Argissolo Vermelho Amarelo, correspondendo ao Podzólico Vermelho Amarelo Eutrófico latossólico da antiga classificação, textura franco-argilo-arenosa, fase caatinga hiperxerófila (SUDENE, 1968). A análise física encontra-se descrita na Tabela 1.

Os tratamentos estudados foram compostos da combinação de três fatores: salinidade da água de irrigação com 3 níveis (S1 - 1,2; S2 - 2,5 e S3 - 4,5 dS m-1), duas cultivares de melão (C1 - Honey Dew cultivar Orange flesh e C2 - Cantaloupe híbrido Trusty) e duas freqüências de irrigação (F1 - intervalos de um dia até os 30 dias após a semeadura (DAS) e duas vezes por dia, a partir dos 30 DAS e F2 - intervalos de dois dias até os 30 DAS e uma vez por dia, a partir dos 30 DAS). O delineamento estatístico adotado foi o de blocos inteiramente casualizados completos com quatro repetições e os fatores estudados foram arranjados no esquema fatorial de 3 x 2 x 2.

A água de menor salinidade (S1) se compunha da mistura de 70% da água proveniente de um poço artesiano profundo (CE - 0,6 dS m-1) e 30% de água de salinidade intermediária (S2) proveniente de um poço do aqüífero calcário (CE - 2,5 dS m-1), enquanto a água de maior salinidade (S3) foi obtida acrescentando-se, na água S2 NaCl em proporção de 1 kg m-3. A análise química das águas utilizadas no experimento está descrita na Tabela 2.

O plantio foi realizado no dia 15 de setembro de 2000, utilizando-se o espaçamento de 2 m entre linhas de plantas e 0,60 m entre covas, com duas sementes por cova, correspondendo a uma população de plantio de 16.667 plantas ha-1.

O sistema de irrigação adotado foi o de gotejamento, com emissores do tipo autocompensante e vazão nominal de 3,75 L h-1, previamente avaliados no campo, sob condições normais de operação, apresentando um coeficiente de variação de vazão de 6,33% e vazão de 4,12 L h-1.

A irrigação foi realizada de modo a repor a evapotranspiração da cultura estimada para cada fase de desenvolvimento da planta, a partir da evapotranspiração de referência (ETo) pelo método de Penman-Monteith e coeficiente de cultura para a irrigação localizada, proposto pela FAO (Allen et al., 1998) acrescida de 10% e ajustadas com base no monitoramento da umidade do solo com o uso de tensiômetros instalados nas profundidades de 0,15; 0,30 e 0,45 m em raio de 0,15 m da planta e do gotejador, na região central de cada parcela experimental de dois blocos.

As adubações foram realizadas diariamente mediante fertigação, seguindo-se o cronograma da Fazenda São João, com base na necessidade da cultura, a partir do sétimo dia após a semeadura até, o enchimento dos frutos. As quantidades totais de N, P2O5 e K2O utilizadas até o final do ciclo, foram 230; 248 e 423 kg ha-1, respectivamente, utilizando-se nitrato de amônio, uréia, ácido fosfórico e nítrico e sulfato e nitrato de potássio.

Para estimar a variação da CE dentro do bulbo úmido pelo método de extratores de solução, instalou-se uma bateria com 9 extratores por tratamento a 0,15; 0,30 e 0,45 m de profundidade e a uma distância de 0; 0,20 e 0,40 m da linha do gotejador. Para obtenção do extrato, no dia anterior ao da coleta era retirado o ar de dentro dos extratores, introduzindo-se uma agulha com seringa de 60 mL na borracha especial de vedação, criando uma sucção interna de aproximadamente 30 kPa. O extrato (solução do solo) foi coletado três dias consecutivos por semana, ao longo do ciclo da cultura, e as amostras conduzidas ao Laboratório de Irrigação e Salinidade da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, para se efetuar as leituras de condutividade elétrica. Após a terceira leitura semanal, os extratores eram preenchidos com água destilada, passando a funcionar como tensiômetros, nos quais se realizavam leituras três vezes por dia, às 6:00, 13:00 e 17:00 h, até os 72 dias após o plantio.

A determinação da salinidade do solo pelo método convencional, foi feita para as camadas 0-0,15, 0,15-0,30 e 0,30-0,45 m, no início (21 DAS), aos 45 DAS e no final do ciclo (70 DAS). As amostras de solo em cada parcela experimental, se constituíram de amostras compostas de 3 pontos a 15 cm do gotejador, em forma de triângulo.

A salinidade do solo (condutividade elétrica do extrato de saturação - CEes), a exemplo de Rhoades & Miyamoto (1990) e Medeiros (1998) foi estimada a partir da CE1:2 (solo-água) mediante uma equação de regressão, determinada a partir de medidas dessas CE’s obtidas em parte das amostras representando todas as épocas e profundidades de amostragem e tratamentos.

As equações de regressão adotadas para obtenção da condutividade elétrica do extrato de saturação, foram CEes = 7,19 (CE1:2) + 0,09 (r2 = 0,96) para as camadas de 0-0,15 e 0,15- 0,30 m e CEes = 4,59 (CE1:2) + 0,54 (r2 = 0,97) para a camada 0,30-0,45 m.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Evolução da salinidade na zona radicular do meloeiro

A evolução da salinidade do solo em diferentes camadas, durante o ciclo do melão, para as diferentes salinidades de água de irrigação, é mostrada na Figura 1. Maiores valores de salinidade foram observados para as camadas superficiais, ao longo do ciclo. Nota-se ainda que, a partir dos 21 DAS, para todas as amostras efetuadas, a salinidade do solo nas parcelas irrigadas com água de maior salinidade foi superior à da água menos salina, em todas as camadas de solo. Considerando-se que em diferentes tratamentos se aplicaram as lâminas de águas semelhantes, tal fato pode ser explicado pela maior quantidade de sais adicionados ao solo, quando irrigado com salinidade elevada (CEa - 4,5 dS m-1).


No geral, os tratamentos proporcionaram curvas de salinização aproximadamente paralelas entre as camadas de solo, com um aumento entre 21 e 45 dias e redução para o final do ciclo. A redução nos valores de salinidade do solo, em cada camada, pode ser atribuída à posição do bulbo úmido em que foi monitorada, aproximadamente 0,15 m do seu centro, região esta onde ocorre lixiviação, seja na vertical como na horizontal (Medeiros, 1998), levando os sais para a periferia mais distante, ou seja, fora da área onde ocorreu a monitoração da salinidade.

Um outro fator que ocasionou esta redução foi, sem dúvida, a diminuição na evapotranspiração, devido à perda da folhagem da cultura na fase final do ciclo, sendo a lâmina de água diária superestimada, ocasionando maior lixiviação dos sais para as camadas mais profundas; além disso, a maior área coberta pelo bulbo no final do ciclo fez com que o ponto de amostragem ficasse na região de maior lixiviação, como já comentado. Tal fato está de acordo com Medeiros (1998) ao afirmar que a principal influência da irrigação com água salina é produzir valores de salinidade do solo maiores a partir do início do cultivo. Gurgel et al. (2003) trabalhando com evolução da salinidade em solo similar na região de Mossoró, RN, também verificaram de forma semelhante o aumento da salinidade ao longo do ciclo do meloeiro.

Na Tabela 3 estão apresentados resumo da análise da variância e valores médios da salinidade do solo ao longo do tempo, para as profundidades de 0-0,15; 0,15-0,30 e 0,30-0,45 m, aos 21, 45 e 72 dias após a semeadura. Verifica-se que a salinidade da água afetou, de forma significativa (p < 0,05) a salinidade do solo, exceto para as camadas 0,30-0,45 m aos 21 DAS e 0,15-0,30 m aos 45 e 72 DAS, com aumento proporcional à salinidade da água de irrigação.

Em relação à freqüência de irrigação, observou-se tendência de maior acúmulo de sais nas irrigações com menor freqüência (F2) no final do ciclo, sobretudo na camada superficial devido, provavelmente, ao fato das irrigações mais freqüentes aumentarem a evaporação na superfície do solo, resultando em uma evapotranspiração maior e em conseqüência, maior volume de água aplicado por irrigação, culminando em um aumento global na salinidade do solo. Conforme Bernstein & François (1973) sob condições de equilíbrio o aumento da freqüência de irrigação resulta em uma mudança para cima do pico de salinidade no perfil de distribuição de sais, fazendo com que aumente a concentração média de sais na porção superior da zona radicular. Com irrigação menos freqüente, as lâminas de água aplicadas por evento de irrigação são maiores, aumentando o movimento lateral e vertical da água.

Em geral, a salinidade média do solo, para todos os níveis de salinidade de água diminuiu com a profundidade. Nota-se que a irrigação com água S1 resultou numa salinidade aos 21 DAS, na camada 0-0,15 m, de 2,24 dS m-1, estando no limite de tolerância de salinidade a cultura do melão, que é de 2,2 dS m-1, conforme Pizarro (1978).

Santos (1997), estudando os efeitos de níveis de salinidade de água e de lâminas de irrigação na evolução da salinidade do solo, concluiu que houve acúmulos de sais no solo, nas três profundidades estudadas, sendo diretamente proporcionais aos níveis de água de irrigação. Medeiros (1998), Silveira (1999) e Blanco & Folegatti (2002), demonstraram que o acúmulo de sais é maior na camada superficial do solo, quando são feitas irrigações localizadas durante períodos curtos.

Como se previa, os valores de salinidade do solo foram mais altos que a salinidade das águas, sobretudo para as duas águas menos salinas, pelo fato dos adubos aplicados via fertigação terem contribuído para elevar a salinidade da água, além da fração de lixiviação utilizada ser baixa (projetada @ 0,10). Neste caso, o excesso de água "apenas" proporcionou aumento do diâmetro do bulbo molhado, uma vez que o solo, a partir dos 0,4 m de profundidade, apresenta um horizonte com baixa condutividade hidráulica. De acordo com Keller (1966) o acúmulo de sais na zona radicular das culturas irrigadas depende da concentração de sais na água, do método de aplicação, da precipitação pluviométrica e das características do solo.

Fertilizantes em dosagens maiores aplicados entre os 35 e 45 DAS, aumentaram não apenas a salinidade da água de irrigação mas, também, a própria salinidade do solo, fato este que pode ser, em parte, responsável pela salinidade máxima observada aos 45 DAS. Os valores dos coeficientes lineares das equações apresentadas na Figura 2 refletem a salinidade proveniente dos adubos, pois na CE da água, quando foi feita a análise de regressão, não se somou a advinda dos adubos, que atingiu valores maiores que 0,6 dS m-1; além disso, refletem a possível precipitação dos sais (CaCO3) haja vista a elevada concentração de Ca++ e HCO3 - nas águas S2 e S3.


Salinidade no bulbo úmido, medida por extratores

Na Tabela 4 estão apresentadas as médias da condutividade elétrica para a camada de 0-0,45 m, medidas por extratores a 0; 0,20 e 0,40 m do gotejador para as diferentes salinidades de água de irrigação e épocas. Maiores valores de salinidade foram observados próximos aos gotejadores e, a medida em que o tempo foi passando, a salinidade média no perfil cresceu para a periferia (0,40 m do gotejador), porém ficando ainda inferior ao valor obtido próximo do gotejador.

A salinidade do solo na camada de 0-0,45 m aumentou linearmente com a elevação da salinidade água de irrigação ao longo do ciclo da cultura do melão (Figura 3), com redução no final do ciclo (72 dias). Comportamento semelhante foi observado na avaliação da salinidade do solo, medida através do método padrão (Figura 2).


Na Figura 4 estão apresentadas as curvas de evolução da salinidade do solo expressa em condutividade elétrica determinada por meio de análise de solo na camada 0 - 0,45 m, (método padrão) e a obtida por extratores em campo, localizadas a 0 e 0,20 m do gotejador para diferentes tratamentos. Observa-se semelhança entre as curvas da salinidade do solo, pelo método padrão e pelos extratores em campo, sendo a última superior em todas os níveis de salinidade da água, o que já era esperado, pelo fato do extrator retirar a solução quando o solo está próximo à capacidade de campo ou abaixo deste ponto de umidade (ym < -10 kPa) sendo o teor de umidade no solo menor que no ponto de saturação, fazendo com que uma diluição dos sais presentes na solução, diminuindo a concentração salina e, conseqüentemente, a condutividade elétrica; outrossim, a salinidade medida utilizando-se os extratores, é pontual (apenas ao redor da cápsula), enquanto no método padrão a amostragem representa a média de uma camada de solo.


Na Tabela 5 tem-se o valor médio da umidade no momento da extração da solução no solo (qas), da umidade de saturação do solo (qss) e da relação entre qas e qss, para os diferentes níveis de salinidade de água de irrigação, aos 21, 45 e 72 DAS. Vê-se que a média da umidade de saturação do solo é aproximadamente 1,67 vez maior que a umidade atual do solo, ou seja, qss = 1,67 x qas ou qas/qss = 0,60. Deste modo, a condutividade elétrica medida nos extratores é mais ou menos igual a 1,67 vez a condutividade elétrica do extrato de saturação estimado, ou seja, CEext = 1,67 CEes. De acordo com Ayers & Westcot (1991) o solo de textura média tem umidade à capacidade de campo quase igual à metade da condição de saturação (qcc = 0,5 x qss); assim, a relação entre a umidade atual do solo e a capacidade de campo observada no presente estudo é coerente, uma vez que o solo estudado apresenta textura arenosa para a camada de 0 a 0,30 m e a umidade no solo foi mantida próxima à capacidade de campo, mediante irrigações freqüentes.

A razão entre qas e qss aproxima-se do valor do coeficiente angular da reta encontrada na relação entre a CEext e a CEes (Figura 5) que foi de 0,70. Silva et al. (2000), também verificaram que a CE obtida por extratores corrigidos para umidade de saturação, equivale à CE do extrato de saturação medida pelo método padrão.


CONCLUSÕES

1. A salinidade do solo tende a diminuir a partir da metade do ciclo cultural do meloeiro.

2. Evolução da salinidade do solo é proporcional à concentração de sais da água de irrigação, independente da freqüência de irrigação.

3. A irrigação com água de menor nível de salinidade resulta numa salinidade final na camada de 0 - 0,15 m, próxima ao limite de tolerância da cultura do meloeiro à salinidade.

4. A condutividade elétrica do extrato de saturação do solo é igual 0,70 vezes a condutividade elétrica da solução obtida com extrator de cápsula porosa (CEes = 0,7 x CEext + 1,82) aproximando-se da razão entre a umidade de saturação e a atual do solo.

LITERATURA CITADA

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  • 1
    Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada a UFCG. Pesquisa financiada pelo Programa Avança Brasil-Convênio Embrapa-ESAM.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Jan 2005
    • Data do Fascículo
      Dez 2004

    Histórico

    • Recebido
      16 Jan 2002
    • Aceito
      02 Abr 2004
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