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Condutividade hidráulica, porosidade, resistência mecânica e intervalo hídrico ótimo em Latossolos artificialmente compactados

Hydraulic conductivity, porosity, mechanical resistance and least limiting water range in artificially compacted Oxisols

Resumos

A quantificação do impacto do uso e do manejo na compactação do solo, é fundamental no desenvolvimento de sistemas agrícolas sustentáveis. Objetivou-se, no trabalho realizado com amostras de dois Latossolos argilosos, quantificar a condutividade hidráulica em meio saturado, a macro e a microporosidade em resposta ao índice de compactação definido pela relação entre a densidade do solo e a densidade máxima determinada pelo ensaio de compactação de Proctor, além de quantificar a resistência à penetração em resposta ao indice de compactação no intervalo de -60 a -15.000 hPa e calcular o intervalo hídrico ótimo. As unidades experimentais foram cilindros de solo artificialmente compactados em laboratório para atingir índices de compactação no intervalo de 0,70 a 1,0. Os resultados mostraram a importância do uso desse índice na comparação de características de solos em que os valores absolutos da sua densidade apresentam acentuada divergência. O índice de compactação na faixa de 0,70 a 0,85 não oferece restrições ao crescimento das plantas. Valores superiores indicam, inicialmente, restrições à aeração do solo e, quando excedem 0,95, impedimento ao crescimento de raízes pela resistência à penetração.

índice de compactação; ensaio de compactação de Proctor; densidade do solo; potencial mátrico


The evaluation of the impact of use and management on soil compaction is critical in the development of sustainable agricultural systems. The objective of this study was to conduct with two samples of two clayey Oxisols, quantification of the saturated hydraulic conductivity, the macro and the micro porosity in response to compaction index, defined by the relationship between soil bulk density and maximum density determined by Proctor compaction test. The penetration resistance in response to compaction index between -60 and -15,000 hPa was also quantified, and calculated the least limiting water range. The experimental units were artificially compacted soil cores in laboratory, in order to achieve compaction indexes between 0.70 and 1.0. The results showed the importance of this index when comparing characteristics of soil in which the absolute values of bulk density exhibit marked divergence. The compaction index between 0.70 and 0.85 offers no restrictions to plant growth. Higher values indicate restrictions with respect to soil aeration, and when the values exceed 0.95, the penetration resistance impedes root growth.

compaction index; Proctor compaction test; bulk density; atric potential


MANEJO DE SOLO, ÁGUA E PLANTAS

Condutividade hidráulica, porosidade, resistência mecânica e intervalo hídrico ótimo em Latossolos artificialmente compactados

Hydraulic conductivity, porosity, mechanical resistance and least limiting water range in artificially compacted Oxisols

Euriel Millan R.I; Hugo A. RuizII; Raphael B. A. FernandesIII; Liovando M. da CostaIV

I Faculdade de Engenharia, Universidade de Sucre, Colômbia. E-mail: euriel.millan@unisucre.edu.co

IICCA/UFES, Alegre, ES. E-mail: hruiz@ufv.br. Bolsista CAPES e CNPq

IIIDPS/UFV, Viçosa, MG. E-mail: raphael@ufv.br (Autor correspondente)

IVDPS/UFV, Viçosa, MG. E-mail: liovandomc@yahoo.com.br

RESUMO

A quantificação do impacto do uso e do manejo na compactação do solo, é fundamental no desenvolvimento de sistemas agrícolas sustentáveis. Objetivou-se, no trabalho realizado com amostras de dois Latossolos argilosos, quantificar a condutividade hidráulica em meio saturado, a macro e a microporosidade em resposta ao índice de compactação definido pela relação entre a densidade do solo e a densidade máxima determinada pelo ensaio de compactação de Proctor, além de quantificar a resistência à penetração em resposta ao indice de compactação no intervalo de -60 a -15.000 hPa e calcular o intervalo hídrico ótimo. As unidades experimentais foram cilindros de solo artificialmente compactados em laboratório para atingir índices de compactação no intervalo de 0,70 a 1,0. Os resultados mostraram a importância do uso desse índice na comparação de características de solos em que os valores absolutos da sua densidade apresentam acentuada divergência. O índice de compactação na faixa de 0,70 a 0,85 não oferece restrições ao crescimento das plantas. Valores superiores indicam, inicialmente, restrições à aeração do solo e, quando excedem 0,95, impedimento ao crescimento de raízes pela resistência à penetração.

Palavras-chave: índice de compactação, ensaio de compactação de Proctor, densidade do solo, potencial mátrico

ABSTRACT

The evaluation of the impact of use and management on soil compaction is critical in the development of sustainable agricultural systems. The objective of this study was to conduct with two samples of two clayey Oxisols, quantification of the saturated hydraulic conductivity, the macro and the micro porosity in response to compaction index, defined by the relationship between soil bulk density and maximum density determined by Proctor compaction test. The penetration resistance in response to compaction index between -60 and -15,000 hPa was also quantified, and calculated the least limiting water range. The experimental units were artificially compacted soil cores in laboratory, in order to achieve compaction indexes between 0.70 and 1.0. The results showed the importance of this index when comparing characteristics of soil in which the absolute values of bulk density exhibit marked divergence. The compaction index between 0.70 and 0.85 offers no restrictions to plant growth. Higher values indicate restrictions with respect to soil aeration, and when the values exceed 0.95, the penetration resistance impedes root growth.

Keywords: compaction index, Proctor compaction test, bulk density, matric potential

INTRODUÇÃO

Associada ao crescimento das plantas, a qualidade física do solo é determinada fundamentalmente pela disponibilidade de água e ar e pela resistência que a matriz do solo oferece ao crescimento das raízes. Alterações significativas que ocorram na estrutura do solo em resposta à compactação, entre outras, provocarão mudanças na relação solo-água-ar e na resistência mecânica e, em consequência, no crescimento dos vegetais em resposta às características físicas do solo (Ahmad et al., 2009; Fernández et al., 2010; Kim et al., 2010; Weisskopf et al., 2010).

Estudos relativos ao processo de compactação têm utilizado ensaios frequentemente desenvolvidos para uso em mecânica de solos (Lipiec & Hatano, 2003; Duruoha et al., 2008; Reichert et al., 2009; Saffih-Hdadi et al., 2009). Exemplo disto é a aplicação do ensaio de compactação de Proctor (ECP) ainda pouco utilizado em estudos de solos tropicais com fins agrícolas. Com dados do ECP, Barber et al. (1989) propuseram a utilização do índice de compactação (IC) calculado pela relação entre a densidade do solo (DS) e a densidade máxima determinada no ECP (DMP).

O penetrômetro é instrumento utilizado para avaliar o estado de estrutura do solo e a eventual restrição ao crescimento das raízes. Suas medidas são afetadas pelo conteúdo de água, pela composição granulométrica do solo e sua mineralogia (Moraes et al., 2014). Têm sido propostos valores críticos de impedância mecânica para diferentes solos e plantas, geralmente na faixa de 1 a 3 MPa (Taylor et al., 1966; Gerard et al., 1982; Pérez & Diaz-Fierros, 1989).

Outro indicador utilizado para a avaliação da qualidade física do solo é o Intervalo de Água Não Limitante (Non-limiting Water Range), proposto por Letey (1985). Esta característica foi denominada Intervalo Hídrico Ótimo (IHO) (Least Limiting Water Range) e sua aplicação aprofundada por Silva et al. (1994). Esses autores a definiram como a faixa de conteúdo de água associada com o potencial matricial, a aeração e a resistência mecânica, em que ocorrem limitações físicas mínimas para o crescimento das plantas. A vantagem fundamental da utilização do IHO para avaliar a qualidade física do solo é a integração, em única representação, de características físicas diretamente relacionadas ao crescimento das plantas.

O objetivo deste trabalho, realizado com amostras de um Latossolo Vermelho argiloso e de um Latossolo Vermelho-Amarelo muito argiloso, foi quantificar, em laboratório, a condutividade hidráulica em meio saturado, a macro e a microporosidade em resposta ao incremento artificial do IC; determinar a resistência à penetração (RP) em relação ao IC e ao potencial de água do solo e delimitar o IHO.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas amostras de um Latossolo Vermelho (LV), do município de Capinópolis, MG, e um Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA), do município de Viçosa, MG. As amostras foram retiradas nas profundidades de 40 a 60 cm e, na sequência, secadas ao ar, passadas em peneira de 2 mm e caracterizadas fisicamente (Tabela 1).

A caracterização mineralógica da fração argila evidenciou predomínio de caulinita e proporções menores de gibbsita, goethita e hematita

As unidades experimentais utilizadas no ensaio foram tubos cilíndricos de aço inoxidável, de 4,8 cm de diâmetro e 5,0 cm de altura, preenchidos com amostra de solo até 3,0 cm. Em todos os ensaios foram testados quatro IC: 0,7, 0,8, 0,9 e 1,0. Quantidades de amostras peneiradas em malha de 2 mm, previamente calculadas para formar cilindros de 4,8 cm de diâmetro e 3,0 cm de altura nos IC estabelecidos, receberam volume de água correspondente à umidade crítica de compactação (Tabela 1) e foram compactadas através de prensa hidráulica.

A condutividade hidráulica em meio saturado foi determi-nada segundo um arranjo fatorial de dois solos (LV e LVA) e quatro IC (0,7; 0,8; 0,9 e 1,0), num delineamento experimental inteiramente casualizado com quatro repetições.

As unidades experimentais, preparadas da forma previamen-te indicada, foram saturadas por 48 h. Seguidamente, foram colocadas em permeâmetros de carga constante para determinar a condutividade hidráulica em meio saturado (Freire et al., 2003).

Finalizado o ensaio, a unidade experimental foi imedia-tamente transferida à mesa de tensão para determinar a microporosidade, por equilíbrio a tensão de 60 cm de coluna de água, por 48 h (EMBRAPA, 1997). A umidade base gravimétrica da amostra multiplicada pela DS correspondente a cada IC de trabalho permitiu calcular a umidade base volumétrica, valor correspondente à microporosidade. A porosidade total foi calculada subtraindo-se, da unidade, a relação entre a DS e a densidade de partículas e a macroporosidade, subtraindo-se a microporosidade da porosidade total.

Os resultados experimentais foram analisados estatistica-mente comparando-se os solos pelo teste F e a resposta ao IC, para cada solo, por meio de equações de regressão.

A RP foi determinada segundo um arranjo fatorial de dois solos (LV e LVA), quatro IC (0,7; 0,8; 0,9 e 1,0) e cinco potenciais matriciais (-60, -100, -300, -1.000 e -15.000 hPa), num delineamento experimental inteiramente casualizado com três repetições.

As unidades experimentais, preparadas da forma previa-mente indicada, foram saturadas por 48 h. Seguidamente, as correspondentes aos tratamentos de -60 e -100 hPa foram colocadas em mesa de tensão e as de -300, -1.000 e -15.000 hPa, em equipamento de placa de pressão. Após 72 h determinou-se a RP por meio de um penetrômetro de bancada. Os gráficos gerados permitiram determinar a RP em toda a profundidade do cilindro de solo (3 cm). Os dados utilizados correspondem à RP determinada 1,5 cm de profundidade.

Os resultados experimentais foram analisados estatistica-mente comparando-se os solos pelo teste F e a resposta ao IC e ao potencial, para cada solo, por meio de superfícies de resposta.

Quatro curvas foram representadas para determinar o IHO utilizando-se a DS, calculada multiplicando-se o IC pela DMP (Tabela 1) como variável independente. As variáveis dependentes foram a porosidade de aeração superior a 0,10 m3 m-3 (PA>10) e os conteúdos de água base volumétrica determinados a -100 hPa (θCC), a -15.000 hPa (θPMP) e aquele em que a resistência mecânica do solo é de 1,0 MPa (θRP). A PA>10 foi calculada com base na DMP e na densidade de partículas (DP), para os diferentes IC, pela Eq. 1.

O conteúdo de água base volumétrica (θ) foi calculado a partir do conteúdo de água base gravimétrica (U), pela Eq. 2.

O IHO foi delimitado na porção superior, pelas equações calculadas para θCC e para PA>10 e na porção inferior pelas equações calculadas para θPMP e para θRP. A superfície entre o menor valor da porção superior e o maior valor da porção inferior delimitou o IHO.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O menor IC utilizado (0,70), quando multiplicado pelas respectivas DMP (Tabela 1), resultou em valores de 1,15 e 0,96 kg dm-3 para o LV e o LVA, respectivamente. Na comparação com aqueles apresentados na caracterização, determinados pelo método da proveta, observam-se valores de 1,16 e 0,97 kg dm-3 (Tabela 1) sugerindo que em ensaios de compactação de solos valores de IC próximos a 0,70 seriam utilizados apropriadamente como representativos de condições próximas às normalmente encontradas em Latossolos não cultivados.

Os valores da condutividade hidráulica em meio saturado (K0), da macroporosidade (PM) e da microporosidade (Pm), determinados em resposta ao IC, para os dois solos estudados (LV e LVA), são apresentados na Tabela 2.

Diferenças estatísticas significativas na comparação dos solos podem ser atribuídas, fundamentalmente, aos baixos valores dos coeficientes de variação: 3,74, 1,75 e 0,60% para as três determinações, respectivamente.

A K0 decresceu acentuadamente com o IC nos dois solos estudados (Figura 1).


Como o movimento de água em meio saturado se realiza através dos grandes poros (Soracco et al., 2012), a diminuição de K0 deveria associar-se com tendência semelhante na PM, como mostrado também na Figura 1. Quando relacionada K0 com PM e Pm, os coeficientes de correlação linear simples foram de 0,978** e -0,351ns, respectivamente.

Da análise das duas equações de regressão para PM e Pm (Figura 1), verifica-se que PM apresenta declividade com sinal negativo sendo positiva para Pm. Por outra parte, relacionando os módulos das declividades de PM e Pm (PM/Pm), os valores calculados são de 12,3 e 5,9 para LV e LVA, respectivamente, o que indica que a diminuição da PM não é acompanhada por incremento equivalente da Pm. O resultado é a diminuição acentuada da porosidade total.

Considerando a RP, os dois solos apresentaram valores extremos de 0,061 e 4,217 MPa para o LV e de 0,114 e 2,028 MPa, para o LVA. Quando comparados os solos, a RP no LV foi estatisticamente maior que no LVA, com médias gerais de 1,01 e 0,702 MPa, respectivamente. Como os tratamentos levaram em consideração o potencial e não o conteúdo de água do solo, a diferença na retenção de água nos potenciais de trabalho (Tabela 1) justifica os valores diferenciados.

A resposta da RP ao IC e à energia de retenção de água para cada solo, foi analisada por meio de superfícies de resposta. Utilizou-se a tensão (Τ) e não o potencial (Ψ) para facilitar o ajuste das equações correspondentes considerando-se que Τ = -Ψ. Utilizou-se, também, como variável independente, o conteúdo de água base gravimétrica associado a cada potencial de trabalho (U) (Tabela 3).

Para facilitar a visualização das respostas da RP ao IC e a T (ou U), as superfícies de resposta apresentadas na Tabela 3 sofreram cortes nos valores correspondentes a cada IC de trabalho (0,70; 0,80; 0,90 e 1,0). As curvas resultantes são apresentadas na Figura 2.


Considerando que a tensão apresenta sinal oposto ao potencial da água do solo, divergentes também são as curvas de resposta da RP, com tendência ao crescimento quando representadas em função da tensão e decrescentes quando utilizado o conteúdo de água como variável independente (Figura 2). Pela análise das figuras verifica-se, de imediato, a resposta diferenciada dos dois solos aos IC testados. O LV apresenta diferenças mais acentuadas que o LVA e atinge valores superiores de RP até superar 3 MPa. Essa resposta é coerente com os valores da DMP, determinada na caracterização. O LV e o LVA tiveram valores de 1,64 e 1,37 kg dm-3, respectivamente (Tabela 1).

As diferenças entre solos são mais bem observadas na Figura 2 quando a RP é representada em função de U. Em todos os potenciais de trabalho a umidade em equilíbrio do material mais argiloso (LVA) foi superior à do LV (Tabela 1), justificando a menor diferença entre o IC e os menores valores da RP. Em resposta ao incremento da umidade do solo ocorre variação, em sentido inverso, na RP, em resposta à ação da água na redução da coesão das partículas do solo.

Do ponto de vista físico, as variações no conteúdo de água no solo provocam modificações na consistência, pelo grau de coesão da massa de solo e da adesão da água aos constituintes da fase sólida. Assim, os solos são mais resistentes às pressões na baixa umidade do solo e mais susceptíveis à compactação, com elevada umidade do solo (Horn et al., 1995).

Na Tabela 4 são apresentados os dados da DS, da porosidade de aeração superior a 0,10 m3 m-3 (pA>10), do conteúdo de água base volumétrica a -100 hPa e -15.000 hPa (θCC e θPMP) e do conteúdo de água determinado para resistência mecânica do solo de 1,0 MPa (θRP), considerando-se o IC, para os dois solos estudados.

O conteúdo de água base volumétrica que permite manter a RP num valor prefixado de 1,0 MPa, quarta variável a ser levada em consideração para a determinação do IHO, foi calculado a partir das superfícies de resposta indicadas na Tabela 3. Utilizando as funções RP = f(IC, U), determinou-se o conteúdo de água base gravimétrica (U) necessário para permitir RP de 1,0 MPa, nos IC de trabalho. θRP foi calculado utilizando-se a Eq. 2.

Os valores apresentados na Tabela 4 foram utilizados para ajustar equações de regressão utilizadas para delimitar o IHO nos solos estudados (Tabela 5).

As equações que representaram PA>10 = f (DS) e θRP = f (DS) (Tabela 5) foram utilizadas para determinar a densidade do solo crítica (DSC), definida como aquela que limita o IHO. Sendo este ponto a DS que permite a interseção entre valores das duas equações indicadas, realiza-se o cálculo de DSC igualando PA>10 e θRP. Os valores assim calculados foram 1,62 e 1,38 kg dm-3 para o LV e LVA, respectivamente. Considerando a DMP (Tabela 1), esses valores correspondem a IC de 0,99 e 1,01 para o LV e LVA, respectivamente; entretanto, efeitos negativos sobre o desenvolvimento vegetal podem ocorrer bem antes de se alcançar a DSC. Klein (2006) indica um efeito limitante a partir de IC de 0,88 para um Latossolo Vermelho argiloso e Beutler et al. (2005) perceberam redução de ganhos na cultura de soja a partir dos máximos alcançados de produtividade associados aos valores de IC de 0,75 e 0,84, em dois Latossolos Vermelhos de diferentes mineralogias. Já Reichert et al. (2009) verificaram redução de produção a partir de valores de IC calculados com o ensaio de Proctor de 0,90 e 0,95 para duas diferentes culturas.

A Figura 3 mostra a representação gráfica do IHO calculado com as curvas ajustadas que foram apresentadas no quadro 5, e a DSC. Como se pode observar, o IHO é limitado na porção superior da área pela disponibilidade de água na capacidade de campo ou pela restrição à aeração do sistema radicular.


Na porção inferior as limitações se devem à RP.

Na porção superior do IHO a disponibilidade de água na capacidade de campo é limitante nas menores DS. Assim que a compactação é incrementada a restrição à aeração delimita o IHO (Figura 3). Comparando as curvas que representam pA>10 e θCC em função da DS (Tabela 5), determinam-se valores de DS de 1,43 e 1,22 kg dm-3 para o LV e LVA, respectivamente, para a transição apontada. Esses valores, claramente discrepantes, se transformam em IC de 0,87 e 0,89, quando divididos pela DMP (Tabela 1). A convergência de resultados é indicativa da importância do uso de valores relativos na comparação de características de solos em que os valores absolutos apresentam acentuada divergência. Os resultados de IC obtidos também extrapolam aqueles indicados por Klein (2006) e Beutler et al. (2005) para Latossolos brasileiros, passíveis de sugerir que efeitos no desenvolvimento vegetal podem ocorrer antes que a porosidade de aeração de 0,10 m3 m-3 seja alcançada.

Na porção inferior do IHO o conteúdo de água determinado para a RP de 1,0 MPa foi limitante em relação ao conteúdo de água determinado no ponto de murcha permanente (Figura 3).

No IHO se estabelecem limitações à produtividade quando pA>10diminui a valores inferiores a 0,10 m3 m-3. Este limite deveria ser revisado para adequá-lo às diferentes espécies vegetais e, ainda, aos variados materiais genéticos dentro de cada espécie, com o que concordam Reichert et al. (2009). De forma semelhante trabalha-se, em geral, com RP na faixa de 1,0 a 3,0 MPa. Este limite também exige pesquisas para estabelecer, com maior exatidão, valores condizentes com as características das plantas cultivadas.

Pelos resultados apresentados pode postular-se que a utilização do IC é mais apropriada que o uso de valores de DS. O IC inicial de trabalho, de 0,70, correspondeu aproximadamente ao valor da DS peneirada, determinado pelo método da proveta (Tabela 1). Assim, valores de IC na faixa de 0,70 a 0,85, aproximadamente, não ofereceriam restrições ao crescimento das plantas. Valores superiores indicariam, de início, restrições à aeração do solo e quando na faixa de 0,95 a 1,0, impedimento ao crescimento de raízes pela RP.

CONCLUSÕES

1. O incremento do índice de compactação reduz a condu-tividade hidráulica e a macroporosidade, com menor impacto sobre a microporosidade. 2. A resistência à penetração aumenta de forma diferenciada, em função da natureza do solo com o incremento da compac-tação e a diminuição do potencial da água do solo. 3. A determinação do intervalo hídrico ótimo é complemento adequado para diminuir perdas de produtividade em resposta à compactação. 4. Índice de compactação na faixa de 0,70 a 0,85 não oferece restrições ao crescimento das plantas. Valores superiores indicam, inicialmente, restrições à aeração do solo e quando na faixa de 0,95 a 1,0, impedimento ao crescimento de raízes pela resistência à penetração.

LITERATURA CITADA

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Protocolo 283.13 – 10/09/2013

Aprovado em 16/05/2014

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2014
  • Data do Fascículo
    Out 2014

Histórico

  • Recebido
    10 Set 2013
  • Aceito
    16 Maio 2014
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