Acessibilidade / Reportar erro

Sujeito, desamparo e violência

Resumos

A proposta deste trabalho é refletir sobre a violência na sociedade contemporânea, entendendo-a como uma forma possível do sujeito dar conta da situação de desamparo provocada por exigências pulsionais crescentes o que o expõe, portanto, a um excesso de excitação.

Para compor este trabalho, a autora partiu da hipótese de que a tentativa de cada sujeito humano em negar uma violência primordial é o que o leva a sentir dificuldade de se colocar como referência diante do outro que dele depende. Esta falta de referência acarreta para o sujeito grande desamparo frente às suas necessidades pulsionais. Discute-se, a partir daí, que um indivíduo submetido a forças pulsionais intensas pode ser capaz de atos violentos destrutivos como afirmação última de singularidade.

O trabalho retoma, de um lado, a partir da ótica freudiana, a concepção do EU como uma forma de defesa dos ataques provenientes seja das pulsões internas, seja do exterior.

O ato de violência se instaura quando o adulto atende o frágil ser desamparado que é um bebê recém-nascido, desiludindo-o da sensação nirvânica. Desenvolve-se assim a idéia da violência articulada à constituição do sujeito, inspirada também nos trabalhos de Piera Aulagnier e Conrad Stein. De outro lado, procura-se discutir, a partir da contribuição de Calligaris, algumas características da sociedade contemporânea e do imaginário pós-moderno, que contribuem para que as exigências pulsionais a que são submetidos os indivíduos sejam cada vez maiores. Nessa sociedade narcisista, o ideal de autonomia predomina e o individualismo é a meta. Assim sendo, a idéia de submeter o outro à própria vontade parece ser uma violência inominável. Interpretar a necessidade desse outro, buscar as possíveis formas de satisfazê-la, ir ao encontro das leis de regulação social, implicam em enunciar a falta, em relembrar a catástrofe da perda da estabilidade, do Nirvana. É assumir a violência fundamental que permite a relação com o outro, de forma criativa e não fusionada, como muitas vezes se faz em nome da felicidade e do amor. Essa é a condição do aparecimento do sujeito.

Sujeito; violência; desamparo; pulsão


Este trabajo se propone a hacer una reflexión sobre la violencia en la sociedad contemporánea, entendiendo por violencia una manera posible por la cual el sujeto enfrenta la situación de desamparo provocada por exigencias pulsionales crecientes lo que lo expone, por tanto, a un exceso de excitación.

Para elaborar este trabajo, la autora partió de la hipótesis de que la tentativa de cada sujeto humano en negar una violencia primordial es lo que lo lleva a sentir dificultades para posesionarse como referencia frente al otro que depende de él. Esta falta de referencia acarreta para el sujeto un gran desamparo frente a sus necesidades pulsionales. A partir de este punto se discute que un individuo submetido a intensas fuerzas pulsionales puede ser capaz de actos violentos destructivos como una afirmación última de singularidad.

Este trabajo retoma, de un lado, a partir de la óptica freudiana, la concepción del Yo como una forma de defensa de los ataques provenientes sea de las pulsiones internas, sea del exterior. El acto de violencia se instaura cuando el adulto atiende al ser frágil y desamparado que es un nene recién nacido, desilusionandolo de la sensación nirvánica. De este modo se desarrolla la idea de violencia articulada a la constitución del sujeto, inspirada también en los trabajos de Piera Aulagnier y Conrad Stein. Por otro lado se trata de discutir, a partir de la contribución de Calligaris, algunas características de la sociedad contemporánea y del imaginario pós moderno; las cuales contribuyen para que las exigencias pulsionales a las que son submetidos los individuos se hagan cada vez mayores. En esa sociedad narcisista, el ideal de autonomía predomina y el individualismo es la meta. Siendo así, la idea de submeter al otro a su propia voluntad parece ser una violencia innominable. Interpretar la necesidad de ese otro, buscar las formas posibles de satisfacerla, ir de encuentro a las leyes de regulación social, implican en enunciar la falta, en recordar la catástrofe de la pérdida de la estabilidad, del Nirvana. Es asumir la violencia fundamental que permite la relación con el otro, de forma creativa y no fusionada, como muchas veces se hace en nombre de la felicidad y del amor. Esta es la condición de emergencia del sujeto.

Sujeto; violencia; desamparo; pulsiones


Ce travail se propose à réfléchir sur la violence dans la société contemporaine, en la comprenant comme une forme possible par laquelle le sujet rend compte de la situation d’abandon provoquée par des exigences pulsionnelles croissantes, ce qui l’expose donc à un excès d’excitation.

Pour composer ce travail, l’auteur est partie de l’hypothèse selon laquelle la tentative primordiale de chaque sujet à nier une violence primordiale c’est ce qui le conduit à sentir une difficulté à se poser comme référence devant l’autre qui dépend de lui. Cette manque de référence entraîne pour le sujet un grand abandon face à ses besoins pulsionnels. On discute à partir de lá qu’un individu soumis à des forces pulsionnelles intenses peut être capable des actes violents et destructifs comme affirmation ultime de singularité.

Le travail reprend, d’un coté, à partir de l’optique freudienne, la conception du Moi comme une forme de défense aux attaques provenantes soit des pulsions internes, soit de l’extérieur. L’acte de violence s’instaure quand l’adulte répond au être fragile et abandonné qui est un bébé nouveau-né, en le désenchantant de la sensation nirvanique. L’idée de violence articulée à la constitution du sujet se développe ainsi inspirée aussi des travaux de Piera Aulagnier et Conrad Stein. De l’autre coté, on cherche à discuter, à partir de la contribution de Calligaris, quelques caractéristiques de la société contemporaine et de l’imaginaire postmoderne, qui contribuent pour que les exigences pulsionnelles auxquels les individus sont soumis soient des plus en plus augmentées. Dans cette société narcissiste, l’idéal de l’autonomie prévalait, et l’individualisme c’est le but. Ainsi, l’idée de soumettre l’autre à sa propre volonté y paraît une violence innommable. Interpréter le besoin de cet autre, rechercher les formes possibles de le satisfaire, affronter les lois de régulation sociale, tout cela implique une énonciation de la faute, un rappel de la catastrophe de la perte de la stabilité, du Nirvana. C’est d’assumer la violence fondamentale qui permet la rélation avec l’autre, d’une forme créatrice et pas fusionné, comme on fait tant de fois au nom de la félicité et de l’amour. Ceci est la condition de l’apparition du sujet.

Sujet; violence; abandon; pulsion


Texto completo disponível apenas em PDF.

Bibiliografia

  • AULAGNIER, P. A violência da interpretação. Do pictograma ao enunciado Rio de Janeiro, Imago, 1975.
  • BERLINCK, M.T. “Introdução à Psicopatologia Fundamental”, apresentado no II Congresso de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, abril de 1997.
  • BERLINCK, M.T. e RODRIGUEZ, S.A. (orgs.). Psicanálise de sintomas sociais São Paulo, Escuta, 1988.
  • CALLIGARIS, C. “Um narcísico mundo novo”. Boletim de Novidades da Livraria Pulsional, São Paulo, nº 86, junho de 1996 (I).
  • CALLIGARIS, C. “Cena de sangue numa rua do Bronx”. Boletim de Novidades Livraria Pulsional, São Paulo, nº 86, junho de 1996 (II).
  • CALLIGARIS, C. “O reino encantado chega ao fim”. Boletim de Novidades da Livraria Pulsional, São Paulo, nº 86, junho de 1996 (III).
  • FREUD, S. Obras Completas. Edição Standard Brasileira Rio de Janeiro, Imago, 1996.
  • FREUD, S. “O ego e o id” (1923). ESB, vol. XIX, op. cit., pp. 73-148.
  • FREUD, S. “Inibição, sintoma e ansiedade” (1926). ESB, vol. XX, op. cit., pp. 81-171.
  • FREUD, S “O mal-estar na civilização” (1930). ESB, vol. XXI, op. cit., pp. 73-148.
  • FREUD, S “Novas conferências introdutórias sobre a psicanálise” (1933). ESB, vol. XXII, op. cit., pp. 63-112.
  • FREUD, S “Esboço de psicanálise” (1940). ESB, vol. XXIII, op. cit., pp. 153-221.
  • HANNS, L. Dicionário comentado do Alemão de Freud. Rio de Janeiro, Imago, 1996.
  • JERUSALINSKY, A. e TAVARES, E. “Era uma vez… já não é mais”. Folha de S. Paulo, Caderno “Mais!”, 24.07.1994.
  • MARIN, I. Kahn. “Instituição e violência, violência nas instituições”. Texto apresentado no II Encontro Adolescência e Violência – Conseqüências da Realidade Brasileira, FAU/USP, São Paulo, 12.10.96.
  • STEIN, C. As Erínias de uma mãe. Ensaio sobre o ódio São Paulo, Escuta, 1988.
  • WINNICOTT, D.W. Privação e delinqüência São Paulo, Martins Fontes, 1987.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 1999
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Av. Onze de Junho, 1070, conj. 804, 04041-004 São Paulo, SP - Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: secretaria.auppf@gmail.com