Acessibilidade / Reportar erro

O início do tratamento psicanalítico com crianças autistas: transformação da técnica psicanalítica?

Resumos

Este artigo discute o início da relação analítica com crianças autistas à luz da análise de Maria, uma criança autista de três anos de idade. O caso clínico de Maria tornou-se importante como objeto de estudo, por ter suscitado um questionamento dos princípios teórico-clínicos que induzem o psicanalista a encontrar significados nas ações de uma criança autista, mesmo quando ela não fala e não brinca, e a interpretá-los, desde o início de uma relação analítica, com o intuito de criar a relação transferencial.

Com Maria, a analista, no início do tratamento, deixou em suspenso os significados e as interpretações e passou a vivenciar a natureza fenomenal dos “grunhidos” e “maneirismos” da criança. Ao proceder dessa forma, abriu-se uma outra via para se criar uma relação analítica com Maria: as várias tonalidades e ritmos dos seus “grunhidos”, o zumbido de seus “maneirismos”, as formas dos seus movimentos corporais e o ritmo da sua respiração, passaram a ser contidos pela analista em seu próprio corpo, contudo, esse material clínico não foi interpretado no início do tratamento de Maria.

Psicanálise; autismo; interpretação; significados


Este artículo discute el inicio de la relación analítica con niños autistas a la luz del análisis de María, una niña autista de 3 años de edad. Este caso clínico se volvió importante como objeto de estudio, por haber suscitado un cuestionamiento de los principios teórico-clínicos que inducen al psicoanalista a encontrar significados en las acciones de un niño autista, aunque éste no hable ni juegue, y a interpretarlos, desde el comienzo de uma relación analítica, con la intención de crear la relación transferencial.

Con María, la analista, al comienzo del tratamiento, dejó en suspenso los significados y las interpretaciones y pasó a vivenciar la natureza fenoménica de los “gruñidos” y “manierismos” de la niña. Al proceder de esta manera, se abrió otra vía para crear uma relación analítica con María: las diversas tonalidades de sus “gruñidos”, el zumbido de sus “manierismos”, las formas de sus movimientos corporales y el ritmo de su respiración pasaron a ser contenidos por la analista, sin la necesidad imperiosa de interpretar.

Psicoanálisis; autismo; significación; interpretación


Cet article examine le début du traitement psychanalytique avec des enfants autistes, à la lumière de l’analyse de Maria, un enfant autiste de trois ans. Ce cas clinique est devenu un important objet d’étude, introduisantn un questionnement des modèles théoriques-cliniques existants, dans lesquels l’analyste utilise l’interprétation comme un outil indispensable à la création de la relation transférentielle avec l’enfant autiste qui ne parle pas et ne joue pas.

Avec Maria, l’analyste, au debút du traitement, a pu vivre la possibilité de ne pas nommer les possibles significations des grognements, il a pu être plus en contact avec son propre corps. Les actions psychanalytiques du début employées par l’analyste ont été celles de voir, d’écouter et de sentir son propre corps en présence de Maria lors des séances, en mettant de côté le besoin impérieux d’interpréter. Cette attitude l’a conduite à d’autres moyens d’être avec Maria en tenant compte des différentes tonalités des “grognements” de l’enfant, du bruit de ses “maniérismes”, du rythme de sa respiration et des mouvements de son corps, en mettant de côté le besoin impérieux d’interpréter.

Psychanalyse; autism; signification; interpretation


This article discusses the beginning of an analytical relationship with autistic children, based on Maria’s analysis, a three years old autistic child. The clinic case of Maria has became important as an object of study, for had given rise to an argue about the theoretical-clinic principles that make a psychoanalyst to find meaning on autistic child’s actions, even when she doesn’t talk and play, and to interpret them, from the beginning of an analytical relationship, as an effort to create the transferential relationship.

With Maria, the analyst, in the beginning of the treatment, put the meanings and the interpretations way and started to live the phenomenal nature of the child’s “grunts” and “gestures”. Acting like that, another way was opened to create an analytical relationship with Maria: the several tones and rhythms of her “grunts”, the buzz of her “gestures”, the shapes and movements of her body and the rhythm of her breathing, were held by the analyst in her own body, however, without the classical interpretation of these clinical material.

Psychoanalysis; autism; meaning; interpretations


Texto completo disponível apenas em PDF.

Referências Bibliográficas

  • ALVAREZ, A. Companhia viva: psicoterapia psicanalítica com crianças autistas, “borderline”, carentes e maltratadas Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
  • BION, W. R. The psychoanalytical study of thinking. In Int. J. Psycho-Anal., 43, p. 306-310, 1962.
  • DOLTO, F. Cure psycahnalytique à l’aide de la poupée-fleur. In Revue française de Psychanalyse, XIV, n. 1, janvier-mars, 1950.
  • FERRO, A. L’enfant et le psychanalyste Paris: Erès, 1997.
  • FERRO, A. Seminário de psicoanálisis de ninõs 3ªed. México: Siglo Veintiuno, 1987.
  • FREUD, S. (1895) Projeto para uma psicologia científica. In ESB Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. 1.
  • FREUD, S.-PFISTER, O. Correspondência 1909-1939 México-Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1966.
  • HOUZEL, D. Thinkings: a dialetic process between emotions and sensations. In Enconunters with Autistic States Londres: Jason Aronson Inc., 1991.
  • KANNER, L. Autistic disturbance of affective contact. Nervous Child, 2, p. 217-250, 1942.
  • KRISTEVA, J. A sensação é uma linguagem. IDE, julho de 1996, n. 28.
  • KLEIN, M. (1921-1945). Les principes psychologiques de l’analyse des jeunes enfants. In Contributions to Psychoanalysis Londres: The Hogarth Press, 1948.
  • KLEIN, M. La psychanalyse des enfants Paris: PUF, 1932.
  • KLEIN, M. La technique de jeu psychanalytique: son histoire et as portée. In Lê transfert et autres écrits. Paris: PUF, 1995. p. 25-50.
  • KLEIN, M. (1930). L’importance de la formation du symbole dans le développement du moi. In Essais de psychanalyse Paris: Payot, 1980. p. 263-278.
  • LANGER, S. Filosofia em nova chave. 2a ed. São Paulo: Perspectiva, 1989.
  • LANGER, S. Sentimento e forma São Paulo: Perspectiva, 1980.
  • LAZNIK-PENOT, M.-C. Rumo à palavra: três crianças autistas em psicanálise. São Paulo: Escuta, 1997.
  • MANNONI, M. L’enfant arriére et sa mère Paris: Seuil, 1964.
  • MANNONI, M. L’enfant sa “maladie”et les autres Paris: Seuil, 1967.
  • MANNONI, M. Un lieu pour vivre Paris: Seuil, 1976.
  • MELTZER,O.; HOXTER, S.; WEDDELL, D., and WITTENBERG, I. Explorations in Autism. A Psychoanalytical Study. Perthshire, Scotland: Clunie Press, 1975.
  • REZENDE, A. M. Bion e o futuro da psicanálise Campinas: Papirus, 1995.
  • SEGAL, H. Introdução à obra de Melanie Klein Rio de Janeiro: Imago, 1973.
  • TUSTIN, F. (1972). Autismo e psicose infantil. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
  • TUSTIN, F. Estados autísticos em crianças Rio de Janeiro: Imago, 1984.
  • TUSTIN, F. Contours autistiques et pathologie adulte. Topique, 35-36, p. 9-24, 1985.
  • TUSTIN, F. El cascarón protector en niños y adultos Buenos Aires: Amorrortu, 1990.
  • TUSTIN, F. Revised understandings of psychogenic autism. International Journal of Psycho-Analysis, 72, p. 585-591, 1991.
  • TUSTIN, F. The perpetuation of an error. Journal of Child Psychotherapy, 20~1, p. 3-23, 1994.
  • WINNICOTT, D.W. A criança e o seu mundo Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2000

Histórico

  • Recebido
    Jul 2000
  • Aceito
    Nov 2000
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Av. Onze de Junho, 1070, conj. 804, 04041-004 São Paulo, SP - Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: secretaria.auppf@gmail.com