Acessibilidade / Reportar erro

Fenômeno, estrutura, sintoma e clínica: a droga

Resumos

Partindo de uma leitura que se baseia em quatro autores brasileiros, este trabalho problematiza e verifica posições teóricas acerca do fenômeno toxicomaníaco e levanta a hipótese de que é possível, com o discurso do analista, em certo contexto e a partir de certas condições, apontar a toxicomania como equivalente ao sintoma no discurso da histérica, o que abre vias para a construção de uma clínica em que prevaleça a aposta no desejo do analista.

Ao retomar as referências freudianas quanto à equivalência da droga com o discurso religioso e suas funções de entorpecimento, verificase uma possível sustentação metafórica, necessária para qualquer formação de sintoma. Por outro lado, ao retomar as referências de Lacan quanto ao discurso do capitalista como o discurso do mestre contemporâneo, a questão é de sustentar a possibilidade de a droga fazer obstáculo ao livre funcionamento do gozo do mestre nesse discurso.

Toxicomania; sintoma; discursos; histeria; desejo


Partiendo de una lectura basada en cuatro autores brasileños, este trabajo levanta problemas y verifica posiciones teóricas sobre el fenómeno toxicómano y formula la hipótesis de que es posible, con el discurso del analista, en cierto contexto y a partir de ciertas condiciones, considerar la toxicomanía como equivalente al síntoma en el discurso de la histérica lo que abre vías para la construcción de una clínica donde prevalezca la apuesta en el deseo del analista.

Al retomar las referencias freudianas en cuanto a la equivalencia de la droga con el discurso religioso y sus funciones de entorpecimiento, se verifica una posible sustentación metafórica, necesaria para cualquier formación de síntoma. Por otro lado, al retomar las referencias de Lacan con relación al discurso capitalista como el discurso del amo contemporáneo, la cuestión es sostener la posibilidad de que la droga haga obstáculo al libre funcionamiento del goce del amo en ese discurso.

Toxicomanía; síntoma; discursos; histeria; deseo


Partant de la lecture de quatre auteurs brésiliens, ce travail discute et vérifie les positions théoriques autour du phénomène de la toxicomanie, et propose l’hypothèse selon laquelle il est possible, avec le discours de l’analyste, dans un certain contexte et à certaines conditions, d’établir une équivalence entre la toxicomanie et le symptôme dans le discours de l’hystérique. Ceci ouvre des voies pour la construction d’une clinique dans laquelle prévaut le pari sur le désir de l’analyste.

D’un côté, les références freudiennes quant à l’équivalence des drogues avec le discours religieux et ses fonctions de torpeur permettent de pointer une métaphorisation, nécessaire à n’importe quelle formation de symptômes. De l’autre, reprenant les références de Lacan quant au discours du capitaliste comme le discours du maître contemporain, la question est d’assurer la possibilité que la drogue se constitue en tant qu’obstacle au libre fonctionnement de la jouissance du maître dans ce discours.

Toxicomanie; symptôme; discours; hystérie; désir


Based on four Brazilian authors, this article discusses theoretical principles of the phenomenon of drug use and presents the hypothesis that, with the analyst’s discourse, in certain contexts and under certain conditions, drug addiction could be seen as equivalent to the symptom in the hysterical discourse. This approach could open up new paths for clinical work where the analyst’s desire could prevail.

Based on references by Freud relating drug use with the religious discourse and its narcotic functions, one can detect a possible metaphorical basis, necessary for the formation of any symptom. In addition, references by Lacan on the capitalist discourse as the contemporary discourse of the master bring up the possibility that drug addiction serves as an obstacle to the free jouissance of the master in this discourse.

Drug addiction; symptom; discourse; hysteria; desire


Texto completo disponível apenas em PDF.

Referências

  • ALBERTI, Sonia. Psicanálise: a última flor da medicina. In: ALBERTI, Sonia e ELIA, Luciano (orgs.). Clínica e pesquisa em psicanálise Rio de Janeiro: Marca d’Água, 2000, p. 37-56.
  • ALBERTI, Sonia. O quadrilátero no ato psicanalítico. Opção lacaniana Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, n. 21, p. 96-9, 1998.
  • BIRMAN, Joel (1986). Feitiço e feiticeiro no pacto com o diabo. In: Mal-estar na atualidade Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
  • BIRMAN, Joel Dionísios desencantados. In: INEM, C.L. e ACSELRAD, G. (orgs.). Drogas: uma visão contemporânea Rio de Janeiro: Imago, 1993.
  • BITTENCOURT, Lígia. Algumas considerações sobre a neurose e a psicose nas toxicomanias. In: INEM, C.L. e ACSELRAD, G. (orgs.). Drogas: uma visão contemporânea Drogas: uma visão contemporânea Rio de Janeiro: Imago, 1993.
  • FREUD, Sigmund (1916-1917). Die Wege der Symptombildung. In: Stgb., v. I, Conferência 23, p. 350-66. (Os caminhos da formação dos sintomas. In: ESB Rio de Janeiro: Imago, 1969. v. XVI).
  • FREUD, Sigmund (1917). Trauer und Melancholie. In: Stgb. v. I, Conferência 23, p. 350-66. (Os caminhos da formação dos sintomas., 1972, v. III. (Luto e melancolia. In: ESB., Rio de Janeiro: Imago, 1969. v. XIV).
  • FREUD, Sigmund (1924). Der Realitätsverlust bei Neurose und Psychose. In: Stdgb v. I, Conferência 23, p. 350-66. (Os caminhos da formação dos sintomas., 1972, v. III. (A perda da realidade na neurose e na psicose. In: ESB Rio de Janeiro: Imago, 1969. v. XIX).
  • FREUD, Sigmund (1926). Hemmung, Symptom und Angst. In: Stdgb. v. I, Conferência 232, v. VI. (Inibição, sintoma e angústia. In: ESB Rio de Janeiro: Imago, 1969. v. XIX).
  • FREUD, Sigmund (1927). Die Zukunft einer Illusion. In: Stdgbv. I, Conferência 23, 1974. v. IX. (O futuro de uma ilusão. In: ESB Rio de Janeiro: Imago, 1969. v. XX).
  • FREUD, Sigmund (1930). Das Unbehagen in der Kultur. In: Stdgb. v. I, Conferência 23, 1974. v. IX. (O malestar na civilização. In: ESB Rio de Janeiro: Imago, 1960, v. XXI).
  • GROSSI, Fernando Teixeira e NOGUEIRA, Cristina Sandra Pinelli. O social e as novas formas do sintoma: as toxicomanias. In: BENTES, Lenita e GOMES, Ronaldo Fabião (orgs.). O brilho da (in)felicidade Rio de Janeiro: Contra Capa, 1998, p. 91-8.
  • LACAN, Jacques (1966). De nos antécedents. In: Écrits Paris: Seuil, p. 65-72. (De nossos antecedentes. In: Escritos Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 69-76.
  • LACAN, Jacques (1969-1970). Le séminaire. Livre XVII. L’envers de la psychanalyse Paris: Seuil, 1991. (O seminário. Livro 17. O avesso da psicanálise Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992).
  • LACAN, Jacques Le savoir du psychanalyste. Inédito, 1971-1972.
  • LACAN, Jacques La troisième. Inédito, 1974.
  • LACAN, Jacques Télévision Paris: Seuil, 1974a.
  • MELMAN, Charles. Alcoolismo, delinqüência, toxicomania: uma outra forma de gozar São Paulo: Escuta, 1992.
  • PASKVAN, E. De la monotonia a la diversidad. Pharmakon, Buenos Aires, n. 2, 1994.
  • POULICHET, Sylvie. Toxicomanies et psychanalyse – les narcoses du désir Paris: PUF, 1987.
  • RABINOVICH, Diana. Une hystérie “démélancolisée”. Ornicar? Revue du Champ freudien, n. 28, p. 112-6, printemps 1984.
  • SANTIAGO, Jésus. Toxicomania e perversão. In: INEM, C.L. e ACSELRAD, G. (orgs.). Drogas: uma visão contemporânea Rio de Janeiro: Imago, 1993.
  • SANTIAGO, Jésus. A droga do toxicômano – uma parceria cínica na era da ciência Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
  • VIGANO, Carlos. Saúde Mental: psiquiatria e psicanálise Belo Horizonte: Instituto de Saúde Mental/Associação Mineira de Psiquiatria, 1997.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2003

Histórico

  • Recebido
    Jun 2003
  • Revisado
    Ago 2003
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Av. Onze de Junho, 1070, conj. 804, 04041-004 São Paulo, SP - Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: secretaria.auppf@gmail.com