Acessibilidade / Reportar erro

Prestadores de serviço no campo da saúde mental: o público, o privado e o inefável da loucura

Resumos

Abordamos nossa própria visão, muitas vezes turva, sobre a realidade dos hospitais psiquiátricos no Brasil. Ela escora-se em um discurso que, por vezes, ofusca-se pelo ideal da desospitalização. Visando uma nova realidade, esquece que a clínica muitas vezes é pesada e resistente, e lastrela nossas pretensões com a presença maciça da impossibilidade. A análise e a discussão foram realizadas a partir de dois registros de dados: notas de diário de campo, realizadas pelos autores quando em função pública de gestão estadual de saúde mental, e dois casos de supervisão clínica em instituição psiquiátrica pública municipal no Rio de Janeiro; todos os dados colhidos em 2004. A análise das anotações nos levou a concluir que podemos contribuir para mudar o estado de coisas encontrado nos dados empíricos e que temos algo afazer para não reproduzir o mesmo passado dos hospitais psiquiátricos. No plano da equipe de profissionais é preciso que ela não se transforme neste agente de horror banalizado que constrange a esperança. Entre o público, o privado e o inefável da loucura é preciso acolher a resposta do sujeito, aquele pequeno elemento que assinala a estranheza e irredutibilidade de alguém que, no caso da loucura, encontrase em ruptura com o coletivo.

Psiquiatria; hospital psiquiátrico; reforma psiquiátrica


Abordamos nuestra propia visión, muchas veces turbia, sobre la realidad de los hospitales psiquiátricos en Brasil. La misma se apoya en un discurso que por veces es ofuscado por el ideal de la deshospitalización. Visando una nueva realidad, se olvida que la clínica muchas veces es pesada y resistente y lastrea nuestras pretensiones con la presencia maciza de la imposibilidad. El análisis y la discusión fueron realizados a partir de dos registros de datos: notas de diario de campo tomadas por los autores cuando en función pública de gestión estatal de salud mental y dos casos de supervisión clínica en institución psiquiátrica pública municipal en Rio de Janeiro, todos los datos colectados en 2004. El análisis de las notas nos llevó a concluir que podemos contribuir para mudar el estado de cosas encontrados en los datos empíricos y que tenemos algo que hacer para no producir el mismo pasado de los hospitales psiquiátricos. En el plano del equipo de profesionales es preciso que el mismo no se transforme en este agente de horror banalizado que restringe la esperanza. Entre lo público, lo privado y las imposibilidades de la locura, es preciso inventar a cada vez un modo de acojer la respuesta del sujeto, aquél pequeño elemento que señala la extrañeza y la irreductibilidad de cada uno y que, en el caso de la locura, se encuentra en ruptura con lo colectivo.

Psiquiatría; hospital psiquiátrico; reforma psiquiátrica


Ce texte interroge notre regard sur la realité des hôpitaux psychiatriques au Brésil. Parfois éblouit par le discours de la fin des asiles, on oublie souvent que la clinique est capable d'alourdir considérablement nos idéaux avec le poids de l´impossibilité. La discussion a été ménée, d'une part à partir des notes du journal de champ d'un des auteurs, responsable de la Santé Mental du département do Rio de Janeiro. D'autre part elle a suivi l'expérience de discussion psychanalytique des cas d'internation de longue durée. On conclut qu'il est possible de changer la face des choses en prenant distance par rapport au passé des asiles et sans transformer nos soins en banalisation de l'horreur. Entre la publique, le privé et V inefable de la folie, il faut se débrouiller pour acueillir à chaque fois la réponse du sujet, toujour en rupture avec le collectif, et lui donner une place dans le social.

Psychiatrie; hôpital psychiatrique; santé mentale


We present our viewpoint, confusing though it may be, of the reality in psychiatric hospitals in Brazil The approach is based on a discourse that is sometimes influenced by the ideal of de-hospitalization. In the search for a new reality, many forget that clinical work is often difficult and may even verge on the impossible The analysis and discussion presented here were based on two sets of data, namely, notes from a field diary written by the authors when working as public employees in the coordination of mental health programs and on two cases of clinical supervision in a public municipal psychiatric hospital in Rio de Janeiro, Brazil, both of which occurred in 2004. The analysis of the notes led us to the conclusion that something can be done to effect changes in the current situation described in the notes, and that the past need not be repeated. It is important that health teams avoid becoming agents of the banalized terror that reduces hope. Between the public, the private and the ineffable of madness, the subject's response must be heard and accepted. This is the tiny element that reminds us of the uncanniness and irreducibility of someone who, in the case of madness, is separated from the collectivity.

Psychiatry; psychiatric hospital; mental health care


Texto completo disponível apenas em PDF.

Referências

  • Bourdieu, P.; Chamboredon, J. C; Passeron, J. C. El oficio de sociólogo. Madrid: Siglo Veintiuno de España, 1975.
  • Di Ciaccia, A. Da fundação por um à prática feita por muitos. Curinga, Belo Horizonte: EBP, η. 13, 1999.
  • Freud, S. O estranho. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1974. v. XVII.
  • Lacan, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
  • Lacan, J. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
  • Miller, J.-A. Saúde mental e ordem pública. Curinga, Belo Horizonte: EBP, n. 13, 1999.
  • Vieira, Μ. A. A inquietante estranheza: do fenómeno à estrutura. Rio de Janeiro: EBP, Latusa, v. 4/5 , 2000.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2006

Histórico

  • Recebido
    Ago 2005
  • Aceito
    Dez 2005
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Av. Onze de Junho, 1070, conj. 804, 04041-004 São Paulo, SP - Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: secretaria.auppf@gmail.com