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O impossível regime das paixões da alma

L'impossible régime des passions de l'âme

El imposible régimen de la pasiones del alma

The impossible regime of the passions of the soul

Resumos

Este artigo pretende analisar o lugar das paixões da alma no ideal de saúde conforme a obra Âncora medicinal para conservar a vida em saúde (1721) do português Francisco da Fonseca Henriques, médico do rei D. João V. As paixões da alma eram consideradas um dos aspectos determinantes do regime de saúde. Elas eram relacionadas ao excesso, aos limites extremos do corpo e à morte.

Paixões; saúde; regime; medicina da alma; psicopatologia


Le but de ce travail est d'analyser le rôle des passions de l'âme dans l'idéal de la santé d'après Âncora medicinal para conservar a vida em saúde (1721) du portugais Francisco da Fonseca Henriques, médecin du roi D. João V. Les passions de l'âme étaient considérées l'un des déterminants du régime de la santé. Elles étaient d'ailleurs liées aux excès, aux limites extrêmes du corps et à la mort.

Passions; santé; régime; médecine de l'âme; psychopathologie


Este artículo se propone analizar el lugar de las pasiones del alma en el ideal de salud en conformidad con la obra "Âncora medicinal para conservar a vida em saúde" (1721) del portugués Francisco da Fonseca Henriques, médico del rei D. João V. Las pasiones del alma eran consideradas uno de los aspectos determinantes del régimen de salud. Eran relacionadas al exceso, a los límites extremos del cuerpo y a la muerte.

Pasiones; salud; régimen; medicina del alma; psicopatología


This article analyses the importance of the passions of the soul for the ideal of health, held by the Portuguese physician (Dr. Francisco da Fonseca Henriques) who was called in to treat King John V of Portugal. In his text entitled "Medicinal anchor to maintain life with health" (1721) he holds that passions are among the principal determinants for maintaining health. He also describes the passions as related to excess, to the absolute limits of the body, and to death.

Passions; health; medicine of the soul; psychopathology


MEDICINA DA ALMA

ARTIGO

O impossível regime das paixões da alma* * Pesquisa realizada com apoio Fapesp.

El imposible régimen de la pasiones del alma

L'impossible régime des passions de l'âme

The impossible regime of the passions of the soul

Paulo José Carvalho da Silva

RESUMO

Este artigo pretende analisar o lugar das paixões da alma no ideal de saúde conforme a obra Âncora medicinal para conservar a vida em saúde (1721) do português Francisco da Fonseca Henriques, médico do rei D. João V. As paixões da alma eram consideradas um dos aspectos determinantes do regime de saúde. Elas eram relacionadas ao excesso, aos limites extremos do corpo e à morte.

Palavras-chave: Paixões, saúde, regime, medicina da alma, psicopatologia

RESUMEN

Este artículo se propone analizar el lugar de las pasiones del alma en el ideal de salud en conformidad con la obra "Âncora medicinal para conservar a vida em saúde" (1721) del portugués Francisco da Fonseca Henriques, médico del rei D. João V. Las pasiones del alma eran consideradas uno de los aspectos determinantes del régimen de salud. Eran relacionadas al exceso, a los límites extremos del cuerpo y a la muerte.

Palabras claves: Pasiones, salud, régimen, medicina del alma, psicopatología

RÉSUMÉ

Le but de ce travail est d'analyser le rôle des passions de l'âme dans l'idéal de la santé d'après Âncora medicinal para conservar a vida em saúde (1721) du portugais Francisco da Fonseca Henriques, médecin du roi D. João V. Les passions de l'âme étaient considérées l'un des déterminants du régime de la santé. Elles étaient d'ailleurs liées aux excès, aux limites extrêmes du corps et à la mort.

Mots clés: Passions, santé, régime, médecine de l'âme, psychopathologie

ABSTRACT

This article analyses the importance of the passions of the soul for the ideal of health, held by the Portuguese physician (Dr. Francisco da Fonseca Henriques) who was called in to treat King John V of Portugal. In his text entitled "Medicinal anchor to maintain life with health" (1721) he holds that passions are among the principal determinants for maintaining health. He also describes the passions as related to excess, to the absolute limits of the body, and to death.

Key words: Passions, health, medicine of the soul, psychopathology

É inegável que, durante as últimas décadas, o culto de si ganhou incomparável espaço. Amparado pelo discurso científico, principalmente o discurso médico, mas também relativamente recentes por especialidades tais como a nutrição, educação física ou ainda terapias alternativas; as mais diversas variantes desse culto tornaram-se uma rentável modalidade de consumo nas sociedades industrializadas. O objetivo principal seria manter o bem- estar físico e psíquico, haja vista a quantidade de livros e revistas especializadas em saúde, esportes, dietas e estética disponíveis no mercado.

Do ponto de vista psíquico, em particular, a noção de auto-estima é um lugar comum amplamente difundido. Para ser saudável é preciso, antes de tudo, gostar de si mesmo, diz o ditado. O maior problema é a difícil diferenciação entre auto-estima e narcisismo patológico. Esse ideal de eu estaria intimamente relacionado com o sucesso, ou melhor, com a imagem de pessoa realizada e bem-sucedida. Mesmo porque não basta mais ser produtivo e ter uma família feliz, é preciso ser leve, elegante, ativo e, sobretudo, satisfeito com sua própria figura.

Acontece que essa cultura do bem-estar escamoteia o mito – motor de toda uma indústria – de uma humanidade sem interdito e fascinada pelo poder ilimitado de seu eu (Roudinesco, 2006, p. 51). Essa cultura de uma nova imagem de pessoa teria, inclusive, desencadeado novas formas de nomear o sofrimento psíquico, uma vez que as categorias diagnósticas passaram a levar em consideração uma diferente noção de saúde física e psíquica. Em conseqüência, houve um aumento da demanda por terapias alternativas ou não, alimentando um ciclo vicioso. Pior: nenhuma delas parece valorizar a expressão de uma subjetividade rebelde ou, ainda, propor saídas para o insustentável da paixão.

Todavia, é puro desconhecimento da história da ciência afirmar que a produção de uma literatura sobre os cuidados de si e, em especial, sobre o regime do bem-estar físico e psíquico, é uma particularidade dos tempos atuais.1 1 Ver os estudos de Michel Foucault (2004), apresentados em seu curso de 1982, sobre a noção de cuidado de si presente na filosofia antiga, sobretudo em Platão, Marco Aurélio, Sêneca e Epicuro. A quantidade, a diversidade de formatos e a difusão podem ser inéditas. Mas a demanda por guias do bem-viver tem uma longa história.

Mesmo a obsessão feminina e masculina pela beleza física pode estar exacerbada, mas não pode ser considerada uma novidade. O poeta Ovídio adverte, em seu Os produtos de beleza para o rosto da mulher, que a primeira preocupação das jovens deveria ser zelar pelas qualidades da alma, não apenas pelos atrativos do corpo. Não que um cuidado excluísse o outro, pois o próprio livro dá dicas de preparados com raízes, farinhas, grãos e mel para a conservação e embelezamento do rosto. O problema central é que tudo isso teria um efeito limitado já que a beleza plástica, mais cedo ou mais tarde, será devastada pelo tempo. Por outro lado, o amor baseado no caráter é durável. Além disso, ele lembra que as mulheres encontram dificuldades para enfatizar a própria beleza, com jóias e acessórios, porque os homens estariam desenvolvendo gostos femininos e usando os mesmos adornos. Essas observações parecem atuais; paixão pelo supérfluo, supervalorização da aparência, "metrossexuais", são temas do século XXI. No entanto, devo lembrar que Ovídio viveu entre os anos 43 a.C. e 17d.C.

A preocupação com o excesso de peso, a procura por receitas para uma vida saudável, ou mesmo para o seu prolongamento, também não são exclusivas dos tempos atuais. Entre muitos outros, o regime de vida chamado De victum romanorum (na versão italiana de época: Del viver delli romani et di conservar la sanità), publicado pelo médico italiano Alessandro Petronio, em 1581, é um exemplo de literatura sobre os cuidados com o corpo e a alma que correspondia à demanda por bem estar de leitores de séculos atrás (Silva, 2006).

Distúrbios alimentares também têm passado. Elizabeth A. Williams (2007) mostra que casos de mulheres e homens anoréxicos eram uma constante na literatura médica francesa entre 1800 e 1870, década em que o médico francês Charles Lasègue teria discriminado a anorexia nervosa enquanto entidade clínica, explicando a recusa do alimento em virtude de perturbações nas relações familiares e preocupações com os ideais de magreza.

Certamente não é por acaso que, desde a Antigüidade, os mesmos manuais de saúde que abordavam as qualidades e quantidades de bebidas e alimentos convenientes, também orientavam a conduta quanto às atividades sexuais e às paixões da alma. Afinal, o corpo está sempre envolvido na experiência das paixões.

Este artigo, por sua vez, analisa o lugar das paixões da alma nesse ideal de saúde, a partir da obra Âncora medicinal para conservar a vida em saúde do português Francisco da Fonseca Henriques (1665-1731), que foi médico do rei D. João V (1689-1750). Considera as características principais do gênero dos regimes de vida e a sua difusão em língua portuguesa e levanta elementos para uma comparação com o mesmo tema na atualidade.

A arte de bem-viver

As regras para viver de modo saudável remontam aos mais antigos períodos históricos. No início da modernidade, houve uma proliferação de manuais, capítulos de livros, e outros tipos de instruções, destinados a difundir orientações práticas sobre os cuidados com a saúde. Diversos autores, com ou sem formação médica formal, inspirados pela leitura dos tratados de higiene de médicos gregos antigos e dos regimina sanitatis medievais, elaboraram regimes de vida e manuais de bem-viver que tiveram grande circulação entre os séculos XV e XVIII em vários países europeus (Sotres, 1997).

Havia, em importantes centros urbanos como Florença e Veneza, um público interessado em conhecer regras de bem-viver que os orientassem em seus hábitos, não apenas por conta de preocupações higiênicas e estéticas, mas como parte de um processo de educação do corpo e do espírito.

Esses regimes da primeira modernidade condensavam uma longa tradição de saberes, e adaptavam referências teóricas às necessidades de seu público-alvo. Eles levavam em consideração as realidades regionais, sua população, estilo de vida, clima e disponibilidade de alimentos. Entretanto, uma orientação fundamental comparecia nos diferentes regimes. Eles eram basicamente organizados conforme as categorias das sex res non naturales, ou seja, das seis causas externas da alteração da saúde, tal como sistematizadas na tradição médica hipocrático-galênica, a saber: comida e bebida, ar e ambiente, esforço e repouso, sono e vigília, excreções e secreções e os movimentos ou paixões da alma (Mikkeli, 1999).

O objetivo do ensino da administração dessas causas externas consistia na manutenção do equilíbrio das qualidades do corpo. As seis coisas não naturais deveriam ser empregadas de modo que o justo equilíbrio dos líquidos corporais, conhecidos como quatro humores (sangue, fleuma, bile amarela e bile negra), fosse mantido. O correto regime deveria, sobretudo, garantir uma boa proporção entre calor e umidade (Siraisi, 1997).

Com efeito, a principal função desses escritos sobre os cuidados de si era aconselhar como manter a economia entre o que era ingerido e o que era efetivamente consumido pelo corpo, para que não houvesse excedente prejudicial à saúde. Assim, o topos da moderação, tão caro aos gregos antigos, organizava os regimes de modo geral.

Entretanto, vários autores mostravam-se preocupados com a definição das quantidades porque ela dependia, fundamentalmente, das características individuais. Cada pessoa deveria investigar qual o estilo de vida mais apropriado para sua constituição física, condições de moradia e atividades desenvolvidas.

Outro ponto característico desses regimes era a praticidade. A literatura a esse respeito procurava expor as orientações em vernáculo, de modo acessível, metódico, didático e, acima de tudo, convincente. Por se tratar de uma arte, o texto deveria servir de guia para a prática e, por isso, fornecer conselhos de fato experimentados e exemplos ilustrativos.

Aliás, a individualidade e a praticidade eram dois valores em ascensão na cultura da primeira modernidade e o campo das artes de bem-viver era um terreno bastante propício para o desenvolvimento integrado de ambos, inclusive, no que dizia respeito à saúde psíquica, pois essas instruções de conservação da saúde também propunham uma modalidade de medicina da alma. Conforme mencionado, além das condições materiais de existência, orientavam a boa administração das paixões. Por exemplo, o regime do médico paduense Michele Savonarola (ca. 1384-1466) descreve a adequada alimentação, como se adaptar ao clima e aos efeitos de cada estação do ano, a função dos exercícios físicos, o repouso, o regime individualizado de sono, a repleção e evacuação e, finalmente, os acidentes da alma. Nesse último quesito, Savonarola afirma que uma alegria moderada seria saudável: "a alegria temperada muito conforta a alma; engorda o corpo e o embeleza". Mas a tristeza e o temor exagerados podem até mesmo levar à morte: "Essas tristezas emagrecem o corpo: são causas de muitas enfermidades melancólicas" (Savonarola, 1515, p. 54, tradução livre).

Esse esquema das seis coisas não naturais também serviu de referência para vários tipos de tratamentos, não apenas na medicina preventiva. Para a cura da melancolia, o médico espanhol Lobrera de Avila (1542) prescreve correções nos hábitos do enfermo que se orientam por esses tópicos. De modo geral, recomenda umedecer o corpo. Ele sugere vinhos aguados, frutas úmidas, como pêras maduras, cerejas e melões doces; também prescreve exercícios moderados, não exagerar na atividade sexual, dormir bem. Quanto aos acidentes da alma, ele escreve que convém procurar algum prazer: deleitar-se em ouvir música ou escutar coisas agradáveis, além de guardar-se do luto e da tristeza.

Um documento importante para se compreender a difusão, em Portugal, do gênero dos regimes, já bastante popular na Itália em séculos precedentes, pode ser o livro de Bernardino Ramazzini, Arte de conservar a saude dos principes e das pessoas da primeira qualidade, como tambem das nossas religiosas, cuja edição da oficina de Francisco da Silva, de Lisboa, traz uma versão em língua portuguesa do Elogios da vida sobria (Trattato della vita sobria) do nobre veneziano Luigi Cornaro, publicado pela primeira vez em 1558.

Cornaro (ca. 1467-1566) escreveu esse manual de saúde entre os 85 e 95 anos para relatar que, após uma vida de excessos que arruinara sua saúde, descobrira as maravilhas dos regimes de vida. A partir de um relato em primeira pessoa, ele argumenta que a moderação, respeitando-se as necessidades individuais, é o meio mais certo de uma vida saudável e longa, além de satisfatória e ativa. Ele afirma que seu cotidiano é pleno de atividades prazerosas, e até mesmo seus sonhos são alegres.

Principal recurso retórico para a comprovação da validade de seu regime de vida, o testemunho de Cornaro lembra o recente discurso sobre a terceira idade ativa, dita melhor idade: não faltam alusões a encontros com amigos, boas conversas, leituras, viagens, passeios em jardins, visitas a monumentos antigos etc.

Ele também explica que é necessário ter todo o cuidado possível com a ira, o ódio, a melancolia e outras paixões da alma. Não é que seu regime de vida prometa livrar-nos de todas essas perturbações, mas, ao tornar o corpo mais disposto, o faz menos suscetível aos efeitos nocivos dessas agitações violentas da alma. Mesmo porque ele também acha que, citando a Consolação a Políbio de Sêneca (4a.C.-65d.C.), não sentir os males é não ser homem, mas não os suportar é falta de valor.2 2 Vale lembrar que na Consolação a Polibius ( Ad Polybium de Consolatione), Sêneca consola o ministro de Cláudio que perdera um irmão mais novo e, ao mesmo tempo, suplica pela clemência do imperador e pede seu retorno a Roma. Ele havia sido exilado na Córsega, onde permaneceu dez anos, sob a acusação de adultério, supostamente com a sobrinha do próprio imperador Cláudio.

Eis as palavras de Cornaro, na versão portuguesa, publicada juntamente com o livro de Ramazzini: "Isto supposto, he facil de concluir, que nem a melancolia, nem outra alguma paixão da alma he capaz de abalar, e desordenar hum corpo costumado a vida sobria, e a temperança" (Cornaro, apud Ramazzini, 1753, p. 396).

O regime de Cornaro alcançou enorme sucesso. Até os jesuítas se interessaram por ele. O famoso teólogo Leonardo Lessius (1554-1623) o verteu para o latim, língua mais apropriada aos tratados formais e acadêmicos, e escreveu um regime complementar, publicando-os com o nome de Hygiasticon sev vera ratio valetudinis bonae et vitae unà cum sensuum, iudicii, et memoriae integritate ad extremam senectutem conservandae, em Antuérpia, em 1613. Esse duplo regime foi traduzido para o francês, inglês, holandês, italiano, polonês e castelhano entre os séculos XVII, XVIII e XIX (Silva, 2004).

Por sua vez, o livro de Ramazzini ratifica o argumento biográfico de Cornaro na defesa da moderação como alternativa para uma vida saudável e de uma morte sem dor. Insiste, especialmente, na superação das paixões e na suavidade dos últimos momentos:

Diz mais o dito Monsieur de Thou, que Luiz Cornaro amara unicamente a sua mulher, e que com a moderação e regimento vencera as queixas adquiridas nos primeiros annos, e com a força do juizo a propensão que tinha para a colera, e que finalmente fallecera em Padua depois de cem annos de idade sem dor, e com uma morte suave, e doce, como elle dizia e esperava, e assim lhe sucedeo. (Ramazzini, 1753, prólogo)

Após as considerações sobre a alimentação adequada aos príncipes e grandes senhores, a importância de aproveitar os bons ares, a dissipação dos humores e reanimação dos espíritos, por meio de exercícios como a caça, equitação e a dança, o bom sono noturno e a evacuação regular, Ramazzini aborda o que considera a coisa mais prejudicial e nociva à saúde dos príncipes: as paixões da alma.

Tradicionalmente, entre as seis coisas não naturais, as paixões são as últimas a serem discutidas, porém embora também obedeça a essa seqüência, Ramazzini (1753) alerta que elas são essenciais para a definição da saúde porque alteram o sangue, o que as colocaria em primeiro lugar:

Mas eu creyo que devião occupar o primeiro, como quem tem tanto mayor força, e influencia que as outras, sobre a bõa, ou má saude: qualquer pessoa póde conhecer pellos efeitos, e pelos sinaes, que produzem as paixões a grande força que tem as grandes revoluçoens, que pódem causar em hum instante em toda a massa do sangue. (p. 165-6)

Em resumo, quando a alma é perturbada, faz-se uma grande desordem no sangue ou no resto dos fluidos. Ramazzini, inclusive, reforça a idéia de que haveria um número "infinito" de casos de pessoas que perderam a vida por conta de alguma paixão excessiva, ou por um movimento furioso de cólera, ou medo, ou ainda por uma grande alegria inesperada após uma tristeza extrema. O que comprovaria o quão perigosas são as paixões.

Toda cautela faz-se necessária, mas ele não ousa, porém, recomendar a ausência absoluta de paixões, como faziam alguns filósofos, sobretudo os de inspiração estóica: "Não quero dizer que sejão sequazes de huma Apathia ou insensibilidade, que alguns Filosofos, vãa e soberbamente, tem affectado; porque isto seria querer que homem não fosse homem" (ibid., p. 173-4).

O problema das paixões transcende o campo médico, pois, em primeiro lugar, é uma questão moral, mesmo porque o remédio principal é o uso da razão. Especialmente para o príncipe, mostrar-se tomado por uma paixão implica um problema de ordem também política. Assim, não se pode exigir sua ausência completa, mas é imprescindível usar da moderação, prudência e justiça: "Que os Príncipes se alegrem, que sintão dor, que estejão tristes, que tenhão piedade, que alguma vez entrem em ira, não he estranho; mas desorte digna de um Principe" (ibid., p. 174).

No caso da tristeza, o regime pode ser corrigido de modo a melhorar as condições do corpo e contrabalançar esse afeto. Os alimentos deverão ser "abundantes de espíritos volateis", que dão vida, e os vinhos moderadamente fortes. Aliás, segundo Ramazzini, os vinhos têm o poder de aliviar as "amarguras do coração", tratando-se de um "soberano remédio para a tristeza" (ibid., p. 179). Eles podem ter efeitos terapêuticos para as dores do corpo:

E se os vinhos forem das melhores plantas, que se crião não somente nos montes, mas nos planos, serão então melhor para as mezas dos Principes e dos Senhores grandes; e isto ou seja para conservar a saúde, ou ainda para os que padecerem, ou gotta, ou pedra, para lhes diminuir as dores. (Ibid., p. 104-5)

Dentre os hábitos prejudiciais à saúde, considerava-se também que o excesso de estudo das letras torna o corpo lânguido e frouxo. Por essa razão, muitos religiosos e estudiosos tornam-se magros e melancólicos. Ramazzini, inclusive, anexa um comentário sobre a conservação da saúde dos homens letrados. Os problemas incluem fraqueza no estômago, por causa da concentração dos "espíritos" e do sangue na mesma atividade, além da má postura e lesão nos olhos. Sobre os incômodos da vida sedentária dos homens de letra, ele afirma:

Assim os estudiosos pouco a pouco, ainda que sejão de hum temperamento alegre se fazem melancolicos; e assim se costuma dizer, que os melancolicos são engenhosos: porém, ou melhor, que os engenhosos se fazem melancolicos, porque se lhes tira a parte do sangue espirituoso, que se occupa nas obras intellectuaes, ficando desta sorte todo o corpo feculento; isto he, cheyo de fezes, e maos humores. (Ibid., p. 311)

A principal referência são as reflexões de Marsilio Ficino (1433-1499), citado pelo autor. De fato, essa associação entre o estilo de vida do homem de letras e o temperamento melancólico já havia sido consolidada pelo pensamento do humanista florentino, um dos maiores responsáveis pelo renascimento de Platão para o pensamento moderno. No Sulla Vita, de 1489, constata-se que uma determinada disposição mental poderia causar a melancolia:

Entre todos os homens de letra, são oprimidos pela atrabile sobretudo aqueles que, dedicando-se com paixão à filosofia, desprendem a sua mente do corpo e das coisas corpóreas, e a conjugam às coisas incorpóreas, seja porque uma ocupação tão exigente requer uma maior atenção da mente, seja porque, por todo o tempo que unem a mente à verdade incorpórea, são levados à separá-la do corpo. Assim seus corpos tornam-se quase exangues e melancólicos. (Ficino, 1489/1995, I, 4, p. 103, tradução livre)3 3 Sobre a articulação entre melancolia e genialidade, apresentada no Problema XXX, atribuído a Aristóteles, e também defendida por Ficino, ver, entre outros, W. Schleiner, Melancholy, genius, and utopia in the Renaissance, 1991.

A esse respeito, o próprio Luigi Cornaro também faz um comentário, que se lê na edição portuguesa do Trattato della vita sobria que acompanha o livro de Ramazzini:

Assim vemos que os melancólicos são ordinariamente gente de espirito: porque a melancolia deseccando o corpo, fica a alma racional mais desembaraçada de humores, e por consequencia se eleva mais facilmente, e fica mais capaz das suas próprias funçoens, que todas são espirituosas. (Cornaro, apud Ramazzini, 1753, p. 373)

Por outro lado, conforme Ramazzini, as distrações que causam alegrias têm efeito benéfico para alma e corpo. Inclusive, as atividades relacionadas às ciências. Ele recomenda assistir às academias públicas de belas letras, disputas filosóficas, comédias, ou ainda participar de jogos e danças ou conversar com pessoas jovens. Há que se guardar um equilíbrio entre o ócio e a atividade para evitar as dores da alma. Se ficar muito parado faz mal à saúde, o excesso de esforço é igualmente prejudicial. Assim, especialmente nas cansativas expedições militares, convém alguns descansos e divertimentos próprios do homem sábio. Nas horas vagas, um pouco de leitura pode fazer bem à saúde. Recomenda-se, por exemplo, livros de história antiga e moderna.

Um regime português

O Âncora medicinal para conservar a vida em saúde, do médico português Francisco da Fonseca Henriques, foi considerado o primeiro tratado de nutrição em língua portuguesa.4 4 Ver prefácio de Sérgio de Paula Santos para a edição organizada por M. M. S. Almeida; S. A. Toledo Neto e H. Megale do livro de Francisco da Fonseca Henriques, 2004, p. 17-20. A bem da verdade, ele é muito mais do que uma obra de nutrição, é uma versão setecentista do gênero dos regimes de vida, como visto, já muito difundido em outros países europeus, sobretudo na Itália.

Publicado em 1721, e reeditado em 1731, 1754 e 1769, o livro do médico formado pela Universidade de Coimbra (1688), é dividido em cinco seções que contemplam a administração das chamadas seis coisas não naturais. A primeira seção discorre sobre os efeitos do ar ambiente. A segunda analisa as regras gerais da boa alimentação. A terceira examina vários alimentos em particular. A quarta versa sobre bebidas, tais como águas, vinhos, cervejas, café, chocolate, chás e licores diversos. A quinta e última seção condensa considerações sobre o sono e a vigília, o movimento e o descanso, a excreção e a evacuação e, finalmente, as paixões da alma.

Especificamente sobre as paixões da alma, Henriques teceu poucas, mas bastante contundentes, considerações. Ele faz um resumo sobre o essencial da doutrina antiga da causa e da dinâmica das paixões. Paixões são, basicamente, movimentos da alma desencadeados pela apreensão de objetos considerados bons ou maus, presentes ou futuros. Por exemplo, o amor é a paixão causada pela apreensão de um objeto deleitável no futuro. Algo que talvez chamássemos hoje de desejo. Nesse sentido, ele não propõe novidades; muito pelo contrário. O que mais se destaca, porém, é a relação entre paixão e morte. Na realidade, isso também não é uma constatação original. Mas, em tão poucas linhas, insistir tanto sobre o caráter mortal das paixões não deixa de impressionar. O medo, a ira, a alegria, todas as paixões matam. Até mesmo o gosto que, moderado, seria a única paixão capaz de contribuir para a conservação da saúde, quando excessivo, pode matar. Afinal, quem há de negar que é possível morrer de gozo?

Faz-se necessário considerar que, em um tratado sobre a conservação da vida, é natural que o autor advirta, enfaticamente, sobre os riscos oferecidos por determinadas experiências. Além disso, pode ser um recurso retórico empregado para chamar a atenção para as emoções. Em outras palavras, o discurso sobre sua correta administração é o último do livro, é explicado em poucos parágrafos, mas não carece de importância pois, afinal, elas matam!

Ora, todas essas hipóteses não nos impedem de pensar que é da própria natureza da paixão o descontrole, o excesso e o trágico. O que marcaria, de certa feita, o curto arrazoado do médico português.

Outro aspecto importante do discurso sobre as paixões é o exame de seus efeitos na saúde corporal. Também não se trata de novidade. Desde a Antigüidade, os médicos admitiam que enfermidades poderiam ser causadas por paixões da alma. Contudo, Henriques chega mesmo a afirmar que as paixões não apenas têm o poder de comover os humores e alterar o sangue, mas também mudar a constituição e o temperamento do corpo. Essa tese é bastante radical e pouco convencional, sobretudo, para um livro escrito numa época em que, sob influência do mecanicismo cartesiano e da progressiva valorização da observação do funcionamento corporal, a tendência européia era, cada vez mais, entender as próprias emoções não como causa, e sim como efeito das alterações orgânicas.

O regime de vida não foi o único gênero médico no qual a administração das paixões da alma era um dos temas. No Medicina Lusitana (1731a), Henriques discorre sobre dores diversas, tais como dor de ouvido, de dente, das pedras nos rins, cólicas etc., bem como sobre vários tipos de "sufocações" que uma criança pode sofrer, sobretudo por alimentos, entre outras substâncias, e ainda em função do medo. Ele volta a afirmar que um grande medo pode matar. No mínimo, "confunde a natureza" e "incita doenças venenosas" porque perturba e corrompe os humores, e, quando muito intenso, faz com que o sangue e os espíritos voltem-se para o coração, sufocando-o.

À guisa de exemplo, Henriques relata um caso – aliás atribuído ao médico suíço Felix Plater (1536-1614) –, de duas meninas que atiraram uma pedra em um enforcado e este teria se movimentado provocando tamanho choque em uma das meninas que ela, literalmente, morreu de medo: "[a menina assustada] cuydou que decia do patibulo para ir atrás della, e foy tal o medo que teve, que pasmada, triste e melancholica se foy para caza, e continuando no mesmo pasmo, e medo, dentro de poucos dias morreo convulsa" (Henriques, 1731a, p. 401-2).

Henriques explica que esses efeitos do medo não ocorrem apenas nas crianças, os adultos atemorizados também podem padecer seriamente. Ele se refere a vários médicos que sustentam essa opinião, entre eles o médico romano Alessandro Petronio (m. 1585), notadamente em seu De victu romanorum, de 1581, que também é citado no Âncora medicinal para conservar a vida em saúde.

De fato, Petronio, que teria prestado serviços médicos à corte do Papa Paulo IV (1555-1559), examina, no De victu romanorum, os efeitos das paixões da alma e, em particular, do medo, na saúde e na conservação da vida. Entre outros casos, o médico conta a história de uma mulher, aparentemente muito robusta, que teria morrido ao tomar conhecimento da prisão de seu filho e o caso de um grupo de frades que teriam morrido logo após atravessarem um perigoso lago congelado.5 5 Petronio explica que o medo pode atenuar o vigor do sangue, expulsá-lo dos ventrículos do coração e, em seguida, provocar a sufocação do calor natural ou ainda congelar o sangue imobilizando-o, o que pode causar morte súbita. Esse processo não decorre apenas do enfrentamento de uma ameaça presente, mas também de um perigo já transcorrido. O que se deve à fixação da alma na imaginação do perigo, como se esse continuasse iminente; vide o triste fim dos religiosos após a sua travessia. Essa poderosa ação sobre a realidade material do corpo e sobre a própria determinação da vida explica-se pela soberania da alma e se expressa pelo poder da imaginação. Ver Silva, 2006.

Conforme Henriques (1731a), o cuidado com as paixões da alma deve, inclusive, fazer parte da educação e do trato das crianças porque provocam males indeléveis. Em suas palavras: "Das payxoens do animo saram muyto por livrar os meninos, porque sendo vehementes, sigillam fortes impressoens no corpo, e excitam accidentes epilepticos, e outros danos mays" (p. 156).

Contudo, isso não significa que as crianças devam ser poupadas de todo afeto doloroso. O próprio medo pode ser útil no processo de formação do caráter e o bom exemplo do educador é fundamental para o mesmo:

Mas não devem criar-se livremente, sem temor, e respeyto a quem a doutrina, porque a sua malicia se não solte a depravados uzos, e a exercicios pouco decentes, havendo muito cuydado em que as pessoas que tratarem com eles sejam bem morigeradas, e sisudas, porque o seu exemplo lhe pode inclinar bem, ou mal os animos, e introduzir-lhe habitos perniciosos que em toda a vida lhe durem. (Henriques, 1731, p. 156)6 6 O médico italiano Girolamo Mercuriale (1530-1606), citado por Henriques, pois particularmente interessado no tratamento das enfermidades presentes nas crianças, tendo publicado uma obra chamada De morbis puerorum, em 1583, já havia discutido os efeitos dolorosos do desregramento das paixões na educação dos meninos.

Henriques finaliza seu regime das paixões admitindo que, muitas vezes, não é possível evitar ou dominar as paixões. A alternativa que ele sugere é, passado o momento crítico do impulso, buscar algum tipo de distração, em especial, por meio de divertimentos ou uma boa conversa. É interessante notar que ele, mesmo que timidamente, indica dois procedimentos que seriam retomados no âmbito dos tratamentos psíquicos ou cuidados de si contemporâneos: um é o aproveitamento do lazer como alívio das tensões e meio de realização pessoal, além de espaço para simbolização; outro é a conversa, que pode servir de ocasião para a expressão verbal das emoções, desabafo, consolação e todo tipo de talking cure.

Considerações finais

Os guias de bem-estar de hoje não são muito diferentes dos regimes de vida do início da Idade Moderna. Eles orientam a alimentação, a concepção de moradia, a higiene, o ritmo do sono, as atividades físicas, o ócio, e até mesmo a sexualidade e a expressão da afetividade. Outro ponto em comum é a crença na capacidade do eu em colocar em prática esse ideal, o que implica administrar seus apetites, manter suas escolhas e, sobretudo, dominar o máximo possível a si mesmo.

No que diz respeito ao campo do psíquico, a literatura antiga e a atual parecem pressupor, igualmente, a possibilidade de um regime das paixões. Havia, porém, uma separação sistemática entre as orientações sobre as emoções e a alimentação, por exemplo, embora ambas fizessem parte do mesmo esforço de medicina do corpo e da alma. Atualmente, essas separações foram questionadas e, mesmo na grande imprensa, lê-se artigos de divulgação científica que repetem máximas tais como: as dietas de emagrecimento são mais eficientes quando as pessoas têm mais auto-estima ou as emoções influem na escolha dos alimentos.

Por outro lado, há uma tendência atual de suprimir ou negar o caráter trágico, muitas vezes implicado na experiência das paixões. Prova disso é a valorização deslumbrada da euforia, do sentimento e do gozo.

Os regimes de vida deixaram de ser um recurso restrito às cortes e à alta burguesia dos importantes centros urbanos. Eles foram vulgarizados e difundidos para um mercado muito mais amplo, inclusive, de modo massificado. Eis aí uma armadilha: ao mesmo tempo em que contribuem para o culto à imagem de si, todos esses cuidados do corpo e do espírito, ao se tornarem massificados, distanciam-se cada vez mais do respeito ao singular de cada indivíduo.

Nesse sentido, o ideal dos regimes está na contramão da psicopatologia fundamental, sobretudo porque esta confere atenção especial à subjetividade e às manifestações do inconsciente, indomável e excessivo por natureza, e se interessa pelo sujeito trágico que é constituído e coincide com o pathos (Berlinck, 2000).

Pode ser que toda essa literatura, do passado e do presente, ajude, de uma forma ou de outra, as pessoas a viverem mais e com mais saúde. Uma questão inevitável, entretanto, é se ela é realmente capaz de ensinar alguém a desfrutar efetivamente de todo esse bem-estar.

Versão inicial recebida em janeiro de 2008

Versão aprovada para publicação em fevereiro de 2008

Paulo José Carvalho da Silva

Professor doutor do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP (São Paulo, SP, Brasil).

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e-mail: paulojcs@hotmail.com

  • Berlinck, M. T. Psicopatologia Fundamental São Paulo: Escuta, 2000.
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  • Foucault, M. A hermenêutica do sujeito São Paulo: Martins Fontes, 2004.
  • Henriques, F. F. Ancora medicinal para conservar a vida com saude. Lisboa: Officina Augustianiana, 1731.
  • ______. Medicina Lusitana, socorro delphico, aos clamores da natureza humana, para total profligação de seus males Amsterdam: Miguel Dias, 1731a.
  • ______. (1721). Âncora medicinal para conservar a vida em saúde. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
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  • ______. O tratamento das paixões da alma nos primórdios da medicina moderna: o De victum romanorum de Alessandro Petronio. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. IX, n. 1, p. 64-75, mar.2006.
  • Siraisi, N. G. Time, body, food: The parameters of health. In: The Clock and the Mirror. Girolamo Cardano and Renaissance Medicine. New Jersey: Princeton University Press, 1997. p. 70-90.
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  • *
    Pesquisa realizada com apoio Fapesp.
  • 1
    Ver os estudos de Michel Foucault (2004), apresentados em seu curso de 1982, sobre a noção de cuidado de si presente na filosofia antiga, sobretudo em Platão, Marco Aurélio, Sêneca e Epicuro.
  • 2
    Vale lembrar que na
    Consolação a Polibius (
    Ad Polybium de Consolatione), Sêneca consola o ministro de Cláudio que perdera um irmão mais novo e, ao mesmo tempo, suplica pela clemência do imperador e pede seu retorno a Roma. Ele havia sido exilado na Córsega, onde permaneceu dez anos, sob a acusação de adultério, supostamente com a sobrinha do próprio imperador Cláudio.
  • 3
    Sobre a articulação entre melancolia e genialidade, apresentada no
    Problema XXX, atribuído a Aristóteles, e também defendida por Ficino, ver, entre outros, W. Schleiner,
    Melancholy, genius, and utopia in the Renaissance, 1991.
  • 4
    Ver prefácio de Sérgio de Paula Santos para a edição organizada por M. M. S. Almeida; S. A. Toledo Neto e H. Megale do livro de Francisco da Fonseca Henriques, 2004, p. 17-20.
  • 5
    Petronio explica que o medo pode atenuar o vigor do sangue, expulsá-lo dos ventrículos do coração e, em seguida, provocar a sufocação do calor natural ou ainda congelar o sangue imobilizando-o, o que pode causar morte súbita. Esse processo não decorre apenas do enfrentamento de uma ameaça presente, mas também de um perigo já transcorrido. O que se deve à fixação da alma na imaginação do perigo, como se esse continuasse iminente; vide o triste fim dos religiosos após a sua travessia. Essa poderosa ação sobre a realidade material do corpo e sobre a própria determinação da vida explica-se pela soberania da alma e se expressa pelo poder da imaginação. Ver Silva, 2006.
  • 6
    O médico italiano Girolamo Mercuriale (1530-1606), citado por Henriques, pois particularmente interessado no tratamento das enfermidades presentes nas crianças, tendo publicado uma obra chamada
    De morbis puerorum, em 1583, já havia discutido os efeitos dolorosos do desregramento das paixões na educação dos meninos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Jul 2008
    • Data do Fascículo
      Mar 2008

    Histórico

    • Recebido
      Jan 2008
    • Aceito
      Fev 2008
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