Acessibilidade / Reportar erro

Perspectivas e desafios para a disseminação em nível internacional para a produção brasileira

EDITORIAL

Perspectivas e desafios para a disseminação em nível internacional para a produção brasileira

Silvia H. Koller

Foi com muita honra que recebi o convite do editor da Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental para escrever o editorial deste número. O momento é bastante propício na editoração científica brasileira, por estarmos presenciando a indexação de nossas revistas em bases de dados importantes no cenário internacional. Este renomado periódico foi um dos reconhecidos pela base de dados Thomson Reuters para inclusão nas suas ferramentas de disseminação do conhecimento. Este fato nos engrandece e orgulha, mas também nos traz maior responsabilidade e compromisso.

Certamente novos tempos nos acercam no âmbito da internacionalização da produção e da formação na Psicologia brasileira. Dar visibilidade ao que é pesquisado e publicado no Brasil (publicações, intercâmbios, organização de eventos etc.) tem pautado amplas discussões em agências de fomento e de avaliação. A formação de estudantes e aperfeiçoamento de docentes perpassam ações em programas de pós-graduação, que buscam equivaler aos estrangeiros para competir no mercado internacional. No entanto, tais modelos estrangeiros são principalmente oriundos do hemisfério norte. A ênfase ao intercâmbio com a América Latina também tem aparecido mais recentemente e sido incentivada por associações e pesquisadores. Mas ainda é incipiente e não valoriza as similaridades e as possibilidades de intercâmbio e apropriação compartilhada de conhecimentos em sua total potencialidade.

Não há fronteiras geográficas para o conhecimento, entretanto há limitações pelo idioma. Produtores de conhecimento em português, mesmo com a nova reforma para equivalência ortográfica, ainda somos minoria linguística na ciência, que passa ao largo do idioma inglês institucionalizado como oficial. Isto, no entanto, se reflete na indexação e nos índices de impacto obtidos por nossos estudos. A defesa de tais critérios frequenta órgãos de fomento, para verificar a qualidade das publicações, mas tem também sido amplamente criticada. Em estudo recente, Meneghini, Packer e Nasi-Calò (2008) salientam que além do fator de impacto, o país de origem dos autores também influencia a citação na literatura internacional.

O conhecimento produzido em psicologia é universal, a ciência assim o é, mas há alguns de nossos textos que poderiam ter maior repercussão para a audiência brasileira e de outros países do hemisfério sul. Devemos estar atentos, para o que detectou Sampaio (2008), em artigo recente sobre as citações de revistas em teses e dissertações defendidas em uma universidade brasileira (USP), no período de 2000 a 2005. Há uma lacuna, nessas produções, de referências aos periódicos publicados na América Latina, levando a autora a denunciar nossa pouca leitura e preconceito com relação a estes. Devemos atentar sempre aos muitos países que têm realidades semelhantes às nossas e que muito poderiam se beneficiar de experiências de intervenção, procedimentos clínicos, resultados de pesquisas, entre tantas outras formas de produzir conhecimento. Tonetto et al. (2008) mostram em recente análise que a produção de conhecimento de algumas revistas brasileiras de psicologia pode estar voltada tanto para subsidiar intervenções como para impulsionar o desenvolvimento teórico da área. A produção desse tipo de textos e a divulgação de revistas requer atenção da comunidade científica, pois têm impacto na disseminação do conhecimento e no índice de produtividade pelo qual os pesquisadores são avaliados.

O uso de referências revela a maturidade da comunidade científica e, portanto, é esperado que em novos estudos esse panorama seja modificado. Nossos pesquisadores têm o hábito de citarem a si mesmos, seus orientadores e parceiros, e autores estrangeiros (Hutz & Adair, 1996). Há, certamente, acesso amplo a referências estrangeiras na internet e em bases de dados abertas. Mas também temos bases de dados eletrônicas brasileiras, pioneiras e de alto impacto na ciência internacional. A Scientific Electronic Library Online – Scielo (www.scielo.org) é uma grande conquista brasileira, que se estende à América Latina e ao Caribe e na qual a psicologia está bem representada e em amplo crescimento. A Biblioteca Virtual de Psicologia (www.bvs-psi.org.br) é uma das maiores realizações da Psicologia brasileira em sua história contemporânea, se não a maior, e merece todo nosso apoio e respeito.

Os critérios das agências de fomento balizam os avanços da interna-cionalização do conhecimento produzido no Brasil e incentivam aos pesquisadores à inserção vívida nesses processos. Em recente análise realizada por Lo Bianco et al. (2008), nos relatórios e fichas de avaliação dos programas de pós-graduação em Psicologia do último triênio, mostram bons índices de internacionalização, mas a ênfase nas descrições é em geral dada aos países do hemisfério norte.

A produção científica em Psicologia tem crescido, tanto em termos de disseminação das pesquisas de excelente qualidade que se produz no Brasil quanto na qualidade da formação de estudantes e professores. Uma análise do banco de dados SCImago (http://www.scimagojr.com) mostrou um aumento de quarenta documentos brasileiros em psicologia citados em 2005 para 194 em 2006. Em 2007, o Brasil apresenta cinco vezes mais documentos indexados do que o segundo país latino-americano no ranking de produções indexadas em grandes bases de dados científicas em Psicologia. Portanto seguem-se alguns desafios que se referem diretamente à abertura de publicações em outros idiomas nas revistas brasileiras, entrada em novos indexadores, apoio às bases de dados nacionais e latino-americanas, distribuição eletrônica de revistas. Esses desafios abrem perspectivas que só serão consolidadas pelo maior apoio das agências de fomento às publicações científicas, pela valorização e disseminação das produções em vários âmbitos e fóruns. Mas a principal atitude deve partir dos próprios pesquisadores, que devem definitivamente adotar e priorizar a citação de estudos brasileiros de seus colegas a estudos estrangeiros, fazer referências a revistas brasileiras em suas publicações de forma sistemática e regular. E mais do que isto convencerem-se de que a ciência que produzimos neste país é de excelente qualidade e está pronta para competir em nível de igualdade.

SILVIA H. KOLLER

Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (Porto Alegre, RS, Brasil)

Rua Ramiro Barcelos, 2600/104

90035-003 Porto Alegre, RS, Brasil

e-mail: silvia.koller@pq.cnpq.br

  • HUTZ, C. S.; ADAIR, J. The use of references in Brazilian psychological journals reveals trends in thought and research. International Journal of Psychology, n. 31, p. 145-149, 1996.
  • LO BIANCO, A. C.; KOLLER, S. H.; ALMEIDA, S.; PAIVA, V. S. Perfil e metas de qualificação e internacionalização dos programas de pós-graduação em Psicologia Seminário Horizontes da Pós-Graduação em Psicologia no Brasil. Bento Gonçalves: ANPEPP/Capes, 2008.
  • MENEGHINI, R.; PACKER, A. L.; NASI-CALÒ, L. Articles by Latin American authors in prestigious journals have fewer citations. PLoS ONE, v. 3, n. 11, e3804 doi:10.1371/ journal.pone.0003804.
  • SAMPAIO, M. I. Citações a periódicos na produção científica de Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 28, n. 3, p. 452-465, 2008.
  • TONETTO, A.; AMAZARRAY, M. R.; KOLLER, S. H.; GOMES, W. B. Psicologia organizacional e do trabalho no Brasil: desenvolvimento científico contemporâneo. Psicologia & Sociedade, v. 20, n. 2, p. 165-173, 2008.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jul 2009
  • Data do Fascículo
    Mar 2009
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Av. Onze de Junho, 1070, conj. 804, 04041-004 São Paulo, SP - Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: secretaria.auppf@gmail.com