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Uma delicada transição: adolescência, anorexia e escrita

Ein delikater Übergang: teenagerphase, anorexie und schrift

A delicate transitoriness: adolescence, anorexia and writing

Une délicate transition: adolescence, anorexie, écriture

Una delicada transición: adolescencia, anorexia y escrita

Resumos

Neste artigo, discutimos o caso clínico de uma adolescente, Nina, com anorexia. Orientadas pela psicanálise, trabalhamos o caso a partir de três perspectivas: diante da falta de um organizador simbólico consistente para tratar o real do sexo, Nina buscou abordá-lo por meio de uma inflação do imaginário; a oferta da escuta analítica teve como resposta a produção simbólica e a remissão da anorexia; e, finalmente, a persistência do vômito indica algo do real inassimilável pela palavra.

Adolescência; anorexia; escrita; psicanálise


Dieser Beitrag behandelt den klinischen Fall des anorexischen Teenagers, Nina. Der Fall wurde mit Unterstützung der Psychoanalyse aus drei Perspektiven untersucht: Aus Mangel eines symbolischen vereinbarenden Organisationselements, um den wahren Sinn von Sex zu begreifen, versuchte Nina, dieses Thema durch Inflation ihrer Phantasie anzugehen. Das Angebot analytischen Zuhörens erzeugt die Reaktion einer symbolischen Hervorbringung und Remission von Anorexie. Und schließlich, deutet das wiederholte Erbrechen auf das durch Worte wirklich Nicht Assimilierbare.

Teenagerphase; Anorexie; Schrift; Psychoanalyse


In this article we discuss the clinical case of a teenage girl, Nina, with anorexia. Based on psychoanalysis, we look at this case from three perspectives. First, given the lack of a consistent symbolic organizing to address the real of sex, Nina tried to approach it through imaginary inflation. Secondly, the availability of analytic listening produced the response of symbolic production and remission of anorexia. Finally, persistent vomiting indicated something of the real that was inassimilable through words.

Adolescence; anorexia; writing; psychoanalysis


Dans cet article, nous discutons le cas clinique d'une adolescente, Nina, qui souffre d'anorexie. Orientées par la psychanalyse, nous avons travaillé le cas à partir de trois perspectives: étant donné le manque d'un organisateur symbolique consistant pour traiter le réel du sexe, Nina a essayé de l'aborder par l'inflation de l'imaginaire; l'offre de l'écoute analytique a eu comme réponse la production symbolique et la rémission de l'anorexie; et finalement la persistance des vomissements indique quelque chose du réel inassimilable par la parole.

Adolescence; anorexie; écriture; psychanalyse


En este artículo discutimos el caso clínico de Nina, una adolescente, con anorexia. Orientadas por el psicoanálisis, trabajamos en el caso desde tres perspectivas: dada la falta de un organizador simbólico para tratar lo real del sexo, Nina intentó acercarse a ello a través de una inflación del imaginario; la oferta de la escucha analítica tuvo como respuesta la producción simbólica y la remisión de la anorexia y, por último, la persistencia del vómito indica algo de lo real que no es asimilable por la palabra.

Adolescencia; anorexia; escrita; psicoanálisis


ARTIGO

Uma delicada transição: adolescência, anorexia e escrita* * Trabalho realizado em parceria com o Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.

A delicate transitoriness: adolescence, anorexia and writing

Une délicate transition: adolescence, anorexie, écriture

Una delicada transición: adolescencia, anorexia y escrita

Ein delikater Übergang: teenagerphase, anorexie und schrift

Cristiane de Freitas CunhaI; Nádia Laguárdia de LimaII

IDoutorado em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG, Br); Professora Associada do Departamento de Pediatria – Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais

IIDoutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG, Br); Psicóloga; Professora Adjunta do Departamento de Psicologia – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço para correspondência Endereço: Cristiane de Freitas Cunha Av. Alfredo Balena, 190/275 – Santa Efigênia 30130-100 Belo Horizonte, MG, Br. Fone: (31) 8797-2046 e-mail: cristianedefreitascunha@gmail.com

RESUMO

Neste artigo, discutimos o caso clínico de uma adolescente, Nina, com anorexia. Orientadas pela psicanálise, trabalhamos o caso a partir de três perspectivas: diante da falta de um organizador simbólico consistente para tratar o real do sexo, Nina buscou abordá-lo por meio de uma inflação do imaginário; a oferta da escuta analítica teve como resposta a produção simbólica e a remissão da anorexia; e, finalmente, a persistência do vômito indica algo do real inassimilável pela palavra.

Palavras-chave: Adolescência, anorexia, escrita, psicanálise

ABSTRACT

In this article we discuss the clinical case of a teenage girl, Nina, with anorexia. Based on psychoanalysis, we look at this case from three perspectives. First, given the lack of a consistent symbolic organizing to address the real of sex, Nina tried to approach it through imaginary inflation. Secondly, the availability of analytic listening produced the response of symbolic production and remission of anorexia. Finally, persistent vomiting indicated something of the real that was inassimilable through words.

Key words: Adolescence, anorexia, writing, psychoanalysis

RESUMÉ

Danscet article, nous discutons le cas clinique d'une adolescente, Nina, qui souffre d'anorexie. Orientées par la psychanalyse, nous avons travaillé le cas à partir de trois perspectives: étant donné le manque d'un organisateur symbolique consistant pour traiter le réel du sexe, Nina a essayé de l'aborder par l'inflation de l'imaginaire; l'offre de l'écoute analytique a eu comme réponse la production symbolique et la rémission de l'anorexie; et finalement la persistance des vomissements indique quelque chose du réel inassimilable par la parole.

Mots clés: Adolescence, anorexie, écriture, psychanalyse

RESUMEN

En este artículo discutimos el caso clínico de Nina, una adolescente, con anorexia. Orientadas por el psicoanálisis, trabajamos en el caso desde tres perspectivas: dada la falta de un organizador simbólico para tratar lo real del sexo, Nina intentó acercarse a ello a través de una inflación del imaginario; la oferta de la escucha analítica tuvo como respuesta la producción simbólica y la remisión de la anorexia y, por último, la persistencia del vómito indica algo de lo real que no es asimilable por la palabra.

Palavras claves: Adolescencia, anorexia, escrita, psicoanálisis

ZUSAMMENFASSUNG

Dieser Beitrag behandelt den klinischen Fall des anorexischen Teenagers, Nina. Der Fall wurde mit Unterstützung der Psychoanalyse aus drei Perspektiven untersucht: Aus Mangel eines symbolischen vereinbarenden Organisationselements, um den wahren Sinn von Sex zu begreifen, versuchte Nina, dieses Thema durch Inflation ihrer Phantasie anzugehen. Das Angebot analytischen Zuhörens erzeugt die Reaktion einer symbolischen Hervorbringung und Remission von Anorexie. Und schließlich, deutet das wiederholte Erbrechen auf das durch Worte wirklich Nicht Assimilierbare.

Schlüsselwörter: Teenagerphase, Anorexie, Schrift, Psychoanalyse

Introdução

Neste artigo apresentamos o caso clínico de uma adolescente, Nina, que, no despertar da puberdade, desenvolveu uma "anorexia", segundo o diagnóstico médico. A entrada na adolescência desencadeou em Nina uma grande angústia, a insatisfação com a imagem corporal, seguida de diversas tentativas de emagrecimento, como os vômitos e as dietas. Sustentadas pela teoria psicanalítica, defendemos a hipótese de que, diante da falta de um organizador simbólico consistente para tratar o real, Nina buscou abordá-lo pela via do imaginário, por meio de uma inflação excessiva do Eu Ideal. No entanto, essa solução se mostrou precária para tratar a pulsão. A oferta da escuta analítica com a consequente instauração da transferência teve como resposta a produção significante, oral e escrita. Nina escreve um diário, endereçado à analista. Nesses escritos enviados à analista, Nina constrói o seu romance familiar, se deslocando da posição de "ser determinada pela história", para ler essa determinação. O tratamento pela palavra permite nomear parte de seu impossível de dizer, levando à remissão da sua anorexia, ao início de um namoro e a inserção no mundo do trabalho. Nessa delicada transição da adolescência, a analista, ao acolher esse ponto de indizível do encontro sempre traumático com o Outro sexo, que vem fazer furo no saber, permitiu a abertura da via de acesso ao desejo desse sujeito. No entanto, a persistência de episódios esporádicos de vômito aponta para um resto inassimilável pela palavra.

A adolescência

A adolescência é um tempo lógico que leva a um desatar do nó que amarra os três registros da realidade psíquica. Há a irrupção do real do sexo, a consistência imaginária do corpo é desfeita, e o simbólico mostra-se insuficiente para significar essa experiência.

O real desperto na puberdade é a emergência de algo novo, um gozo desconhecido do sujeito, que remete a uma falha de saber. Como aponta Recalcati (2004), esse gozo emerge diretamente das transformações puberais do corpo e impõe ao sujeito um rearranjo das próprias identificações precedentes. O autor acrescenta que a infância e a adolescência se caracterizam por dois modos diferentes com os quais o sujeito joga sua relação com o Outro da linguagem. Na infância, a criança se identifica com o significante da demanda do Outro, convertendo-se em objeto do fantasma materno, tempo da alienação significante do sujeito. Ainda segundo Recalcati (2004), no tempo da infância a criança faz uma viagem ao país do Outro para recuperar os próprios elementos significantes que lhe servem para construir uma identidade subjetiva própria. A criança encontra e extrai estes elementos identificatórios do campo do Outro. Na adolescência o sujeito pode retificar o resultado do encontro com o Outro, que o marcou em sua infância. O tempo da adolescência inaugura, portanto, a dimensão da separação.

Stevens (2004) destaca que na adolescência há uma quebra das identificações simbólica e imaginária. Do lado da identificação imaginária, as rápidas transformações corporais e o "vai tornar-se" levam a um certo despedaçamento do imaginário. O corpo como consistência é abalado. Se a consistência do corpo é imaginária, o real do sexo faz abalar essa ilusão que sustenta o corpo, exigindo do sujeito sua reconstrução. Do lado da identificação simbólica, surge a necessidade de se operar uma separação das figuras simbólicas dos pais. O sujeito precisa buscar outras identificações, para além do pai. Ele vai se ancorar sobre um certo número de traços tomados de outras pessoas (ibid.).

A puberdade é um dos momentos em que a não relação sexual aparece para o sujeito (Lacan, 2003), ou seja, há um não saber sobre o que fazer quanto ao sexo, que remete à impossibilidade simbólica estrutural. A relação que o sujeito mantém com a linguagem não é suficiente para barrar o gozo pulsional. Segundo Stevens (2004), a adolescência é a resposta sintomática e singular que o sujeito vai dar a isso, é o arranjo particular com o qual ele organizará sua existência, sua relação com o mundo e com o gozo.

O romance familiar

Na adolescência o sujeito precisa reescrever a sua história, a sua ficção particular, como forma de dar sentido ao real. Para Freud (1908/1974), as fantasias, assim como os sonhos, são realizações de desejo. Elas visam resgatar o pai da infância, "aquele pai em quem confiava nos primeiros anos de sua infência" (p. 246) e, ao mesmo tempo, operam como um suporte para lidar com o desconhecido, o indizível, proporcionando recursos para o processo de separação.

Na adolescência, quando as identificações simbólicas e imaginárias se desfazem, a fantasia (fálica) vacila e surge a interrogação sobre o sentido. A construção de um romance familiar é uma tentativa de reconstrução, a partir dos restos das primeiras relações identificatórias. É a escrita de uma história particular, feita de fantasias que se organizam para a construção de um novo sentido. Assim, no despertar do real do gozo na puberdade, quando o simbólico se mostra insuficiente, a construção de um romance familiar busca tentar suprir essa insuficiência simbólica. A construção de um romance familiar, essa fantasia criada pelo sujeito sobre a própria história, envolve, pois, um distanciamento dos pais que permite uma leitura de sua determinação histórica. Os "escritos de si", tão comuns na adolescência, atestam esse esforço de significação, exercendo uma importante função subjetiva nessa fase da vida. Como atesta Costa (2001): "Só escrevemos quando mudamos de lugar. Qualquer tipo de endereçamento que se faça, na constituição da escrita, implica que haja uma saída do lugar onde se está, e uma construção de um lugar outro" (p. 186). A escrita se endereça, portanto, ao lugar do Outro. No ato da escrita, os dois lugares, do sujeito e do Outro, se constituem, organizando e orientando o lugar próprio.

Ao se fazer protagonista da própria história, no ritmo e na temporalidade próprios da escrita diária, o sujeito adolescente pode descobrir um ponto de ancoragem de uma referência significante. Assim, a escrita de seu "romance particular" pode funcionar como um operador de subjetivação para o adolescente (Lima, 2009).

Caso Nina: a anorexia, o percurso analítico e a escrita do romance familiar na adolescência

"Ao começar a escrever tive que decidir ser verdadeira com você e comigo mesma... Afinal, é assim que começa o processo de autoamor". (Nina)

Nina chegou ao NIAB1 1 Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. O Núcleo, fundado em 2004, agrega médicos, psicólogos e nutricionistas em torno do referencial da psicanálise lacaniana. aos 16 anos, com o diagnóstico de anorexia dado pelo clínico. Nina fala que o seu problema é a falta do pai. Nesse momento inicial do tratamento, observamos a distinção entre verdade e saber. A verdade do discurso da ciência, expressa na nomeação do médico: anorexia. O saber do real, o furo na significação: a falta do pai (Lacadée, 2011). Os pais de Nina se separaram quando ela tinha cinco anos. A eclosão do sintoma alimentar foi precedida pela descoberta da mulher do pai, na adolescência. Em sua primeira consulta no Niab, Nina relata que ganhou seis quilos em 2006 e, quando percebeu o ganho, começou a comer menos; havia começado a vomitar há uma semana. Pediu ajuda para um pastor e disse que "quer curar", não quer ser como essas meninas e acordar em uma cama de hospital.

Para Recalcati (2004), na anorexia, o aumento da espessura do real da pulsão leva o adolescente ao aumento da espessura do registro imaginário, por meio de uma inflação excessiva, narcisística, do Eu Ideal. Assim, o adolescente não enfrenta essa emergência do real da pulsão por meio do simbólico, do Ideal do Eu, mas pela via do Eu Ideal. Essa tentativa se mostra muito precária, incapaz de realizar de forma satisfatória este movimento de domínio do Ideal sobre a pulsão. Diante de um real ingovernável, a imagem restitui em sua deformação exatamente esta ingovernabilidade: "... o adolescente se observa e não vê o Eu Ideal, mas sim sua alteração monstruosa" (p. 126). Nina escreve:

Na escola eu tinha me isolado de todos, tinha entrado em comunidades do Orkut de pessoas que tinham distúrbio alimentar, postava que me achava super- gorda e que tinha que emagrecer de qualquer forma, e chorava pelos cantos... Meus colegas perguntavam onde estava minha alegria, minhas brincadeiras... e eu não sabia responder.

Pouco tempo depois que começaram os atendimentos no NIAB, Nina pediu ao pai um caderno para escrever o seu diário. Ela também passou a escrever um diário no computador. Essa escrita era endereçada à sua analista, a quem ela enviava os seus escritos. Nina dizia que queria ser "historiadora". Assim, a oferta da escuta pela analista teve como resposta a produção significante, oral e escrita, levando Nina a construir o seu romance familiar, via transferência:

Começando pelos meus pais...

Meu pai era serralheiro, e minha mãe é faxineira, e cuidou dos meus irmãos e de mim sozinha. Aos quatro anos eu fiquei sabendo que tinha mais dois irmãos por parte do meu pai com outras mulheres, e confesso que no início foi confuso para mim, de repente eu era a irmã do meio não só de quatro irmãos (por parte de mãe) mas sim de seis irmãos! Como explicar isso para uma criança? Eu não sei até hoje!

Eles se separaram quando eu tinha seis anos, mas minha mãe pedia para eu perguntar ao meu pai quando ele ia voltar para casa, ele sempre respondia que "Um dia". Depois de alguns anos, eu tinha a noção de que meu pai devia ter uma outra mulher, então eu parei de fazer as perguntas a ele e quando minha mãe procurava respostas eu mentia, falava que "Logo, logo".

A relação com o pai era descrita como bastante conflituosa. Nina estava sempre reivindicando a atenção do pai, descrito como "ausente" e como alguém que nunca cumpre o que promete. A participação do pai em sua vida se dá via alimentação. Eles saem juntos para comprar os mantimentos para a casa dela. O que ele compra é também sempre "insuficiente". Nina comenta que a convivência com o pai não é muito "nutritiva": Meu pai e eu não tínhamos uma convivência muito nutritiva, sempre brigávamos, era sempre a mesma rotina: nos encontrávamos e brigávamos! Ele me prometia presença, me prometia várias coisas mas ele não cumpria.

Freud (1931/1984) observa que o amor da menina dirigido ao pai possui sua raiz inconsciente na união da menina com a mãe, acentuando o caráter inerte, pegajoso e passivo da relação primordial da menina com o Outro materno. Assim, tornar-se mulher significa uma dupla substituição: da sexualidade clitoriana para a vaginal e da mãe pelo pai como objeto primordial de amor. Há, portanto, uma troca da modalidade de gozo e de objeto. Como ressalta Recalcati (2004), não casualmente é no tempo da adolescência que se desencadeia a resposta anoréxico-bulímica do sujeito. Para o autor, a anorexia-bulimia indica a permanência do sujeito ao regime do desejo da Mãe e, ao mesmo tempo, a tentativa de subversão deste regime.

Hoje acordei com o intuito de CONVIVER COM MINHA MÃE e VIVER ao mesmo tempo, e confesso que achei bem difícil não ir ao quarto dela para conferir se ela estava viva, mas consegui. Acho que posso continuar tentando. Fugindo um pouco do assunto... Ela me dá tudo, mas eu não quero tudo, eu não quero os presentes que ela me dá pelas manhãs, eu não quero que ela me dê dinheiro, EU SÓ QUERO AMOR. Acho que ela me dá o amor de um jeito diferente, um jeito que me faz mal... e como não sei dizer isso a ela... Complica um pouco né?

Um amor que faz mal – assim Nina define a devastação, marca da sua relação com a mãe. Em uma entrevista com a mãe, ela relata que Nina nunca permitiu que ela a acompanhasse nas consultas médicas, "... aos seis meses Nina já ficava sozinha com o pediatra". Nina solicita incessantemente a presença da mãe, e se exaspera com a ausência provocada pelo trabalho e pelos namoros dela. Ao mesmo tempo, se interroga: Como uma criança pode viver sem o pai?

A insuficiência do Pai (como Significante da Lei e como Homem, objeto causa do desejo da mãe) deixa a filha à mercê do Desejo da Mãe. Segundo Recalcati (2004), não é a incógnita fálica que atrai e causa o Desejo da Mãe (sustentada pela função simbólica do falo), mas o desejo da Mãe é absorvido e absorve ao mesmo tempo o "ser o falo da menina" (p. 133). A anoréxica reage a este vínculo introduzindo o nada como objeto separador, como apelo ao Pai:

O tempo foi passando e por mais que agora eu fosse mais à casa do meu pai, as brigas não cessaram... brigávamos por tudo. Definitivamente não nos dávamos tão bem quanto queríamos. Meu pai não parava de comparar a minha irmã comigo, sempre eu tinha que ser igual a ela, mas, eu não dava o braço a torcer, eu era a filha revoltada... usava esmalte escuro, saia curta... Tudo o que era possível para ele me perceber!

Os sintomas alimentares começaram quando Nina descobre que o pai tem outra mulher, ou seja, que o pai, como homem, deseja uma mulher. Na adolescência o Outro é percebido como Outro sexuado e esta percepção do Outro como sexuado "cria o lugar para o objeto causa do desejo como objeto do próprio fantasma" (Recalcati, 2004, p. 124). Ao se deparar com um Outro fundamentalmente sexuado, a pulsão, então autoerótica, deve encontrar um objeto sexual que triunfe sobre a dimensão narcisística do autoerotismo. Na puberdade ocorre uma segunda excursão ao "país do Outro", caracterizada pelo ágalma, o objeto a, causa de desejo, que possui uma raiz pulsional e que é irredutível ao plano das identificações imaginárias.

Esse desejo, desperto na adolescência, leva o sujeito à revivência edípica, anunciada por Freud, necessária à sua dissolução. Nina descreve uma sensação "estranha" ao deitar na cama com o pai: Lembro de um detalhe, deitamos na mesma cama e começamos assistir jornal, achei superestranho, e procurei me levantar com a desculpa que tinha que ligar para minha mãe.

As transformações do corpo tornam possível o acesso à realização das fantasias incestuosas no redespertar do Complexo de Édipo na adolescência, mas "o desejo sexual reativa uma interdição, o que põe em evidência a impossível harmonia entre a pulsão e a corrente terna sobre o mesmo objeto" (Cottet, 2004, p. 13).

A emergência do desejo sexual remete Nina à fantasia de espancamento na infância. Aos quatro anos, ao correr nua na direção do pai, foi espancada por ele: ficou a marca do chinelo. A busca de emagrecimento a todo custo poderia ser uma tentativa de encobrimento do corpo feminino? A fantasia de espancamento descrita por Freud (1919/1974) aponta para uma dimensão que vai além do princípio de prazer, uma dimensão de gozo. A irrupção de gozo na puberdade parece ter "despertado" a fantasia de espancamento de Nina, levando a uma resposta sintomática localizada no corpo. O corpo anoréxico anula o desejo do Outro, já que leva a um apagamento das formas femininas e, paradoxalmente, "atrai o seu olhar", ao evidenciar sua fragilidade. A recusa alimentar também pode ser pensada a partir dessa dialética. O sujeito busca se separar do Outro, recusando o alimento que ele oferece, mas essa recusa obstinada acaba por manter o olhar do Outro sobre ele, que insiste em alimentá-lo.

Nina, por meio de sua escrita, revela que o seu sintoma alimentar é endereçado ao Outro:

Longos períodos de jejum se resumem em algo: desmaios na escola. As professoras algumas vezes me liberavam antes da aula, mas certo dia eu tive que explicar o motivo para elas e para a pedagoga. Com elas ao meu lado as coisas foram mais fáceis... Elas me perguntavam como era o NIAB, perguntavam se eu já tinha experimentado iogurte natural, se eu estava bem... Verdadeiras pérolas! Tiveram vezes em que desmaiava, ou ficava tonta que meu amigo me carregava até a enfermaria... acho que essa durante algum tempo virou a minha rotina. Quando temos algo que nos aflige e temos pessoas ao nosso lado o fardo parece menos pesado. Mas reconheço que eu era dramática demais, eu chorava demais. Várias vezes eu dizia que queria morrer, muitas vezes por futilidades, outras para o meu pai me enxergar, mas não posso negar que tiveram vezes que parecia que eu não ia aguentar várias coisas novas em minha cabeça e não sabendo como lidar com elas.

Assim, alguns elementos do caso nos levam a pensar numa neurose histérica: o endereçamento do sintoma a um Outro, a construção do romance familiar e o drama edípico. O sintoma alimentar, nesse caso, parece inscrever-se no registro fálico. A construção do romance familiar permite um trabalho de separação dos pais. Nina assume uma posição mais crítica diante dos pais e se recusa a ser usada por eles:

O motivo da minha última briga feia que tive com minha mãe foi que eu descobri que ela havia ameaçado o meu pai de me expulsar de casa se ele não voltasse a morar com ela. Briguei com os dois, com ela por ter feito algo errado e querer mudar a minha vida sem ao menos perguntar se eu estava bem, e com ele por não ter dado uma resposta direta já que ele tinha outra mulher. Estou sofrendo, é difícil compreender esse mundo principalmente quando se tem anorexia e bulimia... o mundo é mau!

Nina continua o seu percurso na análise, e, em um encontro com o pai, consegue, pela "primeira vez", dizer a ele "tudo o que pensa":

No dia 9 de fevereiro fui encontrar com o meu pai, para ele comprar meus materiais para volta às aulas, a última e pior briga que eu já tive com ele... Fui em frente ao supermercado onde tínhamos o costume de nos encontrar. Ele pela primeira vez chegou me dando um abraço... Pela primeira vez em uma discussão falei tudo o que me chateava, das promessas que ele me fazia e que nenhuma foi cumprida, disse dos finais de semana que ele dizia que ia me visitar e que nunca foi, das comparações que ele fazia entre minha irmã e eu... Chorei demais, ele disse que quem ama perdoa, e que eu podia marcar um encontro que dessa vez ele iria... Eu disse que por amá-lo demais não queria mais encontrá-lo (vê-lo), pois eu tinha medo que nossas brigas destruíssem esse amor. Ele respondeu que era para eu tomar cuidado com o que eu pedia. Foi uma briga séria e terrível!

O processo de separação do Outro é dificultado, neste caso, pela morte do pai, alguns dias depois da briga. Nina é invadida por um grande sentimento de culpa:

Nesse momento não tenho a resposta exata de como estou me sentindo, meu pai faleceu há uma semana e sinto que meu coração está partido. E antes de sua morte eu disse a ele enquanto brigávamos: Pai, eu te amo, e por esse amor não quero te ver mais para evitar brigas! Por isso eu acho que devemos tomar cuidado com o que desejamos, pois nossa vontade acaba sendo realizada.

Tomada por intensa angústia, Nina ingere "muitos remédios" e é hospitalizada. Mas ela insiste em viver e, possibilitada pelo seu percurso analítico e pela escrita, faz o trabalho de luto: Eu aprendi e aprendo bastante com essa perda, farei dela o meu caminho para a felicidade, "que seja eterno enquanto dure". Nina escreve várias cartas "para o pai", se despedindo dele, que são encaminhadas para a sua analista por e-mail. As cartas ao pai e as escritas em seu diário tornam-se cada vez mais escassas, assim como os sintomas alimentares. Permanece, no entanto, o vômito.

Dois anos depois da morte do pai, Nina, ainda em análise, escreve à analista:

Demorou muito tempo, mas eu descobri que foi meu pai quem morrera e não eu. Tenho minha vida pela frente, tenho planos, sonhos, e não vou deixar de realizá-los. O laço que existe entre nós estará vivo dentro de mim, ele está no céu... um lugar bom, bacana. Eu decidi que não quero lembrar de nossas brigas, e não quero também guardar rancor dele... Resolvi dar um ADEUS, um adeus definitivo, não dele e sim da dor, do sofrimento, do rancor. Estou tentando aprender a não me culpar por tudo para aprender a não culpá-lo por certas coisas. Um probleminha que teve foi que dia 11 tive um encontro de jovens para ir... e lá encontrei com o Márcio, o garoto com quem já havia ficado. E nesse encontro ficamos de novo, ele estava dando a impressão de que queria apenas transar, e não é que ele confirmou? E disse que seria melhor que minha primeira vez fosse com ele do que com uma pessoa que depois nem olharia para mim. E ele ainda perguntou com tom de ironia: "Sua primeira vez vai ser depois do casamento?" Não fiz nada, mas o que ele disse ficou me incomodando, será que está na hora para eu pensar nisso? Será que estou preparada? E se eu achar que estou e for o contrário? São decisões que ninguém pode tomar por mim... a não ser eu mesma.

Considerações finais

Na adolescência o sujeito se depara com a falha estrutural do pai. O adolescente busca construir um sintoma para compensar essa falha paterna. Assim, na neurose, o sintoma permite o enlace dos três registros da realidade psíquica. Como o quarto elo, o sintoma na adolescência sustenta uma posição discursiva do sujeito, mesmo que provisoriamente, ou seja, em sua travessia até o outro lado do túnel.

No entanto, em alguns casos, nos deparamos com uma dificuldade do sujeito em construir um sintoma que o sustente em sua travessia. Diante da falta de um organizador simbólico consistente para tratar o real, Nina encontrou uma solução no corpo, por meio do investimento na imagem narcísica, que se mostrou também insuficiente. O dispositivo analítico propiciou, via transferência, o endereçamento de seu sintoma à analista. A produção da palavra levou ao deslizamento simbólico, permitindo a construção do romance familiar e o surgimento de alguns efeitos terapêuticos, como a remissão da anorexia, dos desmaios e das tentativas de suicídio. Como adverte Miller (2004), "uma psicanálise demanda amar seu inconsciente para fazer existir não a relação sexual, mas a relação simbólica" (p. 18).

Chegando ao final da adolescência, Nina começa a namorar e a trabalhar. No entanto, o vômito persiste, apontando um excedente pulsional não regulado pelo significante. O sintoma apresenta uma vertente significante, como mensagem endereçada, mas também uma vertente pulsional, que escapa ao simbólico e que aponta para a "não relação sexual". Como destaca Miller (2004), os sintomas são articulados em significantes, mas, antes de tudo, eles são signos da não relação sexual.

Há duas frases, cada vez mais esparsas e esgarçadas, que persistem e se equivalem: vomitei e sinto a falta do meu pai. Elas não se encadeiam, não se ligam aos elementos da fala, não parecem fazer sentido. Elas sofrem de uma amnésia semântica (Lacadée, 2011).

Nesse caso, marca o percurso da adolescência, sintoma da puberdade, uma série de respostas sintomáticas: a anorexia, resposta imaginária; a escrita, resposta simbólica. O percurso da adolescência se sustenta no percurso analítico.

A escritura do romance familiar permite o tratamento simbólico do gozo que irrompe na puberdade, mas algo do real é inassimilável pela palavra. O vômito, resposta real, como gozo autista, insiste, desconectado da cadeia significante, sem endereçamento a um Outro, apontando para os limites do simbólico, da interpretação. A clínica psicanalítica lacaniana opera com o Nome-do-Pai, mas também com o real do sintoma, o parasita do gozo. Na cura, trata-se de "fazer recitar aos sujeitos sua lição na sua gramática", trata-se igualmente de detectar o que se repete e não fala (Vinciguerra, 2011).

Nina endereça a sua escrita à analista, e deposita, nesse lugar, no lugar do analista, o seu relato, enviando-o a ela. Escrever produz um efeito de esvaziamento do gozo que invade o corpo. Sem sentido, pura letra, intraduzível, ilegível. A oferta do tratamento pela palavra permite a cada um nomear a parte de indizível que lhe cabe e faz sintoma para ele.

Em um segundo tempo, Nina apaga os escritos sobre sua adolescência, sobre seu percurso analítico. Nina já fez a sua travessia pela adolescência. Pergunta se a analista "irá se aposentar". Talvez agora a analista ocupe o lugar de objeto, de resto a ser deletado, do qual Nina pode prescindir, após se servir dele.

Nessa delicada transição da adolescência, a analista pode, por meio de sua presença física e silenciosa, não portadora de um ideal que predique sobre o ser do sujeito, sabendo escutar o novo, encarnar essa tensão entre o objeto a e o Ideal. Pode acolher esse ponto de indizível do encontro sempre traumático com o Outro sexo, que vem fazer furo no saber. Pode, graças à sua presença e à sua responsabilidade, abrir a via de acesso ao desejo daquele que se dirige a ele, permitindo-lhe dizer, de modo parodoxal, parte de seu impossível de dizer. O interdito se torna inter-dito (Lacadée, 2011).

A desconexão S1//S2 abole o efeito de sentido. É essa operação de desarticulação que possibilita reconduzir o sujeito aos elementos primordiais da sua existência contingente. Miller fala da reconfiguração da relação com o gozo, que permite passar do desconforto à satisfação. Nina fixa a letra no papel, e fixa na letra, o abismo de si (Lacadée, 2011).

Nádia Laguárdia de Lima

Av. Antônio Carlos, 6627 – Pampulha

31270-901 Belo Horizonte, MG, Br.

Fone: (31) 9128-6555 / (31) 3409-3817

e-mail: nadia.laguardia@gmail.com

Recebido/Received: 4.8.2011 / 8.4.2011

Aceito/Accepted: 13.10.2011 / 10.13.2011

Financiamento/Funding: As autoras declaram não ter sido financiado ou apoiado / The authors have no support or funding to report.

Editor do artigo/Editor: Prof. Dr. Manoel Tosta Berlinck

Copyright: © 2009 Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental/University Association for Research in Fundamental Psychopathology. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados / This is an open-access article, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original author and source are credited.

Conflito de interesses/Conflict of interest: As autoras declaram que não há conflito de interesses / The authors declare that has no conflict of interest.

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    Trabalho realizado em parceria com o Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
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    Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. O Núcleo, fundado em 2004, agrega médicos, psicólogos e nutricionistas em torno do referencial da psicanálise lacaniana.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      04 Ago 2011
    • Aceito
      13 Out 2011
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