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O duplo como fenômeno psíquico

Der Doppelgänger als psychisches Phänomen

The double as a mental phenomenon

Le double comme phénomène psychique

El doble como fenómeno psíquico

Resumos

Neste trabalho, analisamos um fenômeno psíquico com o qual se ocupa a psicopatologia: o fenômeno do duplo (Doppelgänger), enquanto visão angustiante de si próprio como um outro. Na psicanálise, o duplo pode ser estudado através da concepção do estádio do espelho e do modelo óptico, tais como propostos por Lacan. Entre as elaborações literárias desse fenômeno universal, destacam-se "William Wilson", de E. A. Poe, e "O duplo" de F. Dostoiévski, que se situam no fantástico enquanto gênero literário. Em nossa análise do fenômeno do duplo, realizamos uma comparação entre modelos literários e psicanalíticos.

Duplo; psicanálise; literatura; fantástico


In diesem Artikel wird ein psychisches Phänomen analysiert, das sich mit der Psychopathologie beschäftigt: das Doppelgänger Phänomen, als beängstigende Vision des Ich als ein anderer. In der Psychoanalyse kann der Doppelgänger durch die Konzeption des Spiegelstadiums und des optischen Vorbilds, entsprechend der Auffassung von Lacan, untersucht werden. Unter den literarischen Ausführungen zu diesem universalen Phänomen, sind die von "William Wilson", E. A. Poe und "The Double", von F. Dostojewski hervorzuheben. Wir haben in unserer Analyse des Doppelgängerphänomens einen Vergleich zwischen den literarischen und den psychoanalytischen Modellen durchgeführt.

Doppelgänger; Psychoanalyse; Literatur; phantastisch


In this paper we analyze a mental phenomenon related to psychopathology, namely, the double (Doppelgänger) as a terrifying view of oneself as another. In psychoanalysis the double can be studied through the conception of the mirror stage and the optical model, as proposed by Lacan. Among literary elaborations on this universal phenomenon, E. A. Poe's "William Wilson" and Dostoyevsky's "The Double" can both be classified as fantastic in the sense of a literary genre. In our analysis of this phenomenon we compare the literary and the psychoanalytic models.

Double; psychoanalysis; literature; fantastic


Cet article analyse un phénomène psychique qui relève de la psychopathologie: le phénomène du double (Doppelgänger) en tant qu'effrayante vision de soi-même comme un autre. En psychanalyse, le double peut être étudié à travers la conception du stade du miroir et du modèle optique, proposés par Lacan. Parmi les élaborations littéraires de ce phénomène universel, on met en relief "William Wilson", par E. A. Poe et "Le Double", par F. Dostoïevski, du genre littéraire fantastique. L'analyse du phénomène du double s'opère au moyen d'une comparaison entre les modèles littéraires et psychanalytiques.

Double; psychanalyse; littérature; fantastique


En este trabajo, analizamos un fenómeno psíquico con el que se ocupa la psicopatología: el fenómeno del doble (Doppelgänger), en cuanto una visión terrible de sí mismo como un otro. En el psicoanálisis, el doble puede ser estudiado a través del concepto del estadio del espejo y del modelo óptico, según lo propone Lacan. Entre las elaboraciones literarias de este fenómeno universal, se destacan "William Wilson", de E. A. Poe, y "El doble" de F. Dostoeyvski, que se sitúan en lo fantástico como género literario. En nuestro análisis del fenómeno del doble, realizamos una comparación entre modelos literarios y psicoanalíticos

Doble; psicoanálisis; literatura; fantástico


MOVIMENTOS LITERÁRIOS

O duplo como fenômeno psíquico* * Este trabalho é resultado do Projeto "Psicanálise e Literatura: investigações sobre o fenômeno do duplo" realizado pelo Grupo de Pesquisa Laboratório de Psicanálise - Instituto de Psicologia - UFRGS (Porto Alegre, RS, Br).

The double as a mental phenomenon

Le double comme phénomène psychique

El doble como fenómeno psíquico

Der Doppelgänger als psychisches Phänomen

Marta Regina de Leão D'AgordI; Marcos Rafael de Oliveira BarbosaII; Rukaya HasanIII; Rafael Cavalheiro NevesIV

IIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS, Brasil)

IIIBolsista PET da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS, Brasil)

IVBolsita BIC da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS, Brasil)

VBolsista PIBIC da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS, Brasil)

RESUMO

Neste trabalho, analisamos um fenômeno psíquico com o qual se ocupa a psicopatologia: o fenômeno do duplo (Doppelgänger), enquanto visão angustiante de si próprio como um outro. Na psicanálise, o duplo pode ser estudado através da concepção do estádio do espelho e do modelo óptico, tais como propostos por Lacan. Entre as elaborações literárias desse fenômeno universal, destacam-se "William Wilson", de E. A. Poe, e "O duplo" de F. Dostoiévski, que se situam no fantástico enquanto gênero literário. Em nossa análise do fenômeno do duplo, realizamos uma comparação entre modelos literários e psicanalíticos.

Palavras-chave: Duplo, psicanálise, literatura, fantástico

ABSTRACT

In this paper we analyze a mental phenomenon related to psychopathology, namely, the double (Doppelgänger) as a terrifying view of oneself as another. In psychoanalysis the double can be studied through the conception of the mirror stage and the optical model, as proposed by Lacan. Among literary elaborations on this universal phenomenon, E. A. Poe's "William Wilson" and Dostoyevsky's "The Double" can both be classified as fantastic in the sense of a literary genre. In our analysis of this phenomenon we compare the literary and the psychoanalytic models.

Key words: Double, psychoanalysis, literature, fantastic

RÉSUMÉ

Cet article analyse un phénomène psychique qui relève de la psychopathologie: le phénomène du double (Doppelgänger) en tant qu'effrayante vision de soi-même comme un autre. En psychanalyse, le double peut être étudié à travers la conception du stade du miroir et du modèle optique, proposés par Lacan. Parmi les élaborations littéraires de ce phénomène universel, on met en relief "William Wilson", par E. A. Poe et "Le Double", par F. Dostoïevski, du genre littéraire fantastique. L'analyse du phénomène du double s'opère au moyen d'une comparaison entre les modèles littéraires et psychanalytiques.

Mots clés: Double, psychanalyse, littérature, fantastique

RESUMEN

En este trabajo, analizamos un fenómeno psíquico con el que se ocupa la psicopatología: el fenómeno del doble (Doppelgänger), en cuanto una visión terrible de sí mismo como un otro. En el psicoanálisis, el doble puede ser estudiado a través del concepto del estadio del espejo y del modelo óptico, según lo propone Lacan. Entre las elaboraciones literarias de este fenómeno universal, se destacan "William Wilson", de E. A. Poe, y "El doble" de F. Dostoeyvski, que se sitúan en lo fantástico como género literario. En nuestro análisis del fenómeno del doble, realizamos una comparación entre modelos literarios y psicoanalíticos

Palabras clave: Doble, psicoanálisis, literatura, fantástico

ZUSAMMENFASSUNG

In diesem Artikel wird ein psychisches Phänomen analysiert, das sich mit der Psychopathologie beschäftigt: das Doppelgänger Phänomen, als beängstigende Vision des Ich als ein anderer. In der Psychoanalyse kann der Doppelgänger durch die Konzeption des Spiegelstadiums und des optischen Vorbilds, entsprechend der Auffassung von Lacan, untersucht werden. Unter den literarischen Ausführungen zu diesem universalen Phänomen, sind die von "William Wilson", E. A. Poe und "The Double", von F. Dostojewski hervorzuheben. Wir haben in unserer Analyse des Doppelgängerphänomens einen Vergleich zwischen den literarischen und den psychoanalytischen Modellen durchgeführt.

Schlüsselwörter: Doppelgänger, Psychoanalyse, Literatur, phantastisch

Introdução

No Dictionnaire des genres et notions littéraires, Roger Caillois (1913-1978) compara duas formas literárias de tratamento do sobrenatural, isto é, do que não pode ser explicado racionalmente: o maravilhoso e o fantástico. O sobrenatural é tolerado como uma característica do maravilhoso nos contos de fadas. No entanto, quando o sobrenatural se apresenta sem a mediação e o enquadre do mundo das fadas, produz-se uma ruptura insólita e insuportável com o cotidiano: eis o fantástico. O sobrenatural no cotidiano, apresentado pela Literatura Fantástica no século XIX, pode ser contextualizado como uma crítica ao triunfo da concepção científica enquanto ordenação racional do mundo.

É justamente nesse campo de crítica que ocorre o encontro da psicanálise, enquanto pesquisa psicanalítica, com a Literatura Fantástica, enquanto repatriamento do sobrenatural. Não nos surpreende, portanto, que no ensaio crítico sobre Das Unheimliche (1919h/2010),1 1 As traduções brasileiras para unheimlich são estranho (Imago, 1987) e inquietante (Companhia das Letras, 2010). Esta tradução mais recente segue aquela que foi proposta pela edição francesa de 1996, coordenada por Laplanche, que justificava o uso do termo inquiétant como uma retomada de um dos termos franceses, recenseados pelo próprio Freud, como suscetíveis de traduzir unheimlich: " inquiétant, sinistre, lugubre, mal à son aise" (Cf. Freud, S. "L'inquiétant" [1996]. Oeuvres Complètes (v. XV. p. 148). Paris: PUF e Freud, S. Gesammelte Werke (v. XII, p. 232). Frankfurt, S. Fischer. Freud reúna, como material de pesquisa, um estudo mitológico sobre o duplo, de Rank (2001), e uma obra literária, O homem de areia, de E. T. A. Hoffmann (2006).

Do ponto de vista racional, espera-se que a função da consciência separe o fantasticismo e a realidade, enquanto efetividade. Quando se dissolve essa fronteira é que surge o efeito inquietante ou não familiar (unheimlich), o qual compartilha com as formações do inconsciente essa continuidade entre fantasia e realidade. Assim, um encontro repentino com a própria imagem pode remeter à noção de "duplo" como um estranho que me olha. Eu sou o objeto de um outro. Eu vejo a mim como um estranho que vem de fora de mim. Eu não me vejo como se me visse no espelho, imagem virtual ou especular, mas como imagem real. Esse fenômeno de despersonalização corresponderá, como explicitaremos mais adiante, à noção psicanalítica de injunção (Lacan, 1985/1955--1956; 1999/1957-1958), isto é, quando se dilui a fronteira entre o que sou e as formas pelas quais me represento. Está em jogo uma duplicação e objetificação2 2 Utilizamos objetificação para diferenciar de objetalidade e objetidade: sendo a primeira referente ao campo das relações objetais, como uma relação a objetos distintos ao eu (a série iniciada com a mãe ou cuidadores); e a segunda concepção referente ao objeto a, causa do desejo. da imagem. Essa imagem que temos de nós mesmos é apreendida sempre como outro, ora idealizada, o chamado eu ideal (Ideal-Ich), ora desde o ponto de vista de um Outro crítico.

Com Lacan ([1948]1966/1998b), o duplo vai encontrar seu lugar na elaboração teórica de um modelo da constituição do sujeito, o estádio do espelho.3 3 Cabe esclarecer que na obra de Lacan, o uso do termo modelo se refere a um empréstimo tomado de outro campo do pensamento para a elaboração de uma analogia com o que se quer representar, nesse caso, a constituição do sujeito psíquico. Na obra de Lacan, destacam-se os modelos dialéticos emprestados da Filosofia para pensar o estádio do espelho e o modelo óptico, tomado da Física. Os modelos, enquanto ficções, podem ser elaborações metapsicológicas, como no ensaio de Freud (1919h). Esse modelo metapsicológico ensaístico precede o modelo dialético do estádio do espelho (Lacan, 1949/1998b) e o modelo óptico (Lacan, 1961/1998c).

As formulações de Freud sobre o sentimento do inquietante (unheimlich) serão retomadas para analisar esse encontro do infans com seu outro no espelho. O estádio do espelho representa uma transposição do fenomênico (a criança e suas reações ao descobrir seu reflexo no espelho plano) para um modelo elaborado a partir de um empréstimo à dialética, segundo a qual a consciência se conhece a si mesma através de um processo de tese, antítese e síntese, tal como Lacan encontrava em sua leitura da Fenomenologia do espírito de Hegel. Nessa modelização, Lacan propõe ([1948]1966/1998a) uma seriação paralela entre as etapas de uma dialética: "outro, imagem do outro, imagem de mim", e as formações paranoicas de relação com um outro especular. A série de construções delirantes persecutórias ou fascinantes (entre as quais, difamatória, violação da intimidade, ataque à honra, espionagem ou de sedução) se relacionam à característica de miragem da organização original do eu observante e do eu observado, isto é, as miragens do eu e do "objeto" seriam tomadas como eventos apenas.

A pesquisa freudiana do inquietante (unheimlich), enquanto efeito do encontro com a imagem de um sósia, assim como as suas subsequentes releituras por Lacan, caracterizam-se como teorizações, abstrações que elucidam, por meio de modelos, a constituição do sujeito. O que o modelo dialético lacaniano permite pensar é a constituição do sujeito a partir de tempos lógicos numa dialética, isto é, tempos que não se sucedem linearmente, mas giros que se continuam sobre si mesmos, retomados como renovados, ou retomados como recalcados, mas nunca deletados.

O estudo do inquietante por Freud (1919h/1987) poderia ser considerado uma "modelização" (Fédida, 1998), já o modelo óptico (Lacan, 1961/1998c) poderia ser considerado como o resultado de "uma epistemologia comparativa de modelos" (Fédida, 1998). O desafio da criação de modelos, compartilhado pela psicanálise e pela psicopatologia fundamental, encontraria, na Literatura, modelos comparativos?

"William Wilson" de E. A. Poe e "O duplo" de Dostoiévski, pela figuração do fenômeno de duplicidade egoica e a angústia que lhe é concomitante, destacam--se como modelos literários para pensar o fenômeno do duplo, na medida em que não se limitam à figuração de uma situação limite, mas, assim como a pesquisa psicanalítica e a Psicopatologia Fundamental, partem de uma crítica da relação entre o ser e a consciência. Isto é, supõem uma diferença entre o que é percebido e as múltiplas facetas do ser. Essa crítica pode ser depreendida, na novela "O duplo", pelo distanciamento que toma o narrador em relação ao que se passa com o personagem principal. Já no conto do autor norte-americano, a narrativa convoca o leitor a um ponto de vista crítico em relação ao que é narrado.

Eu, o objeto

No estudo de Rank sobre o mito do duplo, Freud (1919h/1987) destaca o seguinte aspecto: a um primeiro tempo, do duplo como segurança, sobrepõe-se um outro tempo, do duplo anunciador da morte. Ao tempo primordial da imagem idealizada, "His Majesty the Baby" (Freud, 1914c/2004), sucede-se um segundo tempo, de um estranho que me observa criticamente. Aquilo que era familiar se tornou não familiar. O Heimliche se torna Unheimliche quando eu não mais o reconheço.

Em ambos os momentos, o "eu" é objeto, eu sou o objeto, o objeto de amor, o objeto da observação. Eu não estou lá onde sou amado ou perseguido; é a minha imagem alienada que eu amo e que também odeio. Mas quem agiria seria um outro: eu sou um outro. Até o momento em que assumo que aquele no espelho é apenas a minha imagem. Eis os três tempos da descrição do modelo do estádio do espelho (Lacan, [1949]1966/1998b):

1. Aquele que eu vejo me olhando no espelho é um outro;

2. aquele que eu vejo me olhando no espelho não é um outro, mas uma imagem;

3. aquele que eu vejo me olhando no espelho é a minha imagem. Agora posso brincar com ela.

O terceiro momento encerra a dialetização das três etapas, de modo que o sujeito é e não é ao mesmo tempo o outro, mas elevado, transformado, metaforizado na seguinte formulação: "a minha imagem me representa".

Na acepção diplomática do termo representação, isto é, quando uma imagem me representa junto ao Outro, assim como o diplomata representa seu país, uma imagem pode me representar assim como um pronome (Eu), em uma frase, representa o falante. Eis a passagem do eu como objeto (eu ideal), ao sujeito do inconsciente, no sentido de assujeitado à alteridade situada na linguagem (o Outro). A significação do pronome dependerá do contexto discursivo, eis o campo da linguagem, enquanto alteridade radical e equivocidade dos sentidos.

O uso do termo "dialetização" para explicar o modelo do estádio do espelho, envolve o empréstimo que Lacan faz da dialética hegeliana. A tese, a antítese e a síntese formariam um movimento temporal e espacial como o de uma espiral, na qual a terceira forma inclui e exclui as duas primeiras, em um processo de suprassunção. As duas primeiras formas, no caso, eu e não eu (o outro), se fazem representar na terceira forma, mas já não são as mesmas, pois se transformaram nesse processo denominado dialetização. O sujeito se ausenta (se eclipsa) ao se fazer representar (na acepção de representante diplomático), no simbólico, pelo par significante. Esse sujeito intervalar, eclipsado, é aquele que se inseriu no Outro, lugar da linguagem, ou, dito de outro modo, se fez representar no Outro, se deixando levar pelo efeito de sua própria fala, inclusive. Mas, se a imagem especular continua sendo tratada como um duplo real, isto é, um sósia, faltou transposição do corpo organismo para o corpo imagem simbólica.

O duplo do Sr. Golyádkin de Dostoiévski e a especularidade na constituição do sujeito

Dostoiévski intuiu as diversas formas de estranhamento que um ser humano vivencia quando fala e pensa desde um outro. Podemos comparar a série caleidoscópica das fantasias do sr. Golyádkin à psicastenia lendária de Caillois (1988). No ensaio Mimetismo e psicastenia lendária, é analisada uma tendência universal dos homens em imitar e realizar associações por semelhança. Essa tendência é comparada ao mimetismo, processo adaptativo de dissimulação pelo qual um animal toma a cor ou forma do meio ambiente ou de um outro animal. Nessa série de analogias (antropológicas, espaciais, biológicas), se inscrevem também os processos psíquicos de despersonalização pelos quais "um indivíduo transpassa a fronteira de sua pele e habita do outro lado dos seus sentidos" (Caillois, 1988, p. 121; tradução nossa). Ou, como diríamos com o modelo óptico, ultrapassaria a superfície do espelho plano. À pergunta "onde estás", um paciente poderia responder: "Sei onde estou, mas não me sinto no lugar em que me encontro" (Caillois, 1988, p. 121; tradução nossa).

Na série de formas miméticas de Caillois, poderíamos inserir o caso do sr. Golyádkin, personagem da novela "O duplo" de Dostoiévski, na qual acompanhamos a jornada de um humilde funcionário que, após guardar suas economias durante muito tempo, encontra, finalmente a ocasião para se sentir pertencente aos estratos mais altos da sociedade, vestindo-se e trafegando pela cidade mimetizado em outro. Nessas circunstâncias, ao cruzar com seu chefe, o devaneio se torna repentinamente inconciliável com a sua vida cotidiana. Ele soluciona esse conflito com uma decisão: "Esse não sou eu e pronto". Para prosseguir seu devaneio de pertencimento às altas esferas sociais, haverá de agora em diante um custo: ele não é mais ele, é um outro. Surge em cena um outro sr. Golyádkin e a fronteira entre a fantasia e a realidade se apaga. O sr. Golyádkin I passa a ser desprezado e abandonado pelo sr. Golyádkin II. A criação literária de Dostoévski leva o leitor a transitar da fabulação (eu gostaria de ser um outro) à "desfabulação" (agora é o outro que é, e não há mais lugar para mim). A fabulação se torna despersonalização.

Na sequência da novela, acompanhamos o processo de dissolução psíquica do sr. Golyádkin I. Atribuindo suas ideias a um outro, antecipa os sucessivos ataques dos quais passa a ser a vítima, sente-se prejudicado, observado, perseguido, roubado. O sr. Golyádkin I não se reconhece no outro (o sr. Golyádkin II), fruto de sua própria imaginação, pois não encontrara uma mediação que articulasse o "como eu gostaria de me ver", e "como eu me vejo sendo visto pelo outro". Na ausência de uma função discursiva de corte entre eu e o outro, não há saída para esse prolongamento circular.

Essa questão nos remete à distinção entre injunção e invocação proposta por Lacan (1999). Ele recolhe a noção de invocação das cerimônias dos antigos, por meio das quais, antes do combate, buscava-se colocar, a seu lado, os deuses dos outros. Invocar remete, portanto, ao contexto simbólico. Em relação à constituição do sujeito, equivaleria a entrar na via de desejo pela via do desejo do Outro. Assim, ambos estariam submetidos à falta: o sujeito e o Outro. No duplo de Dostoiévski, o personagem do sr. Golyádkin não se situa na invocação, não se apropria da linguagem para criar um outro sentido além do que já está dado literalmente. Ele acolhe as mensagens a ele dirigidas, mas as toma no campo do signo, como injunção: por exemplo, quando segue literalmente os conselhos médicos ("não seja inimigo da bebida", "faça amizades").

William Wilson e o modelo óptico

No conto "William Wilson" (Poe, 1978), o narrador relata a sucessão de etapas de sua vida, tendo por fio condutor a presença constante de um antigo colega de escola que tem o mesmo nome e sobrenome que o seu, e por quem nutre sentimentos ambivalentes de amor e ódio.

É difícil definir, ou mesmo descrever meus verdadeiros sentimentos para com ele: formavam um amálgama extravagante e heterogêneo - uma animosidade petulante que não era ainda ódio, estima, ainda mais respeito, uma boa parte de temor e uma imensa e inquieta4 4 "Inquieta" é a tradução para Uneasy (Poe, 1990, p. 216). curiosidade. (Poe, 1978, p. 92)

O desfecho do conto é um ato pelo qual a imagem de perseguidor se transforma em imagem especular. O leitor descobre que esse outro que "perseguia" o narrador era o seu duplo especular, tratado, no entanto, como um duplo real, um sósia.

Essa última cena do conto pode ser lida como uma versão moderna do mito de Narciso, já que aborda um dos principais temas do século XIX: o juízo moral que tenciona os frágeis limites da visão maniqueísta. Sob a camada moralizante, podemos identificar um outro plano narrativo: a ironia. Essa é expressa pelo paradoxo de uma consciência que não se reconhece na própria imagem. O que equivaleria ao que apresentamos acima como segunda etapa do Estádio do Espelho.

Para pensar a relação do sujeito com a própria imagem, Lacan introduziu o modelo óptico (figura 1), por analogia ao dispositivo óptico de Bouasse, como "um modelo teórico" (Lacan, [1961]1966/1998c, p. 680) para pensar a constituição do sujeito. Nesse modelo, o posicionamento de objetos entre um espelho côncavo e um espelho plano produz a sobreposição do buquê de flores a uma imagem real (do vaso real, oculto sob a proteção). Esse vaso oculto não poderia ser visualizado sem os espelhos. Nessa analogia:


1) O espelho plano representa o Outro, como mediação entre a alienação e a apro- priação da imagem especular correspondente ao eu;

2) o vaso escondido representa o corpo;

3) a imagem virtual do vaso representa a imagem especular [i'(a)] no espelho plano; trata-se da presença do sujeito no Outro, uma presença que mesmo sendo visível prescinde da existência;

4) seu simétrico é a imagem real, do lado de cá, efeito ilusório do espelho plano, que representa o Outro;

5) as flores representam o objeto causa do desejo. Tanto [i(a)] como (a) dependem da mediação do Outro.

O paradigma da constituição do eu ideal no espaço do Outro equivale, no modelo do estádio do espelho, ao momento em que a criança vira a cabeça, buscando o adulto que está atrás dela, como testemunha. "Quando esse movimento não é possível, é porque a relação dual pura o despoja de sua relação com o Outro" (Lacan, 2005, p. 135). É através desse modelo que podemos pensar o não familiar em relação ao duplo. O duplo é tomado como outro porque o eu não se reconhece em [i'(a)], sua imagem virtual. Para a distinção entre eu e não eu será preciso que, virtualmente, eu me veja projetado em [i'(a)], com a possibilidade de me situar em [i(a)], como origem da projeção.

Há um resto, no entanto, chamado de "a", que não terá seu correspondente especular, mas que corresponderá à causa do desejo inconsciente no sujeito. Paradoxalmente, será esse resto inconsciente que produzirá a ilusão (x) que alimenta narcisicamente essa imagem não eu, [i'(a)], da qual me aproprio e onde me reconheço.

O modelo óptico mostra o percurso necessário para um eu se reconhecer na sua imagem virtual (especular). Para isso, será preciso que a imagem virtual se torne um objeto próprio a uma "egoização" (Lacan, 2005, p. 134).5 5 Na edição Du Seuil: moïsation, p. 141. Para se tornar egoizável, será preciso que o Outro tome parte na dialetização, isto é, que a imagem virtual faça parte da rede de significantes. Para representar o sujeito, a imagem é transposta6 6 A etimologia do termo "metáfora" nos ensina que se trata de uma transposição. ao contexto significante. Produzindo-se sujeito, surge, entre o eu e o outro, um distanciamento necessário. Soler (2012) chama a atenção para a forma escrita da imagem egoizável: i(a), cujos parênteses indicam que há um vazio enquadrado em uma imagem. Enquadrado o vazio, posso encontrar a imagem como minha, ela se torna narcísica pois agora que a vejo através do Outro (na analogia com o espelho plano) ela é apenas virtual. Através do espelho plano, o eu se (re)conhece como uma imagem alienada; em vez de autonomia, há alienação, ou seja, o sujeito se reconhece através de uma imagem que ele não é, e onde não está. Há perda de substância, mas há sujeito de linguagem. No caso do personagem William Wilson, pelo contrário, a imagem especular era tomada como um duplo real, portanto, perseguidor.

A função crítica

Temos duas obras da literatura fantástica, ambas irônicas, mas, em E. A. Poe, o suspense e a dúvida do leitor, são mantidos até o final, na medida em que há unidade entre narrador e personagem. Já em Dostoiévski, o narrador toma distância do personagem, permitindo ao leitor captar a função da ironia.

Poe e Dostoiévski nos mostram o encontro com o duplo. Esse encontro simétrico é comparável à tematização da duplicação do eu, sempre na iminência de uma ruptura da identificação enquanto a imagem de si não se situar no campo da alteridade da linguagem, via empréstimo de uma forma simbólica de representação, o sujeito. Enquanto William Wilson não reconhece a si mesmo na sua imagem, o sr. Golyádkin forma uma imagem idealizada de um outro, que ele gostaria de ser. Mas em um certo momento, "decide" deixar de ser o sr. Golyádkin I para ser o outro idealizado, Golyádkin II. Essa decisão é efeito da falta de uma mediação entre um como ele se vê aqui e agora e um como ele gostaria de se ver. Como resultado, o seu duplo, seu eu ideal, consegue o sucesso almejado pelo sr. Golyádkin I, à custa da expulsão deste.

Na cena final de "O duplo", o médico conduz o sr. Golyádkin I para fora da cidade, para um asilo de alienados, como institucionalização para "fora do laço social" (fora do discurso). Ironicamente, ao ser conduzido para fora da cidade, o sr. Golyádkin I vê o seu duplo, Golyadkin II, inserido no meio social de onde ele fora excluído. Eis um modelo literário para a frase: sou onde não me vejo (Golyádkin I) e me vejo onde não sou (Golyádkin II).

Em "William Wilson", também encontramos uma figura literária para representar esse momento do percurso de constituição do sujeito, no qual, para se reconhecer, é preciso se perder. Golyádkin e William Wilson não reconheceram a si mesmos na imagem especular. Viveram seu duplo no espelho como objetivação, e não como imagem simbólica. Na falha da dialetização, não acedem a se fazer representar na alternância entre os pronomes eu e tu em um diálogo, não se reconhecem na diversidade de representações: seja a imagem simbólica, seja o pronome.

A análise comparativa realizada mostrou que essas duas obras literárias, ambas compartilhando o gênero fantástico do século XIX, dialogam com os métodos pelos quais o psicopatológico era estudado: o estudo de caso. Podem ser consideradas como modelos literários para o estudo de uma forma de funcionamento psíquico. É importante considerar que pela forma fantástica com a qual encenam a vida dos personagens, os autores criam uma suspensão da relação ingênua entre a consciência e a percepção. Nem sempre o que se percebe é. Nesse aspecto, contribuem para a leitura crítica em psicopatologia.

Marta Regina de Leão D'Agord

Psicóloga; Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (Porto Alegre, RS, Br); Bolsista Produtividade CNPq (Brasília, DF, Br); Professor Associado do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia; Professora e Pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional, Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (Porto Alegre, RS, Br).

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Marcos Rafael de Oliveira Barbosa

Graduando de psicologia; Bolsista de Iniciação Científica voluntário do Projeto "Psicanálise e Literatura"; Bolsista PET-Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (Porto Alegre, RS, Br).

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Rukaya Hasan

Graduanda de psicologia; Bolsista de Iniciação Científica, BIC da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (Porto Alegre, RS, Br), do projeto "Psicanálise e Literatura".

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Rafael Cavalheiro Neves

Graduando de psicologia; Bolsista de Iniciação Científica, PIBIC-CNPq (Brasília, DF, Br), do projeto "Psicanálise e Literatura".

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90030-150 Porto Alegre, RS, Br

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Recebido/Received: 30.5.2013/ 5.30.2013

Aceito/Accepted: 19.6.2013 / 6.19.2013

Citação/Citation: D'Agord, M. R. de L., Barbosa, M. R. de O.; Hasan, R. & Neves, R. C.(2013, set.). O duplo como fenômeno psíquico. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 16(3), 475-488.

Editor do artigo/Editor: Fabiano Massarro Salvador

Copyright: © 2009 Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental/University Association for Research in Fundamental Psychopathology. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados / This is an open-access article, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original author and source are credited.

Financiamento/Funding: Os autores declaram não ter sido financiados ou apoiados / The authors have no support or funding to report.

Conflito de interesses/Conflict of interest: Os autores declaram que não há conflito de interesses / The authors declare that has no conflict of interest

  • Caillois, R. (1988). Mimetismo y psicastenia legendaria. In El mito y el hombre (pp. 94--133). México: Fondo de Cultura Economica. (Trabalho original publicado em 1938).
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  • *
    Este trabalho é resultado do Projeto "Psicanálise e Literatura: investigações sobre o fenômeno do duplo" realizado pelo Grupo de Pesquisa Laboratório de Psicanálise - Instituto de Psicologia - UFRGS (Porto Alegre, RS, Br).
  • 1
    As traduções brasileiras para
    unheimlich são
    estranho (Imago, 1987) e
    inquietante (Companhia das Letras, 2010). Esta tradução mais recente segue aquela que foi proposta pela edição francesa de 1996, coordenada por Laplanche, que justificava o uso do termo
    inquiétant como uma retomada de um dos termos franceses, recenseados pelo próprio Freud, como suscetíveis de traduzir
    unheimlich: "
    inquiétant, sinistre, lugubre, mal à son aise" (Cf. Freud, S. "L'inquiétant" [1996].
    Oeuvres Complètes (v. XV. p. 148). Paris: PUF e Freud, S.
    Gesammelte Werke (v. XII, p. 232). Frankfurt, S. Fischer.
  • 2
    Utilizamos objetificação para diferenciar de objetalidade e objetidade: sendo a primeira referente ao campo das relações objetais, como uma relação a objetos distintos ao eu (a série iniciada com a mãe ou cuidadores); e a segunda concepção referente ao objeto
    a, causa do desejo.
  • 3
    Cabe esclarecer que na obra de Lacan, o uso do termo modelo se refere a um empréstimo tomado de outro campo do pensamento para a elaboração de uma analogia com o que se quer representar, nesse caso, a constituição do sujeito psíquico. Na obra de Lacan, destacam-se os modelos dialéticos emprestados da Filosofia para pensar o estádio do espelho e o modelo óptico, tomado da Física.
  • 4
    "Inquieta" é a tradução para
    Uneasy (Poe, 1990, p. 216).
  • 5
    Na edição Du Seuil:
    moïsation, p. 141.
  • 6
    A etimologia do termo "metáfora" nos ensina que se trata de uma transposição.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Out 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      30 Maio 2013
    • Aceito
      19 Jun 2013
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